A pixelizacao dos muros: Graffiti urbano, tecnologias digitais e cultura visual contemporanea.
Campos, Ricardo
The pixelization of the wall: urban graffiti, digital technologies
and visual culture
Ograffiti e, sempre o foi, nas suas multiplas manifestacoes, um
modo de comunicacao. A particularidade do graffiti e que se trata de uma
forma de comunicacao de natureza transgressiva que e realizada no espaco
publico urbano. Estes sao os dois principais requisitos do graffiti de
inspiracao norte-americana, que foi colonizando o espaco urbano de
tantas cidades por esse mundo fora.
O territorio citadino tem sido, por isso, o suporte privilegiado
para aqueles que fazem graffiti se expressarem atraves de uma gramatica
visual com as suas convencoes e codigos estilisticos. Todavia, nao e
exclusivamente desse tipo de comunicacao que pretendemos falar neste
artigo. Procuramos analisar algumas das alteracoes registadas neste
campo, promovidas pelo uso cada vez mais generalizado das tecnologias de
registo de imagem em articulacao com a internet.
Diversos projectos de investigacao por nos desenvolvidos nos
ultimos anos, junto de diversos jovens da area metropolitana de Lisboa
(1), tem fornecido uma serie de dados que apontam no sentido da
constituicao de uma cada vez mais solida integracao dos mecanismos e
estrategias de comunicacao online na pratica do graffiti e na
constituicao e hierarquizacao deste campo social. Lemos estas
disposicoes recentes como estando em sintonia com a propria historia do
graffiti urbano, feita de hibridismo de linguagens visuais, da mistura de tecnicas e tecnologias expressivas, da criatividade e inovacao.
Enquadramo-las, igualmente, numa serie de tendencias mais genericas
associadas a uma crescente e irreversivel tecnologizacao e digitalizacao
da sociedade, bem como a uma gradual preponderancia da imagem e das
gramaticas (audio)visuais na forma como comunicamos.
O que e o graffiti?
Quem circula pelas grandes urbes neste inicio de seculo XXI
certamente se apercebera de uma serie de elementos comuns, nao apenas de
coincidencias desconexas, mas da presenca de um horizonte que, a
superficie, nos parece familiar. Multiplos emblemas e iconografias de
uma globalizacao crescente relembram-nos que vivemos num mundo cada vez
mais interconectado, onde imagens, imaginarios, bens e pessoas
transitam, deixando marcas profundas nos territorios. As marcas desta
globalizacao estao especialmente presentes na aparencia do mundo
fabricado pelo homem. Dos emblemas das poderosas multinacionais aos
estilos e modas internacionais, passando pelos idolos cinematograficos,
desportivos e televisivos, deparamo-nos com variadas evidencias deste
circuito planetario. Um olhar mais atento aos limiares desta realidade
urbana global, aos seus elementos menos evidentes e, no entanto, mais
visiveis na sua paisagem, descobrira uma forma de expressao que se
afirma, cada vez mais, como uma manifestacao global: o graffiti.
A arquitetura da cidade e usada como sustentaculo imprevisto para a
inscricao de signos de natureza diversa, com significados e intuitos
distintos. Diferentes atores deste cenario urbano apropriam-se dos
recursos ao seu dispor, convertendo o territorio num espaco com profundo
significado social e semiologico. A cidade e, por isso, uma linguagem,
no entender de Barthes (1987), sendo que o graffiti se inscreve nesta
cidade polifonica (Canevacci, 1997), nesta paisagem humana composta por
multiplos agentes, vasos comunicantes, codigos e idiomas. Dai uma
primeira acepcao do graffiti. Este pressupoe uma linguagem e um circuito
comunicacional e e fabricado por determinados agentes, de acordo com
certos codigos e convencoes estilisticas. Apenas alguns dominam o
processo codificado, o que nos indica que estamos perante uma comunidade
reservada, para alguns uma verdadeira subcultura, que criou codigos,
padroes, praticas, linguagens e ideologias a margem do modelo dominante
(Campos, 2010; MacDonald, 2002).
Apesar da sua linguagem hermetica, o graffiti da-se a ver, pretende
exposicao, e e realizado no espaco publico almejando uma vastissima
plateia. Nao existe graffiti sem este principio basico: apropriacao do
espaco publico para a exibicao de mensagens privadas. Ha que atender ao
graffiti considerando as estrategias de producao cultural que visam a
conquista de um espaco de visibilidade na cidade contemporanea. Este e
executado para ser olhado. Alias o espaco de visibilidade e
hierarquicamente avaliado de acordo com a nobreza que o lugar ocupa aos
olhos do eventual publico.
Argumentamos, neste artigo, que uma analise ao graffiti urbano
ficaria enriquecida se o contemplassemos integrando-o no contexto de uma
reflexao em torno da cultura visual contemporanea. O graffiti, enquanto
conteudo comunicacional, e enquanto processo social e cultural, parece
ter fortes afinidades com algumas das caracteristicas definidoras da
cultura visual contemporanea. Sao diversas as razoes que nos levam a
fazer tal afirmacao. Realcemos apenas algumas. Em primeiro lugar, o
graffiti consiste num mecanismo de comunicacao e numa linguagem visual
de natureza hibrida, um produto composito que se inspira na cultura de
massa e nos diversos media contemporaneos (publicidade, cinema,
fotografia, televisao, quadrinhos e cartoons). Em segundo lugar, e uma
linguagem mutavel e crescentemente globalizada, presente sob diferentes
tonalidades nos quatro cantos do planeta. Em terceiro lugar, revela-se
bastante permeavel as novas tecnologias e aos trafegos mediaticos
globais, elementos que sao apropriados pelos agentes nas suas praticas
quotidianas. E, por isso, um objeto em constante reinvencao.
A dinamica primordial do graffiti reside num ato tao simples
quanto, aparentemente, inconsequente. Os writers (2), assim se
autodenominam aqueles que se inscrevem neste movimento, pretendem
adquirir visibilidade atraves de uma marcacao persistente, massificada e
transbordante do espaco urbano. A sinalizacao do espaco atraves de
siglas codificadas, o tag (3), e a tatica adotada (ver Fig. 1). Nas
palavras de Maria Augusta Babo (2001, p. 229): "o acto de afirmacao
joga-se na emergencia mesma da sua visibilidade: eu sou visivel, logo
existo". Deste modo, a conquista do espaco de visibilidade da
cidade, atraves do tagging, revela a capacidade de atuacao dos agentes
neste campo, permitindo identificar niveis de valoracao e hierarquias.
[FIGURA 1 OMITIR]
Essa manifestacao urbana de tendencia global tem as suas origens no
movimento graffiti novaiorquino surgido ha mais de tres decadas,
associado a uma cultura hip-hop entao emergente (Castleman, 1982; Cooper
e Chalfant, 1984). E um fato que este fenomeno hoje assume desiguais
expressoes, que identificamos inumeras orientacoes esteticas,
estilisticas e mesmo ideologicas que mantem com o movimento original
afinidades bastante elasticas. No entanto, indiscutivelmente, o
movimento graffiti hip hop representa as origens miticas deste fenomeno
citadino, entretanto globalizado.
Como classificar, nao obstante as diferentes concepcoes existentes,
neste fenomeno? Diferentes autores tem sobre este objeto visoes
variaveis, fruto dos seus olhares disciplinares mas, igualmente, das
particularidades das diversas expressoes de graffiti que encontramos
atualmente. Um ponto de partida possivel, e que facilita a analise,
reside na disjuncao que se pode estabelecer a partir da ideia de
transgressao. Esta segmentacao remete a dois tipos de acao que resultam
em distintos generos de graffiti: aquele que e claramente transgressor e
subversivo e aquele que vive nos limiares do socialmente aceite.
Sejamos claros, o movimento graffiti e por natureza transgressor,
expressa-se atraves de acoes e conteudos que sao alvo de perseguicao das
autoridades, sao criminalmente punidos e socialmente depreciados. O
graffiti e, desde o seu inicio, uma acao ilegal, uma conquista do espaco
publico ou da propriedade alheia para a inscricao de uma mensagem que,
para a maioria dos cidadaos, e inconsequente e indecifravel. Todavia, em
resultado de uma historia de cerca de quatro decadas e da amplitude territorial que este fenomeno adquiriu, tolerando o aparecimento de
multiplas expressoes locais de uma mesma linguagem, encontramos
atualmente um complexo mosaico de manifestacoes que se reconhecem
herdeiras do movimento graffiti original. Entretanto, nem todas as
manifestacoes assumem a natureza transgressiva da acao, desenvolvendo em
alternativa um modelo ideologico e uma pratica que remetem para outros
horizontes.
Assim, o movimento parece cindido em dois tipos de praticas que,
nao sendo estanques, parecem definir perspectivas de acao
ideologicamente e estilisticamente diferenciadas. De uma forma
simplificada a dicotomia vive entre as expressoes ilegais e as legais
(ou semilegais) (4). As primeiras, genericamente, estariam mais proximas
da acao primordial do graffiti, uma expressao transgressora e agressora,
uma forma de resistencia simbolica e de desafio aos poderes
estabelecidos, uma acao pautada pelo risco e pelo excesso. As segundas
representariam uma maior aproximacao do graffiti as esferas da vida
coletiva socialmente institucionalizadas, uma maior permeabilidade a
outros agentes, ideologias e idiomas, uma busca por linguagens e
praticas mais consensuais. Inscreveriamos, neste caso, o bombing
(street-bombing e train-bombing), tagging, throwing-up, na primeira
categoria (ver Fig. 2); e os murais com a tradicional denominacao de
Hall of Fame, que podem abranger outras expressoes muralistas de
razoavel dimensao, na segunda dimensao (ver Fig. 3).
Em Portugal, os writers assumem esta visao dicotomizada do campo,
entre o vandalismo do graffiti ilegal (train e street bombing) e a
vocacao artistica do graffiti semilegal (hall of fame) contribuindo,
desta forma, para a construcao de uma representacao do graffiti que
oscila entre a estetica (arte) e o delito (vandalismo) (Campos, 2010).
No contexto brasileiro esta dualidade expressa-se entre o grafite e a
pichacao (5), (Gitahy, 1999; Ramos, 1994; Manco, Art e Neelon, 2005). A
pichacao pode ser definida como "um protografite, que parte de um
processo mais anarquico de criacao, onde o que importa e transgredir e
ate agredir; marcar presenca, provocar, chamar a atencao sobre si e
sobre o suporte [...] Nao ha qualquer gesto estetico qualitativo
obrigatorio" (Ramos, 1994, p. 47). As atitudes perante estas duas
manifestacoes sao divergentes, uma vez que sao entendidas como
realidades distintas, com propositos e linguagens singulares (6).
[FIGURA 2 OMITIR]
[FIGURA 3 OMITIR]
Cultura visual contemporanea
A sociedade contemporanea parece, cada vez mais, imersa na imagem e
na visualidade. Diferentes autores sao consensuais no diagnostico que
fazem da nossa cultura ocidental, revelando a crescente importancia que
as tecnologias oticas e visuais e os circuitos audiovisuais foram
adquirindo ao longo do ultimo seculo (Mirzoeff, 1999; Messaris, 2001;
Robins, 1996; Morley; Robins, 2002; Baudrillard, 1991). Segundo alguns,
a nossa condicao atual resulta de um processo historico longo que tende
a afirmar a supremacia da visao e das suas extensoes tecnologicas na
forma como percepcionamos, interpretamos, descodificamos e retratamos a
realidade (Synnot, 1992; Classen, 1997; Jenks, 1995). A modernidade
designaria a visao como o mais nobre dos sentidos, o mais poderoso
auxiliar sensorial do homem, capacitado para conhecer e destrincharr de
forma rigorosa a superficie do mundo. (7)
Sabemos que o homem sempre se exprimiu atraves de simbolos
pictoricos e artefactos materiais que condensam algo da cultura
partilhada pela comunidade. Todavia, nas ciencias sociais, sao cada vez
mais aqueles que consideram que o nosso sistema cultural contemporaneo
esta particularmente vinculado as imagens e que, como tal, estariamos
perante a uma cultura essencialmente visualista. Segundo Jenks,
habitamos uma sociedade ocularcentrica (1995), enquanto Nicholas
Mirzoeff (1999), na mesma linha de raciocinio, introduz a ideia de
visualizacao da existencia, uma condicao relativamente recente na
historia da humanidade que atravessa a nossa vida e diferentes esferas
do agir coletivo.
Diferentes aspectos da nossa condicao contemporanea, como a
mediatizacao e globalizacao, a estilizacao e estetizacao do quotidiano,
a fetichizacao dos objetos, (Canevacci, 2001; Lury, 1997; Featherstone,
1991; Maffesoli, 1996; Baudrillard, 1991, 1995) parecem, de fato,
corroborar as analises de Jenks e Mirzoeff, entre outros. Esta
centralidade das imagens e da visao nao se encontra apenas na dimensao
simbolica, ludico-estetica, de fenomenos associados ao consumo e lazer
das massas. Os aparatos militares e de vigilancia estatal recorrem, cada
vez mais, a modernos formatos de registo, controle e manipulacao visual
do mundo (Robins, 1994). Tambem na ciencia a imagem parece ter, ao longo
do ultimo seculo, adquirido um papel fulcral patente na relacao intima que se estabeleceu entre determinadas disciplinas cientificas, certos
aparatos opticos e visuais (Sicard, 2006) e diferentes representacoes
visuais (Chaplin, 1994).
A nocao de cultura visual forjada no ambito de disciplinas ligadas
aos estudos artisticos e de uso recente no contexto das ciencias sociais
e humanas. Apropriada por diferentes areas disciplinares, revela-se um
campo de estudo de natureza transdiciplinar, inspirado por diferenciadas
tradicoes teorico-metodologicas, objetos de estudo e interesses
disciplinares. Nao existe, portanto, uma abordagem unica nem um consenso
em torno do esqueleto conceitual que da corpo a este conceito (Walker;
Chaplin, 1997). Entendo que a nocao de Cultura Visual remete a horizonte
particular da producao cultural humana: o universo composto pelas
linguagens e artefatos de indole visual. Logo, a cultura visual de uma
comunidade, podera ser examinada a partir das suas criacoes pictoricas e
graficas mas, igualmente, a partir de tudo o que isto envolve, ou seja,
as gramaticas visuais e respectivos formatos de comunicacao, bem como,
as relacoes sociais, culturais e simbolicas que se estabelecem no ambito
da criacao e partilha dos bens visuais.
Gostaria de destacar duas ideias que entendo fulcrais para a
caracterizacao da cultura visual contemporanea e que estao diretamente
articulados com a forma como se constroi o graffiti na atualidade.
Referimo-nos ao forte vinculo existente entre a cultura visual atual e
as dinamicas acentuadas de globalizacao, tecnologizacao e digitalizacao
do quotidiano.
A ideia de que a globalizacao cultural que vivemos de forma
acelerada ao longo do ultimo seculo esta fortemente vinculada as imagens
e imaginarios promovidos por extensos circuitos mediaticos nao e nova
(Thompson, 1999; Lull, 2000, 2001; Appadurai, 2004). Parece existir uma
forte vinculacao entre os mecanismos de globalizacao e a nossa cultura
visual, num contexto em que as imagens assumem um elevado protagonismo
enquanto bens culturais de circulacao planetaria (Campos, 2008). Este e
um eixo central para a analise da cultura visual no nosso tempo, na
medida em que permite dar conta, por um lado, da expansao planetaria das
tecnologias visuais e das linguagens visuais (e audiovisuais) suportadas
por estes meios e, por outro lado, da preponderancia da imagem enquanto
signo primordial no contato intercultural, como revela um breve inventario dos icones planetarios. O antropologo Arjun Appadurai (2004)
recorre ao termo mediapaisagens (mediascape) para descrever a
importancia dos fluxos mediaticos num contexto de globalizacao cultural:
"O aspecto mais importante destas mediapaisagens e que
fornecem (especialmente sob a sua forma de televisao, cinema e cassete)
vastos e complexos reportorios de imagens, narrativas e etnopaisagens a
espectadores em todo o mundo, e nelas estao profundamente misturados o
mundo das noticias e da politica [...] tendem a ser explicacoes
centradas na imagem, com base narrativa, de pedacos da realidade, e o
que oferecem aos que as vivem e as transformam e uma serie de elementos
(como personagens, enredos e formas textuais) a partir dos quais podem
formar vidas imaginadas, as deles proprios e as daqueles que vivem
noutros lugares." (Appadurai, 2004, pp. 53-54)
Mais recentemente, as tecnologias digitais, afirmam-se como
protagonistas inquestionaveis de novas dinamicas sociais e culturais que
marcam decisivamente os contornos da visualidade contemporanea. O uso
crescente das novas tecnologias digitais tem incentivado a producao
individual de bens de natureza visual e audiovisual a uma escala ate
aqui desconhecida. Estas ferramentas facilitam a exploracao visual do
mundo, atraves da captacao e manipulacao de imagens, sendo que o fato de
terem se tornado cada vez mais acessiveis, em termos de disponibilidade
e de preco, favorece claramente a sua propagacao. Este impeto produtivo
e acompanhado por um maior trafego de imagens. Diferentes utensilios
digitais permitem uma migracao de informacao entre suportes com uma
enorme capacidade de acumulacao de dados de natureza diversa (discos
rigidos, cartoes de memoria, CD-ROMs, DVDs, etc.).
A importancia crescente que o conceito de cultura visual tem
alcancado recentemente, parece decorrer, entao, desta ideia em voga que
atribui a visao, ao olhar e as tecnologias visuais uma grande
centralidade na forma como se estruturam as dinamicas culturais
contemporaneas. Ora, argumentamos que o graffiti urbano esta
profundamente imerso na cultura visual contemporanea sendo mesmo um
objeto paradigmatico desta visualidade contemporanea (Campos, 2010). O
graffiti converteu-se, em primeiro lugar, numa expressao transnacional,
um idioma cultural tendencialmente global apesar das inevitaveis
idiossincrasias regionais. Como tal, e um produto dos tempos de recente
globalizacao que convertem um fenomeno originalmente restrito em termos
geograficos e culturais numa manifestacao presente em multiplas
geografias e culturas.
Um olhar atento a esta enunciacao visual urbana revela-nos, por
outro lado, uma sintese imagetica e comunicacional de natureza hibrida,
uma mescla de diferentes gramaticas e media visuais caracteristicos dos
tempos presentes. No graffiti surgido ha mais de tres decadas em Nova
Iorque identificamos a presenca de diferentes generos e personagens que
remetem ao universo dos quadrinhos e cartoons, da televisao e do cinema,
da fotografia, da publicidade e da pop art (Castleman, 1982; Cooper e
Chalfant, 1984). O graffiti novaiorquino representa uma linguagem
inteiramente original, um produto cultural composito que busca em
diferentes expressoes de um quotidiano visualmente explosivo a
inspiracao para fabricar uma nova forma de comunicacao. Esta e uma
expressao tipica do hibridismo cultural, dos fluxos planetarios e da
desterritorializacao que caracterizam o nosso tempo e que se anunciam,
igualmente, na cultura visual presente. O graffiti contemporaneo coabita
com estas dinamicas culturais, acompanha as mutacoes tecnologicas e
mediaticas, respira o crescimento das cidades, alimenta-se de multiplas
e distintas mobilidades. E um reflexo da cultura visual contemporanea
contribuindo ativamente para a configuracao que esta assume.
A pixelizacao do graffiti
Sendo o graffiti uma atividade socialmente a margem e nao
institucionalizada, e natural que respire em concordancia com os novos
tempos, estando liberta de impedimentos burocraticos e de dogmatismos
oficiais. Sendo, igualmente, uma pratica essencialmente realizada por
jovens, e perfeitamente compreensivel que seja o produto daquilo que sao
os modos e estilos de vida juvenis. Estes caracterizam-se por serem
extremamente dinamicos e criativos, por buscarem espacos de
expressividade a margem das instituicoes oficiais e do mundo adulto e
por estarem, cada vez mais, imersos num complexo sistema comunicacional
e tecnologico que serve de base a constituicao de gramaticas
comunicacionais originais e de vasos comunicantes singulares.
A aparicao da internet e a relativa expansao e democratizacao do
acesso a uma serie de tecnologias de comunicacao e de producao de
conteudos digitais produz novas realidades juvenis, e conduz a
alteracoes em muitos dos habitos e rotinas institucionalizados no seio
das culturas juvenis. De alguma forma, os engenhos digitais foram
assimilados pelos jovens, sendo incorporados em praticas antigas ou
contribuindo para a emergencia de novos fenomenos (como as comunidades
virtuais).
Nao por acaso, o reputado antropologo e estudioso das culturas
juvenis Carles Feixa (2006) define a juventude contemporanea como a
geracao[C], reconhecendo a significancia deste elemento para a
caracterizacao deste grupo etario. As novas geracoes parecem
extremamente habeis no uso das tecnologias possuindo, geralmente,
competencias tecnologicas que em muito ultrapassam as geracoes mais
velhas. Diria ainda, que estes possuem competencias visuais (Muller,
2008) muito acima da media, na medida em que cresceram num ambiente
comunicacional saturado de imagens e tecnologias audiovisuais. A ideia
de competencia visual, de acordo com Muller (2008) decorre da
necessidade de pensar as novas aptidoes individuais que resultam de uma
serie transformacoes de natureza comunicacional, dos quais a autora
identifica as seguintes: uma disseminacao global de bens visuais; um
incremento da producao visual de natureza amadora; uma
descontextualizacao dos bens visuais.
Como diversos autores (Campos, 2009; Simoes, 2009, 2010; Bennet,
2004; Khan e Kellner, 2004) tem feito notar, no ambito das culturas (e
subculturas) juvenis, o universo online passa a coexistir como uma
realidade paralela ao mundo offline, sendo que estes tendem a
alimentar-se mutuamente. O impacto da internet nestes contextos juvenis
percebe-se, se tivermos em atencao as palavras do sociologo Jose Simoes,
que afirma o seguinte:
"A possibilidade de utilizacao de conteudos sem restricoes ou
controlo aparente torna a Internet um meio com caracteristicas sem
precedentes. A difusao global encontra-se ao alcance de qualquer um. Com
efeito, o que faz diferir o processo de difusao na Internet do de outros
media e justamente o facto de qualquer individuo poder ser produtor
(emissor) de um conteudo, independentemente dos seus recursos (mesmo que
estes condicionem de alguma forma a feicao dos conteudos que
apresentam)." (Simoes 2008, p. 140)
Dai que a internet se tenha convertido, nos ultimos anos, num
valioso recurso, na medida em que "abre possibilidades criativas
para os jovens que vao significativamente alem daquelas associadas aos
media mais convencionais" (Bennett, 2004, p. 168). Mas a internet
tambem se pode tornar num vigoroso instrumento de ativismo nas maos dos
jovens, como ficou demonstrado pela capacidade de mobilizacao verificada
no contexto dos movimentos antiglobalizacao (Khan; Kellner, 2004) e,
mais recentemente, nas revolucoes ocorridas no mundo Arabe, indiciando a
existencia de formulas novas de resistencia, de reivindicacao politica e
ideologica que escapam ao controle das instancias de poder.
Os weblogs e photologs e, mais recentemente, as redes sociais como
o Myspace, Hi5 ou Facebook tiveram um impacto profundo, atuando como
nodulos de uma extensa cadeia de comunicacao. De igual modo, o Youtube
tem servido como veiculo privilegiado de representacao visual, desta
forma, afirmando-se como uma especie de canal alternativo que escapa a
logica dos media audiovisuais tradicionais, permitindo que jovens
estabelecam a sua agenda e divulguem determinados conteudos
(audio)visuais por eles criados. A producao audiovisual
"privatizou-se enquanto a disseminacao se globalizou" diz-nos
Muller (2008, p. 102). Argumentei, por isso, que em contextos juvenis os
media digitais podem ser reconhecidos como tecnologias de memoria,
tecnologias de comunicacao, tecnologias de representacao e narracao
(Campos, 2009b). Vejamos ate que ponto esta situacao tem impacto na
cultura graffiti que, desde as suas origens, se preza de ser uma
manifestacao essencialmente de rua.
Desde logo nao podemos separar a relevancia das tecnologias
digitais da importancia que o registo em imagem sempre teve nesta
cultura. A maquina fotografica foi, desde os primordios do graffiti, um
elemento central para a constituicao de acervos documentais extremamente
importantes, num contexto em que as obras produzidas sao estritamente
efemeras. Uma pintura num muro ou num trem pode desaparecer em horas ou
dias, dependendo da forma como as autoridades ou os proprietarios dos
bens reagem a esta situacao. O registo fotografico servia, portanto, de
testemunho acerca das obras realizadas mas, igualmente, de fonte
documental para as memorias individuais e coletivas dos pintores de
graffiti. A fotografia digital veio, indubitavelmente, reforcar a
significancia deste elemento. Para alem das camaras fotograficas, os
telemoveis (8) com capacidade para registo de imagem tambem se
converteram em ferramentas banais entre os writers. Estes aparelhos
facilitam o registo, reproducao e circulacao das imagens, com imensas
vantagens por comparacao com as fotografias analogicas (9). De igual
modo, o registo em video comecou a fazer parte dos procedimentos de
muitos writers, com a vantagem de ser uma forma de representacao mais
exata e realista das missoes executadas pelos mesmos. O video retrata
com precisao os movimentos e emocoes presentes no ato, os seus perigos e
imprevistos.
Esta relevancia da fotografia e do video, no fundo reforca algo que
ja foi identificado por diversos autores (Campos, 2010b; Feixa; Porzio,
2008), ou seja, a centralidade que a imagem tem na afirmacao das
culturas juvenis, servindo como campo expressivo crucial para a
distincao entre grupos. Atraves da imagem individual e de grupo, os
jovens transmitem-nos algo sobre as suas filiacoes identitarias, sobre
os seus gostos, praticas e valores. Como nos diz Paul Willis, (1990, p.
1) "Os jovens estao todo o tempo a expressar ou a tentar expressar
algo sobre a sua actual ou potencial significancia cultural". Ser
punk, skinhead ou rastafari nao assenta apenas na adesao a um conjunto de normas, valores e habitos mas, igualmente, na partilha de convencoes
comunicacionais e codigos simbolicos que gerem a forma como os
individuos se apresentam no quotidiano. Ha, por isso, um complexo
sistema semiotico que esta na base da forma como o cabelo e penteado e
cortado, que sugere as roupas e os adornos corretos, ou o eventual uso
de piercings e tatuagens. Os jovens sao especialistas nao apenas nesta
profusa criacao visual mas, igualmente, na descodificacao das subtilezas
presentes nesta linguagem, desta forma conseguindo identificar as
distintas tribos juvenis que povoam a metropole. As tecnologias digitais
de registo em imagem apenas vem fortalecer este campo de expressao,
oferecendo novas possibilidades para a comunicacao visual entre jovens.
Concluimos, pois, que a importancia que a imagem digital assume no
graffiti so pode ser compreendida em estreita complementaridade com
outros aparatos tecnologicos (hardware e software) e com a gigantesca
rede de comunicacao representada pela internet. Se inicialmente a
fotografia apenas circulava de mao em mao, agora esta exposta e
disponivel para uma imensa plateia. Isto altera completamente as
estrategias comunicacionais de quem faz graffiti. Os websites e weblogs,
o Flickr ou Youtube, bem como as redes sociais operam como expositores
das facanhas dos diferentes grupos, servindo ainda para uma permanente
troca de informacoes, desta forma mantendo um sentido de atualidade que
reforca a dinamica interna. Atraves destes meios os jovens partilham
imagens dos graffitis mais recentes, conhecem novos protagonistas,
fortificam lacos sociais e disseminam ideias e tendencias (10).
Assim, os media digitais permitem uma desmaterializacao e
deslocalizacao do graffiti. Se originalmente esta era uma expressao
fortemente ancorada no espaco fisico da cidade e na materialidade do
suporte (muro, carruagem de trem, etc.), atualmente as imagens do
graffiti multiplicam-se e viajam pela internet perdendo o vinculo
exclusivo que mantinham com o lugar. A facilidade de circulacao da
imagem comporta alteracoes fundamentais na relacao entre os produtores
de imagem e o seu potencial publico. O espectador, que anteriormente era
constituido aleatoriamente a partir de quem se movia pelas ruas da
cidade, alarga-se, permitindo a formacao de um publico virtual, um novo
destinatario do graffiti contemporaneo. Deste modo, ja nao se faz so
graffiti para expor nas paredes, ha que ter em consideracao, igualmente,
uma exposicao amplificada potenciada pela internet. Consequentemente, e
possivel aos writers conhecerem autores e trabalhos de proveniencias
distintas, promovendo uma ideia de comunidade global e de linguagem
universal. Podemos falar, entao, de uma deslocalizacao social do
graffiti, a partir do momento que as redes que se constituem nao residem
exclusivamente (ou primordialmente) nos lacos sociais locais (de bairro
e cidade), mas antes numa extensa malha de interlocutores, de produtores
e receptores de informacao, a nivel global.
Uma pesquisa recente (11) pela internet, revela-nos a existencia de
uma malha global motivada pelo imaginario do graffiti (12). Assim, o
famoso Youtube, um site de carregamento e partilha de videos, dispunha
de aproximadamente 87.500 videos na categoria graffiti, dos quais 686
eram relativos a Portugal. O Flickr, um aplicativo para gestao e
partilha de fotografias na internet, anuncia cerca de 14 mil membros,
pertencentes a um grupo identificado com o rotulo graffiti (totalizando
mais de 282.000 fotografias), sendo 145 identificados num grupo sobre
graffiti em Portugal. Uma intensificacao da exploracao deste universo
online, noutro tipo de recursos e aplicativos, certamente conduziria a
mesma conclusao.
Conclusao
Compor uma mensagem atraves de um conjunto de simbolos, de natureza
textual ou pictorica, como acontece com o caso em estudo--o graffiti--,
pressupoe a existencia de um circuito de comunicacao, a presenca de um
autor e de um eventual destinatario da mensagem. Dai que se coloque,
legitimamente, a questao: para quem e com que intuito os writers e as
suas crews (13) pintam a cidade? Digamos que existe uma clara
consciencia em quem produz graffiti que ha um potencial publico, que a
pintura e produzida, necessariamente, para ser avistada. Como tal, esta
inscrita num campo de visibilidade, que e usado inteligentemente de modo
a atingir, preferencialmente, um grande numero de pessoas. Enquanto ato
comunicativo so adquire sentido se alcancar um destinatario, se for
descoberto pelos inumeros habitantes urbanos que se deslocam diariamente
pela cidade. Porem, como vimos, as possibilidades comunicacionais
abertas pelas plataformas digitais vieram alterar substancialmente esta
situacao, reconfigurando quer a pratica, quer os utensilios, quer as
estrategias comunicacionais.
Na verdade, a agencia e a criatividade simbolica (Willis, 1990) dos
jovens parecem assentar, em grande medida, na sua capacidade de ocupacao
e gestao estrategica de um campo de visibilidade, tal como este e
entendido por Brighenti (2007), que o descreve como um campo social que
conjuga os dominios da estetica e da politica. Jogar entre a
invisibilidade (resguardando determinadas praticas dos olhares
censurantes do mundo adulto e das instancias oficiais e de poder) e a
necessaria visibilidade (decorrente do ato de comunicar, de expressar
uma identidade cultural) e algo que os jovens tem aperfeicoado ao longo
dos tempos. Diferentes culturas juvenis aprenderam a gerir esta
duplicidade, ora funcionando em contextos mais subterraneos e
resguardados, ora fazendo aparicoes publicas marcantes e utilizando a
visibilidade e a comunicacao visual (atraves do corpo, indumentaria,
gestualidade) para delinearem claramente fronteiras simbolicas. As
tecnologias digitais oferecem-se, assim, como extensoes destes recursos
largamente empregues pelos jovens. Atraves de cameras fotograficas e de
video registam facanhas, atuacoes, praticas culturais especificas ou a
banalidade do quotidiano. Atraves da internet constroem redes sociais,
com um grau de abertura e permeabilidade diferenciada, por onde circula
informacao. Mas atraves da internet tambem comunicam com publicos mais
vastos, abrindo caminho a uma potencial plateia universal.
A globalizacao, digitalizacao e expansao dos media eletronicos
alteraram substancialmente os formatos da comunicacao e interacao
humana. A internet converteu-se, atualmente, num territorio
incontornavel para quem estuda as culturas juvenis. Nao apenas a
internet, mas tudo aquilo que sao sistemas moveis de comunicacao,
permitindo um constante e rapido fluxo de informacao em rede,
convertem-se em componentes fundamentais para os jovens (Castells et
al., 2004). Diferentes estudos demonstram um acesso crescente dos jovens
a internet, sendo que esta nao e usada apenas com propositos de consumo
mas, cada vez mais, com objetivos de producao e divulgacao de conteudos
(Hargitai; Walejko, 2008; Lenhart et al., 2007). Por outro lado, a maior
producao e disseminacao de conteudos digitais, no caso dos jovens,
parece estar associada a atividades de criacao cultural (musica, danca,
fotografia, video, etc.) que, deste modo, servem para alimentar as
plataformas digitais. Isto parece aplicarse, tambem, a atividades
marginais ou alternativas, como o graffiti. Consequentemente, hoje em
dia nao se faz graffiti para exibir apenas nas paredes, a grande maioria
do writers desenvolve estrategias tendo em consideracao, igualmente, um
largo horizonte de exposicao online. Deste modo, os muros de cidades
como Lisboa, Londres, Barcelona, Toquio, Nova Iorque, Sao Paulo ou Rio
de Janeiro, vao sendo continuamente pixelizados, as imagens digitais
representando os graffitis que nelas se fazem oferecem-se a uma vasta
plateia planetaria, navegando por incontaveis redes. A disseminacao de
bens visuais nao esta mais controlada por governos ou grandes
corporacoes mediaticas, estando atualmente disponivel a produtores nao
especializados.
Esta situacao demonstra-nos como as culturas e linguagens visuais
urbanas se encontram em permanente mutacao, adaptando-se aos contextos
sociais, culturais, economicos e tecnologicos envolventes. Tal como a
cultura hip-hop foi, nos anos 70 do seculo passado, a resposta cultural
de uma juventude urbana ostracizada, composta por jovens de minorias
etnicas em situacao de exclusao social, o graffiti que encontramos
atualmente e uma expressao hibrida e tecnologicamente mediada, em grande
medida o resultado de uma cultura visual assente nas tecnologias, na
globalizacao de imaginarios e referencias iconicas e na constante
remistura de signos e linguagens visuais.
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NOTAS
(1) Refiro-me ao projeto de Doutoramento em Antropologia Visual
(Universidade Aberta) que deu origem a publicacao Porque pintamos a
cidade: uma abordagem etnografica ao graffiti urbano (Campos, 2010) e a
participacao enquanto investigador no projeto internacional Inclusao e
participacao digital (convenio Faculdade de Ciencias Sociais e Humanas,
Universidade do Porto e University of Texas at Austin). Destes projetos
resultaram uma serie de entrevistas aprofundadas que foram
complementadas com pesquisas online e com aquilo que poderiamos definir
como uma etnografia virtual, composta pela observacao e exploracao de
conteudos online e pela constante comunicacao, via internet, com
diversos protagonistas da pratica do graffiti urbano.
(2) Duas caracteristicas destacam-se imediatamente quando lidamos
com os autores do graffiti urbano. Estes sao geralmente jovens, do sexo
masculino. A natureza do graffiti esta particularmente associada a esta
dupla condicao, etaria e de genero (MacDonald, 2002; Campos 2010).
(3) O tag e um identificador do writer, um pseudonimo criado por
este que lhe permite atuar de forma anonima.
(4) Deve-se acrescentar que o graffiti entendido por legal e, raras
vezes tomado no sentido estrito do termo, pois geralmente e de natureza
ilegal embora seja mais facilmente tolerado por poderes publicos e
privados e por grande parte dos cidadaos. Todavia existem casos em que a
permissao dos proprietarios do espaco pintado confere a esta actividade
um cunho nao marginal, nao-ilegal.
(5) Alguns autores, como Pereira (2010), adoptam o termo pixacao
(com "x").
(6) Para um enquadramento do grafite e da pichacao no contexto
brasileiro baseei-me principalmente nos textos de Alexandre Pereira
(2010), Celso Gitahy (1999), Celia Ramos (1994), Luciano Spinelli (2007)
Manco, Art e Neelon (2005).
(7) Os modelos sensoriais estao dependentes de uma particular
concepcao do corpo, de uma forma de o utilizar e representar que e,
obviamente, consequencia da historia e cultura das coletividades humanas
(Classen, 1997; Synnott, 1992; Sauvageot, 1994). Esta supremacia da
visao relegaria os outros sentidos, principalmente o gosto, o olfacto e
o tacto, para posicoes menos dignas da hierarquia sensorial (Synnot,
1992; Classen, 1997).
(8) A imagem fotografica banalizou-se, tal como os registos
fotograficos que, hoje em dia, sao cada vez mais do quotidiano
"banal" e nao apenas de momentos "cerimoniais". A
fotografia por telemovel e a grande responsavel por esta situacao
(Meirinho, 2010). Sabemos ate que ponto a fotografia produzida por
telemoveis se tornou uma actividade normal do quotidiano dos jovens,
sendo que actualmente existe em Portugal uma grande disseminacao de
telemoveis com este tipo de caracteristicas (Meirinho, 2010).
(9) A fotografia analogica exigia algum investimento monetario na
compra e revelacao dos filmes, bem como na necessaria mediacao de
elementos que faziam a revelacao das fotografias, colocando em causa o
anonimato dos pintores de graffiti.
(10) No entanto, e importante notar que este peso da internet nao e
apreciado por muitos writers que aqui encontram uma perversao do
espirito original da cultura graffiti, baseada essencialmente na
aquisicao de prestigio a partir da obra realizada na rua (ver Campos,
2010).
(11) Pesquisa realizada nos seguintes sites
<http://www.flickr.com> e <http://br.youtube.com>. Acesso
em: 1 de abr de 2011.
(12) Obviamente que nem todos os sites, blogs, photologs, etc. sao
produzidos por individuos integrados na comunidade graffiti. Muitos
serao obra de meros curiosos ou estudiosos do movimento.
(13) Crew e a denominacao originalmente atribuida a um grupo de
writers que funciona como uma equipe, adotando geralmente uma sigla de
identificacao. No caso brasileiro, a crew tambem e denominada de bonde
ou coletivo (Spinelli, 2007).
Ricardo Campos
Doutor e investigador auxiliar do laboratorio de Antropologia
Visual do CEMRI, Universidade Aberta. <rmocampos@yahoo.com.br>