Science and technology in the imaginary of The Big Bang Theory: from archetypical images to updating of myths and stereotypes in the "Information Age"/Ciencia e tecnologia no imaginario de The Big Bang Theory: das imagens arquetipicas a atualizacao de mitos e estereotipos na "Era do Conhecimento".
Anaz, Silvio Antonio Luiz ; Ceretta, Fernanda Manzo
"Os tempos mudaram desde quando eramos jovens. Smart is the
new sexy."
(Howard Wolowitz, no episodio The Jerusalem Duality)
A presenca da ciencia e da tecnologia no imaginario da sociedade
contemporanea ganhou novas dimensoes com as aceleradas transformacoes
provocadas pelos avancos da informatica, novas tecnologias da
comunicacao, nanotecnologia e genetica, entre outros campos do
conhecimento, ocorridos a partir do final do seculo 20. Um dos indices
desse fenomeno foi a ascensao a condicao de estrelas midiaticas e
referencias no mundo dos negocios de inovadores no campo das tecnologias
digitais, como Bill Gates (Microsoft), Steve Jobs (Apple), Mark
Zuckerberg (Facebook) e Larry Page e Sergey Brin (Google). Nao so suas
marcas, mas tambem suas trajetorias de vida tornaram-se iconicas na
sociedade e atualizaram a imagem do jovem intelectualmente brilhante,
dedicado ao conhecimento cientifico e tecnologico. Com eles no
imaginario contemporaneo, o depreciativo conceito de nerd parece ter
ganhado novas valoracoes e conotacoes.
A trajetoria do adolescente brilhante intelectualmente que parte da
situacao de "perdedor" para se transformar na de
"vencedor" tem sido ha algumas decadas o tema de varios
produtos da industria criativa, especialmente de filmes para o cinema e
a televisao nas criacoes norte-americanas. Varias dessas narrativas
enfatizam o contraste entre a (extraordinaria) habilidade intelectual e
a (falta de) habilidade social de personagens que priorizam a busca pelo
conhecimento, a tecnologia e o discurso cientifico. De diferentes
formas, essas producoes tratam de um dos temas mais caros a cultura
norte-americana (e aquelas sob a influencia do soft power dos Estados
Unidos): a meritocracia como um dos pilares do "sonho
americano" (american dream). A recompensa aos mais bem dotados e
esforcados intelectualmente e socialmente vista como justa e correta, e
os sucessos empresariais dos fundadores de gigantes como Microsoft,
Apple, Facebook e Google reforcam sobremaneira essa visao.
Um dos produtos da industria criativa que constroi um imaginario
sobre ciencia e tecnologia que atualiza essas transformacoes e a serie
televisiva The Big Bang Theory (1), lancada em 2007 nos Estados Unidos
(2). O seriado insere-se numa tradicao de situation comedy (sitcom) (3)
norte-americana bem-sucedida em varios paises, que surge na TV com a
serie I Love Lucy, nos anos 1950, ao definir um formato de seriado
televisivo que ganharia novos patamares esteticos e comerciais a partir
da decada de 1990 com sucessos como Seinfeld e Friends.
The Big Bang Theory e um seriado comico que centra suas narrativas
ficcionais no cotidiano de um grupo de quatro amigos, jovens cientistas
intelectualmente brilhantes --sendo dois fisicos, um astrofisico e um
engenheiro--, que trabalham na Caltech (Instituto de Tecnologia da
California), em Pasadena. O mote central de boa parte dos episodios gira
em torno do contraste entre a visao de mundo do grupo--pautada pelo
racionalismo cientifico e pelo vasto conhecimento do universo da
tecnologia, da ciencia, dos super-herois, da ficcao cientifica, dos
games e de outros elementos da chamada cultura geek (4)--com o das
pessoas "comuns" com que se envolvem representadas
principalmente pela figura de uma jovem vizinha, sexy, aspirante a atriz
em Hollywood, com um nivel intelectual bem inferior, mas com habilidades
sociais bem superiores as do grupo de amigos.
[FIGURE 1 OMITTED]
Uma das particularidades de The Big Bang Theory e trazer para o
primeiro plano das narrativas o imaginario cientifico-tecnologico da
sociedade contemporanea. O discurso do nucleo central dos personagens e
os acontecimentos em boa parte dos episodios incluem fatos, metodos,
principios filosoficos e personagens dos varios campos das ciencias--das
naturais as humanidades--e da tecnologia.
Entendido o imaginario como o conjunto das atitudes imaginativas
produzidas pelo homem (Durand, 1996), e como o "cimento
social" que une os individuos ao coletivo (Maffesoli, 2001), ao
falarmos de um imaginario cientifico-tecnologico em The Big Bang Theory
nos referimos as imagens sobre esse tema que a serie cria, reproduz e
compartilha com a sua audiencia. Sendo que "imagem" aqui deve
ser entendida como "o modo de a consciencia (re)apresentar objetos
que nao se apresentam diretamente a sensibilidade" (Barros, 2009,
p. 6). Em uma obra audiovisual como The Big Bang Theory, as imagens sao
construidas a partir dos elementos simbolicos presentes nos dialogos,
cenarios, elementos de cena, trilha sonora e incidental, figurinos,
expressoes corporais dos personagens e outros elementos que compoem esse
tipo de narrativa. "Nao e a imagem que produz o imaginario, mas o
contrario. A existencia de um imaginario determina a existencia de
conjuntos de imagens. A imagem nao e o suporte, mas o resultado"
(Maffesoli, 2001, p. 76).
Neste artigo, buscamos mapear o imaginario sobre ciencia e
tecnologia no primeiro ano da serie The Big Bang Theory e analisar
alguns de seus potenciais efeitos de sentido. Junto com outras
qualidades, como a performance dos atores, direcao, producao, e, sem
duvida, o imaginario um dos vetores do sucesso da serie. Mapear sua
configuracao e entender os significados que ele potencialmente carrega
contribui para retratar o ethos que permeia o seriado e que estabelece
um processo de identificacao cultural da audiencia com esse imaginario.
Aqui, partimos da concepcao antropologica do imaginario
desenvolvida por Durand e buscamos identificar as principais imagens
arquetipicas, mitos (narrativas) e estereotipos atualizados pelo
imaginario do seriado. Nesse sentido, em uma primeira visao ampla e
geral percebemos nos varios niveis do imaginario de The Big Bang Theory
indices que remetem a tres das grandes narrativas mitologicas e
arquetipicas: Prometeu (auto-sacrificio em busca do conhecimento),
Fausto (homem moderno nao temente a Deus) e Dionisio (alteridade, festa
e caos). Mitos e arquetipos que estao nos fundamentos das forcas
centrais que estabelecem a dinamica dramatica do seriado, como veremos a
seguir.
Dos mitos fundadores aos estereotipos em The Big Bang Theory
Para Durand (1996), os mitos fundadores estao sempre circulando em
todas as sociedades ao longo da historia. Durand (2004) entende o mito
como a combinacao de simbolos e imagens e "um esboco de
racionalizacao, dado que utiliza o fio do discurso, no qual os simbolos
se resolvem em palavras e os arquetipos (matrizes de carater universal e
nao ambivalentes) em ideias" (Durand, 2010, p. 63). Ele destaca que
mesmo a tentativa do positivismo de destruicao do mito levou a
instauracao de um mito positivista:
"Auguste Comte, como antes dele Saint-Simon na Religiao
industrial, deseja depassar e destruir o obscurantismo do mito, mas
atraves de um outro mito, de uma outra teologia que nao e nova [...]
Existe entao um tipo de 'inversao' causal porque, para
combater o obscurantismo da idade do mito e das imagens
'teologicas', acentuamos uma mitologia progressista onde
triunfa o mito de Prometeu e, principalmente, onde entrevemos os
'amanhas que cantam' do reino final do Espirito Santo.
(Durand, 2004, p 10-11)
Em uma primeira e ampla observacao do imaginario da primeira
temporada de The Big Bang Theory e possivel identificarmos duas forcas
ou dois ethos antagonicos claros na narrativa. De um lado, o grupo de
jovens cientistas--representados pelos personagens Sheldon Cooper,
Leonard Hofstadter, Rajesh Kootrappali e Howard Wolowitz (5)--e do
outro, pessoas "comuns"--representadas principalmente pela
personagem Penny (garconete sexy vizinha de Sheldon e Leonard, que ate a
setima temporada nao teve seu sobrenome revelado).
Nesse sentido, elementos da mitodologia (ciencia do mito), proposta
por Durand (1993), como a mitocritica, contribuem para compreender as
fundacoes do imaginario em produtos midiaticos e o papel de catalizador
de processos de identificacao cultural que o imaginario exerce (e sua
contribuicao no exito desses produtos). Barros (2009) explica que a
mitocritica tem o objetivo de verificar temas ou metaforas obsessivas
presentes em obras da cultura em geral. A importancia da mitocritica
esta em colaborar na compreensao de uma obra a medida que:
"O mito seria, de alguma maneira, o 'modelo'
matricial de todo discurso, estruturado por padroes e arquetipos
fundamentais da psique do sapiens sapiens, a nossa. E preciso, pois,
pesquisar qual--ou quais--mito mais ou menos explicito (ou latente!)
anima a expressao de uma "linguagem" segunda, nao mitica. Por
que razao? Porque uma obra, um autor, uma epoca--ou ao menos um
'momento' de uma epoca--e 'obsedado' (Ch. Mauron),
de maneira explicita ou implicita, por um (ou mais) mito que, de maneira
paradigmatica, toma consciencia de suas aspiracoes, seus desejos, seus
medos, seus terrores ..."
(Durand, 2012, p. 131)
Em The Big Bang Theory, o grupo de jovens cientistas protagonistas
da serie traz elementos que remetem a dois mitos recorrentes na era
moderna: Fausto e Prometeu. Mitos que racionalizam os arquetipos do
sabio (6) e do mago (7) e figuram a imagem primordial da
"luz", a mesma do Iluminismo, da razao que iluminou as trevas,
e do fogo que Prometeu roubou dos deuses do Olimpo para iluminar a vida
dos homens. As imagens e simbolos do progresso, do avanco tecnologico,
da razao acima da religiao, do homem que se liberta da supersticao e nao
teme mais a Deus, da dedicacao sobre-humana (sobrenatural e titanica) em
busca do conhecimento sao alguns dos significados dessas narrativas
mitologicas associados a trajetoria e aos valores desse grupo de jovens
devotados a razao cientifica acima de tudo, ou quase acima de tudo, ja
que ha forcas "irracionais" no grupo antagonico, como o amor e
o sexo, que sempre estao a tenta-los.
O grupo de pessoas "comuns"--no qual esta Penny, e tambem
personagens eventuais como Mary Cooper, mae de Sheldon, uma devotada
crista do interior do conservador Texas (EUA), e os ex-namorados de
Penny, que primam pela beleza e forca fisica e nao pela capacidade
intelectual--formam uma forca antagonica ao primeiro grupo, que os
percebe como "diferentes", caoticos e, especialmente, no caso
de Penny, hedonista, caracteristicas derivadas do arquetipo do prazer
(da "brincadeira"). Essas caracteristicas nos remetem a
narrativa mitologica de Dionisio, deus grego dos excessos, festas,
transgressoes e imperfeicoes (que caracterizam o mundo humano).
Assim, em um primeiro e amplo olhar, o que encontramos sao
reminiscencias das mitologias de Fausto, Prometeu e Dionisio na
narrativa de The Big Bang Theory. A presenca dessas narrativas
mitologicas se da atraves de um processo de atualizacao dos mitos
fundadores nos produtos midiaticos. E, alias, nos produtos midiaticos
que se evidencia o processo de transformacao dos mitos originais, que,
conforme observado por Durand (1996), podem resultar no seu desgaste, na
sua distorcao, com a enfase em alguns de seus aspectos em detrimento de
outros, e na sua institucionalizacao, sem os aspectos selvagens e
contestatorios originais. Para Barros (2009), e nesse processo que
ocorre tambem o nascimento dos estereotipos (8).
Um dos mais evidentes estereotipos em The Big Bang Theory e o do
nerd. Definido de forma ambivalente como um especialista em tecnologia e
uma pessoa tola e desprezivel sem habilidades sociais ou que e
aborrecidamente estudiosa (9) (Oxford Dictionary, 2014), ou como uma
pessoa convencional e desinteressante ou obsessivamente estudiosa,
obcecada por maquinas e tecnicas (Houaiss, 2014), o nerd e um dos
elementos simbolicos centrais do imaginario de The Big Bang Theory. Como
estereotipo, a imagem iconica do nerd representaria a degeneracao dos
mitos de Fausto e Prometeu, ainda que mantenha bem vivas as principais
caracteristicas dos arquetipos do sabio e do mago. E em torno da imagem
do nerd que se da a dinamica da narrativa e e nela que esta a raiz de
boa parte das situacoes comicas, principalmente quando ha um choque dos
ethos do grupo formado pelos jovens cientistas (os nerds) com o das
pessoas "normais". Da mesma forma, o mito de Dionisio tambem
se degrada em uma imagem iconica, a da loira sedutora e hedonista,
estereotipo que se contrapoe ao do nerd.
Nossa percepcao e que, em The Big Bang Theory, os estereotipos e
antagonismos sao pontos de partida para a construcao de um imaginario
dialogico e densamente intertextual, principalmente no nucleo semantico
associado a ciencia e a tecnologia. Para compreendermos esse imaginario
cientifico-tecnologico que emerge da narrativa audiovisual do seriado,
buscamos mapear e analisar alguns dos principais elementos simbolicos na
primeira temporada da serie (2007-2008) que remetem a esse tema.
O imaginario cientifico-tecnologico em The Big Bang Theory
A medida que a imagem do nerd esta no centro da dinamica da
narrativa audiovisual de The Big Bang Theory, a ciencia e a tecnologia
assumem a parte central e predominante do imaginario do seriado. No
mapeamento dos 17 episodios da primeira temporada encontramos um rico
conjunto de elementos simbolicos associados a esse imaginario
cientifico-tecnologico--incluindo nele imagens e simbolos relacionados
ao universo da ficcao cientifica e tecnologia da cultura popular
(filmes, seriados, quadrinhos, livros, jogos, eventos). Dentro desse
recorte, alguns dos elementos mais redundantes nos episodios sao (Figura
2):
[FIGURE 2 OMITTED]
Nesse conjunto estao imagens de lugares, instituicoes, personagens,
atitudes, situacoes, teorias, entre outros objetos, que, para a
finalidade deste estudo, agrupamos por similaridade semantica, com o
objetivo tambem de analisar suas funcoes no imaginario. A reuniao dos
elementos relacionados ao imaginario cientifico-tecnologico resultou em
cinco grandes categorias (10), descritas a seguir:
* Teorias e praticas cientificas: agrupa imagens, simbolos,
lugares, citacoes, personalidades, praticas, atitudes e pensamentos que
remetem as teorias e praticas da ciencia moderna. Exemplos: mencoes das
teorias do Big Bang (sobre a origem do universo e que tambem esta no
titulo da serie), da gravidade, da evolucao das especies, do design
inteligente (pseudocientifica), do paradoxo do "Gato de
Schrodinger", sobre viagem no tempo; realizacao de experimentos e
pesquisas; uso de explicacoes cientificas para as acoes cotidianas;
campos e profissoes cientificas (fisicos, fisica quantica, astronomia,
matematica); mencao de fenomenos cientificos; imagens de equacoes,
calculos, estruturas moleculares; citacoes de grandes cientistas como
Albert Einstein e Stephen Hawking.
* Ficcao cientifica: agrupa imagens, simbolos, citacoes,
personagens, lugares, eventos e objetos de elementos de produtos da
cultura popular (filmes, seriados, quadrinhos, livros) dos generos
ficcao cientifica e fantasia. Exemplos: SuperHomem, Lois Lane, Star
Trek, Star Wars, Battlestar Galactica, The Flash, Guerra dos Mundos,
Captain Future, Senhor dos Aneis, Orcs, Klingon, Godzila, Planeta dos
Macacos, Exterminador do Futuro, Skynet, Goblins, Millenium Falcon,
maquina do tempo, viagem no tempo, Matrix, Hulk, Kripton, Princesa Leia,
invisibilidade, Liga da Justica, ciborgues, robos, Comic-Con.
* Tecnologia: agrupa imagens, objetos, simbolos e referencias a
elementos tecnologicos em geral, como as novas tecnologias da
comunicacao, a robotica e a tecnologia aeroespacial. Exemplos: imagens e
referencias aos robos, as leis da robotica e a inteligencia artificial;
uso de computadores e smartphones; trabalho em laboratorios equipados
com laser e outros recursos tecnologicos avancados; uso e mencao da
internet, redes sociais (MySpace, Facebook, e-Harmony), apps, blogs;
mencao a inventores (Alexandre Graham Bell, inventor do telefone);
trabalho com tecnologia espacial (satelites, naves); uso de videogames
(Wii); mencao a tecnologias avancadas (fertilizacao artificial,
acelerador de particulas, CAT scan).
* Vocabulario cientifico: agrupa termos da linguagem cientifica
(jargoes) utilizados pelos personagens centrais em seus dialogos.
Exemplos: hipotese, metodo, pesquisa, efeito doppler, CAT scan, homo
habilis, coito (interruptus), Bose-Einstein, positronium molecular,
particulas de alta energia, materia escura, anos-luz, impacto subsonico,
buraco negro, simposio.
* Instituicoes cientificas (11): agrupa imagens, simbolos e
citacoes de instituicoes ligados a ciencia e a tecnologia. Exemplos:
Massachusetts Institute of Technology (MIT), California Institute of
Technology (Caltech), banco de esperma, laboratorio, Grande Colisor de
Hadrons, revistas cientificas.
Cada uma dessas categorias exerce funcoes ora distintas ora
similares no imaginario cientifico-tecnologico do seriado em relacao a
producao de sentidos (12), pois ha uma convergencia dos elementos
simbolicos agrupados nelas em direcao a determinados significados. Sem a
pretensao de fazer uma investigacao exaustiva desse processo, neste
estudo buscamos entender como essas categorias funcionam como mediadoras
na dinamica da narrativa e apontar alguns dos potenciais efeitos de
sentido que residem nelas. Antes de avancarmos, e preciso destacar que,
como The Big Bang Theory e um sitcom, a analise dessas funcoes foi
pautada pela ideia de que elas buscam primordialmente criar situacoes
engracadas.
[FIGURE 3 OMITTED]
[FIGURE 4 OMITTED]
No imaginario de The Big Bang Theory, os elementos simbolicos
agrupados na categoria "teorias e praticas cientificas" tem
principalmente a funcao de explicar o mundo. Fatos e coisas, incluindo
as emocoes, crencas e acoes banais, sao explicados (ou procuram ser)
quase sempre sob o ponto de vista do racionalismo cientifico,
contrapondo-se ao senso comum ou a visao "superficial" das
pessoas comuns sobre o mundo. Em todos os episodios da primeira
temporada houve o uso de alguma teoria cientifica ou o recurso ao
pensamento cientifico (metodico, logico) para explicar algum
acontecimento ou comportamento banal. Alem das explicacoes teoricas, o
experimento cientifico tambem esta sempre presente na narrativa. Ele
aparece nao so como parte do trabalho dos quatro jovens cientistas que
forma o nucleo central da serie, mas tambem como opcao de lazer para
eles (controlar a distancia a iluminacao e os equipamentos eletronicos
de uma casa usando um sistema de conexao via internet e satelite, por
exemplo) e como forma deles realizarem algumas tarefas cotidianas (o
tempo necessario para aquecer uma refeicao pronta usando raio laser, por
exemplo). Esse tipo de recurso busca provocar o riso a partir da
exposicao de um conhecimento fora do comum dos protagonistas e do
exagero na sua aplicacao. Esse comportamento, que e uma das
caracteristicas principais do estereotipo do nerd, e ridicularizado no
seriado, muitas vezes, com a auto-percepcao pelos protagonistas do uso
fora de proposito ou absurdo dessa categoria na sua mediacao com o mundo
ao redor.
* Ficcao cientifica
[FIGURE 5 OMITTED]
[FIGURE 6 OMITTED]
As imagens simbolicas do universo da ficcao cientifica, oriundas
dos produtos da cultura popular (quadrinhos, filmes, series, livros,
videogames), funcionam em The Big Bang Theory como elementos de diluicao
das fronteiras entre o real e o ficcional, sob a perspectiva dos
protagonistas. Ha uma valorizacao dos elementos da ciencia
"ficcao" praticamente no mesmo patamar dos da ciencia
"nao-ficcao", sendo os temas daquela tratados com a mesma
seriedade dos desta. Assim, o desconhecimento que as pessoas comuns tem
sobre a filmografia do Super-Homem e motivo de espanto para os
protagonistas tanto quanto e o fato de elas nao conhecerem o paradoxo do
"Gato de Schrodinger" (experimento teorico da fisica
quantica). A diluicao das fronteiras leva, a nosso ver, a um
transbordamento do real para o ficcional e vice-versa: nessa (con)fusao,
o experimento do "Gato de Schrodinger" ou a teoria das cordas
e universos paralelos flutuam entre o real e o ficcional tanto quanto a
discussao sobre se e possivel, ao observar-se as leis da fisica, Lois
Lane nao ser cortada em pedacos ao ser salva pelo Super-Homem durante
uma queda de um helicoptero. Nesse sentido, tem tambem o mesmo valor na
serie as aparicoes de cientistas do mundo real, como Stephen Hawking, e
de atores consagrados em papeis de personagens da ficcao cientifica,
como Leonard Nimoy (o vulcaniano Spock, de Star Trek).
* Tecnologia
[FIGURE 7 OMITTED]
A presenca da tecnologia em The Big Bang Theory reflete de uma
forma exagerada o papel que ela assumiu na vida contemporanea. Os
significados dos elementos simbolicos que remetem ao universo
tecnologico vao muito alem do utilitarismo e do entretenimento--uso de
computadores, smartphones, videogames e outros recursos para as
atividades corriqueiras --e expressam a fascinacao dos protagonistas
pelas possibilidades tecnologicas. A discussao do papel da tecnologia na
vida dos protagonistas--um papel esperado dentro do que se consolidou
como a imagem do nerd ou do geek--, embute tambem uma disputa
--representada principalmente por Sheldon (fisico teorico) e Howard
(engenheiro) sobre a maior importancia que a teoria nas ciencias tem
sobre a pratica, o que remete as "disputas" entre as duas
principais correntes filosoficas no nascimento da ciencia moderna: o
racionalismo cartesiano e o empirismo.
* Vocabulario cientifico
[FIGURE 8 OMITTED]
O uso de terminologias cientificas no lugar da linguagem coloquial,
como, por exemplo, coitus interruptus em vez de relacao sexual ou
"transa", e de jargoes do mundo academico, como
"hipotese" ou "metodo", operam na narrativa no
sentido de reforcar o vasto conhecimento dos protagonistas--isto e, suas
condicoes de sabios--em suas carreiras como cientistas e academicos e
tambem de criar situacoes de exagero ao usa-las em situacoes coloquiais.
Os termos cientificos funcionam tambem para dar um certo ar
"pudico" a algumas das falas.
* Instituicoes cientificas
[FIGURE 9 OMITTED]
As instituicoes operam no imaginario de The Big Bang Theory
principalmente nos sentidos de valorizarem (darem respeitabilidade e
status) as praticas, posicoes e pontos de vistas dos protagonistas e
tambem como "ancoras" da narrativa ao mundo real. Assim como
os elementos simbolicos da categoria ficcao cientifica, os das
instituicoes cientificas tambem funcionam na diluicao das fronteiras
entre o real e o ficticio na narrativa.
As cinco categorias de elementos simbolicos que configuram o
imaginario cientificotecnologico de The Big Bang Theory convergem para
redundancias que dirigem os sentidos desse imaginario. Tambem contribui
para isso a ampla riqueza intertextual que o imaginario da serie
carrega, ao estabelecer dialogos com diversos lugares da cultura,
expandindo o alcance das significacoes. A seguir analisamos as relacoes
dessas categorias com imagens arquetipicas e narrativas miticas e de que
forma o imaginario da serie as atualiza.
A atualizacao de mitos e estereotipos atraves da comedia
"[...] na Era do Conhecimento, Sheldon, eu e voce somos os
machos alfa."
(Leonard Hofstadter, no episodio The Middle Earth Paradigm)
A visao cientifica (racionalista e metodica) do mundo, o
"culto" a tecnologia, o valor supremo das instituicoes
cientificas e a diluicao da fronteira entre o real e a ficcao sao
algumas das principais significacoes que emergem do imaginario da
primeira temporada de The Big Bang Theory. Com elas veem junto a
valorizacao do progresso, do conhecimento cientifico, da sabedoria como
iluminadora dos caminhos da humanidade e dos cientistas e inventores
como os "herois" dos novos tempos. Esse conjunto de
significados compoe um dos aspectos centrais do retrato que a serie
busca tracar da influencia da ciencia e da tecnologia na sociedade
contemporanea. Essa visao, ainda que atraves de construcoes
estereotipadas, resgata imagens arquetipicas e atualiza narrativas
miticas neste comeco de seculo 21.
E preciso ressaltar que no imaginario da "Era do
Conhecimento" (13) o mito de Fausto ocupa um lugar central, lado a
lado com Prometeu. A ciencia e a tecnologia e os cientistas e os
inventores--personificacoes dos arquetipos do sabio, do mago e da luz
--sao protagonistas neste principio de terceiro milenio. O mito
faustico, que representa o homem moderno, que tenta superar Deus, dar
significado a vida decifrando os misterios do mundo, atraves da ciencia,
e controlar a natureza, atraves da tecnologia, ocupa nesse cenario um
lugar de destaque. No mundo moderno, "o mito faustico transforma-se
em um 'mito vivo', um relato que confere modelo para a conduta
humana" (Heise, 2001, p. 48).
The Big Bang Theory desenvolve uma visao sobre a quase onipresenca
do imaginario cientifico-tecnologico na sociedade contemporanea e as
relacoes dele com uma vida ordinaria que se transforma, a medida que o
universo cientifico, o academico e a tecnologia invadem o cotidiano. O
seriado constroi um olhar sobre o protagonismo dos mitos faustico e
prometeico e o antagonismo dionisiaco. Mas faz isso a partir de uma
visao comica que busca o riso ao mostrar, principalmente, o exagero e o
absurdo no uso da ciencia e da tecnologia no dia a dia e o conflito dos
estereotipos do nerd e das pessoas comuns--o primeiro resultado de uma
desmitologizacao de Prometeu e Fausto, e o segundo da degradacao do mito
de Dionisio.
Tambem a imagem arquetipica do "heroi" e atualizada
atraves das referencias intertextuais, como nas imagens iconicas dos
elementos da ficcao cientifica (simbolo do Super-Homem, espada Jedi,
fantasia do Flash, etc), nas cenas de disputa entre o novo
"heroi" da Era do Conhecimento--o "heroi"
faustico--e o antigo "heroi" detentor apenas da forca fisica
(14) e, tambem, na "veneracao" aos grandes cientistas, como
Stephen Hawking. E interessante notar que a missao do heroi na cultura
grega (da qual a cultura ocidental e ciencia moderna sao herdeiras) e
garantir a ordem do cosmos contra a volta do caos. Foi essa a missao de
Heracles, filho de Zeus e seu representante no mundo dos homens, na luta
daquele contra a ressurgencia das forcas do caos, herdeiras dos Titas
(Ferry, 2012, p. 279). Em The Big Bang Theory, os elementos cientificos
nao ficcionais e ficcionais assumem esse papel.
Do ponto de vista de sua estrutura de narrativa audiovisual, The
Big Bang Theory possui duas qualidades principais que contribuem para o
seu sucesso enquanto produto de comedia. Primeiro, a serie reproduz o
formato tradicional do sitcom, cujos codigos fazem parte do repertorio
dos espectadores ha mais de cinquenta anos, desde o esquema de tres
cameras cruzadas na captacao (conhecido como three-headed-monster) ate a
claque, que simula o riso de espectadores presentes em estudio. Alem
disso, a serie parodia e satiriza contexto e personagens que se
relacionam com o imaginario cientifico-tecnologico dos espectadores, que
esta em pleno processo de enriquecimento neste inicio de seculo 21.
Ao construir a comedia, existe uma importancia da familiarizacao
das audiencias com o universo retratado na ficcao. Nem todos riem das
mesmas piadas. A causa para este fenomeno pode residir, segundo Propp
(1992), em condicoes de ordem historica, social, nacional e pessoal.
"Cada epoca e cada povo possui seu proprio e especifico sentido de
humor e de comico, que as vezes e incompreensivel e inacessivel em
outras epocas" (Propp, 1992, p. 32).
As pesquisas acerca da comedia antiga, segundo Ortolan, apontam
para a utilizacao dos temas que mais afetam a sociedade na epoca em que
cada texto era elaborado. Tanto o contexto das historias quanto as
personagens eram baseados em politica, guerra, educacao, religiao,
discriminacao sexual, etc. (Ortolan, 2004, p. 15). Bergson afirma que o
nosso riso sempre tem um grupo implicito:
"O nosso riso e sempre o riso de um grupo. Ele talvez nos
ocorra numa conducao ou mesa de bar, ao ouvir pessoas contando casos que
devem ser comicos para elas, pois riem a valer. Teriamos rido tambem se
estivessemos naquele grupo. Nao estando, nao temos vontade alguma de
rir. [...] Por mais franco que se suponha o riso, ele oculta uma segunda
intencao de acordo, diria eu quase de cumplicidade, com outros
galhofeiros, reais ou imaginarios."
(Bergson, 1983, p. 7)
Provavelmente apenas uma pequena parcela daqueles que assistem a
The Big Bang Theory seja composta por cientistas, como fisicos,
engenheiros ou biologos, mas a serie relata situacoes e personagens de
facil identificacao. Amigos solteiros dividindo um apartamento, os
desafios de socializar com outras pessoas (principalmente com garotas),
disputas academicas e outras situacoes com as quais um jovem
contemporaneo possa se relacionar, tudo isso em um universo de
referencias geek bastante populares, sobretudo em uma epoca em que
filmes de super-herois sao tao populares e lucrativos em Hollywood
(Buchanan, 2013). Quando o cotidiano e situacoes retratadas no sitcom
assemelham-se ao que vivemos ou projetamos nesses ambientes, estamos
inseridos no grupo necessario para o riso sobre o qual falava Bergson.
The Big Bang Theory propoe uma rapida assimilacao das
caracteristicas das personagens. Sheldon, Leonard, Penny, Howard e Raj
possuem personalidades facilmente identificaveis e a serie busca
explicar, ja nas entrelinhas dos dialogos e situacoes dos primeiros
episodios, as inclinacoes e problemas de cada um deles. A identificacao
maior do espectador supostamente e com Leonard, o desajustado que
desperta interesse na vizinha bonita e popular.
O comportamento nerd do quarteto masculino, em geral, encontra
maior afinidade com a audiencia atualmente do que em qualquer periodo
anterior. Desde a virada do milenio, aparatos tecnologicos sofisticados
estao cada vez mais presentes em toda e qualquer atividade do dia a dia
das pessoas em paises desenvolvidos. Desta forma, o imaginario
cientifico-tecnologico esta em constante enriquecimento atraves de
nossas vivencias e interesses.
Como vimos nas funcoes assumidas pelas categorias de elementos
simbolicos que operam no imaginario do seriado, seus sentidos emergem
como resultado da tensao do universo cientifico-tecnologico com o
cotidiano. Enquanto Fausto, Prometeu e os herois assumem o protagonismo,
os elementos dionisiacos fazem o antagonismo que resulta na comicidade.
Mas essa nao e uma tensao dualistica e sim dialogica (em que ha um
dialogo entre interlocutores e entre visoes de mundo que seus discursos
expressam), a medida que cada interlocutor e afetado e, as vezes,
transformado pelos valores e atitudes do outro.
A partir desse imaginario cientifico-tecnologico, a comicidade
exerce um papel fundamental no processo de producao de sentidos atraves
do recurso aos excessos e absurdos da presenca da ciencia e tecnologia
na visao de mundo dos protagonistas --como mostraram as redundancias dos
significados das categorias de elementos simbolicos aqui mapeados--assim
como na completa ausencia de raciocinio logico nos personagens
dionisiacos, em algumas situacoes. As redundancias encontradas
confirmaram as imagens arquetipicas inicialmente percebidas e
acrescentaram outras operando no imaginario da serie--como as do sabio,
da luz, do mago, do heroi e do hedonista--e tambem confirmaram a
presenca de indices que remetem em maior ou menor grau a narrativas
(mitos) como as de Prometeu, Fausto e Dionisio. Esses elementos que se
constituem em imagens e narrativas universais, ainda que nao sejam
percebidos imediatamente pelo espectador, podem contribuir de forma
fundamental para o processo de identificacao cultural da audiencia com o
imaginario do seriado (alias, esse e um ponto promissor a ser estudado
em nossas futuras investigacoes--que incluam tambem o estudo da
recepcao--sobre o papel do imaginario nos processos de identificacao
cultural).
Vimos que o nerd em The Big Bang Theory tem a sua comicidade
explorada de formas mais complexas, que vao alem do estereotipo do
"cientista maluco" ou do "esquisito solitario".
Afinal, na "Era do Conhecimento", todos precisamos ser um
pouco nerds para nos relacionarmos com o mundo cientifico-tecnologico ao
redor e, portanto, estamos mais propensos a rir com as situacoes
apresentadas em The Big Bang Theory.
REFERENCIAS
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arquetipos aos estereotipos nas imagens midiaticas. E-compos--Revista da
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NOTAS
(1) The Big Bang Theory e uma criacao de Chuck Lorre e Bill Prady.
E produzida em conjunto pela Warner Bros Television e a Chuck Lorre
Productions e veiculada pela rede CBS.
(2) A serie esta em 2014 em sua setima temporada e ira pelo menos
ate a decima temporada. A audiencia media saltou nos Estados Unidos de
8,3 milhoes de espectadores por episodio, na primeira temporada
(2007/2008), para 19,8 milhoes de espectadores por episodio na setima
temporada (Steinberg, 2014). Por suas seis primeiras temporadas, a serie
recebeu 27 premios, entre elas, dois Emmy e um Globo de Ouro.
(3) Situation comedy (comedias de situacao), mais conhecidas como
sitcoms, sao "historias curtas e independentes, com personagens
fixos, que utilizam como quadro de referencia o mundo exterior proprio
de um determinado nucleo social, familiar ou profissional, colocando em
cena a vida e/ou as atividades profissionais das pessoas pertencentes a
esse grupo. Esses programas nao costumam ter data de encerramento
pre-definida, podendo estender-se, no tempo, enquanto houver audiencia
e, consequentemente, patrocinio e/ou publicidade" (Duarte, 2008, p.
1).
(4) Apesar de dicionarios como o Oxford Dictinary (2014) trazer uma
definicao de geek muito similar a do nerd--alguem socialmente inapto e
um entendido ou entusiasta obsessivo de um determinado assunto--o termo
tem uma conotacao menos pejorativa. Experimento realizado pelo cientista
de dados e engenheiro de software Blurr Settles mostrou que o termo geek
esta relacionado a coisas, enquanto o termo nerd se mostrou mais proximo
de ideias (Settles, 2013). Termos como quadrinhos, Instagram, colecoes e
cosplay sao mais associadas a geek, enquanto seminario, neurociencia,
fisica e biologia sao mais associadas a nerd.
(5) A partir da terceira temporada a esse grupo totalmente
masculino juntaram-se duas personagens femininas, igualmente brilhantes
intelectualmente e com carreiras academicas: Amy Farrah Fowler (como
namorada de Sheldon Cooper) e Bernadette Rostenkowski (como namorada e
depois esposa de Howard Wolowitz).
(6) O sabio arquetipico e aquele que busca o conhecimento para
chegar a verdade, pois somente a verdade liberta. Ele faz isso atraves
do uso da inteligencia, da capacidade analitica para entender o mundo,
da autorreflexao e de processos para entender como funcionam os
pensamentos.
(7) O mago arquetipico e um visionario busca entender as leis
fundamentais do universo e fazer as coisas acontecerem, encontrar
solucoes, desenvolver uma visao de mundo e viver de acordo com ela.
(8) Entendidos os estereotipos como "mitos
desmitologizados" (Barros, 2009, p. 7), ou seja, o resultado de uma
"visao supersimplificada e usualmente carregada de valores sobre as
atitudes, comportamento e expectativas de um grupo ou de um
individuo" (Edgar; Sedgwick, 2003, p. 107).
(9) A foolish or contemptible person who lacks social skills or is
boringly studious; a single-minded expert in a particular technical
field.
(10) As categorias foram definidas e nomeadas a partir do
recenseamento dos elementos simbolicos mais frequentes nos episodios da
primeira temporada. Alguns dos elementos simbolicos podem associar-se a
mais de uma categoria em funcao de sua semantica.
(11) Referimo-nos a instituicoes em sua acepcao mais ampla,
incluindo nao so universidades, institutos de pesquisa, orgao oficiais,
mas tambem a linguagem e as praticas morais e culturais.
(12) Ainda que nao haja uma equivalencia entre os elementos
simbolicos, no conceito de Durand sobre o imaginario, e o signo da
semiotica peirciana, ha em nossa visao um processo similar em relacao a
producao de sentidos por ambos. Baseado na relacao triadica do signo
estabelecida por Peirce, e possivel ver em cada elemento simbolico o
interpretante imediato, isto e, o potencial interpretativo que esta
contido nele, e o interpretante dinamico, que e o efeito de sentido que
ele efetivamente produz na mente do interlocutor.
(13) Fase historica em que ha uma valorizacao economica e social do
conhecimento e do desenvolvimento de novas capacitacoes pelos individuos
e organizacoes (Economia Baseada no Conhecimento), intensifica-se o
processo de globalizacao e ha o acelerado desenvolvimento e disseminacao
de novas tecnologias de informacao e comunicacao.
(14) A disputa entre a inteligencia e a forca fisica e
representada, por exemplo, no primeiro e sexto episodios da primeira
temporada quando Leonard tem de "enfrentar" Kurt, o atletico
ex-namorado de Penny.
Recebido em: 20 mar. 2014
Aceito em: 15 maio 2014
Endereco dos Autores:
Silvio Antonio Luiz Anaz <silvioanaz@hotmail.com>
Fernanda Manzo Ceretta <fmceretta@gmail.com>
Pontificia Universidade Catolica de Sao Paulo (PUC-SP)
Programa de Pos-Graduacao em Comunicacao e Semiotical
Rua Monte Alegre, 984--Predio Bandeira de Mello--4 andar--Perdizes
05008-000 Sao Paulo, SP Brasil
SILVIO ANTONIO LUIZ ANAZ
Doutor em Comunicacao e Semiotica pela Pontificia Universidade
Catolica de Sao Paulo. Pesquisador do Grupo de Pesquisa Comunicacao e
Criacao nas Midias, Pontificia Universidade Catolica de Sao Paulo
(PUC-SP).
<silvioanaz@hotmail.com>
FERNANDA MANZO CERETTA
Mestrado em Comunicacao e Semiotica na Pontificia Universidade
Catolica de Sao Paulo. Integrante do Grupo de Pesquisa Comunicacao e
Criacao nas Midias, Pontificia Universidade Catolica de Sao Paulo
(PUC-SP).
<fmceretta@gmail.com>