摘要:A definição majoritária que permeia os estudos organicistas a respeito da dislexia tem originado diagnósticos de distúrbios de linguagem em sujeitos em processo de apropriação da escrita. Assim, o rótulo pré-estabelecido na escola, geralmente, é confirmado na clínica por profissionais que desconsideram a linguagem sob a perspectiva dialógica, interativa e constitutiva do sujeito. Objetivo: O objetivo desta investigação é analisar 36 cartas produzidas por crianças consideradas portadoras de distúrbios na escrita, tomando por fundamento o conceito de referenciação, especificamente, de coesão textual. Método: Os dados foram produzidos em um grupo terapêutico fonoaudiológico, constituído por nove sujeitos diagnosticados como portadores de distúrbios de leitura e escrita, uma terapeuta e duas co-terapeutas. O grupo desenvolveu atividades de escrita a partir de diferentes gêneros textuais, dentre os quais destacamse a produção de cartas. Os encontros terapêuticos eram realizados semanalmente, com duas horas de duração cada e a concepção norteadora de todo esse trabalho foi fundamentada em uma perspectiva constitutiva de linguagem. Resultado: Nas 36 produções escritas analisadas, foram encontradas 406 estratégias de referenciação. Dentre estas: 318 (78,32%) identificadas por anáforas pronominais; 63 (15,52%) identificadas por anáforas nominais; 17 (4,18%) na forma de sequencializadores e 8 (1,97%) anáforas por sinonímia ou paráfrase. Conclusão: A análise nos leva a entender que os participantes da pesquisa não são portadores de distúrbios ou déficits na escrita, tendo em vista que são capazes de se colocar como sujeitos na construção de seus textos, produzindo-os com coerência e com elementos de progressão referencial, evidenciando suas ações na e sobre a linguagem.