摘要:Este artigo analisa como, nos discursos políticos e no contexto educativo português, o racial se insere num jogo de in/visibilidades, sendo considerado como resultante da presença do “outro” da colónia e, logo, naturalmente irrelevante para a formação do espaço nacional-metropolitano e, de modo geral, para a formação da noção de “Europeidade”. A partir desta análise, ilustramos a despolitização do racismo via a naturalização do colonialismo e a reificação do “imaginário imigrante”; neste sentido, o racismo é interpretado como algo que sucede aos outros – etnorracialmente marcados – mas que não diz respeito ao que “nós” somos, um “nós” que, aliás, nunca é questionado. O texto está dividido em três partes: (i) examinamos a consolidação da presente ausência do racial considerando como se tem constituído um ciclo de silêncios e consensos sobre o racial na própria ação de combate ao racismo – marcada pelo antirracialismo – de organizações globais como a UNESCO. Examinaremos ainda como a dissolução do racial está a ser produzida através da associação entre racismo e imigração no contexto europeu contemporâneo, tanto na política como na academia; (ii) analisar-se-á o trabalho empírico e os livros didáticos de história contemporâneos que realizámos em Portugal que mostram como, nos debates sobre a história e, mais concretamente, sobre o ensino do colonialismo e da escravatura, se tem esvaziado a sua relevância política e evadido o racial para compreender a chamada escravatura Atlântica dos séculos XV ao XIX; (iii) finalmente, concluímos com uma análise dos contornos daquilo a que denominamos o “consenso (pós-)colonial” em Portugal, inserido num contexto mais amplo de esvaziamento da plausibilidade de um vocabulário que dê conta do racial/racismo nas sociedades contemporâneas.