摘要:DOI: http://dx.doi.org/10.5007/1980-4237.2013n13p5 José Ortega y Gasset (1883-1955), renomado filósofo espanhol, ativista político e jornalista, autor de uma ingente e influente obra, publicou em 1937 – quando exilado voluntariamente na Argentina –, o hoje clássico ensaio sobre tradução intitulado Miseria y esplendor de la traducción. O título, que já contém o programa, nos evoca aquele Splendeurs et misères des courtisanes, incluído na Comédia Humana, de Honoré de Balzac. E se Balzac remetia à prostituição, Ortega y Gasset remete logo de início à traição: “Traduttore, traditore” (2013:3), mas com a possibilidade de também conferir esplendor ao serviço (2013:10). Considerando a tradução uma necessidade e uma impossibilidade, o ensaísta espanhol prefere a feia fiel (2013:37) à belle infidèle. A concepção de tradução de Ortega y Gasset, é, contudo, complexa, pois funda-se sobre uma profunda reflexão acerca da linguagem. A miséria e o esplendor da tradução constituem um duplo efeito contrastante do uso da linguagem. Desde o título, a miséria e o esplendor plasmam a estrutura dialógica do ensaio: por detrás de um modelo clássico de diálogo entre alguns personagens, dialogam a graça e a desgraça da palavra, da tradução.