摘要:Os termos "regiões fronteiriças", "espaços fronteiriços", "raia transfronteiriça" são pouco utilizados pela geografia brasileira. Utilizamos as unidades administrativas, as microrregiões propostas pelo IBGE; são mais práticas, sobretudo, quando há necessidade de se trabalhar com dados estatísticos. No quadro de programas de desenvolvimento local e regional da União Européia (INTERREG - Programa de Cooperação entre Regiões -; FEDER - Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional etc.) é dada atenção especial às áreas de fronteiras: Portugal-Espanha; Espanha-França etc. Ademais, as "fronteiras" são raias, isto é, áreas de intergradação onde os processos se manifestam segundo uma lógica de descontinuidade objetiva da paisagem ou, ainda, segundo uma impermeabilidade muito acentuada entre as parcelas do território submetidas às definições e redefinições territoriais mais ou menos independentes. No Brasil, encontramos várias raias que reclamam uma análise no sentido de revelar suas potencialidades paisagísticas e suas peculiaridades culturais, sociais e econômicas, objetivando a implantação de planos de desenvolvimento regional, capazes de superar o estágio de periferia a partir de uma gestão territorial (" aménagement) que contemple, acima de qualquer "modismo globalizante", a integração regional. Nós apreendemos, para uma análise integrada da paisagem, a raia divisória São Paulo - Paraná - Mato Grosso do Sul, mais precisamente, a parcela do território conhecido geograficamente pelas denominações de "Pontal do Paranapanema", "micro-região de Paranavaí", "Sudeste do Mato Grosso do Sul" e, as calhas do Alto Curso do Rio Paraná - à altura da UHE Engº Sérgio Motta/Porto Primavera e do Médio-Baixo Vale do Paranapanema - a jusante da UHE de Capivara -, que atuam ora como elos de aproximação, ora como linhas divisórias dessas parcelas territoriais. Das três parcelas territoriais da raia São Paulo - Paraná - Mato Grosso do Sul, o Noroeste do Paraná foi a única contemplada com uma concepção moderna de colonização: a construção de vias de circulação e o desenho de pequenos centros urbanos, "coordenados" por cidades de porte médio (Maringá, Paranavaí, Cianorte, Umuarama...); ao mesmo tempo, o parcelamento dos lotes rurais obedeceu a uma concepção, cujo objetivo maior era o dinamismo da economia e das relações amplas determinantes para o desenvolvimento regional. No Sudoeste paulista, a ocupação, a principio motivada pelo avanço do café e da ferrovia, no início do século XX, é "redefinida" a partir do uso das terras areníticas e terá na cultura do algodão - a partir dos anos 1940 - a sua maior motivação. No extremo Sudoeste/Pontal do Paranapanema, o caráter de apropriação ilegal das reservas florestais, caracterizou-se por elevada agressividade, onde o desmatar foi a única forma de "legitimar" a posse. A ocupação do Sudeste Sul mato-grossense foi uma consequência natural (osmose) da capitalização observada nas áreas próximas e de ocupação anterior. O fato do capital "externo" se apropriar, majoritariamente, do espaço tem um peso significativo (negativo) na gestão do território, ainda hoje. As desigualdades territoriais permanecem nas condições atuais. É necessário considerarmos desde as características naturais herdadas até as relações sociedade-natureza plasmadas e materializadas na paisagem. O nosso objetivo maior foi o de entendermos os dinamismos de cada parcela e de suas relações com os contextos socioeconômicos e políticos nacionais, até porque, são regiões comandadas por decisões externas. As análises das imagens satelitares, os registros fotográficos, as observações sobre o terreno, as entrevistas etc. se prestam à explicitação dos processos evolutivos da paisagem. O processo de ocupação de cada uma das parcelas se deu diferentemente: no tempo e na forma. Essa herança ficou plasmada na paisagem atual, malgrado o curto período de atuação dos agentes.