Advances and challenges of conceptualization and operationalization of organizational skills in 15 years of international scientific production/Avancos e desafios da conceituacao e operacionalizacao das competencias organizacionais em 15 anos de producao cientifica internacional/Avances y desafios de la conceptualizacion y....
Munck, Luciano ; Galleli, Barbara
1. INTRODUCAO
Diante do heterogeneo universo teorico que tangencia a construcao
do conceito de competencias no campo da Administracao, evidenciado a
partir da pesquisa em 104 artigos filtrados da plataforma Periodicos
Capes, percebese que os estudos que abordam a competencia nas esferas
humana e individual sao em numero substancialmente superior aos que a
discutem no ambito organizacional. O mesmo se observa em levantamento
feito nos principais periodicos nacionais caracterizados como B2 ou
acima, no Qualis CAPES. Nesta pesquisa, constatou-se tambem a falta de
uma fonte unificadora de conceitos e formas de operacionalizacao da
competencia organizacional, portanto, uma lacuna.
E justamente essa lacuna que este artigo pretende comecar a
preencher, descrevendo e discutindo os avancos e desafios da aplicacao
dos conceitos nos ultimos 15 anos (1997 a 2012) e fazendo consideracoes
sobre algumas fontes seminais. Pesquisou-se pelas palavras-chave
competencias organizacionais e modelos de competencias, na area de
Ciencias Sociais Aplicadas, na subarea "Administracao de Empresas,
Administracao Publica, Contabilidade" e nas bases escolhidas:
EBSCO, ProQuest, Emerald, SAGE Journals Online, SciELO.ORG e Web of
Science. Foram apontados 104 artigos que tratavam diretamente do tema.
Destes, 31 se relacionavam proximamente aos interesses do artigo, quais
sejam: apresentar e sintetizar conceitos, desafios e avancos do uso e da
pratica do conceito de competencia organizacional no campo da
Administracao. E com base nesses 31 artigos que se desenvolve este
trabalho.
Percebe-se que as raizes teoricas do conceito de competencia estao
imbricadas com a visao da empresa baseada em recursos (RBV, do ingles
Resource Based View) (FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006). Desde meados de
1990, passaram a receber atencao substancial de academicos e empresarios
as abordagens baseadas em recursos e em competencias consideradas como
sendo as que representam os conceitos mais recentes, porem mais
contributivos, que buscam explicacoes para o teor competitivo das
empresas (DREJER, 2002; MILLS; PLATS; BOURNE, 2003).
Ainda que o debate referente as competencias organizacionais tenha
assumido importancia crescente, extrapolando os muros da academia
(FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006) e adaptando-se a varios ambitos, como a
psicologia organizacional e a organizacao militar, seu conceito ainda
nao encontra consenso na literatura (THACH; ENG; THOMAS, 2002). E
possivel encontrar esse termo definido de diversas formas, sob a otica
de diversos paradigmas e com enfoques individuais, humanos, coletivos,
organizacionais, nos quais e possivel encontrar outras inumeras
classificacoes.
Em relacao a terminologia, encontram-se "capacidades
organizacionais", "capacidades distintivas",
"metacompetencias", "competencias essenciais",
"suficiencia", "habilidades", "capacidade
dinamica" e ate mesmo "recursos" (PRAHALAD; HAMEL, 1990;
BAKER et al., 1997; MILLS et al, 2002; DE CAROLIS, 2003; MILLS; PLATTS;
BOURNE, 2003; FLEURY, M.; FLEURY, A., 2004; BITAR; HAFSI, 2007; VAN
KLEEF; ROOME, 2007; SMITH, 2008). Entendendo que esses diferentes
termos, na maioria dos casos, referem-se a um mesmo fenomeno, serao
adotadas exclusivamente as nocoes de competencia organizacional e
individual. Vale frisar que as competencias organizacionais serao
abordadas de modo geral, sem enfase nas competencias essenciais, como
preconizam Prahalad e Hamel (1990).
Na visao de Smith (2008), essas diversas nomenclaturas fazem apenas
com que confusoes permeiem o estudo sobre competencias. Nicolai e
Dautwiz (2010) afirmam que o conceito de competencia ou de core
competence tornou-se uma das definicoes mais populares da gestao,
podendo ser encontrada em linguagens ambiguas, abstratas, vagas e ate
mesmo contraditorias no meio empresarial. De fato, sua aplicacao como
instrumento fundamental para subsidiar decisoes relacionadas a gestao de
pessoas e a empresa como um todo tem confundido muitas organizacoes
(MUNCK et al, 2011).
O fato e que a multiplicidade terminologica e conceitual das
competencias organizacionais e a confusao dela decorrente podem
acarretar inadequacoes tambem no ambito de sua operacionalizacao. A
identificacao, a formacao, o desenvolvimento e a utilizacao de modelos
de gestao articulados por competencias correm o risco de se tornar
incoerentes ou inviaveis se fundamentados em bases conceituais frageis
e/ou ate mesmo conflitantes.
A partir dessas consideracoes, chegou-se a seguinte pergunta de
pesquisa, que orientara este estudo: quais sao as atuais discussoes
academicas sobre a conceituacao e operacionalizacao de competencias
organizacionais? Nao sendo a finalidade deste artigo propor uma nova
teoria sobre competencias organizacionais, os autores limitam-se a
descrever e discutir os avancos e desafios da aplicacao dos conceitos
sobre competencias organizacionais nos ultimos 15 anos, focando suas
abordagens, definicoes e modelos.
Acredita-se que uma proposta teorica coerente deve refletir-se
diretamente em uma gestao articulada por competencias tambem coerente.
Sendo assim, atingindo-se o objetivo proposto, almeja-se contribuir com
o cenario academico ao expor a fragilidade conceitual das competencias
organizacionais, denunciando as qualidades de proliferacao, incompletude
e desarticulacao que caracterizam a area, em geral. Do mesmo modo,
pretende-se atingir o publico empresarial, tendo em vista a busca por
melhor esclarecimento e entendimento dos gestores sobre a necessidade de
coerencia conceitual e pratica para a apropriada gestao das
competencias.
Metodologicamente, afirma-se ser esta uma pesquisa de natureza
teorica, qualitativa e descritiva, cujo procedimento tecnico utilizado
foi o levantamento bibliografico (MARTINS; THEOPHILO, 2007). O artigo
esta estruturado da seguinte forma: introducao, conceitos e abordagens
de competencias organizacionais, modelos de gestao articulados por
competencias e consideracoes finais.
2. CONSIDERACOES MULTIPLAS SOBRE A CONCEITUACAO, A CLASSIFICACAO A
FORMACAO E DESENVOLVIMENTO E A GESTAO DE COMPETENCIAS ORGANIZACIONAIS
Alem de ser reconhecida a contribuicao da visao baseada em recursos
em diversas areas da Administracao, como na gestao de recursos humanos,
economia e financas, empreendedorismo, marketing e comercio
internacional, e fato que a aplicacao dessa abordagem e encontrada em
grande parte das pesquisas sobre competencias organizacionais.
Afirma-se, inclusive, que a RBV constitui a fonte e principal abordagem
teorica do desenvolvimento do campo das competencias. Assertivas como as
de Penrose (1959) e Wernerfelt (1984) acabaram por nortear pesquisas
sobre competencias, tendo sido expandidas e adaptadas por diversos
outros autores (PRAHALAD; HAMEL, 1990; HART, 1995; MILLS; PLATS; BOURNE,
2003; SPANOS; PRASTACOS, 2004; SMITH, 2008).
Na RBV, as organizacoes sao vistas como um conjunto de recursos e
competencias que nao podem ser livremente compradas e vendidas no
mercado (MILLS et al, 2002). Enquanto os recursos sao considerados
finitos em oferta e depreciaveis quando compartilhados com terceiros, as
competencias referem-se aos processos dinamicos, nao findos, especificos
e contextualizados da organizacao que sao dificeis de imitar e acumulam
aprendizagem no longo prazo (SPANOS; PRASTACOS, 2004). E essa instancia
de mobilizacao e coordenacao de recursos em acao que pode ser denominada
competencia organizacional (FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006).
Embora se argumente que os recursos e as competencias que a
organizacao detem sao considerados fontes fundamentais de vantagem
competitiva (LEITE; PORSSE, 2003), na realidade, os recursos sao
elementos potenciais, um estoque a disposicao da organizacao, cuja
simples existencia nao se traduz necessariamente em desempenho. Na
maioria das circunstancias, nao sao os recursos que geram mais
diretamente a vantagem competitiva, mas sim os processos de entrega
desses recursos mobilizados--as competencias (LEWIS, 2003).
Para Hart (1995), a maior lacuna na RBV e sua omissao sobre os
constrangimentos impostos pelo meio ambiente natural as praticas
organizacionais. Freiling, Gersch e Goeke (2008), apesar de reconhecerem
a legitimidade da RBV, argumentam que essa teoria apresenta alguns
problemas fundamentais. Estes se iniciam pela falta de homogeneidade e
coerencia que permeiam seu debate, indo desde a simples questao de
nomenclatura, a confusao na definicao do objeto explorado e dos
principios basicos, ate problemas de incomensurabilidade de tradicoes
cientificas.
Ainda que nao se compactue completamente com o posicionamento dos
autores acima citados, admite-se que alguns direcionamentos da RBV em
pesquisas sobre competencias organizacionais mostram-se, por vezes,
simplistas e ate reducionistas. Com frequencia, a nao exploracao das
competencias individuais e a nao indicacao de caminhos para subsidiar a
gestao orientada/articulada por competencias tem implicacoes negativas
para a pratica organizacional. Ademais, o foco exclusivo na obtencao de
vantagem competitiva acaba por desconsiderar a complexidade do ambiente
em que a organizacao se encontra, alem de outras demandas sociais
exigidas das organizacoes atualmente.
Nao se podem negar, por outro lado, as contribuicoes da RBV (HART,
1995; HALAND; TJORA, 2006). A forca da visao baseada em recursos e
relacionada com a habilidade de explicar, em termos gerenciais, como
alguns competidores sao mais lucrativos que outros, como colocar a ideia
de competencia organizacional em pratica e como desenvolver estrategias
diversificadas que--potencialmente funcionam (PAIVA; ROTH;
FENSTERSEIFER, 2008). O trabalho de Prahalad e Hamel (1990) pode ser
considerado o marco academico mais representativo da discussao sobre
competencias organizacionais baseada na RBV. Desde entao, inumeros
outros trabalhos conceituais surgiram, sendo este o foco de discussao do
proximo topico.
O levantamento realizado nesta pesquisa permitiu identificar quatro
principais grandes temas nos estudos sobre competencias organizacionais,
os quais recebem uma multiplicidade de olhares de seus autores. Sao
eles: conceituacao, classificacao; formacao e desenvolvimento; e modelos
de gestao baseados em competencias. Em relacao aos artigos considerados
pertinentes para este trabalho, notouse que raramente os estudos se
dedicam apenas a um desses assuntos sem ao menos mencionar algum outro
ou explora-lo com certa profundidade. Sendo assim, sera possivel
observar em certas passagens dos topicos seguintes a repeticao das
referencias citadas neste topico.
2.1. Conceituacao das competencias organizacionais
Conforme ja indicaram Kersiene e Savaneviciene (2009), a trajetoria
evolutiva da conceituacao sobre competencias organizacionais segue um
caminho que vai do estatico ao mais dinamico, da abordagem racionalista
a uma mais interpretativa, de uma visao funcional a uma mais estrutural,
de uma base tecnologicista a outra que envolve o aprendizado social, do
sistema isolado ao fragmentado, de uma abordagem individual a outra
multidisciplinar.
Compartilhando desta constatacao, De Carolis (2003) apresenta treze
diferentes estudos, entre os anos de 1957 e 2001, cujas definicoes sobre
competencias aparecem em diversos termos e enfoques--em vertentes mais
racionalistas e em outras mais construtivistas--e muitas vezes se
sobrepoem, determinando as mesmas coisas, porem sob nomenclaturas
diferentes. Em esforco semelhante, no Quadro 1 dispoem-se nove conceitos
sobre competencias organizacionais, elaborados em trabalhos publicados
entre os anos de 2001 e 2007, selecionados e expostos por sua
caracteristica distintiva de outros conceitos analisados nos 31 artigos
explorados nesta pesquisa.
Primeiramente, nota-se que a concentracao das publicacoes a
respeito da elaboracao de conceitos sobre competencias parece estagnar
no ano de 2007. Provavelmente, uma consequencia da declinacao de
publicacao na area ja a partir do ano 2000 e acentuada em 2006, conforme
registrado na pesquisa de Nicolai e Dautwiz (2010).
As descricoes dos conceitos de competencia organizacional no Quadro
1 permitem observar, dentre outros aspectos, principalmente a influencia
da RBV neles (LEWIS, 2003; MILLS; PLATTS; BOURNE, 2003; FLEURY, M.;
FLEURY, A., 2004; BITAR; HAFSI, 2007); a inter-relacao da competencia
com a estrategia organizacional (DE CAROLIS, 2003; BITAR; HAFSI, 2007);
sua associacao aos processos de aprendizagem e do conhecimento (DREJER,
2001; DE CAROLIS, 2003; SPANOS; PRASTACOS, 2004; MOURA; BITENCOURT,
2006; VAN KLEEF; ROOME, 2007); o envolvimento dos individuos e do
coletivo (DREJER, 2001; FLEURY, M.; FLEURY, A., 2004; SPANOS; PRASTACOS,
2004; MOURA; BITENCOURT, 2006; VAN KLEEF; ROOME, 2007; BITAR; HAFSI,
2007); e a vinculacao da competencia aos resultados e desempenho da
organizacao (LEWIS, 2003; FLEURY, M.; FLEURY, A., 2004; VAN KLEEF;
ROOME, 2007). Nota-se que, ainda que haja alguns pontos em comum, nenhum
dos conceitos citados e integrativo a ponto de abarcar todos eles.
Uma breve analise sobre as definicoes apresentadas permite algumas
inferencias iniciais. Independentemente da abordagem utilizada para
conceituar a competencia--voltada para o desempenho organizacional, para
o alcance de resultados esperados ou para a aprendizagem--, o fato e que
a competencia e alcancada pela mobilizacao de recursos--humanos ou
nao--, e essa mobilizacao possui um objetivo final.
A diferenca esta na visao de competencia: enquanto as abordagens
voltadas ao desempenho, da perspectiva racionalista, pontuam as
competencias como algo finalizado, os conceitos relacionados a
aprendizagem estabelecem a competencia como um processo mais dinamico,
em construcao, ou seja, em constante mudanca. Esta abordagem
construtivista diferencia-se tambem por considerar o individuo como
essencial na constituicao de competencias.
2.2. Classificacao de Competencias
Diretamente relacionada a definicao esta a identificacao das
competencias. Compreender e distinguir melhor as competencias de uma
organizacao pode trazer inumeros beneficios, principalmente em relacao a
tomada de decisoes voltadas a desenvolve-las e fortalece-las. A pesquisa
na literatura evidenciou que diversos trabalhos tratam dessa questao
(por exemplo, PRAHALAD; HAMEL, 1990; GODDARD, 1997; KING; FOWLER;
ZEITHAML, 2001; SPANOS; PRASTACOS, 2004). Percebeu-se que, acoplados a
esse aspecto, estao os direcionamentos para a classificacao de
competencias organizacionais.
Os estudos sobre competencias organizacionais trazem variadas
possibilidades de classificacoes (PRAHALAD; HAMEL, 1990; BAKER 1997;
ZARIFIAN, 2003; FERNANDES; FLEURY; MILLS, 2006). Foram identificados
quatro trabalhos cujas contribuicoes nesse topico foram consideradas
importantes: o de Barney, Wright e Ketchen Jr. (2001), o de Drejer
(2001), o de Spanos e Prastacos (2004) e o de Munck e Borim-de-Souza
(2012).
Drejer (2001) considera que as competencias das organizacoes podem
ser divididas em dois niveis principais de complexidade, os quais sao
dependentes dos ambientes organizacionais em que as competencias sao
requisitadas. Os niveis de complexidade sao: a) competencias simples,
amparadas por uma tecnologia e por poucas pessoas; e b) competencias
complexas, amparadas por processos interdependentes que envolvem uma
serie de tecnologias e um grupo consideravel de pessoas.
O outro trabalho, de Munck e Borim-de-Souza (2012), seguindo a
classificacao definida por Mills et al. (2002), defende cinco categorias
de competencias organizacionais:
* Competencia foco (core competence): refere-se as atividades mais
importantes para a organizacao, aquelas essenciais a sua sobrevivencia e
centrais para sua estrategia;
* Competencia distintiva: concerne as atividades importantes da
organizacao, reconhecidas pelos clientes como seu diferencial, que
promovem vantagem competitiva;
* Competencia da unidade de negocio: um numero menor de atividades
desenvolvidas por uma ou mais unidades de negocios da organizacao;
* Competencia de suporte: uma atividade que e valorizada por
fomentar uma serie de outras atividades;
* Capacidade dinamica: diz respeito a competencia que determina a
adaptacao de todas as suas competencias e/ou atividades ao longo do
tempo.
Spanos e Prastacos (2004) defendem a diferenciacao de competencias
e afirmam que nem todas elas sao valiosas, raras, dificeis de imitar e
insubstituiveis, nem capazes de levar a vantagens competitivas
sustentaveis. Algumas delas sao apenas suplementares ou habilitadoras.
Estas podem estabelecer um patamar minimo de competitividade para a
organizacao que as detem, contudo, por si mesmas, sao insuficientes para
sustenta-lo. Por outro lado, sao importantes estrategicamente, pois
representam uma sintese das variadas habilidades de uma organizacao,
constituindo atividades unicas que proporcionam a entrega de valor aos
clientes.
Barney, Wright e Ketchen Jr. (2001) discorrem sobre as capacidades
dinamicas, as quais sao competencias diferenciadas que permitem a
organizacao utilizar-se de processos especificos para alterar sua base
de recursos--adaptando-a as condicoes ambientais mais rapidamente que
seus concorrentes--, constituindo-se, portanto, em fontes de vantagens
competitivas. Para Castiaux (2012), as capacidades dinamicas sao
necessarias em contextos turbulentos, nos quais as competencias
regulares e rotinas podem nao ser facilmente adaptaveis. Novas
competencias devem ser construidas e as capacidades dinamicas sao a base
desse processo. Ressalta-se, porem, que nem sempre este tipo de
competencia, a capacidade dinamica, sera considerada fonte de vantagem
competitiva, ja que sua pertinencia e propria de ambientes
mercadologicos tambem dinamicos. Dessa forma, em ambientes estaveis a
capacidade dinamica talvez nao tenha tal relevancia, podendo, ate mesmo,
vir a ser um empecilho a organizacao se nao for bem gerenciada. Por
vezes, competencias organizacionais vinculadas a inovacao/aprendizagem
fazem mais sentido, sao suficientes e/ou sao mais gerenciaveis, uma vez
que mantem um mesmo conceito na organizacao (competencia) ao inves de
inserirem um novo.
As divisoes expostas pelos autores citados indicam, de modo geral,
a relacao entre competencias e recursos em atividades da empresa, tao
defendida pela visao baseada em recursos. Nota-se que, embora a maioria
das competencias classificadas esteja voltada a conquista de vantagens
competitivas, nem todas estao, mas nem por isso deixam de ser relevantes
para a organizacao e sua estrategia. Da mesma forma, e possivel inferir
a importancia do contexto para a ativacao e "valorizacao" de
determinadas competencias. A partir dessas consideracoes, oportuniza-se
refletir sobre a maneira pela qual as competencias organizacionais
deveriam ser desenvolvidas ao longo do tempo e o fato de que tal
desenvolvimento diverge de organizacao para organizacao, haja vista as
diferencas quanto a capacidade de receber e desenvolver competencias.
2.3. Formacao e Desenvolvimento de Competencias Organizacionais
A formacao e o desenvolvimento de competencias sao fundamentais no
atual ambiente volatil global, uma vez que a inflexibilidade e o
enrijecimento podem acarretar o insucesso e decretar a dissolucao de
muitas organizacoes. Diante disso, a incorporacao das competencias em
uma organizacao demanda a definicao de estrategias para geri-las e,
simultaneamente, a ciencia e disposicao para dissolver competencias
obsoletas e formar e desenvolver outras novas, quando necessario
(SPANOS; PRASTACOS, 2004).
Com respeito a formacao e ao desenvolvimento das competencias
organizacionais, sete artigos, dentre os pesquisados, destacaram-se pela
particularidade do conteudo abordado sobre o tema: Roberts (2001),
Fleury, M. e Fleury, A. (2004), Spanos e Prastacos (2004), Chen e Naquin
(2006), Haland e Tjora (2006), Moura e Bitencourt (2006) e Munck, L.,
Munck, M. e Borim-de-Souza (2011).
Moura e Bitencourt (2006) afirmam que as competencias
organizacionais decorrem da especificidade de cada empresa ao
identificar seus recursos e transforma-los em vantagem competitiva,
mediante as competencias. Com frequencia, os processos de conversao de
recursos em competencias organizacionais nao sao planejados e desenhados
formal e estrategicamente, mas ocorrem no cenario competitivo e movem a
dinamica organizacional. O sistema de crencas e o estilo comportamental
da empresa podem constituir a existencia informal das competencias.
Segundo Fleury, M. e Fleury, A. (2004), as competencias
organizacionais sao constituidas a partir da combinacao de recursos e de
multiplas competencias individuais, de tal forma que o resultado total e
maior que a soma das competencias individuais. Desse modo, o
desenvolvimento das competencias organizacionais esta intimamente ligado
ao desenvolvimento das competencias individuais e das condicoes dadas
pelo contexto (MUNCK, L.; MUNCK, M.; BORIM-DE-SOUZA, 2011). Para Chen e
Naquin (2006), o desenvolvimento de competencia organizacional e visto
como o processo de identificacao de uma serie de competencias
individuais representativas da proficiencia no trabalho.
Spanos e Prastacos (2004) defendem que o contexto social e
fundamental para promover a criacao, a transferencia e a aplicacao de
conhecimento nas organizacoes, ou seja, para desenvolver e manter as
competencias. A construcao de competencias e um processo de sintese e
integracao, uma metacompetencia por si mesma, que depende de qualidades
institucionais de um ambiente organizacional mais amplo. Essa
metacompetencia, ou capacidade dinamica, inclui atividades individuais
em interacao com varios contextos, orquestracao de interacoes,
organizacao de canais de comunicacao, entre outros aspectos, a partir da
aplicacao do conhecimento.
Haland e Tjora (2006) contribuem nesta discussao ao sustentarem que
nem questoes administrativas isoladas, nem o desenvolvimento de
estruturas, nem a cultura organizacional e tampouco aspectos
relacionados somente ao desenvolvimento individual podem explicar o
desenvolvimento de competencias organizacionais. Todas essas dimensoes
devem ser consideradas conjuntamente para que haja a compreensao sobre
este topico.
Para Roberts (2001), as competencias na organizacao devem ser
desenvolvidas por meio da colaboracao, a fim de maximizar o aprendizado
e a efetividade organizacional. Este enfoque na colaboracao e no
aprendizado e passivel de ser instituido nao somente entre os membros da
organizacao, mas tambem nos relacionamentos com clientes e fornecedores,
o que levara ao desenvolvimento de novas competencias, novas aliancas, e
a maior flexibilidade na gestao da cadeia de valor da organizacao.
As visoes dos autores ate aqui mencionados acabam por refletir o
entendimento de que a formacao e o desenvolvimento das competencias
organizacionais sao diretamente vinculados as competencias dos
individuos, e de que estas ultimas proporcionam o desenvolvimento das
primeiras. E justamente o departamento de recursos humanos, a partir da
estruturacao de um planejamento direcionado, o orgao capaz de realizar a
conexao entre competencias organizacionais e individuais (DREJER, 2001,
2002; CHEN; NAQUIN, 2006).
O desenvolvimento de competencias individuais tem um papel
significativo por contribuir para a formacao das pessoas, para a mudanca
de atitude em relacao as praticas de trabalho e para a percepcao da
realidade. O desenvolvimento de competencias individuais nao somente
afeta as proprias pessoas, como tambem busca agregar valor a organizacao
(BITENCOURT, 2005). Nesse sentido, Boterf (2003) esclarece que
administrar e desenvolver competencias de uma empresa nao se limitam a
administracao e ao desenvolvimento das competencias individuais de
empregados. A competencia organizacional, qualquer que seja seu nivel,
nao equivale a soma das competencias de seus membros. O valor de uma
competencia nao depende tanto de seus elementos constitutivos, mas da
qualidade da articulacao entre esses elementos.
Basicamente, o posicionamento do autor converge para as
contribuicoes ja citadas de Mills, Platts e Bourne (2003), de Spanos e
Prastacos (2004) e de Moura e Bitencourt (2006), no que concerne a
qualidade da mobilizacao de recursos e a possibilidade de inferir que um
desses recursos e a competencia do individuo. A contribuicao de Boterf
(2003), na verdade, reside na formulacao do conceito de competencia
coletiva, uma resultante que emerge da cooperacao e da sinergia
existentes entre as competencias individuais. E por essa razao que
administrar as competencias individuais nao implica gerir as
competencias da organizacao. E preciso, antes, estar ciente das
competencias coletivas e administra-las, pois, com elas, certas
competencias perduram apesar da partida das pessoas e, como sao
construidas nas interacoes, podem ser reconstruidas pelos recemchegados.
Dessas consideracoes emergem questoes fundamentais para a pratica
organizacional. A incorporacao da abordagem das competencias e de tal
amplitude em uma organizacao, que deve levar a novos modelos de gestao
e, ate mesmo, a novos modelos organizacionais (BITAR; HAFSI, 2007). De
fato, a gestao de competencias faz parte de um sistema maior de gestao
organizacional. Trata-se de um processo continuo que tem como ponto
inicial a estrategia da organizacao e que direciona suas acoes para a
captacao e desenvolvimento das competencias necessarias ao cumprimento
de seus objetivos (MUNCK, L.; MUNCK, M.; BORIMDE-SOUZA, 2011). O topico
seguinte discutira os modelos de gestao articulados por competencias.
2.4. Modelos de gestao Baseados em Competencias
Ao longo dos anos, abordagens de gestao baseadas em competencias
provaram ser alicerces em muitas funcoes organizacionais, principalmente
na gestao de pessoas. Experiencias de extensivo uso de modelos de gestao
articulados por competencias, utilizados em diversos ambientes
organizacionais, mostram que eles possibilitam o alcance de beneficios
substanciais ao fomentarem o alinhamento entre as politicas de gestao de
pessoas e a estrategia da organizacao (VAKOLA; SODERQUIST; PRASTACOS,
2007). Sem o auxilio de ferramentas e procedimentos para a implantacao
de competencias, estas nao possuem nenhum impacto, portanto nao fazem
sentido na organizacao.
Em meio a variada gama de definicoes e caracterizacoes das
competencias, muitos modelos de gestao por competencia foram e continuam
a ser desenvolvidos, adotados por organizacoes tanto privadas quanto
publicas (ROBERTS, 2001). Dos 31 artigos selecionados para a composicao
desta pesquisa, quatro apresentaram modelos de gestao por competencias
que se destacam pela relevancia e originalidade: os de Baker et al.
(1997), Rausch, Sherman e Washbush (2002), Fleury, M. e Fleury, A.
(2004) e Nobre (2011).
Baker et al. (1997) desenvolvem um Modelo hierarquico de
competencias a partir dos conceitos de competencia e congruencia, esta
ultima significando a convergencia entre competencias e demandas. Ao
delinearem uma hierarquia de congruencias, iniciam pelo nivel
organizacional, em que reside a estrategia, e desdobram os niveis dos
processos essenciais, subprocessos, ate chegar ao nivel individual. Para
serem congruentes, as competencias existentes em algum nivel particular
devem entregar os atributos requisitados pelas prioridades competitivas.
No nivel mais alto da hierarquia, as competencias estrategicas sao
fatores cruciais para que a organizacao sustente seu posicionamento
diante dos concorrentes.
Para Baker et al. (1997), e no nivel dos processos essenciais que
os atributos tecnicos, de gestao e individuais coalescem a fim de prover
vantagem competitiva a empresa. Para atingi-la, sao necessarias
competencias "habilitadoras", formadas pelos conhecimentos e
habilidades dos membros da organizacao. Conforme os autores, ha relacoes
causais entre estas e o desempenho competitivo da organizacao. Sao
incluidos referenciais externos no modelo de competencias em uma
abordagem operacional, utilizando-se o benchmarking para a padronizacao
e comparacoes de desempenhos. E necessaria uma congruencia apropriada
entre o nivel em que o desempenho e mensurado e as competencias que sao
avaliadas.
Segundo Rausch, Sherman e Washbush (2002), um modelo de
competencias, para ser validamente utilizado, deve estar apoiado em
argumentos razoavelmente convincentes sobre os motivos pelos quais
certas competencias sao selecionadas e onde sao aplicadas, e tambem
sobre como se relacionam entre si. Considerando esse contexto, os
autores sugerem um Modelo de competencias baseado em decisoes, por meio
da avaliacao da qualidade das decisoes dos gestores, no qual as
competencias sao divididas em quatro patamares inter-relacionados, em
que o nivel de detalhamento e crescente, do primeiro nivel ao quarto.
No primeiro nivel, ha o entendimento e a habilidade de considerar
apenas temas importantes para as decisoes e sua divisao em grupos. No
segundo nivel ha a consideracao de aspectos especificos para cada grupo
de temas importantes para as decisoes. O terceiro nivel concerne aos
fundamentos teoricos que alicercam o segundo nivel. O quarto nivel diz
respeito as competencias necessarias a implantacao dos outros tres
niveis. E possivel aos gestores tomar decisoes apenas com base no
primeiro e segundo niveis utilizando, para tanto, as experiencias
vividas e o ensino recebido. Todavia, a competencia exige o dominio
completo dos conhecimentos e habilidades indicados nos terceiro e quarto
niveis (RAUSCH; SHERMAN; WASHBUSH, 2002).
Fleury, M. e Fleury, A. (2004) propoem uma tipologia de sustentacao
ao processo de formulacao das estrategias e ao desenvolvimento de
competencias, aspectos estes vistos como intimamente relacionados. Os
autores explicam a dinamica entre os diversos niveis de competencia que
se formam na organizacao, incluindo os niveis das competencias das
unidades de negocios, competencias-foco, competencias distintivas e
competencias individuais. E ressaltada a interrelacao entre esses niveis
de competencia, cujo desenvolvimento pode ser influenciado mutuamente.
Na visao de Fleury, M. e Fleury, A. (2004), ha um relacionamento
ciclico entre estrategia, competencias organizacionais e competencias
individuais, permeado pelos processos de aprendizagem. Esse ciclo nao
necessariamente possui um inicio ou um fim, pois as estrategias sao
formuladas com base na operacionalizacao sistemica dos recursos e das
competencias organizacionais e na analise do ambiente, que, por
conseguinte, sao influenciadas e modificadas pela resposta obtida pela
estrategia, o que novamente provoca e ate mesmo exige novas
configuracoes dos recursos, que poderao ou nao implicar modificacoes ou
a necessidade de uma nova estrategia. A aprendizagem, intrinseca a esse
processo, cria novas competencias individuais, em um circulo virtuoso,
ja que sao estas as bases formadoras das competencias organizacionais,
juntamente com os recursos.
Nobre (2011) introduz os Sistemas Centralizados no Cliente (CCS,
sigla em ingles). Este modelo representa as organizacoes que buscam
maiores niveis de cognicao, inteligencia e autonomia, por conseguinte,
maiores niveis de agilidade e flexibilidade, a fim de administrar
elevados graus de complexidade ambiental e incerteza, operar com
intensiva customizacao em massa e prover integracao com os clientes. As
empresas organizadas pelo modelo de CCS sao aquelas que estrategicamente
arranjam seus recursos e competencias considerando as necessidades e
valores dos clientes.
O CCS prove as organizacoes de competencias tecnologicas,
gerenciais e organizacionais, no sentido de as capacitar para lidar com
altos niveis de complexidade ambiental, operar com elevados niveis de
customizacao em massa e atuar em imersividade (integracao) junto aos
clientes, perseguir altos patamares de cognicao organizacional,
inteligencia e autonomia e, consequentemente, de flexibilidade e
agilidade. A adocao dos modelos CCS pelas organizacoes, segundo a visao
de Nobre (2011), tera impactos diretos na sociedade, especialmente no
que se refere a transformacoes no trabalho.
Apos apresentacao sintetizada dos modelos, algumas conclusoes podem
ser registradas. Nao cabe aqui detalhar cada uma dessas questoes, mas
sim apontar as distintas perspectivas dos autores mencionados, cujas
conceituacoes diversas levam a propostas tambem diversas de
operacionalizacao. Todos os modelos apresentam algum avanco,
diferenciacao e limitacoes em relacao a abordagem da gestao articulada
por competencias. Entretanto, um aspecto a ressaltar diz respeito a
validacao desses modelos, especialmente no que tange a relacao entre os
objetivos propostos pelos modelos de gestao de competencias e seus
respectivos resultados, considerada um ponto critico em muitos dos
modelos encontrados na literatura (MUNCK et al, 2011), o que e tambem
algo a discutir em relacao aos modelos apresentados.
As consideracoes expostas ate aqui permitem passar ao proximo
topico, em que e feita uma analise critica na qual avancos e desafios
sao discutidos tendo em vista a coerencia da gestao articulada por
competencias.
3. AVANCOS E DESAFIOS NA GESTAO POR COMPETENCIAS COERENTE: ANALISE
CRITICA
A importancia e contribuicao das competencias organizacionais para
a gestao ja sao indiscutiveis. Entretanto, estas apresentam diversos
aspectos questionaveis, tais como: sua enfase na construcao de atributos
(visao estatica) e na falta de visao processual (perspectiva dinamica);
a qualidade superficial dos atributos de competencias; falta de
integracao com o departamento de Recursos Humanos; burocracia e custo,
no sentido de predominancia do formalismo; falta de contextualizacao;
falta de espaco para a aprendizagem a partir do erro e ausencia de
sentido atribuido a conexao entre competencias e trabalho (BITENCOURT,
2005). Essas sao situacoes nao apenas frequentemente decorrentes do
embasamento teorico-conceitual falho e limitado quando da adocao e
implementacao da gestao por competencias, mas tambem passiveis de serem
agravadas por ele.
Defende-se, em razao desse contexto, a possibilidade de gerir
competencias de modo mais autentico e consciente, privilegiando a visao
dinamica e estrategica voltada a qualidade de recursos e aos atributos
de competencias de acordo com cada situacao e ambiente organizacional.
Para tanto, e necessario definir significado de competencia, determinar
as praticas formais e informais que podem estimular o desenvolvimento
das competencias, buscar meios para articular a visao estrategica da
organizacao a aplicacao das competencias e, por fim, delinear e
esclarecer os resultados esperados com tal desenvolvimento (BITENCOURT,
2005).
As recomendacoes feitas por Bitencourt (2005) constituem desafios a
serem encarados e superados na busca por uma gestao articulada por
competencias coerente. As consideracoes aqui apresentadas sobre as
conceituacoes, formacao e desenvolvimento de competencias e as propostas
de operacionalizacao via modelos abarcam a necessidade de assumir esses
desafios e avancar nesse sentido. A analise critica realizada nesta
secao segue essa mesma sequencia.
Inicialmente, as arguicoes referentes as conceituacoes e
classificacao de competencias exploradas (topicos 3.1 e 3.2)
possibilitam visualizar a intencao de Sanchez (2004) ao argumentar que a
diversidade de conceitos frequentemente resulta em confusoes sobre os
aspectos essenciais das competencias das organizacoes. Para o autor, sao
tres os fatores causadores de tais confusoes: a) utilizacao de
diferentes terminologias para conceitos similares; b) definicoes que
parecem referir-se a niveis distintos nas atividades organizacionais; e
c) a adocao de uma visao estatica das competencias que nao considera
apropriadamente como elas sao construidas e sujeitas a mudancas.
Com efeito, os tres fatores citados sao facilmente observados pelo
que foi exposto. Sobre o primeiro, retomam-se os diversos termos e
conceituacoes identificados muitas vezes em sobreposicao no Quadro 1.
Como afirmaram Barney, Wright e Ketchen Jr. (2001), acredita-se tambem
que mudar as palavras nao significa mudar a teoria; logo, essa
proliferacao de conceitos faz apenas gerar confusoes desnecessarias. A
respeito do segundo fator, os trabalhos citados sobre a identificacao e
classificacao das competencias permitem notar suas diferentes aplicacoes
nas organizacoes, nos niveis individuais, coletivos, operacionais ou
holisticos. Com relacao ao terceiro fator, que dificulta uma melhor
compreensao sobre as competencias, os estudos pautados pela abordagem
racionalista sobressaem, uma vez que estao baseados em resultados
objetivos e nao em processos de formacao e desenvolvimento de
competencias, o que, de certa forma, nao deixa de ser uma limitacao
desta abordagem.
Diante desses obstaculos, recomendam-se tres etapas fundamentais a
serem cumpridas a fim de que seja possivel estabelecer uma conceituacao
teorica robusta, abrangente e aplicavel da gestao baseada em
competencias:
a) desenvolvimento e utilizacao de um conjunto consistente de
conceitos e vocabularios para a descricao das competencias;
b) classificacao dos diferentes tipos e niveis de atividades
organizacionais que podem contribuir para o alcance da competencia;
c) articulacao das interacoes dos diferentes tipos e niveis de
atividades organizacionais que sao criticos no processo de construcao e
entrega das competencias (SANCHEZ, 2004).
Com o intuito de seguir de forma alinhada as tres etapas
supramencionadas, assume-se que a competencia deve incluir a habilidade
de responder a natureza dinamica do ambiente externo a organizacao e de
seus proprios processos internos. Ademais, a competencia deve incluir a
habilidade de gerir a natureza sistemica da organizacao e suas
interacoes com outras organizacoes. Deve incluir tambem a habilidade de
gerir os processos cognitivos de uma organizacao, direcionando recursos
organizacionais a atividades especificas que geram valor, em especial os
recursos humanos. A competencia, enfim, deve incluir a habilidade de
gerir a natureza holistica de uma organizacao como um sistema aberto, a
fim de atingir objetivos da competencia, de forma alinhada a
multiplicidade dos individuos e aos interesses institucionais envolvidos
(SANCHEZ; 2004).
Outro ponto relevante diz respeito a maneira pela qual as acoes
organizacionais podem levar a formacao e ao desenvolvimento de novas
competencias. Sabe-se que grande parte das pesquisas na area
restringe-se a identificar determinadas competencias como importantes
apos seus valores serem evidenciados (DREJER, 2002). Contudo, essa
identificacao deve ser feita antes desse reconhecimento, a fim de que a
competencia possa ser formada, desenvolvida e explorada conforme a
estrategia em pauta e nao somente apos sua execucao, quando estas etapas
ja nao fazem mais sentido.
No topico referente a essa discussao (3.3) percebeu-se que,
basicamente, os autores concordam sobre a qualidade da mobilizacao de
recursos para a formacao e desenvolvimento de competencias
organizacionais, e que um dos recursos fundamentais para tal e a
competencia do individuo. Compartilha-se da visao de Drejer (2002) sobre
o desenvolvimento de competencias, partindo do pressuposto de que ha
mais nas competencias da organizacao do que a soma das competencias
individuais: ha a atuacao coletiva e os efeitos sinergicos nesta
atuacao.
Drejer (2002) sugere a adocao de abordagens duais, que incluam
visoes bottom-up e top-down para o desenvolvimento de competencias, uma
vez que, isoladas, estas sao insuficientes por falharem em diversos
aspectos que podem ser supridos pela combinacao das duas. A abordagem
dual e apropriada uma vez que cria a inter-relacao entre competencias
essenciais, subcompetencias e competencias individuais, permitindo que o
desenvolvimento de competencias possa ser realizado consoante essa
inter-relacao. Desse modo, e possivel desenvolver as pessoas que fazem
parte da empresa e as competencias organizacionais, bem como assegurar
que um grupo funcione ainda que esteja desfalcado (DREJER, 2002).
Para que ocorra o desenvolvimento de uma competencia, e necessario
que esta seja uma funcao do aprendizado dos individuos do sistema. Alem
disso, uma abordagem situacional parece mais adequada, pois, para
diferentes tipos de competencias, sao necessarios diferentes tipos de
gestao. Do mesmo modo, em cada nivel de desenvolvimento, os esforcos
para que se avance para outro estagio devem ser especificos a cada
contexto. Assim, e praticamente impossivel indicar maneiras exatas para
desenvolver competencias em qualquer ambito: individual, coletivo ou
organizacional (DREJER, 2002).
Embora haja um amplo interesse na perspectiva das competencias,
somente o interesse nao e suficiente para superar dificuldades
encontradas quando de sua aplicacao nas empresas, em virtude da
complexidade da conceituacao apropriada e da identificacao das reais
competencias em uma organizacao (SANCHEZ, 2004). Tal afirmacao e valida,
pois condiz com a observacao de que os modelos expostos (topico 3.4), em
sua maioria, sao apenas descritivos, propositivos ou ainda incompletos,
se forem consideradas as definicoes sobre competencias aqui
estabelecidas.
Os modelos analisados podem ser ainda considerados abordagens
reativas a complexidade do ambiente externo, uma vez que o futuro nao e
sequer mencionado. Apenas um dos modelos, o de Baker et al. (1997),
indicou de forma explicita as relacoes de alinhamento entre ambiente
organizacional e desenvolvimento de competencias individuais e
organizacionais. Por outro lado, apenas um deles tambem, o de Nobre
(2011), nao considerou os individuos imersos na organizacao, ou seja, os
funcionarios, mas somente os clientes.
Ainda que nao tenha sido intencao dos respectivos autores
dedicar-se a relacao entre competencias organizacionais e individuais, e
que, em alguns casos, tenham mencionado a relacao entre elas,
negligencia-la pode ser considerado no minimo uma falha ou ainda uma
incoerencia, ja que muito do que trata a literatura a respeito do tema
enfatiza, implicita ou explicitamente, justamente a interdependencia
entre elas (SPANOS; PRASTACOS, 2004; BITENCOURT, 2005; HALAND; TJORA,
2006). Do mesmo modo, a articulacao com o contexto organizacional
externo e imprescindivel para o alinhamento entre expectativas
individuais e objetivos organizacionais estrategicos (ROBERTS, 2001;
SPANOS; PRASTACOS, 2004; MUNCK, L.; MUNCK, M.; BORIM-DESOUZA, 2011).
Emerge, portanto, a necessidade de propostas de modelos de gestao
que busquem aproximar competencias individuais e organizacionais, em
consideracao ao ambiente externo, de maneira coerente e adequada as
estrategias organizacionais. Como avancos nesta tematica, podem-se citar
as pesquisas de Wright, Dunford e Snell (2001) e de Sanchez (2004), nas
quais sao elaboradas propostas de modelos satisfatoriamente abrangentes,
porem complementares, para orientar a gestao das competencias nas
organizacoes. Enquanto Sanchez (2004) propoe uma ordenacao hierarquica
dos elementos interativos em um prisma sistemico e racionalista das
competencias, em que ha interacoes essenciais entre os recursos
organizacionais, seus processos de gestao e sua logica estrategica, o
modelo desenvolvido por Wright, Dunford e Snell (2001) prove subsidios
para explorar de forma especifica o componente humano nas competencias
organizacionais, cujo elo sao a gestao do conhecimento e o capital
intelectual, e as capacidades dinamicas aparecem como elementos
renovadores de tal integracao.
As competencias devem constituir o foco para a definicao e pratica
estrategica em todos os niveis da organizacao. A efetividade ou o
sucesso da organizacao resulta da capacidade de articular seu
direcionamento estrategico com as competencias da empresa, dos grupos
coletivos e as individuais (PRAHALAD; HAMEL, 1990), em suas dimensoes
epistemica, idiomatica e logistica (GODDARD, 1997). A empresa define sua
estrategia e as competencias necessarias para implanta-la, em um
processo de aprendizagem coletiva e colaborativa permanente (ROBERTS,
2001). Nao existe uma ordem de precedencia nesse processo, mas antes um
circulo virtuoso, em que uma alimenta a outra (MOURA; BITENCOURT, 2006).
Diante das consideracoes apresentadas, em que foram apontadas
algumas insuficiencias e mencionados trabalhos que avancam nas
discussoes sobre competencias organizacionais, quatro pontos de
inferencias que culminam em propostas de conceitos sao apresentados.
Primeiramente, para fins do desenvolvimento estrategico, aponta-se
a questao da influencia de variaveis externas ao ambiente
organizacional. Nao se nega a necessidade de considerar as influencias
do ambiente externo, que nao estao sob controle das organizacoes.
Contudo, acreditase que a efetividade da organizacao e mais provavel de
ocorrer quando esta da respostas ao ambiente e nao apenas responde a
ele, ou seja, quando ha uma perspectiva mais proativa ao inves de
meramente reativa. Em outras palavras, em conformidade com o que preza a
abordagem da RBV, a articulacao interna entre recursos e competencias
antes da determinacao ambiental para o funcionamento da empresa parece
permitir maior flexibilidade, crucial em um ambiente de alta
complexidade e de muitas incertezas como o atual. E, nesses recursos
internos, o corpo funcional aparece com grande relevancia. As
capacidades dinamicas podem ser pertinentes nestas situacoes em que se
exige maior proatividade da organizacao em ambientes turbulentos, uma
vez que podem contribuir para adaptacoes e mudancas. Vale novamente
destacar, contudo, que a decisao pelas capacidades dinamicas deve ser
ponderada com mais cautela em ambientes estaveis ou quando a insercao
dela pode representar mais complexidade que facilidade.
Em segunda instancia, a arquitetura das competencias, quando
elaborada e gerida pelo orgao responsavel pela administracao dos
recursos humanos, pode ser considerada essencial, porque permite o
alinhamento dos recursos e das competencias individuais, coletivas e
organizacionais a estrategia organizacional. Para serem concretizadas,
as competencias das organizacoes dependem primeiramente das competencias
das pessoas em colaboracao e, conseguintemente, das competencias
coletivas, em uma perspectiva dinamica de aprendizado, ou seja, de
geracao, transferencia e integracao de conhecimento.
Esse raciocinio indica, portanto, em terceiro lugar, que as
competencias, para fazerem sentido na organizacao, demandam uma
perspectiva holistica, que perpasse por toda a empresa, indo alem de
seus limites fisicos e juridicos e refletindo interacoes com o meio em
que ela esta inserida. A gestao articulada por competencias deve ser
encampada pela area de recursos humanos, mas tambem incidir sobre toda a
organizacao, estrategicamente.
Finalmente, a gestao articulada por competencias demanda
comunicacao clara e comum. A propria aplicacao da perspectiva
estrategica implica e ressalta a importancia da integracao e
diferenciacao por competencias de todos os niveis de uma organizacao, e
isso requer coordenacao e comunicacao adicionais em toda a organizacao
(BITAR; HAFSI, 2007). A prerrogativa da comunicacao de forma
transparente e efetiva faz com que a abordagem das competencias se torne
pertinente tambem por promover a unificacao das interpretacoes diversas
que podem coexistir em uma mesma realidade organizacional, especialmente
quando se trata de desenvolvimento e desempenho organizacional e
individual. Propicia a reducao da complexidade desses topicos e
uniformiza e direciona a busca de objetivos comuns, em diversos niveis
internos e externos as organizacoes. Para Zarifian (2003), a comunicacao
se estabelece como um dos aspectos mais complexos e estimulantes do
modelo de competencia, ja que, apesar de essencial, esta imersa em
inumeras dificuldades, tendo como desafio ajustar pontos de vista,
linguagens e pertinencias nunca homogeneos. A heterogeneidade esta
implicita nesses processos e, antes de ser vista como um problema, deve
ser considerada como a causa da aprendizagem, por emancipar a
sociabilizacao do homem (ZARIFIAN, 2003).
Os programas de formacao, desenvolvimento e acompanhamento de
competencias individuais devem ser elaborados de modo a atuar
consoantemente aos intentos das organizacoes, proporcionando a agregacao
de valor para o individuo, para a empresa e para a sociedade que a
circunda e observando os diferentes publicos que coexistem em uma mesma
realidade e que demandam adaptacoes. Uma vez que tal gestao preve que o
individuo seja responsavel pela construcao e consolidacao de suas
competencias a partir da interacao em um escopo ampliado, estas podem
ser consideradas as determinantes sociais para o desenvolvimento dos
individuos, ou seja, condicionantes de sua autonomia e emancipacao
sociointelectual. Nesse contexto, a emergencia e o desenvolvimento da
experiencia e fundamental (SCHWARTZ, 2010).
Assim, ao refletir sobre as conceituacoes dos autores estudados nos
topicos anteriores, chegouse a constatacao de que a definicao de
competencias organizacionais que melhor se adequa a necessidade
integradora e unificadora e a proposta:
Um agir coletivo e processual, em permanente
construcao, reconhecido como de alta qualidade,
que reflete o mobilizar e o transferir
conhecimentos, recursos e habilidades de forma
que agreguem valor a organizacao, aos
individuos e a sociedade.
As caracteristicas que identificam uma competencia organizacional
sao a sustentabilidade, a capacidade de coordenacao, a capacidade de
desenvolvimento e a orientacao para objetivos. A identificacao e a
classificacao das competencias de uma organizacao sao idiossincraticas e
envolvem: a competencia dos individuos com os quais ela se relaciona, a
dinamicidade de sua estrutura e recursos, seus valores e cultura, bem
como o contexto externo. Acredita-se que, a partir dessas
caracteristicas gerais, a cada organizacao sera possivel identificar
suas proprias competencias e classifica-las conforme suas necessidades e
realidade.
O modelo de gestao articulada por competencias e suas
caracteristicas e assumido neste artigo como uma maneira pela qual a
organizacao se estabelece para gerenciar e orientar o alinhamento entre
objetivos e estrategias organizacionais, as pretensoes individuais e as
condicoes ambientais, a partir de uma abordagem prospectiva e proativa.
Um modelo de gestao articulado por competencias deve ser tao especifico
quanto seu conteudo, de forma que tenha suas definicoes,
caracteristicas, conceitos e indicadores de mensuracao apropriadamente
definidos. A gestao orientada por este modelo exige a valorizacao da
relacao entre organizacao e individuo, sendo a comunicacao e a
transparencia essenciais nesse processo. A responsabilidade pelo modelo
e do departamento de gestao de pessoas, contudo ele permeia a
organizacao como um todo e, nesse sentido, exige o comprometimento dos
membros organizacionais.
4. CONSIDERACOES FINAIS, IMPLICACOES PARA A ADMINISTRACAO E ESTUDOS
FUTUROS
A consulta a literatura disponivel sobre competencias
organizacionais denunciou a ausencia de uma fonte unificadora de
conceitos e formas de operacionalizacao. Buscando cumprir esforcos
iniciais para o preenchimento dessa lacuna, este artigo teve por
objetivo descrever e discutir os avancos e desafios da aplicacao dos
conceitos de competencia organizacional nos ultimos 15 anos (1997 a
2012), alem de tecer consideracoes sobre algumas fontes seminais. Foram
explorados aspectos da visao baseada em recursos, a conceituacao, a
classificacao, a formacao, o desenvolvimento e a gestao de competencias
organizacionais.
Em relacao a conceituacao, argumenta-se que as visoes mais
racionalistas e outras mais construtivistas, aparentemente em contraste,
nao sao totalmente independentes ou divergentes, pelo contrario, pode-se
dizer que sao complementares, uma vez que a primeira perspectiva pode
ser utilizada para a medicao e visualizacao de resultados e objetivos,
enquanto a segunda pode ser aplicada para a formacao e desenvolvimento
das competencias e de seus elementos constitutivos. Em outras palavras,
nao ha melhor abordagem entre a racionalista e a construtivista, pois
sua utilizacao dependera do foco em vista, apesar de que, em termos de
escopo, esta ultima se mostra mais abrangente.
Concernente a classificacao de competencias organizacionais, viu-se
que estas podem ser diversas e orientar-se mais ou menos para a geracao
de vantagens competitivas. Para uma organizacao, reconhecer suas
competencias, seja qual for a classificacao utilizada, pode auxilia-la a
conhecer melhor seu negocio e a buscar preencher lacunas por meio de
aliancas corporativas. Ademais, a identificacao das competencias da
organizacao necessarias para seu desenvolvimento pode contribuir para
detectar areas em que seja preciso investir para proteger ou aumentar a
condicao competitiva da empresa.
Cabe lembrar que as competencias organizacionais envolvem aspectos
objetivos e subjetivos, o que e um indicativo da abrangencia dessa
tarefa e da idiossincrasia de qualquer competencia organizacional. Ainda
que recursos tangiveis, tais como maquinas, ferramentas e capital
financeiro, sejam importantes elementos para o agir de uma organizacao,
as competencias necessariamente dependem do envolvimento dos individuos
enquanto sujeitos detentores do conhecimento e da acao.
No que se refere aos modelos de gestao articulados por competencia,
salienta-se a necessidade de propostas de modelos que busquem aproximar
competencias individuais e organizacionais, considerando o ambiente
externo, de maneira coerente e adequada as estrategias organizacionais.
Entretanto, e preciso que esses modelos sejam validos, especialmente no
que tange a relacao entre os objetivos propostos pelos modelos de gestao
de competencias e seus respectivos resultados, a fim de que sua adocao
nao seja insignificante e inoperante, o que faria com que permanecessem
as tradicionais gerencias de recursos humanos, e nem seja um obstaculo
ou o "elefante branco" da organizacao.
Para tanto, destaca-se a comunicacao constante por todas as
instancias das organizacoes, realizada de modo claro, objetivo e comum.
Isso significa que sua presenca e necessaria no momento de definicao e
alinhamento de competencias organizacionais, de desenvolvimento e
avaliacao de competencias individuais, alem de em situacoes de revisoes
e atualizacoes. A comunicacao--verbal e/ou nao verbal--ganha ainda
destaque a medida que se insere na coletividade dos grupos, podendo
proporcionar a dispersao e recombinacao de conhecimentos, solucoes
inovadoras e criativas, alem de ter papel fundamental nos atos de
colaboracao entre os membros da organizacao e no aprendizado. A gestao
articulada por competencia perpassa, necessariamente, por este aspecto.
Como avancos nos estudos atuais sobre competencias organizacionais,
foram apontados os trabalhos de Sanchez (2004) de estabelecimento de uma
conceituacao teorica robusta e aplicavel; de Drejer (2001; 2002) sobre
sua proposta para o desenvolvimento de competencias; e de Wright,
Dunford e Snell (2001) e de Sanchez (2004) no que se refere a propostas
de modelos satisfatoriamente abrangentes, porem complementares, para
orientar a gestao das competencias nas organizacoes.
A gestao baseada em competencias ganha relevancia uma vez que
permite a dinamicidade das mesmas na organizacao, por meio de
instrumentos capazes de formar, desenvolver e avaliar as
competencias--individuais, coletivas ou organizacionais. Fundamental na
aplicacao de um modelo de competencia, e como um primeiro passo, e o
entendimento comum por parte dos usuarios sobre o significado de tal
modelo, sobre sua capacidade de aprimorar praticas atuais e sobre os
beneficios confiaveis e validos advindos dele.
Cabe a organizacao, portanto, prezar por um modelo de gestao
articulado por competencias valido, que lhe permita atuar em
conformidade com seus objetivos, ao inves de seguir modismos e fazer
deste instrumento uma falacia na gestao. Optar pela adocao de
conceituacoes multiplas e/ou orfas provavelmente conflitantes, com
grandes chances implicara inadequacoes ou ainda inviabilizacao tambem no
ambito da operacionalizacao das competencias.
Almeja-se que as exposicoes aqui postuladas possam atingir e
contribuir nao somente com a comunidade academica, mas tambem com a
empresarial. Estudos futuros sao, porem, necessarios para prosseguir
neste esforco inicial. Recomendam-se pesquisas compostas de
levantamentos bibliograficos mais aprofundados que possam elucidar o
estado da arte das competencias organizacionais ao longo do tempo,
verificando temas mais e menos desenvolvidos, e, assim, buscar propostas
que supram por completo as lacunas que devem ser identificadas. Do mesmo
modo, pesquisas empiricas podem ajudar a mapear o que e utilizado nas
organizacoes, a fim de que se possa aproximar a academia do empresariado
e confusoes e divergencias possam ser superadas.
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ZARIFIAN, P. O modelo da competencia. Sao Paulo: SENAC Editora,
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DOI: 10.5700/576
Recebido em: 29/7/2014
Aprovado em: 12/7/2015
Luciano Munck
Professor Adjunto da Universidade Estadual de Londrina--UEL/PR-
Londrina-PR, Brasil
Pos-doutor pelo Building Sustainable Value Research Centre--Ivey
Business School--Western University--Ontario/CA
Doutor em Administracao pela Universidade de Sao Paulo. Mestre em
Engenharia de Producao pela Universidade Federal de Santa Catarina.
Graduado em Administracao pela Universidade Federal de Vicosa
E-mail: munck@uel.br
Barbara Galleli
Doutoranda do Programa de Pos-Graduacao em Administracao da
Universidade de Sao Paulo (FEA-USP)--Sao Paulo-SP, Brasil
Mestre em Administracao pelo Programa de Pos-Graduacao em
Administracao da Universidade Estadual de Londrina (PPGA/UEL). Graduada
pela mesma instituicao no curso de Administracao
E-mail: b.gallelidias@gmail.com
Quadro 1--Conceituacoes de competencia organizacional
Autores Conceito de Competencia Organizacional
Drejer (2001) A competencia organizacional e o ponto inicial
de muitas atividades organizacionais complexas
realizadas em grupos e equipes. E a habilidade de
uma equipe de aplicar e dividir seu conhecimento e
experiencia em acoes qualificadamente coerentes.
Acontece por consequencia tanto das influencias
tecnologicas, culturais e valorativas, quanto,
principalmente, da estrutura formal da
organizacao.
Lewis (2003) A competencia organizacional refere-se ao processo
de transformacao que combina recursos e atividades
de input em operacoes que resultam em outcomes
especificos para o desempenho competitivo da
empresa.
Mills, Platts e As competencias organizacionais constituem-se na
Bourne (2003) coordenacao dos recursos, representada pelos
servicos proporcionados pelos mesmos.
De Carolis (2003) As competencias representam a acumulacao do
conhecimento a medida que as organizacoes
aprendem ao longo do tempo, atualizam esse
conhecimento em forma de competencias e as
implementam estrategicamente por meio de seus
produtos no mercado.
Fleury, M. e As competencias organizacionais sao constituidas a
Fleury, A. (2004) partir da combinacao de recursos e de multiplas
competencias individuais, de tal forma que o
resultado total e maior que a soma das
competencias individuais. Devem agregar valor
economico para a organizacao e valor social
para o individuo.
Spanos e Prastacos Competencias organizacionais sao entidades
(2004) socialmente construidas, arranjadas em redes de
conhecimentos, constituidas de relacoes entre
individuos e aspectos inanimados da organizacao,
que, em geral, tem por objetivo o desempenho
eficaz e eficiente de uma atividade e acumulam
aprendizagem no longo prazo. A competencia
representa a habilidade da organizacao em agir,
unindo diferentes aspectos da organizacao
--especialmente o humano--e formando uma rede
de intensa interacao, passivel de provocar a
criacao e a aplicacao do conhecimento.
Moura e Bitencourt A competencia organizacional e concebida como um
(2006) processo em construcao, em que as aprendizagens
individuais e coletivas recebem destaque. O elenco
de competencias adquiridas e capaz de lidar com
situacoes inesperadas, nao rotineiras, promovendo
assim instancias de aprendizagem.
Bitar e Hafsi A competencia e um fenomeno organizacional
(2007) emergente da implantacao de recursos, apresentada
por individuos e grupos enquanto definem e
resolvem problemas em diferentes niveis de uma
organizacao. E o produto da organizacao enquanto
um sistema completo, orientado pela aprendizagem e
pratica de individuos e grupos interagindo dentro
do sistema estrutural e cultural da organizacao,
bem como com o ambiente externo. Quando inter-
relacionada a estrategia, pode confluir em
beneficios diretos para a organizacao.
Kleef e Roome A competencia organizacional e vista como o
(2007) aprendizado da organizacao em coordenar diversas
habilidades produtivas e integrar tecnologias.
Inclui a organizacao do trabalho, o envolvimento
dos empregados, o compromisso com o trabalho e a
comunicacao e a entrega de valor aos consumidores
e outros stakeholders.
Fonte: Elaborado pelos autores.