Corporate governance and return on equity of family control companies and non-family control companies in Brazil/A governanca corporativa e o retorno das acoes de empresas de controle familiar e de controle nao familiar no Brasil/La gobernanza corporativa y el retorno de las acciones de empresas de control familiar y de control no familiar en Brasil.
Sampaio, Ricardo Bruno Queiroz ; Lima, Bruno Chaves Correia ; Cabral, Augusto Cezar de Aquino 等
1. INTRODUCAO
O fortalecimento do mercado de capitais constitui um dos fatores
determinantes do crescimento e do desenvolvimento economico das nacoes
(OLIVEIRA et al., 2013), ate mesmo por permitir o financiamento das
empresas privadas, que, por sua vez, passaram a buscar indices mais
elevados de profissionalizacao da administracao, o que levou a
dissociacao entre as figuras do gestor empresarial e do proprietario do
negocio. Nesse sentido, essa diferenciacao de papeis aconteceu, em
parte, pela pulverizacao do controle acionario permitida pelo mercado de
capitais, uma vez que, de modo geral, este tem como objetivo o
financiamento das atividades empresariais (SILVEIRA, 2002).
A separacao entre propriedade e controle tambem foi mais evidente e
acelerada nos paises que desenvolveram regulamentacoes que garantissem
aos investidores maior protecao legal, respeitando os principios da
transparencia, equidade e responsabilidade corporativa, entre outros.
Logo, a necessidade de um conjunto de regras que normatizassem as
relacoes entre os gestores e os acionistas, amenizando os conflitos de
interesse entre estes e aqueles--proprio do problema de agencia
formalizado por Jensen e Meckling (1976) em Theory of the Firm:
Managerial Behavior, Agency Costs and Ownership Structure--, fez emergir
o conceito de "governo de empresa", ou, como e mais conhecido,
governanca corporativa (CARVALHAL-DA-SILVA, 2006).
Com o proposito de assegurar aos investidores uma gestao competente
e alinhada com suas finalidades, garantindo um ganho de retorno aqueles
que aplicaram seus recursos nos ativos da companhia, a governanca
corporativa tambem pode fazer parte do cotidiano de empresas familiares.
Estas atraem a atencao de pesquisadores e investidores por representam
uma proporcao substancial das empresas em todo o mundo (ALPAY et al.,
2008), contribuindo relevantemente para o crescimento e a
internacionalizacao das economias emergentes (BARTON; WONG, 2006). A
continuidade dessas empresas, de acordo com Petry e Nascimento (2009), e
muito sensivel a influencia da forma de gestao de suas atividades.
Harmonia entre os membros da familia e um fator importante, que facilita
o bom andamento dos processos de legitimacao da organizacao (ALPAY et
al., 2008).
Ressaltam como fatores relevantes de um bom nivel de governanca
familiar a profissionalizacao e a preparacao estrategica de membros da
familia, gestores ou nao, para conduzir o negocio, para assumir cargos
na alta administracao e exercer seu papel de acionista (FREITAS; KRAI,
2010). E pela falta de preparo, como um processo que engloba
desdobramentos tecnicos e emocionais, de pessoas ligadas a familia
proprietaria que ocorrem diversos problemas na transicao do poder e do
conhecimento sobre a gestao do negocio, problemas que podem explicar a
reducao do tempo de vida medio das empresas (OLIVEIRA; BERNARDON, 2008).
Ademais, estudos indicam que os investidores estariam dispostos a
pagar mais pela acao de uma empresa com notoria eficiencia de governanca
corporativa. Segundo Carvalhal-da-Silva (2006:81), uma pesquisa
conduzida pela McKinsey Company entrevistou diversos investidores na
Europa, Asia e America Latina com o "objetivo de determinar se eles
estariam dispostos a pagar mais por uma empresa com boas praticas de
governanca corporativa e de quanto seria o premio pela boa
governanca". Mais de 80% dos investidores afirmaram essa
disposicao, e 75% consideraram a governanca tao importante quanto o
desempenho financeiro da companhia. Os investidores estao dispostos a
pagar mais por menores riscos. Segundo a pesquisa, o premio pela boa
governanca variou de 18% a 28%, dependendo do pais, demonstrando como
pode ser significativa a melhoria na pratica dos principios para o valor
da acao da companhia no mercado.
No Brasil, Silveira (2002:147) demonstrou que a relacao entre
governanca e valor e diferente daquela entre governanca e desempenho,
sendo mais forte a primeira. Segundo o autor, "nao e exagero
afirmar que as empresas que tem pessoas distintas ocupando cargos de
diretor executivo e presidente do conselho sao mais valorizadas, embora
nao se possa afirmar com conviccao que tenham desempenho superior".
Em outro estudo, Silveira e Barros (2008) constataram que quanto
maior e o poder do acionista controlador, no tocante ao direito de voto
e a disparidade entre direito de voto e direito sobre o fluxo de caixa,
tanto pior e a qualidade da governanca corporativa. Tais pesquisas
reforcam a tese de que os investidores enxergam com bons olhos as
praticas de governanca corporativa, como a pratica de empresas que tem
pessoas distintas ocupando cargos de diretor executivo e presidente do
conselho.
A adocao de boas praticas de governanca corporativa contribui para
o aumento no valor das companhias, conforme diversos estudos realizados
no Brasil e no mundo, alguns dos quais foram citados anteriormente. No
entanto, pouco se sabe a respeito das diferencas concernentes ao retorno
das acoes de empresas que adotam boas praticas de governanca, mas que
diferem no tocante a identidade do controle, o que ressalta a relevancia
deste estudo para o aprofundamento do tema em pauta.
Nesse sentido, pergunta-se: Qual a significancia das diferencas no
retorno das acoes das empresas listadas no Novo Mercado da Bolsa de
Valores, Mercadorias e Futuros (BM&FBOVESPA) em decorrencia do
controle acionario e da participacao de membros da(s) familia(s)
controladora(s) na diretoria?
O presente estudo tem como objetivo geral avaliar, entre as
companhias listadas no Novo Mercado da BM&FBOVESPA, a significancia
das diferencas que se verificam, no retorno das acoes, em decorrencia do
modelo de composicao acionaria e da atuacao de familiares do controlador
na diretoria. Para alcancar esse objetivo, realizou-se uma pesquisa de
carater descritivo, quantitativo, com base em procedimentos
estatisticos, tendo como objetivo fazer inferencias para a populacao
objeto da pesquisa.
Para os fins da pesquisa, definiu-se como hipotese nula a nao
existencia de diferencas significativas, no que concerne ao retorno das
acoes, entre empresas de controle familiar e de controle nao familiar, e
como hipotese alternativa a existencia significativa de tais diferencas.
Quanto a atuacao de familiares do controlador, as hipoteses incidem
sobre a existencia ou nao existencia de diferencas significativas no
retorno das acoes de empresas de controle familiar com membros da
familia na diretoria e de companhias de controle familiar que nao tem
membros da familia na diretoria.
Alem da introducao, o estudo apresenta um referencial teorico que
contextualiza conceito, caracteristicas e praticas de governanca
corporativa adotadas no Brasil e aborda, em seguida, Estrutura de
Controle e Propriedade. Na sequencia, expoe-se a metodologia empregada
na pesquisa e elucidam-se os resultados obtidos. Encerram o artigo as
consideracoes finais, seguidas da lista das obras consultadas.
2. REFERENCIAL TEORICO
Este topico contextualiza a governanca corporativa e a estrutura de
controle e propriedade. Inicialmente, apresentam-se conceitos e
caracteristicas do modelo de governanca corporativa adotado no Brasil e
no mundo, no contexto do Mercado de Capitais; em seguida, explicitam-se
o modo e os efeitos organizacionais da Estrutura de Controle e
Propriedade.
2.1. Conceitos e Modelos de Governanca Corporativa
A exposicao para o mercado de capitais internacional tem o
potencial de estimular a adocao de mecanismos de governanca corporativa
(HOLM; SCHOLER, 2010). Os estudos mais recentes realizados no mercado de
capitais brasileiro buscam comprovar que as empresas que adotam praticas
de governanca corporativa tem melhor desempenho e maior valor de
mercado, pois possibilitam aos investidores o acesso a informacoes de
qualidade sobre a empresa (SILVA; CARMONA; LAGIOIA, 2011). Nesse
contexto, a necessidade de atender a exigencias externas de
transparencia, compliance, accountability e de aumentar o nivel de
controle mostra-se relevante na formacao de valor, nas companhias
abertas nacionais (LAMEIRA; NESS JUNIOR; MACEDO-SOARES, 2007).
O conceito de governanca corporativa tem sido abordado desde o
estudo The modern corporation and private property, de Berle e Means,
publicado em 1932, sobre o surgimento das modernas corporacoes, nas
quais ha separacao entre controle e gestao. Contudo, segundo
Mendes-da-Silva et al. (2009), foi nos ultimos vinte anos que a analise
das praticas de governanca corporativa tomou-se um fator-chave para o
melhor conhecimento das empresas listadas em bolsas de valores.
Ao definirem governanca corporativa como a forma pela qual os
fornecedores de recursos, sejam eles acionistas ou credores, podem
assegurar retornos a seus investimentos, Shleifer e Vishny (1997)
ressaltam a possibilidade de divergencia sobre as escolhas que propiciam
retorno a esses fornecedores de recursos e os interesses dos gestores
que os aplicam, bem como sobre a forma de controle desses gestores. Para
Ongore e K'Obonio (2011), trata-se da existencia de mecanismos para
um acompanhamento eficaz, ratificacao e sancao de decisoes gerenciais.
Essas questoes levam em conta a teoria da agencia formalizada por
Jensen e Meckling (1976). Companhias abertas em que a propriedade e o
controle do capital concentram-se nas mesmas pessoas estao isentas, em
principio, dos conflitos de interesse entre proprietarios, desejosos de
aumentar sua riqueza e o valor da empresa, e gestores, interessados em
riqueza pessoal e prestigio (ONGORE; K'OBONIO, 2011).
A teoria da agencia, conforme Siffert Filho (1998), se interessa
por um tipo de relacao economica bastante frequente no sistema
economico, ou seja, a relacao bilateral entre o principal e o agente, na
qual tres condicoes necessarias se fazem presentes:
a) o agente dispoe da possibilidade de adotar diferentes
comportamentos: em uma corporacao, por exemplo, os administradores sao
aqueles que, efetivamente, detem o controle dos ativos da firma, podendo
emprega-los de distintas maneiras;
b) a acao dos agentes/administradores afeta nao apenas seu proprio
bem-estar (estabilidade, crescimento), mas tambem o do
principal/acionistas controladores (valorizacao das acoes, dividendos);
c) as acoes do agente dificilmente sao observaveis para o
principal, havendo assimetria informacional entre as partes.
Entao, a governanca corporativa surge para superar o conflito de
agencia. Suas boas praticas vem ganhando destaque, tanto no mercado
internacional quanto no nacional, por funcionarem como mecanismo de
confianca dos investidores nas tomadas de decisao dos executivos e
conselhos de administracao, principalmente de empresas que tem acoes
negociadas na Bolsa de Valores. Assim, promove-se o desenvolvimento de
melhores estruturas organizacionais, aptas a melhorar resultados
corporativos, minimizar os riscos inerentes ao mercado de atuacao e
esclarecer a percepcao do investidor sobre a empresa (SILVA et al,
2009).
Entretanto, na sua forma atual, a estrutura de governanca
corporativa necessita de um sistema de monitoramento que alinhe o papel
dos proprietarios da empresa ao do conselho de administracao, aos
interesses dos gestores e as acoes no ambito da criacao de riqueza,
motivacao e bem-estar dos stakeholders. Nesse contexto, ressalta a
importancia do conselho de administracao como intermediario entre os
interesses de diretores e agentes (ONGORE; K'OBONIO, 2011), alem de
ser o principal mecanismo que pode reduzir a assimetria da qualidade das
informacoes e os custos de agencia (HOLM; SCHOLER, 2010).
Alem disso, o modelo de governanca corporativa depende do ambiente
cultural, legal e institucional em que esta inserido. Carvalhal-daSilva
(2006) afirma que, se o mercado de capitais de um determinado pais e
ativo e desenvolvido, o conflito ocorre entre principal e agente. Por
outro lado, em um pais com mercado de capitais menos liquido e
desenvolvido, o conflito de agencia ocorre entre acionistas
controladores e acionistas minoritarios.
Os modelos de governanca corporativa possuem caracteristicas
semelhantes, porem apresentam outras peculiares, proprias de cada pais.
Lethbridge (1997) explica que, em geral, as economias apresentam dois
modelos: o nipogermanico, que predomina no Japao, na Alemanha e na
maioria dos paises da Europa Continental, e o anglo-saxao, que prevalece
nos Estados Unidos e no Reino Unido.
No modelo anglo-saxao, a propriedade e relativamente pulverizada e
a liquidez das acoes e garantida nas bolsas de valores, o que diminui o
risco dos acionistas; no modelo nipo-germanico existe mais concentracao
da propriedade e as participacoes acionarias sao de longo prazo. No
primeiro modelo, o objetivo principal das empresas e a criacao de valor
para os acionistas (shareholders); no segundo, as empresas buscam
equilibrar os interesses dos acionistas com os de outros grupos de
interesse: os empregados, fornecedores, clientes e a comunidade em geral
(stakeholders) (CARVALHAL-DA-SILVA, 2006).
No entanto, a maior parte do resto do mundo, incluindo o Brasil,
esta em uma posicao intermediaria entre os dois modelos (o anglosaxao e
o nipo-germanico), pois a protecao legal aos investidores e muito menos
eficaz, tanto por causa da ausencia de leis apropriadas quanto pela
fragilidade do sistema judiciario, incapaz de fazer cumprir
rigorosamente a lei (SILVEIRA, 2002).
A consequencia e que as empresas continuam sendo controladas por
familias, tendo dificuldade em levantar recursos externos e financiando
a maior parte de seus investimentos com capital proprio. No Brasil, essa
afirmacao e valida para uma boa parte das empresas; como afirma Silveira
(2002), no Brasil o financiamento e predominantemente interno ou procede
de bancos estatais, e existe uma grande concentracao da propriedade.
Iniciativas como o Novo Mercado e os niveis diferenciados de
governanca corporativa da Bovespa tem importancia destacada na busca de
boas praticas (TERRA; LIMA, 2006). As reformas da Lei no. 6.404/1976, o
codigo de boas praticas do Instituto Brasileiro de Governanca
Corporativa (IBGC), o ativismo do BNDES e dos fundos de pensao e as
recomendacoes da CVM sobre governanca corporativa tambem contribuiram
para o mesmo objetivo.
2.2. Estrutura de Controle e Propriedade
Com a evolucao das instituicoes financeiras durante o seculo XX, as
participacoes acionarias se tornaram cada vez mais uma questao de
investimento, em vez de um instrumento ativo de propriedade e de
exercicio do controle. Um acionista, quando nao aprovasse a forma pela
qual a companhia estivesse sendo gerenciada, poderia vender suas acoes.
Apenas raramente se questionavam os gestores de empresas razoavelmente
lucrativas (GREENSPAN, 2008).
Nesse contexto, emergem as companhias modernas de controle
pulverizado, principalmente nos Estados Unidos e na Inglaterra, conforme
o modelo anglo-saxao. A estrutura de controle e de propriedade das
companhias e essencial para o entendimento dos modelos de governanca
corporativa, tambem no Brasil.
A Lei no 6.404/1976, tambem conhecida como Lei das S.A., assim
define o acionista controlador (Art. 116):
A pessoa, natural ou juridica, ou o grupo de
pessoas vinculadas por acordo de voto, ou sob
controle comum, que: a) e titular de direitos de
socio que lhe assegurem, de modo permanente,
a maioria dos votos nas deliberacoes da
assembleia-geral e o poder de eleger a maioria
dos administradores da companhia; e b) usa
efetivamente seu poder para dirigir as atividades
sociais e orientar o funcionamento dos orgaos
da companhia.
Essa mesma lei reconheceu a existencia do poder de controle
acionario, baseado no direito a maioria dos votos e ao exercicio efetivo
da direcao dos negocios. Ha quatro modalidades de controle acionario:
(a) majoritario; (b) compartilhado; (c) minoritario; (d) pulverizado. O
controle e majoritario quando um acionista, pessoa fisica ou juridica,
ou uma familia detem a maioria das acoes com direito de voto. O controle
compartilhado configura-se quando, mesmo inexistindo um acionista
majoritario, o poder de controle e exercido por varias pessoas em
conjunto, que fazem acordo de acionistas, obrigando-se a votar em bloco
nas materias referentes ao exercicio do poder de controle (EIZIRIK et
al., 2008).
Com relacao a caracterizacao do controlador, o IBGC (2009)
classifica as organizacoes conforme os seguintes tipos:
a) Estatal: controle definido, em que a maioria do capital votante
pertence ao Estado.
b) Familiar/Multifamiliar: controle definido ou difuso, em que uma
ou mais familias detem o poder de controle.
c) Nao Familiar: controle definido ou difuso, em que um ou mais
individuos ou grupos empresariais detem o poder de controle.
d) Estrangeiro: controle definido ou difuso, em que o socio
controlador e estrangeiro.
e) Institucional: controle definido ou difuso, em que os
controladores sao investidores institucionais (fundos de pensao, fundos
de investimento, entre outros).
Por sua vez, Silva (2006:117) define como familiar a "empresa
que tem como principais acionistas uma ou mais familias que detem o
comando da gestao", de acordo com a definicao do IBGC (2009).
Estudos recentes, conforme Alpay et al. (2008), sugerem que as empresas
familiares podem ter desempenho superior ao das empresas nao familiares.
Para os autores, a composicao majoritaria da gestao da empresa por
membros da familia potencializa decisoes orientadas a um longo prazo,
alem de representar maiores niveis de comprometimento.
A estrutura de controle (direito de voto) e de propriedade (direito
de fluxo de caixa) das empresas, ao lado da protecao legal, e
determinante para a governanca corporativa. Segundo Carvalhal-da-Silva
(2006), na maioria dos paises sao comuns a concentracao do capital e a
separacao entre controle e propriedade, pois os controladores podem
desejar abrir o capital de uma empresa sem, no entanto, correr o risco
de perder o controle sobre ela.
Existem tres formas principais de reduzir a propriedade sem perder
o controle. A primeira e a emissao de acoes sem direito a voto ou com
direitos inferiores de voto (acoes preferenciais, no caso do Brasil). O
segundo mecanismo sao os acordos de acionistas sobre o exercicio do
direito de voto ou do poder de controle. E, por fim, podem ser usados
mecanismos de participacao cruzada, em que uma empresa controlada por
outra possui acoes de sua controladora (CARVALHAL-DA-SILVA, 2006).
A Lei das S.A. reconhece as estruturas diretas e indiretas de
controle em toda a extensao de seu texto, quando, entre outros momentos,
no Art. 243 [section] 2, descreve sociedades coligadas, controladoras e
controladas.
Os acionistas indiretos sao aqueles que detem a propriedade da
empresa, em ultima instancia; os acionistas diretos sao aqueles que
possuem acoes da propria companhia, conforme o demonstra a figura a
seguir:
[FIGURE 1 OMITTED]
A analise da estrutura direta e indireta e possivel no Brasil, pois
a Comissao de Valores Mobiliarios (CVM) exige das empresas a
apresentacao, em seus relatorios anuais, da composicao acionaria das
companhias holding. Assim, essa composicao, analisada, permite que se
encontrem os verdadeiros proprietarios, sejam eles individuos ou
familias, investidores estrangeiros, governos ou ainda investidores
institucionais como, por exemplo, bancos, companhias de seguros, fundos
de pensao, fundos de investimento, entre outros (CARVALHALDA-SILVA,
2006).
Nos paises com menos mecanismos de informacao e protecao aos
acionistas, ha maior numero de empresas estatais e de controle familiar
com baixo grau de separacao entre controle e propriedade. Essa realidade
potencializa o conflito de agencia, principalmente entre acionistas
majoritarios e acionistas minoritarios (DJANKOV et al., 2005).
Em suma, a Governanca Corporativa contribui para amenizar os
conflitos de agencia e combater a assimetria de informacao entre os
diversos investidores e demais interessados em determinada companhia,
bem como para o fortalecimento do mercado de capitais, ao oferecer maior
transparencia.
3. METODOLOGIA DO ESTUDO EMPIRICO
Esta pesquisa, que se caracteriza por ser descritiva e
quantitativa, baseando-se em procedimentos estatisticos, tem como
objetivo, a partir das amostras consideradas, fazer inferencias
extensiveis a populacao objeto da pesquisa.
O metodo quantitativo caracteriza-se pelo emprego da quantificacao
tanto nas modalidades de coleta de informacoes, quanto no tratamento
delas por meio de tecnicas estatisticas, desde as mais simples, como
porcentual, media, desviopadrao, as mais complexas, como coeficiente de
correlacao, analise de regressao, etc. (RICHARDSON et al, 2008).
3.1. Banco de Dados
Em um primeiro momento, foram coletados dados de publicacoes do
sitio oficial da Bolsa de Valores, Mercadorias e Futuros de Sao Paulo
(BM&FBOVESPA) e do banco de dados Economatica[R], sistema de
informacao utilizado para analise de acoes e fundos.
O sitio oficial da BM&FBOVESPA, em novembro de 2010, permitiu
identificar e analisar todas as 107 empresas inseridas no nivel mais
avancado de Governanca Corporativa do Novo Mercado, alem de indicar os
sitios oficiais de cada empresa, acessados para fins de consulta da
posicao acionaria e classificacao de cada empresa como sendo familiar ou
nao. Para tal divisao, tomou-se por base a definicao de Silva (2006) e
do IBGC (2009) mencionada no referencial teorico deste trabalho. Por sua
vez, admitiu-se que empresa de controle "nao familiar" e toda
aquela que nao se conforma as definicoes supracitadas, seja ela de
natureza publica ou privada.
Adicionalmente, foi realizada uma pesquisa no sistema
DIVEXT--Divulgacao Externa da CVM --e nos sitios oficiais de cada
empresa, mais especificamente nas paginas de "Relacoes com
Investidores", a fim de identificar informacoes acerca da
identidade do controle das empresas e da participacao de membros de
familias controladoras na diretoria. Ademais, para a definicao das
companhias que possuiam membros da familia na diretoria, observaram-se
os membros com o mesmo sobrenome dos controladores.
O banco de dados Economatica[R] foi utilizado para a coleta do
historico de cotacoes mensais (de final de mes) das acoes, ajustadas a
dividendos e outros eventos, das empresas listadas no Novo Mercado da
BM&FBOVESPA; considerou-se o periodo de janeiro de 2006 a agosto de
2010, totalizando 56 periodos.
3.2. Metodologia
Para os fins da pesquisa, considerando-se as empresas listadas no
Novo Mercado da BM&FBOVESPA, relacionam-se abaixo as seguintes
hipoteses quanto a identidade do controle e retorno:
[H.sub.0] (hipotese nula): nao existem diferencas significativas,
no que concerne ao retorno, entre as empresas de controle nao familiar e
as companhias de controle familiar.
[H.sub.1] (hipotese alternativa 1): existem diferencas
significativas, no que concerne ao retorno, entre as empresas de
controle nao familiar e as companhias de controle familiar.
Quanto a relacao entre atuacao de familiares do controlador e
retorno, as hipoteses sao as seguintes:
[H.sub.0] (hipotese nula): nao existem diferencas significativas,
no tocante ao retorno, entre as empresas de controle familiar com
membros da familia na diretoria e as companhias de controle familiar que
nao apresentam membros da familia na diretoria.
[H.sub.1] (hipotese alternativa 1): existem diferencas
significativas, no tocante ao retorno, entre as empresas de controle
familiar com membros da familia na diretoria e as companhias de controle
familiar que nao apresentam membros da familia na diretoria.
Na pratica, e preferivel trabalhar com retornos, que sao livres de
escala, a trabalhar com precos, pois os primeiros tem propriedades
estatisticas mais interessantes, tais como estacionariedade e
ergodicidade (MORETTIN; TOLOI, 2006).
Por esse motivo, apos a classificacao de cada empresa como familiar
ou nao, foram compostos portfolios dos dois grupos por meio de uma media
aritmetica (sem ponderacao) das taxas historicas de retorno, compostas
continuamente (aplicadas a logaritmo neperiano), a exemplo de Morettin e
Toloi (2006:10):
[r.sub.t] = loh ([P.sub.t]/[P.sub.t-1]) Equacao (3.2.1)
em que [P.sub.t] e o preco de um ativo no instante t (em meses); e
rt e igual ao [DELTA] log [P.sub.t] (retomo logaritmico ou log-retomo).
Em seguida, depois de calculados a media e o desvio-padrao do
historico de log-retomos de cada empresa e de cada portfolio, bem como o
coeficiente de correlacao das duas series, aplicouse um metodo de
comparacao--o "Teste de Duas Amostras para Medias", usado para
decidir se as medias de duas populacoes sao iguais. O teste foi aplicado
na forma como e apresentado por Stevenson (1981, p. 240), uma vez que os
desvios-padrao das amostras tambem foram calculados, como se segue:
[z.sub.teste] = [[bar.x].sub.1] - [[bar.x].sub.2]/[square root of
([[sigma].sup.2.sub.1]/[n.sub.1] + [[sigma].sup.2.sub.2]/[n.sup.2])]
Equacao (3.2.2)
em que [[bar.x].sub.i] e a media dos log-retornos do Portfolio i;
[[sigma].sup.2.sub.i] e a variancia dos log-retornos do Portfolio i; e
[n.sub.i] e o numero de periodos da amostra do Portfolio i.
Na presente pesquisa, chamou-se de "Portfolio 1" a serie
historica gerada pela media dos logretornos de empresas de controle
familiar; e "Portfolio 2" a serie gerada de empresas de
controle nao familiar. Acrescente-se que foi adotada a premissa de que a
distribuicao de probabilidade seria a log-normal, alem de ter sido
adotado um nivel de significancia de 5%.
Mais adiante, o "Teste de Duas Amostras para Medias" foi
aplicado novamente, retirando-se das amostras dos dois portfolios as
empresas que apresentaram, no periodo definido pela pesquisa, as medias
dos log-retornos 10% maiores e 10% menores, tendo em vista a confirmacao
ou negacao do teste com todas as empresas da amostra.
Os mesmos procedimentos foram adotados para testar as hipoteses em
relacao a existencia de membros de familia(s) na diretoria de empresas
familiares. Por sua vez, chamou-se de "Portfolio 1A" a serie
historica gerada pela media dos logretornos de empresas de controle
familiar com membros da familia na diretoria; e "Portfolio 1B"
a serie gerada de empresas de controle familiar que nao incluiam membros
da familia na diretoria.
Os proximos topicos apresentam os resultados encontrados a partir
dos procedimentos descritos e as conclusoes oriundas dos testes feitos e
da teoria discutida ao longo da pesquisa.
4. RESULTADOS
Os resultados concentram-se na caracterizacao das empresas
aderentes ao Novo Mercado da BM&FBOVESPA, mostrando com que
frequencia elas apresentam estruturas de controle e propriedade familiar
ou nao familiar, e com que frequencia as empresas familiares apresentam
membros da familia controladora na diretoria. Alem disso, os resultados
mais importantes da pesquisa concentram-se na possivel relacao entre
identidade do controle e retorno; e na relacao entre membros da(s)
familia(s) controladora(s) na composicao da diretoria e retorno.
4.1. Identidade das Empresas no Novo Mercado
Foram identificadas, no Novo Mercado, 107 empresas, em 26 de
setembro de 2010. Destas, 48 (44,86%) eram empresas de controle familiar
e 59 (55,14%) eram empresas de controle nao familiar. A proporcao de
empresas familiares se mostrou bastante relevante, sendo quase a metade
de toda a amostra.
Ademais, entre as 48 empresas de controle familiar, foram
identificadas 30 empresas que possuiam membros da(s) familia(s)
controladora(s) na diretoria e 18 empresas que nao possuiam membros
da(s) familia(s) controladora(s) na diretoria. Ve-se, pois, que a
maioria das empresas de controle familiar apresentava membros da familia
participando da direcao da companhia, em 15 de novembro de 2010. Ao
mesmo tempo, quase todas as companhias apresentavam familiares
(geralmente, o fundador ou herdeiro da companhia) no conselho de
administracao.
O Grafico 1, a seguir, exibe a identidade de controle e propriedade
das empresas do Novo Mercado, classificando as familiares em dois
grupos: as que tinham ou nao tinham membros da familia na diretoria:
Grafico 1--Identidade do controle das empresas do Novo Mercado
Empresas de Controle Familiar 44,86% (48)
Empresas de Controle Nao-Familiar 55,14% (59)
Empresas com membros da familia na diretoria 62,50% (30)
Empresas sem membros da familia na diretoria 37,50% (18)
Fonte: Elaborado pelos autores.
Note: Table made from pie chart.
O resultado, apresentado pelo Grafico 1, e semelhante ao encontrado
por Silveira e Barros (2008), que realizaram uma pesquisa com 161
empresas de todos os niveis do Novo Mercado em 2002. Na epoca, segundo
os autores, 45,96% das empresas eram controladas por familias ou
controladores individuais, e o restante era controlado por grupos
privados estrangeiros, grupos privados nacionais, fundos de pensao ou
pelo governo. Nota-se, portanto, que a caracterizacao do controle das
companhias brasileiras no Novo Mercado, em geral, nao tem sofrido
grandes mudancas, uma vez que as proporcoes se mantem bem proximas das
encontradas pelos autores.
Os topicos seguintes apresentam os resultados encontrados por meio
dos procedimentos descritos na metodologia da pesquisa.
4.2. Relacao entre Identidade do Controle e Retorno
Os log-retomos de cada portfolio--(1) empresas de controle familiar
e (2) empresas de controle nao familiar--, que foram gerados a partir
das medias dos log-retornos mensais das empresas de cada segmento, podem
ser visualizados no Grafico 2, a seguir, que demonstra a evolucao desse
indicador para cada um dos portfolios:
[GRAPHIC 2 OMITTED]
Percebe-se que os log-retornos dos dois portfolios evoluem de forma
bastante semelhante, o que e comprovado pelo coeficiente de correlacao
dos dois conjuntos de dados. As series apresentam um coeficiente de
correlacao da ordem de 0,9503, o que significa uma forte correlacao
positiva entre as duas series.
Ademais, a fim de testar as hipoteses na equacao 3.2.2--se existem
ou nao diferencas significativas, no tocante ao retorno, entre as
empresas de controle familiar e as companhias de controle nao
familiar--calculou-se a media e o desvio-padrao a partir dos
log-retornos mensais de cada portfolio (Tabela 1). O portfolio composto
de empresas familiares apresentou uma media 75,86% maior que a media do
portfolio composto de empresas de controle nao familiar.
Em seguida, para a amostra (n) igual a 55 observacoes para os dois
portfolios, foram testadas as hipoteses [H.sub.0]: [[bar.x].sub.1] =
[[bar.x].sub.2] e [H.sub.1]: [[bar.x].sub.1] [not equal to]
[[bar.x].sub.2] para um nivel de significancia de 5%. O resultado do
Z-Teste foi 0,2449, ilustrado no Grafico 3, a seguir:
[GRAPHIC 3 OMITTED]
Para um nivel de significancia de 5%, em que a estatistica teste e
menor do que 1,65, aceita-se a hipotese nula, ou seja, como a
estatistica teste esta na regiao de aceitacao, a hipotese nula nao pode
ser rejeitada. Mais adiante, tendo-se retirado das amostras dos dois
portfolios as empresas com as medias dos log-retornos 10% maiores e 10%
menores, a estatistica teste foi 0,1804, ainda na regiao de aceitacao,
corroborando o resultado do teste anterior.
Os resultados indicam que a diferenca entre as medias dos dois
portfolios e provavelmente o resultado de uma variacao casual, nao
evidenciando que empresas de controle familiar apresentam naturalmente
um retorno superior inferior ao de empresas de controle nao familiar.
Nesse sentido, o fato de o controle de uma companhia ser familiar
ou nao, muito embora comprometa a qualidade da governanca corporativa,
segundo os estudos de Silveira e Barros (2008), nao tem influencia
significativa no retorno dessas companhias. Os resultados sugerem que os
investidores nao utilizam a identidade do controle como parametro
norteador para investir ou nao em determinada companhia do Novo Mercado
da BM&FBOVESPA.
[GRAPHIC 4 OMITTED]
4.3. Relacao entre Membros da Familia na Composicao da Diretoria e
Retorno
As series de log-retornos de cada portfolio--(1A) empresas com
membros da(s) familia(s) controladora(s) na diretoria e (1B) empresas
sem membros da(s) familia(s) controladora(s) na diretoria--, que foram
geradas a partir das medias dos log-retornos mensais das companhias de
cada segmento, podem ser visualizadas no grafico a seguir, demonstrando
a evolucao desse indicador para cada um dos portfolios:
Nesse caso, as series apresentaram um coeficiente de correlacao da
ordem de 0,8761, o que significa uma forte correlacao positiva. Alem
disso, tambem foram calculadas as mesmas estatisticas descritivas do
estudo anterior, a fim de testar as hipoteses na equacao 3.2.2--se
existem ou nao existem diferencas significativas, no tocante ao retorno,
entre as empresas de controle familiar com membros da familia na
diretoria e as companhias de controle familiar que nao apresentam
membros da familia na diretoria. O portfolio composto de empresas com
familiares na diretoria apresentou uma media 62,16% maior que a media do
portfolio composto de empresas sem familiares na diretoria.
Em seguida, para a amostra (n) igual a 55 observacoes para os dois
portfolios, foram testadas as hipoteses [H.sub.0]: [[bar.x].sub.1A] =
[[bar.x].sub.2B] e [H.sub.1]: [[bar.x].sub.1A] [not equal to]
[[bar.x].sub.2B] para um nivel de significancia de 5%. O resultado do
Z-Teste foi 0,2306.
Para um nivel de significancia de 5%, em que a estatistica teste e
menor do que 1,65, nao se rejeita a hipotese nula, pois a estatistica
teste esta na regiao de aceitacao. Mais adiante, tendo-se retirado das
amostras dos dois portfolios as empresas com as medias dos log-retornos
10% maiores e 10% menores, a estatistica-teste foi 0,0672, ainda na
regiao de aceitacao e confirmando o resultado do teste anterior.
Esses resultados tambem indicam que a diferenca entre as medias dos
dois portfolios e provavelmente o resultado de uma variacao casual, o
que passou a ser esperado desde o momento em que o primeiro teste (item
4.2) mostrou que nao se verificavam diferencas significativas nos
retornos de empresas de controle familiar e de controle nao familiar.
Uma possivel explicacao do fato de as medias dos log-retornos dos
portfolios dos dois estudos nao serem estatisticamente diferentes e que
as empresas que compoem o Novo Mercado da BM&FBOVESPA apresentam
graus de profissionalizacao da diretoria bastante semelhantes, o que
pode ser objeto de um novo teste de hipoteses, em estudo que vise
identificar essa relacao.
A profissionalizacao da diretoria dessas companhias pode,
inclusive, ser verificada na relacao entre o numero de cargos de
diretoria ocupados por familiares dos controladores (48) e a quantidade
total de cargos de diretoria das companhias de controle familiar (280,
segundo informacoes constantes de seus websites). Ou seja, apenas 17,14%
dos cargos de diretoria, em empresas de controle familiar, sao ocupados
por membros da(s) familia(s) controladora(s).
Portanto, a partir dos testes realizados--que consideraram empresas
de controle familiar e nao familiar, alem de terem avaliado o retorno
das companhias familiares com ou sem familiares na direcao--, pode-se
dizer que as boas praticas de governanca corporativa obrigatorias no
Novo Mercado contribuem para que empresas com diferentes caracteristicas
de controle sejam avaliadas semelhantemente pelos investidores, tanto
que os grupos e subgrupos estudados apresentaram retornos analogos.
O proximo capitulo apresenta as principais conclusoes extraidas da
pesquisa, alem de sugerir um conjunto de estudos complementares que
poderiam aprofundar, descobrir ou difundir boas praticas de governanca
corporativa, que elevem o valor das companhias na apreciacao dos
investidores.
5. CONSIDERACOES FINAIS
Cada vez mais, embora ainda haja muito que fazer nesse sentido, as
empresas tem investido em praticas pautadas pela transparencia, a
equidade de tratamento dos acionistas e a prestacao de contas. Tais
principios, proprios da governanca corporativa, tem sido difundidos por
orgaos reguladores, investidores institucionais, como fundos de pensao,
e por institutos como o IBGC.
Na conjuntura atual, os aspectos determinantes da governanca
corporativa tem sido bastante discutidos, principalmente a partir de
casos de grande repercussao no ambiente brasileiro, caracteristicos do
conflito de agencia. Dentre os aspectos essenciais do tema, deve-se
destacar a estrutura de controle e propriedade como um aspecto
determinante da qualidade da governanca. No entanto, a partir da
pesquisa realizada com as empresas do Novo Mercado da BM&FBOVESPA,
utilizando metodos estatisticos, percebe-se que diferencas na identidade
do controle das companhias nao importam diretamente em diferencas de
retorno.
Ao menos, quando se compararam as companhias de controle familiar
com as de controle nao familiar, os testes estatisticos revelaram que a
diferenca entre as medias dos dois grupos e provavelmente resultado de
uma variacao casual, nao evidenciando que empresas de controle familiar
tenham retorno inferior ou superior. Ademais, o coeficiente de
correlacao entre os dois grupos mostrou-se fortemente correlato e
positivo.
A hipotese de que as companhias nao familiares oferecem retornos
estatisticamente diferentes foi rejeitada, nas condicoes de analise
definidas na pesquisa. No entanto, para que o tema possa ser mais
aprofundado e para que, eventualmente, se facam novas descobertas,
sugere-se realizar uma pesquisa junto aos investidores, indagando o modo
como percebem as companhias de controle familiar. Cabe inquirir, alem
disso, se estariam--e em que medida estariam--dispostos a atribuir um
valo pecuniario adicional a determinadas caracteristicas de propriedade
e controle.
Mais adiante, ao se compararem, entre as empresas familiares,
aquelas que mantem membros da familia em cargos de diretoria e as que
nao os mantem, os testes tambem revelaram que as diferencas absolutas
encontradas nao sao significativas. O resultado tornou-se previsivel, de
fato, quando os testes comparando empresas familiares e nao familiares
revelaram que essa diferenciacao nao importava em retornos diferentes.
Indagar tambem como os investidores percebem a participacao de
membros de familias controladoras na gestao das companhias deve fazer
parte do estudo proposto. Poder-se-ia, ainda, estratificar as series
historicas em diferentes periodos, a fim de identificar causas mais
precisas para a correlacao das duas series, uma vez que, visualmente, os
graficos mostram que antes de dezembro de 2007 os log-retornos medios
foram menos proximos.
Dentre outros aspectos, considera-se a profissionalizacao da
diretoria das companhias abertas brasileiras como um fator influente da
similaridade de retorno. O fato de que, em novembro de 2010, apenas
17,14% dos cargos de diretoria das companhias de controle familiar do
Novo Mercado eram exercidos por membros da(s) familia(s) controladora(s)
e um forte indicativo disso.
Sao assinalaveis as seguintes limitacoes da pesquisa: a nao
precisao quanto a classificacao de uma companhia como familiar ou nao e
a concentracao da amostra da pesquisa em empresas do Novo Mercado. A
primeira limitacao deve ser atribuida a falta de clareza da composicao
acionaria e/ou da estrutura societaria nos websites de algumas
companhias. Utilizar o sobrenome para identificar um membro da familia
controladora na diretoria e um metodo insuficiente, a que se recorreu
por falta de criterio mais preciso. Quanto a segunda limitacao, a
decisao de restringir a amostra as empresas que observam as melhores
praticas de governanca se deve ao intuito de comparar companhias com
niveis de gestao semelhantes.
Recomendam-se, para futuros estudos, analises comparativas de
empresas familiares e nao familiares a partir da ampliacao da amostra,
incluindo empresas de outros niveis de governanca, bem como a
consideracao de outros aspectos da profissionalizacao, como o nivel de
formacao academica e as experiencias profissionais.
Por fim, deve-se ressaltar que este estudo pretendeu reproduzir com
fidelidade os conceitos de governanca corporativa e seus impactos no
retorno das empresas com diferentes identidades de controle e
propriedade, a partir de uma contribuicao quantitativa para o tema, alem
de levantar novas questoes.
DOI: 10.5700/rege527
Recebido em: 10/11/2011
Aprovado em: 31/1/2014
Ricardo Bruno Queiroz Sampaio
Especialista em Gestao Empresarial pela Faculdades
Nordeste--Fortaleza-CE, Brasil
Graduado em Administracao pela Universidade Federal do Ceara
E-mail: ricardobqs@gmail.com
Bruno Chaves Correia Lima
Doutorando em Administracao na Universidade Federal da
Bahia--Salvador-BA, Brasil
Mestre em Administracao e Controladoria pela Universidade Federal
do Ceara
Graduado em Ciencias Contabeis
E-mail: brunoccl@hotmail.com
Augusto Cezar de Aquino Cabral
Associado II no Programa de Pos-graduacao em Administracao e
Controladoria (PPAC) da Universidade Federal do Ceara--Fortaleza-CE,
Brasil
Doutor em Administracao pela Universidade Federal de Minas Gerais
Mestre em Administracao pela Universidade Estadual do Ceara
Mestre em Educational Administration and Supervision pela
University of New Hampshire
Graduado em Administracao pela Universidade de Fortaleza
E-mail: cabral@ufc.br
Alvaro Luiz Bandeira de Paula
Professor Efetivo na Faculdade de Economia, Administracao, Atuaria,
Contabilidade e Secretariado Executivo (FEAAC) da Universidade Federal
do Ceara--Fortaleza-CE, Brasil
Mestre em Administracao de Empresas pelo Instituto COPPEAD da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Graduado em Administracao pela Universidade Federal do Ceara
E-mail: alvarodepaula@uol.com.br
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Tabela 1--Comparacao das medias e desvio-padrao dos log-retornos de
empresas de controle familiar (portfolio 1) e de empresas de
controle nao-familiar (portfolio 2)
Portfolio 1 Portfolio 2
(Familiar) (Nao Familiar)
MEDIA 1,02 0,58
DESVIO-PADRAO 10,0839 8,8106
Fonte: Elaborada pelos autores.
Tabela 2--Comparacao das medias e desvios-padrao dos
log-retornos de empresas com familiares na diretoria
(portfolios 1A) e sem familiares na diretoria (portfolio1B)
Portfolio 1A (Com Portfolio 1B (Sem
Familiares na Familiares na
Diretoria) Diretoria)
MEDIA 1,20 0,74
DESVIO-PADRAO 10,25 10,74
Fonte: Elaborada pelos autores.