摘要:Trata o texto do filme Garrincha, alegria do povo , de Joaquim Pedro de Andrade, documentário cinemanovista em preto e branco sobre o ídolo do futebol brasileiro, lançado em 1963. Considerando algumas opções técnicas, políticas e estéticas dos realizadores, o trabalho tem como foco a análise de dois personagens centrais do filme, a saber, o próprio jogador e a torcida, ou o “povo” que ocupa as tribunas dos estádios. São analisadas algumas sequências, bem como aspectos da locução, momentos nos quais se materializa um discurso romântico simultaneamente associado ao futebol – o esporte moderno é expressão do Romantismo – e ao jogador Garrincha – exemplo de uma natureza “pura” e “indomável” a resistir aos ditames civilizadores. Com imagens da performance e da vida pública fora das quatro linhas de um dos atletas mais importantes do futebol brasileiro, o gênero cinema-verdade reconstrói e narra o mito. Este processo é interpretado sob a chave proposta pela leitura de uma dialética do esclarecimento, tal como propuseram Max Horkheimer e Theodor W. Adorno. Quanto à torcida, trata-se de mostrar a beleza dos corpos populares cujas dor e pobreza não estetizadas se encontram presentes na fotografia recheada de closes ; o “povo” aparece em momento de lazer e júbilo pelas vitórias, mas também em sua contraface: a diversão como disciplina.