Os estudos da criança encontram-se em pleno processo de constituição e institucionalização, no mundo inteiro. A rutura que estabelecem com os saberes tradicionais (especialmente a psicologia do desenvolvimento) sobre as crianças e a infância reside na posição epistemológica de centrar os estudos na criança “a partir de si própria”, recusando as orientações adultocêntricas. Enquanto programa científico com forte natureza multidisciplinar, os estudos da criança propõem a construção de plataformas de diálogo entre disciplinas, mas são atravessados pelos debates paradigmáticos que ocorrem no campo científico. Deste modo, são percecionáveis orientações teóricas e metodológicas bem distintas, ancoradas nas respetivas orientações paradigmáticas. É nesse quadro que uma orientação paradigmática crítica tem sobressaído nos estudos da criança – a partir dos contributos, sobretudo, da sociologia da infância – em Portugal e no Brasil. Focada nas dimensões éticas e políticas da emancipação da infância, orientada especialmente para as crianças pobres, a abordagem crítica nos estudos da criança estrutura uma agenda onde a emancipação social se constitui como objetivo maior.