Focusing the essay/O ensaio em perspectiva.
Nascimento, Josyane Malta
Introducao
O ensaio e uma atitude gimnastica do intelecto que, repudiando o
autoritarismo, pensa firmemente por si so e por si proprio. (Silvio
Lima, Ensaio sobre a essencia do ensaio)
O ensaio nao atinge a verdade, vive sempre separado dela, mas
mantem vivo o sentimento dessa distancia [...]. (Eduardo Prado Coelho, O
calculo das sombras)
No decorrer deste artigo, pretende-se refletir sobre o genero
ensaio, desde a sua genese, com Michel de Montaigne, percebendo seus
desdobramentos ao longo dos seculos, ate a sua recepcao no seculo XX,
com a problematizacao do genero feita por Theodor Adorno.
As duas epigrafes supracitadas foram escritas em epocas distintas e
compreendem a nocao de ensaio a partir de abordagens diferentes. A
primeira integra a obra Ensaio sobre a essencia do ensaio, de 1946, de
Silvio Lima, entao professor da Universidade de Coimbra. Em seu livro,
Lima pretende pensar o ensaio a luz de sua genese humanista, seguindo a
linha montaigniana. A segunda foi escrita meio seculo depois, em 1997,
por Eduardo Prado Coelho, em seu artigo O ensaio em Geral (O calculo das
sombras), titulo que estabelece um dialogo com um dos capitulos do livro
de Silvio Lima: 'Principais caracteristicas dos 'ensaios'
e de todo o ensaio em geral'. Coelho repensa o ensaio humanista e
seus reflexos a luz do seculo XX.
Comecemos com o professor de Coimbra. Em 1946, Lima produziu um
estudo de folego sobre o conceito de ensaio, buscando pensa-lo em sua
essencia: naquilo que o distinguia de todos os outros textos e em sua
genese. Para tanto, o autor comeca em Montaigne, no seculo XVI.
Juntamente com inumeros outros estudiosos, Lima afirma que, com a obra
Ensaios (Essais), Montaigne "[...] criaria literariamente--segundo
se pensa e se diz--nao so a palavra ensaio senao que tambem um genero
estetico novo: o ensaio." (Lima, 1946, p. 9, grifos do autor). De
fato, os Ensaios de Montaigne tornaram-se referencia para os que se
interessam pelo estudo desse genero. Nos tres longos volumes que compoem
a obra, Montaigne escreve suas reflexoes sobre sua vida particular,
familia, amigos, mulheres, sua doenca, o medo, a filosofia, a guerra
civil que a Franca atravessava e, entre todos esses assuntos, a presenca
sempre marcada da mitologia grecoromana e do pensamento dos filosofos
socraticos. Demorou duas decadas para compor os 107 capitulos dos
Ensaios, uma obra densa e extensa.
O verbo essayer, tanto em frances quanto em sua traducao para o
portugues, 'ensaiar', significa por algo a prova, tentar,
exercitar. Ha um descomprometimento com a perfeicao que, em se tratando
de uma performance artistica--de danca, teatro etc.--so tera o objetivo
cumprido no momento do grande espetaculo. Mas o ensaio reflexivo nao
espera o show. Sua performance e um tipo de exercicio, e o desempenho de
escrita, isenta do rigor, e o proprio espetaculo. Foi dessa forma que
Montaigne definiu seus Essais, ao compara-los com o trabalho de um
pintor que executou sua obra tendo o cuidado de apenas preocupar-se com
o lugar onde colocaria a gravura, deixando por conta da fantasia todo o
restante:
Contemplando o trabalho de um pintor que tinha em casa, tive
vontade de ver como procedia. Escolheu primeiro o melhor lugar no centro
da cada parede para pintar um tema com toda a habilidade de que era
capaz. Em seguida encheu os vazios em volta com arabescos, pinturas
fantasistas que so agradavam pela variedade e originalidade. [...] fiz,
pois, como o pintor, mas em relacao a outra parte do trabalho, a melhor,
hesito. Meu talento nao vai tao longe, e nao ouso empreender uma obra
rica, polida e constituida em obediencia as regras da arte (Montaigne,
1972, p. 95).
Alem da falta de rigor artistico, tambem a ausencia de teor
cientifico e valorizada nessa forma de escrita que Montaigne chamou
ensaio. Por isso, ele considerava que a experiencia do individuo era
indispensavel para a melhor compreensao e elaboracao desse tipo textual.
Alem da presenca da subjetividade autoral, Montaigne tambem acreditava
que um texto so poderia ser bem apreendido se proximo da linguagem comum
que, segundo ele, seria mais atrativa e inteligivel para o leitor:
Por que nossa linguagem comum, tao comoda e facil, se torna obscura
e ininteligivel quando empregada em contratos e testamentos? Por que os
que se exprimem tao claramente quando falam ou escrevem, nao acham jeito
de nao se confundir ou se contradizer em atos desse genero? E porque os
principes dessa arte se aplicam com especial cuidado em escolher
vocabulos solenes, frases artisticamente construidas, e tanto pesam cada
silaba, sutilizam cada termo, que nos embaracam e embrulham na
multiplicidade das formulas e das minucias; e nao mais distinguimos
regras ou prescricoes e nao entendemos absolutamente mais nada
(Montaigne, 1972, p. 482).
Percebe-se, com os excertos, que o autor dos Ensaios acreditava que
a razao nao era o bastante para satisfazer o desejo de conhecimento, por
isso a 'experiencia' (entendendo-a como vivencia) era o
recurso preferencial de sua escrita: "O desejo de conhecimento e o
mais natural. Experimentamos todos os meios suscetiveis de satisfaze-lo,
e quando a razao nao basta apelamos para a experiencia" (Montaigne,
1972, p. 481). De acordo com Lima, Montaigne integraria uma geracao de
filosofos do primeiro momento do Renascimento. As novas descobertas do
seculo XVI dilatariam os horizontes renascentistas, alargando-os nao so
territorialmente como, tambem, intelectualmente.
Tres palavras estariam associadas ao universo dos primeiros anos de
1500: ousadia, duvida e liberdade. Ousar era a palavra de ordem. Por
isso, a valorizacao da experiencia da tentativa, da ousadia foi tao
reiterada nos Ensaios. A duvida proviria do medo do novo e a liberdade
seria associada ao livre exame dos valores do passado e das surpresas do
desconhecido. A genese do ensaio, com Montaigne, estaria associada a
ousadia, duvida e liberdade, no livre exame das possibilidades:
Em resumo: no seculo XVI, quando em 1580 surgem os
'Ensaios' de Montaigne, ja o autoritarismo medievo,
consubstanciado no peripato, sofrera rudes golpes belicos vibrados pela
razao critica, pelo experimentalismo da 'nuova scienza' ou
'ars inveniendi', que anos depois Galileu definiria e iria
estruturar, com pujante fecundidade. Montaigne 'mergulhara'
nesse heroico ambiente de liberdade investigadora e os seus
'Ensaios' serao um produto do livre-exame (Lima, 1946, p.
26-27).
Como produto do livre exame de suas experiencias, os Ensaios
adquirem, como aponta Lima, caracteristicas pessoais. Afinal, Montaigne
anuncia que escrevera Ensaios de uma vida. A preposicao 'de'
torna-se fundamental para se entender a subjetividade imputada as
paginas do livro. Nao se trata de ensaios 'sobre' algo, mas
ensaios intrinsecamente ligados a 'uma' vida:
A linha evolutiva do ensaio, gravada no cilindro rotativo dos
seculos, consiste precisamente no transito gradual do pessoalismo de
Montaigne (ensaios de) para o impessoalismo (ensaios sobre) (Lima, 1946,
p. 82).
Outras configuracoes do conceito de ensaio
Se com Montaigne o ensaio apresenta caracteristicas subjetivas, no
decorrer dos seculos, o genero passa por uma objetivacao e, ja com Rene
Descartes, no seculo XVII, ira receber caracteristicas impessoais,
sobretudo se tomarmos como exemplo o Discurso do Metodo. Enquanto a
ciencia--entendendo-a como discurso racional da logica--para Montaigne,
mostrava-se insuficiente para o exercicio da reflexao, para Descartes,
ela era essencial. Embora apenas poucas decadas separem os dois
pensadores--Montaigne (1533-1592) e Descartes (1596-1650)--, Descartes
estava mais proximo da Revolucao Cientifica que se desenvolveu durante o
seculo XVII e que ecoou definitivamente no mundo ocidental moderno.
No Discurso do Metodo, o autor ja anuncia como guiara o seu texto:
"Para bem conduzir a razao e procurar a verdade nas ciencias"
(Descartes, 1996, p. 3). E sera a Verdade, em seu maximo universalismo,
que o filosofo frances perseguira nesse ensaio. A maxima 'penso,
logo existo', que viraria, entao, uma especie de mote do
iluminismo, expressa bem o espirito racionalista que permeia o Discurso
do metodo. Se a busca de uma compreensao de nossa existencia acompanha o
homem desde tempos imemoriaveis, nao seria diferente com Descartes.
Porem, o filosofo busca o sentido de sua existencia a partir do logos.
Pensar, na maxima cartesiana, refere-se ao poder racional humano. A
razao e, dessa forma, para Descartes, a unica maneira de se aproximar da
verdade e afastar-se da duvida.
Porem, logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria
pensar que tudo era falso, faziase necessario que eu, que pensava, fosse
alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era
tao solida e tao correta que as mais extravagantes suposicoes dos
ceticos nao seriam capazes de lhe causar abalo, julguei que podia
considera-la, sem escrupulo algum, o primeiro principio da filosofia que
eu procurava (Descartes, 1996, p. 15).
Descartes distancia-se de Montaigne duplamente: primeiro, porque o
autor dos Ensaios nao almeja buscar a verdade. Essa ideia de verdade
universal e gerada e propagada pelo Iluminismo e somente no seculo XIX
comecara a ser questionada, sobretudo com Nietzsche, so para citar o
mais evidente. Outro ponto que afasta os dois ensaistas refere-se ao
culto da razao que, em Descartes, evidencia-se em todo Discurso do
metodo, enquanto em Montaigne destaca-se o gosto pelo memorialismo, como
ele explica no 'Aviso ao leitor': "[...] sou eu mesmo a
materia de meu livro" (Montaigne, 1972, p. 54). Seu autorretrato
engendrara suas mazelas mais intimas, inclusive confissoes sobre sua
vida sexual. Trata-se de um livro
[...] composto unicamente de assuntos estranhos, fora do que se ve
comumente, formado de pedacos juntados sem carater definido, sem ordem,
sem logica e que so se adaptam por acaso uns aos outros (Montaigne,
1972, p. 95).
Conforme as palavras de Montaigne, trata-se de um livro composto
por fragmentos e, como ele proprio destaca, 'sem logica'.
Evidencia-se, ai, a ideia do 'eu' fragmentado, e nao do
individuo enquanto unidade.
A racionalizacao presente no Discurso do metodo reflete-se em todo
o texto, que se constitui por uma geometrizacao na propria forma:
"Se este discurso parecer muito longo para ser lido de uma so vez,
poder-se-a dividi-lo em seis partes." (Descartes, 1996, p. 3).
Pode-se dizer que se trata de uma experiencia de leitura geometrizante,
pois cada paragrafo parece estar previamente planejado, calculado. Nesse
sentido, ha um abismo entre Montaigne e Descartes. O primeiro deixa seu
texto fluir de acordo com sua memoria, discorrendo sobre as acoes
humanas a partir de acontecimentos, de sua experiencia de sentir e
observar o outro e a si mesmo. E comum, por exemplo, no decorrer das
paginas dos Ensaios, encontrarmos frases iniciadas por "Mostra-me a
experiencia que [...]" (Montaigne, 1972, p. 326). Ja em Descartes,
destaca-se o metodo --como o proprio titulo
indica--cientifico-matematico, sobretudo tendo como aparato a razao como
fundadora de suas certezas:
No entanto, o que mais me satisfazia nesse metodo era o fato de
que, por ele, tinha certeza de usar em tudo minha razao, se nao a
perfeicao, ao menos o melhor que eu pudesse (Descartes, 1996, p. 16).
A propria pluralizacao 'ensaios', que da titulo a obra de
Montaigne, demonstra que o intelecto nao deve se esgotar em uma unica
tentativa, mas em varias, como um exercicio, o que "[...] sugere a
tese de que o ensaismo implica um plurilateralismo da visao
racional" (Lima, 1946, p. 106). Para Lima, pluralizar o vocabulo
ensaio nao se deve ao fato de Montaigne ter escrito uma coletanea de
textos, principalmente porque o filosofo teria retomado sempre os mesmos
temas no conjunto de ensaios:
E por ser uma coletanea, ou miscelanea de capitulos, que Montaigne
chamou 'ensaios', e nao 'ensaio', ao seu livro? Nao
o creio. Montaigne retoma o mesmo tema, ou os mesmos temas, varias
vezes. Por exemplo, a morte, a paixao, a riqueza, a gloria, a justica, a
virtude, etc., quantas vezes Montaigne as ensaiou na 'retorta'
da vida! (Lima, 1946, p. 106)
Os poucos anos que separam Montaigne e Descartes sao cruciais para
determinar dois modelos de ensaismo. A diferenca recairia, sobretudo, no
fato de Descartes ja estar, em meados do seculo XVII, "[...] de
posse de um aparelho logico-matematico, de amplitude universal. O seu
ensaio [...] pertence ja a nova razao quantitativa [...]" (Lima,
1946, p. 107). Essa 'amplitude universal' mencionada por Lima
torna-se determinante na ruptura ocorrida no pensamento renascentista,
entre o periodo que compreende Montaigne e Descartes, e, nesse sentido,
tambem na mudanca paradigmatica do proprio conceito de ensaio. Se com o
primeiro filosofo temos uma escrita comprometida com a experiencia, a
subjetividade e a rememoracao, no segundo encontramos um texto
comprometido com a ideia de 'verdade universal'. Para Lima,
"[...] o cartesianismo 'afogaria' o pluralismo de
Montaigne; entronizaria a razao sobre o ostracismo da vida e da
historia" (Lima, 1946, p. 109).
Enquanto a logica cartesiana se afirmava como modelo de pensamento
no decorrer do seculo XVII, Montaigne tornava-se obsoleto. O seculo da
razao "[...] secou a veia inovadora do ensaismo [...]" (Lima,
1946, p. 146) na Europa, e um abismo separava, portanto, as novas
praticas ensaisticas que surgiam nas decadas de 1600 daquilo que
Montaigne denominou, no seculo anterior, Ensaios.
Embora Lima tenha escrito sobre 'a essencia do ensaio',
seu texto constroi uma severa critica a hierarquizacao dos generos
durante o seculo XVII:
Boileau, ao delinear a sua sistematizacao normativa e programatica,
obedecia nao so a "imitacao" da Antiguidade Classica (Homero,
Platao, Aristoteles, Horacio) como ao racionalismo cartesiano. Num
seculo tao sequioso de ideias claras e distintas, num seculo
entronizador da evidencia e forjador do metodo e da linguagem reduzida
esta a uma especie de algebra translucida e exacta, num seculo de ordem
e de estatizacao realengas, como nao havia Boileau (burgues dos quatro
costados e parisiense da gema) de disciplinar a literatura,
distribuindo-a por generos e especies, como quem desfaz a selva e a
jardina num luminoso parque de impecaveis linhas geometricas? (Lima,
1946, p. 172).
A hierarquizacao dos generos feita por Boileau evidenciaria o
'espirito geometrico' do seculo XVII, legado por Descartes.
Classificar os textos literarios corresponderia a mesma ordenacao dada
as ciencias exatas, biologicas e, num sentido mais amplo, a estrutura
social: "[...] a 'noblesse d'epee', a 'noblesse
de robe', a 'grande noblesse', a 'petite
noblesse'" (Lima, 1946, p. 173). Corresponderia, portanto, a
uma atitude excludente e nao menos autoritaria que o absolutismo de Luis
XIV na Franca.
Tendo em vista a ordenacao dada a literatura, Lima se interroga:
"E o ensaio? Pode-se ver nele um genero?" (Lima, 1946, p.
201). A epigrafe dada a esse capitulo foi, precisamente, a resposta do
autor: "O ensaio e uma atitude gimnastica do intelecto que,
repudiando o autoritarismo, pensa firmemente por si so e por si
proprio" (Lima, 1946, p. 201). Tal como o espirito humanista de
Montaigne, ensaiar significava, no seculo XVI, elevar a consciencia
critica sobre a humana condicao. Portanto, segundo Silvio Lima, a
pratica ensaistica corresponderia a uma tarefa instavel e
inclassificavel, uma vez que repudiaria o autoritarismo e privilegiaria
o livre exame, tal como Montaigne outrora propos.
E. Prado Coelho, filosofo e ensaista portugues, tambem se dedicou a
investigar o genero. Para ele, "[...] o ensaio nao atinge a
verdade, vive sempre separado dela" (Coelho, 1997, p. 39). Essa
perspectiva do autor de O calculo das sombras corrobora a ideia de que
nao se pode atribuir uma essencia ao ensaio, sobretudo devido ao papel
instabilizador que a pratica ensaistica da tanto ao que se propoe
discutir, tratando subjetivamente seu objeto, quanto "[...] na
arquitectura dos generos literarios" (Coelho, 1997, p. 18), ao
pensa-lo como texto isento de fronteiras rigidas.
A palavra ensaio provem do latim exagium, que significa exame. O
verbo ensaiar, portanto, poderia ser traduzido como examinar, no sentido
de pesar, balancear. Se insistirmos na etimologia de exagium, teremos
'exigo', "[...] que significa uma atitude de
'exigencia' que leva a 'expulsar' aquilo que nao
passa pelo 'crivo' (isto e, pela 'critica') de uma
posicao de rigor" (Coelho, 1997, p. 19, grifos do autor). Associado
aos verbos 'exigir, balancear, ponderar', o ensaio corresponde
tambem ao ato de 'pesar', o que confere ao vocabulo um
parentesco com o verbo 'pensar'. Dessa forma, ensaiar, pensar
e exercitar sao elocucoes que exprimem um exercicio intelectual. Mas num
outro plano semantico, o ensaio associa-se ao ato de por a prova e,
nesse sentido, 'saborear' previamente algo, provar,
experimentar:
[...] o ensaio surge como um ato de por a prova, numa acepcao que
talvez nao seja alheia ao saborear previo dos alimentos com que se
pretendia eliminar o efeito de eventuais venenos criminosos. Isto e,
atraves de uma experiencia, procura-se afastar o que podera ser perigoso
para a conservacao do individuo, quer do ponto de vista fisico (o
veneno), quer do ponto de vista mental (a ideia envenenada) (Coelho,
1997, p. 19).
Como aponta Prado Coelho, do ponto de vista fisico, o ensaio
associa-se a prova, experimentacao, degustacao. Ja numa perspectiva
intelectual, ensaiar aproxima-se de uma atitude de limpeza das ideias e,
nesse sentido, de uma experiencia ludica.
A experiencia do ensaio, em Montaigne, liga-se a essa instabilidade
da propria natureza do vocabulo, e parece refletir o espirito humanista
perante as grandes transformacoes que o mundo quinhentista atravessava.
Por ser considerado um produto renascentista, tendo surgido com
Montaigne, o ensaio, enquanto genero, foi carregado do espirito
humanista do seculo XVI frances. Os Ensaios do filosofo frances se
inscrevem numa perspectiva humanista, mas o genero somente se afirmou
mais tarde, dentro de uma perspectiva iluminista, heranca de Descartes:
[...] o grande confronto se realiza entre as trevas e a luz da
Razao--uma perspectiva iluminista, por conseguinte. De um lado, as
supersticoes, os dogmas. Do outro, por um livre exercicio da razao de
cada homem, a afirmacao da liberdade do pensamento como exame ponderado
de todas as ideias. De certo modo, a medida que as trevas se reduziam,
ia-se implantando a visao cientifica do mundo--as coisas tal como elas
sao, segundo o modelo positivista (Coelho, 1997, p. 24).
O ensaio se modifica ja no seculo XVII com Descartes e passa a ser
nao so um genero cientifico e filosofico como, tambem, um veiculo para
bem conduzir as ideias e a nocao de 'verdade'. A medida que as
trevas se reduziam, a visao cientifica se alargava.
Foi, portanto, motivado pela negacao da visao positivista do mundo
que T. Adorno elaborou sua critica as formas e G. Lukacs procurou
reconciliar alma e forma. Resgatar o ensaio no seculo XX correspondeu,
em contrapartida a perspectiva positivista, a redescoberta de algumas
caracteristicas do genero, tais como a subjetividade e a presenca da
experiencia autoral:
Torna-se extremamente sugestivo verificarmos que no inicio do
seculo XX, se vai desenvolver toda uma densa reflexao sobre a pratica
ensaistica e que o horizonte teorico onde ela se recorta e precisamente
o dessa cultura literaria de raiz romantica que nos teria ficado como
heranca do idealismo metafisico (Coelho, 1997, p. 30-31).
Prado Coelho esclarece que a redescoberta do ensaio no seculo XX
corresponde nao somente a uma revisao do genero como, tambem, a uma
busca por novos criterios artisticos que nao mais prescindissem dos
discursos das ciencias. O ensaista do seculo XX ressurge das cinzas de
um mundo secularizado, mantendo "[...] 'a esperanca' de
uma salvacao num mundo deserto e reificado" (Coelho, 1997, p. 41,
grifos do autor).
Recolocando o ensaio numa perspectiva mais subjetiva e, portanto,
menos cientifica, Adorno escreveu o texto O ensaio como forma.
Diferentemente de Lukacs, que propunha a reconciliacao entre arte e
ciencia, subjetividade e objetividade, individuo e genero, Adorno via os
aspectos positivistas do Realismo literario como negativos. Embora os
dois filosofos alemaes tenham nutrido suas diferencas no que tange ao
Realismo literario e a Arte Moderna, ambos acreditavam na autonomia do
ensaio. Em carta a Leo Popper, Lukacs questionava em que medida o ensaio
seria, de fato, um genero independente justamente por estar entre a arte
e a ciencia:
En que medida poseen forma los escritos realmente grandes que
pertenecen a esta categoria, y en que medida esta forma es
independiente; en que medida el tipo de intuicion y su configuracion
excluyen la obra del campo de las ciencias y las ponen junto al arte,
pero sin borrar el limite entre ambos (Lukacs, 1975, p. 15).
Devemos considerar, portanto, que o ensaio, enquanto texto dotado
de autonomia, compreende essa capacidade de dizer algo na fronteira
entre a arte e a ciencia, e dessa forma tambem se caracteriza como texto
em que a experiencia humana torna-se vital para a construcao dos
conceitos.
Em seu texto O ensaio como forma, Adorno retoma o carater hibrido
do ensaio e acredita que a insistente recusa da critica--nao apenas
literaria--a esse genero deveu-se inicialmente porque a sua forma e,
sobretudo, hibrida, o que levou esse tipo de texto a ser desacreditado,
durante o seculo XIX e inicio do seculo XX. Sendo inicialmente
considerado um genero menor principalmente devido ao seu teor pouco
cientifico, aos poucos se tornou cada vez mais comum utilizar o ensaio
como expressao critica por centenas de outros autores, alem dos ja
referidos pensadores da escola de Frankfurt:
Que, na Alemanha, o ensaio esteja desacreditado, como produto
hibrido; que careca de uma convincente tradicao formal; que so de modo
intermitente foram atendidas as suas mais enfaticas exigencias: tudo
isso ja se comprovou e se censurou suficientes vezes (Adorno, 1986, p.
167).
O paragrafo supracitado inaugura o texto de Adorno. Censura e
descredito marcam as impressoes da academia diante do ensaio,
considerado por outros criticos, segundo o autor, pouco rigoroso no que
tange a ciencia do universal, da origem e da sintese. Foi em
contraposicao aos positivistas do seculo XIX que Adorno elaborou boa
parte de suas ideias sobre o ensaio, discorrendo sobre sua repugnancia
aos ideais de 'pureza e limpeza', imputados aos estudos da
cultura:
Os ideais de pureza e limpeza, que sao comuns a uma filosofia
voltada para valores eternos, para uma ciencia organizada de cima ate
embaixo, sem lacunas, coerente e intangivel, bem como a arte intuitiva
despida de conceitos, tais ideais trazem os tracos de uma ordem
repressiva. Passa-se a exigir do espirito um certificado de competencia
administrativa, para que ele, ao ater-se as linhas limitrofes
culturalmente delineadas e sacramentadas, nao va alem da propria cultura
oficial (Adorno, 1986, p. 172).
Essa segregacao do saber, ordenada pela vertente positivista,
culminaria, segundo Adorno, no pensamento fascista, nessa ordem
repressiva por ele mencionada. Sua escolha em escrever por meio de
ensaios deve-se a uma ideia de revolucao que poderia estar em sua
propria forma antissistematica, que nao separaria a diversidade presente
na linguagem e, por isso, compreenderia um carater hibrido.
De acordo com Adorno, uma das caracteristicas do ensaio seria
exatamente a de que "[...] seus conceitos nao se constroem a partir
de algo primeiro nem se fecham em algo ultimo" (Adorno, 1986, p.
168). Ele enxergava o ensaio como forma capaz de permitir a presenca da
subjetividade do autor para expressar-se criticamente. A falta de
precisao nos aspectos esteticos marcaria o lugar hibrido desse genero,
levando-o a ocupar uma nova forma a partir de sua 'autonomia
estetica' (Adorno, 1986).
A espontaneidade presente no ensaio ressalta nao so uma presenca
autoral dotada de vitalidade, como tambem uma valorizacao do objeto em
discussao, quando se lhe esta provendo de uma luz particular, e nao
universal. Forma e conteudo tornam-se, portanto, indissociaveis nesse
genero, diferentemente do pensamento positivista criticado por Adorno,
cuja exposicao do objeto "[...] nao consegue ultrapassar, neste
como em todos os seus demais momentos, a mera separacao entre forma e
conteudo" (Adorno, 1986, p. 169). Adorno ressalta, porem, que
tambem existem os 'maus ensaios', ou seja, aqueles que se
enredam nas convencoes da industria cultural. Como exemplo, cita alguns
romances biograficos, muitas vezes encomendados segundo exigencias do
mercado editorial. A aproximacao desses dois generos--os romances
biograficos e os ensaios--tem, nao por acaso, um ponto que os confunde:
a exposicao de certa mirada subjetiva. Mas ao contrario dos 'bons
ensaios', Adorno destaca que os 'maus' estao congruentes
com a manutencao do status quo, pois trabalham com cliches, e nao
conceitos, falam "[...] de pessoas, ao inves de desvendar
coisas" (Adorno, 1986, p. 170). Para Adorno, o bom ensaio deve
tirar as ideias da reificacao, isto e, da ordem repressiva, da
organizacao cientifica pautada em conceitos de "[...] pureza e
limpeza" (Adorno, 1986, p. 172). Isto nao significa que ele
propunha um pensamento despretensioso, mas ao contrario. O ensaio e
justamente aquele que, por sua forma mesma, combate uma norma imposta.
Na critica de Adorno ao pensamento positivista, destacam-se os
demasiados rigor e a normatizacao. Sabe-se que ele acreditava que o
excesso de ordenacao teria culminado no pensamento fascista (1). Por
isso, a concepcao adorneana de ensaio apresenta um carater libertario
quando levamos em conta o seu desprezo a rigidez de estruturas textuais.
O ensaio elabora sua reflexao a partir de uma "[...] renuncia a
abrangencia" (Adorno, 1986, p. 176).
Esse argumento de Adorno tambem pode ser verificado em sua obra
Minima Moralia. Nesse livro, escrito nos anos 1940 e tendo como fundo a
Segunda Guerra Mundial, o autor expoe seus pontos de vista sobre
assuntos gerais e cotidianos, em nivel, sobretudo, da importancia da
experiencia como possibilidade de humanizacao. Seguindo aquele argumento
de Montaigne de que a linguagem deve estar proxima do homem comum, da
experiencia do individuo, Adorno acredita que a linguagem nao
espiritualizada, isto e, fora de um contexto mais humano, mais
subjetivo, anuncia a presenca da diccao fascista:
A palavra direta, que sem delongas, hesitacao e reflexao diz as
coisas na cara do interlocutor, ja possui a forma e o timbre do comando,
que, sob o fascismo, vai dos mudos aos calados (Adorno, 1993,
p. 35).
Hoje, podemos analisar a importancia da obra de Adorno como legado
para a academia e, em especial, para os estudos literarios: durante a
primeira metade do seculo passado, o ensaio mostra-se como uma
importante estrategia de tirar a linguagem criticotextual da reificacao,
a partir de seu carater fragmentario, como definiu Adorno, e de sua
antissistematizacao que, como forma, combate, atraves da propria
linguagem, a ideologia fascista que se alastrou por parte da Europa
nesse periodo.
Segundo Prado Coelho, a diccao ensaistica do ensaio do seculo XX
tende a diluir fronteiras, no que se refere ao genero textual, a
tematica e a forma. Essa tendencia observada em Adorno e passando, mais
tarde, para grandes nomes como Barthes e Derrida, "[...] conduz a
pulsao ensaistica a uma nova rejeicao de quaisquer limites"
(Coelho, 1997, p. 48). A diluicao de fronteiras na escrita ensaistica
marca, sobretudo, uma forma de resistir a heranca iluminista do
ensaio-exame, inaugurada com Descartes e reiterada pelos positivistas do
seculo XIX.
Nessa perspectiva, o ensaio recupera uma de suas importantes
caracteristicas, ja inscritas em sua etimologia. Se a palavra exagium da
origem a 'exame', ela tambem mantem um estreito vinculo com
'enxame', substantivo coletivo que denota multiplicidade. Essa
multiplicidade se estende a diversos campos do conhecimento, desde a
discussao sobre os generos ate uma critica mais radical acerca da
modernidade. Se a indeterminacao entre generos pode ser expressa no
texto ensaistico, temos, ai, um espaco textual fronteirico, propicio a
convergencia de conceitos, linguagens e da propria ruptura entre o mundo
medieval e o moderno, tal como ocorreu na passagem entre o ensaismo de
Montaigne para o de Descartes:
Podemos dizer que a concepcao humanista do ensaio, exemplificada
pela abordagem de um Silvio Lima, se inscreve numa perspectiva do
conhecimento humano em que o grande confronto se realiza entre as trevas
e a luz da Razao--uma perspectiva iluminista, por conseguinte. De um
lado, as supersticoes, os dogmas. De outro, por um exercicio da razao de
cada homem, a afirmacao da liberdade do pensamento como exame ponderado
de todas as ideias. De certo modo, a medida que as trevas se reduziam
ia-se implantando a visao cientifica do mundo--as coisas tal como elas
sao, segundo o modelo positivista (Coelho, 1997, p. 24)
Consideracoes finais
O ensaio inscreve-se, em sua genese, nessa passagem de um mundo
marcado pela religiosidade, o dogmatismo medieval e o alargamento das
fronteiras nao so religiosas como, tambem, territoriais e cientificas. O
genero ocupa, portanto, uma especie de nao lugar, seja como texto que se
inscreve, ao mesmo tempo, entre a ciencia e a arte, seja como espaco
conceitual conflituoso. Mediante tais consideracoes, entende-se que o
ensaio caracteriza-se como espaco nao canonico, em que ensaiar uma forma
de pensamento nao convencional, ou que esteja fora de um lugar central
das areas do saber, pode significar, tambem, produzir perspectivas
desajustadas.
Para Eduardo Lourenco, a fragmentacao, caracteristica do texto
ensaistico, pode ser traduzida com a metafora da ilha: "Em cada
ilha, em cada momento do meu discurso, esta sempre presente essa
totalidade impossivel" (Lourenco apud Catroga & Gil, 1996, p.
55). Essa afirmacao do critico portugues deve-se a sua crenca sobre a
impossibilidade de se conceber uma 'verdade' totalizante e
universal, visto que a experiencia e naturalmente fragmentaria.
Considerando o ensaio como texto em que os discursos e generos nao
se fixam nem se canonizam, mas transitam, suplementam-se e dialogam
entre eles, temos a nocao de Ensaio associada a um espaco fronteirico e
de convergencia de conceitos. A pratica ensaistica, como exercicio de
uma escrita instavel e sempre em processo, engendraria um tipo de
escrita favoravel a multiplicidade heterodoxa que, por admitir muitas
experimentacoes, culmina num estilhaco da experiencia, numa escrita
fragmentaria.
A nocao de 'heterodoxia' foi, nos anos de 1950, motivo de
reflexao na cultura portuguesa, sobretudo devido a publicacao do
primeiro livro de Eduardo Lourenco, em 1949, intitulado Heterodoxia.
Nessa obra, Lourenco discute a filosofia moderna, iniciada com
Descartes, e problematiza 'a ideia duma unidade do saber'
(Lourenco, 2005) a partir da proposicao do pensamento heterodoxo e de
sua critica a dialetica hegeliana. O autor teve grande influencia da
filosofia de Kierkegaard e da literatura de Fernando Pessoa, sendo,
inclusive, responsavel pela redescoberta do poeta em Portugal.
Na altura Pessoa comecava a figurar como um autor maldito e a minha
primeira intervencao cultural foi a de defender o poder subversivo dos
seus textos. Foi uma intervencao polemica, em resposta a um artigo que
apareceu entao, da autoria de Mario Dionisio, onde Pessoa era descrito
como representante tipico do decadentismo da burguesia ocidental. Mas so
a pouco e pouco e que o conhecimento mais profundo de Fernando Pessoa se
revelou como qualquer coisa que ia alem do poetico e da ordem estetica,
impondo-se como uma visao do mundo que punha em causa o discurso
dominante em todas as ordens. Pessoa foi, efectivamente, o desarrumador
definitivo, naquela epoca do discurso cultural portugues (Lourenco apud
Catroga & Gil, 1996, p. 52)
Assim como a poesia de Pessoa, a filosofia de Kierkegaard
representaria, para o jovem Lourenco, uma perspectiva heterodoxa, que se
expandiria para a multiplicidade, para o contrario da unidade. Dessa
forma, resgatar o filosofo dinamarques e redescobrir a obra de Pessoa
apontaria para o desejo de tambem rediscutir um sistema ocidental de
unicidade e reificacao. Ele adota como modelo, como afirmou em
entrevista a Catroga e Gil (1996), o ensaismo de Montaigne,
[...] que assume frontalmente a subjectividade com tudo o que ela
tem de positivo, fazendo do individuo o proprio centro do mundo, e ao
mesmo tempo pondo-se em causa (Lourenco apud Catroga & Gil, 1996, p.
53).
E definitivamente a subjetividade do espirito heterodoxo que elege
o texto ensaistico como escrita heterodoxa por excelencia e, nesse
sentido, lugar tambem da convergencia de saberes.
O livro O ensaismo tragico de Eduardo Lourenco, de Catroga e Gil
(1996), demonstra aspectos dos ensaios de Eduardo Lourenco que se
relacionam a nocao de heterodoxia, tais como a amplitude
interdisciplinar "[...] que se abre para inumeros campos,
filosofico, literario, artistico, politico, historico" (Catroga
& Gil, 1996, p. 7). A multiplicidade ensaistica, no que diz respeito
a abrangencia de varios campos do saber, compreenderia essa nocao de
heterodoxia, assim como uma 'metafisica da interrogacao',
"[...] um conceito de interrogacao permanente" (Lourenco apud
Catroga & Gil, 1996, p. 49).
Se a heterodoxia e, portanto, um exercicio de reflexao e
interrogacao constante, o conceito expande-se para o 'Saber',
com inicial maiuscula, como fonte de movimento humano, para frente, e
nao de forma circular, como Migdar, mito utilizado por Lourenco para
exemplificar o espirito ortodoxo, uma vez que a serpente buscaria
circularmente e infinitamente a propria cauda.
Dessa forma, o ensaio, ao partir da experiencia e da
multiplicidade, nao pode descrever com totalidade uma ou outra verdade,
conceito ou ideia. O proposito dele dilui-se em tentativas, desejos,
sempre ensaiados, nunca prontos:
A glosa interminavel desta decisao consciente da sua propria
inanidade, lugar da interpelacao pura, sem resposta a vista, manifesta
em letra de forma, e o que se costuma chamar, desde Montaigne,
'ensaio' (Lourenco, 2006, p. 13).
Assim como indica a afirmacao de Lourenco, o ensaio e o lugar
'da interpelacao pura, sem resposta a vista' e forma um
amplexo fertil para reflexao, cuja essencia esta na nao essencia, no nao
lugar, no espaco fronteirico entre razoes heterodoxas.
Doi: 10.4025/actascilangcult.v38i1.27774
Referencias
Adorno, T. (1993). Minima Moralia (2a ed.). (Luiz Eduardo Bicca).
Sao Paulo, SP: Atica.
Adorno, T. (1986). O ensaio como forma. In G. Cohn (Org.),
Sociologia (p. 167-189). Sao Paulo, SP: Atica.
Catroga, F., & Gil, J. (1996). O ensaismo tragico de Eduardo
Lourenco. Lisboa, PT: Relogio D'agua.
Coelho, E. P. (1997). Sobre o ensaio em geral. O calculo das
sombras. Lisboa, PT: Asa.
Descartes, R. (1996). Discurso do Metodo. (Maria Ermantina Galvao
G. Pereira, trad.). Sao Paulo, SP: Martins Fontes.
Lima, S. (1946). Ensaio sobre a essencia do ensaio. Sao Paulo, SP:
Saraiva.
Lourenco, E. (2005). Heterodoxia I. Lisboa, PT: Gradiva.
Lourenco, E. (2006). Heterodoxia 11. Lisboa, PT: Gradiva.
Lukacs, G. (1975). El alma y en las formas. Barcelona, ES:
Grigalbo.
Montaigne, M. (1972). Ensaios. (Sergio Milliet, trad.). Sao Paulo,
SP: Abril.
Received on May 10, 2015.
Accepted on November 30, 2015.
Josyane Malta Nascimento
Universidade do Estado do Amazonas, Av. Djalma Batista, 2470,
69050-010, Manaus, Amazonas, Brasil. E-mail: josyanemalta@gmail.com
(1) Em Dialetica do esclarecimento, Adorno e Horkheimer expoem os
processos de revisao do Iluminismo, cuja visao ordenada de vida geraria
uma nova forma de escravidao que culminaria no que foi a elaboracao dos
principios fascistas do seculo XX.