A Estacao: fashion, literature and ideological diffusion/A Estacao: moda, literatura e difusao ideologica.
Saraiva, Juracy Assmann ; Kupssinsku, Catia Cilene
Contexto de afirmacao
Em 1848, Jean Baptiste Lombaerts, de origem belga, e seu filho
Henri Gustave Lombaerts instalaram uma livraria e tipografia na Rua do
Ouvidor, no. 17, que ai permaneceria ate 1904. A empresa, considerada
"[...] a maior das litografias montadas na epoca [...]"
(Ferreira, 1994, p. 412), realizava trabalhos de impressao por encomenda
e fazia a importacao de jornais e revistas, principalmente, francesas.
Esse empreendimento dos Lombaerts, que se firmaria ao longo do tempo
(1), somava-se a de outros empreendedores estrangeiros, como os irmaos
Laemmert, de origem alema; Baptiste Louis Garnier, Junio Villeneuve,
Firmin Didot, Luis Mongie e Albin Jurdan, de origem francesa; Cremiere,
um belgo-frances; Jose de Mello e Cruz Coutinho, portugueses. Todos
identificavam, no Brasil, um promissor mercado na area das letras, muito
embora enfrentassem dificuldades devido a necessidade da importacao de
equipamentos, da ausencia de um sistema de producao, da precaria
distribuicao e circulacao de livros e revistas, da escassez de mao de
obra especializada e, sobretudo, devido ao analfabetismo, que interferia
na formacao de um publico leitor.
Dados demograficos de 1849 informam que a populacao do Rio de
Janeiro era constituida de 266.466 habitantes, entre os quais poucos
eram alfabetizados (Chalhoub, 1990). No entanto, na decada de 1850, a
cidade concentrava doze livrarias, quase todas situadas na Rua do
Ouvidor e na Rua da Quitanda. Duas decadas depois, ainda que o censo de
1872 comprovasse que so 30% da populacao brasileira sabia ler (2), o
comercio livreiro do Rio de Janeiro se expandia e sua evolucao podia ser
avaliada pelas trinta livrarias (3) que haviam se estabelecido na
capital do imperio.
O comercio livreiro fomentava a disseminacao da literatura, mas
outras formas de expressao artistica haviam sido introduzidas no Brasil,
em meados do seculo XIX, pela constituicao de um publico apreciador de
arte. A emergente elite carioca mobilizara-se "[...] pela
transplantacao dos valores esteticos oriundos do avanco da burguesia no
Ocidente europeu [...]" (Sodre, 1982, p. 23) e, para atender a esse
fim, foram concebidos locais como o Ginasio Dramatico, o Teatro Sao
Pedro, o Sao Januario e o Lirico Fluminense (Massa, 1971), aptos a
possibilitarem apresentacoes musicais e encenacoes da dramaturgia
nacional ou estrangeira. Entre 1850 e 1870, foram tambem constituidas
inumeras sociedades que visavam a difundir a musica classica, e o Rio de
Janeiro recebeu importantes companhias operisticas e teatrais.
Todavia, a efervescencia do ambiente cultural, assinalada,
particularmente, a partir da decada de 1870, ocorria simultaneamente a
conflitos, provocados por fatores politicos, economicos e sociais, cuja
consequencia viria a ser a mudanca do sistema de governo. Um dos
sintomas da crise politica ganhou forma na eclosao do movimento
republicano, enquanto outro se manifestou nos atritos do governo
imperial com os proprietarios de escravos, com a Igreja Catolica e com o
Exercito (Fausto, 2012).
Nesse contexto de turbulencia, a Tipografia H. Lombaerts pos em
circulacao a revista A Estacao, cuja proposta editorial nao enfocava as
crises politicas e economicas, os inequivocos problemas educacionais
--de que os raros individuos alfabetizados eram uma prova--, visto que
se detinha na divulgacao da moda internacional, na promocao de valores e
costumes europeus, bem como na disseminacao da pratica de leitura e da
importancia da literatura. Entretanto, embora estivesse imune as
circunstancias socio-historicas, o periodico encontrava eco nas
aspiracoes da emergente classe burguesa, que se identificava com o modo
de vida que ele representava (4).
Nas entrelinhas da moda e da literatura
A revista A Estacao foi uma publicacao quinzenal que circulou no
Brasil no periodo de 15 de janeiro de 1879 a 15 de fevereiro de 1904,
"[...] como a continuacao da publicacao francesa La Saison"
(Meyer, 1993, p. 76). Esse periodico havia sido distribuido no pais
entre os anos de 1872 e 1878, pela Lombaerts, livraria e tipografia
alema que tinha filial instalada na prestigiada Rua do Ouvidor, no Rio
de Janeiro. Alem de fazer a importacao de jornais e de revistas, a
Lombaerts prestava servicos de impressao por encomenda e tornou-se
responsavel pela edicao da revista A Estacao.
A Estacao era um segmento da revista ilustrada alema Die Modenwelt,
publicada pela editora Lipperheide, companhia concentrada em Berlim e
Leipzig, que produzia periodicos com a colaboracao de outras editoras da
Europa, com objetivo de divulgar a moda parisiense e os bens de consumo
europeus pelo ocidente (Silva, 2009). A Die Modenwelt era traduzida em
quinze idiomas, distribuida em vinte paises, sob diferentes titulos, de
acordo com o local em que circulava, constituindo, dessa forma, uma rede
"[...] de orientacao cultural, com aspiracoes transnacionais"
(Silva, 2009, p. 21).
Algumas versoes da Die Modenwelt, como a The Season, de Nova York,
eram editadas, vertidas para a lingua estrangeira, impressas pela
editora Lipperheide e enviadas para o pais onde deveriam circular.
Outras, das quais A Estacao e exemplo, recebiam o conteudo do periodico
para que o editor, responsavel pela publicacao, fizesse a paginacao e a
impressao da revista. Outras versoes, como o periodico britanico The
Young Ladie's Journal, assumiam apenas algumas caracteristicas da
producao da matriz alema, mantendo um formato independente (Silva,
2009).
A Estacao, em sua versao brasileira, apresentava o 'Jornal de
moda', importado da matriz alema para todos os periodicos, sem
considerar a diferenca entre os paises onde esses circulavam. Tinha,
porem, uma peculiaridade: oferecia aos leitores o 'Suplemento
Literario', que era produzido especialmente para as edicoes que
circulavam no pais.
O 'Suplemento Literario', introduzido em marco de 1879,
era composto por poemas, contos, romances, narrativas seriadas de
autores consagrados da literatura brasileira, dos quais sao exemplos
Machado de Assis, Olavo Bilac, Raymundo Correa, Julia Lopes de Almeida,
Arthur Azevedo, Luiz Guimaraes Junior, Luiz Delfino, Raimundo Correa,
Lucio de Mendonca. Alguns autores estrangeiros, como Alphonse Karr,
Arsene Houssane, Manuel Maria du Bocage, Leon Tolstoi, Guy de
Maupassant, Edgar Allan Poe, tiveram textos traduzidos e publicados no
suplemento brasileiro. Alem das producoes literarias, o suplemento era
composto por criticas e cronicas teatrais, resenhas de obras literarias,
sugestoes de leitura, conselhos sobre utilidades domesticas, partituras
musicais, secoes de entretenimento, obras pictoricas.
As ilustracoes que compunham a sessao "[...] de belas artes
vinham da revista alema Illustrierte Frauen Zeitung, tambem pertencente
a Lipperheide" (Silva, 2009, p. 18), na forma de pranchas de
xilogravuras e litogravuras, que eram entalhadas em Berlim ou Leipzig.
Dessa forma, apesar do carater localista que lhe era conferido por meio
do 'Suplemento Literario', o veiculo mantinha o vinculo com a
matriz europeia, ja que as imagens pictoricas criavam um elo com o
'Jornal de moda', cujas mensagens, assumidamente importadas,
reforcavam o carater multinacional da revista. Assim, ilustracoes
produzidas na Alemanha disseminavam a moda parisiense e dividiam espaco
com textos verbais traduzidos para a lingua portuguesa, dos quais sao
exemplos a 'Cronica da Moda' ou o 'Correio da Moda',
publicados na capa das edicoes de A Estacao.
A diversidade da origem das materias criou uma situacao ambigua em
relacao a nacionalidade de A Estacao. Inicialmente, foi considerada a
primeira revista brasileira de moda, conforme destaca o trecho do texto
publicado na capa da primeira edicao do periodico: "O jornal de
modas brasileiro que outrora seria uma impossibilidade, e possivel hoje.
A Estacao sera o primeiro jornal nesse genero". Entretanto, o mesmo
texto sublinha a filiacao da folha a moda francesa, afirmando que, por
"[...] esse lado continuara o nosso jornal a ser parisiense"
(A Estacao, 1879, 15 jan.).
A imprecisao quanto a origem da revista foi esclarecida em 1885,
com o posicionamento do editor, que explicou aos leitores a origem do
periodico, na edicao publicada no dia 15 de janeiro daquele ano. Ele
referia ser A Estacao publicada em Berlim, sendo os elementos referentes
a moda coletados em Paris, visto que so ai seriam "lavrados os
decretos do capricho, do gosto e da elegancia" (A Estacao, 1885, 15
jan., p. 6). No entanto, a partir de 1879, a revista, em sua versao
brasileira, vinha sendo composta tanto na Alemanha quanto no Brasil: a
parte referente a moda e as artes provinha do estrangeiro, enquanto o
suplemento literario assumia um carater eminentemente nacional. Em sua
dualidade, A Estacao parecia traduzir a contradicao de um pais que
visualizava a Franca como o modelo cultural a ser seguido, enquanto
tentava instituir a imagem de uma nacao nova e ilustrada.
Convergencia entre A Estacao e aspiracoes do publico
Os valores manifestados na parte da moda da revista A Estacao,
entre os quais os da elegancia e do bom gosto, encontravam, no Brasil,
um publico constituido pela emergente classe burguesa, que se
identificava com os padroes da cultura europeia. O subtitulo do
periodico--'Jornal ilustrado para a familia'--assinalava a
valorizacao do nucleo familiar, em que a mulher constituia o alicerce da
formacao de criancas e jovens, e explicitava, ainda, sua orientacao
moralizante. Esse posicionamento ideologico encontrava, portanto, no
publico feminino seu receptor ideal, o que fica evidente nos textos que
invocavam as leitoras, bem como nas ilustracoes de moda, em que
predominavam figuras do sexo feminino e nas quais as imagens de criancas
ajudavam a compor a representacao do ideario burgues.
Na Figura 1, a imagem expoe uma cena harmoniosa, em que mulheres e
uma crianca se integram ao bucolismo do espaco. O talhe esbelto das
mulheres ajusta-se ao esmero da toilette, em que o caimento dos tecidos
conjuga-se a aderecos variados e em que nao faltam chapeus delicadamente
ornados e ate mesmo objetos de apoio para facilitar um andar elegante.
Paralelamente, a crianca, trajada de forma a assemelhar-se as mulheres,
recebe um olhar atento, como para reafirmar a importancia do afeto e dos
cuidados devidos a infancia. A figura paterna nao esta ilustrada, o que
pode ser justificado por ser A Estacao uma revista direcionada a mulher
e por ser o cuidado dos filhos um oficio feminino. Entretanto,
implicitamente, o pai se faz presente, ja que, no final do seculo XIX, a
legitimacao da instituicao familiar dava-se unicamente por meio da
oficializacao do casamento. Com efeito, a valoracao positiva da familia
atendia aos interesses de uma sociedade patriarcal, em que lacos
matrimoniais podiam significar a preservacao do poder economico e
mudancas dos individuos na hierarquia social.
[FIGURE 1 OMITTED]
Sob essa perspectiva, justifica-se a importancia atribuida as
novidades da moda parisiense para as cerimonias de casamento, cujas
ilustracoes ocupavam espaco em grande parte das edicoes. A Figura 2
reproduz um traje para as elegantes noivas do final do seculo XIX: o
vestido e laboriosamente confeccionado e ostenta luxo por meio de
bordados e de pedrarias e, nele, a cintura e ajustada por espartilhos,
enquanto anquinhas e volumes de tecido acentuam a parte posterior do
corpo. O veu e a grinalda de flores de laranjeira (5), minuciosamente
descrita, complementam o visual do traje, cuja formalidade e referendada
pelo vestuario das damas que acompanham a noiva.
[FIGURE 2 OMITTED]
O periodico reafirmava, portanto, a importancia do casamento como
contrato social e esclarecia as leitoras sobre regras que orientavam seu
rito. Essas regras, oriundas de Paris, chegavam a referir a quantidade
de itens que deveriam compor o enxoval (6), e suas pecas (Figura 3) eram
ilustradas na revista, sendo apresentados, tambem, os moldes com
explicacoes detalhadas, que possibilitavam a confeccao das toilettes.
[FIGURE 3 OMITTED]
A disponibilizacao dos figurinos, as indicacoes para sua confeccao,
bem como de acessorios e de enfeites domesticos ressaltavam a habilidade
manual, caracteristica esperada das mulheres, que deviam atender as
expectativas sociais e compartilhar seus dotes com pessoas de seu
convivio. Por conseguinte, os conteudos do 'Jornal de modas'
ultrapassavam informacoes sobre tendencias do bem-vestir parisiense,
confirmando a amplitude do espectro ideologico que a moda traduz. Assim,
enquanto versavam sobre decoracao, etiqueta, costumes e habitos
franceses, que eram difundidos por meio de artigos, ilustracoes e
anuncios, as materias revelavam tambem aspiracoes da sociedade.
Os anuncios comerciais, publicados no periodico, abrangiam drageas
para combater o nervosismo e a epilepsia; xaropes para facilitar o
surgimento dos dentes, para curar asma e enxaqueca; pilulas para tratar
da gota, da influenza, do catarro; maquinas de costura, tecidos,
espartilhos, acessorios de moda, cremes de beleza capazes de remover
todos os defeitos da pele, perfumarias, bonecas etc. Eles eram um meio
de disseminacao de habitos parisienses e, por isso, influenciavam a
sociedade brasileira, que os adaptava a vida cotidiana.
Os anuncios que divulgavam objetos de consumo, cuja aquisicao devia
ser feita em enderecos de Paris (Figura 4A, B e C) ou que deveriam ser
encomendados em empresas radicadas no Brasil, propagavam valores
culturais, concebidos pela classe burguesa europeia, os quais se
legitimavam por meio da significacao simbolica inerente as mercadorias:
o po de arroz, responsavel pela aparencia de uma pele alva, sugeria ser
seu uso proprio para mulheres da classe economicamente privilegiada, uma
vez que o trabalho ao sol era assumido apenas pelas classes menos
favorecidas; o espartilho, ao ajustar a silhueta, garantia uma postura
refinada as integrantes da burguesia, para a qual o andar ereto e
harmonioso se constituia em fator de elegancia; o piano inseria-se no
conjunto de bens que conferiam proeminencia social a elite (Amato,
2007).
[FIGURE 4 OMITTED]
O piano seduzia as familias brasileiras de maior poder aquisitivo e
lhes conferia certa distincao, por estar associado a uma pratica do
universo cultural frances. Segundo Luis Filipe de Alencastro, a partir
de 1850, o piano e 'mercadoria-fetiche', e seu alto
'valor agregado' e 'efeito ostentatorio'
transformavam-no em "[...] objeto de desejo dos lares
patriarcais" (Alencastro, 2001, p. 47). A presenca habitual do
piano nas casas da elite brasileira e sua valorizacao como objeto de
status, por assimilacao da cultura europeia, sao registradas em
fotografia por Marc Ferrez, em torno de 1886: nela, a imagem mostra a
princesa Isabel ao piano, acompanhada da baronesa de Muritiba, no
interior do Palacio Isabel, atual Palacio Guanabara (Figura 5)
No Brasil, o valor atribuido ao piano
[...] gerou novos habitos socio-culturais: a oferta de professores
particulares (geralmente imigrantes), de cursos, de saraus, de recitais
de piano, de sociedades, de lojas de musica (Amato, 2007, p. 2).
[FIGURE 5 OMITTED]
Portanto, mesmo que os enderecos fornecidos nos anuncios publicados
em A Estacao fossem de lojas parisienses, esse instrumento musical
tambem podia ser adquirido no Brasil, particularmente na Rua do Ouvidor,
conforme mostra a fotografia de Marc Ferrez intitulada Rua do Ouvidor,
com escola Polythecnica ao fundo, que e uma imagem produzida no ano de
1890 e na qual fica evidente a comercializacao do piano (7).
Entretanto, o investimento em pianos e emblema de um movimento mais
amplo, pois, a partir da segunda metade do seculo XIX, a musica fazia
parte da vida cultural do Rio de Janeiro. A sociedade privilegiava
concertos e a vida musical era dinamizada pela constituicao de
sociedades, que visavam a difundir as producoes eruditas, e pela visita
de artistas de renome internacional. A Imperial Academia de Musica e
Opera Nacional, a Sociedade Filarmonica, o Clube Mozart, a Sociedade de
Concertos Classicos eram organizacoes que promoviam concertos e
acolhiam, junto com os teatros e cassinos, compositores e interpretes
internacionais, como os pianistas Segismundo Thalberg, Artur Napoleao e
Louis Moreau Gottschalk e o violinista Pablo Saraste (Azevedo, 1956).
As educadas mocas da sociedade brasileira tocavam piano em festas
de familia "[...] e muitas delas, apos o casamento, o levavam como
um dote para as suas casas" (Amato, 2007, p. 3). Os encontros
familiares em torno do piano ou os saraus eram abertos a participacao de
convidados, e esses eventos
[...] exerciam um papel fundamental em relacao ao lazer da elite
que, por este meio, apresentava suas filhas a sociedade, cultivava
amizades e negocios num ambiente restrito e acolhedor, consolidando seus
interesses e relacoes (Araujo, 2012, p. 11).
Assim, orientando-se pelo gosto de seu publico e ajudando a
institui-lo, a revista A Estacao publicava partituras musicais no
'Suplemento Literario' e, simultaneamente, ilustracoes de moda
que mostravam o uso do piano como um entretenimento associado ao luxo e
ao bom gosto (Figura 6)
[FIGURE 6 OMITTED]
A valorizacao do piano na formacao de jovens e a realizacao de
saraus musicais e literarios, costume oriundo da Europa, podem ser
comprovadas em obras literarias e pictoricas. No trecho do romance
Quincas Borba, de Machado de Assis, publicado em A Estacao, encontra-se
a seguinte passagem, em que a protagonista critica a prima por nao saber
piano nem frances, lacunas consideradas prejudiciais ao convivio e a
promocao social:
Nem piano nem frances,--outra lacuna, que Sophia mal podia
desculpar. D. Maria Augusta nao compreendia a consternacao da sobrinha.
Para que frances? A sobrinha dizia-lhe que era indispensavel para
conversar, para ir as lojas, para ler um romance [...].--Sempre fui
feliz sem frances, respondia a velha; e os meia-linguas da roca sao a
mesma cousa; nem por isso lhe hao de faltar noivos.--Mas se o marido e
juiz de direito, ponderava Sophia (A Estacao, 1887, 15 maio, p. 87).
A importancia do piano na educacao das criancas e jovens e,
igualmente, explicitada na obra A menina ao piano (Figura 7), produzida
em 1892, pelo artista carioca Aurelio de Figueiredo:
[FIGURE 7 OMITTED]
A disposicao do piano no espaco denota sua relevancia: inserido no
ambiente domestico, o instrumento musical compoe sua decoracao e
agrega-lhe valor, juntamente com os outros objetos de luxo que indiciam
ser esta a casa de uma familia abastada. A atencao com a infancia esta
expressa nos brinquedos espalhados pela sala, mas eles sao preteridos
pelo piano, que a crianca toca, atenta a uma partitura musical. A
postura em frente do instrumento, o posicionamento das maos da menina e
o cenario remetem a ideia de que tocar piano e um habito que faz parte
da vida familiar, habito que se mistura a brincadeiras e a leituras.
O suplemento tambem investia na valorizacao do livro e da leitura,
na forma de mensagens de estimulo a sua aquisicao, de imagens e por meio
de anuncios. Em um 'Correio da Moda', o editor afirma:
As obrigacoes sociais que o uso criou para as festas de Natal e do
Ano Bom, acompanham a todos em toda parte. No nosso seculo de divulgacao
da luz intelectual, de vulgarizacao dos conhecimentos artisticos e
cientificos, nao ha presente mais apropriado para todas as idades e
condicoes do que o livro (A Estacao, 1882, 15 dez., p. 269).
A evidencia dada ao livro e a leitura e disseminada por meio de
mensagens subliminares e tambem por anuncios comerciais. Sao frequentes
ilustracoes que representam mulheres e criancas com livros nas maos e
com um semblante concentrado na leitura; livrarias, lancamentos de
livros, de revistas, resenhas sobre publicacoes recentes tambem ganham
espaco nas paginas do 'Suplemento Literario' na forma de
anuncios ou de comentarios (Figura 8A, B e C).
[FIGURE 8 OMITTED]
Portanto, o periodico estimulava o envolvimento com a leitura,
vista como uma pratica propria a burguesia em ascensao, classe a que
almejavam proprietarios de terras, comerciantes, profissionais liberais
da sociedade brasileira do final do seculo XIX. A leitura e apresentada,
tambem, como forma de acesso ao conhecimento e ao prazer, e, por meio
dessa associacao, as imagens de moda de A Estacao buscavam conquistar a
adesao do publico leitor. Todavia, ao incentivar uma pratica de que
dependia, o proprio periodico agregava-se a um movimento desencadeado
pelo mercado editorial e pelos jornais, inserindo-se em um circulo em
que era uma das correntes da disseminacao da literatura.
O habito da leitura e as normas culturais anteriormente citadas,
como a da valorizacao da familia, das habilidades femininas e da musica,
estao presentes na tela Cena de familia de Adolfo Augusto Pinto (Figura
9), produzida por Almeida Junior (1891), no ano de 1891 (8). Nela, o pai
e uma das criancas leem, a esposa borda e ensina o trabalho manual a uma
filha, enquanto os outros tres filhos interagem entre si; o violoncelo,
o piano aberto e a partitura em destaque intentam mostrar que os
instrumentos se encontram em uso, alem de compor a decoracao da casa.
Considerando a significacao expressa pelos signos visuais da tela
de Adolfo Augusto Pinto, pode-se apreende-la como um prolongamento da
perspectiva ideologica, manifestada na revista A Estacao, com a qual a
coletividade estabelecia elos de convergencia. Essa relacao de
reciprocidade entre o periodico e seu publico expunha-se em elementos
das artes plasticas, migrava para as ruas na indumentaria de homens e
mulheres, mostrava-se na arquitetura de predios e na planificacao da
cidade do Rio de Janeiro, uma vez que a Franca representava o ideal
civilizatorio da sociedade brasileira da segunda metade do seculo XIX e
do inicio do seculo XX.
[FIGURE 9 OMITTED]
A tela Ultimo Baile (1905), de Francisco Aureliano de Figueiredo e
Melo (Figura 10), tambem demonstra sua proximidade com as representacoes
das imagens de moda de A Estacao. Todavia, o elo visual nao anula a
discordancia entre a orientacao axiologica da obra pictorica e a da
revista, ja que esta valorizava uma aristocracia cujo poder politico se
esgotava, enquanto aquela mostrava a falacia de sua sustentacao.
[FIGURE 10 OMITTED]
Voltada para a reproducao do ultimo baile do Imperio, que ocorreu
na noite de 9 de novembro de 1889, no Palacete Alfandegario da Ilha
Fiscal, na entrada da Baia de Guanabara, a tela dialoga com as imagens
de A Estacao: os modelos luxuosos dos vestidos, os acessorios das
mulheres, entre os quais as peles, os penteados elaborados podem ser
identificados como sugestoes divulgadas pelo periodico. Paralelamente, o
titulo da tela, que foi sobreposto pelo nome do evento historico que ela
registra, suscita uma reflexao que se estende da ilusoria situacao do
governo imperial--que antevia um terceiro reinado quando as bases da
republica ja se instalavam--a indumentaria de uma sociedade que se
submetia aos ditames de uma moda inadequada ao clima em que vivia,
iludindo-se com a aparencia do esplendor proveniente da Franca, que era
associado a possibilidade de ascensao social.
A indumentaria como marca de distincao social e a posse de recursos
financeiros garantiam as lojas da capital do Imperio a procura de suas
mercadorias pela clientela, as quais eram destacadas em anuncios de
lojas, como os de A Notre Dame de Paris (Figura 11).
[FIGURE 11 OMITTED]
Em seu apelo, o anuncio permite depreender a inadequacao entre os
produtos veiculados, como as capas de veludo, mantos, chapeus e la, ao
clima tropical. O desajuste tambem e percebido nos modelos de vestuario
divulgados pela revista A Estacao, pois nao havia a preocupacao em
aproprialos a realidade climatica do Brasil, sendo indicadas roupas das
estacoes vigentes na Europa, as quais ocorrem em periodos opostos as do
hemisferio sul.
A Figura 12, publicada no mes de janeiro do ano de 1891, em pleno
verao brasileiro, mostra figurinos confeccionados com o uso de peles e
mulheres patinando no gelo, atividade totalmente inexistente no Brasil,
no final do seculo XIX. Os trajes das ilustracoes eram, pois, destinados
a climas rigorosamente frios, e
[...] mesmo que as mulheres elegantes da capital esperassem seis
meses para estrear a moda de inverno parisiense, elas ainda estariam
agasalhadas demais para o frio carioca (Feijao, 2011, p. 132).
[FIGURE 12 OMITTED]
A certeza do desajuste da moda parisiense ao clima brasileiro e
mencionada em trecho da primeira edicao da revista: "Ainda
encontrarao as nossas leitoras nas nossas paginas, pesados mantos no
verao e toilettes leves no inverno" (A Estacao, 1879, 15 jan.,
capa). Entretanto, na edicao de janeiro de 1891, doze anos apos a
constatacao da inadequacao da moda europeia ao clima tropical, nenhuma
mudanca ocorrera, visto que o editor afirmava que "[...] nao ha
vestido elegante nem capa notavel sem ser guarnecida com peles. Nao se
faz atencao a temperatura" (A Estacao 1891, 31 jan., p. 10). A
citacao destaca que o conforto e o bem-estar eram preteridos em nome dos
preceitos parisienses da moda:
Por isso tinhamos luvas, espartilhos, chapeus com plumas e outros
enfeites indicados para o inverno--sem contar os pesados tecidos
europeus--em pleno verao de 40 graus (Joffily, 1999, p. 15).
Com efeito, a moda parisiense migrava das paginas do periodico para
as ruas do Rio de Janeiro, particularmente para a do Ouvidor, em que se
localizavam modistas, cabeleireiros e lojas de artigos finos, grande
parte delas pertencentes a franceses, e que tinham como clientela a
elite da sociedade brasileira (9). Distintas damas passeavam pelas ruas
do Rio de Janeiro com pesados e longos vestidos sob um calor escaldante;
os homens usavam casacas, calcas de casimira, botas e volumosos lencos,
sem considerar o desajuste desse tipo de indumentaria com o clima do Rio
de Janeiro.
Fotografias do final do seculo XIX e do inicio do seculo XX, do
espaco urbano do Rio, expoem a submissao a moda parisiense, sublinhando
a conexao entre a vestimenta das mulheres, os expositores das lojas e as
imagens de moda de A Estacao. A Figura 13 retrata duas mulheres trajando
vestidos e acessorios semelhantes aos ilustrados em A Estacao, enquanto
apreciam as novidades da moda, exibidas na vitrine do imponente magazine
Au Parc Royal, a qual funciona como um espelho em que elas visualizam,
concomitantemente, as roupas expostas, o suplemento em que buscam
inspiracao e a si mesmas:
[FIGURE 13 OMITTED]
Como a propria foto mostra, o espaco comercial da rua do Ouvidor e
o dos quarteiroes de seu entorno eram os mais requintados da capital
brasileira. Ao caminhar por essas ruas, a populacao vivia um pouco de
Paris: ali 'falava-se mais frances do que Portugues', e os
nomes franceses dos estabelecimentos comerciais remetiam a capital da
moda: "Torre Eiffel", "Palais Royal", "A Notre
Dame de Paris", "Salon Vente Cheruit" (Joffily, 1999, p.
15).
Os nomes franceses emprestavam as lojas uma notacao de luxo, de
elegancia, de modernidade, e a ostentacao das fachadas, que se
completava nas vitrines, estendia-se para seu interior. As lojas
contavam com vendedoras treinadas e atentas ao desejo de um publico
requintado, oferecendo-lhes opcoes variadas, conforme mostra a
fotografia da loja 'Salon Vente Cheruit' (Figura 14), que
funcionava como uma extensao da casa parisiense de Madame Madeleine
Cheruit e servia de estimulo ao estabelecimento de vinculos identitarios
com a Franca.
[FIGURE 14 OMITTED]
A espontaneidade impressa no registro fotografico--marcada pela
atitude das funcionarias, pela atencao da mulher sobre a peca do
vestuario, pelo desmazelo das roupas jogadas sobre o canape, pelos
carros, como parte da paisagem, visiveis atraves da janela--parece
traduzir a rotina do 'Salon Vente Cheruit'. Nesse sentido, a
imagem contrasta com as das ilustracoes de moda de A Estacao, sendo seu
traco natural e espontaneo acentuado, sobretudo, pela diferenca entre o
suporte da fotografia e o da xilogravura. Entretanto, outro aspecto se
destaca: uma menina, ao contrario das demais mulheres, focaliza a
camera, e o olhar do receptor se dirige para ela. Integrada ao conjunto
da cena, a menina ganha autonomia, enquanto seu traje expoe um novo modo
de ver e de compreender a infancia, razao por que ela nao esta vestida
como uma pessoa adulta, mas particularizada por meio de sua
indumentaria. O estabelecimento da convergencia entre as mudancas
socioculturais que distinguiram criancas e adultos e a roupa infantil
fora disseminado em Paris pela estilista Jeanne Lanvin, que criou
modelos que nao lembravam as miniaturas das roupas de adultos que, ate o
inicio do seculo XX, as criancas envergavam. Consequentemente, tambem
sob esse aspecto, a moda francesa impunha-se como o modelo a ser seguido
(Moutinho, & Valenca, 2003).
Consideracoes finais
A submissao a cultura francesa, exemplificada pela adesao as
ilustracoes de moda da revista A Estacao, difundiu nao somente o
comportamento e o modo de vestir das parisienses, mas tambem interferiu
em costumes e na arquitetura da paisagem urbana. Na Figura 15A e B, esta
transposta a ilustracao de moda publicada no dia 28 de fevereiro de 1887
e, nela, duas mulheres se encontram em um camarote de teatro, fazendo
alusao ao gosto e ao costume europeu da apreciacao de pecas teatrais; na
mesma figura, consta a fotografia do 'Teatro Municipal do Rio de
Janeiro', cujo projeto arquitetonico foi inspirado na 'Opera
de Paris' e concebido com a colaboracao do frances Albert Guilbert.
A reuniao das duas imagens sintetiza a assimilacao da cultura francesa,
que se fez presente nos mais diferentes aspectos da vida brasileira.
[FIGURE 15 OMITTED]
Por meio de seus signos, essas imagens formavam um processo
comunicativo que transmitia padroes culturais oriundos da Europa e que
eram interpretados, absorvidos e incorporados pelos brasileiros,
articulando-se os comportamentos, os habitos, o vestuario aos elementos
da paisagem.
Portanto, o periodico A Estacao integrou-se a um movimento
abrangente, instalado no Brasil a partir de 1840, que buscou constituir
uma sociedade familiarizada com a cultura das letras, da arte pictorica,
musical, dramatica e que promovia o consumo de bens. Ao divulgar valores
da aristocracia e da burguesia europeia, a revista ia ao encontro da
elite da sociedade brasileira que cultuava esses mesmos valores. Por
conseguinte, a propagacao, pelo periodico, de pontos de vista, de
valores, de comportamentos, de habitos, conjugada a circunstancias de
natureza politica e social, influenciou a concepcao da identidade
nacional brasileira, que assimilava modelos europeus e os adaptava ao
cotidiano, em um momento em que a construcao de um estilo de vida
proprio ainda estava em processo.
Doi: 10.4025/actascilangcult.v38i1.27052
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Received on May 13, 2015.
Accepted on November 30, 2015.
Juracy Assmann Saraiva * e Catia Cilene Kupssinsku
Programa de Pos-graduacao em Processos e Manifestacoes Culturais,
Universidade Feevale, RS-239, 2755, 93352-000, Novo Hamburgo, Rio Grande
do Sul, Brasil. * Autor para correspondencia. E-mail: juracy@feevale.br
(1) Apos a morte do pai, Henri Gustave Lombaerts, que era
impressor-litografo, assumiu a loja e imprimiu varias revistas de artes:
em 1880, a Nova Semana Ilustrada e Pena e Lapis; em 1884, a Galeria
Contemporanea do Brasil; entre 1886 e 1887, a casa publicou a revista A
Vida Moderna.
(2) Em 1872, entre os escravos, o indice de analfabetos atingia
99,9% e, entre a populacao livre, aproximadamente 80%, subindo para mais
de 86% quando so as mulheres eram consideradas. Somente 16,85% da
populacao, entre seis e quinze anos, frequentavam escolas. Havia apenas
doze mil matriculados em colegios secundarios. Entretanto, calcula-se
que chegava a oito mil o numero de pessoas com educacao superior no pais
(Fausto, 2012).
(3) Entre as livrarias, constavam a Enciclopedica, a Cruz Coutinho,
a Casa de uma Porta So, a Luso-Brasileira, a Dupont e Mendonca, a
Classica, a Economica, a Correa de Mello, salientando-se o poder
comercial da Imperial Typografia Dous de Dezembro, de Paula Brito, e das
casas editoriais Laemmert, Garnier e de Francisco Alves de Oliveira
(Borges, 2005).
(4) Essa aceitacao da cultura proveniente da Franca pode ser
justificada pela ampla circulacao da revista, que detinha, em 1882,
10.000 assinantes, numero que se ampliava para 100.000 leitores, pois,
conforme testemunha seu editor, em texto incluido no suplemento
literario, "[...] cada assinante representa, termo medio, dez
leitores, o que nos da uma circulacao de 100 mil leitores, quando,
alias, a nossa tiragem e de apenas dez mil exemplares" (A Estacao,
1883, 15 mar., p. 52). O registro linguistico das citacoes da revista
foi adaptado a ortografia contemporanea.
(5) "Este ano coloca-se a coroa de flor de laranja atras,
conforme o penteado grego, ou cercando-o inteiramente ou guarnecendo
simplesmente a parte de cima. [...] Devemos lembrar que as noivas que
tem menos de 18 anos de idade usam so os botoes da flor de laranjeira,
mais de 18 anos, as flores e os botoes, passado 25 anos, as flores de
laranja misturadas com flores de murta ou clematite brancas" (A
Estacao, 1892, 15 jan.).
(6) "O dito enxoval e composto de meia duzia e de duzia: 6
lencois e fronhas, 6 toalhas de diferentes dimensoes, 6 camisas mais
ricas, 6 simples, 6 calcas, 6 saias, tudo diferente e o resto a
proporcao. Doze guardanapos ricos, 12 simples, 12 para copa, 12 panos
para pratos, 12 para copa, 6 aventais azuis, 6 brancos [...]" (A
Estacao, 1892, 15 jan., capa).
(7) Acerto do IMS (Instituto Moreira Salles).
(8) A pintura retrata o engenheiro civil brasileiro Adolfo Augusto
Pinto, sua esposa, Sr.a Generosa da Costa Liberal, e seus cinco filhos
no convivio do lar.
(9) Laurence Hallewell descreve a rua do Ouvidor como uma extensao
da Franca, referindo que, em 1862, de um total de 205 estabelecimentos
comerciais ai instalados, 93 pertenciam a franceses (Hallewell, 2005).