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文章基本信息

  • 标题:Musica e cibercultura.
  • 作者:Montenegro de Lima, Clovis Ricardo ; Santini, Rose Marie
  • 期刊名称:Revista Famecos - Midia, Cultura e Tecnologia
  • 印刷版ISSN:1415-0549
  • 出版年度:2009
  • 期号:December
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Editora da PUCRS
  • 摘要:Os processos de producao da informacao e do conhecimento tambem mudam. Ganha maior dimensao a producao de informacao e de conhecimento intensivos, de produtos personalizados, e de signos e imagens, em contraposicao a producao de bens materiais padronizados. As caracteristicas da sociedade industrial perdem forca com a flexibilizacao globalizada das formas de organizacao social. A convergencia de mudancas sociais e tecnologicas produz mudanca nas relacoes de producao economica e de conhecimento. O processo social de desenvolvimento cientifico e tecnologico tem implicacoes culturais e politicas cumulativas, que mudam as formas de discutir, produzir e organizar informacao, enfim, de agir e de representar a sociedade.
  • 关键词:Popular music

Musica e cibercultura.


Montenegro de Lima, Clovis Ricardo ; Santini, Rose Marie


No final do seculo XX iniciam-se globalmente mudancas historicas que desmantelam muitas configuracoes sociais que marcam a Modernidade. Ha mudancas nos regulamentos economicos e sociais, a reestruturacao de formas organizacionais, a quebra de representacoes e expectativas. Ha atualmente maior incerteza em relacao ao futuro e enfraquecimento dos vinculos e das solidariedades sociais do trabalho.

Os processos de producao da informacao e do conhecimento tambem mudam. Ganha maior dimensao a producao de informacao e de conhecimento intensivos, de produtos personalizados, e de signos e imagens, em contraposicao a producao de bens materiais padronizados. As caracteristicas da sociedade industrial perdem forca com a flexibilizacao globalizada das formas de organizacao social. A convergencia de mudancas sociais e tecnologicas produz mudanca nas relacoes de producao economica e de conhecimento. O processo social de desenvolvimento cientifico e tecnologico tem implicacoes culturais e politicas cumulativas, que mudam as formas de discutir, produzir e organizar informacao, enfim, de agir e de representar a sociedade.

Castells (2001) observa que cada modo de desenvolvimento e definido pelo elemento fundamental a promocao da produtividade no processo de producao. No modo de desenvolvimento industrial, a principal fonte de produtividade se encontra na introducao de novas fontes de energia e na capacidade de descentralizacao do uso de energia ao longo dos processos de producao e de circulacao. Na sociedade da informacao a fonte de produtividade se encontra na tecnologia de geracao de conhecimentos, de processamento da informacao e de comunicacao de simbolos.

O elemento essencial para a construcao da sociedade da informacao no Brasil, de acordo com Miranda (2000), e a implantacao de uma solida plataforma de telecomunicacoes, na qual possam difundir-se e florescer as aplicacoes em areas de denso conteudo e de retorno social. Isto requer a instalacao e fortalecimento de adequada infra-estrutura de escolas, bibliotecas e laboratorios, a fim de que uma nova geracao de brasileiros se prepare para o futuro.

A sociedade da informacao se desenvolve atraves da operacao de conteudos sobre a infra-estrutura de conectividade. Miranda (2000) afirma que o fenomeno que melhor caracteriza o funcionamento em rede e a convergencia progressiva que ocorre entre produtores, intermediarios e usuarios em torno de recursos, produtos e servicos de informacao afins.

Uma das contribuicoes mais relevantes da Internet e permitir que qualquer usuario venha a ser produtor, intermediario e usuario de conteudos. O alcance dos conteudos e universal, resguardadas as barreiras linguisticas e tecnologicas do processo de difusao. E por meio da operacao de redes de conteudos de forma generalizada que a sociedade atual vai se mover para a sociedade da informacao.

A Internet inclui as pessoas nao somente como receptores passivos, mas tambem como agentes ativos e determinantes, livres para escolherem o conteudo, interagirem com ele, independentemente do espaco e do tempo em que se localizam o usuario e os conteudos. A Internet enriqueceu o papel do usuario, do cidadao, dotando-o com o potencial e a capacidade de produtor e intermediario de conteudos (Miranda, 2000).

A convergencia tecnologica vem eliminando os limites entre os meios de comunicacao, tornandoos solidarios em termos operacionais, e erodindo as tradicionais relacoes que mantinham entre si e com seus usuarios. A tecnologia digital torna possivel o uso de uma linguagem comum: tudo pode ser transformado em digitos e distribuido por fios telefonicos, fibras oticas e satelites ou ainda por via de um meio fisico de gravacao, como discos digitais ou pen-drive. A digitalizacao torna o conteudo totalmente plastico, isto e, qualquer mensagem, som ou imagem pode ser editada, mudando de uma forma e suporte.

A tecnica participa ativamente da ordem cultural, afirma Levy (1993). Quando uma circunstancia, como a mudanca tecnica, desestabiliza o antigo equilibrio das forcas e das representacoes, estrategias ineditas e aliancas inusitadas tornam-se possiveis. Uma infinidade de agentes sociais explora as novas possibilidades, antes que uma nova situacao se estabilize provisoriamente, com seus valores e sua cultura locais. Usando uma expressao de Levy: a tecnica e uma "caixa de Pandora metafisica".

Levy (1993) pensa que a presenca ou a ausencia de certas tecnicas fundamentais da comunicacao permite classificar as culturas em algumas categorias gerais. Esta classificacao apenas auxilia a localizar os polos da historia. Nao deve fazer com que se esqueca que cada grupo social, em dado instante, encontra-se em situacao singular e transitoria frente as tecnologias intelectuais.

Os polos da oralidade, da escrita e da informatica nao sao eras, e, observa Levy (1993), nao correspondem a epocas determinadas. A cada instante e a cada lugar os tres polos estao sempre presentes, mas com intensidade variavel. O uso de um determinado tipo de tecnologia intelectual coloca enfase particular em certos valores, certas dimensoes da atividade cognitiva ou imagem social do tempo, que se tornam entao mais explicitamente focadas e discutidas e ao redor dos quais se cristalizam formas culturais particulares.

Quando descreve e discute a formacao cultural atual, que denomina de cibercultura, Levy (1999) afirma que existem tres grandes etapas da historia da cultura: a das sociedades fechadas, de cultura oral; a das sociedades civilizadas, usuarias da escrita; e a da cibercultura, que corresponde a globalizacao concreta das sociedades. Cabe observar que ele sublinha que a segunda e a terceira etapa nao eliminam a anterior: relativizam-na, acrescentando-lhe dimensoes suplementares.

O quadro 1 apresenta alguns processos de deslocamento dos meios de comunicacao e da cultura musical da modernidade para a sociedade da informacao. A cena musical moderna esta profundamente vinculada as series da industria cultural e a cultura de massas. A musica popular moderna tem a forma de cancoes, que sao reproduzidas pelo fonografo e se difundem pelo radio e televisao. Os discos de vinil registram as celebridades e as estrelas populares. Os toca-discos ocupam espaco na casa das familias modernas. Na cultura moderna a industria fonografica produz e vende milhoes de discos em serie.

A cena musical da sociedade da informacao esta profundamente vinculada as novas tecnologias de informacao e comunicacao. A musica eletronica tem a forma de obra aberta, compactadas sob a forma de arquivo MP3 e fluindo no espaco virtual da Internet. A criatividade coletiva registra as suas colagens sonoras. Os CDs e os DVDs sao formas transitorias de armazenamento de musica. Os aparelhos que tocam MP3 sao o atual objeto de desejo de milhoes em todo o mundo. A musica se dissemina na internet. Vivemos a expansao das web-radios, sites de compartilhamento e redes P2P.

Levy (1993) adverte que nos falta recuo para avaliar de forma plena todas as consequencias das mutacoes tecnologicas sobre a producao e a economia da musica atual, sobre as praticas musicais e a aparicao de novos generos. Cabe mencionar que a maior parte dos observadores esta de acordo quanto a ver na emergencia dos instrumentos e dos meios eletronicos e digitais uma ruptura comparavel a da invencao da notacao ou ao surgimento do disco de vinil.

Comunicacao e cibercultura

A cibercultura e o conjunto de processos tecnologicos e sociais emergentes a partir da decada de 70 do seculo XX, com a convergencia das telecomunicacoes, da informatica e da sociabilidade contra-cultural da epoca (Breton, 1990; Castells, 2001), que tem enriquecido a diversidade cultural mundial e proporcionado a emergencia de culturas locais em meio ao global supostamente homogeneizante. Uma das principais caracteristicas dessa cibercultura planetaria e o compartilhamento de arquivos, musica, fotos, filmes, etc., construindo processos coletivos (Lemos, 2004).

Assistimos a emergencia de novas praticas comunicacionais no ciberespaco (e-mails, listas, sites de relacionamentos, weblogs, webcams, icq, chats), da arte eletronica, de novas formas de acao politica (cibercidadania, ciberativismo, hackers), transformacoes culturais e eticas (softwares livres, redes P2P, politicas de privacidade) e uma nova configuracao comunicacional (liberacao do polo da emissao) nos ambientes digitais de comunicacao.

A cibercultura pode ser compreendida como processo socio-tecnico da atualidade, marcada basicamente por redes telematicas, sociabilidade online e navegacao planetaria em busca de informacao (Lemos; Cunha, 2003). A cultura contemporanea esta marcada pela interacao comunicacional. A cibercultura nao e determinada pela tecnologia: tratase de uma relacao que se estabelece pela emergencia de novas formacoes sociais e tecnologias digitais. Nao se trata de determinismo tecnologico, isto e, de nomear epocas historicas pelos seus respectivos conjuntos de artefatos, mas sim de fenomeno social que possui potencialidades e negatividades a partir das tecnologias contemporaneas.

Quando tratamos das questoes relacionadas a musica na cibercultura, podemos pensar no grau de penetracao da Internet no mundo, e principalmente no Brasil, que ainda e restrita. Nao foi diferente em relacao aos outros meios de comunicacao. Quando o radio ou a televisao surge, seu acesso era um privilegio de poucos. Atualmente radio e TV possuem penetracao de aproximadamente 95% na populacao brasileira.

Em relacao ao suportes utilizados pela industria cultural da musica, por exemplo, percebemos claramente que os ciclos de vida do vinil, da fita magnetica ou do CD duram de 15 a 25 anos, e assim surgem sempre novos formatos para uso cultural, o que leva a "reconfiguracao" dos suportes anteriores. Constatamos que as novas tecnologias provocam acoes e reacoes significativas, que geram adequacoes e novas formas de uso de recursos existentes.

Emerge na cibercultura uma Mass Self Communication (Castells, 2006) que esta presente na Internet e tambem no desenvolvimento dos telefones celulares. Estimase que existem atualmente mais de um bilhao de usuarios de internet e cerca de dois bilhoes de linhas de telefonia celular no mundo. Um terco da populacao do planeta pode se comunicar gracas aos telefones celulares, inclusive em lugares onde nao ha energia eletrica nem linhas de telefone fixo. Em pouco tempo houve a explosao de novas formas de comunicacao. As pessoas desenvolveram seus proprios sistemas: o SMS, os blogs, sistemas P2P, o skype, entre outros.

O Peer-to-Peer ou P2P (1) torna possivel a transferencia de qualquer dado digitalizado, principalmente a musica. Em maio de 2006, havia 37 milhoes de blogs (em janeiro de 2006, havia 26 milhoes). Em media, um blog e criado por segundo no mundo, o que significa 30 milhoes por ano. Aproximadamente 55% dos blogueiros continuam a alimentar seus blogs ate tres meses depois deles terem sido abertos. A quantidade de blogueiros e 60 vezes maior do que era ha seis anos. E ele dobra de seis em seis meses (Castells, 2006).

Musica: da cultura de massas a cibercultura

O conceito de industria cultural foi originalmente elaborado por Adorno e Horkheimer (1970) na decada de 1930, a partir de suas impressoes das industrias fonograficas e do cinema. Eles vivem na epoca em que a producao em larga escala, baseada na racionalizacao e na divisao social do trabalho, promove uma desarticulacao das formas de vida anteriores. A industrializacao se introduz tambem nas artes e na cultura, especialmente com a invencao do fonografo e das maquinas do cinema.

Adorno (1999) se interessou pela passagem da audicao de uma execucao musical por artistas para a audicao da mesma musica por meio do fonografo. O uso deste meio mecanico para multiplicar a audicao musical que lhe sugere a expressao "industria cultural". Esses filosofos se voltam contra o uso de meios mecanicos de transmissao musical, pois pensam que a qualidade de composicao e interpretacao deve ser observada na comunicacao com o publico, e contra a intermediacao cultural.

A cultura de massas nao pode ser considerada uma arte que nasce de modo espontaneo, diz Adorno (1999). Na era industrial, "as massas" nao conhecem nada alem da obrigacao de se distrair e de relaxar, como parte do necessario processo de recriar a forca de trabalho esgotada. O modo de producao capitalista determina a deterioracao da cultura e da arte. A industria cultural subordina os elementos da cultura, da arte e do divertimento.

A comunicacao, a arte e a cultura sofrem profunda reorganizacao com o aparecimento das novas tecnologias digitais. As maquinas e os suportes eletronicos de producao, de armazenamento e de difundir induziram a profundas transformacoes na forma de produzir e no que se produz. A musica na era digital vive uma grande reorganizacao das praticas de criacao e difusao. Ha uma mudanca no uso e na disseminacao da linguagem musical (Santini, 2005).

A Internet altera o modo de fazer e experimentar a cultura. O carater hiper-midiatico da web promoveu a "virtualizacao da musica" de modo muito especial, amparada na sua digitalizacao. Isto significa dizer que qualquer obra musical e passivel de producao, compactacao e difusao a maneira de um arquivo de texto ou imagem digital. A "cibercultura"--isto e, a sinergia entre a esfera tecnologica das redes de comunicacao e a sociocultural--imprimiu um redimensionamento ao mundo da musica advindas das tecnicas de compressao em arquivos de audio (Levy, 1999).

A transmissao de arquivos musicais na Internet muda as relacoes entre produtores e usuarios de musica. Por um lado, os produtores de musica podem disseminar com facilidade a sua obra, tornando-a virtualmente acessivel a milhoes de pessoas sem grandes custos de distribuicao. Por outro lado, os usuarios podem recuperar e usar arquivos musicais sem depender da mediacao da industria fonografica. A possibilidade de que a musica circule sem um suporte fisico faz com que produtores e usuarios dependam menos da intermediacao da industria fonografica. As maquinas e seus mecanismos de busca ampliam as possibilidades de encontro entre publico, obras e autores (Santini, 2005).

A necessidade de simplificar o uso dos arquivos digitais musicais recuperados atraves da Internet faz surgir dispositivos para sua reproducao. A facilidade de recuperar os arquivos da Internet (download) e produzir unidades personalizadas de armazenamento trouxe importantes mudancas na relacao dos usuarios com o mundo da musica. A unidade conceitual do album ou CD com menos de uma hora de musica e substituida pela possibilidade de arquivar milhares de musicas, escolhidas aleatoriamente, em um pequeno tocador portatil de MP3. O usuario atual quer as facilidades proporcionadas pelas novas tecnologias e carregar todas as cancoes preferidas tornou-se viavel e comodo. Forma-se uma cultura de uso da musica muito particular na cibercultura.

A recuperacao e o uso das informacoes dos arquivos digitais de audio estao muito facilitados e isto coloca em questao os modelos de uso produzidos pela industria fonografica. Ha perplexidade das grandes gravadoras em relacao ao aumento explosivo da disseminacao de arquivos de musica, atraves do download e da transmissao de cancoes nas radios online. As grandes empresas da industria fonografica parecem nao ter percebido o enorme potencial da Internet na difusao dos bens culturais, focando apenas os aspectos comerciais negativos (Santini, 2005).

A Internet articula virtualmente uma musicoteca, potencialmente sem limites. A facilidade de inserir os arquivos, de faze-los circularem, de compartilha-los e de recupera-los muda os processos de difusao e de uso da musica. As grandes gravadoras perderam o controle do que pode ser gravado, distribuido e usado. A historia da circulacao de arquivos digitais de musica atraves da Internet esta apenas comecando.

Na Internet o papel mediador das grandes gravadoras e posto em xeque, encurtando o caminho entre o artista e o publico: cada vez mais artistas produzem sem vinculos com a industria fonografica. O barateamento e a descentralizacao da producao estudios, editoras, graficas e distribuidoras menores surgem em grandes quantidades para atender a demanda dos artistas independentes--possibilitam a musicos e interpretes maior autonomia para producao e distribuicao de suas obras.

As inovacoes tecnologicas modificam as formas de uso da musica. O download de cancoes e o compartilhamento de arquivos na Internet se popularizam, facilitando a escolha dos ouvintes. Aumenta o valor da experimentacao como uma etapa importante no processo de uso da musica. O usuario de musica se coloca numa posicao privilegiada com a Internet: navegando na rede, o usuario pode escolher e experimentar, dentre os mais variados gostos, as cancoes que quer ouvir, na hora que melhor lhe convier, dispensando, dentro de alguns limites, a intermediacao da industria da musica.

As conexoes de alta velocidade (banda larga) estao cada vez mais acessiveis, abrindo espaco ao trafego limpo e ininterrupto de sons e imagens. Nao so usuarios, mas tambem produtores independentes estao otimistas: musicos ignorados pela industria cultural divulgam e compartilham cancoes na rede. As opcoes de uso crescem a medida que a quantidade de producoes aumenta significativamente, devido ao barateamento das novas tecnologias de producao, difusao e uso da musica.

Alem da diversidade e da possibilidade de experimentacao, outro aspecto que se mostra extremamente relevante no uso da musica atraves da Internet e o grau potencial de intervencao. Os suportes tradicionais de informacao--como livro, disco, filmes--oferecem algumas possibilidades de intervencao: pode-se avancar e retornar sobre um mesmo trecho de um romance, repetir uma certa cena de um video ou diminuir o volume de um disco ou um CD. Estas parecem limitadas em termos de intervencao se comparadas aquelas que se tornam possiveis com a utilizacao do computador.

A consequencia direta dos conceitos de simulacao e virtualidade em relacao as informacoes digitais e a possibilidade de intervir tanto no nivel organizacional como no nivel estrutural das informacoes. Os computadores oferecem ferramentas que possibilitam ao usuario controle maior sobre as informacoes disponiveis. Essas ferramentas possuem recursos de busca, selecao, edicao ou classificacao, que sao inviaveis em outros meios como livros e discos tradicionais.

O carater potencial dos dados audiveis digitais faz com que o usuario possa manipula-los, transformalos ou recria-los de maneiras diversas, alterando assim os proprios signos originalmente codificados. A intervencao digital modifica a forma de usufruir a cultura: a experimentacao digital da musica pode resultar na propria transformacao estetica dos produtos oferecidos na cibercultura.

E cedo para apostar que a Internet libertara os bens culturais de quaisquer influencias da industria cultural, mas parece adequado esperar mudanca na correlacao de forcas--dessa vez a favor dos usuarios. Enquanto a industria da musica--particularmente as grandes gravadoras e os seus artistas--se debatem na perplexidade de nao saber como agir diante do MP3 e da cibercultura, artistas e usuarios incluem cada vez mais as novas tecnologias em suas vidas.

A industria cultural enfrenta grandes desafios na sociedade da informacao: a protecao do conteudo digital; derrotar a pirataria e procurar manter lucrativos os seus negocios com a venda de produtos. Os executivos da industria cultural tem se preocupado mais em criar mecanismos de protecao contra as copias do que em encontrar alternativas para venda de seus produtos. Na visao das empresas a pirataria e os servicos de compartilhamento de conteudos (redes P2P) sao os grandes culpados pela crise.

As forcas socio-culturais da Internet nao se reduzem as inovacoes tecnologicas. O uso das maquinas e softwares representa adesao a formas especificas de compartilhamento de informacao e conhecimento. Os usuarios de computadores interconectados estabelecem relacoes e criam comunidades virtuais. Estas relacoes e comunidades moldam o comportamento e a organizacao social em rede. A cultura comunitaria virtual acrescenta dimensao social ao compartilhamento de conteudos, fazendo da Internet um meio de integracao social e simbolica.

Consideracoes finais

A cibercultura emerge em torno das novas tecnologias de informacao e comunicacao, especialmente da Internet, e inclui compartilhamento de informacao e formas colaborativas de producao criativa. Destacase o caso da musica, que esta na vanguarda deste processo de mudanca cultural. As transformacoes que se presencia em relacao a musica na Internet sao analogas as transformacoes que se intensificam em relacao a outros produtos culturais, como o livro e o filme.

A digitalizacao dos conteudos e suportes facilita e potencializa o compartilhamento de bens simbolicos. Observa-se que a cibercultura cria forma propria de uso da musica, produzida pela interacao entre tecnologias digitais e formas solidarias e colaborativas de sociabilidade. O fenomeno da musica na Internet e complexo e funciona por adicao e multiplicacao das formas de produzir, compartilhar, recuperar e usar conteudos culturais na sociedade da informacao. A industria fonografica decai, investindo nas trilhas sonoras do cinema, produzindo catalogos de DVDs, comercializando ringtones, etc.

A Internet potencializa abertura e liberacao da producao, que marcam a cultura da rede: chats, orkut, weblogs, podcast, peer-to-peer para compartilhamento de musica, imagens, filmes e textos. A industria cultural esta em grave crise. A cibercultura viabiliza novos processos colaborativos de producao e compartilhamentos de informacao, mudando as formacoes socioculturais, politicas e economicas

REFERENCIAS

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NOTAS

(1) P2P designa um modelo de rede de informatica onde os elementos (ou nos) nao tem um papel exclusivo de cliente ou servidor. Funcionam das duas maneiras, sendo ora cliente ora servidor dos demais nos dessa rede, contrariamente aos sistemas do tipo "clienteservidor", no sentido comum do termo. Disponivel em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P2P>.

Clovis Ricardo Montenegro de Lima

Professor do Departamento de Ciencia da Informacao da UFSC/SC/BR

clovis.mlima@uol.com.br

Rose Marie Santini

Doutoranda em Ciencia da Informacao pelo IBICT/UFF e em Comunicacao e Cultura pela UFRJ/RJ/BR

mariesantini@gmail.com
Quadro 1. Comunicacao e cultura musical na Modernidade
e na Sociedade da Informacao

                           Modernidade      Sociedade da Informacao

Tempo do espirito      Escrita              Informatica

Produto                Musica popular,      Musica eletronica,
                       cancoes              obra aberta, colagens

Tecnologia             Instrumentos         Computadores,
                       eletricos,           Softwares, MP3 player
                       Fonografo

Registro               Analogico:           Digital:
                       cilindro, vinil,     CD, DVD, MP3
                       fita magnetica

Meios de difusao       Radio e TV           Internet,
                                            telefone celular

Comunicacao e Cultura  Industria cultural,  Cibercultura,
                       cultura de massa     redes colaborativas
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