Objetivando discutir de que modo uma instituição escolar, por meio de práticas soberanas de dupla suspensão na vida do povo criança, produz, em seu interior, vida nua, este texto propõe discutir a escola como um dispositivo biopolítico que opera na suspensão política da vida das crianças que não se adaptam aos valores de aluno estabelecidos por ela. Para tanto, toma como intercessores teóricos privilegiados Agamben, Foucault e Pelbart, discutindo com eles conceitos de biopolítica, sacralização e profanação em contextos escolares. Em termos metodológicos, a pesquisa foi realizada por meio de redes de conversações com crianças e adolescentes enviados à coordenação de uma escola de periferia de Vitória/ES. Aponta, contudo, que é justamente ali, onde a dupla suspensão é realizável, o local em que as crianças não são nem mais alunos, nem crianças, é que elas se veem na condição de responder à ameaça política de suas vidas. Ou seja, é onde a vida parecia ser unicamente biológica (zoé) que elas encontravam a força profanatória da biopotência.