Franchising control and performance: a study on the organizational performance evaluation activities conducted by franchisors/Controle e desempenho de franquias: um estudo sobre as atividades de avaliacao de desempenho organizacional realizadas por franqueadores/Control y desempeno de franquicias: un estudio sobre las actividades de evaluacion de desempeno organizacional realizadas por franquiciadores.
Lavieri, Carlos Amorim ; Correa, Hamilton Luiz ; da Cunha, Julio Araujo Carneiro 等
1. INTRODUCAO
A avaliacao de desempenho ha muito tempo e um tema presente nos
estudos da Administracao. Muitos modelos foram desenvolvidos nessa busca
de ferramentas para a mensuracao do desempenho das organizacoes,
principalmente sob o aspecto gerencial do negocio. Todavia, este campo
do conhecimento ainda se encontra em desenvolvimento, buscando conceitos
e modelos que possam servir de ferramenta gerencial de maneira cada vez
mais eficiente visto que aquilo que as organizacoes mensuram comumente
esta em desacordo com seus objetivos estrategicos (MELNYK et al.,
2013)..
Historicamente, ate o final da decada de 1970, grande parte desses
esforcos de desenvolvimento conceitual da area apoiava-se na elaboracao
de indicadores de desempenho mensuraveis, de carater financeiro.
Consequentemente, uma linha de pensamento contraposta passou a ganhar
relevancia, defendendo que indicadores de desempenho financeiros nao
eram suficientes para avaliar o desempenho da organizacao, ja que eles
levavam a uma perspectiva de curto prazo apenas (e.g., KAPLAN, 1983;
BUTLER; LETZA; NEALE, 1997). Havia a necessidade de modelos que pudessem
integrar conceitos financeiros e nao financeiros (JOHNSON; KAPLAN,
1987). Assim sendo, os estudos, a partir da decada de 1980, passaram a
chamar atencao e ganhar maiores proporcoes, tanto entre academicos
quanto entre profissionais de mercado.
Desde as duas ultimas decadas do seculo XX, os esforcos voltados a
mensuracao e avaliacao do desempenho das organizacoes ganharam maiores
proporcoes, liderando a expansao dessa area de estudo e de sua
aplicacao. No entanto, por mais que a area tenha crescido, ela ainda
esta em desenvolvimento e sem uma linha estrutural consolidada (NEELY,
2005). O que se observou, na verdade, foi a formacao de uma
"industria" de indicadores de desempenho, tal como defendem
Meyer e Gupta (1994). Muitas vezes, as discussoes sobre avaliacao de
desempenho desvirtuaram-se e acabaram por ter direcionamento
mercadologico, deixando de lado consideracoes conceituais importantes.
Inevitavelmente, lacunas emergiram nesse campo de estudo.
Ou seja, numa epoca em que se demandavam indicadores e modelos de
avaliacao e mensuracao de desempenho, esse ferramental gerencial acabou
sendo elaborado sem que se considerassem as especificidades dos setores
e tipos de organizacoes. Essa visao e compartilhada por Hourneaux Jr.
(2005), que diz que diferentes setores economicos podem apresentar
diferencas intrinsecas na concepcao de avaliacao de desempenho, e por
Souza e Williams (2000), que dizem que o desempenho deveria compreender
problemas especificos de cada tipo de organizacao.
Essa carencia de indicadores e modelos especificos afetou tambem as
franquias. A importancia da avaliacao de desempenho aplicada as
franquias surge desde o momento em que o franqueador precisa decidir
entre abrir uma franquia ou uma filial propria. Essa decisao envolve
diversos fatores de carater estrategico (CONTRACTOR; KUNDU, 1998), e
dessa escolha surge a necessidade de avaliacao de franquias, por
diversos motivos.
Primeiramente, porque tal escolha envolve problemas de agencia,
quando se trata de franquias (LAFONTAINE, 1992). Na franquia, o controle
do franqueador sobre as unidades deve ser maior que num modelo
tradicional de negocios, ja que a gestao efetivamente esta nas maos do
franqueado, o que acarreta custos mais elevados para as atividades de
inspecao (BRICKLEY; DARK, 1987). Sao diversos os fatores a serem
considerados nesse controle, tais como qualidade, minimizacao de custos
e uniformidade de imagem e padroes da rede (KAUFMANN; EROGLU, 1999).
Como esse monitoramento necessario deve ter como foco os objetivos
estabelecidos na estrategia da empresa, nao se pode menosprezar a
importancia de uma avaliacao e controle do desempenho do franqueado. Ou
seja, e fundamental que se tenha uma avaliacao do desempenho
organizacional para compreender se as acoes e resultados dos franqueados
estao em sintonia com a estrategia estabelecida corporativamente pelo
franqueador.
Outra razao para a busca de uma avaliacao dos franqueados reside na
existencia de sistemas de premiacao dos franqueados que dependem da
avaliacao de desempenho (WEAVEN; FRAZER, 2003). Para poder oferecer um
sistema de distincoes entre os franqueados de forma a favorecer aquele
que se julgou obter melhores resultados, e necessario haver uma
sistematica de avaliacao que suporte e justifique essa diferenciacao.
Por vezes, essas avaliacoes sao realizadas apenas por volumes de vendas.
Paralelamente, e comum o franqueador justificar a escolha do
sistema de franquias, em detrimento do crescimento com lojas proprias,
por meio de questoes referentes aos possiveis riscos de fracasso do
negocio, tanto para o franqueador como para o franqueado
(CASTROGIOVANNI; JUSTIS; JULIAN, 1993; SANTOS, 2004), principalmente num
pais de proporcoes continentais como o Brasil, onde os gestores apostam
no sistema de franquias como forma de crescer no nivel nacional (MELO;
ANDREASSI, 2010). Nesse sentido, apresenta-se a terceira razao para
avaliar os franqueados: avaliar o risco envolvido no negocio de
franquias (SANTOS, 2004). A implantacao de melhorias de processos entre
os membros da cadeia da franquia e a quarta justificativa para a
avaliacao de desempenho dos franqueados. E fundamental acompanhar os
resultados das franquiadas periodicamente, para monitorar seu desempenho
(WATSON, 2006), e nao apenas observar seus resultados de maneira
isolada. Isso leva a crer que a avaliacao de desempenho de uma
franquiada nao e estatica no tempo. Nesse sentido, ha quem avalie ainda
o desempenho de franquias por meio de analise temporal de produtividade
em momentos distintos (MUNOZ; QUINTELLA, 2002), observando as melhorias
que podem ser encontradas na comparacao de duas situacoes em diferentes
momentos no tempo.
Estudos sobre franquias compreendem diferentes bases teoricas, que
oferecem enfoques contrastantes (CASTROGIOVANNI; COMBS; JUSTIS 2006);
assim, por mais que se tenham feito tentativas de avalia-las, nao se
conseguiu ainda discutir profundamente seu desempenho. Portanto, o
desempenho das franquiadas tem sido pouco estudado (COMBS; KETCHEN JR;
HOOVER, 2004). A maioria desses poucos estudos aborda as variaveis que
levam a um melhor desempenho das franquiadas (e.g., SHANE, 1998;
McCOSKER; FRAZER, 1998; KAUFMANN; EROGLU, 1999; MERLO, 2000; SORENSON;
S0RENSEN, 2001; MINGUELARATA; LOPEZ-SANCHEZ; RODRIGUEZBENAVIDES, 2009),
enquanto a discussao academica sobre a construcao de um sistema de
avaliacao de desempenho das franquias ainda esta em estagio prematuro. A
necessidade de estabelecer esse foco especifico de estudo reforcase
ainda mais quando se observa que, por mais que os estudos sobre
franquias tenham chamado a atencao dos pesquisadores, principalmente a
partir das ultimas decadas do seculo XX (VESLOO; VON DER OHE, 2005), as
franquias sao formas de operacoes relativamente novas (1). A area de
Avaliacao de Desempenho e a de Franquias pouco se inter-relacionaram,
nao havendo a formulacao de um modelo de avaliacao de desempenho para
esse formato de negocios, um tema pouco explorado. E importante,
portanto, um estudo exploratorio que indique quais acoes de controle e
avaliacao de desempenho sao, de fato, realizadas na pratica, para que se
identifiquem os elementos importantes dessas atividades de avaliacao,
tais como os fatores que atuam de forma incisiva nesse processo. Assim,
as teorias formuladas com base na interseccao da area de Avaliacao de
Desempenho com o negocio das franquias podem sustentar a realidade
organizacional.
Diante dessa necessidade observada no campo de estudo ligado a
avaliacao de desempenho organizacional, o objetivo deste estudo e
identificar e descrever a utilizacao de sistemas de avaliacao de
desempenho e suas caracteristicas em organizacoes que operam por meio de
redes de franquias.
2. FRANQUIAS: CONCEITOS E REALIDADES
"O franchising e antes de tudo uma forma de distribuicao de
produtos e/ou servicos" (ANDRADE, 1993:2). O termo franchising
refere-se a todo o sistema de franquias, incluindo franqueador,
franqueado, produtos e servicos transacionados e distribuidos. No
sentido mais basico, o termo franquia remete a um direito ou privilegio
de operar conforme a estrutura preconcebida do franqueador (FOSTER,
1995). Assim, o acordo de franquia e definido com um arranjo contratual
entre duas empresas independentes, em que o franqueado paga ao
franqueador o direito de usar sua marca em certo local e por determinado
periodo de tempo (LAFONTAINE, 1992).
Destacam-se as franquias de formato de negocios, que "incluem
o exercicio de direito e obrigacoes continuos nos termos de um contrato
de franquia" (FOSTER, 1995:13), i.e., as que configuram
principalmente uma relacao de prestacao de servicos entre franqueador e
franqueado, distanciando-se do licenciamento. O sucesso dessa relacao de
base legal nao depende apenas da presenca de uma institucionalizacao
coercitiva contratual entre as partes, mas tambem do desenvolvimento de
uma parceria positivamente harmoniosa (MENDELSOHN, 2004).
Essa relacao vai ser determinada, em parte, tambem por seu estagio
de maturidade. Rizzo (2006) e Mauro (1999) alegam que as franquias podem
ter diferentes estagios, dado que, a medida que ganham maturidade, elas
podem mudar alguns aspectos de gestao (DANT; KAUFMANN, 2003). A
sistematica de Mauro (1999) pode ser sintetizada conforme o quadro a
seguir.
Esse aspecto evolutivo da franquia demonstra que, quanto mais
madura a rede, maiores sao seus custos para o controle do franqueado
(instituicoes mais bem definidas). A partir dai emerge uma decisao
importante para o franqueador, relacionada ao grau de ownership da
franquia, isto e, a relacao de estabelecimentos de propriedade do
franqueador com relacao aqueles que sao de terceiros franqueados. O
franqueador constantemente busca encontrar um equilibrio nesse aspecto,
sabendo que obter franqueados, por um lado, implica custos de controle,
mas, por outro, permite contar com a expertise local e o
compartilhamento de investimentos e riscos. Portanto, o grande desafio
dos franqueados, por sua vez, e saber manter o equilibrio entre a
centralizacao de suas atividades e a padronizacao delas, para atender as
especificidades do mercado local (SORENSON; S0RENSEN, 2001).
Ainda que apresente algumas variacoes, relacionadas a fase de
maturidade da rede ou ao escopo teorico da abordagem proposta, o
conceito de franquia designa uma forma de negocios muito utilizada para
o desenvolvimento de redes varejistas. E por isso que parte da
literatura de franquias relaciona-se com os estudos sobre
empreendedorismo (e.g., HOY; SHANE, 1998; KAUFMANN; DANT, 1999).
A importancia dessa forma de negocios se reafirma diante dos dados
referentes ao Brasil apresentados pela Associacao Brasileira de
Franquias (ABF, 2009). No ano de 2008 havia 1.379 redes de franquias
instaladas no pais, abrangendo 71.954 estabelecimentos empresariais e
representando um faturamento de pouco mais de 55 bilhoes de reais nesse
mesmo ano. Tanto em termos de faturamento quanto de quantidade de redes
e unidades empresariais, as franquias apresentam um quadro de
crescimento na ultima decada no pais (ib.).
Portanto, o sistema de franquias apresenta-se como uma forma viavel
e propulsora de desenvolvimento economico (CRETELLA NETO, 2003), alem de
crescimento da propria organizacao franqueadora (SHANE, 1996) e da
franqueada (KAUFMANN, 1999). No mais, tratase de tendencia do seculo XXI
(CROSS, 2000), como alternativa para a distribuicao de produtos e/ou
servicos das organizacoes no ambito nacional, mas tambem,
principalmente, no contexto internacional (MARQUES, 2006). Uma parceria
em que o franqueador consegue crescer globalmente e contar com o
investimento do franqueado, com sua dedicacao ao negocio e maior
compreensao do mercado local.
Nesse contexto, a avaliacao de desempenho das franquias, conforme
seus objetivos estabelecidos (de acordo com sua fase de maturidade), se
faz necessaria. Todos os pontos anteriormente apresentados, que englobam
o desenvolvimento de organizacoes envolvidas com franquias e suas
respectivas expansoes, trazem conjuntamente como demanda a necessidade
de controle dos franqueados e do desempenho da rede como um todo,
portanto, a necessidade de uma avaliacao de desempenho. No mais, a
propria concepcao de crescimento, que requer melhorias do negocio,
precisa de um sistema de controle que auxilie na evolucao e no
cumprimento das metas das organizacoes.
3. AVALIACAO DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL: UM RESGATE CONCEITUAL
A avaliacao de desempenho organizacional, formulada mediante
indicadores de desempenho mensuraveis, justifica-se por sua relacao
direta com os controles gerenciais. Para Halachmi (2005), aquilo que nao
e possivel mensurar nao se pode entender, e, consequentemente, o que e
incompreensivel tambem nao se pode controlar; assim, a consequencia das
dificuldades de controle e nao poder melhorar. Portanto, a avaliacao de
desempenho e uma das ferramentas existentes para que se possa promover o
progresso do negocio.
Nesse sentido, muitos modelos foram desenvolvidos ao longo do
desenvolvimento dos estudos sobre organizacoes, no intuito de gerar
conceitos e ferramentas capazes de auxiliar na administracao gerencial
da organizacao.
A ideia de avaliar desempenho nas organizacoes e uma evolucao dos
ideais positivistas propostos por Augusto Comte, numa revolucao
cientifica em que a matematica serviria de respaldo para as
experimentacoes e validacoes da ciencia. Essas ideias de Comte
influenciaram posteriores estudiosos da Administracao como, por exemplo,
os classicos Taylor e Fayol, que se apoiavam na medicao de tempos e
calculos de posicionamento para sustentar a identificacao das best
practices que levavam ao melhor desempenho das atividades operacionais
das organizacoes.
A primeira sistematizacao desses ideais num modelo propriamente
dito deu-se no inicio do seculo XX , por meio do modelo frances Tableau
de Bord. Este modelo e analogo ao painel de controle de aeronaves, em
que ha varios indicadores de desempenho para que o piloto possa
controlar o voo do aviao. De Guerny, Guiriec e Lavergne (1990) dizem que
cada estrato da organizacao tem o seu tableau de bord, que recebe (ou
formula na hierarquia mais alta) a estrategia e a repassa aos seus
subordinados, realizando sempre o controle da missao ou da visao da
empresa, definidos em objetivos que sao estabelecidos e controlados
nessa estrategia mediante indicadores. Um ponto forte dessa ferramenta e
que ela forca todas as divisoes da organizacao a estabelecer seus
objetivos, pontoschave de sucesso e sua necessidade de interrelacao com
outras unidades/departamentos para atingir a estrategia global da
organizacao (EPSTEIN; MANZONI, 1998).
No entanto, apesar da existencia do Tableau de Bord, ate a decada
de 1960 grande parte das empresas realizava suas avaliacoes de
desempenho utilizando exclusivamente indicadores financeiros e contabeis
(JOHNSON; KAPLAN, 1987). Essa postura generalizada so foi abalada com o
advento da qualidade total, que tem carater estruturalista na empresa
(visao de longo prazo). Na Administracao da Qualidade Total propoem-se
questoes relativas a eficiencia da organizacao (melhoria de seus
processos) e nao a sua eficacia (resultados). Nessa filosofia, os
resultados sao tidos como consequencia de uma melhoria dos processos
produtivos. Sao tambem vistos como algo de responsabilidade da alta
diretoria (HACKMAN; WAGEMAN, 1995), cuja atencao esta centrada nos
processos operacionais. Esses processos implicam a reestruturacao social
da organizacao, o que traz consigo o risco de nao se produzirem retornos
favoraveis (POWELL, 1995).
Paralelamente a isso, Martindell (1950) tambem comecava a
estabelecer novos padroes de avaliacao de desempenho de forma
quantitativa. Ele propos a avaliacao da alta diretoria da empresa,
inovando as avaliacoes de desempenho concentradas em indicadores de
produtividade operacional. Ainda na primeira metade da decada de 1950,
Peter Drucker defendeu a administracao por objetivos. No modelo dele,
pretendia-se solucionar o conflito decorrente do desejo de quantificar
os fatores associados a gestao, ainda que com as consequencias
imprevistas dessa quantificacao. Isso seria possivel por meio do
estabelecimento de um conjunto balanceado de objetivos e medidas, com
oito areas: "posicao de mercado, inovacao, produtividade, recursos
financeiros e naturais, lucratividade, atuacao e desenvolvimento dos
administradores, desempenho dos trabalhadores e responsabilidade
publica" (DRUCKER, 1981:61).
Os anseios de Drucker continuaram a perdurar nas tentativas
seguintes de desenvolver um modelo conceitual de avaliacao de desempenho
para as organizacoes (NEELY, 2005). Dessa forma, muitos modelos
seguiram-se no mesmo caminho de desenvolvimento. A intensificacao do uso
de indicadores de desempenho foi inevitavel, e as criticas comecaram a
surgir a partir das observacoes praticas e conceituais do tema. Apos
levantamento das metodologias existentes ate seu ano de publicacao,
Correa (1986:99) afirmou que: "embora alguns autores apresentem
modelos estruturados, estes trazem no seu conteudo uma parcela de
subjetividade, como se pode notar, por exemplo, na definicao de
indicadores e padroes". Ou seja, a propria quantificacao dos
indicadores desses modelos leva por si so a uma subjetividade.
No inicio da decada de 1990, surgiu o modelo mais popular e
difundido, o Balanced Scorecard, proposto por Kaplan e Norton (1992).
Trata-se de um sistema que tem como objetivo esclarecer a estrategia
exata que a organizacao pretende adotar (BONTIS et al., 1999) e
transformar essa meta em acoes especificas, para que se possam cumprir
os objetivos tracados e alcancar o maximo de beneficios (KAPLAN; NORTON,
1992). Assim, o BSC engloba quatro perspectivas--financeira, clientes,
aprendizagem e processos internos,- numa relacao de causa-efeito (ib.).
Ele traz, portanto, uma forma de mensurar por meio de indicadores e
ainda pode apresentar as relacoes causais entre outros indicadores nao
financeiros e os financeiros (WONG-ON-WING et al, 2007). Nao obstante
isso, o foco em indicadores exclusivamente financeiros pode fazer com
que os administradores se concentrem em cortar investimentos, na busca
de um melhor desempenho financeiro, o que pode prejudicar a organizacao
em seus planejamentos de longo prazo (BANKER et al., 2004) e vai de
encontro a concepcao de planejamento estrategico de longo prazo do
Balanced Scorecard. No entanto, devese esclarecer que o Balanced
Scorecard nao e apenas uma tecnica de mensuracao de performance: e mais
que isso, e um sistema de administracao (BUTLER; LETZA; NEALE, 1997).
Posteriormente, surgiram ainda modelos provenientes de temas
emergentes na Administracao, como o da sustentabilidade, representado
pelo modelo SIGMA, proveniente de varios preceitos de continuidade. Para
que a continuidade organizacional seja possivel, diversas sao as
preocupacoes, que nao se limitam necessariamente aos fatores internos da
empresa, mas tem relacao, principalmente, com elementos externos da
organizacao. Dessa forma, a estrategia organizacional passa a estar
ligada a administracao da sustentabilidade (FIGGE et al, 2002). Para
Bell e Morse (1999), as visoes de sustentabilidade apoiam-se em duas
vertentes. Uma considera muito pouco (ou praticamente desconsidera) as
questoes financeiras, na chamada sustentabilidade rigida, e a outra se
baseia na ideia de sustentabilidade fraca, em que as questoes
financeiras sao importantes, enquanto os demais fatores sao na verdade
resultados de uma analise de custo-beneficio para a organizacao.
Diante disso, a conceituacao de sustentabilidade consiste em se
utilizar de recursos no presente sem que este consumo prejudique ou
comprometa as capacidades de geracoes futuras. E, no entanto, importante
ressaltar ainda que, de acordo com Goodland (1995), a sustentabilidade
envolve tres dimensoes distintas em sua conceituacao, havendo, portanto,
sustentabilidade social (busca de capital social e moral), economica
(capital economico) e ambiental (prevencao de danos a humanidade e de
carater ambiental).
Por fim, o ultimo modelo de destaque que chamou atencao dos
pesquisadores e praticos de grande influencia na area foi o Skandia. O
proposito do Navegador de Capital Intelectual da Skandia e oferecer uma
taxonomia complementar de contabilidade e um novo enfoque de gestao,
baseado na vivencia e no fomento a criacao do conhecimento; nele, fica
retratado o equilibrio entre passado--foco financiero--, presente--foco
no consumidor, humano e dos processos e futuro --foco em renovacao e
desenvolvimento (MOURITSEN; LARSEN; BUKH, 2001). Ele surgiu diante da
necessidade de criar um mecanismo de mensuracao de resultados que
compreendesse um conjunto de caracteristicas intangiveis, que
praticamente inviabilizam a aplicacao de modelos tradicionais de
mensuracao de desempenho. Vale aqui lembrar, como assinala Edvinsson
(1997), que o capital intelectual e a soma do capital humano com o
capital estrutural da empresa.
Em face dos conceitos desenvolvidos acima, resta no presente estudo
compreender quais sao aplicados a avaliacao de desempenho e controle de
franquias na pratica. Por isso, cabe aqui expor algumas especificidades
da avaliacao de desempenho.
4. A AVALIACAO DE DESEMPENHO EM FRANQUIAS
O desenvolvimento de modelos de avaliacao organizacional trouxe a
tona alguns problemas que ate meados da decada de 1990 foram pouco
explorados, dentre os quais a aplicacao setorial ou especifica desses
modelos a um tipo de negocio. Percebeu-se que muitas vezes os modelos
desenvolvidos precisavam de adaptacoes, nao sendo ferramentas
plug-and-play, que as organizacoes precisavam apenas aplicar em suas
rotinas. Havia uma serie de especificidades para atender a rotina de
cada uma das organizacoes. Para Carneiro da Cunha e Correa (2013:488),
existe a "necessidade de se terem modelos especificos para
atenderem os diferentes objetivos estrategicos de cada setor ou tipo de
organizacao e orientarem-se aos seus reais usuarios e finalidades de
uso". Diante disso, um dos tipos de negocios que constantemente
envolve questoes de desempenho, mas carece de um modelo capaz de
identificar as necessidades da area, sao as franquias.
Para Andrade (1993:27), a existencia de avaliacoes em franquias
associa-se "com os potenciais de ganho da rede, outras, com
necessidades proprias do franqueador (como e o caso do controle sobre o
faturamento, quando a cobranca de royalties pelo franqueador baseia-se
nesse parametro)". O controle do franqueador sobre os franqueados
faz, portanto, com que o franqueador tente ao maximo evitar
comportamentos oportunistas, mesmo que isso acarrete, em contrapartida,
maiores custos e maior insatisfacao dos franqueados (MELLEWIGT; EHRMANN;
DECKER, 2011), principalmente porque o modelo de franquias pode trazer
maior desempenho financeiro que organizacoes que nao atuam dessa forma
(MADANOGLU; LEE; CASTROGIAVANNI, 2011), sendo necessarios, portanto,
mecanismos de controle desses ganhos financeiros. Cherto, Campora e
Garcia (2006:42) sublinham, sobre os controles das franquias, essa
necessidade, alegando que:
[...] pela propria natureza do franchising, a
possibilidade de exercer legalmente, sobre as
atividades do franqueado, um grau de controle
bastante superior e normalmente muito mais
efetivo do que seria possivel exercer com
relacao a outros canais de venda [...] ocorre o
fortalecimento da marca em funcao desse nivel
de controle.
Ao se analisar o desempenho de uma franquia, deve-se entender que a
analise nao deve focar simplesmente a reducao de custos financeiros.
Primeiramente, porque a existencia de uma grande marca de franquia nao
esta necessaria e positivamente relacionada ao desempenho, e tambem em
razao do fato de que participar de uma franquia traz muitos ganhos
potenciais e de carater implicito, no ambito estrategico da empresa
(LITZ; STEWART, 1998). Portanto, as vantagens percebidas pelo franqueado
envolvem beneficios relacionais e financeiros (HARMON; GRIFFITHS, 2008);
no entanto, o valor para o franqueado em participar de uma rede de
franquias vai alem dos ganhos financeiros (ib.). A figura abaixo
sintetiza o modelo desenvolvido por Harmon e Griffiths (2008).
[FIGURE 1 OMITTED]
O franqueado avalia os custos (monetarios e nao monetarios) e
beneficios de participar de uma franquia a fim de perceber o valor que
ele pode obter do relacionamento da franquia. Esse valor percebido pode
gerar resultados, no que tange ao desempenho do estabelecimento, tanto
financeiros quanto comportamentais e de posicao/estrategia de mercado.
No que tange ao controle monetario, efetua-se na verdade o controle
dos fundos dos franqueados, no intuito de dar maior transparencia aos
participantes da rede (HALACHMI, 2005). Assim, a grande motivacao por
parte dos franqueados e a obtencao de fundos, enquanto por parte dos
franqueadores e o desempenho da marca e o repasse de porcentagens
proveniente dos franqueados.
Demais a mais, pode-se dizer que o franqueado ainda consegue obter
conhecimentos por meio da rede de franquia de que participa (WATSON et
al, 2005), o que faz com que questoes relacionadas ao capital
intelectual e as inter-relacoes dentro da rede tambem devam estar
presentes na avaliacao de franquias. Esse capital intelectual e o que
vai levar a analise de inovacoes, que podem ser vistas de forma ambigua,
sendo positivas na avaliacao do franqueador (flexibilidade dos
franqueados locais) ou ainda negativas, quando fogem dos padroes
impostos pelo franqueador.
Pode-se dizer ainda que existem especificidades na relacao de
franquias, quando comparadas as outras organizacoes, que devem
influenciar seu sistema de avaliacao. Sao elas principalmente: a origem
dos ganhos dos franqueadores sobre a taxa de royalty e vendas de
licencas (forma como sao pagos); a relacao de parceria
franqueador-franqueado; a marca como um ativo muito forte (MERLO, 2000),
o que envolve tambem todo o cuidado que o franqueado tem com a marca
(GRACE; WeAvEN, 2011); as parcerias com fornecedores; a confianca e a
relacao contratual que regulam a parceria (CHIOU; DROGE, 2015).
Essas justificativas implicam que deve haver uma relacao de
parceria entre franqueado e franqueador, e nao um controle que
estabeleca ameacas as relacoes entre ambos, como indicado no estudo de
Silva (1999). A confianca e o relacionamento sao fatores fundamentais
numa avaliacao de cadeias e redes (ACKERMAN, 2003). Portanto, dado que
na franquia existe uma relacao mutua entre o franqueador e o franqueado,
conclui-se que os ganhos derivados da parceria sao maiores que os
adquiridos individualmente (WRIGHT, 2000). Essa relacao e importante,
tambem, porque o tempo de atuacao do franqueado e um resultado
importante para avaliar o desempenho da franquia (NIJMEIJER;
FABBRICOTTI; HUIJSMAN, 2014). Em suma, aspectos intangiveis como os
aspectos relacionais entre os agentes da rede, que nem sempre sao
controlados meramente por contratos (BROOKS; ROPER, 2011), passam a ter
valor na avaliacao dessas redes. No entanto, vale lembrar que a
avaliacao nao se concentra apenas na relacao franqueado-franqueador, mas
tambem no relacionamento entre franqueado e clientes e entre os proprios
franqueados.
A confianca expande os padroes de avaliacao quando se percebe que o
franqueado ganha maior participacao no proprio processo de avaliacao.
Nesse sentido, o franqueado, quando atinge esse nivel de confianca e
participacao na rede, tem tambem participacao na formulacao de objetivos
estrategicos da rede de franquias, que serao estabelecidos como padroes
de analise de desempenho, tal como propoe a literatura sobre avaliacao
de desempenho organizacional.
E importante, para estabelecer esses padroes de avaliacao de
desempenho, tanto financeiros como nao financeiros, dispor de
indicadores que os formalizem. Esses indicadores devem ser construidos
conforme os itens relevantes para a operacionalizacao das franquias. Os
modelos de avaliacao de desempenho organizacional mostram que, dessa
forma, consegue-se controlar e monitorar o desempenho.
Por fim, a frequencia com que se avaliam os franqueados e fator
relevante, de acordo com Agrawal e Lal (1995): a frequencia do controle,
de fato, a medida que se intensifica, faz aumentar os custos de
avaliacao, mas, por outro lado, traz vantagens, como a inibicao de
comportamentos e acoes de mau desempenho e o fortalecimento e
valorizacao da marca da franquia.
5. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
Nas paginas precedentes, alguns passos foram dados no sentido de
entender quais sao as caracteristicas principais de um sistema de
avaliacao aplicado pelo franqueador as franquias.
Para Gauzente (2002), o estudo sobre franquias deve abordar tanto
perspectivas qualitativas quanto quantitativas, i.e., deve utilizar a
analise do conteudo tematico complementarmente a analise estatistica
(mesmo que descritiva). Portanto, num primeiro passo, realizou-se uma
pesquisa exploratoria, capaz de construir hipoteses e tornar o objetivo
da pesquisa explicito (GIL, 2002). Num segundo passo, aplicou-se um
survey cujas respostas foram analisadas estatisticamente. Essa
estrategia e utilizada para que se consiga abranger um alto numero de
respondentes e assim ter representatividade para estudar o fenomeno das
franquias.
Foi realizado um pre-teste do instrumento de pesquisa com um
franqueador, que sugeriu mudancas no questionario, resultando num survey
de 101 questoes. Novamente um pre-teste foi realizado com outro
franqueador, e chegou-se a um questionario final que abrangia perguntas
de varios tipos, totalizando 54 perguntas fechadas e duas abertas para
consideracoes finais e maiores detalhamentos. Das questoes fechadas, o
questionario contou com 10 perguntas que retornavam variaveis ordinais
(numeros absolutos), 13 perguntas de escala likert (sete pontos), 28
perguntas binarias de respostas entre "sim" e "nao"
e tres questoes intervalares (discretas). O survey foi disponibilizado
na Internet para que os participantes pudessem responde-lo.
O universo da pesquisa abrangeu 65 franqueadores-respondentes, dos
quais dois foram descartados por erros de preenchimento do questionario,
totalizando um grupo final de 63 respondentes validos. Os contatos foram
realizados a partir da relacao de franquias obtida no Guia Completo de
Franquias 2007 (INSTITUTO FRANCHISING, 2007); 619 de seus integrantes
foram selecionados e convocados para participar do estudo. Os
participantes encaixaram-se no foco da pesquisa, que era a franquia
contratual, em que se tem transferencia de marcas, know-how, patentes,
formulas, insignias e assistencia tecnica para o franqueado.
A pesquisa abordou as atividades de controle que os franqueadores
realizaram no ano de 2008. Ainda que nao sejam de todo atuais, em termos
de acoes de controle, os resultados ainda sao validos. Isso se justifica
porque existe uma tendencia valida em aplicar modelos provenientes de
outras areas do conhecimento, ainda nao utilizados para esse fim, para
analisar as franquias (COMBS et al, 2011), o que o presente estudo faz
por meio dos conceitos provenientes dos modelos de Avaliacao e
Mensuracao de Desempenho. Com efeito, ainda perdura nos dias atuais a
necessidade academica e pratica de determinar como o franqueador
controla e avalia o desempenho de seus franqueados, visto que conflitos
de interesse ainda existem entre franqueados e franqueadores (WINSOR et
al, 2012). A pesquisa quantitativa efetuou uma analise estatistica
descritiva, principalmente de frequencia, da amostra. Assim pode-se
elucidar um panorama de caracteristicas gerais da amostra no que tange
as suas atividades de avaliacao de desempenho.
6. RESULTADOS
Primeiramente, buscou-se analisar a representatividade da amostra
utilizada. Como o universo pesquisado consistiu em franquias listadas
pelo Guia Completo de Franquias 2007, realizou-se a comparacao da
distribuicao de setores obtidos com dados referentes ao universo de
setores de que a amostra participava. Ao se testar a representatividade
da amostra quanto ao setor de atuacao, nao foi possivel rejeitar a
hipotese de semelhanca entre a distribuicao amostral e o universo,
concluindo-se pela representatividade amostral ([chi square] = 18,236;
[rho] > 0,10).
Outro ponto importante para a caracterizacao da amostra e a forma
pela qual os franqueadores sao pagos, dado que se esperava que a grande
maioria (76,1%) tivesse seus pagamentos feitos por royalties. Duas
franquias eram remuneradas por aluguel; 34 apenas por royalties; 15 por
taxa fixa; 14 de forma mista (royalty e taxa fixa). Deve-se destacar
ainda que 13 respondentes operavam apenas por franquias, outros 12
possuiam apenas uma loja propria (piloto da rede) e 38 operavam com
ambos os modelos.
Na analise de frequencia, 62 dos 63 respondentes disseram fazer
algum tipo de avaliacao de desempenho. No entanto, deve-se ter cuidado
ao defender esse dado como representativo, porque as franquias que se
interessaram em responder o questionario podem ser as que realizam esse
tipo de atividade. No mais, realizar a avaliacao nao significa que ela e
feita de forma estruturada, o que se pode verificar nos dados
levantados: 11% nao definem objetivos; 17% nao relacionam os resultados
obtidos com os objetivos; 21% nao definem quais dados serao coletados
durante a avaliacao; 10% nao consideram a possibilidade de sugerir
mudancas no processo de avaliacao. Em proporcao mais agravante: 41% nao
constroem indicadores no processo de avaliacao; por outro lado, 82%
relevaram que usam a avaliacao como forma de rever os objetivos. Desses
resultados conclui-se que apenas 54% de todos os franqueados realizam
uma avaliacao de desempenho estruturada (com todas as etapas estudadas).
O quadro a seguir sumariza a presenca dos itens completos observados na
avaliacao de desempenho das franquias.
Importa registrar ainda que 64% dos franqueadores realizam
avaliacoes pelo menos uma vez a cada tres meses. Sobre os itens exatos
que sao avaliados, tem-se que: 86% dos respondentes avaliam o
faturamento do franqueado (o que se justifica por esse dado ser
indispensavel para a cobranca de royalties); 59% monitoram lucros e
custos financeiros das unidades. Ha ainda 46% dos respondentes que
avaliam o volume de produtos vendidos pelos franqueados e 56% o volume
de produtos vendidos para os franqueados. Das outras dimensoes que nao
financeiras, destacaram-se as condicoes de higiene do espaco fisico, o
que parece ligado a preocupacao com a marca, dado que 57 respondentes
disseram verificar se nao existe desrespeito a marca. No mais, houve uma
alta taxa de respondentes que alegaram estar preocupados com a
fidelidade (75%), a satisfacao (75%) e a qualidade do atendimento (75%).
Ha tambem uma preocupacao aparente com o desempenho do atendimento
realizado pelo franqueado, uma vez que 90% dos franqueadores avaliam o
treinamento deles. Sobre a inovacao, 90% dos franqueadores
acompanham-na, mesmo que muitas vezes as mudancas provenientes do
franqueado nao sejam consideradas inovacoes e sim quebras de padrao.
Sobre a utilizacao de indicadores, pode-se ver pela tabela a seguir
que 59% dos respondentes utilizam ate 30 indicadores.
Esses dados relacionam-se com o quadro a seguir, em que se verifica
que quanto maior e o numero de objetivos estabelecidos pelos
franqueadores, maior e o numero de indicadores utilizados para monitorar
esses objetivos.
Importa assinalar que 58% das redes tem a participacao do
franqueado na formulacao dos objetivos. O ponto critico identificado
nesse processo e que 9% da amostra nao transmite os resultados avaliados
aos franqueados; dos que os enviam, 42% nao oferecem padroes de
comparacao com as outras unidades avaliadas.
Analisando-se a efetividade da avaliacao realizada pelos
franqueadores, percebeu-se que 41% dos respondentes afirmam realizar a
avaliacao de desempenho; no entanto, ignoram todos os estagios possiveis
de avaliacao (desenho das medidas de desempenho, implantacao das medidas
de desempenho e uso das medidas de desempenho). Isso implica que para
uma boa parcela dos respondentes o processo de avaliacao de desempenho,
voltado a estrategia da organizacao, e deficitario ou secundario, sendo
a avaliacao de desempenho uma ferramenta para a atividade de controle
sobre os franqueados. Isto e, corrobora-se, no caso das franquias, que
os sistemas de avaliacao de desempenho sao utilizados para estabelecer o
controle, tal como propoe a grande corrente de pesquisas da area (e.g,
MARR, 2004; WIERSMA, 2009).
O presente estudo revela ainda que existe uma enfase maior de
avaliacao em aspectos operacionais, relativos a marca e a equipe, do que
em aspectos financeiros ou de vendas. Isso demonstra que existe, num
sistema de franquias, a preocupacao com o negocio em rede, isto e, com
os efeitos decorrentes de uma falta de cuidado do franqueado com a marca
e com os processos de qualidade (operacionais e de servicos). Isso
parece ser uma caracteristica particular da avaliacao de desempenho
realizada em sistemas de franquias. Outro destaque e que os principais
pontos identificados como barreiras para a avaliacao de desempenho em
franquias sao o fornecimento de informacoes falsas e o receio de prover
informacoes. Esse resultado se alinha com a ideia de que a confianca e
elemento importante para que se estabeleca uma boa relacao entre
franqueado e franqueador (CHIOU; DROGE, 2013).
7. CONSIDERACOES FINAIS
Com base no que foi levantado nos resultados da pesquisa de campo,
algumas consideracoes sao eminentes sobre o atual panorama da avaliacao
de desempenho para franquias. Primeiramente, o processo de avaliacao
dissemina-se entre os franqueadores, confundindo-se muitas vezes com
controle. Entretanto, um grupo de franqueadores realiza a avaliacao de
maneira suscetivel a criticas. Conforme demonstrado pela analise
estatistica, definir objetivos, definir os dados que serao coletados,
levantar esses dados, comparar os objetivos com os resultados
encontrados e rever os objetivos, processo denominado neste estudo de
avaliacao estruturada, ja e suficiente para garantir um processo mais
consistente de avaliacao. Contemplar essas cinco etapas relaciona-se
positivamente com 28 dos 47 itens de avaliacao propostos no
questionario, na prova do Qui-Quadrado, com p < 0,10. Assim,
propos-se um modelo teorico que fosse capaz de estabelecer qual seria o
processo de avaliacao de desempenho a ser aplicado por um franqueador.
Outro ponto importante e que o conflito de interesses, de fato, existe
entre franqueador e franqueado, de forma que a falta de confianca entre
eles e apresentada como elemento que dificulta a avaliacao de desempenho
das franquias (resultados demonstram o fornecimento de informacoes
falsas e receio de fornecer informacoes como principais barreiras para a
avaliacao de desempenho). Portanto, colocar a confianca como elemento
central para a avaliacao e mensuracao do desempenho das franquias e
importante para que se entendam os conflitos existentes, tidos como
principais barreiras para a conducao da avaliacao.
Apesar das diversas criticas dos autores sobre as avaliacoes que
enfocam prioritariamente os aspectos financeiros, eles nao representam o
principal objeto de avaliacao dos franqueadores, como revelou a analise
de frequencia. O enfoque das avaliacoes incide principalmente nos
padroes da marca, do produto e das operacoes. Essa caracteristica pode
ser especifica do universo das franquias e das relacoes unicas que
ocorrem entre franqueador e franqueado. Ressalte-se ainda que o enfoque
em marca e produto e, conforme a literatura, caracteristico de franquias
de primeira e segunda geracao. Entretanto, a enfase existente na
avaliacao da prestacao de servicos revela tambem que muitos
franqueadores ja estao na terceira geracao do franchise. Ou seja, o
controle existe muito mais para que se garanta que a marca e a qualidade
dos processos (operacionais e servicos) se mantenham controlados, de
forma que a avaliacao de desempenho sirva para evitar problemas na rede
de franquias decorrentes de casos isolados de um unico franqueado.
Portanto, ainda que exista, por parte dos franqueadores, a
preocupacao de avaliar aspectos relacionados a todas as dimensoes
propostas no trabalho (financas, operacao, cliente, logistica, equipe,
parcerias e inovacao), existem diferentes ponderacoes para cada uma
dessas perspectivas.
Para a area de avaliacao de desempenho, esses dados sao relevantes
dentro de duas esferas de reflexao: primeiramente, as franquias nao
podem ser analisadas de forma unidimensional, considerando-se uma unica
perspectiva, como seria o aspecto financeiro para a cobranca de
royalties; em segundo lugar, para que se possa avaliar uma franquia de
forma completa e fundamental que existam avaliacoes de desempenho em
relacao a marca, um dos direcionamentos que a area de avaliacao de
desempenho tende a seguir.
8. LIMITACOES DO ESTUDO E RECOMENDACOES PARA PESQUISAS FUTURAS
Uma das limitacoes deste estudo e que as variaveis aqui abordadas
aplicam-se ao modelo de negocio de franquias, mas nao especificam os
setores de atuacao de cada franquia. Por isso, podem ser necessarios
ajustes e ate mesmo o desenvolvimento de novos modelos conceituais para
a avaliacao do desempenho. Metodologicamente, e importante mencionar que
o estudo contou com uma amostra nao probabilistica, o que dificulta a
generalizacao dos resultados aqui obtidos.
No que tange as sugestoes de estudos futuros, propoe-se realizar
uma pesquisa sobre a avaliacao similar em redes de varejo que nao operam
sob a forma de franquias, porque se acredita que assim se podera
verificar como os diferentes sistemas de avaliacao diferem. Essa
comparacao poderia oferecer uma triangulacao de dados para reforcar os
resultados do presente estudo, ou elucidar mais claramente as
especificidades aqui apresentadas.
E importante ainda que se estabeleca um estudo semelhante a este
sob o enfoque da avaliacao dos proprios franqueadores ou da perspectiva
do franqueado perante a rede de franquias, o que se justifica por
existirem diferentes pontos de vista e percepcoes de valor entre
franqueado e franqueador (GRACE; WEAVEN, 2011). Tais enfoques podem
complementar resultados ou ainda estabelecer pontos de vista e de
interesse que nao foram captados no presente estudo. Por fim,
recomendase que os estudos sobre avaliacao de franquias possam se
desenvolver com o intuito de elaborar modelos especificos, capazes de
avaliar a marca da franquia, identificada aqui como principal elemento
de avaliacao do desempenho de franquias.
DOI: 10.5700/566
Recebido em: 20/3/2013
Aprovado em: 14/3/2014
Carlos Amorim Lavieri
Professor do Programa de Educacao Continuada da Engenharia
(PECE/USP)--Sao
Paulo-SP, Brasil
Mestre em Administracao pela FEA/USP. Graduado em Arquitetura e
Urbanismo
pela FAU/USP
E-mail: carlos.lavieri@terra.com.br
Hamilton Luiz Correa
Professor do Programa de Pos-Graduacao em Administracao da
Faculdade de
Economia, administracao e Contabilidade da Universidade de Sao
Paulo--Sao
Paulo-SP, Brasil
Doutor, mestre e graduado em Administracao pela FEA/USP
E-mail: hamillco@usp.br
Julio Araujo Carneiro da Cunha
Professor do Programa de Pos-Graduacao em Administracao da
Universidade Nove de Julho (PPGA/UNINOVE) Sao Paulo-SP, Brasil
Doutor em Administracao pela FEA/USP. Mestre em Administracao de
Organizacoes pela FEA-RP/USP. Graduado em Ciencias Economicas
(FEARP/USP),
Ciencias Contabeis (FEA-RP/USP), Administracao de Empresas
(UNAERP) e Comercio Exterior (UNAERP)
E-mail: juliocunha@yahoo.com
Artigo--Estrategia Empresarial
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(1) Quando comparadas a outros modelos de gestao, como, por
exemplo, as empresas de capital privado, o Estado ou ainda as empresas
de capital aberto.
Quadro 1--Geracoes de franchise
Geracao Relacao Franqueador- Quanto ao Contrato
Franqueado
1a Fornecimento de produtos Pode nao existir
sem exclusividade
2a Fornecimento de produtos Exigencia de exclusividade
com exclusividade em uma das partes
(canal unico)
3a Prestacao de servicos Lista de obrigacoes para
as partes
4a Prestacao de servicos, Lista de obrigacoes
maior preocupacao com para as partes
a rede e nao apenas
com o franqueado
5a Prestacao de servicos, Lista de obrigacoes
franqueados participam para as partes
da gestao da rede atraves
de conselho
Geracao Padronizacao e Marca
1a Pode existir
2a Estabelece padrao visual
3a Transferencia de know-how
4a Transferencia de know-how
5a Transferencia de know-how
Fonte: Adaptado de Mauro (1999).
Quadro 2--Etapas existentes no processo
de avaliacao das franquias da amostra
Etapas do processo de avaliacao Ausente Percentual
Definicao de equipe responsavel 12 19,0%
pela avaliacao
Definicao dos objetivos a serem atingidos 7 11,1%
Definicao dos dados coletados 13 20,6%
Definicao das dimensoes avaliadas 06
(financeira, clientes e processos) 24 25,4%
Definicao dos pesos e criterios para 38,1%
cada item pesquisado
Construcao de indicadores 26 41,3%
Levantamento de dados 9 14,3%
Integracao dps resultados nos modulos ou 34 54,0%
dimensoes
Comparacao dos resultados obtidos com 11 17,5%
esperados e relatorio final
Sugestoes de mudancas 6 9,5%
Punicao em funcao do resultado medido 50 79,4%
Premiacao em funcao do resultado medido 36 57,1%
Revisao dos objetivos 11 17,5%
Revisao do sistema de avaliacao 30 47,6%
Etapas do processo de avaliacao Presente Percentual
Definicao de equipe responsavel 51 81,9%
pela avaliacao
Definicao dos objetivos a serem atingidos 56 88,9%
Definicao dos dados coletados 50 79,4%
Definicao das dimensoes avaliadas
(financeira, clientes e processos) 47 74,6%
Definicao dos pesos e criterios para 39 61,9%
cada item pesquisado
Construcao de indicadores 37 58,7
Levantamento de dados 54 85,7
Integracao dps resultados nos modulos ou 29 46,0
dimensoes
Comparacao dos resultados obtidos com 52 82,5
esperados e relatorio final
Sugestoes de mudancas 57 90,5
Punicao em funcao do resultado medido 13 20,6
Premiacao em funcao do resultado medido 27 42,9
Revisao dos objetivos 52 82,5
Revisao do sistema de avaliacao 33 52,4
N = 63
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos
dados coletados na pesquisa de campo.
Quadro 3--Utilizacao de indicadores de desempenho
Para a loja franqueada
Frequencia Porcentual
Nao utiliza indicadores 4 6%
Utiliza ate 10 indicadores 19 30%
Utiliza de 10 ate 30 indicadores 18 29%
Utilizada de 30 ate 50 indicadores 8 13%
Utilizada mais 50 indicadores 4 6%
Nao respondeu 10 16%
Total 63 100%
Para a rede toda
Frequencia Porcentual
Nao utiliza indicadores 4 6%
Utiliza ate 10 indicadores 20 32%
Utiliza de 10 ate 30 indicadores 17 27%
Utilizada de 30 ate 50 indicadores 10 16%
Utilizada mais 50 indicadores 3 5%
Nao respondeu 9 14%
Total 63 100%
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados
coletados na pesquisa de campo.
Quadro 4--Estabelecimento de objetivos
Franqueados
Frequencia Porcentual
Nao define objetivos ou metas para lojas 3 5%
Define ate 10 objetivos para as lojas 40 73%
Define de 10 ate 20 objetivos para as lojas 5 9%
Define mis de 20 objetivos para as lojas 7 13%
Define mais de 40 objetivos para as lojas 0 0%
** Apenas as franquias que tem lojas 55 100%
proprias
Proprias **
Frequencia Porcentual
Nao define objetivos ou metas para lojas 0 0%
Define ate 10 objetivos para as lojas 28 65%
Define de 10 ate 20 objetivos para as lojas 10 23%
Define mis de 20 objetivos para as lojas 5 12%
Define mais de 40 objetivos para as lojas 0 0%
** Apenas as franquias que tem lojas 43 100%
proprias
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos dados
coletados na pesquisa de campo.
Quadro 5--Aspectos que facilitam ou dificultam
a avaliacao de desempenho
Aspecto Facilita [left arrow]
PESO CONSIDERADO = 3 2 1 0
Informacoes falsas prestadas 0 0 3 6
por alguns dos avaliados
Receio de fornecer 0 0 3 7
informacoes pelos franqueados
O custo economico 4 5 2 13
Os conflitos que a avaliacao 0 6 5 14
pode gerar
O tamanho da rede 3 7 4 14
O tempo usado para a avaliacao 3 7 5 14
A opiniao/posicao da diretoria 12 12 5 7
sobre avaliacao
A opiniao dos colaboradores e 13 11 6 5
dos franqueados
A possibilidade de comparar 15 11 4 4
resultados entre as diversas
unidades
O retorno economico produzido 16 16 3 1
pela avaliacao
A integracao produzida pela 12 19 6 1
avaliacao
A padronizacao dos resultados 19 11 3 4
pelo processo de avaliacao
As solucoes geradas pela 22 11 3 1
avaliacao para os franqueados
Aspecto [right arrow] Dificulta 1
PESO CONSIDERADO = -1 -2 -3 indice
Informacoes falsas prestadas 7 10 12 -60 Dificulta
por alguns dos avaliados
Receio de fornecer 14 9 5 -44 Dificulta
informacoes pelos franqueados
O custo economico 6 6 2 0 Neutro
Os conflitos que a avaliacao 12 0 1 2 Neutro
pode gerar
O tamanho da rede 6 3 1 12 Neutro
O tempo usado para a avaliacao 6 2 1 15 Neutro
A opiniao/posicao da diretoria 2 0 0 63 Facilita
sobre avaliacao
A opiniao dos colaboradores e 3 0 0 64 Facilita
dos franqueados
A possibilidade de comparar 2 2 0 65 Facilita
resultados entre as diversas
unidades
O retorno economico produzido 1 1 0 80 Facilita
pela avaliacao
A integracao produzida pela 0 0 0 80 Facilita
avaliacao
A padronizacao dos resultados 1 0 0 81 Facilita
pelo processo de avaliacao
As solucoes geradas pela 1 0 0 90 Facilita
avaliacao para os franqueados
Fonte: Elaborado pelos autores com base nos
dados coletados na pesquisa de campo.