Proposal of a protocol for the study of intuition and the decision-making process/Proposicao de um protocolo para estudo sobre a intuicao e o processo de tomada de decisao/Proposicion de un protocolo para estudio sobre la intuicion y el proceso de tomada de decision.
Andriotti, Fernando Kuhn ; de Freitas, Henrique Mello Rodrigues ; Martens, Cristina Dai Pra 等
1. INTRODUCAO
O conceito de intuicao circula na sociedade ha muitos anos. No
campo das ciencias sociais, esse tema vem ganhando destaque desde os
anos 90, abordado em seus aspectos cognitivos, emocionais e
comportamentais. Contudo, mesmo na atualidade e dificil definir a
intuicao, encontrar um consenso sobre quais sao seus componentes,
compreender como ela e ativada, como pode ser desenvolvida e como pode
ser utilizada de forma intencional na tomada de decisao. Isso demonstra
que o campo de estudos sobre a intuicao continua aberto e carece de
pesquisas que auxiliem em sua compreensao.
O interesse na intuicao como um elemento importante da tomada de
decisao comeca com a revolucao da informacao iniciada ha algumas
decadas. Com o advento da informatica e do acesso quase irrestrito a
informacao, o ambiente tornou-se mais complexo e, paralelamente, as
exigencias de resultados positivos tambem cresceram. Os gestores
passaram a decidir em ambientes onde ha muitas variaveis, risco elevado,
alto nivel de incerteza e uma crescente necessidade de agir rapidamente
para aproveitar oportunidades e, por conseguinte, evitar potenciais
ameacas. De acordo com Ugur (2005), o mundo e caracterizado pela
incerteza; o uso de metodos convencionais de gestao de risco resulta em
decisoes abaixo do ideal, pois os individuos nao possuem habilidades e
capacidades suficientes para lidar com todas as variaveis que podem
influencia-lo no momento de decidir. De acordo com uma recente pesquisa,
59% do tempo dos gestores e gasto em resolver problemas urgentes (CIO
BRASIL, 2010).
Dean e Sharfman (apud EISENHARDT, ZBACKARI, 1992) afirmam que
situacoes urgentes, ameacadoras, de ambiente incerto acabam afetando a
racionalidade do individuo; em consequencia, o resultado nem sempre sera
o desejado. Como ressalta Bernstein (2008:17), os seres humanos estao
longe de serem "automatos hiper-racionais", ou seja, ha algo
mais, nao declarado. De acordo com um estudo realizado em 2004 pela
empresa de consultoria PriceWaterhouse Coopers, que envolveu 200
empresas de setores diversos da economia, localizadas em 30 diferentes
paises, de um total de cerca de 10 mil projetos apenas 2,5% foram
considerados bem-sucedidos; quanto aos demais 97,5%, seu insucesso pode
ser atribuido a decisoes precipitadas, com pouca informacao, ou a
situacoes nas quais os gestores nao conseguiram compreender o ambiente e
adequar a decisao ao contexto (FERRARO, 2007).
Goodman (1993) ressalta que as falhas ocorrem em funcao de
diferentes interferencias, entre as quais se podem assinalar as
seguintes: a busca de informacoes feita a margem do processo decisorio;
as informacoes para suportar a decisao sao coletadas depois de a decisao
ter sido tomada; as informacoes coletadas para uma determinada situacao
sao, normalmente, utilizadas para outros fins que nao o proposito
original; sempre se busca informacao alem do necessario; mesmo tendo a
informacao necessaria, gestores reclamam da falta de informacao; excesso
de informacao, alem da capacidade do executivo de ler e interpretar.
Simon (1977), ao estudar a decisao, chegou a uma classificacao que
aloca, em um extremo, decisoes complexas, nao estruturadas, e, no outro
extremo, decisoes programadas, de cunho mais operacional. Ao abordar
decisoes que nao obtiveram sucesso, imagina-se que sejam do primeiro
tipo, ou seja, decisoes mais estrategicas, nao programadas, que exigem
do executivo um nivel de reflexao maior, onde a incerteza esta mais
fortemente presente. Nesses casos, a intuicao passa a ter um papel
importante na tomada de decisao.
Considerando esse contexto, este artigo tem por objetivo fazer uma
reflexao a respeito da intuicao no contexto de tomada de decisao e
apresentar uma proposta de protocolo de pesquisa para a realidade
brasileira, buscando compreender como a intuicao e a decisao interagem,
dadas as lacunas existentes na literatura. Para isso, o artigo esta
estruturado da seguinte forma: a secao 2 aborda a intuicao, ainda como
um ponto a ser investigado, e os aspectos lacunares da questao, que
requerem a realizacao de novos estudos; na secao 3 e apresentado um
conceito para a intuicao, elaborado a partir de outros tantos estudos
sobre o assunto; na secao 4 foram selecionados alguns instrumentos que
tem por objetivo captar a intuicao, com destaque para dois elementos
importantes: a experiencia do individuo e as emocoes a que estamos
suscetiveis, ambos abordados na secao 5; a secao 6 apresenta os desvios
cognitivos; somente entao se propoe uma forma de estudar o processo
intuitivo, tema da secao 7. As consideracoes finais sao apresentadas na
secao 8.
2. A TOMADA DE DECISAO E A INTUICAO
Na literatura sobre tomada de decisao nao parece haver um consenso
entre os estudiosos sobre a dualidade racional/irracional,
objetivo/subjetivo. Com o avanco da tecnologia e dos estudos praticados
pela neurociencia, observou-se que ha uma forte interligacao dos
sistemas cerebrais (sejam eles mais ou menos estruturados) e passou-se a
investigar o modo como a decisao e afetada por ela (LEHRER, 2009). O
estudo do processo decisorio deu origem a modelos sobre a melhor forma
de decidir, ou os passos a seguir para tomar uma boa decisao. Um bom
exemplo pode ser encontrado em Hammond, Keeney e Raiffa (2004), que
apresentam quais seriam os cuidados necessarios para chegar a uma
decisao inteligente, como uma especie de percurso de 8 etapas: problema
certo, objetivos claros, alternativas viaveis e variadas, analise das
consequencias, selecao das alternativas, enfrentar a inseguranca,
analise de perfil de risco, decisoes encadeadas. Essas etapas, contudo,
nao sao necessariamente as mais adequadas para todo tipo de decisao, e
certamente nao o sao para decisoes de cunho mais estrategico, onde o
ambiente e mais caotico, incerto, complexo, de cunho nao operacional
(SIMON, 1965).
Naturalmente entende-se que ha uma grande dificuldade em abrir
espaco para algo que ainda nao e tao bem compreendido, e que nao e facil
de compreender, como a racionalidade perfeita, que assenta o processo
decisorio na consideracao dos pros e dos contras de cada cenario, e
entao opta por aquele que se apresentar mais eficaz. Weber (2004), por
meio de seus estudos sobre a acao social, auxilia na compreensao da
motivacao de cada individuo quando da necessidade de decidir sobre algo:
se a sociedade age de acordo com certos padroes, estes podem ser
analisados de acordo com esquemas conceituais, entre os quais se
encontram os tipos de racionalidade. Ou seja, entender a motivacao de
uma pessoa, o que a faz tomar uma decisao, de certa forma pode, numa
visao gerencialista/utilitarista, dar subsidios para estudos nessa area,
de maneira a maximizar o resultado de cada ato. Mesmo porque ha uma
aproximacao do modo de acao do individuo considerado racional com a
propria teoria economica, ja que o individuo, ao tomar uma decisao,
busca subsidios em uma serie de alternativas (comparando custos e
beneficios tangiveis) e opta por aquela que apresentar o melhor
resultado. E quase como seguir uma receita, onde ha uma especie de lista
de pontos, os quais podem ser decompostos e estudados, para que a
reflexao possa identificar problemas comuns e solucoes otimas.
No entanto, nada isso faz sentido a partir do momento em que se
aceita que ha algo mais, como a intuicao, que ajuda o individuo em uma
situacao que foge da normalidade de suas tarefas, de suas acoes, que
demanda outro tipo de resposta, de reacao e, sobretudo, que utiliza
informacoes ambiguas, fontes informais, que caracterizem a decisao como
estrategica. Ao final, ainda sera levado em consideracao o resultado da
decisao; por outro lado, o processo, por mais caotico que seja, aparece
em segundo plano. Nao que ele nao seja importante, mas o que interessa
ainda e--mesmo tendo todo o conhecimento das etapas, das dificuldades,
das limitacoes, do risco o quao perto ou longe a decisao esta do que se
propos a alcancar.
Simon (1977) ressalta que, ao se focar exclusivamente o momento
final, ou seja, as consequencias de uma decisao, tem-se uma ideia
erronea do que e uma decisao, pois ha outros elementos, como a busca de
informacoes, sua interpretacao e a reflexao, que compoem o caminho para
a etapa final de decidir. E muito dificil romper com essa comoda visao
utilitarista e funcional da decisao, que postula que se pode analisar
detalhadamente cada etapa, que cada individuo pode tomar decisoes
inteligentes, que basta atentar para as armadilhas e oportunidades e,
como num passe de magica, a melhor decisao sera tomada.
Em uma linha diferenciada, alguns estudiosos, mais ligados a teoria
economica comportamental, fazem uma critica contundente ao mainstream. A
racionalidade e posta em questao, e a propria consciencia do individuo
com relacao ao problema, as alternativas, aos objetivos e colocada a
prova. A decisao, como tal, e estudada e apresentada de acordo com o
conceito de racionalidade limitada, ou seja, como um processo
sequencial, composto de etapas bem definidas. No entanto, o que se
verifica e que essa racionalidade assumida permanece muitas vezes
inoperante, suplantada por outros elementos que permitem ao gestor
decidir sem nem mesmo perceber o caminho, a linha de raciocinio que
seguiu, agindo quase que de forma inconsciente. De acordo com Miller,
Hickinson e Wilson (2004), o modelo racional esta alem do alcance dos
decisores.
Isso traz importantes consequencias para o estudo da decisao, dos
modelos decisorios, dos Sistemas de Apoio a Decisao, ao menos no que
tange a decisoes estrategicas. Nao se trata de afirmar que, dados os
avancos da ciencia e dos estudos nessa area, eles perderam sua
utilidade, ou que nao estao adaptados a uma realidade complexa. Na
verdade, ao contrario do que possa parecer, sao excelentes ferramentas,
que podem auxiliar o gestor a agir, constituindo uma das fontes que
serao consultadas. Ariely (2008) cita uma passagem de Shakespeare, que
ilustra, ainda que de forma caricatural, o pensamento corrente:
Que obra-prima e o homem! Como e nobre pela razao! Como e infinito
em faculdade! Em forma e movimentos, como e expressivo e maravilhoso!
Nas acoes, como se parece com um anjo! Na inteligencia, como se parece
com um deus! A maravilha do mundo! Prototipo dos animais! (Hamlet, Ato
II, cena II apud ARIELY, 2008, p.VI).
A razao, segundo Hobbes (apud RAMOS, 1989), habilita o individuo a
fazer o calculo utilitario das consequencias, e vem sendo utilizada para
legitima-las, por meio de adaptacoes e compreensoes distorcidas do
conceito original; nas palavras de A. G. Ramos, "a sociedade
moderna constituiu-se exclusivamente em bases utilitarias" (RAMOS,
1989:3). Em seu livro A nova ciencia das organizacoes, Ramos leva o
leitor a compreender como a racionalidade foi conceitualmente
distorcida, como deixou de ser compreendida em sua totalidade e passou a
ser sinonimo de racionalidade instrumental. Ao ignorar que existem
outros elementos, intangiveis, de dificil formalizacao, o foco recai em
apenas um aspecto do processo decisorio, impedindo uma compreensao
holistica do processo, de modo que mesmo seus elementos mais subjetivos,
como a intuicao, acabam nao aparecendo. Assim, o paradigma vigente esta
vinculado a essa visao economica da sociedade, deixando num plano
secundario (se tanto) os aspectos subjetivos; nele a racionalidade
"e o conhecimento absoluto de consequencias" (RAMOS,
1989:121).
A intuicao e um dos recursos de cunho mais subjetivo que levam o
decisor a chegar a uma determinada acao. No entanto, seu conceito ainda
nao e consenso entre os estudiosos--e, por essa razao, ainda e alvo de
pesquisas em diferentes areas da ciencia (Psicologia, Neurociencia,
Administracao, Medicina, entre outras). Nao menos problematica e a
relacao da intuicao com a tomada de decisao. Na secao seguinte
pretende-se expor, a par de um breve historico do conceito de intuicao,
aquela que os autores deste artigo acreditam ser sua definicao mais
adequada, no contexto de tomada de decisao.
3. O CONCEITO DE INTUICAO
E muito dificil chegar a uma definicao especifica de intuicao. Nao
obstante a existencia de diversos estudos a esse respeito, percebe-se
que ha diferentes formas de observa-la e interpreta-la. Ao longo do
tempo, cultivou-se a ideia de que, para decidir, o individuo deveria
levar em consideracao somente o aspecto racional; no entanto, como
ressalta Lehrer (2009), isso e um equivoco, pois e impossivel separar a
razao da intuicao. Ao longo da historia, ambos aparecem como opostos:
quando um esta em acao, o outro funciona como um contraponto, algo
antagonico. Desde Platao, passando por Descartes, que dividem o homem em
alma e corpo, ou Freud, que o divide em id e ego, o que se constata,
geralmente, e que as emocoes sao um desafio constante a razao.
Nenhum individuo consegue ser totalmente racional, no que tange a
tomada de decisao: ha sempre uma certa influencia entre racional e
irracional (LEHRER, 2009). No momento em que uma informacao influencia o
decisor, em face de uma determinada situacao, a intuicao funciona como
uma outra fonte, que, em maior ou menor grau, sera levada em
consideracao, mesmo que o individuo nao perceba. Segundo Simon (1987), a
intuicao nada tem de irracional, nao e um processo que opera de forma
independente da analise, ao contrario, razao e intuicao sao
complementares. Quando se trata de um ambiente gerencial, Simon
(1987:63) assinala que "o gerente nao pode se dar ao luxo de
escolher entre abordagem analitica e intuitiva"; o tempo e a
urgencia exigirao uma rapida resposta, e postergar implica o risco de
tomar uma decisao que eventualmente pode nao ser a mais adequada, logo
todas as fontes devem ser consultadas.
Kahneman (2003), inspirado pelo trabalho de Stanovich e West
(2002), aponta que o pensamento, didaticamente, pode ser dividido em
sistema 1 e sistema 2 (Figura 1), o que auxilia na compreensao de como a
razao e a intuicao atuam no cerebro. Quando o individuo dispoe dos
recursos necessarios, ou seja, informacoes suficientes e tempo para
estabelecer uma estrutura de raciocinio, o sistema 2 e mais acionado;
quando o momento exige uma resposta rapida, sem tempo para maiores
consideracoes, com alto risco, elevada incerteza e pressao, o sistema 1
e mais acionado. Ha, portanto, uma interseccao entre os dois sistemas;
dependendo da ocasiao, um deles estara mais ativo, com maior influencia
(KAHNEMAN, 2011), mas isso nao significa que o outro permaneca
inoperante: pelo contrario, sistema 1 e sistema 2 estao sempre presentes
em cada processo de tomada de decisao.
[FIGURE 1 OMITTED]
Qual e, portanto, o conceito de intuicao que se pode utilizar para
definir esse fenomeno, tao importante no dia a dia de qualquer
individuo, sem o qual talvez fosse impossivel chegar a uma decisao? Para
responder a essa pergunta e necessario apresentar uma serie de
consideracoes e de abordagens. Pode-se definir a intuicao explicitando o
que ela e, mas tambem apresentando o que ela nao e. Parikh (1994:40), ao
verificar que ha muitas definicoes de intuicao, acabou constituindo uma
serie de elementos esclarecedores para impedir que fossem cometidos
"enganos" em sua definicao e identificacao:
* Instinto: e algo mais ligado a sobrevivencia, mais basico, mais
natural, um mecanismo que age de forma automatica. Segundo SadlerSmith
(2007), trata-se de algo de cunho biologico.
* Impulso: uma reacao programada, fruto de treino, de um
determinado estimulo, que acaba gerando determinada acao; e baseado no
passado, em habitos, preconcepcoes.
* Ingenuidade: o principal item que nao permite que estas palavras
sejam sinonimas esta no fato de esta estar localizada dentro de uma area
conhecida, onde ja existe algum tipo de conhecimento.
* Inspiracao: um carater mais sobrenatural, algo mais experimental
que conceitual. Atua em outra esfera de pensamento.
* Intelecto ou Inteligencia: o intelecto nos da a propriedade de
buscar, dentro de uma area de conhecimento, a capacidade de trabalhar
com uma situacao. A inteligencia, por outro lado, se aproxima muito da
intuicao--e uma habilidade de ver as coisas com uma nova perspectiva, e
faz uso da percepcao.
Diversos autores buscaram identificar elementos comuns, que os
levassem a chegar a alguma conclusao sobre o que e a intuicao. Em
diversos trabalhos a intuicao e vista como algo extremamente dificil de
verbalizar (LEHRER, 2009), vinculada destacadamente a experiencia (AGOR,
1986; SIMON, 1987; EISENHARDT, 1989; KLEIN, 1998; PATTON, 2003;
GIGERENZER, 2007; KAHNEMAN, 2011, entre outros), pois possibilita que o
individuo faca uso, mesmo que de forma nao deliberada, do conhecimento
armazenado. Parikh (1994:25) ressalta que a intuicao resiste a uma
definicao comum em funcao de suas proprias caracteristicas: por ser
utilizada por todos, em todas as areas, "como se fosse uma
habilidade universal", a intuicao acaba por receber diferentes
denominacoes: conhecimento (filosofia), habilidades (epistemologia),
atitude (psicologia), expressao criativa (artes), processos quimicos
(neurociencia), estado de consciencia alterado (misticismo).
Classificando-a como uma habilidade, Kahneman (2011) ressalta que a
eficacia de um pensamento intuitivo e melhor explicada pelos efeitos de
uma pratica prolongada do que por outros fatores.
Neste artigo, adota-se o conceito elaborado por Hodgkinson et al.
(2009:280), que afirmam que, no campo da gestao, o conceito de intuicao
parece ter encontrado um consenso, sendo caracterizado por:
* Capacidade de atingir diretamente o conhecimento ou entender sem
a aparente intrusao do pensamento racional ou interferencia logica;
* Nem o oposto da racionalidade, nem um processo aleatorio de
adivinhacao, a intuicao corresponde aos pensamentos, conclusoes e
escolhas produzidas em grande parte por meio de processos mentais
inconscientes;
* Julgamentos carregados de emocao, que emergem por meio de
associacoes rapidas, inconscientes e holisticas.
A intuicao possui uma serie de diferentes facetas, ora mais
comportamentais, ora mais ligadas a cognicao, conectadas as experiencias
do individuo, ora relacionadas com elementos de cunho emocional. Na
secao seguinte, busca-se apresentar como diferentes autores elucidaram
aspectos relevantes de cada um desses elementos, a fim de fornecer um
panorama mais completo do o tema.
4. MODELOS QUE BUSCAM COMPREENDER MELHOR O CONCEITO DE INTUICAO
Quando se busca identificar e apresentar um modelo, qualquer que
seja, corre-se o risco de ele nao ser completo. Os modelos que foram
selecionados para esta secao sao reconhecidos por diversos autores como
importantes, por apresentarem alguns resultados interessantes sobre o
assunto. Curiosamente, a grande maioria, talvez em funcao da epoca em
que foram concebidos, trata a intuicao e a razao como processos
antagonicos. A seguir serao apresentadas algumas caracteristicas,
contribuicoes e limitacoes desses modelos que buscam compreender a
intuicao.
4.1. AIM--Agor's Intuitive Management Survey (AGOR, 1989)
Por meio de um questionario quantitativo, Agor entrevistou 3.000
gerentes norte-americanos em busca de uma maior compreensao de quao
intuitivos os gerentes realmente eram, mas tambem para "determinar
se havia significativa variacao entre uma e outra organizacao e entre
niveis gerenciais" (AGOR, 1986:7). O questionario tambem
possibilita a avaliacao do nivel intuitivo (numa escala de 12 pontos),
que foi exaustivamente explorado no estudo de Agor, segundo o nivel
gerencial, o genero, o grupo etnico, o tipo de organizacao, entre outros
dados de perfil.
Assim como outros autores, Agor constatou que a intuicao e um
recurso que prevalece em niveis gerenciais mais elevados, dentro das
organizacoes em geral, e e utilizada quando ha um alto nivel de
incerteza, poucos precedentes, fatos limitados e urgencia. Tambem
constatou que a intuicao se manifesta no corpo, por meio de uma sensacao
de euforia, harmonia, confianca, entusiasmo (AGOR, 1986). O autor
sublinha que, dadas as caracteristicas da intuicao e a maneira como ela
se manifesta, o individuo deve ficar atento aos vieses cognitivos, que
podem acabar mascarando o processo decisorio e interferindo nele.
Por ser um instrumento que faz uso de questoes categoricas, o
questionario em apreco acaba impedindo que o individuo expresse algo que
nele nao esteja previsto. No entanto, ele e bem completo e fornece bons
resultados sobre o uso da intuicao no ambiente organizacional.
4.2. ISI--International Survey on Intuition (PARIKH, 1994)
A abordagem de Parikh combina, no questionario, questoes de cunho
qualitativo com itens quantitativos, o que acaba compondo um
questionario extenso sobre o tema. O objetivo do instrumento nao e, na
verdade, medir a intuicao, ou seu uso no ambiente gerencial, mas sim,
principalmente, fazer com que o entrevistado possa compartilhar com o
autor sua nocao de intuicao, como ele a percebe.
Essa pesquisa foi aplicada a 1.312 gerentes de varios paises do
mundo (Austria, Franca, Japao, Holanda, Suecia, Reino Unido, Estados
Unidos, Brasil, India), fruto de um grande esforco de investigacao, e
traz algumas contribuicoes interessantes ao tema, como, por exemplo, a
definicao mais utilizada do conceito de intuicao: uma decisao, uma
percepcao que nao recorre a logica, a metodos racionais. No entanto, o
autor mostra esse resultado como algo antagonico ao proprio conceito
logico, de raciocinio, o que pode ter sido facilmente induzido pelo
questionario em si, que apresenta, em diversos pontos, intuicao e razao
como sendo dois processos mutuamente exclusivos.
O instrumento tambem capta os setores e momentos em que a intuicao
e mais utilizada no ambiente gerencial, corroborando a nocao de que se
trata de um recurso aplicado a tarefas que nao podem ser completamente
estruturadas, que dependem de informacoes incompletas, normalmente
situadas nos niveis superiores da organizacao, como, por exemplo, as
areas de estrategia corporativa, marketing, relacoes publicas.
4.3. REI--Rational-Experiential Inventory (PACINI; EPSTEIN, 1999)
Os autores fazem uso de uma dicotomia entre individuos
predominantemente racionais, que possuem e seguem regras mais rigidas,
agem de forma consciente, analitica, livre de sentimentos, e individuos
predominantemente experienciais, que agem de forma mais automatica,
rapida, holistica e influenciada por sentimentos. Esse modelo e muito
semelhante aos sistemas 1 e 2 de Stanovich e West (2002). Apesar de
reconhecer a influencia das emocoes no processo, ainda e clara a
manutencao da escala onde o gestor atua de forma racional ou intuitiva.
Ou seja, apesar de suas contribuicoes para o esclarecimento da dimensao
emocional, o modelo mostra-se incapaz de compreender totalmente o uso da
intuicao como suporte do processo de tomada de decisao.
Alem disso, quando analisado em profundidade, o modelo revela
desconsiderar outro fator importante no entendimento da intuicao: a
cognicao. A experiencia do individuo nao e levada em consideracao. Como
o conceito aceito neste trabalho envolve justamente a combinacao da
cognicao, da emocao e do comportamento, o instrumento em apreco
mostrou-se proveitoso apenas em um aspecto. Outro ponto inadmissivel diz
respeito a abordagem que considera incompativeis o pensamento racional e
o intuitivo, em vez de velos como dois processos simultaneos e
complementares.
4.4. CSI--Cognitive Style Index (ALLINSON; HAYES, 1996)
Os autores partem de um resgate historico, citando inclusive Agor
(1989) e Parikh (1994), a fim de identificar alguns instrumentos que,
antes deles, haviam tentado capturar a intuicao. No entanto, um dos
objetivos principais foi criar um instrumento que fosse rapido e
facilmente aplicavel. Uma especie de critica aos dois instrumentos
supracitados e por Allinson e Hayes, que nao concordaram com a dicotomia
entre racional e intuitivo, visao compartilhada pelos autores deste
artigo.
Os autores, assim como Simon (1987), reconhecem que nao existe uma
oposicao entre comportamento racional e intuitivo, mas sim um continuo
em que o individuo vai alternando, ao longo do processo decisorio, ambas
as formas de pensar. Esse ponto de vista rompe com a forma usual de
abordar o fenomeno, pois assume que os processos estao combinados, que
sao indissociaveis. Uma vez aceita essa visao, nao e possivel admitir
que instrumentos, ou estudos de qualquer natureza, que ignorem esse lado
menos estruturado sejam considerados completos. Essa visao e
compartilhada por diversos autores, que buscam subsidios na ciencia para
fundamentar seus estudos (SADLER-SMITH, 2007; GIGERENZER, 2007;
HODGKINSON et al., 2009).
Allinson e Hayes (1996), inspirados em seus trabalhos anteriores,
que buscam categorizar o individuo em 29 diferentes estilos cognitivos,
classificam os individuos entrevistados numa escala que vai do formal ao
informal. No entanto, ao apresentarem os resultados da pesquisa, os
autores fazem um resgate da dicotomia que supostamente ha entre os dois
conceitos, ressaltando que "esta se tornando novamente aceita a
adocao da tradicional distincao entre formas de pensamento analiticas e
nao-analiticas" (BEYLER; SCHMECK, 1992 apud ALLINSON; HAYES,
1996:132). Ou seja, mesmo reconhecendo que ha uma conexao entre as duas
formas de pensamento, ao final os autores reconhecem que talvez
prevaleca, realmente, a dualidade.
Essa conclusao, entretanto, pode ter sido influenciada fortemente
pelo tipo de estudo conduzido, uma vez que foi elaborado um instrumento
com 38 itens que buscam caracteristicas de uma forma ou outra de
pensamento. Ou seja, por se basearem em outros estudos que aceitavam a
polaridade, chegaram os autores a conclusao de que e realmente correto
valida-la. Atualmente, essa abordagem tem sido amplamente criticada por
outros estudiosos, como, por exemplo, Hodgkinson e Sadler-Smith (2003).
O instrumento elaborado por Allinson e Hayes tem seu merito em razao da
facilidade e rapidez com que pode ser aplicado e tambem fornecer
indicios sobre como um individuo estrutura (ou nao) seu modo de pensar,
o que possibilita um direcionamento mais preciso do tipo de atividade e
do tipo de decisao que o individuo pode executar com mais propriedade.
Os instrumentos apresentados nesta secao em diversos momentos fazem
alusao a influencia da experiencia e das emocoes no processo decisorio e
na intuicao. Por essa razao, na secao seguinte esses dois elementos
serao explorados com maior profundidade.
5. EMOCOES E EXPERIENCIA: DOIS VETORES IMPORTANTES PARA COMPREENDER
A INTUICAO
A intuicao nao e algo simples, e sao muitas as dimensoes pelas
quais ela se manifesta, desde as caracteristicas mais ligadas ao
individuo ate as variaveis mais ligadas ao ambiente. Gigerenzer (2007)
ressalta que a tendencia do ser humano para buscar outras fontes menos
estruturadas e gerada pelo cerebro, que, em funcao do nivel de evolucao
atingido pela sociedade, e capaz de processar, mesmo que de forma nao
declarada/estruturada/consciente, informacoes que estao em algum lugar
de nossa memoria. Klein (1998), assim como Simon (1986), acrescenta que
a intuicao nao deve ser vista como um dom, e sim como uma habilidade.
Isso traz implicacoes relativas ao modo de abordar o fenomeno:
diferentemente do que afirma uma abordagem passiva, os individuos podem
praticar, aperfeicoar e ampliar a confianca no uso da intuicao, ao
tomarem uma decisao (STAUFFER, 2007).
Uma primeira caracteristica que se pode apontar sao as emocoes.
Como a intuicao e um fenomeno que depende do individuo, o modo como ele
se sente no momento da decisao e importante para que se possa
compreende-la. De acordo com Elster (2009), as emocoes atuam com tamanha
intensidade, que acabam afetando todos os polos da acao, pois atuam
diretamente sobre as crencas e os desejos. De acordo com o mesmo autor,
e importante saber reconhecer como os sentimentos (amor, inveja,
indignacao, vergonha, culpa, etc.) estao atuando--pois, de acordo com
Agor (1986), e atraves deles que as emocoes se Manifestam--, e entao
decidir por uma forma mais estruturada de acao.
Um exemplo disso e a sensacao a que os individuos que operam no
mercado de acoes sao usualmente submetidos. Quando tudo vai bem, quando
a Bolsa de Valores esta subindo, as pessoas sao levadas a investir mais
e mais, o que se explica pela cobica, o desejo da ampliar os ganhos.
Ocorre que essa visao, por vezes, influencia de tal forma o individuo,
que ele acaba ignorando os riscos e os eventuais sinais de uma futura
queda. Quando acontece a virada no mercado e as perdas comecam a
ocorrer, a sensacao de perda e muito forte para alguns individuos, o que
acaba levando-os a se retirar do mercado, arrastando-o ainda mais para o
lado negativo (LEHRER, 2009). Esse comportamento de "manada" e
um classico exemplo de como as emocoes podem interferir no julgamento
dos individuos. Por outro lado, Kahneman (2011) observa que um individuo
pode ser influenciado por seu envolvimento com determinada opcao: no
mercado de acoes, exemplo disso e o investidor que compra determinada
acao mais por se sentir afeicoado a marca do que em razao de uma analise
tecnica do ativo.
Rehfeldt (2004) afirma que os processos intuitivos podem emitir
sinais por meio de sensacoes. A sensacao mais usual e um desconforto na
regiao abdominal (expressao utilizada por Gerd Gigerenzer para denominar
seu livro sobre intuicao, Gut feelings, e tambem utilizada por outros
autores--Klein (1998), Buchanan e O'Connell (2006), entre outros),
dado que essa e uma regiao rica em terminacoes nervosas. Agor (1986),
complementarmente, aponta o suor, a ansiedade, as nauseas, o medo como
sinais de manifestacao da intuicao.
Outro ponto importante diz respeito as experiencias do individuo.
Conforme Cohen e Levinthal (1990), individuos que tiveram a oportunidade
de vivenciar uma diversidade maior de situacoes que os obrigaram a tomar
decisoes tem capacidade de abordar melhor os problemas apresentados. De
acordo com Stauffer (2007), o dominio de um certo campo de atuacao e um
dos caminhos que leva ao aperfeicoamento da intuicao, aprimorando seu
uso e fortalecendo a confianca que nela se deposita. De acordo com Klein
(1998), quanto mais diferentes forem as experiencias que o individuo
vivencia em suas atividades diarias, mais profundamente ele as
interiorizara, e essa riqueza acumulada fara parte, ulteriormente, do
processo intuitivo. Eisenhardt (1989) ainda assinala que os individuos
mais experientes tem uma capacidade maior de observar o cenario em sua
totalidade, ate mesmo para a formacao de cenarios alternativos e nao
previstos, e proporcionar a seu grupo mais confianca na decisao
escolhida. Tambem, para que os sinais sejam percebidos, sejam eles
advindos do ambiente ou do proprio individuo, esse acumulo de situacoes
vivenciadas tem um papel fundamental.
De acordo com Sadler-Smith (2007), como os gestores tem diferentes
niveis de conhecimento e expertise, quanto mais alto o nivel
administrativo, maior a capacidade de lidar com situacoes imprevistas,
com poucas informacoes, e de tratar com habilidade informacoes
incompletas/inconsistentes. Essa habilidade de reconhecer e utilizar
"pedacos" de informacao armazenadas para criar solucoes
adaptadas a nova realidade (KLEIN, 2004) e fruto de "estruturas
cognitivas altamente elaboradas, que foram construidas ao longo de anos,
se nao decadas" (SADLER-SMITH, 2007:115). O autor faz o resumo de
um modelo (SAM--Skill Acquisition Model) elaborado
por Hubert e Stuart Dreyfus, que busca apresentar niveis de expertise
que os individuos adquirem ao longo da vida (Quadro 1), e que se revela
de fato util para a compreensao da importancia da experiencia nos
processos intuitivos.
De acordo com Stauffer (2007), em razao de o ambiente ser
extremamente dinamico, de as decisoes serem tomadas num ritmo cada vez
mais acelerado, a intuicao acaba ganhando um espaco de destaque. Assim,
e necessario que o gestor esteja atento a melhor maneira de aproveitar
essa caracteristica, de estimula-la, de desenvolver e adquirir uma
confianca maior em si mesmo e nos sinais transmitidos ao corpo pela
intuicao.
Cabe ressaltar que o individuo, a medida que "avanca"
pelos niveis de expertise, especialmente quando passa aos niveis
proficiente e expert, deixa de considerar apenas informacoes formais, de
cunho estruturado. No entanto, isso acaba dando ensejo a que
interferencias de outra natureza atuem, influenciando o decisor. Na
verdade, nosso cerebro, por meio da capacidade que temos de recuperar
dados, utiliza atalhos que acabam gerando alguns desvios cognitivos.
Assim, ao aceitar que as emocoes tem um papel relevante, deve-se
tambem aceitar que o individuo, por mais racional que seja, por mais
estruturada que seja a decisao a ser tomada, estara sujeito a
influencias cognitivas, tema abordado a seguir.
6. OS DESVIOS COGNITIVOS
E natural que se imagine que a intuicao pode ser influenciada por
diversos fatores: o estado emocional, os aspectos pessoais de uma
situacao, as experiencias passadas e, como Kahneman e Tversky (1979)
comprovaram, uma serie de outros fatores chamados vieses, que acabam
interferindo no processo. De certa forma, isso conflita com alguns
pressupostos considerados imutaveis pela Teoria da Utilidade Esperada
(TVERSKY; KAHNEMAN, 1986), aplicada a situacoes em que ha um alto nivel
de incerteza. Por exemplo, numa situacao que compreende tres
alternativas, onde X e melhor que Y, Y e melhor que Z, por logica
assume-se que X e melhor que Z (transitividade); quando ha quatro
elementos envolvidos e A e melhor que B e B e melhor que C, admite-se
que A + C e melhor que B + C (substituicao); A e B sao praticamente
identicos em suas caracteristicas, no entanto A e melhor em apenas um
aspecto, logo A e melhor que B (dominancia); por fim, nao importa em que
ordem as opcoes sao apresentadas, sempre sera escolhida aquela que
apresentar as melhores caracteristicas (invariancia).
Conforme Simon (1977), todo individuo possui uma determinada
capacidade de processamento de informacoes, de estimulos, de sinais do
ambiente. Por mais que alguem procure basear-se em criterios claramente
definidos, em algum momento ele podera ser influenciado. Para Tversky e
Kahneman (1986:S252), diversas evidencias demonstram que os individuos
nao seguem os modelos normativos de tomada de decisao; logo, isso nao
pode ser desconsiderado, nem classificado como desvio. Bazerman e Moore
(2009) elaboraram um resumo (Quadro 2) de 12 vieses, mostrando como eles
interferem no processo de decisao. Segundo os autores, para simplificar
a tomada de decisao, faz-se uso de heuristicas (1); no entanto, quanto
maior a confianca nelas, tanto maior a chance de os vieses se fazerem
presentes, por vezes mais de um simultaneamente.
Se e certo que se pode medir o risco e nao a incerteza (KNIGHT,
2008), em relacao as decisoes de carater unico, cujos elementos nao
estao claramente definidos, pode-se afirmar que as incertezas sao
maiores; logo, qualquer modelagem matematica tera uma margem de erro
muito grande, pois nao podera traduzir corretamente o quao incerto um
prospecto pode ser. Mesmo os pressupostos de uma teoria normativa podem,
nesse caso, ser questionados, pois a comparacao entre alternativas e uma
operacao dificil, dadas as limitacoes cognitivas do individuo em face do
ambiente, que acabam por impedir uma correta comparacao dos cenarios.
Nesses casos, quando cada elemento tem uma importancia diferente,
as alternativas nao podem ser avaliadas somente por seu resultado final,
seja porque o resultado e imprevisivel, seja porque a forma pela qual a
decisao e tomada sera influenciada fortemente pelo caminho escolhido.
Assim, nao se podem descartar duas alternativas que, supostamente,
acarretam o mesmo beneficio, justamente em razao das diferentes
necessidades, dos diferentes pontos que cada uma exigira. Isso nos leva
a um modelo muito mais subjetivo, em que a leitura que o decisor faz do
ambiente deve ser levada em consideracao, assim como as emocoes que uma
determinada decisao faz aflorar, a intuicao do individuo, seu humor e
uma serie de outros criterios de carater comportamental, adaptando-se,
se necessario for, o curso da acao ao cenario apresentado (KLEIN, 2008).
Buscando um modelo mais aproximado da realidade, Tversky e Kahneman
(1983) verificaram que ha uma grande diferenca entre as probabilidades
associadas a uma situacao e o grau de realidade que comportam. Um
exemplo de como isso desafia um dos pressupostos dos modelos racionais
diz respeito a invariancia, que faz avaliar cada opcao de forma
independente. De fato, os autores verificaram que os individuos, em vez
de multificar as probabilidades, tendem a distribui-las. Logo, quando ha
dois eventos, um muito provavel e outro muito improvavel, o individuo
acaba considerando ambos como provaveis, quando o correto seria algo nao
tao provavel. Ou seja, a maneira como este individuo processa as
informacoes pode influenciar todo o processo decisorio, pois e processo
e efetuado por meio de praticas e regras, pela capacidade de pensar e
tambem pela intuicao.
Como Gigerenzer (2007) ressalta, nem sempre os vieses sao algo
ruim, podem se-lo ou nao, conforme o tipo de tarefa que se realize. Em
muitos casos, a acao envolve procedimentos que se desenvolvem de modo
automatico. Um exemplo e o jogador de tenis: ele esta preocupado com a
estrategia e o estilo de jogo, e nao com o modo de segurar a raquete ou
com a posicao das pernas no momento da batida; ou seja, algumas tarefas
sao realizadas sem que o individuo tome plena consciencia delas. Apesar
de ser um exemplo extremo, e o que ocorre em decisoes de cunho
gerencial. O gestor nao ira se preocupar com detalhes menores, alguns
itens sao automaticamente incorporados em seu modo de pensar e
raciocinar. Armadilhas sao evitadas sem que o individuo delas se
aperceba, pois isso ja esta incorporado em seu inconsciente e atua de
forma nao declarada.
7. PROPOSICAO PARA ELABORACAO DE UM PROTOCOLO PARA ESTUDO SOBRE
INTUICAO E O PROCESSO DE TOMADA DE DECISAO
Considerando-se o exposto ate o momento, emerge uma questao
central: existe um modelo que permita compreender melhor o uso da
intuicao na tomada de decisao? Nao se trata de uma questao simples, como
tudo que ja foi explicitado. No entanto, e possivel combinar sugestoes e
criticas feitas aos diferentes trabalhos que buscaram explicar o uso da
intuicao, para entao apresentar os itens que compoem a intuicao e o modo
como eles poderiam ser captados, utilizando-se diferentes formas de
coleta de dados, desde as mais simples e diretas, como uma pesquisa do
tipo survey, ate as formas proprias a um estudo etnografico. Contudo,
qualquer metodo utilizado fornecera informacoes incompletas sobre o
fenomeno, se o foco de atencao nao for o correto.
A Figura 2 apresenta um modelo para compreensao da intuicao, que
leva em conta quatro modelos ja abordados na literatura (REI, SCI, ISI,
AIM) e tambem elementos de estilo do individuo, experiencia, vieses e
emocoes. Sugerese, para verificacao empirica, uma abordagem
multimetodologica, que utilize um protocolo de entrevistas
semiestruturadas, alem da realizacao de observacoes nao participantes.
[FIGURE 2 OMITTED]
Cada um dos modelos revisados anteriormente contribui de alguma
forma para a elaboracao de um protocolo. No quadro 3, a seguir, serao
apresentadas as contribuicoes que se podem extrair dos modelos REI
(PACINI; EPSTEIN; 1999), CSI (ALLINSON; HAYES, 1996), ISI (PARIKH, 1994)
e AIM (AGOR, 1989). Os instrumentos originais compreendem uma serie de
perguntas sobre cada um dos itens apresentados na Figura 2; aliados aos
resultados ja obtidos, podem oferecer uma especie de guia daquilo que
deve ser observado, bem como dicas sobre como os dados que forem
coletados devem ser analisados. A partir dessa primeira etapa, pode-se
ter mais subsidios para elaborar o protocolo de observacao.
Embora na revisao da literatura se tenham identificado diversos
instrumentos para compreender/medir/explorar a intuicao no ambiente
gerencial, nenhum deles teve como fonte direta a observacao de gerentes
no seu dia a dia. Assim, como complemento as entrevistas
semiestruturadas, sugere-se que sejam feitas observacoes que viabilizem
(juntamente com os dados ja apresentados por outros autores) a
triangulacao de fontes, permitam uma visao mais ampla do fenomeno em si
e tragam novos elementos para a compreensao da intuicao, na pratica.
Sabe-se da dificuldade de apreender um fenomeno proprio do
individuo, nao formal, nao explicito. Contudo, tendo mapeado (em funcao
dos demais estudos realizados sobre o tema) os setores e os niveis
gerenciais mais propicios a observacao do fenomeno (Quadro 4), por meio
de minietnografias podem-se captar outras sutilezas, obtendo-se assim
mais subsidios para a compreensao da intuicao no processo decisorio.
Segundo Cooper e Schindler (2003:305), a observacao possui uma
serie de vantagens em relacao a outras tecnicas de coleta de dados:
* E o unico metodo que compreende certos tipos de informacao;
* Possibilita a coleta de dados no momento em que ocorrem;
* Recolhe informacoes que a maioria dos participantes iria ignorar;
* Pode captar o evento completo a medida que ele ocorre em seu
ambiente natural;
* Exige menos dos participantes e exerce menos influencia em seu
comportamento.
E fundamental, no entanto, que o pesquisador esteja ciente dos
limites do metodo, dentre os quais devem ser assinalados: a presenca do
pesquisador no local do objeto de estudo, o custo elevado e a lentidao
com que se obtem dados satisfatorios; alem disso, a observacao, mais do
que outros metodos, esta sujeita a subjetividade do pesquisador (ainda
que esse item nao seja considerado um limite em si, mas algo inerente ao
metodo) (COOPER; SCHINDLER, 2003). A triangulacao com entrevistas
complementa as observacoes do estudioso, pois, como ressalta Rapley
(2004:16), essa tecnica permite "produzir versoes retrospectivas (e
prospectivas) de suas acoes, experiencias, sentimentos e pensamentos
passados (ou futuros)".
Um estudo mais compreensivo, nao em tamanho de amostra, mas em
profundidade, pode auxiliar gestores, especialmente brasileiros, a
utilizar a intuicao como um recurso valido, confiavel. Vale ressaltar
que o objetivo, neste artigo, nao e fornecer um guia para o uso da
intuicao no ambiente gerencial, e sim apresentar um modelo (Figura 2)
para a coleta de dados, que, por sua abrangencia, se mostre capaz de
captar as sutilezas da intuicao no processo decisorio.
8. CONCLUSAO E AGENDA FUTURA
Se a decisao e algo linear e sequencial, como se pode definir o
inicio do processo? Como se pode identificar o final de uma decisao,
quando ela e dada por terminada? Como analisar o resultado de algo de
que nao se pode sequer determinar o fim especifico? De acordo com Bolan
(1999:68), os modelos administrativos "representam o ideal
Aristotelico de logica racional, o qual coloca a enfase na otima
adequacao entre os fins desejados e os efetivos ou eficientes
meios". A intuicao, como apontam diversos autores (AGOR, 1986;
KLEIN, 1998; SADLER-SMITH, 2007; LEHRER, 2009, entre outros), e uma das
mais importantes fontes de informacao de que dispoe o gestor para a
tomada de decisao. Logo, ignora-la e um erro.
Isso reforca a ideia de que ainda nao ha um instrumento adequado e
definitivo para o estudo da intuicao no processo de tomada de decisao.
Por se tratar de um processo de certa forma caotico, que processa
pedacos de informacao (KLEIN, 1998), que faz uso de heuristicas nao
conscientes (TVERSKY; KAHNEMAN, 1974), que e fortemente baseado na
experiencia (EISENHARDT, 1989), que e influenciado pelas emocoes
(ELSTER, 2009), deve-se proceder ainda a muitos outros estudos para que
se possa chegar a um instrumento, ou conjunto deles, que permita
compreender de que forma a intuicao atua e como se pode obter ainda mais
beneficios dela. Este artigo avanca alguns passos nesse sentido, com a
reflexao teorica e a proposicao de um modelo inicial (ainda que mais
amplo) para a realizacao de estudos visando a compreensao da intuicao no
contexto de tomada de decisao.
Como ponto de partida para estudos futuros, o artigo apresentou o
Quadro 3, onde estao compilados itens decorrentes dos modelos analisados
(REI, SCI, ISI, AIM), com o proposito de guiar a elaboracao de um
protocolo de observacao passivel de ser usado em pesquisas empiricas.
Adicionalmente, indicou as situacoes que devem ser observadas,
fundamentalmente, por quem busque compreender o uso da intuicao no
processo decisorio (Quadro 4). Assim, sao apresentadas orientacoes
gerais que podem subsidiar o estudo da intuicao no processo de tomada de
decisao.
Individuo e meio sao elementos complementares; ora o ambiente ajuda
na construcao do individuo (valores, crencas, mitos), ora o individuo
influencia e ajuda a criar o ambiente. Se isso e verdade, e
considerando-se que a decisao e um processo intimamente ligado ao
individuo em relacao com o meio (ou seja, influenciado por fatores
subjetivos), nao seria mais adequado pensar que a racionalidade perfeita
nunca poderia ser alcancada? Mesmo levando-se em consideracao as
limitacoes cognitivas apontadas por Simon, nao se poderia estabelecer,
analiticamente, um modelo adequado, universal, para a tomada de decisao.
Cada momento e diferente, cada individuo atua de forma distinta, o que
contribui para que o campo de estudo da intuicao ainda permaneca aberto
e careca de estudos que permitam uma visao mais completa do fenomeno.
Como aponta Woiceshyn (2009:298), ha um espaco ignorado do uso da
intuicao como um recurso, "nao se sabe de onde ela (a intuicao) vem
e como ela se relaciona com a analise racional". Bonabeau (2003)
ressalta que o uso da intuicao no processo decisorio se da em funcao da
dinamica do ambiente dos executivos, onde a informacao acontece em tempo
real, em quantidades assombrosas, e cada vez mais e preciso decidir
sobre algo em um curto espaco de tempo. Como esse tipo de situacao e
cada vez mais comum no dia a dia de executivos, gerentes, supervisores e
individuos em geral, tornam-se necessarios estudos que fornecam
subsidios para que cada pessoa possa ler, compreender e definir suas
proprias regras, ao tomar uma decisao, apoiada tanto em recursos mais
estruturados quanto em processos menos estruturados, como a intuicao.
Com excecao da pesquisa realizada por Parikh (1994), que envolveu
diversos paises, inclusive o Brasil, como parte de um esforco para
comparar diferentes realidades, ainda ha poucos estudos que buscam
compreender a realidade brasileira e o uso da intuicao na tomada de
decisao. Em razao do momento em que se encontra a economia, ha inumeras
oportunidades, se tomarmos como ponto de partida as condicoes propicias
apontadas por Agor (1986), para estudos sobre o uso da intuicao, em
determinadas condicoes, e sobre as sutilezas que diferenciam a realidade
brasileira dos demais paises onde estudos foram realizados.
Com o intuito de aprofundar essa tematica, na sequencia deste
trabalho pretende-se desenvolver um estudo empirico que busque
compreender, dentro da realidade brasileira, o uso da intuicao por
decisores em momentos de tomada de decisao. Um estudo com essas
caracteristicas, alem de ser inedito no Brasil, poderia complementar
outros estudos realizados no mundo sobre o tema.
Aqueles que se interessam por esta tematica terao de, inicialmente,
vencer o desafio de definir uma metodologia que permita apreender,
conjuntamente, elementos do individuo e do ambiente, especificando
aspectos a considerar, modelos anteriores a reaproveitar ou definir como
referencial, e explicitando diretrizes para a conducao de observacoes da
realidade. Este estudo procurou, de alguma forma, mostrar um caminho
para tanto; outros certamente poderao auxiliar nesse processo. Espera-se
que possam surgir protocolos mais especificos a partir de estudos
futuros.
DOI: 10.5700/rege524
Recebido em: 18/10/2011
Aprovado em: 19/12/2013
Fernando Kuhn Andriotti
Doutor em Administracao pelo PPGA/EA/UFRGS--Porto Alegre-RS, Brasil
Mestre em Administracao pelo PPGA/EA/UFRGS. Graduado em
Administracao pela UFRGS
E-mail: fernando@kuhn.com.br
Henrique Mello Rodrigues de Freitas
Professor do PPGA/EA/UFRGS--Porto Alegre-RS, Brasil
Pos-doutor pela University of Baltimore e Universite
Pierre-Mendes--France
Doutor em Gestao pela UPMF
E-mail: hf@ea.ufrgs.br
Cristina Dai Pra Martens
Professora do PPGA-UNINOVE--Sao Paulo-SP, Brasil
Pos-doutora pela UPMF. Mestre em Administracao pelo PPGA/EA/UFRGS
Doutora em Administracao pelo PPGA/EA/UFRGS
E-mail: cristinadpmartens@gmail.com
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p.19-24, 2005.
WEBER, M. Economia e sociedade. Brasilia: UnB, 2004. v. I.
WOICESHYN, J. Lessons from "Good Minds": How CEO Use
Intuition, Analysis and Guiding Principles to Make Strategic Decisions.
Long Range Planning, v. 42, n. 3, p. 298-319, 2009.
(1) Um modelo de heuristica e uma regra a qual tem como objetivo
descrever o processo atual--nao apenas o resultado--de resolucao de
problemas (GIGERENZER, 2004, p.64). Quando uma solucao otima esta fora
do alcance, nos nao paralisamos ou nos rendemos ao fracasso. Nos podemos
utilizar heuristicas para descobrir boas solucoes (GIGERENZER, 2004,
p.63). Quando ja estavamos praticamente concluindo esta pesquisa,
Kahneman (2011) divulgou uma obra que aborda a questao dos vieses em
detalhe.
Quadro 1--Niveis de expertise
Estagio Descricao
Novato Segue regras, nao leva em consideracao sutilezas
do problema/decisao.
Iniciante Usa regras mais sofisticadas, adquiridas pela
avancado observacao de similaridades entre instancias de
um fenomeno da vida real.
Competente Lida com o caos que e a resolucao de um problema
de forma consciente, planejando e analisando
uma lista de fatores gerenciaveis importantes.
Proficiente Associa situacoes novas com outras similares ja
vividas e com planos que funcionaram no passado.
Expert Naturalidade e habilidade de discriminar entre um
grande numero de variaveis contextuais e
situacoes baseadas em estruturas de grande
conhecimento. Aparenta fazer o que normalmente
funciona e nao precisa realizar grande esforco
para decidir. No entanto, tem dificuldade em
explicar como chegou ao resultado.
Fonte: Adaptado de Sadler-Smith (2007).
Quadro 2--Vieses
Vies Descricao
Vieses provenientes da Heuristica da Disponibilidade
1. Facilidade de Individuos julgam eventos que sao mais
recordar faceis de recordar, em detrimento de outros
que exigem um esforco maior.
2. Recuperacao A estrutura mnemonica de cada um influencia
a forma pela qual ele busca informacoes.
Vieses provenientes da Heuristica de Representatividade
3. Insensibilidade Somos inclinados a considerar taxas que sao
a indices basicos comumente conhecidas e nao especificas de
cada situacao.
4. Insensibilidade O tamanho da amostra pode influenciar o
ao tamanho da resultado, mas nao ser algo estatisticamente
amostra valido.
5. Ma interpretacao Mesmo que eventos anteriores tenham tido um
da chance determinado resultado, cada novo evento deve
ser abordado de forma independente (quando
nao ha interferencia de eventos passados).
6. Regressao para Individuos tendem a prever resultados
a media futuros baseados em resultados de periodos
anteriores.
7. Falacia da Individuos tendem a julgar mais provavel a
conjuncao conjuncao (dois eventos ocorrendo
simultaneamente) de esses eventos ocorrerem
separadamente.
Vieses provenientes da Heuristica de Confirmacao
8. Armadilha da Mesmo tendo decidido pelo caminho errado,
confirmacao os individuos tendem a procurar informacoes
que subsidiem essa decisao.
9. Ancoragem Os individuos estimam valores com base em
ancoras (uma informacao que se leu
anteriormente, eventos passados, etc.) e
raramente param para refletir e fazer
ajustes.
10. Eventos Individuos superestimam a probabilidade de
conjuntivos e eventos conjuntivos (simultaneos) e
disjuntivos subestimam eventos disjuntivos.
11. Excesso de Quando a situacao e dificil, depois de
confianca decidir, individuos tendem a confiar demais
em suas decisoes, que julgam ser infaliveis.
12. Maldicao do Ao saber o resultado de uma acao, por mais
conhecimento imprevisivel que ela tenha sido, os
individuos tendem a apontar/confirmar que
realmente este resultado era o mais
provavel.
Fonte: Adaptado de Bazerman e Moore (2009).
Quadro 3--Contribuicoes para a elaboracao de protocolo
para entrevistas semiestruturadas
Abordagens do instrumento Fonte
Questoes que buscam descrever como Parikh (1994)
a intuicao funciona
Situacoes em que a intuicao mais Parikh (1994)
se manifesta
Relacao da intuicao com o Parikh (1994); Pacini e
ambiente externo Epstein (1999)
Intuicao e as emocoes: como elas Parikh (1994); Agor (1989)
ajudam e como elas atrapalham
Como identificar a intuicao nas Agor (1989); Allinson e
atividades do gestor Hayes (1996)
Como a intuicao se manifesta, seja Agor (1989)
em situacoes boas, seja em
situacoes ruins
Durante o processo, em que Agor (1989)
momentos utiliza a intuicao
Tecnicas que utiliza para Agor (1989)
desenvolver a intuicao
Abordagem aos desvios cognitivos Pacini e Epstein (1999)
Fonte: Elaborado pelos autores.
Quadro 4--Situacoes em que a intuicao e mais propicia
Item Descricao
Tipo de Aberta, temporaria, dinamica
organizacao
predominante
Tarefas Nao rotineiras, de amplo espectro, dinamicas
Estilo decisorio Indutivo, subjetivo, que aborda os problemas
como um todo e entao atua por etapas
Exemplo de Brain storming, que desafiam pressupostos
aplicacoes tradicionais
Fonte: Adaptado de Agor (1986).