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文章基本信息

  • 标题:Gender studies in Brazilian journalism research: a fragile relationship/Estudos de genero na pesquisa em jornalismo no Brasil: uma tenue relacao.
  • 作者:Martinez, Monica ; Lago, Claudia ; Lago, Mara Coelho de Souza
  • 期刊名称:Revista Famecos - Midia, Cultura e Tecnologia
  • 印刷版ISSN:1415-0549
  • 出版年度:2016
  • 期号:May
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Editora da PUCRS
  • 关键词:Female-male relations;Gender studies;Journalism

Gender studies in Brazilian journalism research: a fragile relationship/Estudos de genero na pesquisa em jornalismo no Brasil: uma tenue relacao.


Martinez, Monica ; Lago, Claudia ; Lago, Mara Coelho de Souza 等


Introducao

A esfera publica, enquanto uma dimensao de discussao relacionada a formacao de opiniao publica e base dos dialogos e tensoes da sociedade civil, nos moldes dos sistemas democraticos (Habermas, 1984), passou por enormes transformacoes no seculo XX. Uma das grandes revolucoes ocorridas no Ocidente diz respeito as mulheres, que passaram a participar da sociedade de forma cada vez mais ativa, transcendendo a esfera privada que lhes era tradicionalmente reservada. A ampliacao da atuacao social pode ser notada na emergencia de liderancas comunitarias, nos mais diversos segmentos do mundo do trabalho, em todos os niveis de ensino--dos bancos escolares as catedras academicas-, incluindo, em menor escala, a representacao nos sistemas governamentais e politicos (Miguel e Biroli, 2011).

Esse incremento cobrou seu preco, uma vez que as mulheres que enfrentaram essa transicao podem nao ter sido tao treinadas e, seguramente, nao tiveram as mesmas oportunidades que seus irmaos, amigos e companheiros. Ainda assim, a reflexao sobre esta revolucao refletiu-se em uma profusao de cursos, foruns, mesas redondas em diferentes campos de saber e atividades destinadas as mulheres. Para citar apenas um exemplo, ha o Fazendo Genero, evento organizado desde a decada de 1990 por um grupo interdisciplinar de estudos de genero da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em sua 11a edicao, em 2017, o Fazendo Genero sediara a 13th Women's Worlds (WW) Conference, encontro internacional dessa area de estudos e militancia.

Estes espacos de debate abordam tanto questoes relacionais de genero e sexualidades, como tambem feministas, uma vez que contemplam a luta pela igualdade de direitos. E o caso da trajetoria das mulheres no mundo publico, das duplas ou triplas jornadas de trabalho, dos salarios desiguais para as mesmas funcoes, da divisao desequilibrada de responsabilidades domesticas e com os filhos no mundo privado, da tutelacao juridica das mulheres, do controle de suas sexualidades etc.

E dentro deste contexto que se colocam os estudos de genero, emblematicos para se falar da relacao entre a vida concreta e a teoria, entre cotidiano e conhecimento. Sao emblematicos para mostrar que as questoes conceituais nao precisam ser aridas, ja que surgem de reflexoes sobre as experiencias vivenciadas em e pelas sociedades.

O campo de estudos de genero, multi e interdisciplinar, gestado na relacao anterior entre academia e feminismo, ocupa um lugar fundamental em pesquisas vinculadas as humanidades. Alem disso, o que e materia deste artigo, entrelaca-se com estudos que pensam o papel constituinte da midia nas representacoes discursivas sobre feminino/masculino, sexualidades e genero, entre outras vertentes.

A pujanca do campo de estudos de genero e sua imbricacao com a midia, no entanto, nao se reflete nas pesquisas em jornalismo que, paradoxalmente, devotam boa parte de seus esforcos a analise dos processos narrativos e discursivos operados pelo jornalismo (Veiga, 2014), e outro tanto a analise dos processos produtivos, que envolvem redacoes cada vez mais femininas, alias, majoritariamente femininas (Micke e Lima, 2013).

A ausencia das reflexoes sobre os estudos de genero no campo jornalistico e o objeto deste trabalho, que iniciamos precisando alguns conceitos e perspectivas.

Dos estudos feministas aos estudos de genero

Os estudos feministas utilizam a metafora das ondas, com seus grandes fluxos e refluxos, para significar os movimentos de mulheres lutando por cidadania e igualdade de direitos em relacao aos homens.

A primeira onda dos movimentos feministas corresponde a luta de mulheres das sociedades ocidentais por direito a voto e educacao (finais do seculo XIX e inicio do seculo XX). Eram as chamadas feministas sufragistas, movimento que no Brasil teve como figura de destaque a cientista natural Bertha Lutz (1) (1894-1976).

A segunda onda feminista rebentou com forca em paises ocidentais com os movimentos de liberacao do final da decada de 1960. Podemos destacar diferentes momentos nessa segunda onda dos movimentos feministas.

Primeiro momento: questoes femininas e feminismos da igualdade

Os estudos feministas foram realizados principalmente por mulheres. Nas academias mulheres, engajadas ou nao em movimentos feministas, passaram a refletir sobre as questoes femininas, sobre os proprios movimentos e sobre as ciencias nas quais foram educadas e com as quais trabalhavam: Historia, Antropologia, Letras, Sociologia, Psicologia, Ciencias da Saude, Politicas, Juridicas, as Engenharias etc. Na medida em que refletiam sobre seus lugares na vida social, questionavam tambem os saberes que as excluiam ou, em alguns casos, inferiorizavam. Para isso, passaram a questionar as proprias teorias que explicavam o mundo social, suas organizacoes, seus sujeitos. Ao questiona-las, foi natural que desenvolvessem estudos e propusessem novos conceitos.

Algumas mulheres sao consideradas as pioneiras dessa segunda onda dos movimentos feministas, por produzirem estudos considerados paradigmaticos e ate hoje citados. Entre elas, podemos destacar Virginia Woolf, Margaret Mead e Simone de Beauvoir. No ensaio "Um teto todo seu", publicado em 1929, a escritora inglesa Virginia Woolf (1882-1941) reune palestras proferidas em duas escolas para mulheres da Universidade de Cambridge, com suas reflexoes sobre as condicoes sociais das mulheres da epoca e as possibilidades de se tornarem escritoras e poderem viver de sua escrita. Cria personagens ficticias e analisa obras de autoras conhecidas e de outras tantas esquecidas, para falar das dificuldades das mulheres se profissionalizarem como escritoras, partindo de seu acesso diferenciado a educacao formal.

Mead (1901-1978), antropologa estadunidense da corrente culturalista, estudou sociedades indigenas nos Estados Unidos e na Nova Guine, Melanesia, produzindo livros que foram sucessos no seu proprio pais e em varios paises do Ocidente. Mead questionava a naturalizacao dos papeis femininos nas culturas ocidentais modernas, que permitiam aos teoricos falarem na Mulher como um conceito universal. Em seu livro Sexo e Temperamento (Mead, 1988), cuja primeira edicao foi publicada nos Estados Unidos em 1936, relatou seus estudos etnograficos realizados entre tres povos indigenas da Nova Guine (2).

Este livro de Mead teve muita importancia porque introduziu a concepcao de que os papeis sexuais, a exemplo dos papeis sociais, sao socialmente atribuidos, e nao determinados pela biologia. De acordo com esta visao teorica, nao se pode mais falar em A mulher com uma essencia universal que a diferencia d'0 Homem, tambem essencializado, universal. Nao se pode mais atribuir diferencas de personalidades e de comportamentos as diferencas biologicas entre homens e mulheres.

Ocorre o mesmo com o livro da filosofa existencialista francesa Simone de Beauvoir (1908-1986), 0 Segundo Sexo, publicado em 1949, em que ela enfatiza a atribuicao social de uma posicao secundaria para as mulheres na historia das sociedades ocidentais. E desta autora, nessa obra, a famosa frase: "Nao se nasce mulher. Faz-se mulher".

Como se pode perceber, as autoras ressaltam a construcao historica, cultural, de homens e mulheres nas diferentes sociedades humanas. Contudo, seus trabalhos, ainda que representassem grande avanco, nao foram suficientes para fugir de uma certa tendencia a naturalizacao de papeis femininos e masculinos, ligando os homens a cultura, ao mundo publico, e as mulheres ao mundo domestico, privado, e a natureza, em funcao de suas atribuicoes na reproducao biologica.

A reboque dos movimentos feministas desenvolveram-se expressivamente nos paises ocidentais, a partir dos anos 60 do seculo passado, os estudos sobre mulheres. Num primeiro momento, estudos sobre a condicao feminina, brigando pela igualdade entre os sexos, pela nao discriminacao das mulheres, pelo seu direito a participacao no mundo publico, por oportunidades iguais de educacao, de trabalho, de participacao politica, em cargos de chefia nas empresas, nos servicos publicos. Uma luta que, como revela a pratica, ainda esta em curso. Como exemplo brasileiro podem ser citados os trabalhos da sociologa paulista Saffioti (1934-2010), autora de Mulher na sociedade de classes: mito e realidade, um dos primeiros estudos marxistas produzido por academica feminista sobre condicao feminina e trabalho no pais (Saffioti, 1994).

Nessa fase, desenvolveram-se tambem estudos sobre a condicao da mulher na familia e sobre a divisao sexual do trabalho, utilizando concepcoes teoricas das ciencias sociais referentes ao patriarcado e a luta de classes. A questao da divisao sexual do trabalho tem sido fundamental para a discussao das diferencas entre homens e mulheres e para o debate sobre a persistencia de desigualdades ate hoje, tanto no mundo privado, no trabalho domestico, quanto no mundo publico, no desempenho das profissoes que ate hoje, em alguma medida, tendem a ser sexualizadas como femininas--caso das dos cuidados-care-, e masculinas--as tecnicas e gerenciais.

Segundo momento: feminismos das diferencas

Num segundo momento, caracterizou-se o que foi chamado feminismo das diferencas: as mulheres seriam diferentes dos homens, e essas diferencas deveriam ser afirmadas, mas nao poderiam servir para justificar as discriminacoes contra a mulher no ambito privado (na familia) ou publico (na escola, no trabalho, etc.).

Muitos desses estudos nao escaparam da persistente tendencia a naturalizacao, essencializando papeis femininos e masculinos, agora num discurso que poderia ser caracterizado como o reverso da moeda: mulheres diferentes e superiores aos homens. Exemplos destes vieses podem ser observados em algumas correntes do que chamamos de Eco feminismo. As mulheres, por darem a luz, saberiam cuidar da vida e, portanto, seriam as pessoas melhor indicadas para cuidar da natureza, sem poluir o ambiente.

Em paralelo a estes desdobramentos, tanto o conceito de papeis sexuais quanto as teorias classicas das ciencias humanas sociais nao estavam conseguindo dar conta das intrincadas questoes das diferencas entre homens e mulheres, nas sociedades em geral e na atualidade. E nesse momento de inflexao que comeca a ser adotado o conceito de genero.

Em artigo em que analisa a emergencia dos estudos feministas na Franca e nos Estados Unidos e reflete sobre a constituicao do campo de estudos de genero no Brasil, a sociologa Machado (1992) especifica que a relacao entre a academia e o feminismo acentua-se na segunda metade da decada de 1970, impulsionada pelas reivindicacoes feministas de igualdade, institucionalizando um olhar critico que, na decada de 1980 incrementara a producao de trabalhos sobre a mulher nas universidades e centros de pesquisa.

No Brasil os estudos feministas se institucionalizaram de forma diferente do que aconteceu nos Estados Unidos e na Europa. Nos EUA, por exemplo, os chamados women's studies surgem no final da decada de 1960 a partir dos movimentos de protestos nas universidades, impulsionados por movimentos feministas de enfrentamento radical. Ja no Brasil, submetido a regime ditatorial desde 1964, o feminismo, de orientacao mais moderada e alinhada ao discurso da esquerda, que tinha como causa o fim da ditadura militar, contou com academicas que voltaram seus esforcos majoritariamente para a pesquisa social, buscando articular-se com e dentro da propria academia (Heilborne e Sorj, 1999).

Foi este o momento do desenvolvimento de uma imprensa feminista no pais com a publicacao de importantes periodicos: os jornais Mulherio, Brasil Mulher, Nos Mulheres (3).

Terceiro momento: genero como categoria de analise

Na decada de 1980, um terceiro momento: concomitante a um refluxo na militancia feminista a academia comeca a reordenar seu olhar, ao assumir como paradigma a nocao de genero que, como exemplifica Machado, "aponta para o carater implicitamente relacional do feminino e do masculino. Indica a exigencia de um posicionamento teorico; nao basta a escolha do objeto empirico mulher. Os estudos nao precisam, nem induzem a congregar exclusivamente mulheres estudando mulheres" (Machado, 1992, p. 9). (4)

Com a adocao da categoria genero, que enfatiza a construcao relacional de masculinidades e feminilidades, o campo se consolida como interdisciplinar, desenvolvendo-se transversalmente e de forma heterogenea em varias areas do conhecimento, como Antropologia, Sociologia, Historia, Educacao, Psicologia, Literatura e Critica Literaria, alem das Ciencias da Saude. Como exemplo da consolidacao e abrangencia do campo de estudos de genero, alem dos grupos de pesquisa que se reunem anualmente nos principais congressos destas ciencias, destacam-se publicacoes tradicionais especificas, como a Revista Estudos Feministas e a Cadernos Pagu, entre inumeras outras. De forma abrangente, o campo de estudos de genero se debruca sobre inumeros temas, entre eles a questao do trabalho e tambem a relacao com a midia.

Com a utilizacao do conceito de genero, emprestado das ciencias da linguagem, as teoricas conseguiram enfatizar a nocao de construcao cultural de papeis femininos e masculinos nas diferentes sociedades, ressaltando o aspecto relacional da construcao historica de masculinidades e feminilidades. Assim como as classes sociais definidas por Karl Marx (1818-1883) so se constroem na relacao de contradicao entre elas, feminilidades so se constroem em relacao a masculinidades. Homens e mulheres se constituem, assim, em relacoes que os diferenciam e que, se sao contrastivas, nao precisam ser necessariamente de conflitos, lutas ou desigualdades.

Genero, como categoria de analise, foi conceituado num texto ja classico da historiadora estadunidense Joan Scott como " (...) um elemento constitutivo de relacoes sociais fundadas sobre as diferencas percebidas entre os sexos" (Scott,1995, p.14). Na continuidade, ela afirmou que "o genero e um primeiro modo de dar significado as relacoes de poder" (Scott, 1995, p. 14).

A adesao aos estudos de genero estabeleceu diferentes perspectivas, em primeiro lugar enfatizando a inexistencia de uma identidade feminina que de conta de uma mulher universal (branca, burguesa). Assim como nao existe um homem universal, existem mulheres singulares, de diferentes geracoes, nacionalidades, classes sociais, etnias. Machado, em trabalho mais recente, identifica: "Hoje o campo academico dos estudos de genero e sexualidade tornou mais complexa a nocao de genero. Por que? Porque sobre o genero agora se tem uma grande certeza: nao ha consenso nenhum, nem essencia nenhuma sobre o que e masculino e o que e feminino" (2014, p. 21).

Em segundo lugar os estudos de genero apontam para o fato das diferencas de genero serem perpassadas por outras diferencas, de raca/ etnia, de classe, de idade etc. Infinidades de diferencas por meio das quais subjetividades sao construidas. Diversidades ideologicas, religiosas, politicas e outras, que fazem com que os sujeitos vivenciem de formas singulares suas profissoes, credos, movimentos sociais, escolhas politicas, orientacoes sexuais, casamentos, maternidades, paternidades, relacoes familiares.

Por fim, estes estudos apontam que as relacoes de genero nao se dao apenas entre homens e mulheres, mas entre homens e homens, entre mulheres e mulheres, entre adultos e criancas e idosos, pois todos somos desde sempre seres gendrados, generificados, perpassados pela construcao de identidades de genero.

A utilizacao da categoria genero abriu possibilidades conceituais para os estudos de masculinidades, bem com ampliou os espacos academicos dos estudos de sexualidades, objeto comum das militancias academicas e de movimentos feministas, gays e lesbicos.

No campo epistemologico os estudos, que se iniciaram com as discussoes sobre o patriarcado em perspectivas marcadas pela teoria marxista e o confronto com as concepcoes psicanaliticas de subjetividade (Scott, 1995), foram se desenvolvendo pelo uso das teorias pos estruturalistas e desconstrucionistas, desdobrando-se atualmente nos chamados estudos queer.

Se as teorias da desconstrucao e pos-estruturalistas se ocuparam emquestionar o sujeito racional moderno e os binarismos que marcaram o pensamentoocidental, essencializando diferencas constituidoras de desigualdades, asteorias queer implodem de vez com as concepcoes identitarias de masculinidades efeminilidades, questionando a construcao da heterossexualidade como norma socialcompulsoria (Butler, 2003; Wittig, 2006).

Dimensoes dos estudos de genero no campo do jornalismo

As pesquisas em jornalismo convivem desde o principio com iniciativas pioneiras de pesquisas sobre mulheres. Destaca-se o trabalho da pesquisadora paulista Buitoni (1981), com Mulheres de papel, relancado pela Summus em 2009. Como o proprio subtitulo deixa claro, a intencao da autora foi a de fazer um primeiro estudo sobre a representacao da mulher na imprensa feminina brasileira. Contudo, o fato e que a obra se tornou um classico da area. Ao abordar a imprensa feminina no pais a obra toca em questoes mais abrangentes, como o papel social da mulher e sua participacao politica crescente nas ultimas decadas.

Desde o principio, contudo, estas iniciativas de estudos em jornalismo sao esparsas e, diferentemente de outras areas, parecem nao acompanhar a tendencia dos estudos de Genero que impregnam campos disciplinares proximos. Para se ter uma ideia, se observarmos a producao de artigos para a Revista de Estudos Feministas, importante periodico voltado para o campo dos estudos de genero no Brasil, veremos que estudos provenientes da area de Comunicacao aparecem em um numero muito menor em relacao a outras disciplinas, como Sociologia, Historia e Antropologia (Lago; Uziel, 2014). O grafico abaixo, atualizado, da a dimensao dessa diferenca:
Grafico 1: Estudos de genero por campos disciplinares de autoras/es
(2003-15)

REF: Grafico por campos disciplinares de autoras/es (2003-2015)

Sociologia/Ciencia Politica/Ciencias Sociais/Sociologia Politica (251)
Historia (161)
Antropologia/Etnologia (155)
Psicologia/Psicanalise (142)
Letras/Linguistica/Literatura/Filologia (139)
Educacao/Educacao Fisica (68)
Filosofia/Teologia (39)
Comunicacao/ Cinema/Artes Visuais (22)
Interdisciplinar (18)
Economia (17)
Estudos Culturais (13)
Direito (13)
Servico Social (12)
Saude Publica (8)
Ciencias Biologicas (6)
Medicina (6)
Geografia/Geologia (5)
Enfermagem (5)

Fonte: Banco de Dados Revista Estudos Feministas, criado por Rita
Maria X. Machado.

Note: Table made from pie chart.


O grafico acima coloca em primeiro lugar no ranking as areas das Ciencias Sociais--Sociologia e Politica--e mostra tambem uma expressiva producao na area que agrupa Letras, Literatura, Linguistica e Filologia. No entanto, apesar da area de Comunicacao, Cinema e Artes Visuais estar a frente de outras, a soma dos textos produzidos por autoras/es dessa area nao chega a 10% do campo. Alem disso, o numero tambem e muito incipiente se levarmos em conta a proeminencia da Midia na construcao das representacoes de genero e sexualidades, aspectos fundamentais no campo de estudos de genero. Mais ainda, os estudos que tomam a Midia como objeto, pensando a construcao das representacoes de genero em veiculos jornalisticos, por exemplo, ocorrem a partir de espacos nao dedicados especificamente a pesquisa em Comunicacao ou em Jornalismo.

Em pesquisa exploratoria realizada em 2014 junto a base de dados da Associacao Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), o principal forum de debate sobre jornalismo no pais, notou-se a presenca incipiente de trabalhos voltados para as questoes do feminino que, quando aparecem, nao dialogam consistentemente com as pesquisas realizadas dentro do campo de estudos de genero. A reduzida presenca da perspectiva de genero nas pesquisas em jornalismo contrasta com a solidez e importancia desse campo de estudos e motivou a pesquisa documental que deu origem a este artigo.

Procedimentos metodologicos

A primeira acao desta pesquisa foi rastrear o campo para definir o corpus de analise. Ao se buscar a palavra"genero"na categoria palavras-chave no acervo de mais de 1.500 trabalhos apresentados nos Encontros da Associacao Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo, por meio do menu Sala de Pesquisa de seu site (www.sbpjor.org.br), 46 trabalhos foram identificados. Em seguida, foi feita triagem para se excluir os estudos sobre genero como categoria jornalistica (5), o que limitou o corpus a sete trabalhos. Este total foi ainda reduzido para cinco trabalhos ao se optar por trabalhar com o periodo dos ultimos cinco anos de producao. O corpus aqui selecionado reflete a producao no periodo de 2010 a 2014.

Em seguida foi feita uma leitura flutuante dos artigos selecionados (Bardin, 2011, p. 126). Nesta fase, buscou-se identificar as unidades de registro. Esta medida permitiu estabelecer os dois eixos principais de analise: 1) os referenciais teoricos utilizados; 2) identificar o perfil da/o pesquisador/a. Foi feita a seguir a preparacao do material, que consistiu no download dos artigos selecionados, que foram identificados pela data e nome do autor, sendo catalogados em uma tabela de trabalho, indexada por ano de apresentacao, nome do autor, titulacao, titulo do artigo, referencial teorico citado sobre relacoes de genero e minibio sobre o autor da obra citada. A partir desse levantamento de dados foi feita uma segunda leitura, agora com marcacoes, a partir da qual foram feitas as inferencias (Bardin, 2011, p. 44).

A historia das radiojornalistas esportivas gauchas (2010)

O primeiro trabalho que faz parte dessa selecao foi apresentado em 2010 por uma graduada em jornalismo, Bruna Atti Provenzano (Provenzano, 2010), que descreve a atuacao de mulheres no radiojornalismo esportivo do Rio Grande do Sul com um vies historico, refletindo especificamente sobre o programa dominical Forum Feminino Debates, levado ao ar pela radio gaucha ABC, da manha do dia 24 de maio de 1998 ate meados de 2001 (o artigo nao especifica com precisao a data de encerramento).

Do ponto de vista teorico sobre relacoes de genero, a autora apoia-se em cinco autores/as, sendo que dois nao aparecem nas referencias, tendo sido, portanto, descartados para efeito desta analise. Todos/as servem para endossar a preocupacao da autora em refletir sobre a insercao feminina no mercado de trabalho a partir de uma perspectiva historica. Um dos tres autores referidos e teorico em jornalismo (Melo, 2003) e dele a autora toma emprestada a nocao de que "a entrada das mulheres no jornalismo se deu principalmente pela universidade, isto porque, quando da regulamentacao da profissao, os profissionais que ja atuavam na area garantiram o direito de permanecer na profissao" (Melo citado por Provenzano, 2010, p. 7).

As duas outras referencias da autora do trabalho apresentado no 8 Encontro da SBPJor sao de autoras dedicadas a reflexao sobre a interface dos estudos de genero oriundas do campo da historia e dialogam com esta area. A primeira e o estudo de Alzira Alves de Abreu (6), que objetiva precisar o momento da entrada da brasileira no mercado de trabalho jornalistico. "A partir da decada de 70 e que a imprensa comecou a abrir espacos para as mulheres jornalistas. A partir da regulamentacao da profissao em 1969, surgiram no Brasil diversas faculdades voltadas para a formacao de jornalistas." (Abreu citado por Provenzano, 2010, p. 7). Provenzano ressalta que "(...) a entrada de um grande numero de mulheres nas redacoes a partir da decada de 1970 nao foi um fenomeno especifico do meio jornalistico, mas acompanhou uma tendencia geral observada em todo pais" (Provenzano, 2010, p. 7). Trata-se, portanto, de uma referencia teorica que se insere no contexto de um primeiro momento dos estudos de genero, pois reflete sobre a luta pela insercao no espaco social. Ja de Maria Izilda S. de Matos (7) (Matos, 2002), a autora retira um trecho que aborda a questao das relacoes de genero, sendo representativo do terceiro momento no contexto da evolucao historica dos estudos do campo. (8)

Mulheres politicas nos noticiarios (2011)

O segundo trabalho foi apresentado em 2011 por Carolina Silva de Assis e Raquel Paiva Soares (Assis e Soares, 2011) (9). Trata-se de um trabalho enxuto do ponto de vista de referencias teoricas, sendo que tres das quatro sao relativas a questao de genero, uma delas da coautora Paiva, orientadora do trabalho.

Neste artigo teorico a argumentacao e inicialmente sustentada pelas ideias de Bordieu (1930-2002), A Dominacao Masculina (Bourdieu, 2002), lancado originariamente como La domination masculine, em 1998. (10)

Em seguida, o artigo e delineado a partir da obra Caleidoscopio convexo, de Luis Felipe (Miguel e Biroli, 2011), lancada em 2011 pelos dois pesquisadores com graduacao em Jornalismo (11).

Tendo este livro como fio condutor, as autoras discorrem sobre a interface da questao de relacoes de genero e a:

a) nocao jornalistica de imparcialidade: "A imparcialidade, assim, nao significaria "nao tomar partido", mas uma tomada de partido "universal" (Miguel e Biroli citado por Assis e Soares, 2011, p. 4);

b) limitacao do feminino ao espaco privado: "De acordo com as hierarquias e estereotipos de genero, a esfera publica--a arena politica e profissional--pertence aos homens. (Miguel e Biroli citado por Assis e Soares, 2011, p. 6);

c) cobertura midiatica que endossa o estereotipo em relacao a atuacao publica: "As mulheres esta reservada a esfera privada--o ambiente domestico e familiar. Assim, a presenca feminina na politica esta marcada por este deslocamento e estranhamento" (Assis e Soares, 2011, p. 6). (12)

d) percepcao de campos em que a acao politica feminina seria aceitavel: "(...) as questoes sociais, especialmente aquelas ligadas a familia, a infancia e a adolescencia; direitos humanos e meio ambiente. Aos homens, caberiam as areas economica, internacional e a "politica de verdade", ou o engendramento de acordos e aliancas entre os atores e os partidos. (Miguel e Biroli citado por Assis e Soares, 2011, p. 7).

e) representacao feita pela midia das mulheres politicas: onde "referencias a estado civil, vida familiar e relacoes afetivas, bem como aparencia fisica e vestuario, sao largamente observadas nas representacoes de mulheres politicas, mas praticamente nao aparecem nas abordagens sobre homens politicos." (Miguel e Biroli citado por Assis e Soares, 2011, p. 9).

O artigo, portanto, tece a dinamica politica de um feminino em relacao ao masculino, seus limites e ate a percepcao de que algumas mulheres percebem esse espaco ja atualizado socialmente (caso do meio ambiente) como forma de angariar capital politico e midiatico, uma vez que acoes sociais e ligadas a esferas ja aceitas sao cobertas favoravelmente pela midia. Bem como as caracteristicas de feminilidade, corporalidade e vida privada (Biroli, 2010).

Genero: um ingrediente distintivo nas rotinas produtivas do jornalismo (2011)

E tambem de 2011 o terceiro trabalho apresentado sobre a questao de genero, resultado da dissertacao intitulada "Masculino, o genero do jornalismo: um estudo sobre os modos de producao das noticias, de Marcia Veiga, que foi orientada pela profa. Dra. Virginia Fonseca (Veiga, 2011)--e que se tornaria o livro homonimo lancado pela Insular em 2014 (Veiga, 2014).

Partindo da premissa de que os "jornalistas aparecem claramente como sujeitos constituidos por genero" (Veiga, 2011, p. 2), a pesquisadora tem como foco de interesse a heteronormatividade, que se revelara em pesquisas futuras. Contudo, aqui, constroi seu argumento a partir de teoricos dos estudos de genero como:

a) a historiadora brasileira Louro (1997) (13), por meio da qual Veiga afirma que o "genero faz parte do sujeito, constituindo-o [o sujeito possui genero e e diferenciado, reconhecido e valorado a partir dele]", e que "as diferentes instituicoes e praticas sociais sao constituidas pelos generos e sao, tambem, constituintes [e produtoras] dos generos" (Louro citado por Veiga, 2011, p. 3).

b) a historiadora estadunidense Scott (1995), por meio da qual Veiga conceitua genero como "um elemento constitutivo de relacoes sociais fundadas sobre as diferencas percebidas entre os sexos, e o genero e um primeiro modo de dar significado as relacoes de poder" (Scott citado por Veiga, 2011, p. 4).

b) a antropologa estadunidense Rosaldo (1944-1981), da Universidade de Stanford (Rosaldo, 1995), que completa essa nocao ao dizer que: "o conceito e utilizado "com referencia nao a limitacoes biologicas, mas sim [focalizando as] formas locais e especificas de relacoes sociais e particularmente desigualdade social." (Rosaldo citado por Veiga, 2011, p. 4).

c) a filosofa estadunidense Butler (2003), de quem usa a nocao de heteronormatividade, isto e, "'certezas' cotidianamente reafirmadas como inatas e que servem de sustentacao para moldar as relacoes sociais." (Veiga, 2011, p. 3).

d) a antropologa cultural estadunidense Rubin (1993), de quem Veiga endossa a nocao de piramide de poder, cujo topo seria "formado pelo masculino hegemonico, e a base por atributos que remetem ao que se coloca no polo oposto--o feminino (Rubin citado por Veiga, 2011, p. 3).

Podemos notar, assim, um dialogo com o pensamento anglofono contemporaneo sobre a questao, que diferencia esse trabalho em relacao aos quatro demais no quesito relacoes de genero. Ainda assim, nota-se pouco dialogo com os pensadores brasileiros sobre a questao, seja no proprio campo ou em outras areas do conhecimento.

Mulheres, politica e familia (2013)

Em 2013 houve um trabalho apresentado sobre a tematica pelos pesquisadores Jennyffer Pereira de Mesquita, mestre em Comunicacao graduada em Comunicacao Social com habilitacao em Jornalismo, e Paulo Fernando de Carvalho Lopes, professor do Programa de Mestrado em Comunicacao, da Universidade Federal do Piaui (UFPI) (Mesquita e Lopes, 2013).

O trabalho se constitui num estudo de caso de como o sistema patriarcal e oligarquico ainda e ativo na regiao Nordeste do Brasil. Exemplo sao os proprios sujeitos da pesquisa: "Das oito mulheres que ascenderam a cargos politicos eletivos no ano de 2011 e que fazem parte do objeto de estudo desta pesquisa, tres sao exemplos de ex-primeiras-damas que se elegeram tendo como base politica o prestigio de seus maridos e o trabalho desenvolvido no servico social do municipio ou estado. (Mesquita e Lopes, 2013, p. 4).

O trecho escolhido para abrir o trabalho, extraido do livro das sociologas brasileiras Fanny Tabak e Moema Toscano (Tabak e Toscano, 1982), da o tom da pesquisa e e representativo de um primeiro momento da questao das relacoes de genero: "Sua fala, uma fala para dentro; dentro de casa, no interior da familia, no maximo numa pequena sala de aula. Tornar-se um ser publico, e algo que atemoriza a mulher, condicionada a calar-se ou cochichar" (Tabak e Toscano citado por Mesquita e Lopes, 2013, p. 2). Igualmente o trecho que se segue: "Dai a diferenca profunda que existe entre as expressoes homem publico e mulher publica; o primeiro e o cidadao de grandes virtudes que se ocupa dos interesses gerais da comunidade; a segunda, uma pessoa degradada, posta a servico da sexualidade de todos." (Tabak e Toscano citado por Mesquita; Lopes, 2013, p. 2).

Ha, na argumentacao, a constatacao da dominacao masculina, uma vez que "a heranca politica passa de pai para filho" (Mesquita e Lopes, 2013, p. 3). "Para as mulheres sairem do espaco privado, socialmente construido como proprio para si, e adentrar no campo politico, foi de grande importancia o apoio de pares politicos, em especial de membros da familia que ja tinham experiencia politica como pais, maridos e irmaos." (Mesquita e Lopes, 2013, p. 2).

Isso se configura em uma das conclusoes da pesquisa, ressaltada em duas constatacoes: a primeira: "Quanto as mulheres piauienses que chegaram ao poder, ha duas particularidades: ou elas sao herdeiras de patrimonios eleitorais por pertencerem a um cla familiar que detem influencia politica" (Mesquita e Lopes, 2013, p. 3). A segunda: "(...) ou ainda, embora em menor numero, ganham notoriedade e conseguem eleger-se a cargos politicos por meio de trabalho desenvolvido junto a movimentos sociais." (Mesquita e Lopes, 2013, p. 3).

Mulheres no comando de redacoes: questoes sobre a influencia das mulheres jornalistas no processo de selecao de noticias (2014)

No encontro de 2014 houve novo trabalho apresentado, desta feita pela docente da Universidade de Brasilia (UnB), Thai's de Mendonca Jorge, coautora com Alzimar Rodrigues Ramalho e Lais Di Giorno Ribeiro (Jorge e outros, 2014)14. O trabalho contribui pelo rigor metodologico e pelos resultados, sendo que os aportes teoricos sao usados em alguma medida para introduzir esse caminho de pesquisa. No quesito teorico, as/os autores/as de estudos de genero, como a filosofa francesa Simone de Beauvoir (1908-1986) e Bourdieu, nao sao referenciados pelas obras originais, mas por meio de citacoes de trabalhos como o da docente Paula Melani Rocha, do Programa de Pos-Graduacao em Jornalismo e da graduacao em Jornalismo da Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG).

Do ponto de vista teorico, esse trabalho poderia ser situado no primeiro momento dos estudos de genero, de questionamento da submissao da mulher, no sentido que reflete a condicao presente do status da jornalista como profissional no Brasil:

Cargos de chefia sao mais comuns entre jornalistas do sexo masculino nos orgaos de comunicacao. Segundo a pesquisa "Quem e o jornalista brasileiro? Perfil da profissao no pais"--enquete em rede com 2.731 jornalistas, divulgada em 2013 pela Federacao Nacional dos Jornalistas (FENAJ) -, as mulheres jornalistas recebem remuneracao inferior a dos homens. Os dados mostram ainda que as mulheres representam a maioria no jornalismo: 64% do universo dos profissionais, contra 36% dos homens. No entanto, elas sao maioria em todas as faixas ate cinco salarios minimos e minoria em todas as faixas superior a cinco salarios minimos (Jorge e outros, 2014, p. 6-7).

Destaca-se um dos achados, apontado nas consideracoes finais do artigo:

Os resultados sugerem que o trabalho jornalistico realizado por mulheres em cargos de chefia pode influenciar, mesmo que de maneira sutil, os criterios de selecao das noticias e o foco dado as materias. Entretanto, e uma situacao inconsciente e pontual, dependendo da ocasiao, da pauta e dos demais elementos envolvidos, como pressoes editoriais, industriais e ate comerciais (Jorge e outros, 2014, p. 14).

Trata-se, justamente, da questao de genero em relacao a profissao de jornalista quando exercida por mulheres. Ao longo das 12 entrevistas feitas para a pesquisa, contradicao parece ser a palavra-chave na tentativa de compreensao do fenomeno (Jorge e outros, 2014, p. 14), em particular no que se refere aos depoimentos das tres jornalistas que ocupam cargo de chefia e que, portanto, tem de fato poder de decisao nas maos em relacao a selecao e difusao de conteudo noticioso.

Discussao da analise

A Tabela 1 permite observar uma certa paridade entre o primeiro e o terceiro momentos da pesquisa em Estudos de Genero e sua ressonancia teorica na tentativa de compreensao do impacto do fenomeno nas pesquisas midiaticas, em particular no ambito dos estudos em Jornalismo. Nota-se, contudo, a ausencia do segundo momento, no qual a mulher teria, em alguma medida, dominancia em relacao ao universo masculino devido a sua condicao biologica de dar a luz, expertise que a proveria com uma certa vantagem nos assuntos que envolvessem o cuidado a vida e a natureza, por exemplo.

Em comum, nos cinco trabalhos analisados, pode-se observar algumas tendencias peculiares do modus operandi dos pesquisadores de Jornalismo no Brasil, que, alias, estao em consonancia aos da area de Comunicacao como um todo:

1. Dialogo com outras areas do conhecimento tende a ocorrer com autores ja consagrados em jornalismo. Como exemplo, temos o caso do sociologo frances Bourdieu, por meio de sua obra A Dominacao Masculina (2002) (15). Destaca-se que o livro causou impacto ao ser lancado pela premissa de que seria a visao de um representante do sexo masculino e, ainda mais, do pensamento eurocentrico, que estaria se apropriando do conceito de genero para reforcar sua legitimidade e autoridade na sua area.

2. Enfase aos aportes teoricos estrangeiros em detrimento dos nacionais. Ao empregar teoricos dos estudos de genero de outras areas do conhecimento (notadamente Antropologia e Historia), ha a tendencia dos pesquisadores em Jornalismo a citar especialistas internacionais, majoritamente da comunidade anglofona, cujos livros e/ou artigos tenham sido traduzidos para o portugues. Ha raras citacoes de obras na lingua original. Ja as poucas citacoes de pesquisadores nacionais desse tema, quando feitas, privilegiam referencias de livros e nao de artigos cientificos (Martinez e Pessoni, 2015).

3. Uso dos autores consagrados para endossar a visao do pesquisador. Sejam nacionais ou estrangeiros, nota-se uma tradicao de se citar autores que sejam afins com o pensar do pesquisador (Martinez, 2013). O relato de uma pesquisa, nesse sentido, e visto como um dialogo no qual os autores citados servem como vozes que ajudam o pesquisador a amplificar seu ideario e a compor seu texto de uma maneira aparentemente plural, mas sem apresentar tensoes e dissonancias.

4. Simulacro de dialogo. Como consequencia, haveria em algumas pesquisas uma tendencia a um dialogo de superficie, onde o pesquisador aparentemente avanca em direcao a interfaces com outras areas do conhecimento. Contudo, a propria brevidade fisica do espaco de um artigo leva a estranheza e a falta de apresentacao de conceitos e nocoes de forma mais consistente, o que verdadeiramente criaria a interface de forma transdisciplinar em toda sua profundidade.

Consideracoes finais

A premissa desta pesquisa foi a de investigar como a categoria genero esta sendo apropriada/articulada no contexto dos estudos em jornalismo. Para se atingir tal objetivo, foi feito o levantamento no Banco de Dados da Associacao Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), entidade que congrega os estudiosos desde sua fundacao em 2003. Apos um estudo exploratorio, optou-se pelo recorte diacronico recente, no periodo de 2010 a 2014. Ao final do processo de triagem, cinco trabalhos foram analisados na perspectiva da analise de conteudo (Bardin, 2011). Optou-se pelo metodo por ser um dos mais utilizados no campo do Jornalismo (Martinez e Pessoni, 2015).

Do ponto de vista de resultados, portanto, uma primeira conclusao dessa pesquisa e o da pequena quantidade de trabalhos apresentados nos encontros da SBPJor, que fazem a interface entre jornalismo e estudos de genero, o que sugere um grande potencial de crescimento nesse segmento.

Tambem podemos destacar que os artigos apresentados nos congressos da SBPJor foram da autoria de mulheres, assim como teoricas mulheres tambem se destacam nas referencias dessas autoras. Dos cinco trabalhos analisados, so o quarto e o quinto contaram com coautoria masculina. Com relacao as referencias bibliograficas, so o segundo (Bourdieu e Miguel) e o quinto (Bourdieu) citam autores homens, sempre citando tambem mulheres.

Nao deixa de ser surpreendente que dentre esses cinco artigos, apenas um de fato se detenha em aprofundar concepcoes do campo de estudos de generos, ainda que este trabalho em particular empregue majoritariamente pensadores estrangeiros para faze-lo. Com isso se passa ao largo de algumas discussoes que os estudos de outras areas do conhecimento ja consolidaram no Brasil.

Por outro lado, um outro achado a ser destacado e a dicotomia que ocorre nestas pesquisas, no sentido de, como numa balanca, penderem quase proporcionalmente, de um lado, a um primeiro momento dos estudos de genero (tres estudos de cinco ou 3:5), nos quais a visao preponderante e a da opressao feminina frente a um masculino dominador, com o qual se deve lutar para conquistar um lugar ao sol. Do outro lado (2:5), a balanca aponta estudos ligados ao terceiro momento, no qual o feminino so pode ser compreendido em relacao, nao apenas com o masculino, mas interseccionado a uma ampla gama de diferencas: de genero, classe, etnias, faixas etarias etc. Estariamos aqui, por exemplo, no ambito do pensamento mais inclusivo e complexo (Morin, 2007).

Nota-se tambem o predominio de artigos teoricos em detrimento de estudos empiricos, que vao a campo para tentar compreender a realidade. De fato, nesse escopo de cinco trabalhos, apenas um utilizou o metodo etnografico (ainda que esse nao tenha sido descrito de forma clara) para estudar o fenomeno em campo. O pesquisador de Comunicacao, em particular Jornalismo, que tanto critica a/o jornalista profissional que reporta a noticia por meio do telefone e, hoje, de aparatos digitais, tambem parece se sentir mais confortavel em seu proprio gabinete--ou estar igualmente envolto/a em questoes de obtencao de recursos financeiros e submetido/a a pressoes produtivas.

Da analise do corpus, ressaltamos aqui o que nos parece mais importante. O primeiro e o fato de que o estudo sugere um modus operandi bastante caracteristico do fazer cientifico comunicacional brasileiro. Alem de serem eminentemente teoricos, os estudos aqui analisados empregam em sua maioria teoricos/as estrangeiros/as para referendar as ideias das/os proprias/os autoras/ es, sem a intencao de travar um verdadeiro dialogo entre diferentes campos e visoes de mundo. Esse rastreamento e feito, em sua maioria, por meio de livros, o que revela um subaproveitamento dos periodicos, nao so brasileiros, como internacionais. Nesse sentido, ressalta-se, a grande maioria das obras consultadas e traduzida, trazendo poucas referencias aos trabalhos em seu idioma original. Isso revela um certo ensimesmamento da comunidade, bem como uma dependencia do mercado editorial--e comercial--para a difusao do conhecimento.

Fica a sensacao de que as/os pesquisadoras/es nacionais se esforcam para dialogar com seus pares. Mas ainda o fazem de maneira timida, sobretudo com a comunidade cientifica internacional. Ha um certo encantamento em relacao ao modo de fazer ciencia comunicacional e de outras areas no exterior, como se as/os profissionais estrangeiras/os estivessem num pedestal e, como tal, isentos de desafios--como a competitividade enfrentada por pesquisadoras/ es na comunidade anglofona. E como se as/os pesquisadoras/es dos estudos de genero no ambito do Jornalismo no Brasil se ativessem as pesquisas que envolvem a desigualdade dessas relacoes, sem estender essa forma critica de reflexao as bases epistemologicas e metodologicas do proprio fazer cientifico.

Link DOI: http://dx.doi.org/ 10.15448/1980-3729.2016.2.22464

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Recebido em: 18/11/2015

Aceito em: 26/11/2015

Endereco Autores:

Monica Martinez <martinez.monica@uol.com.br>

Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso)

Rod. Raposo Tavares, s/n--Vila Artura

CEP 18023-000

Sorocaba, SP--Brasil

Claudia Lago <claudia.lago07@gmail.com>

Universidade de Sao Paulo

Av. Dr. Arnaldo, 715--Consolacao

CEP 01246-904

Sao Paulo, SP--Brasil

Mara Coelho de Souza Lago <mara.lago7@gmail.com>

Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

R. Eng. Agronomico Andrei Cristian Ferreira, s/n--Trindade

CEP 88040-900

Florianopolis, SC--Brasil

Monica Martinez

Doutora em Ciencias da Comunicacao pela ECA-USP, pos-doutorado pela UMESP e estagio de pesquisa junto ao departamento de Radio, Televisao e Cinema da Universidade do Texas. E docente do Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao e Cultura da Universidade de Sorocaba (Uniso).

<martinez.monica@uol.com.br>

Claudia Lago

Doutora em Ciencias da Comunicacao pela Universidade de Sao Paulo. Professora da Escola de Comunicacoes e Artes, curso Licenciatura em Educomunicacao, da Universidade de Sao Paulo. E vice-chair da Journalism Research and Education (JRE) of IAMCR e presidente da Associacao Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor) gestao 2015-17. <claudia.lago07@gmail.com>

Mara Coelho de Souza Lago

Doutora em Psicologia da Educacao pela Universidade Estadual de Campinas. Professora titular aposentada da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), atuando como docente voluntaria no Programa de Pos-Graduacao em Psicologia (PPGP) e no Programa de Pos-Graduacao Interdisciplinar em Ciencias Humanas (PPGICH).

<mara.lago7@gmail.com>

(1) Bertha Lutz, cientista brasileira formada pela Sorbonne, criadora da Federacao Brasileira para o Progresso Feminino, que teve atuacao decisiva na conquista do voto feminino pelas mulheres no Brasil e destacada luta pelo seu direito a educacao de nivel superior.

(2) Em dois deles, mulheres e homens nao eram diferenciados em relacao aos ideais da cultura. Entre os Arapesh, o ideal cultural era de que homens e mulheres fossem cooperadores, solidarios, de comportamento amavel e nao agressivo. Entre os Mundugumor, ao contrario, o desejavel era que ambos fossem agressivos, afirmadores, competitivos. O terceiro povo estudado, os Tchambuli, foi o unico grupo cujos ideais culturais marcavam as diferencas entre homens e mulheres, atribuindo-lhes papeis sociais caracteristicos e distintos, como nas nossas sociedades. So que, surpreendentemente, neste povo, era proprio um comportamento mais passivo, de maior sensibilidade e fragilidade nos homens. As mulheres eram mais competitivas, dominando as transacoes comerciais, mostrando-se mais ativas e seguras que seus companheiros, os quais tinham mais disponibilidade para o trato com os filhos.

(3) Conferir: Cassia Regina da Silva Rodrigues de Souza, Periodicos Feministas do Seculo XIX: Um Chamado a Resistencia Feminina. In: Anais do XV Encontro Regional da ANPUH--Rio; Mariana Jafet Cestari (orientadora) e Monica Graciela Zoppi-Fontana. Imprensa feminista brasileira na decada de 1970: um lugar de enunciacao publico e legitimo das mulheres. In: Lingua, literatura e ensino, Maio/2008 V. III; Viviane Goncalves Freitas, O jornal mulherio e sua agenda feminista: primeiras reflexoes a luz da teoria politica feminista. In: Historia, historias. Brasilia, v.2, n. 4, 2014.

(4) Esse olhar teve como destaque o Seminario Estudos sobre Mulher no Brasil: Avaliacao e Perspectivas, realizado em 1990 em Sao Roque (SP), e que, segundo a autora, "se tornou um marco na passagem dos estudos de mulher para os estudos de genero e na reflexao sobre este campo de saber" (MACHADO, 1992, p. 10). Ao contrario, e a abertura para pensar a nao universalidade da categoria mulher e, consequentemente, todas as categorias referidas. E a passagem dos estudos feministas para os estudos de genero.

(5) Ha que se lembrar que o termo generos faz tradicionalmente parte da agenda academica da area de comunicacao, referindo-se a formatos narrativos especificos do jornalismo, alguns ate do jornalismo brasileiro, como a questao das cronicas (Melo, Laurindo e Assis, 2012).

(6) Alzira Alves de Abreu e pesquisadora do Centro de Pesquisa e Documentacao de Historia Contemporanea do Brasil (CPDOC), criado em 1973 pela Fundacao Getulio Vargas, do Rio de Janeiro.

(7) Maria Izilda S. de Matos e titular da cadeira de Historia na PUC-SP.

(8) "Por sua caracteristica basicamente relacional, a categoria genero procura destacar que a construcao do feminino e masculino define-se um em funcao do outro, uma vez que se constituiram social, cultural e historicamente em um tempo, espaco e cultura determinados. " (Matos citado por Provenzano, 2010, p. 7). Ainda assim, o trecho serve, nesse paragrafo, apenas como uma especie de suporte para a preocupacao da autora em localizar a questao a partir da insercao no mercado de trabalho, referindo-se ao segundo momento: "Desde o final da Segunda Guerra Mundial, as mulheres passaram a ocupar--de maneira mais substancial--espacos na sociedade que ate entao eram exclusivamente preenchidos por homens" (Provenzano, 2010, p. 7).

(9) Trata-se da sintese de um trabalho de conclusao de curso de Radio e TV feito por Assis e orientado por Rachel Paiva Soares, professora associada da Escola de Comunicacao (ECO) da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

(10) "A imensa discrepancia entre a presenca masculina e a presenca feminina no mundo politico nao pode ser simplesmente entendida como um desinteresse geral das mulheres pela politica. A limitacao da atuacao feminina na esfera publica foi historica e socialmente estabelecida ao longo de seculos de opressao e de demarcacao de espacos"femininos" e"masculinos". As mulheres caberia o espaco privado: o ambiente domestico e o cuidado da familia. Aos homens, o espaco publico: as ruas e as assembleias. Ainda que o movimento feminista tenha questionado esta divisao e obtido vitorias importantissimas, como o direito ao voto e a participacao politica por parte das mulheres, estes limites ainda nao foram completamente superados. A perpetuacao destas estruturas de demarcacao e limitacao baseadas no genero sao "produto de um trabalho de eternizacao que compete a instituicoes interligadas tais como a familia, a igreja, a escola, e tambem, em uma outra ordem, o esporte e o jornalismo" (Bourdieu, 2002, citado por Assis e Paiva, 2011, p. 2).

(11) Luiz Felipe Miguel e titular do Instituto de Ciencia Politica da Universidade de Brasilia (UnB), tambem bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq (Nivel 1B). Flavia Biroli (bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq--Nivel 2) e professora associada do mesmo instituto. Ambos coordenam o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades (Demode).

(12) As autoras seguem com o raciocinio, no qual as mulheres aparecem como "o outro que nao pertence aquele campo, devido a essa oposicao historica e socialmente produzida entre o feminino e o masculino" (Miguel; Biroli apud Assis; Soares, 2011, p. 6); "As reportagens e artigos sobre mulheres politicas, porem, nao cessam de marcar o estranhamento da presenca feminina e admiracao (ou espanto) por elas terem 'chegado la'" (Miguel e Biroli citado por Assis e Soares, 2011, p. 5).

(13) Louro e professora titular aposentada da UFRGS e fundadora do GEERGE (Grupo de Estudos de Educacao e Relacoes de Genero). Atraves de inumeras publicacoes voltadas para a educacao, e importante divulgadora dos estudos pos estruturalistas e teorias queer na academia brasileira.

(14) A base do artigo e o trabalho de conclusao de curso da jornalista Lais Di Giorno Ribeiro, defendido em 2013 na Universidade de Brasilia com o titulo de Mulheres em Cargos de Chefia de Redacao e a Construcao da Realidade, que foi orientado pela docente Alzimar Rodrigues Ramalho.

(15) Este livro, publicado em 1998 na Franca, provocou muitos protestos de estudiosas feministas por Bourdieu se utilizar de conceitos e reflexoes desenvolvidos de longa data por teoricas feministas, sem lhes atribuir os devidos creditos. Por exemplo, e sem falar de outras autoras importantes, os trabalhos pioneiros de Francoise Perrot na recuperacao da Historia de Mulheres. Sobre o tema da secundarizacao das teorias feministas no campo da Sociologia, de onde provem Bourdieu, conferir Miriam Adelman "Das margens ao centro? Refletindo sobre a teoria feminista e a sociologia academica". Revista Estudos Feministas, V. 11, n. 1, p. 284-288, 2013.
Tabela 1: Os sete trabalhos distribuidos a partir
dos tres momentos dos estudos de genero

Trabalho   Primeiro momento     Segundo momento         Tercei
            [male] [greater    [female] [greater    [male] [greater
           than or equal to]   than or equal to]   than or equal to]
               [female]             [male]             [female]

1                  X
2                                                          X
3                                                          X
4                  X
5                  X

Fonte: Lago e Martinez, 2016.


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