摘要：Basil Bernstein era dono de um pensamento inquieto. Seus trabalhos investigativos, realizados entre as décadas de 1950 e 1990, na fronteira entre a sociologia e a psicologia, e sempre com especial atenção à atividade educativa, nunca deixaram de ser por ele revisitados, atualizados, reeditados. Sua cautela em apresentar ao grande público seus textos era prova disso, ao lado de um senso de incompletude que parecia movê-lo: “Eu sempre senti que o único texto digno de ser lido era aquele ainda por ser escrito”, escreveu ele na introdução do primeiro volume de “Classes, Códigos e Controle” (BERNSTEIN, 2003 [1971], p.1), a importante coletânea de seus textos ainda esparsamente difundida e comentada no Brasil. Essa espécie de mal-estar inerente à pesquisa foi particularmente profícua na obra de Bernstein. A força de suas reflexões cunhou e reeditou noções como pedagogia, currículo, controle simbólico, dispositivo pedagógico, identidade, código, fronteira etc. A intensa rede de relações construída entre esses e outros tantos conceitos pelo autor inglês culminou em uma teorização robusta e fundamental à compreensão das complexas condições de controle às quais estão submetidos os discursos e, consequentemente, a forja da subjetividade. Alguns aspectos fundamentais dessa malha conceitual bernsteiniana são apresentados na entrevista que segue. Nela, o próprio Bernstein, revisando algumas de suas principais ideias já nos anos finais de vida, revela o modo como sua teoria foi construída e impactada pelas críticas a que foi submetida e pelos agentes que, de algum modo, a operacionalizaram. A detalhada conversa conduzida por Joseph Solomon é repleta de sistematizações e organiza uma retrospectiva importante das principais ideias que fizeram do legado de Bernstein uma contribuição valiosíssima às áreas de conhecimento no qual ele esteve inserido – sendo, hoje, particularmente importante ao campo dos estudos curriculares em educação, no qual esperamos que essa tradução possa ecoar de modo singular.
