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  • 标题:Fiscal effort, dependence on the FPM and socioeconomic development: a study applied to municipalities in Minas Gerais/Esforco fiscal, dependencia do FPM e desenvolvimento socioeconomico: um estudo aplicado aos municipios de Minas Gerais/Esfuerzo fiscal, dependencia del FPM y desarrollo socioeconomico: un estudio aplicado a los municipios del estado de Minas Gerais.
  • 作者:Massardi, Wellington de Oliveira ; Abrantes, Luiz Antonio
  • 期刊名称:Revista de Gestao USP
  • 印刷版ISSN:1809-2276
  • 出版年度:2015
  • 期号:October
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade - FEA-USP
  • 摘要:A descentralizacao fiscal apos a reforma constitucional de 1988 dotou os Estados e Municipios de maior autonomia politica, legislativa e financeira. Para o desempenho de suas atividades, os municipios, alem das transferencias intergovernamentais, passaram a ter capacidade de obtencao de receita propria pela exploracao de seu patrimonio e pelas contribuicoes representadas pelos tributos municipais. Nesse sentido, a arrecadacao tributaria passou a ser a principal fonte de receita. Essa arrecadacao compreende todos os impostos, taxas e contribuicoes recolhidas, cujo montante total arrecadado por todas as esferas de governo, dividido pela riqueza gerada no pais no mesmo periodo, mensurada por meio do Produto Interno Bruto (PIB), representa o valor da carga tributaria.
  • 关键词:Econometric models;Local finance

Fiscal effort, dependence on the FPM and socioeconomic development: a study applied to municipalities in Minas Gerais/Esforco fiscal, dependencia do FPM e desenvolvimento socioeconomico: um estudo aplicado aos municipios de Minas Gerais/Esfuerzo fiscal, dependencia del FPM y desarrollo socioeconomico: un estudio aplicado a los municipios del estado de Minas Gerais.


Massardi, Wellington de Oliveira ; Abrantes, Luiz Antonio


1. INTRODUCAO

A descentralizacao fiscal apos a reforma constitucional de 1988 dotou os Estados e Municipios de maior autonomia politica, legislativa e financeira. Para o desempenho de suas atividades, os municipios, alem das transferencias intergovernamentais, passaram a ter capacidade de obtencao de receita propria pela exploracao de seu patrimonio e pelas contribuicoes representadas pelos tributos municipais. Nesse sentido, a arrecadacao tributaria passou a ser a principal fonte de receita. Essa arrecadacao compreende todos os impostos, taxas e contribuicoes recolhidas, cujo montante total arrecadado por todas as esferas de governo, dividido pela riqueza gerada no pais no mesmo periodo, mensurada por meio do Produto Interno Bruto (PIB), representa o valor da carga tributaria.

O Brasil possui uma carga tributaria elevada, comparativamente a de paises desenvolvidos, que vem evoluindo no decorrer dos anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Planejamento Tributario (IBPT), no ano de 1997 a carga tributaria brasileira representava 27,29% do PIB e, no ano de 2011, esse porcentual passou a ser de 36,06%. Esse aumento de aproximadamente nove pontos porcentuais reflete um crescimento da arrecadacao tributaria mais que proporcional ao crescimento do PIB brasileiro no periodo.

Embora a carga tributaria brasileira seja elevada, nao existe um retorno de bens e servicos publicos a populacao na mesma proporcao. No ano de 2010, dos 30 paises que possuiam as maiores cargas tributarias do mundo, o Brasil era o que tinha o menor Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) e, consequentemente, o pior retorno dos valores arrecadados em favor do bemestar da sociedade, ficando atras de paises da America do Sul, como Uruguai e Argentina (IBPT, 2012).

Para Carvalho, D. F., Oliveira e Carvalho, A. C. (2007), a diversidade tributaria das economias subnacionais e uma das principais caracteristicas do federalismo brasileiro. Acresce-se a isso o fato de o Brasil ser um pais de grandes dimensoes territoriais e diferentes caracteristicas entre municipios, o que, segundo Costa et al. (2012), contribui para a emergencia de disparidades regionais.

Galvarro, Braga e Fontes (2008) evidenciam que um dos maiores desafios para o federalismo fiscal brasileiro e reverter esse quadro de desigualdades. Para esses autores, uma das formas de ajustar essa situacao, dentro de uma federacao, e, sem duvida, um sistema de distribuicao de recursos e de atribuicoes governamentais que permita equilibrar a atuacao publica dos municipios nos diversos pontos do pais.

Essa heterogeneidade na composicao da receita dos municipios e perceptivel na maior parte das unidades da federacao brasileira. Dentre essas unidades, o estado de Minas Gerais se destaca por seu grande numero de municipios e pelas diferencas regionais existentes, o que suscita diversas questoes envolvendo a existencia de diferencas significativas nas estruturas socioeconomicas existentes em seu territorio (COSTA et al, 2012).

Minas Gerais e um dos estados que mais apresentam disparidades regionais, visto que coexistem regioes dinamicas e modernas com regioes atrasadas e estagnadas. Alem disso, e o estado que possui o maior numero de municipios, 853 no total, e e o segundo mais populoso, ficando atras somente de Sao Paulo (GALVARRO; BRAGA; FONTES, 2008).

Como enfatiza Prado (2007), no contexto da centralizacao de recursos cabe aos governos nacionais instituir sistemas de transferencias para ajustar o desequilibrio financeiro entre as diferentes esferas de governo, reduzir as disparidades existentes entre as unidades federadas de mesmo nivel e financiar projetos e programas de interesse nacional. Dessa forma, a composicao das receitas dos municipios e formada pelas arrecadacoes proprias e pelas transferencias, cujos recursos podem ser de livre aplicacao ou vinculados. Para Baiao (2013), em todas as federacoes do mundo a arrecadacao e maior no nivel mais amplo e menor nos niveis locais, tornando necessaria a transferencia de recursos da instancia central aos governos subnacionais. Essas transferencias, alem de corrigirem o desequilibrio vertical na federacao, ou seja, as diferencas entre atribuicoes e receitas nos diferentes niveis de governo, representam uma oportunidade de atenuar as disparidades regionais, uma vez que o territorio de uma nacao raramente e homogeneo do ponto de vista economico e social.

No Brasil, para Zimmermann (2009), o desenho das transferencias tem sido particularmente polemico e despertado diversos questionamentos sobre o processo de descentralizacao fiscal vivido a partir de meados da decada de 80. As criticas recaem, em grande parte dos casos, sobre alguns desdobramentos diretamente relacionados aos incentivos gerados pela existencia do Fundo de Participacao dos Municipios (FPM).

Esse Fundo, considerado uma das principais transferencias constitucionais, e composto de 22,5% da arrecadacao do Imposto de Renda (IR) e do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Sua distribuicao aos municipios e feita de acordo com o numero de habitantes: sao fixadas faixas populacionais, cabendo a cada uma delas um coeficiente individual, conforme determinado na Lei no. 5.172/96.

Para Mendes (1994), os atuais criterios de distribuicao do FPM nao atendem a principal funcao de uma transferencia incondicional, que e equilibrar a demanda e a capacidade da oferta de bens e servicos publicos, alem de gerar incentivos para um baixo desempenho fiscal. Moraes (2006) complementa afirmando que a utilizacao extensa de transferencias intergovernamentais criou um arcabouco institucional que privilegia excessivamente os pequenos municipios, os quais nao se esforcam para arrecadar os tributos que sao de sua competencia, ou seja, possuem baixo esforco fiscal e maior dependencia das transferencias intergovernamentais.

Considerando os aspectos introdutorios iniciais, a presente pesquisa tem por objetivo demonstrar a relacao entre o esforco fiscal, o nivel de dependencia do FPM e o desempenho socioeconomico dos municipios, partindo da hipotese inicial de que municipios com maior esforco fiscal possuem menor dependencia do FPM e, consequentemente, melhor desempenho socioeconomico.

Como espaco de analise, foi adotado, neste estudo, o conjunto de municipios do estado de Minas Gerais. Essa escolha se justifica pelo fato de o estado refletir o contexto nacional, retratando a diversidade do processo de desenvolvimento socioeconomico brasileiro. Conforme o BNDS (2000 apud DELGADO; MACHADO, 2007), o estado e reconhecido como um caso ilustrativo das desigualdades sociorregionais presentes no Brasil, permitindo extrapolacoes e futura aplicacao ao caso brasileiro.

Podem-se citar diversos trabalhos, a partir da promulgacao da Constituicao de 1988, que analisaram o esforco fiscal dos municipios, a exemplo de Silva (1995), Araujo e Oliveira (2000), Gerigk e Clemente (2011), Diniz, Macedo e Corrar (2012), Correa (2012) e Ribeiro (2012). Constatou-se, nesses trabalhos, alta dependencia dos recursos provenientes de transferencias intergovernamentais pelos municipios analisados.

Este estudo se assemelha aos demais ao considerar a avaliacao do esforco fiscal dos municipios, e se diferencia deles quando se propoe a demonstrar a relacao do esforco de arrecadacao com o desenvolvimento socioeconomico e com o nivel de dependencia do FPM.

2. REVISAO DE LITERATURA

2.1. Esforco Fiscal e Desenvolvimento Socioeconomico

De acordo com Moraes (2006), o esforco fiscal e a medida que representa o esforco de arrecadar toda a receita tributaria disponivel em uma base tributaria propria. E um indice obtido pela razao entre as receitas proprias arrecadadas e as receitas potenciais mensuradas pela base tributaria disponivel.

A arrecadacao tributaria de um municipio, por exemplo, e resultante da aplicacao dos tributos de sua competencia sobre sua base tributaria local, que depende de suas caracteristicas economicas, tais como a renda per capta, o tamanho da populacao, a composicao setorial da producao e o grau de urbanizacao (RODRIGUES, 2004; CAMPELO, 2003).

A base tributaria representa, entao, o total de recursos existentes na localidade que poderia ser apropriado, atraves da imposicao tributaria, caso o municipio exercesse plenamente sua competencia de arrecadacao, ou seja, coletasse plenamente todos os tributos de sua competencia.

Na definicao de Ribeiro e Junior (2004), o esforco fiscal pode ser entendido como o grau de exploracao de determinada capacidade tributaria, considerada como a competencia de uma jurisdicao em gerar receitas das proprias fontes.

Dessa forma, o esforco fiscal esta intimamente relacionado ao conceito de capacidade tributaria e implica comparar a arrecadacao tributaria de cada ente da federacao com sua base tributaria existente.

Segundo Cossio (1995:11):
   Pode-se, de forma mais rigorosa, definir a
   capacidade tributaria ou arrecadacao tributaria
   potencial de uma unidade da federacao como o
   maximo de arrecadacao que se pode obter da
   sua base tributaria, dada a estrutura impositiva
   vigente em um dado momento no tempo.


O conceito de capacidade tributaria refere-se, portanto, ao maximo de arrecadacao propria que se poderia atingir em uma determinada jurisdicao, tendo em vista o nivel de atividade economica local. Sendo assim, a relacao entre a arrecadacao efetiva e a capacidade tributaria expressa o grau de esforco fiscal proprio da jurisdicao em analise.

[FIGURE 1 OMITTED]

Para Campelo (2003), a eficiencia de arrecadacao dos municipios esta diretamente relacionada a capacidade desses municipios de transformar os recursos disponiveis (arrecadacao propria, transferencias intergovernamentais e recursos privados) em desenvolvimento socioeconomico e qualidade de vida para a populacao.

Esse processo de transformacao, conforme evidenciado na Figura 1, inicia-se primeiramente com a exploracao da base tributaria local, que por sua vez e adicionada aos recursos provenientes de transferencias e do setor privado, os quais, juntos, sao convertidos em desenvolvimento socioeconomico.

Nesse contexto, e importante destacar que o conceito de desenvolvimento socioeconomico passou por profundas transformacoes ao longo dos anos. Em um primeiro momento, conforme Solow (1956), verifica-se que o crescimento economico era entendido como proxy de desenvolvimento, portanto passivel de mensuracao por meio da renda per capita de um determinado pais, estado ou municipio.

Segundo Costa e Lutosa (2007), o PIB per capita e um importante indicador de desenvolvimento economico, porem, ao se falar em desenvolvimento, nao se deve levar em consideracao apenas o aspecto economico, pois este e incapaz de mensurar a qualidade de vida e o bem-estar de uma sociedade.

Dessa forma, o desenvolvimento passa a ter uma caracteristica multidimensional que nao se limita ao aspecto economico, uma vez que incorpora outras dimensoes relacionadas a melhorias na area da educacao, saude, saneamento basico, habitacao e qualidade ambiental.

O desenvolvimento, assim, resulta de um processo continuo e estruturado, com foco nao apenas no crescimento economico, mas tambem na diminuicao da marginalizacao, das desigualdades sociais e regionais, sendo o Estado seu principal condutor, por meio do planejamento de medio e longo prazo.

Diante da impossibilidade de utilizacao do PIB per capita, usado como proxy do nivel de desenvolvimento socioeconomico em razao de sua incapacidade de mensurar a qualidade de vida, surgiu um imenso esforco conceitual e metodologico para o desenvolvimento de instrumentos de mensuracao do bem-estar e da mudanca social, que culminou com a criacao do Indice de Desenvolvimento Humano (IDH) pelo Programa de Desenvolvimento das Nacoes Unidas (COSTA; LUTOSA, 2007).

De acordo com Silva et al. (2010), alem desse indicador, foram criados varios outros com o objetivo de mensurar o desenvolvimento socioeconomico e a qualidade de vida no Brasil, como: o Indice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M), o Indice Social Municipal (ISM), o Indice de Condicoes de Vida (ICV), o Indice de Desenvolvimento da Familia (IDF) e o Indice Fiijan de Desenvolvimento Municipal (IFDM).

Dentre os varios indices de qualidade de vida, o IFDM se destaca por ser de periodicidade anual, recorte municipal e ter abrangencia nacional, possibilitando o acompanhamento do desenvolvimento humano, economico e social dos municipios por meio de uma serie anual de calculo simplificado, baseado em dados oficiais.

O IFDM e desenvolvido pela Federacao das Industrias do Estado do Rio de Janeiro. Este indice abrange, com igual ponderacao, tres areas: Emprego/Renda, Educacao e Saude, compostas de 12 indicadores. O indice varia de 0 a 1 e, quanto mais proximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade.

O IFDM supre a inexistencia de um parametro para medir o desenvolvimento socioeconomico dos municipios e distingue-se por ter periodicidade anual, permitindo dessa forma que a sociedade e o governo possam acompanhar a evolucao do desenvolvimento. Em sua primeira edicao, o IFDM foi calculado para os anos de 2000 e 2005; a partir de entao, vem sendo divulgado anualmente.

2.2. Relacao entre Esforco Fiscal e Transferencias Intergovernamentais

As transferencias intergovernamentais sao importantes mecanismos de correcao dos desequilibrios inter-regionais na capacidade de geracao de recursos tributarios proprios e, por isso, representam uma das formas de financiamento do setor publico em paises organizados em uma federacao que apresentam desigualdades entre suas regioes (COSSIO, 1995).

De acordo com Tristao (2003), as transferencias intergovernamentais de recursos devem ser utilizadas para compensar as diferencas regionais de receitas e custos e beneficios externos decorrentes de acoes locais.

O uso dessas transferencias como forma compensatoria de verbas publicas permite minimizar as disparidades existentes dentro da federacao, em busca de equilibrio fiscal, principalmente em municipios pequenos cuja arrecadacao propria nao chega a 1% da receita total (COSTA et al., 2012; GALVARRO; BRAGA; FONTES, 2008).

Para Veloso (2008), o sistema de transferencias e uma das formas de tornar o setor publico mais bem desenhado. E usado para harmonizar as acoes publicas com os recursos necessarios para atende-las, com o objetivo de maximizar o bem-estar da populacao; por isso, as principais finalidades das transferencias intergovernamentais em regimes federativos estao relacionadas a coordenacao de politicas de abrangencia nacional e ao desequilibrio fiscal.

Segundo Campelo (2003), os governos subnacionais possuem atribuicoes especificas na producao de bens e servicos publicos definidos pelo pacto federativo (agenda), expressas na Constituicao e que demandam um volume de recursos para serem realizadas. A diferenca entre a receita propria de um municipio, por exemplo, e as necessidades de gastos com servicos publicos representa um hiato fiscal que deve ser compensado pelo sistema de transferencias.

Veloso (2008) destaca que o hiato fiscal seria definido como uma deficiencia de arrecadacao originada na incompatibilidade entre as fontes de recursos e as necessidades de gastos normalmente observadas nos governos subnacionais (Figura 2).

[FIGURE 2 OMITTED]

Dessa forma, as transferencias intergovemamentais possuem uma importancia fundamental em um regime federativo, por serem um instrumento que possibilita corrigir as desigualdades socioeconomicas inter-regionais, dando, principalmente aos municipios menores, mais condicoes de fornecerem bens e servicos publicos a populacao local.

Entretanto, os sistemas de transferencias afetam o comportamento dos governos receptores, podendo ter efeitos adversos na eficiencia da gestao publica, cujo impacto e intensidade dependem do desenho do sistema de transferencias, ou seja, o peso das transferencias intergovernamentais na estrutura de financiamento das unidades receptoras gera incentivos que acabam afetando o funcionamento da federacao (VELOSO, 2008).

Nesse sentido, Ribeiro e Shikida (2000) destacam a questao controversa das transferencias intergovemamentais. Segundo esses autores, os argumentos tradicionais justificam a existencia de transferencias com base no criterio de equalizacao; entretanto, no extremo oposto, varios autores argumentam que as transferencias geram ilusao fiscal, que e a falsa impressao de que os bens publicos produzidos pelo governo local possuem um custo muito baixo em relacao ao que seria seu preco em uma situacao de transferencias nulas.

Oates (1972) argumenta que a utilizacao das transferencias intergovernamentais provoca uma ilusao fiscal nas unidades receptoras porque reduz a percepcao do custo para provisao dos bens publicos oferecidos pela unidade, criando nos contribuintes a sensacao de que uma parcela desses custos pode ser financiada por outras comunidades.

Sendo assim, as transferencias acabam se tornando um mecanismo de financiamento que permite repassar os custos da provisao de bens publicos locais para todo o conjunto da Federacao; consequentemente, a importancia das transferencias na estrutura de financiamento dos governos subnacionais ira determinar o interesse destas na exploracao das bases tributarias proprias.

Orair e Alencar (2010) destacam que ha toda uma literatura baseada em fundamentos microeconomicos aplicados ao setor publico que evidenciam os efeitos distorcivos das transferencias no comportamento dos entes federados e no equilibrio fiscal. Na visao desses autores, o elevado grau de dependencia de transferencias induz a ineficiencia na arrecadacao (preguica fiscal), o que e denominado na literatura como comportamento freerider (carona).

Ribeiro e Junior (2004) concordam que o mecanismo das transferencias federais beneficia os municipios menores; em virtude disso, essas transferencias incentivam esses municipios a diminuirem seu esforco fiscal. Segundo esses autores, os municipios que conseguem tributar nao residentes tendem a apresentar maior grau de esforco fiscal, uma vez que evitam o desgaste politico de uma maquina arrecadadora mais eficiente, pois boa parte dos contribuintes nao vota nesses municipios, como e o caso dos municipios turisticos.

Tristao (2003) acrescenta que os municipios tendem a evitar o onus politico da imposicao tributaria e, por isso, buscam limitar-se, em maior ou menor grau, aos recursos repassados pelas outras instancias governamentais por meio das transferencias intergovernamentais.

A relacao entre as transferencias intergovemamentais e o esforco fiscal dos municipios pode ser expressa, resumidamente, nas palavras de Cossio (1995:79):
   A logica da relacao transferencias/esforco de
   arrecadacao baseia-se na preferencia dos
   administradores dos niveis inferiores de governo
   em financiar a provisao de bens publicos locais
   com recursos de terceiros (neste caso, atraves de
   transferencias federais), e nao na extracao de
   recursos tributarios de suas comunidades. A
   elevacao da pressao tributaria gera custos
   politicos que inexistem no caso do
   financiamento nao-tributario.


Existem varios estudos que demonstram a relacao entre as transferencias intergovernamentais e o esforco de arrecadacao das unidades subnacionais. A grande maioria desses estudos identificou que as transferencias intergovernamentais possuem uma influencia negativa no esforco fiscal, ou seja, os municipios que apresentam maiores recursos de transferencias possuem menores esforcos de arrecadacao.

Em um trabalho seminal realizado no contexto brasileiro, Cossio (1995) identificou, por meio de um modelo econometrico de fronteira estocastica, que a elevacao da participacao das transferencias intergovernamentais provoca uma reducao do esforco fiscal das unidades receptoras.

Analisando o esforco fiscal dos estados brasileiros, Ribeiro (1998) concluiu que as transferencias intergovernamentais exercem um efeito perverso na saude fiscal da nacao, tendo em vista que essas transferencias reduzem o esforco de arrecadacao dos estados brasileiros, embora nao tenha sido verificado um agravamento dessa situacao apos a promulgacao da Constituicao Federal de 1988.

Carvalho, D. F., Oliveira e Carvalho, A. C. (2007) analisaram o esforco fiscal do estado da Amazonia no periodo de 1970 a 2000 e concluiram que o aumento das transferencias intergovernamentais pode causar certa acomodacao no esforco fiscal dos estados da periferia.

Em nivel municipal, Orair e Alencar (2010) evidenciaram que as transferencias exerceram influencia negativa na arrecadacao propria dos municipios brasileiros no ano de 2007, dos quais 41% tiveram um indice de esforco fiscal inferior a unidade, o que representa baixa arrecadacao ante a base tributaria disponivel.

Em relacao aos municipios mineiros, destacase o trabalho de Ribeiro e Shikida (2000), que concluiu que as transferencias intergovernamentais podem gerar um efeito perverso e indesejado pelos formuladores de politica economica, por desestimular o esforco de arrecadacao dos tributos que sao de competencia propria desses municipios.

No trabalho de Nascimento (2010), ficou evidenciado que as transferencias desvinculadas tiveram efeito desestimulante sobre a arrecadacao tributaria, o que sugere uma substituicao quase perfeita de receita de tributos proprios por transferencias.

Por ultimo, destaca-se o trabalho de Rodrigues (2004) aplicado aos municipios catarinenses, onde se constatou a proposicao teorica de que existe uma relacao negativa entre o esforco fiscal proprio dos municipios e a transferencia de recursos da Uniao, representada neste trabalho pelo Fundo de Participacao Municipal (FPM).

3. METODOLOGIA

3.1. Populacao, amostra e coleta dos dados

O estudo utilizou dados secundarios oriundos de fontes oficiais, amplamente utilizadas em pesquisas na area de Ciencias Sociais Aplicadas. As principais fontes foram: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica (IBGE), Fundacao Joao Pinheiro e Secretaria do Tesouro Nacional, por meio do banco de dados FINBRA.

As variaveis estudadas foram proxies para os diversos constructos abordados no decorrer do estudo, haja vista a impossibilidade de mensurar, com a disponibilidade de tempo e recursos da pesquisa, todos os fatores estudados.

O periodo de analise compreendeu os anos de 2005 a 2009. A escolha desse periodo para compor o painel de dados foi devida a limitacao das informacoes disponiveis, pois a grande maioria das variaveis nao possui informacoes mais recentes.

Alem disso, do total de 853 municipios que compoem o estado de Minas Gerais, obtiveram-se informacoes completas para 698 municipios, ou seja, a amostra representa aproximadamente 81,83% da populacao. A reducao do tamanho da amostra deveu-se a ausencia de informacoes no banco de dados FINBRA, pois a quantidade municipios que possuem informacoes disponiveis varia muito ano a ano.

3.2. Modelo empirico proposto

A presente pesquisa utilizou a regressao multipla com dados em painel para determinar a receita tributaria potencial dos municipios mineiros, ou seja, sua capacidade de arrecadacao, assim como foi feito nos trabalhos de Moraes (2006), Orair e Alencar (2010) e Vasconcelos, Piancastelli e Miranda (2006).

Silva e Junior (2004) reforcam a ideia de que o metodo de dados em painel apresenta inumeras vantagens em relacao aos metodos de serie temporal e de secao cruzada. Uma dessas vantagens e a reducao do problema de colinearidade entre as variaveis explicativas, uma vez que permite um maior numero de observacoes na analise, consequentemente aumentando os graus de liberdade e de eficiencia dos parametros estimados.

Segundo Gujarati (2006), o modelo de regressao com dados em painel geralmente considera os efeitos fixos e os efeitos aleatorios, que se diferenciam entre si pela pressuposicao sobre o termo de erro e o intercepto. Entretanto, Pindyck e Rubinfeld (2004) destacam que, alem desses modelos, pode ser utilizado, para estimacao de dados em painel, o metodo habitual dos Minimos Quadrados Ordinarios (MQO), que, ao ser aplicado em uma amostra longitudinal, e denominado Pooled Regression. Para fazer a escolha entre os modelos devem-se fazer alguns testes (1) estatisticos. Apos a identificacao do modelo mais adequado, deve-se verificar a ausencia de autocorrelacao e heterocedasticidade. Para verificar a existencia de autocorrelacao, utiliza-se o teste de Wooldridge, no qual a hipotese nula e de que haja ausencia de autocorrelacao. Em relacao a heterocedasticidade, e utilizado o teste de Wald, cuja hipotese nula e a existencia de homocedasticidade. Dessa forma, constatando-se a existencia de autocorrelacao e de homocedasticidade, devem-se realizar correcoes por meio do procedimento Driscoll-Kraay ou por bootstrap.

Sendo assim, para realizar o modelo de regressao que estimou a capacidade de arrecadacao dos municipios, foram selecionadas uma variavel dependente e multiplas variaveis independentes.

Como variavel dependente, utilizou-se a Receita Tributaria dos municipios (RT), que compreende os valores recolhidos referentes ao IPTU, ISS, ITBI, Taxas e Contribuicao de Melhoria, que constituem tributos de competencia municipal e, por isso, representam o montante de arrecadacao propria. Essas informacoes serao obtidas por meio do banco de dados FINBRA.

As variaveis independentes, apresentadas na Tabela 1, buscam mensurar a base tributaria disponivel dos municipios por meio de indicadores que avaliam as atividades industriais, de servicos e da agropecuaria. Inclui-se tambem a renda disponivel, que tem como indicador o PIB, alem das transferencias do FPM. A literatura indica que a utilizacao desse tipo de transferencia diminui o esforco de arrecadacao.

Como forma de padronizacao, todas as variaveis foram transformadas em variaveis per capita. Especificou-se a formula funcional para o modelo Log-Log, conforme a Equacao 1, a qual, segundo Gujarati (2006), e uma medida de sensibilidade que descreve a relacao porcentual entre a variavel dependente e as explicativas.

In [(RT).sub.it] = [[alpha].sub.i] + [[beta].sub.1]ln [(VAA).sub.it] + [[beta].sub.2]ln[(VAI).sub.it] + [[beta].sub.3]ln [(VAS).sub.it] + [[beta].sub.4]ln[(PIB).sub.it] + [[beta].sub.5]ln[(FPM).sub.it] + [[upsilon].sub.it] (1)

em que ln[(RT).sub.it] representa o logaritmo natural da receita tributaria per capita, o subscrito i representa a z-esima unidade de corte transversal e t o t-esimo periodo de tempo; ln(lAL4)it, o logaritmo natural do valor adicionado da agricultura per capita-, ln[(VAI).sub.it], o logaritmo natural do valor adicionado da industria per capita; ln[(VAS).sub.it], o logaritmo natural do valor adicionado de servicos per capita; ln[(FPM).sub.it], o logaritmo natural do fundo de participacao do municipio per capita-, e [[upsilon].sub.it], o termo de erro aleatorio.

Apos realizar-se a regressao para determinar a arrecadacao potencial dos municipios, o indice de esforco fiscal foi obtido por meio da relacao entre a arrecadacao efetiva e a potencial, como sugerido nos trabalhos de Cossio (1995), Orair e Alencar (2010) e Moraes (2006).

Dessa forma, o indice de Esforco Fiscal dos municipios pode ser expresso da seguinte maneira:

[E.sub.ij] = [RE.sub.ij]/[RP.sub.ij] (2)

em que [E.sub.ij] representa o Esforco Fiscal do municipio i no periodo j; [RE.sub.ij], a Receita Tributaria efetivamente arrecadada pelo municipio i no periodo j; e [RP.sub.ij], a Receita Tributaria potencial do municipio i no periodo j, obtida por meio da regressao com dados em painel.

Apos identificar o esforco fiscal dos municipios mineiros, buscou-se demonstrar seu nivel de dependencia em relacao ao FPM por meio da representatividade que esses recursos tem na receita corrente dos municipios. Em seguida, buscou-se analisar a relacao entre esforco fiscal, dependencia do FPM e desempenho socioeconomico dos municipios por meio do coeficiente de correlacao de Pearson, utilizando-se o IFDM como proxy de desenvolvimento socioeconomico.

4. RESULTADOS E DISCUSSOES

4.1. Capacidade de arrecadacao e esforco fiscal

Para definicao do modelo mais adequado, realizou-se o teste de Chow e o teste de Hausman, cujos resultados sao demonstrados na Tabela 2. O teste de Chow e utilizado para verificar se o modelo de efeitos fixos e mais adequado do que o modelo pool-, sendo assim, rejeitou-se a hipotese nula do teste de Chow em nivel de 1% de significancia, o que indica que a utilizacao do modelo de efeitos fixos e mais adequada do que o modelo pool.

Para fazer a escolha entre os modelos de efeito fixo e de efeito aleatorio, utilizou-se o teste de Hausman. O resultado do teste rejeitou a hipotese nula em nivel de 1% de significancia; logo, constatou-se que o modelo de efeito fixo era mais adequado que o modelo de efeito aleatorio, razao pela qual nao foi preciso realizar o teste de Breush e Pagan de multiplicador de Lagrange (LM) para testar se o modelo de efeitos aleatorios seria melhor do que o pool, embora o resultado desse teste tambem se encontre evidenciado na Tabela 2.

Os resultados do modelo corrigido estao descritos na Tabela 2, onde podem ser verificados os coeficientes das variaveis, bem como os errospadrao e a significancia estatistica, alem dos testes realizados para determinacao do modelo mais adequado.

Apos a identificacao do modelo mais adequado, realizaram-se o teste de Wooldridge e o teste de Wald para verificar a ausencia de autocorrelacao e heterocedasticidade, respectivamente. Os resultados dos testes indicaram a presenca de heterocedasticidade e de autocorrelacao, pois, em ambos, a hipotese nula foi rejeitada ao nivel de significancia de 1%. Dessa forma, constatando-se a existencia de autocorrelacao e de homocedasticidade, realizaram-se as correcoes por meio do procedimento Driscoll-Kraay.

Por meio da utilizacao do modelo econometrico proposto, a receita tributaria dos municipios foi estimada em logaritmo natural, e os dados foram transformados em preco corrente mediante o procedimento matematico inverso. A Tabela 3 apresenta os resultados, que sao comparados com a receita tributaria efetivamente arrecadada pelos municipios.

Os resultados da Tabela 3 demonstram que, de maneira geral, a receita efetivamente arrecadada pelos municipios apresentou uma media quase tres vezes superior a da receita potencial. Alem disso, o valor minimo para a receita potencial foi superior ao da receita efetiva, enquanto o valor maximo foi muito inferior, indicando que os municipios tem explorado bem a capacidade de arrecadacao.

Entretanto, e importante destacar que, tanto para a receita efetiva quanto para a potencial, existe uma concentracao de municipios com valores bem inferiores a media, conforme pode ser verificado por meio dos coeficientes de assimetria e curtose, pois o coeficiente positivo da assimetria indica que a mediana e inferior a media e o da curtose significa que ha uma concentracao maior de dados nesse intervalo da mediana.

Apos estimar a receita potencial dos municipios, foi possivel obter o indice de esforco fiscal por meio do quociente entre a receita efetiva arrecadada pelo municipio e a receita potencial estimada no modelo--quanto maior for o valor desse indice, melhor. Isso porque um indice maior que 1 significa que a receita arrecadada e superior a estimada e, consequentemente, o municipio esta aproveitando sua base tributaria disponivel.

As estatisticas descritivas do indice de esforco fiscal estao evidenciadas na Tabela 4, na qual se observa que realmente existem municipios com baixissimo esforco fiscal, como Piedade do Rio Grande, que e um municipio predominantemente agrario e apresentou um indice de 0,104 no ano de 2006.

Em media, esse indice e de 1,237261, porem essa media e substancialmente influenciada pelos municipios com elevado indice de esforco fiscal, que chegam a atingir o nivel de 27,7429, caso do municipio de Sao Goncalo do Rio Abaixo, que se destaca pela atividade mineradora, pois se situa no Quadrilatero Ferrifero e possui a maior mina do mundo em capacidade inicial de producao de minerio de ferro, pertencente a Companhia Vale do Rio Doce.

O coeficiente de assimetria de 9,455, associado ao coeficiente de curtose de 124,265, indica que ha uma concentracao de municipios com indice de esforco fiscal abaixo da media, ou seja, a grande maioria dos municipios possui indice de esforco fiscal inferior a 1,237261.

Os municipios que apresentaram indice de esforco fiscal inferior a 1 totalizam 54,73% dos municipios analisados, ou seja, representam 382 municipios de um total de 698. Uma caracteristica marcante desses municipios e o tamanho da populacao, que, em media, e igual a 10.709 habitantes. Alem disso, outro ponto que merece destaque e que esses municipios apresentaram baixo nivel de valor adicionado pela industria.

Em relacao a localizacao geografica dos municipios que apresentaram baixo esforco fiscal, verificou-se que eles estao espalhados em todo o territorio mineiro, concentrando-se, entretanto, nas mesorregioes Norte de Minas, Vale do Rio Doce, Zona da Mata e Sul/Sudoeste de Minas, as quais, juntas, abrigam aproximadamente 62,9% dos municipios com baixo indice de esforco fiscal, com destaque para a mesorregiao da Zona da Mata, que sozinha representa 22,6% desses municipios.

4.2. Nivel de dependencia do FPM

Na Tabela 5 sao apresentadas as estatisticas descritivas do nivel de dependencia dos municipios mineiros em relacao ao FPM. Para isso, foi calculado o valor acumulado referente as transferencias do FPM no periodo de 2005 a 2009, cujo resultado foi dividido pela Receita Corrente desses municipios no mesmo periodo. Dessa forma, obteve-se o valor porcentual da representatividade do FPM em relacao a receita.

Em media, o FPM representa 45,5% da fonte de receitas desses municipios; entretanto, e importante destacar que existe uma grande amplitude de variacao nesse nivel de dependencia, pois na amostra analisada existem municipios em que a representatividade do FPM e muito pequena, chegando a atingir o valor minimo de 4,61% da receita, e outros em que essa dependencia e bastante elevada, atingindo o nivel de 75,28%.

O coeficiente de curtose positivo e a assimetria negativa indicam que ha uma concentracao de municipios que possuem um nivel de dependencia superior a media. Dentre os municipios que possuem baixo nivel de dependencia do FPM, o municipio de Betim e o que possui o menor nivel de representatividade do FPM em relacao a receita, atingindo o indice de 4,61%; em contrapartida, o municipio de Sao Sebastiao do Rio Preto foi o que apresentou o maior nivel de dependencia, atingindo o indice de 75,28% acumulado no periodo.

Nascimento (2010) destaca que as transferencias desvinculadas, como o FPM, provocam um efeito desestimulante sobre a arrecadacao dos municipios; consequentemente, tem uma representatividade maior na composicao da estrutura de financiamento municipal, principalmente em pequenos municipios.

Para Tristao (2003), o criterio de repasse do FPM e arbitrario e ineficiente. Isso provoca preguica fiscal nesses municipios pequenos, que preferem nao cobrar os tributos de sua competencia e depender em maior grau de transferencias intergovernamentais, principalmente para evitar o onus politico que a arrecadacao tributaria causaria aos politicos locais.

4.3. Relacao entre esforco fiscal, dependencia do FPM e desenvolvimento socioeconomico

Apos mensurar o esforco de arrecadacao dos municipios mineiros, bem como o nivel de dependencia desses municipios em relacao ao FPM, buscou-se identificar a relacao desses indices com os indicadores socioeconomicos dos municipios utilizando como proxy de desenvolvimento socioeconomico o Indice Fiijan de Desenvolvimento Municipal (IFDM).

Nas secoes anteriores foram demonstradas as estatisticas descritivas do indice de esforco fiscal e do nivel de dependencia do FPM; sendo assim, antes de analisar a correlacao dessas variaveis com o IFDM, torna-se necessario conhecer melhor como esse indicador esta distribuido entre os municipios mineiros. Nesse sentido, a Tabela 6 apresenta as estatisticas descritivas do IFDM para a amostra de municipios analisados no periodo de 2005 a 2009.

Os dados confirmam a existencia de disparidades socioeconomicas entre os municipios mineiros, assim como afirmam Costa et al. (2012) e Galvarro, Braga e Fontes (2008), pois existem municipios com baixo IFDM atingindo o minimo de 0,3674, como o municipio de Cachoeira de Minas, situado no Sul/Sudoeste de Minas, e municipios com indice elevado de 0,834, como o municipio de Uberlandia no Alto Paranaiba.

A media do IFDM dos municipios mineiros e de 0,620533, contudo a assimetria positiva de 0,126 demonstra que a distribuicao apresenta assimetria a direita ou positiva; logo, a mediana acaba sendo inferior a media, o que significa que existe uma maior quantidade de municipios com indices inferiores a media. O coeficiente de curtose de 0,083 indica que a curva da distribuicao apresenta forma de cume um pouco mais elevada do que uma distribuicao normal.

Apos apresentar as caracteristicas dos indicadores sociais dos municipios, passa-se a analisar as relacoes entre as variaveis. Na Figura 3 apresenta-se o diagrama de dispersao entre o indice de esforco fiscal e o nivel de dependencia do FPM. O indice de esforco fiscal e o nivel de dependencia do FPM, confirmando diversos autores citados, apresentaram-se negativamente correlacionados, ou seja, quanto menor o nivel de dependencia em relacao ao FPM, maior o indice de esforco fiscal.

[FIGURE 3 OMITTED]

Entretanto, teoricamente, a logica da relacao entre transferencias e esforco de arrecadacao baseia-se na preferencia dos administradores publicos por custear os bens publicos locais com recursos de terceiros, dependendo em maior ou menor grau das transferencias das instancias de governo superiores, ao inves de explorar os recursos tributarios da comunidade local, tendo em vista que tal atitude gera custos politicos que inexistem no caso do financiamento nao tributario (COSSIO, 1995; TRISTAO, 2003).

Oates (1972) argumenta que as transferencias intergovernamentais geram ilusao fiscal, ou seja, criam a percepcao nos contribuintes de que parte do custo no fornecimento de bens publicos locais pode ser financiada por outras comunidades por meio das receitas de transferencias. Sendo assim, constata-se que as disparidades inter-regionais de capacidade fiscal estao inversamente relacionadas a participacao das transferencias na estrutura de financiamento.

A literatura considera a existencia de uma relacao entre transferencias e esforco fiscal, embora nao haja ainda um consenso quanto a sua direcao e magnitude; entretanto, a maioria dos estudos identificou uma relacao negativa entre o esforco de arrecadacao e o nivel de dependencia de transferencias intergovernamentais (COSSIO, 1995; RIBEIRO; SHIKIDA, 2000; RODRIGUES, 2004; ORAIR; ALENCAR, 2010).

De acordo com as teorias tradicionais do federalismo fiscal, as transferencias intergovernamentais devem ser utilizadas para reduzir os problemas associados com a descentralizacao, tais como a existencia de desigualdades socioeconomicas inter-regionais. Nesse sentido, na Figura 4 buscou-se demonstrar a relacao existente entre o nivel de dependencia do FPM e o IFDM.

Percebe-se que existe uma relacao negativa entre o nivel de dependencia do FPM e o IFDM. Embora esse resultado nao seja suficiente para afirmar que o IFDM e negativamente influenciado pela dependencia das transferencias, destaca-se que essa relacao e logica, uma vez que as transferencias sao utilizadas para reduzir as desigualdades inter-regionais; logo, municipios com baixo desenvolvimento socioeconomico recebem maior quantidade de receitas de transferencias.

[FIGURE 4 OMITTED]

Entretanto, o que se destaca e a metodologia utilizada como criterio de rateio dos recursos do FPM, pois ela considera apenas a faixa populacional e o inverso da renda per capita no caso de capitais. No primeiro caso, acaba favorecendo ou induzindo municipios pequenos, com baixa populacao, a nao explorar toda a capacidade de arrecadacao; no segundo caso, com a adocao de coeficientes fixos, os municipios com maior crescimento da populacao e menor aumento da renda per capita foram prejudicados.

Nesse contexto, Orair e Alencar (2010) destacam que o indice de esforco fiscal pode subsidiar o sistema de transferencias intergovernamentais, com o objetivo de promover equalizacao fiscal e reduzir o efeito de desestimulo que as transferencias exercem sobre a arrecadacao propria, por meio da adocao de criterios que condicionem as transferencias a melhorias no IEF do municipio.

[FIGURE 5 OMITTED]

Na Figura 5 apresenta-se o grafico de dispersao entre as variaveis IFDM e o indice de esforco fiscal, com o objetivo de demonstrar a relacao entre ambos, que, como se verifica, e positiva.

Cossio (1995) destaca que a comparacao entre disparidades regionais na capacidade fiscal permite confirmar a hipotese de que as diferencas regionais de arrecadacao tributaria sao explicadas pelas disparidades socioeconomicas interregionais, assim como pelas diferencas no esforco fiscal de arrecadacao. As disparidades no grau de eficiencia tributaria ocasionam um aprofundamento das diferencas na capacidade fiscal, porque, em geral, unidades federativas mais desenvolvidas exibem maior esforco de arrecadacao.

Apos demonstrar a direcao e sentido da relacao entre as variaveis IFDM, IEF e FPM, buscou-se demonstrar a magnitude dessa relacao utilizando o coeficiente de correlacao de Pearson, cujos resultados estao apresentados na Tabela 7.

Os resultados da Tabela 7 demonstram que a correlacao entre todas as variaveis apresentou nivel de significancia de 1%. A correlacao entre o indice de esforco fiscal e o nivel de dependencia do FPM apresentou-se negativa, com coeficiente de--0,3807, o que representa, segundo a classificacao de Hair et al. (2005), uma forca de associacao pequena, porem definida.

Em relacao a associacao entre a variavel IFDM e o indice de esforco fiscal, verifica-se que existe uma correlacao positiva pequena, apresentando um coeficiente de 0,28. Entre a variavel IFDM e o nivel de dependencia do FPM o coeficiente de correlacao foi de--0,601, podendo-se inferir que a forca de associacao entre essas variaveis e moderada. Dessa forma, verifica-se que esses resultados confirmam as hipoteses iniciais deste trabalho.

Embora os resultados desta secao indiquem que o nivel de dependencia do FPM exerce uma influencia negativa sobre o indice de esforco fiscal e o IFDM, assim como mostram que estes dois ultimos se relacionam positivamente, deve-se ter cuidado em assumir esses resultados como verdades absolutas, uma vez que existem outras variaveis que influenciam esses indicadores.

5. CONCLUSOES

Num regime federalista em que coexistem unidades subnacionais autonomas, deve-se conciliar um nivel otimo de recursos para todas essas unidades, de maneira que elas possam fornecer bens publicos a populacao local, promovendo a equidade entre as regioes. Nesse sentido, a divisao das competencias tributarias e de responsabilidades na prestacao de servicos publicos deve ser balanceada ou, entao, compensada por meio de transferencias intergovernamentais.

Ocorre que a utilizacao de transferencias como forma de compensar o hiato fiscal que existe entre a arrecadacao propria e a demanda por fornecimento de bens publicos acaba provocando um comportamento de acomodacao nessas unidades receptoras, pois a percepcao de que os bens publicos locais podem ser financiados por outras comunidades inibe o esforco de arrecadacao.

Neste trabalho, buscou-se analisar o esforco de arrecadacao dos municipios mineiros, bem como sua relacao com o nivel de dependencia de transferencias intergovernamentais, mais especificamente o FPM, e com o nivel de desenvolvimento socioeconomico mensurado por meio do IFDM.

Os resultados sugerem que existe uma grande quantidade de municipios cuja capacidade de arrecadacao nao esta sendo explorada. Alem disso, constatou-se que os municipios que possuem alta dependencia do FPM tambem apresentam baixo indice de esforco fiscal, confirmando-se, portanto, a hipotese de que as transferencias intergovernamentais exercem uma influencia negativa no esforco de arrecadacao dos municipios.

Entretanto, neste trabalho, diferentemente dos demais, buscou-se correlacionar o esforco de arrecadacao e a dependencia de transferencias com um indicador de desenvolvimento socioeconomico--o IFDM. Os resultados dessa correlacao sugerem que os municipios que apresentam maior desenvolvimento socioeconomico possuem tambem maiores indices de esforco fiscal e menor dependencia do FPM.

Esses resultados chamam a atencao para a necessidade de uma reforma no atual modelo de federalismo empregado no Brasil, seja pela reformulacao dos criterios de rateio do FPM, seja por uma reforma tributaria ou de divisao de competencias, pois, da forma como se encontra estruturado o federalismo brasileiro, as diferencas inter-regionais tendem a se aprofundar cada vez mais.

Cabe destacar que, do ponto de vista economico, a busca por um sistema eficiente se torna clara e necessaria. Contudo, essa analise nao pode ser dissociada de uma analise do sistema politico, uma vez que dificilmente as unidades mais desenvolvidas aceitariam a perda ou diminuicao da receita disponivel para prestacao de servicos publicos.

Varios autores destacam a influencia de questoes politicas sobre o esforco fiscal, pois a imposicao tributaria gera descontentamento nos eleitores; consequentemente, as transferencias intergovernamentais passam a representar a principal fonte de financiamento publico.

Contudo, cabe destacar que a utilizacao do esforco fiscal como parte integrante dos criterios de repasse do FPM induziria os municipios a aumentar a arrecadacao propria para tambem terem mais recursos do FPM; assim, o municipio teria mais recursos para promover o desenvolvimento local.

Torna-se, portanto, essencial a construcao de metodologias confiaveis de mensuracao do esforco fiscal das unidades subnacionais; nesse sentido, a presente pesquisa apresenta uma importante contribuicao para a discussao da tematica, embora os resultados encontrados neste trabalho devam ser ponderados pela limitacao do metodo.

DOI: 10.5700/564

Recebido em: 22/6/2014

Aprovado em: 1/7/2015

Wellington de Oliveira Massardi

Professor da Faculdade Governador Ozanam Coelho--Uba-MG, Brasil

Mestre em Administracao pela Universidade Federal de Vicosa (UFV)

E-mail: wellingtonmassardi@hotmail.com

Luiz Antonio Abrantes

Professor Associado da Universidade Federal de Vicosa (UFV)--Vicosa-MG, Brasil

Doutor em Administracao pela Universidade Federal de Lavras

E-mail: abrantes@ufv.br

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(1) Para fazer a escolha entre os modelos de efeito fixo e de efeito aleatorio, deve-se realizar o teste de Hausman; para comparar o modelo de efeitos fixos com o modelo pooled regression, o teste de Chow; e para testar se o modelo de efeitos aleatorios e melhor do que o pooled regression, o teste de Breush e Pagan de multiplicador de Lagrange (LM).
Tabela 1--Descricao das variaveis independentes

Indicador                               Fonte

VAA--Valor Adicionado da               Fundacao Joao Pinheiro (FJP)
agropecuaria a precos correntes
(R$ mil)

VAI--Valor Adicionado da industria     Fundacao Joao Pinheiro (FJP)
a precos correntes (R$ mil)

VAS--Valor Adicionado dos servicos     Fundacao Joao Pinheiro (FJP)
a precos correntes (R$ mil)

PIB--Produto Interno Bruto a precos    IBGE
correntes (R$mil)

FPM--Fundo de Participacao dos         FINBRA
Municipios

Fonte: Elaborada pelo autor.

Tabela 2--Estimativa de dados em painel para
modelos de efeitos fixos corrigidos

Variaveis      Coef.     Erro-padrao      t

ln(VAA)      0,198484     0,033174      5,98
ln(VAI)      0,215428     0,006293      34,23
ln(VAS)      1,372321     0,096646      14,2
ln(PIB)      -0,61528      0,04385     -14,03
ln(FPM)      0,043098     0,024578      1,75
constante    7,288157     0,497748      14,64

Obs.         [R.sup.2]      Chow       Hausman

3.490         0,4105       388,15       59,51
                           (0,000)     (0,000)

Variaveis      P>t          (Intervalo de
                            Confianca 95%)

ln(VAA)       0,000      0,13335     0,263617
ln(VAI)       0,000      0,203072    0,227783
ln(VAS)       0,000      1,182569    1,562073
ln(PIB)       0,000      -0,70138    -0,52919
ln(FPM)       0,080      -0,00516    0,091355
constante     0,000      6,310892    8,265421

Obs.         Teste LM   Wooldridge     Wald

3.490        3.255,78     37,041      4,5e+6
             (0,000)     (0,000)     (0,000)

Nota: p-valor entre parenteses

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 3--Comparacao entre a receita tributaria
efetiva e a potencial

             Minimo     Maximo         Media

EFETIVA      23860      1430455191     4174267,67
POTENCIAL    57789,48   105376293,50   1525918,00

             Desvio-padrao   Assimetria   Curtose

EFETIVA      45154497,445    25,540       700,610
POTENCIAL    5193653,56      10,464       145,769

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 4--Estatisticas descritivas do indice de esforco fiscal

           Minimo   Maximo     Media

Esforco    0,104    27,7429   1,237261
Fiscal

           Desvio-padrao    Assimetria   Curtose

Esforco      1,4458662        9,455      124,265
Fiscal

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 5--Analise descritiva dos niveis de dependencia
dos municipios mineiros em relacao ao FPM

              Minimo   Maximo   Media

Dependencia    4,61    75,28    45,50
FPM

              Desvio-Padrao   Assimetria   Curtose

Dependencia       14,26         -0,608      0,003
FPM

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 6--Estatisticas descritivas do IFDM
para os municipios mineiros

        Minimo   Maximo    Media

IFDM    0,3674   0,834    0,620533

        Desvio-padrao   Assimetria   Curtoses

IFDM      0,0795092       0,126       0,083

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 7--Matriz de correlacao entre esforco fiscal,
dependencia do FPM e IFDM

                       Esforco     Dependencia     IFDM
                        Fiscal       do FPM

Esforco Fiscal            1        -0,3807 **     0,28 **
Dependencia do FPM    -0,3807 **        1        -0,601 **
IFDM                   0,28 **      -0,601 **        1

Nota: **. A correlacao e significativa no nivel de 1%.

Fonte: Dados da pesquisa.
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