Professional profile of Brazilian foreign correspondents/ Perfil profissional dos correspondentes internacionais brasileiros.
Agnez, Luciane Fassarella ; Moura, Dione Oliveira
Introducao
O correspondente internacional e o profissional que se estabelece
em diversas partes do mundo e mantem abastecida a rede de informacoes
formada pelas agencias de noticias. Os meios de comunicacao de maior
porte, especialmente impressos e televisao, quando desejam uma cobertura
internacional de alta qualidade, independente e autentica, tambem
investem nesta atividade jornalistica com profissionais proprios, nao
dependendo exclusivamente dos conteudos fornecidos pelas agencias. Para
Hannerz (2004), o correspondente e um reporter que fica
"estacionado" em determinado lugar, enviando noticias para seu
veiculo de origem. Em complemento, essa atividade profissional tambem
pode ser compreendida como a de um mediador e um tradutor de culturas
(Rocha, 2013).
Na maior parte das vezes, o correspondente define as proprias
pautas e deve partir de um conhecimento aprofundado da realidade local
para conseguir expor os fatos de modo detalhado e interessante para o
pais de origem (Brasil, 2012). O autor sintetiza o que e e o que faz um
correspondente internacional:
O correspondente e um reporter fixado numa cidade estrangeira
--muitas vezes a capital de um pais -, sendo responsavel por uma regiao,
um pais ou, as vezes, ate um continente inteiro. Ele deve enviar
materias regularmente para a redacao da sede de seu veiculo. Para isso,
ele acompanha toda a imprensa local, mantem contatos frequentes com
jornalistas e colegas correspondentes e identifica fontes estrategicas -
como entidades, governos, diplomatas, militares e outras que possam
fornecer informacoes importantes (Brasil, 2012, p. 778).
Outra caracteristica e o amplo repertorio cultural que deve
conhecer referente ao pais que cobre, incluindo nocoes historicas,
geopoliticas e ate mesmo a fluencia no idioma (ou nos idiomas,
dependendo da regiao). O reves e que, apesar de toda essa imersao na
cultura e nos habitos da localidade onde vive, nao deve perder o
referencial do proprio pais e nem mesmo o olhar estrangeiro, capaz de
observar os fatos numa perspectiva mais conjuntural e menos interna.
Logo, e importante manter certo "frescor no olhar", de quem
acaba de chegar a um novo lugar. Em contrapartida, a possibilidade de
permanecer por um periodo mais prolongado permite maior dominio da
cultura local, compreensao dos fatos e estabelecimento de contatos
importantes (Hannerz, 2004).
Estes sao alguns dos aspectos que tornam os correspondentes
internacionais um grupo distinto de jornalistas no exercicio da
profissao (Silva, 2011; Rocha, 2013). Para o mercado jornalistico,
trabalhar como correspondente estrangeiro pode ser considerado o ponto
alto na carreira, representando um reconhecimento da experiencia e
realizacoes como profissional. "Os correspondentes estrangeiros
representam os melhores e mais brilhantes da profissao nos paises de
origem" (2) (Willnat; Weaver, 2003, citado por Rocha, 2013, p. 5).
Para analisar o percurso profissional dos correspondentes
internacionais, Hannerz (2004) adota a nocao de "carreira"
enquanto um caminho a ser percorrido ao longo da vida, nao
necessariamente de modo planejado ou previsto, mas sempre de forma
ascendente, num equilibrio entre as intencoes e as contingencias. O
autor afirma ser dificil estabelecer um padrao de como as pessoas se
tornam correspondentes, o que as motiva e o que as faz permanecer na
profissao. No caso da midia brasileira, o mesmo se verifica.
A partir de tais definicoes, o objetivo deste artigo e discutir as
principais caracteristicas e o perfil profissional dos correspondentes
brasileiros por meio de um questionario aplicado a jornalistas que atuam
ou atuaram como correspondentes internacionais durante a carreira, e que
levantou informacoes sobre o perfil sociodemografico, as trajetorias
individuais e as competencias que eles mais valorizam para o exercicio
da atividade. Os dados aqui apresentados fazem parte da pesquisa que
resultou em tese de doutorado (Agnez, 2014) sobre a identidade
profissional dos jornalistas brasileiros, tendo como recorte a carreira
dos correspondentes internacionais.
Comecamos a seguir explanando os procedimentos metodologicos, para
posterior apresentacao e discussao dos resultados alcancados.
Sintese dos procedimentos metodologicos
O questionario on-line foi formatado no intuito de levantar
informacoes relativas ao perfil dos correspondentes internacionais
brasileiros, tais como: periodo de atuacao; genero; raca; renda; regioes
de origem no Brasil; regiao de cobertura no exterior; tipo de midia para
o qual trabalharam como correspondentes; dentre outros. O levantamento
das informacoes presentes no questionario on-line que aplicamos na
pesquisa e inedito no pais ate o ano de 2013 - nao localizamos na busca
bibliografica nenhum levantamento que apresente estes dados. Desta
forma, conhecer tal perfil possibilitou uma visao mais abrangente destes
profissionais.
Os questionarios foram aplicados pela internet, entre 17 de
dezembro de 2013 e 20 de janeiro de 2014. A divulgacao foi feita por uma
lista de e-mails de jornalistas que atuam como correspondentes
internacionais de veiculos de todo o Brasil. O mailing dos possiveis
participantes da pesquisa foi produzido pela autora da tese, que mapeou
os jornalistas brasileiros em atuacao no exterior, vinculados a grande
midia nacional, e o reconhecimento de profissionais que foram
correspondentes em algum momento durante a carreira.
Ao todo, foram enviadas 92 mensagens eletronicas (e-mails)
convidando os jornalistas a participarem da pesquisa, sendo 54 para
correspondentes que concentraram a atuacao no seculo XXI e 38 para
outros que exerceram a atividade no seculo XX. Adotamos o anonimato dos
respondentes, para conferir seguranca e conforto na hora de prestar as
informacoes. As respostas foram voluntarias e autodeclarativas e, ao
final, participaram do levantamento 34 profissionais, representando 37%
de adesao.
Dentre os profissionais que responderam ao questionario, 19 estavam
atuando como correspondentes internacionais e 15 nao mais. Em relacao ao
periodo em que atuaram, 12 assumiram o cargo de correspondente
internacional pela primeira vez entre 1970 e 2000, enquanto nove
comecaram entre 2001 e 2010 e 13 apos 2010.
O universo para esta pesquisa era desconhecido: todos os
jornalistas brasileiros que atuam ou atuaram como correspondentes
internacionais. Em mais de cem anos de historia na correspondencia
internacional no jornalismo brasileiro, e quase impossivel precisar o
numero total de jornalistas que exerceram a funcao. A falta de um
registro ou controle desses profissionais, por parte de associacoes
trabalhistas ou ligadas a imprensa tambem dificultou esse levantamento
mais global. Portanto, realizamos um mapeamento dos correspondentes em
atuacao, como descrito, e identificamos profissionais veteranos e com
possibilidade de estabelecimento de contato, pois a maior parte ainda
exerce a profissao.
Dados levantados pelo questionario
O questionario aplicado foi dividido em seis grupos de respostas,
com foco no objetivo de tracar o perfil dos correspondentes
internacionais brasileiros. Foram estes:
Dados pessoais: perguntas voltadas para as caracteristicas basicas
dos profissionais, como sexo, nacionalidade, grupo racial, naturalidade
de nascimento e onde morava e trabalhava antes de se tornar
correspondente.
Formacao: nivel de escolaridade (graduacao e pos-graduacao) e
dominio de idiomas.
Desenvolvimento da carreira: questionamos a estes profissionais que
idade tinham quando se tornaram correspondentes, quantos anos de
profissao tinham quando isso aconteceu, qual o ultimo cargo ocupado
antes de assumir a funcao, se era casado e tinha filhos neste momento,
que posto ocupou ou gostaria de ocupar quando deixou (ou deixar) de ser
correspondente e, por fim, motivacoes que o levaram a sair do Brasil (se
foi a convite profissional ou por razoes pessoais).
Na condicao de correspondente: total de tempo que passou no posto
de correspondente, em quais paises atuou e para quais tipos de midia
produziu conteudos jornalisticos.
Condicoes trabalhistas: condicao empregaticia enquanto trabalhou no
exterior (contratado de empresa nacional ou internacional, stringer ou
freelancer (3)), rendimento e situacao financeira (comparada ao padrao
de vida que tinha no Brasil).
Perfil ideal: pedimos aos respondentes que apontassem, em nivel de
importancia, as principais competencias que julgam necessarias para que
um jornalista ocupe o posto de correspondente internacional.
Resultados
Entre os correspondentes veteranos convidados a participar da
pesquisa, apenas 26,3% eram mulheres, enquanto que entre os que ainda
estavam na funcao esse percentual subiu para 42,5%. Entre os
respondentes, a diferenciacao tambem se confirmou: das 34 respostas,
apenas 11 foram de jornalistas mulheres.
No que se refere as nacionalidades, 28 respondentes tem apenas
nacionalidade brasileira, enquanto que seis deles possuem dupla
nacionalidade: quatro deles tambem tem nacionalidade europeia, um e
asiatico e um e africano.
Resultado semelhante sobre a nacionalidade dos pais destes
profissionais: 29 se declararam filhos de brasileiros e cinco afirmaram
que ao menos um dos progenitores sao de outra nacionalidade, que nao a
brasileira. Esse tipo de questionamento inicial teve como proposito
identificar se, na propria historia de vida desses profissionais, ja
havia alguma origem internacional, contribuindo, por exemplo, para uma
experiencia anterior no exterior ou no dominio de outros idiomas.
Em relacao ao grupo racial, dos 34 respondentes, 30 se declararam
"brancos", enquanto dois preferiram nao responder, um se
afirmou "pardo" e um "amarelo". Essse predominio do
grupo "branco" (mais de 88%) e ainda superior aos 72%
identificados na pesquisa de Mick e Lima (2013) sobre o perfil dos
jornalistas brasileiros no geral.
Perguntados sobre a formacao profissional, 28 afirmaram ter
graduacao em jornalismo, cinco em outras areas e apenas um afirmou nao
ter nivel superior. Entre os 34 respondentes, 15 nao cursaram nenhuma
pos-graduacao, sete sao especialistas, nove sao mestres e tres doutores.
Os jornalistas, enquanto grupo profissional, sao reconhecidos por
um intenso engajamento com a vida profissional (Travancas, 2011), ou
seja, a atividade ocupa grande parte do tempo e exige muita dedicacao.
Sao tambem identificados como "trabalhadores sem hora" (Le
Cam, 2006), comprometidos com as intemperies dos acontecimentos, o que
torna a rotina imprevisivel. Com isso, conciliar a vida profissional com
a pessoal pode ser um desafio, especialmente no caso dos correspondentes
internacionais, quando a mudanca para outro pais e as longas rotinas
diarias de trabalho (problemas com fuso horario, alem de ser o unico da
equipe na regiao de cobertura) requer um sacrificio para toda a familia,
o que sugere que jornalistas solteiros e sem filhos poderiam ter maior
facilidade para assumir um posto no exterior (Silva, 2011). Entre os
respondentes, pouco mais da metade (19) afirmou ser solteiro no momento
em que se tornou correspondente internacional e 23 nao tinham filhos
nesta ocasiao.
A faixa etaria e outro fator considerado para analisarmos em qual
momento de vida e carreira estes profissionais se tornaram
correspondentes estrangeiros: 12 deles afirmaram ter assumido a funcao
antes dos 30 anos de idade; 10 afirmaram ter sido na faixa dos 31 aos 35
anos de idade; nove entre 31 e 40; e tres acima dos 40 anos de idade.
Entre os que afirmaram ter assumido a funcao antes dos 30 anos,
dois o fizeram na decada de 1970, um nos anos 1980, tres nos anos 1990,
dois na primeira decada dos anos 2000 e quatro apos 2010. Os numeros nao
permitem qualquer tipo de generalizacao. Tal fato remete ao encontrado
por Hannerz (2004) ao investigar o perfil dos correspondentes
norteamericanos: nao ha um padrao, um criterio unico que defina como e
quando se tornar correspondente internacional. Ha uma variedade grande
de fatores que contribuem para isso, que vao desde oportunidades no
ambiente de trabalho a escolhas e condicoes de vida pessoais.
Podemos ainda afirmar que o posto de correspondente internacional
foi assumido num estagio intermediario das carreiras. Dos que
responderam a pesquisa, 16 declararam ter menos de 10 anos de carreira;
outros 10 tinham entre 11 e 15 anos de profissao; e oito mais de 16
anos. O Grafico 1 mostra a distribuicao entre os periodos.
[GRAPHIC 1 OMITTED]
Ainda sobre o desenvolvimento das carreiras, do ponto de vista de
acumulo e progressao de postos de trabalho (Hughes, 1960; Pereira,
2012), 13 respondentes exerciam o cargo de reporteres antes de se
tornarem correspondentes e seis eram reporteres especiais; seis eram
editores e dois eram redatores. Com apenas uma citacao cada, apareceram
ainda os cargos de editor-chefe, subeditor, pauteiro, secretario de
redacao, diretor de redacao, ancora de radio e freelancer.
Para os profissionais que nao exercem mais a atividade de
correspondente, perguntamos qual foi o primeiro posto de trabalho
assumido ao fim desse periodo. Entre os veteranos (15 respondentes no
total), seis se tornaram reporteres especiais; dois voltaram como
reporteres; quatro assumiram a funcao de editor ou outro cargo de
chefia; dois mudaram de area, ainda dentro da Comunicacao; e um se fixou
como colunista. Estes dados sinalizam se o posto no exterior pode ser
considerado uma "promocao" no sentido da progressao na
carreira. Em linhas gerais, metade dos respondentes voltou para exercer
atividades ligadas a reportagem, enquanto menos de um terco passou para
algum cargo de chefia e indice igual se manteve residindo no exterior.
Entre os que ainda exercem a atividade de correspondente (19
respondentes), a expectativa sobre qual atividade assumir depois mostrou
que tres nao desejavam retornar para o Brasil e assim se manter como
correspondentes no exterior; cinco gostariam de se tornar reporteres
especiais e um de voltar como reporter; quatro tinham o desejo de mudar
de area, mas ainda dentro da Comunicacao; dois de abrir o proprio
negocio; um de se tornar editor ou assumir outro cargo de chefia; um de
se tornar colunista ou comentarista; um de se tornar freelancer e
trabalhar com independencia; e um ainda nao sabia.
Dos 34 jornalistas que participaram da pesquisa, 16 exerceram a
atividade de correspondente internacional por menos de tres anos. Outros
sete estiveram no cargo por um periodo de seis a dez anos e cinco
afirmaram ter vidido essa experiencia por mais de 20 anos, conforme
apresenta o Grafico 2.
[GRAPHIC 2 OMITTED]
O questionario procurou identificar algumas competencias
profissionais para o exercicio da atividade. O dominio de ao menos um
segundo idioma e fundamental para um jornalista que pretende se tornar
correspondente internacional. Apenas dois respondentes nao indicaram o
ingles como idioma de uso profissional. O espanhol tambem e dominado por
29 dos 34 jornalistas. O terceiro idioma mais utilizado e o frances
(12), seguido pelo italiano (seis), o hebraico (tres), o arabe (tres) e
o alemao (um).
Perguntados sobre o tipo de midia para o qual produziram enquanto
exerceram a funcao de correspondente internacional, 25 afirmaram ter
produzido em algum momento para jornais, 19 para televisao, 18 para
internet, 15 para radio, 11 para revistas e oito para agencias de
noticias. Vale lembrar que alguns stringers, por exemplo, trabalham para
veiculos diferentes e as respostas abrangeram todo o periodo que o
profissional esteve no exterior, nem sempre contratado pela mesma
empresa. Alem disso, jornalistas que pertencem a grupos de comunicacao,
especialmente no exterior, sao demandados a produzir conteudo noticioso
ou opinativo para midias diferentes da mesma corporacao.
Isso tambem se refletiu na questao sobre o tipo de material que ja
tiveram que produzir ao longo da atuacao no exterior. O texto
jornalistico tradicional, informativo, foi resultado do trabalho de 32
respondentes; 19 afirmam ja ter produzido algum material em video e 18
em audio; 15 ja foram demandados a escrever artigos opinativos; 13
tiveram que produzir fotografias em algum momento. Sobre a internet, 11
produziram conteudos para blogs e sete produziram conteudos para redes
sociais.
Os jornalistas tambem informaram a faixa de renda e as condicoes
trabalhistas ao qual estavam sujeitos durante o exercicio da
correspondencia internacional. O Grafico 3 apresenta a renda informada,
em salarios minimos brasileiros da epoca em que atuaram. Entretando,
sabemos que a variacao da economia nacional fez com que o salario minimo
representasse condicoes de vida mais ou menos elevadas, em determinados
periodos da nossa historia recente. Tambem consideramos que os
jornalistas veteranos, que atuaram como correspondentes em decadas
anteriores, poderiam simplesmente nao se lembrar desses valores. Por
isso, avaliamos como mais importante entender como eles se sentem ou se
sentiam em relacao ao padrao de vida no exterior.
[GRAPHIC 3 OMITTED]
Questionados sobre o padrao de vida financeiro, enquanto
correspondentes internacionais, 23 afirmaram que a remuneracao era
satisfatoria para se viver em outro pais, mantendo as mesmas condicoes
que tinham no Brasil; oito consideravam que o salario no exterior os
permitia ter um padrao de vida menor do que tinham no Brasil; e tres que
esse padrao era elevado, portanto, maior do que no pais de origem.
Sobre a condicao empregaticia mais frequente no periodo em que
atuaram como correspondentes, 25 se declararam funcionarios contratados
de empresas de midia brasileiras, sete eram stringers, apenas um era
freelancer e um era contratado por empresa de midia estrangeira.
Antes de se tornaram correspondentes, 33 ja tinham visitado algum
pais estrangeiro por alguma razao. Destes, sete tinham viajado a lazer e
oito tinham feito coberturas fora do Brasil como enviados especiais,
enquanto que 18 ja tinham morado fora do pais, seja por motivos pessoais
ou profisisonais.
No momento em que se tornaram correspondentes internacionais, 23
jornalistas afirmaram ter mudado de pais a convite de uma empresa de
midia nacional, enquanto quatro foram morar no exterior para fazer um
curso de aperfeicoamento ou pos-graduacao e aproveitaram o momento para
produzir conteudos jornalisticos, outros tres se mudaram por motivos
pessoais ou familiares e apenas um afirmou ter saido com o proposito de
se tornar correspondente internacional, ainda que independente.
Sobre os paises nos quais atuaram nas coberturas jornalisticas,
enquanto correspondentes, os mais citados foram Estados Unidos e Israel,
com nove citacoes cada. Na sequencia aparecem Inglaterra (sete),
Portugal (seis), Franca (cinco), Espanha (cinco), Argentina (quatro),
Italia (quatro), Alemaha (tres), China (dois), Suica (dois), Russia (um)
e Japao (um). Outras 18 localidades entre a America Latina, Africa e o
Oriente Medio foram citados por passagens como enviados especiais.
Os proprios correspondentente puderam atribuir cargas de
importancia as competencias que julgam necessarias para um profissional
que exerca esta atividade. A Tabela 1 apresenta, em numeros absolutos,
como os proprios correspondentes avaliaram a importancia de tais
competencias.
Para finalizar, buscamos identificar de qual regiao do Brasil os
profissionais respondentes eram provenientes. Primeiramente, sobre o
estado de nascimento, 13 respondentes sao do Rio de Janeiro e nove de
Sao Paulo, outros quatro de Minas Gerais, dois do Rio Grande do Sul e os
seguintes estados apresentaram um correspondente: Espirito Santo, Goias,
Amazonas, Para, Santa Catarina e o Distrito Federal. Mas ao informarem o
ultimo estado em que residiram antes de se mudar para o exterior, a
concentracao foi ainda maior: 16 em Sao Paulo, 11 no Rio de Janeiro,
tres no Distrito Federal, dois em Minas Gerais, um em Permanbuco e um no
Rio Grande do Sul. Esta ultima resposta ja era esperada, considerando a
maior concentracao de veiculos - especialmente os chamados da
"grande midia" - nos principais eixo economicos do pais.
Apesar de veiculos regionais, como o Correio Braziliense e o Zero Hora,
de Porto Alegre, em algum momento ja ter trabalhado com jornalistas no
exterior, hoje prevalece a cobertura por parte, sobretudo, da imprensa
do eixo Rio - Sao Paulo (Natali, 2004).
Discussao
A partir de um levantamento demografico feito por Stephen Hess em
1992, Silva (2011) tracou qual seria o perfil mais comum entre os
correspondentes brasileiros, uma vez que nao havia nenhum estudo
conhecido que faca isso especialmente com jornalistas de nosso pais.
Alguns tracos deste perfil sao facilmente reconhecidos: as mulheres eram
em geral mais jovens (pois grande parte seria freelancer) e minoria,
enquanto os homens seriam mais experientes quando elevados ao cargo de
correspondente.
Apesar da feminizacao que vem ocorrendo no jornalismo brasileiro
como um todo (Mick; Lima, 2013), entre os correspondentes ainda e maior
o numero de homens atuando no cargo. Este cenario se confirmou no
presente levantamento, quando apenas 11 dos 34 correspondentes que
responderam ao questionario on-line da pesquisa eram mulheres.
Entre os jornalistas, que do ponto de vista social ja caracterizam
uma fatia da elite em nosso pais, os correspondentes seriam a
"elite da elite" (Silva, 2011, p. 54), por estudarem em geral
em colegios melhores que os demais, pertencerem a familias de classe
media alta, dominarem fluentemente ao menos uma lingua estrangeira, alem
de terem tido a experiencia de morar em outro pais quando criancas ou
jovens. De acordo com o resultado obtido pela pesquisa, em sua maioria
os correspondentes que participaram sao brasileiros natos, tambem filhos
de brasileiros, brancos e graduados em jornalismo. A maior parte (22
respondentes do questionario on-line) se declara natural dos estados de
Sao Paulo ou Rio de Janeiro, onde tambem a maior parte trabalhava antes
de se tornar correspondente, refletindo a concentracao da grande
imprensa nesta regiao.
O idioma mais falado entre os respondentes e o ingles, com quase a
totalidade dos jornalistas declarando utiliza-lo em seu trabalho,
seguido pelo espanhol e pelo frances. Quase todos ja haviam visitado
algum pais estrangeiro ao menos uma vez antes de se tornarem
correspondentes, seja por turismo, questoes familiares ou de estudo, e
mais da metade (18) ja haviam residido em outro pais. Entretanto, apenas
oito ja haviam atuado como enviado especial em alguma cobertura
jornalistica.
A posicao de "elite" ou de "topo" da carreira
de reporter viria acompanhada ainda de salarios mais altos que dos
demais colegas, uma autonomia profissional superior e um estilo de vida
frequentemente associado a pessoas famosas, autoridades e de relativo
prestigio social.
E verdade que essa descricao, embora possa ser relativamente fiel a
realidade, e ilusoria, porque todas essas vantagens sao provisorias (se
existem, so existem enquanto o beneficiario exerce suas funcoes) e
porque elas nao constituem mais do que meras aparencias. Mesmo assim,
elas sao o fulcro do fascinio que a correspondencia internacional exerce
sobre muitas pessoas e do prestigio que se costuma associar a ela
(Silva, 2011, p. 54).
Do ponto de vista das condicoes trabalhistas, 23 jornalistas
declararam que se mudaram para o exterior a convite de uma empresa
jornalistica, quatro para estudar e tres por questoes familiares. Entre
eles, a maior parte (25) atuou como funcionario de empresas
jornalisticas brasileiras, sendo que 23 afirmaram que a remuneracao
recebida era satisfatoria para se viver em outro pais, enquanto oito
disseram que lhes permitia viver num padrao financeiro inferior ao que
tinham no Brasil e tres que este padrao era mais elevado na condicao de
correspondente.
O perfil mais tradicional de correspondente, caracterizado como uma
especie de "tipo ideal", apresenta no presente estudo
indicativos de mudanca: observamos que a figura do correspondente
internacional, glorificada entre as decadas de 1970 e 1980 como o topo
da carreira de reporter, esta ameacada. O profissional experiente,
letrado, imerso a diferentes culturas e capaz de analises conjunturais
esta dando lugar a jovens correspondentes motivados por boas
experiencias profissionais, mas submersos em um cenario de precarizacao
da atividade (estrutura e remuneracao, por exemplo), como aposta a
revisao de literatura e os dados relativos a renda, situacao financeira
e producao para multiplas midias.
Em estudo realizado com correspondentes brasileiros na Europa,
Rocha (2013) identificou que a "nova geracao" parece estar
dominando o campo da correspondencia, considerando que os reporteres
mais novos estao disponiveis para trabalhar mais horas do que os
reporteres seniores e tem um melhor conhecimento sobre as tecnologias.
Alem disso, esta nova geracao de correspondentes brasileiros poderia ter
mais desenvoltura em termos de linguas estrangeiras do que os colegas
antecessores.
Os correspondentes brasileiros tambem representam o jornalista
brasileiro tipico: uma pessoa branca e de classe media, altamente
educada, satisfeita com a posicao profissional e nao muito envolvida com
os sindicatos de jornalismo (Rocha, 2013). Dos 10 jornalistas
brasileiros ouvidos na pesquisa, um tinha apenas a graduacao, um
pos-graduacao, seis eram mestres e dois tinham doutorado.
Em relacao a carreira, o estudo ainda identificou que os
correspondentes brasileiros nao tinham nenhuma formacao especifica para
a area e que o acesso ao cargo foi uma juncao de oportunidade, com
contatos profissionais anteriores, qualidade do trabalho que desenvolvia
no Brasil, mais o dominio de uma lingua estrangeira (Rocha, 2013). Como
encontramos nos resultados do nosso estudo, esta tendencia se confirma,
por exemplo, pela faixa etaria quando se tornaram correspondentes,
indicando estarem entre a fase inicial e intermediaria de carreira, alem
do fato de a mudanca ter ocorrido pela oportunidade gerada por uma
empresa ou pelo projeto pessoal de viver em outro pais.
A trajetoria de carreira e ponto importante para analisarmos em
qual momento e sob quais condicoes estes jornalistas assumiram a
correspondencia internacional. Dos respondentes, 12 chegaram ao posto
antes dos 30 anos e dez entre 31 e 35 anos. Portanto, cerca de 65% deles
estavam com menos de 35 anos. Isso representa uma fase intermediaria da
carreira: 16 respondentes tinham ate 10 anos de profissao quando se
tornaram correspondentes e outros dez estavam entre 11 e 15 anos.
A maior parte destes profissionais (13 respondentes) eram
reporteres ao assumir o posto no exterior. Entre os veteranos, ou seja,
aqueles que nao exerciam mais a correspondencia no momento da pesquisa,
oito se tornaram reporteres ou reporteres especiais quando voltaram a
trabalhar no Brasil. Ja entre os que ainda estavam na posicao, novamente
a maior concentracao de respostas (seis) indicava que eles gostariam de
continuar na reportagem na volta ao pais de origem.
Sobre as relacoes familiares, entre os respondentes, 19 afirmaram
ser solteiros no momento que se tornaram correspondentes internacionais
e 23 nao tinham filhos, comprovando a preferencia pela maior
disponibilidade familiar para mudancas de pais e rotinas intensas de
trabalho (Silva, 2011). O periodo medio que 16 que destes profissionais
passaram no exterior foi de tres anos, outros sete ficaram entre seis e
10 anos e apenas cinco viveram no exterior, trabalhando como
jornalistas, por mais de 20 anos.
Do ponto de vista da cobertura, cada vez menos se exigem textos
opinativos do correspondente, eles exercem bem mais a funcao de
reporter, na apuracao e relato dos fatos (Natali, 2004). Alem disso,
alguns autores sugerem uma redefinicao do que seria o trabalho de
correspondencia, por modelos que podem substituir a figura do
profissional instalado em outra regiao (Hamilton; Jenner, 2004).
Estudos internacionais apontam a reducao no numero de
correspondentes internacionais, especialmente na imprensa britanica
(Moore, 2010; Archetti, 2012) e norteamericana (Hamilton; Jenner, 2004;
Lewis, 2010; Williams, 2011). As principais motivacoes para isto seriam
a reducao de custos e as facilidades trazidas pelas tecnologias
digitais.
Questoes financeiras tambem vem sendo apontadas como o principal
motivo para a reducao no numero de jornalistas brasileiros no exterior,
o que pode ter sido ainda facilitado pelas tecnologias digitais. Sao
poucos os estudos que tratam dessa realidade no Brasil, mas as duas
principais obras sao editadas por jornalistas que vivenciaram esse
periodo de cortes na pratica: um e Joao Batista Natali (2004), que foi
editor de internacional da Folha de S. Paulo; e o segundo e Carlos
Eduardo Lins da Silva (2011) que foi por duas vezes correspondente nos
Estados Unidos pelo mesmo jornal. Especialmente nestes dois trabalhos, e
possivel reconhecer que houve uma reducao no numero de correspondentes
internacionais brasileiros a partir da decada de 1990, momento de forte
crise nas organizacoes de midia devido, entre outros motivos, as
mudancas de moeda e aos altos investimentos nas tecnologias do cabo e
nas novas plataformas tecnologicas, que estavam surgindo naquele
momento.
A decada de 1990 foi marcada ainda por outras importantes
particularidades para o caso brasileiro. A redemocratizacao e a primeira
eleicao direta para presidente, seguida pelo impeachment dele, fez com
que o noticiario retornasse fortemente para o cenario interno, com a
imprensa agora livre da censura. No ambito internacional, o momento
tambem era de mudanca: a queda do Muro de Berlim, em 1989, marcou o fim
da Guerra Fria. Nos anos seguintes, eclodiu a Guerra do Golfo e o
contexto de tensao se voltou para o Oriente Medio. Do ponto de vista do
mercado de midia, surgiu o fenomeno CNN, fundando o formato de noticias
24 horas ao vivo, de todo o mundo. Somou-se a isso a abertura da
internet para o mercado comercial e a entrada dos veiculos de
comunicacao nesta plataforma.
O profissional correspondente tem enfrentado nesse inicio de seculo
os desafios de se adaptar a um novo cenario tecnologico, comercial
(modelos de negocios das empresas de midia) e ate mesmo editorial, com
alteracoes nos enfoques das regioes de cobertura na conjuntura
internacional. Do ponto de vista tecnologico, Silva (2011) destaca que
as tecnologias do final do seculo XX ajudaram bastante o trabalho do
correspondente, que precisou ir se adaptando e adaptando a rotina de
producao as novas possibilidades que surgiram. O desenvolvimento das
tecnologias acompanhou toda a historia dos correspondentes
internacionais, das cartas que atravessavam os continentes em navios aos
canais de noticias 24 horas e a internet, que permitem ao profissional
hoje saber o que esta acontecendo em toda parte.
John Maxwell Hamilton reflete em seu livro sobre os correspondentes
internacionais: "A tecnologia poupa tempo na transmissao, mas o
devora de outras maneiras". A exigencia passou a ser por materias
"ao vivo", imediatas. Diminuiu a possibilidade de tempo para
pesquisar informacoes, procurar fontes diversas, confrontar opinioes,
pensar. E obvio que a pressa e inimiga da profundidade. O imediatismo
que se exige do jornalista nessa segunda decada do seculo XXI, inclusive
do correspondente, pode ser um dos grandes problemas para o futuro de
credibilidade (Silva, 2011, p. 66).
A introducao das tecnologias digitais esta influindo na
transformacao das rotinas dos jornalistas, de um modo geral, com
reflexos diretos na realidade dos correspondentes internacionais. A
atividade, que sempre esteve associada ao desenvolvimento das
tecnologias da comunicacao, tem na internet uma aliada, ao aproximar o
profissional da redacao, dos colegas de trabalho e das fontes, mas
tambem o desafia ao mante-lo conectado por longas jornadas, estimulado a
produzir conteudos para multiplas plataformas.
Ate meados dos anos 1990, o correspondente era "os olhos e os
ouvidos" do veiculo naquela regiao. Pautava-se muitas vezes pela
imprensa do pais onde estava e conduzia o trabalho com bastante
autonomia. Mas o surgimento dos canais de televisao conhecidos como all
news (24 horas de noticias no ar) e a expansao da internet comercial na
segunda metade da decada de 1990 permitiram que as redacoes dos veiculos
no Brasil tivessem um maior conhecimento sobre os acontecimentos no
mundo, reduzindo a autonomia dos correspondentes (Silva, 2011; Rocha,
2013).
Entre os jornalistas ouvidos por esta pesquisa, dez afirmaram ter
trabalhado para apenas um tipo de midia enquanto estiveram no exterior
jornal ou televisao. O surpreendente e que todos estes iniciaram o
trabalho como correspondente depois de 1991 e mais da metade ja nos anos
2000, periodo crescente de integracao com as midias digitais. Por outro
lado, a maioria afirmou ter produzido para multiplas plataformas, como
jornal (25), TV (19), internet (18), radio (15), revistas (11) e
agencias (oito).
Outros estudos apontam a questao do trabalho multimidia na rotina
do correspondente como uma forte tendencia, mas ainda em formatacao, nao
plenamente uma realidade (Moura; Agnez, 2011). O impacto tem sido maior
para os profissionais que atuam na midia impressa (Agnez, 2014).
Para Natali (2004), a principal contribuicao trazida pela internet
foi o fato de o redator poder sair da posicao passiva, ou seja, de so
receber material das agencias de noticias, para uma posicao mais ativa
na busca por informacoes. Na visao do autor, os informes das agencias
internacionais sao pasteurizados, iguais para todos os veiculos: a
internet permite hoje colocar a "cereja do bolo", com o
redator, mesmo da redacao, coletando dados que possa complementar e
fazer algum diferencial.
O correspondente internacional tem caracteristicas proprias na
rotina de trabalho, que diferem dos colegas na redacao e sao fortemente
impactadas pelas tecnologias de comunicacao. Ele nao participa de
momentos cruciais da rotina diaria de um jornal (seja em qualquer
plataforma): pauta e fechamento, por exemplo. Nao desfruta do contato
diario com colegas, da troca de ideias, e nem do feedback imediato dos
superiores. Por conta do fuso-horario, esta a frente ou atras da
dinamica que acontece no pais de origem e, por isso, quase sempre
trabalha por longas jornadas.
Na opiniao dos proprios correspondentes, diante de criterios
apresentados pelo questionario, a habilidade de lidar com tecnologias,
15 respondentes julgam como muito importante, enquanto 12 acham
importante e sete pouco importante. Sobre a questao da experiencia
profissional, uma distribuicao parecida se repetiu. O item mais
controverso foi o que propos que os jornalistas deveriam ser jovens e
com o entusiasmo caracteristico desta fase da vida profissional,
conforme exposto na Tabela 1. Falar mais de um idioma e uma
caracteristica indispensavel. Associa-se a isso a capacidade de
adaptacao e interesse por conhecer novas culturas, de trabalhar sozinho
e a disponibilidade familiar e pessoal para mudar de pais. Repertorio
cultural e o conhecimento aprofundado do pais no qual residirao sao
apontadas como competencias complementares.
Consideracoes finais
Para Silva (2011), a ocupacao profissional de correspondente
internacional, glorificada entre os seculos XIX e XX, passa por uma
profunda crise de identidade nesse inicio de seculo, assim como toda a
atividade jornalistica. A questao das transformacoes no modelo de
negocio aparece como um problema estrutural basico, impondo uma reducao
de custos, por um lado, multiplicando a oferta de servicos e, por
conseguinte, o trabalho dos jornalistas.
Pode ser um exagero dizer que a correspondencia estrangeira esta em
extincao, mas e evidente que a forma como os correspondentes
estrangeiros reunem, interpretam e transmitem noticias de e sobre
lugares distantes vem passando por uma transformacao. A tecnologia esta
conduzindo grande parte desta mudanca, e o impacto das novas midias no
jornalismo internacional pode ser visto como benefico e prejudicial ao
mesmo tempo (Williams, 2011). Elas permitem que os reporteres possam ter
um acesso facilitado a fontes de noticias e a uma ampla gama de
informacoes, enviar relatos e imagens mais rapidamente e de forma mais
eficiente durante a reportagem de campo, bem como fornecer noticias
instantaneas do que esta acontecendo. No entanto, a nova tecnologia
tambem leva a uma diminuicao na capacidade e tempo que os reporteres tem
de avaliar a veracidade e a qualidade das informacoes que recebem, por
exemplo.
Este levantamento, a partir das respostas de 34 jornalistas
brasileiros que atuam ou ja atuaram como correspondentes internacionais
em algum momento da carreira, em dialogo com os estudos ja desenvolvidos
por outros autores, permitiu-nos tracar alguns pontos centrais sobre o
perfil destes profissionais, expostos acima.
Por fim, reconhecemos que e classica uma visao um tanto romantica
em relacao aos correspondentes internacionais, alimentada pelos proprios
profissionais (Williams, 2011). Os correspondentes de guerra, os herois,
aqueles que se arriscam pela informacao, embaixadores dos veiculos para
os quais trabalham, muitas vezes associados a figura do diplomata, o
glamour aparente de se viver no exterior, a autonomia, o status mais
elevado dentro da carreira de reporter. Sao muitos os elementos que
estimulam o fascinio pela funcao. Entretanto, como ressalta Williams
(2011, p. 94), "a realidade e menos glamorosa e mais mundana. O
jornalismo internacional, assim como o restante da profissao do
jornalismo, e entediante, repetitivo e frequentemente preso a uma
escrivaninha" (4). Em outras palavras, o jornalismo internacional
esta sujeito a uma serie de rotinas e praticas, ate mesmo burocraticas,
que evidenciam que esse glamour esta mais presente na visao de colegas,
leitores e amigos do que, de fato, na vida profissional destes
jornalistas, como comprovam outros estudos de carater qualitativo e nao
abordados neste artigo (Agnez, 2014).
DOI: http://dx.doi.org/10.15448/1980-3729.2015.3.19430
Referencias
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NATALI, Joao Batista. Jornalismo Internacional. Sao Paulo:
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PEREIRA, Fabio. Possibilidade de aplicacao do conceito de carreiras
profissionais nos estudos sobre jornalismo. In: PEREIRA, Fabio; MOURA,
Dione; ADGHIRNI, Zelia. Jornalismo e sociedade: Teorias e metodologias.
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ROCHA, Sara de Melo. Brazilian Correspondents in Europe: Careers,
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Dissertacao (Mestrado em Jornalismo, Midia e Globalizacao). Graduate
School of Communication, Universitait van Amsterdam, Amsterdam.
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Paulo: Contexto, 2011.
TRAVANCAS, Isabel. O mundo dos jornalistas.4.ed. Sao Paulo: Summus,
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WILLIAMS, Kevin. International journalism. London: Sage, 2011.
Recebido em 15 de fevereiro de 2015.
Aceito em 30 de marco de 2015.
Endereco das Autoras:
<ADD> Luciane Fassarella Agnez <luagnez@gmail.com>
Centro Universitario IESB. SGAS Quadra 613/614 - Lotes 97 e 98 L2 Sul
Brasilia - DF, CEP: 70.200-730. Dione Oliveira Moura
<dioneoliveiramoura@gmail.com> Universidade de Brasilia. Faculdade
de Comunicacao Campus Universitario Darcy Ribeiro Instituto Central de
Ciencias Norte Brasilia - DF, CEP: 70 910-900 </ADD>
Luciane Fassarella Agnez
Professora Doutora de Jornalismo do Centro Universitario IESB.
<luagnez@gmail.com>
Dione Oliveira Moura
Professora Doutora do Programa de Pos-graduacao em Comunicacao da
Universidade de Brasilia.
<dioneoliveiramoura@gmail.com>
(1) Pesquisa recebeu apoio Capes - Coordenacao de Aperfeicoamento
de Pessoal de Nivel Superior, por meio de bolsa de doutorado nacional e
pelo Programa de Doutorado Sanduiche no Exterior.
(2) "Foreign correspondents 'represent the best and
brightest of their profession in their native countries'"
(Willnat; Weaver, 2003, apud Rocha, 201, p. 5). A versao em portugues e
traducao livre das autoras.
(3) Os stringers sao colaboradores fixos do veiculo, mas sem um
contrato formal de trabalho, que residem na regiao de cobertura; ja os
freelancers sao profissionais que produzem para qualquer veiculo e sao
remunerados por reportagem publicada.
(4) "The reality is less glamorous and more mundane.
International journalism, like the rest of the profession of journalism,
is dull, repetitious and often desk bound" (Williams, 2011, p. 94).
A versao em portugues e traducao livre das autoras.
Tabela 1. Competencias para exercer a atividade de
correspondente
competencias Muito Importante Pouco
importante importante
Falar mais de um 31 3 --
idioma
Ser jovem e com o 4 17 10
entusiasmo dos
primeiros anos de
carreira
Ser experiente na 16 12 6
profissao
Ter habilidade com 15 12 7
as tecnologias
Ter um amplo 20 14 --
repertorio cultural
Ter facilidade de 26 8 --
adaptacao e
interesse por
conhecer novas
culturas
Ter facilidade para 26 8 --
trabalhar sozinho
Conhecer a fundo a 12 18 4
cultura e a
historia do pais
no qual trabalhara
Ter disponibilidade 26 8 --
familiar e pessoal
paramudar de pais
Competencias Sem
importancia
Falar mais de um --
idioma
Ser jovem e com o 3
entusiasmo dos
primeiros anos de
carreira
Ser experiente na --
profissao
Ter habilidade com --
as tecnologias
Ter um amplo --
repertorio cultural
Ter facilidade de --
adaptacao e
interesse por
conhecer novas
culturas
Ter facilidade para --
trabalhar sozinho
Conhecer a fundo a --
cultura e a
historia do pais
no qual trabalhara
Ter disponibilidade --
familiar e pessoal
paramudar de pais
Fonte: elaboracao da autora. Questionario on-line respondido por 34
correspondentes internacionais brasileiros no periodo de 17/12/2013 a
20/01/2014.