Administrative reforms in Brazil: a theoretical and critical approach/Reformas administrativas no Brasil: uma abordagem teorica e critica/Reformas administrativas en Brasil: un abordaje teorico y critico.
Capobiango, Ronan Pereira ; do Nascimento, Aparecida de Lourdes ; Silva, Edson Arlindo 等
1. INTRODUCAO
A Reforma Administrativa e discutida e debatida em todo o mundo
como um processo de adaptacao da maquina publica ao ambiente em que se
insere. No entanto, cada pais apresenta um perfil peculiar, com suas
limitacoes e suas caracteristicas culturais, que devem ser levadas em
consideracao ao se propor alguma alteracao que interfira na vida social
de todos que compoem o Estado.
Esse Estado, na condicao de um sistema que engloba outros
subsistemas, e composto de diversas partes que interagem entre si e se
interrelacionam, constituindo um todo para a concepcao dos objetivos que
se pretende alcancar. Nessa concepcao, os cidadaos, que fazem parte
desse sistema, sofrem influencia das decisoes estabelecidas e
influenciam essas mesmas decisoes. Infelizmente, muitas vezes a
sociedade civil nao e convidada a participar do processo de formulacao e
implementacao de uma acao governamental ao propor uma mudanca. Como
consequencia, o Estado se depara com um sistema deficiente, cujas partes
nao se encontram em perfeita harmonia, e, por isso, tem seu
funcionamento prejudicado.
O tema Reforma Administrativa esta relacionado a mudancas ligadas
necessariamente a resistencia em razao do medo do novo e da
impossibilidade de se vislumbrar o resultado final a ser alcancado.
Maquiavel (2006:26) alertou que "aquele que a introduz tera por
inimigos todos os que da velha ordem extraiam privilegios e por timidos
defensores todos os que das vantagens da nova ordem poderiam
usufruir".
O reconhecimento das bases culturais presentes em um Estado permite
conhece-lo melhor e, dessa forma, propor medidas condizentes com uma
realidade que, na maioria das vezes, necessita de modificacoes para que,
a partir destas, outras medidas possam ser estabelecidas e, aos poucos,
uma nova percepcao mais flexivel as mudancas seja introduzida.
Varias reformas tem sido propostas ao longo dos anos por diversos
paises, porem, na ansia de querer mudar apenas por mudar, como uma forma
de acompanhar as tendencias bem-sucedidas de outros paises, muitos
Estados tem suas experiencias de reformas frustradas. Modelos bem
implementados em outros paises, quando trazidos para uma realidade
distinta daquela em que foram elaborados sem se considerarem os aspectos
das bases culturais encontrados, deparam-se com barreiras que impedem
seu bom funcionamento e nao apresentam os resultados que buscavam
oferecer.
Quando sao reconhecidas as limitacoes de certo modelo no
atendimento dos objetivos almejados por um Estado e pelas partes que o
compoem, novas propostas sao apresentadas como alternativas capazes de
melhorar o funcionamento desse sistema, que, continuamente, necessita
ser reajustado e adaptado a uma realidade, em um ambiente dinamico de
mudancas permanentes.
Nesse contexto, este ensaio teorico, com base em referencias
bibliograficas, busca contextualizar o cenario das reformas
administrativas, levantando indagacoes e reflexoes sobre o tema, sem ter
a pretensao de esgotar seus pontos especificos e suas tendencias. Para
tanto, foram selecionados autores que desenvolveram trabalhos
importantes da literatura nacional, principalmente sobre o periodo da
segunda metade do seculo XX. Essa periodizacao politico-institucional
foi definida em razao de se terem como pano de fundo as reformas no
Brasil, para, a partir dai, apresentar uma perspectiva que nao separa as
reformas administrativas dos movimentos concomitantes e estruturais
ocorridos no plano politico e economico ao longo do processo de
modernizacao do pais, incluindo o contexto das transformacoes ocorridas
no plano gerencial. Alem desses autores, sao mencionados, da literatura
internacional, Whitaker (1980), Denhardt (1990), Pollitt (1993), Osborn
e Gaebler (1992), Brudney e England (2003), Bouckaert e Halligan (2008),
dentre outros.
Especificamente, pretende-se: apresentar as bases dos sistemas de
acao cultural brasileiro; levantar um breve historico da administracao
publica brasileira entre 1930 e 1995; apresentar, considerando o
contexto historico mundial e nacional, os modelos e tendencias atuais; e
incitar algumas reflexoes a respeito das reformas administrativas. As
recentes discussoes sobre administracao publica e reformas do Estado tem
chamado a atencao de diversos estudiosos que buscam compreender as
recorrentes transformacoes implementadas nos mais variados setores
publicos no Brasil. Sao transformacoes que objetivam atender as demandas
do Estado brasileiro, de um lado, e da sociedade civil, de outro. Nesse
sentido, a tematica referente as reformas administrativas gera
questionamentos que sustentam diversas discussoes, as quais fazem dessa
tematica um assunto sempre relevante e importante para os avancos dos
debates e reflexoes.
2. CONSIDERACOES SOBRE AS RAIZES CULTURAIS BRASILEIRAS
O sistema cultural brasileiro, de acordo com Barros e Prates
(1996), e formado por quatro grandes subsistemas: institucional (macro);
pessoal (micro); lideres (donos do poder); e liderados (subordinados ao
poder). Esses subsistemas, caracterizados, respectivamente, pela
concentracao de poder, postura de expectador, personalismo e pratica de
evitar conflito, articulam-se pelos tracos do formalismo, da lealdade as
pessoas, do paternalismo e do formalismo. Essa articulacao pode ser mais
bem visualizada na Figura 1.
[FIGURE 1 OMITTED]
Esse sistema de acao cultural e formado pela inter-relacao de todos
os componentes, cuja interpretacao esta sintetizada no Quadro 1.
O modelo cultural brasileiro traz consigo as raizes de nossa
colonizacao--patrimonialismo e clientelismo. O processo de
industrializacao deuse com o surgimento dos engenhos, e as raizes do
trabalho coletivo foram vinculadas e confundidas com a escravidao
recem-abolida, num processo contrario a industrializacao da Europa, por
exemplo, onde os trabalhadores que ingressaram na industria eram livres
(NASCIMENTO, 1999).
No ambito das organizacoes, Fleury (1990:22) define a cultura
organizacional como:
[...] um conjunto de valores e pressupostos basicos expressos em
elementos simbolicos, que em sua capacidade de ordenar, atribuir
significacoes, construir a identidade organizacional, tanto agem como
elemento de comunicacao e consenso, como ocultam e instrumentalizam as
relacoes de dominacao. (FLEURY, 1990:22).
Segundo Medeiros e Vasconcellos (1992), o modelo gerencial adotado
nas organizacoes brasileiras nao considera a realidade como um todo, uma
vez que exclui os elementos culturais, levando em consideracao apenas o
desejo de modernidade.
Com o desenvolvimento da economia, verificada especialmente apos a
Segunda Guerra Mundial, as praticas gerenciais pautadas pelo
autoritarismo coronelista deixaram de ser aplicaveis, comecando assim a
tradicao de importacao de teorias e modelos. A sociedade rural, modelada
pela influencia europeia, transforma-se em sociedade urbana,
influenciada agora pelos Estados Unidos da America (BARROS; PRATES,
1996).
No contexto da administracao publica brasileira, Martins (2007)
busca fortalecer tres proposicoes: a administracao publica brasileira e
o Estado brasileiro foram fundados sob a influencia de um etos
fortemente patrimonialista, presente na heranca cultural lusitana; o
processo de construcao nacional e a trajetoria modernizante da
administracao publica brasileira tem buscado implementar formas
institucionais antipatrimonialistas, tais como a democracia
representativa de massas e o padrao burocratico de administracao
publica, respectivamente; e o carater dissociativo entre politica e
administracao e indicio da recorrencia e persistencia de uma cultura de
modernizacao nacional patrimonialista.
Para uma melhor compreensao do processo de modernizacao da
administracao publica brasileira, e importante que sejam observadas as
raizes culturais brasileiras, que podem estar na base de algumas
praticas existentes ao longo da trajetoria da administracao publica
brasileira, conforme revela Caldas (2007:82), por exemplo:
Nosso forte traco autoritario e, ao mesmo tempo, paternalista criou
no brasileiro o gosto simultaneo pelo protecionismo e pela dependencia.
Fomos acostumados, como povo, a nutrir uma postura de espectador sempre
dependente de algo ou alguem--em geral, algum tipo
"estrangeiro--que nos leve e nos conduza." (CALDAS, 2007:82).
A importancia da questao cultural transcende as fronteiras da
curiosidade ou do debate academico, uma vez que a inovacao nas praticas
organizacionais exige a compreensao da dinamica das praticas existentes,
para gerar mudanca socialmente apropriada e historicamente enraizada
(SPINK, 2007). Nesse sentido, o entendimento dos tracos culturais pode
fornecer alguns subsidios para uma melhor compreensao da trajetoria da
administracao publica brasileira.
3. ADMINISTRACAO PUBLICA BRASILEIRA: DE 1930 A 1995
A expressao Republica Nova esta relacionada a ascensao de Getulio
Vargas ao poder em 1930, tornando-se presidente da Republica. As acoes
implementadas por esse governo, que promoveram uma profissionalizacao da
Administracao Publica, representaram uma tentativa de rompimento com as
oligarquias dominantes. Foi um tempo marcado pela criacao do
Departamento de Administracao do Servico Publico (DASP) e por conquistas
sociais, como o voto secreto e as leis trabalhistas, alem do direito de
voto para as mulheres.
A primeira reforma administrativa, de 1936, conhecida como Reforma
Burocratica, teve como caracteristica, segundo Matias-Pereira (2009), a
enfase na reforma dos meios em detrimento dos fins, ou seja, focou as
atividades de administracao geral; buscou montar um corpo burocratico
classico, de funcionarios do Estado, nao contemplando as atividades
substantivas; pautouse na teoria administrativa que consagrava a
existencia de "principios de administracao"; e adotou como
modelo o prescrito na teoria administrativa importada dos paises mais
desenvolvidos, buscando modernizar a maquina publica inspirando-se no
modelo taylorista/fayoliano/weberiano (COSTA, 2008).
A reforma burocratica, conforme Bresser-Pereira (2009), apesar de
ter estabelecido o servico publico profissional e os principios da
administracao burocratica, nunca foi concluida.
O que se pregava, a partir da Revolucao de 1930 e com a implantacao
do modelo burocratico weberiano, era a racionalizacao da administracao
publica, em busca da eficiencia. Na epoca, a reforma do servico publico
e o processo de burocratizacao ou racionalizacao, como fenomeno
historico derivado da natureza superior da administracao publica
burocratica em relacao a administracao patrimonial, eram a melhor
maneira de aumentar a eficiencia, eliminar o nepotismo e reduzir a
corrupcao (BRESSER-PEREIRA, 2009).
No entanto, a marca do clientelismo se manteve, impossibilitando a
pratica do que se propunha. Nesse contexto, a Republica Nova chegou ao
fim, em 1937, com um golpe de Estado desfechado pelo mesmo presidente
Vargas, e teve inicio o Estado Novo.
Posteriormente, com o golpe militar de 1964, o "modelo
classico" foi substituido pelo modelo de "administracao para o
desenvolvimento", que visava essencialmente a expansao da
intervencao do Estado na vida economica e social e a descentralizacao
das atividades do setor publico.
Realizou-se a descentralizacao administrativa do Estado, com a
criacao da figura da "Administracao Indireta" e maior
autonomia de acao, que incluia pode contratar funcionarios sob regime
celetista e nao mais estatutarios. Surgiu a figura do Estado-Produtor de
bens e servicos atuando diretamente no dominio economico, como condicao
necessaria na fase inicial de desenvolvimento de um pais.
Nesse contexto, foi implementada a segunda Reforma Administrativa,
cujo simbolo foi o Decreto-Lei n[degrees] 200 de 1967, que introduziu o
triplice sentido da descentralizacao "dentro dos quadros da
administracao federal; da administracao governamental para a orbita
privada; e da Uniao para os governos locais" e o
"estabelecimento do conceito de sistemas administrativos para as
funcoes comuns a todos os orgaos, o que em principio facilitou a
descentralizacao da gestao de recursos (pessoal, material,
financas)" (MARCELINO, 1988 apud COSTA, 2008:275).
Ambas as reformas, de 1936 e de 1967, foram implementadas em
contextos de ditadura politica, com restricao a participacao da
sociedade. Conforme Bresser-Pereira (1998a), a crise do modelo
burocratico de administracao publica, introduzido no pais nos anos 30
pelo governo Vargas, comecou ainda no regime militar, em razao de sua
incapacidade de desenraizar as praticas patrimonialistas ou
clientelistas da administracao.
A Nova Republica nasceu com o fim do regime militar, num cenario
caracterizado por cinco disfuncoes gerais: ineficacia do planejamento
governamental; deficiencias de mecanismos de implementacao, coordenacao
e avaliacao de acoes de reforma/modernizacao dos orgaos; dissociacao
entre planejamento, modernizacao e recursos humanos; atuacao pouco
integrada e pouco coordenada de orgaos ligados a area; e pouca
prioridade a area de recursos humanos (VIEIRA, 2008).
De acordo com Nilson Holanda:
A capacidade gerencial do Estado brasileiro nunca esteve tao
fragilizada; a evolucao nos ultimos anos, e especialmente a partir da
chamada Nova Republica, tem sido no sentido de uma progressiva piora da
situacao; e nao existe, dentro ou fora do governo, nenhuma proposta
condizente com o objetivo de reverter, a curto ou medio prazo, essa
tendencia de involucao. (HOLANDA, 1993:165).
A crise se agravou a partir da Constituicao de 1988, quando os
constituintes, procurando frear as praticas patrimonialistas favorecidas
pela administracao publica descentralizada, promoveram, de acordo com
Bresser-Pereira (1998a), um enrijecimento burocratico extremo, que, em
conjunto com o patrimonialismo incontido, resultou no alto custo e na
baixa qualidade da administracao publica brasileira (BRESSER-PEREIRA,
1998a).
Na sequencia, registra-se a reforma administrativa implementada
pelo governo Collor, que promoveu um amplo e profundo rearranjo
estrutural, visando a racionalizacao (reducao de gastos) e a
desestatizacao (reducao da interferencia do Estado no dominio
economico). Nesse sentido, fechou ministerios, promoveu fusao e extincao
de instituicoes, determinou afastamento e/ou remanejamento de pessoal,
extinguiu, privatizou e descentralizou empresas, alem de ter promovido a
desregulamentacao do mercado. Para Lustosa da Costa e Cavalcanti (1991),
a reforma tinha um forte componente ideologico--a proposta neoliberal.
A instabilidade politica durante o processo de impeachment do
presidente Collor, que culminou com sua renuncia em dezembro de 1992,
fez com que o processo de reforma administrativa perdesse seu folego e
fosse colocado, momentaneamente, em segundo plano. Em 1994, com a
inauguracao do Plano Real e a retomada da estabilidade economica do
pais, foram criadas condicoes para a retomada da agenda de reformas
implementadas pelo Governo Fernando Henrique Cardoso apos 1995, sob a
coordenacao do MARE, capitaneado pelo entao Ministro Bresser-Pereira.
4. MODELOS E TENDENCIAS ATUAIS: NOVA GESTAO PUBLICA X NOVO SERVICO
PUBLICO
Ainda que, oficialmente, o aparelho estatal tenha evoluido,
passando do modelo burocratico, introduzido na decada de 30, para o
modelo gerencial, que o Decreto 200/67 tentou implantar e que foi
reafirmado pela reforma de 1998, as praticas da administracao
patrimonialista tipica dos Estados que antecederam o avanco do
capitalismo industrial ainda sao comuns no cotidiano da administracao
publica, em todos os tres niveis de governo e poderes. Em sentido amplo,
o termo patrimonialismo tem sido empregado, segundo Ramos (1983), para
expressar a cultura de apropriacao daquilo que e publico.
Apesar da evolucao do conceito de Administracao Publica no seculo
XX e de o setor publico brasileiro estar vivenciando varias iniciativas
de transformacao e modernizacao, a estrutura mecanicista, rigida,
inflexivel tem resistido a evolucao e a democratizacao da sociedade
(TORRES, 2004).
De acordo com Bresser-Pereira (2009), o pequeno Estado liberal do
seculo XIX foi substituido pelo grande Estado social-democratico do
seculo XX, assumindo novos papeis sociais (educacao, saude, transporte,
seguridade social e assistencia social, cultura, pesquisa cientifica) e
economicos (estabilidade macroeconomica, regulacao dos servicos publicos
e das atividades monopolistas, fornecimento de infraestrutura publica,
politica industrial e de comercio exterior), mas a administracao publica
burocratica nao garantiu que fossem prestados ao publico servicos de boa
qualidade ou de baixo custo.
A situacao da administracao publica no Brasil pouco se alterou,
apesar de todas essas reformas. Gomes (2006) apresenta como
justificativa para isso: o fato de a gestao publica brasileira ter sido
sempre observada, de modo abstrato, como reflexo de modelos estanques
que buscaram a adocao de medidas importadas, inadequadas para resolver
os problemas da administracao no Pais.
Schwartzman (1987:58) considera a trajetoria da modernizacao da
administracao publica brasileira como "um dificil dilema, que
colocaria de um lado a administracao racional e tecnica, associada aos
regimes fortes e autoritarios, e de outro, a administracao politizada,
deficiente e desmoralizada, que pareceria ser um atributo da democracia
e da participacao social".
Na concepcao de Denhardt (1990), o pensamento da administracao
publica ao longo dessa trajetoria evoluiu a ponto de criar, criticar e
aprimorar modelos e principios de mudanca organizacional planejada,
tanto nos niveis micro quanto macro-organizacional, passando de um
enfoque organizacional para um enfoque politico-sociologico e tendo como
ponto central a tensao entre politica e administracao.
Segundo Salm e Megasso (2009b), o principio que norteia o modelo da
administracao publica convencional, aquela que tem na organizacao
burocratica sua principal referencia, e a separacao entre politica e
administracao. A implementacao desse modelo exige uma base legal e
racional que depende ainda de estrategias que norteiam o funcionamento
interno e das conjunturas externas que afetam e que sao afetadas pela
organizacao publica; trata-se de um modelo que vem sofrendo criticas
que, em conjunto com a ascensao do mercado, na qualidade de principal e
eficiente alocador de bens e servicos, possibilitam o surgimento de uma
nova proposta de administracao publica (SALM; MEGASSO, 2009b).
Nesse cenario, duas vertentes se apresentam como alternativas para
a gestao publica: a administracao publica gerencial, sob a egide da Nova
Gestao Publica (NGP), e a administracao publica societal, sob a egide do
Novo Servico Publico (NSP).
4.1. Nova gestao publica no mundo e no Brasil
Em 1973, a crise do petroleo foi responsavel por deflagrar os
mecanismos que provocaram o esgotamento do antigo modelo de intervencao
estatal de moldes burocraticos. A crise economica mundial, que se
iniciou naquela decada, pos fim a era de prosperidade iniciada no
pos-Segunda Guerra Mundial. A crise do petroleo foi, ainda,
potencializada pela crise economica mundial, que se agravou ao longo dos
anos 80 e provocou um grande periodo recessivo nas economias da maioria
dos paises; pela crise fiscal do Estado, baseado no modelo economico
proposto por Keynes e que dificultava o financiamento dos deficits da
maioria dos governos; pela crise de governabilidade, que demonstrava a
incapacidade dos governos de resolver os problemas economicos e sociais
de seus paises; e pela emergencia da globalizacao e das inovacoes
tecnologicas, as quais levaram a profundas transformacoes na economia e
no setor produtivo, que tambem se refletiram no Estado (GOMES, 2006).
Na America Latina, durante os anos 80 e 90, dois processos seguiram
trajetorias mais ou menos paralelas, conforme exposto por Glade
(2006)--o ajustamento estrutural da economia e a reforma do aparelho
administrativo do Estado. Observa-se, ainda, um terceiro processo, a
democratizacao, composta de uma variedade de medidas para fortalecer a
sociedade civil.
E importante, nesse contexto, que se tenha consciencia do objetivo
da reforma, que, na concepcao de Przeworski (2006), e a construcao de
instituicoes que deem poder ao aparelho do Estado para fazer o que ele
deve fazer e o impecam de fazer o que ele nao deve fazer. O autor
argumenta, ainda, que a reforma do Estado deve ser concebida
considerando mecanismos institucionais pelos quais os governos possam
controlar o comportamento dos agentes economicos privados, e os
cidadaos, controlarem os governos.
Desde os primeiros anos da decada de 1980, ve-se crescer uma
demanda para tornar o Estado mais eficiente e gerencial (KETTL, 2006).
Paises como Canada, Reino Unido, Australia, Nova Zelandia, Japao e
Estados Unidos adotaram o conceito de "deixem o administrador
administrar", em que a flexibilidade era um principio basico para a
reinvencao dos governos (OSBORNE; GAEBLER, 1992; NUNBERG, 1998). Essa
filosofia de administracao publica se popularizou, principalmente, com o
governo de Margareth Thatcher, a Dama de Ferro, no Reino Unido, e o
governo de Ronald Reagan, nos Estados Unidos, cuja principal meta era
uma administracao publica mais eficiente e flexivel (FLYNN; STREHL,
1996; ABRUCIO, 1997; KETTL, 2006). Segundo Pereira (2004), a
Gra-Bretanha e considerada o grande laboratorio das tecnicas gerenciais
aplicadas, e, seguindo essa tendencia, muitos paises comecaram a ensaiar
o inicio das reformas de seus Estados.
Foi na decada de 80 que, segundo Abrucio (2005), os Estados Unidos
deram inicio a implantacao de reformas administrativas, considerando o
modelo gerencial importado da iniciativa privada. De acordo com
Bresser-Pereira (2009), a verdadeira reforma da gestao publica somente
ganhou impulso nos anos 1980, com o discurso neoliberal e com a eleicao
de Margaret Thatcher para primeira-ministra do Reino Unido.
O thatcherismo pode ser qualificado por algumas medidas
organizativas e administrativas que caracterizaram a Nova Administracao
Publica. Paes de Paula (2005a) sintetizou as seguintes caracteristicas:
descentralizacao do aparelho de Estado; privatizacao das estatais;
terceirizacao dos servicos publicos; regulacao estatal das atividades
publicas conduzidas pelo setor privado; e uso de ideias e ferramentas
gerenciais advindas do setor privado.
De acordo com Andion (2012), o modelo da Nova Administracao Publica
se apoia em correntes teoricas dos estudos tanto sobre politicas
publicas quanto sobre gestao publica, promovendo uma renovacao e uma
ruptura no campo da administracao publica nas ultimas decadas. Tais
correntes podem ser observadas no Quadro 2.
Segundo Kettl (2006), se por um lado o movimento da Nova
Administracao Publica (NAP) e caracterizado por um modelo normativo,
constituido por abordagens teoricas que possibilitam, por meio dos
principios de mercado, compreender a esfera publica e seu funcionamento,
por outro lado, a agenda da NAP foi referencia para a promocao de
reformas em muitos paises, com o objetivo de reestruturar o Estado,
substituindo o modelo burocratico pelo gerencial, que se baseia na
competicao e foca os resultados.
A partir da avaliacao das reformas economicas realizadas em paises
como Chile e Mexico, especialistas se reuniram e chegaram a um
"consenso" quanto a eficiencia das reformas orientadas para o
mercado, denominado Consenso de Washington. Dez medidas baseadas em
experiencias do Reino Unido e de outros paises e geradas para a
implementacao das reformas foram sintetizadas pelo economista John
Williamson. Sao elas: o ajuste estrutural do deficit publico; a reducao
do tamanho do Estado; a privatizacao das estatais; a abertura ao
comercio internacional; o fim das restricoes ao capital externo; a
abertura financeira as instituicoes internacionais; a desregulamentacao
da economia; a reestruturacao do sistema previdenciario; o investimento
em infraestrutura basica; e a fiscalizacao dos gastos publicos (BATISTA,
1995 apud PAES DE PAULA, 2005a).
De acordo com Bresser-Pereira (2006), a Nova Administracao Publica
foi implementada em resposta a crise fiscal, a crise no modo de
intervencao do Estado, a crise do modelo burocratico, responsavel pela
administracao do Estado, e tambem a crise politica. Visava, em sintese,
a transformacao da cultura burocratica que permeava a administracao
publica brasileira, incutindo uma nova cultura denominada gerencial.
O termo "cidadao-cliente" e utilizado, ate mesmo, como
forma de aproximar a administracao publica da logica de mercado. Esse
processo se refere a adaptacao e aplicacao das ideias e ferramentas de
gestao mais recentes do setor privado no setor publico, como, por
exemplo, os programas de qualidade, a reengenharia organizacional, a
administracao participativa e outras (BRESSER-PEREIRA, 1998b).
Um dos objetivos do modelo gerencial diz respeito a definicao da
forma de propriedade e gestao das instituicoes publicas: considera-se
estatal o nucleo estrategico e as atividades exclusivas; publico
nao-estatal, os servicos exclusivos que podem ser publicizaveis; e as
atividades cuja producao e voltada para o mercado, atividades que podem
ser privatizadas (MARE, 1995).
No Brasil, as propostas da vertente gerencial foram concebidas e
implementadas, conforme Paes de Paula (2005a), durante o governo de
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), com a presenca ativa do
ex-ministro da Administracao e Reforma do Estado, Luiz Carlos Bresser
Pereira. A autora acrescenta, ainda, o fato de a vertente ter se tornado
hegemonica a partir do momento em que a alianca social-liberal alcancou
o poder e implementou a administracao publica gerencial.
A administracao publica gerencial tem como principais objetivos,
segundo Bresser-Pereira (1998b): aprimorar as decisoes estrategicas do
governo e da burocracia; oferecer condicoes que garantam a propriedade e
o contrato, para que se promova um bom funcionamento dos mercados;
garantir autonomia e capacitacao gerencial do administrador publico; e
certificar a democracia por meio da prestacao de servicos publicos
voltados para o "cidadao-cliente" e controlados pela
sociedade.
A administracao publica gerencial deve ter as seguintes
caracteristicas para atingir esses objetivos:
* administracao profissional, autonoma e organizada em carreiras;
* descentralizacao administrativa;
* maior competicao entre as unidades administrativas;
* disciplina e parcimonia no uso dos recursos;
* indicadores de desempenho transparentes;
* maior enfase nos resultados; e
* enfase no uso de praticas originadas no mercado (PAES DE PAULA,
2005a: 131-132).
A implementacao do modelo da nova gestao publica, cujas raizes se
encontram na economia de mercado, nas teorias de custos e beneficios e
na teoria da escolha publica, depende nao so dos ditames legais que
autorizam a privatizacao, a terceirizacao e a adocao de outros
mecanismos de mercado para a producao dos servicos publicos, mas tambem
da preparacao da sociedade para aceitar essa nova orientacao para a
producao dos servicos publicos (SALM; MENEGASSO, 2009b).
De acordo com Ramos (1989) e Arendt (2005 apud SALM; MENEGASSO,
2009b), o principal problema do modelo da nova gestao publica e
observado na usurpacao da esfera privada, uma vez que e o mercado e nao
a comunidade politicamente articulada a principal referencia para a
administracao publica. De acordo com Grey (1996), as criticas dirigidas
ao gerencialismo se acirraram quando o argumento da eficiencia de suas
proposicoes invadiu o setor publico.
A reforma de 1998 deixou a desejar em relacao as mudancas propostas
(DINIZ, 2001; NOGUEIRA, 2005; ABRUCIO, 2007). Tal avaliacao e feita
tambem a respeito de outros paises precursores na aplicacao da Nova
Administracao Publica (POLLITT, 1993).
Paes de Paula (2005a) aponta as seguintes limitacoes da nova
administracao publica: constituicao de uma nova elite burocratica,
centralizacao do poder nas instancias executivas, inadequacao da
aplicacao das tecnicas e praticas advindas do setor privado no setor
publico, dificuldade em lidar com a complexidade dos sistemas
administrativos e a dimensao sociopolitica da gestao, incompatibilidade
entre a logica gerencialista e o interesse publico.
Conforme exposto por Goodsell (2003), tais limitacoes alimentam uma
critica crescente ao modelo, abrindo caminho a novas propostas para a
producao dos servicos publicos.
4.2. Novo Servico Publico
Kettl (2006), Denhardt J. V. e Denhardt, R. B. (2003) e Salm e
Menegasso (2006 apud SALM; MENEGASSO, 2009b) afirmam existirem tres
modelos relevantes em administracao publica: o modelo da administracao
publica convencional, em que a burocracia e que produz o bem publico ou
os servicos publicos; o modelo da nova gestao publica, no qual o mercado
e o principal alocador dos servicos publicos; e, ainda, um terceiro
modelo, que seria o novo servico publico, em que o bem publico ou o
servico publico e coproduzido com a sociedade e pela sociedade.
O bem publico abrange, segundo Meirelles (2000), tudo aquilo que
tenha valor economico ou moral e que seja suscetivel de protecao
juridica. A coproducao, por sua vez, refere-se, de acordo com Brudney e
England (2003:59), "a uma mistura critica de atividades prestadas
por agentes e cidadaos para a provisao de servicos publicos". O
cidadao torna-se protagonista na prestacao do servico publico e na
promocao da transformacao social (WHITAKER, 1980; ALFORD, 2002; BRUDNEY;
ENGLAND, 2003; MARSHALL, 2004; COOPER; KATHI, 2005).
Salm e Menegasso (2009b) utilizam o conceito de Novo Servico
Publico para denominar o modelo emergente que se mostra presente sempre
que a comunidade ou o cidadao coproduzem o bem publico ou os servicos
publicos com os agentes publicos. O autor discute que este modelo ainda
e incipiente e pressupoe a existencia de condicoes apropriadas para sua
implementacao e operacionalizacao, e que a producao do desenvolvimento
sustentavel dele decorrente pressupoe a existencia de capital social nas
comunidades.
De acordo com Salm e Menegasso (2009a), as bases epistemologicas do
modelo do novo servico publico, elaboradas por Denhardt, J. V. e
Denhardt, R. B. (2003), tem por principio que o ser humano e, antes de
tudo, um ser politico que age na comunidade; que a comunidade,
politicamente articulada, requer a participacao do cidadao para a
construcao do bem comum; e que o bem comum precede a busca do interesse
privado.
O Novo Servico Publico surge como uma alternativa a Nova Gestao
Publica, inspirado na teoria politica democratica. Objetiva,
particularmente, a conexao entre cidadaos e seus governos, com
abordagens alternativas a gestao e ao modelo organizacional e sendo mais
humanistico na teoria da administracao publica (DENHARDT, 2004 apud
VIEIRA, 2008).
Arranjos de governanca, nao apenas estatais, capazes de lidar com
problemas complexos requerem um modelo de Governanca publica que opere
um tipo de estado-rede, com carater consensual, relacional e contratual,
caracterizado pela coproducao ou cogestao de politicas publicas e por
arranjos multi-institucionais entre Estado, iniciativa privada e
terceiro setor (BOUCKAERT; HALLIGAN, 2008; OSBORNE, 1998).
Salm e Menegasso (2009a) discutem a coproducao dos servicos
publicos a partir da complementaridade dos modelos e da proposta de
administracao publica. Segundo esses autores, a complementaridade dos
modelos pode ocorrer por meio: da organizacao burocratica em que haja a
gestao participativa obtida mediante estruturas de consentimento; das
organizacoes sociais com caracteristicas isonomicas; de comunidades
engajadas com a producao do bem publico; da responsabilidade social das
empresas, quando elas produzem um bem publico, fato amplamente ignorado
pelos estudiosos da administracao publica; e do cidadao, em seu papel de
ser politico, produzindo o bem publico.
No Brasil, a administracao publica societal tem sua origem, segundo
Paes de Paula (2005a), nos movimentos sociais iniciados nos anos 1960 e
que se desdobraram nas decadas seguintes, apesar dos impactos sofridos
no governo militar. Como exemplos de praticas surgidas dentro desse
contexto, citam-se os foruns tematicos, que surgiram no final dos anos
80 e se constituem em uma oportunidade para o debate de problemas
publicos, e os conselhos gestores de politicas publicas, tambem surgidos
no mesmo periodo, durante o processo de redemocratizacao brasileira,
incorporados a Constituicao Federal promulgada em 1988 (PAES DE PAULA,
2005a). Carvalho e Felgueiras (2000) acrescentam como exemplos os
processos de orcamentos participativos, surgidos de uma experiencia do
conselho popular do municipio de Vila Velha.
A vertente societal propoe um novo modelo de gestao publica,
opondo-se ao estilo burocratico de gestao e buscando uma ampliacao da
democracia por meio de uma maior insercao e participacao da sociedade
organizada na administracao publica. A conquista da presidencia da
Republica por Luiz Inacio Lula da Silva em eleicoes presidenciais
passadas resultou em uma expectativa de que esta vertente se tomasse a
marca do governo federal. O observado, porem, e que nao houve um
rompimento de fato com o modelo anterior, mais sim a continuidade das
praticas gerencialistas nos diversos campos, ate mesmo nas politicas
sociais (PAES DE PAULA, 2005a).
Paes de Paula (2005b) faz um contraste entre o centralismo e o
estruturalismo da Administracao Publica Gerencial e a abertura e o
dinamismo da Administracao Publica Societal, conforme exposto no Quadro
3.
A necessidade de mudancas e modernizacoes no modo de gestao das
organizacoes publicas e senso comum, independentemente da corrente
ideologica ou do papel desempenhado por elas, do governo ou da sociedade
civil. Dessa forma, alguns pontos devem ser objeto de reflexao por todos
os atores que, direta ou indiretamente, sao afetados pelas reformas
administrativas. Na secao seguinte alguns desses pontos sao
apresentados.
5. REFLEXOES SOBRE AS REFORMAS ADMINISTRATIVAS
Varios estudiosos se debrucam sobre o tema das reformas, buscando
encontrar e desvendar os motivos que impedem o alcance dos objetivos e
metas propostos. Rezende (2004), por exemplo, lista a chamada
"falha sequencial" relacionada a descontinuidade, ao abandono
e ao termino de processos de intervencao antes que seus objetivos sejam
alcancados ou que tenha ocorrido melhoria na performance do aparato
burocratico.
Rezende (2002) reuniu em seu estudo dezessete explicacoes para essa
"falha sequencial" encontradas na literatura: a
institucionalizacao (CAIDEN, 1999); a resistencia (KAUFMAN, 1995); ondas
de reformas (LIGTH, 1997); conflito de principios (KAUFMAN, 1971);
conflito estrutural (COE, 1971); atencao dos atores estrategicos (MARCH
et al., 1993); natureza da reforma (multiplos objetivos, largo escopo,
alta complexidade) (MARCH et al., 1993); contradicoes, ambiguidades e
incerteza (PETERS; SAVOIE, 1996; MARCH; OLSEN, 1989); garbage can
(COHEN; MARCH; OLSEN, 1972); descentralizacao x coordenacao (KAUFMAN,
1995); diversidade de interesses x one size fits all e dilemas de acao
coletiva (PRESSMAN; WILSAVSKY, 1971); poder (SEIDMAN, 1998);
contradicoes de funcoes (SEIDMAN, 1996); absorcao de incertezas
(DESVEAUX, 1994); altas expectativas (PETERS; SAVOIE, 1996); e demandas
conflitantes (BRUNSON; OLSEN, 1993).
No presente estudo, chama-se a atencao para as duas primeiras
explicacoes, relacionadas ao solido enraizamento dos elementos a serem
reformados, considerando-se que as "reformas ocorrem em ambientes
altamente institucionalizados que tornam as mudancas muito lentas e com
reduzida efetividade", e a resistencia organizada dos setores
afetados pelas reformas, pelo fato de que as "reformas enfrentam
resistencia organizada por tres razoes: a) beneficios gerados pelo
status quo; b) oposicao calculada; e c) reduzida habilidade para a
mudanca" (CAIDEN, 1999; KAUFMAN, 1995 apud REZENDE, 2002:62).
Gomes (2006) afirma que a administracao publica e caracterizada por
multiplas dimensoes, apresentando, de modo simultaneo, caracteristicas
dos modelos patrimonialista, burocratico e gerencial. O que se pode
denominar de hibridismo e apontando pelo referido autor como a razao de
as iniciativas de reforma, que propuseram a substituicao de um modelo
por outro, nao terem conseguido modificar sua critica a situacao.
Entende-se, na abordagem apresentada por este trabalho, que e
necessario compreender os mecanismos relacionados a mudanca, como
eventuais resistencias, para que ela seja institucionalizada e consiga
alcancar, de fato, seus objetivos. Para que as reformas possam ser
compreendidas como mudancas organizacionais, devem-se levar em
consideracao os aspectos culturais do pais, como uma primeira etapa a
ser observada, e nao somente tentar moldar modelos de reforma adotados
por outros paises em um pais cuja realidade e totalmente peculiar.
Nao sao suficientes mudancas apenas estruturais, uma vez que e
necessario modificar os proprios processos decorrentes na gestao
publica. Matos (1988) faz uma distincao entre Modernizacao
Organizacional (MO) e Modernizacao Administrativa (MA). A MO abrange,
segundo o autor, dimensoes politicoeducacionais, desenvolvidas de modo
constante nas organizacoes sociais com o objetivo de gerar
transformacoes nas relacoes de trabalho e de poder, nos custos e nos
resultados organizacionais. A MA, por sua vez, e uma tentativa limitada
de modificar a organizacao somente no campo estrutural, modificando
normas e procedimentos e simplificando rotinas.
E preciso assumir a modernizacao como processo continuo,
[...] abrangendo todos os niveis e segmentos organizacionais e
integrando as dimensoes tecnica, politica e comportamental.
Simplificacao de estruturas e procedimentos: racionalizacao de tempo e
espaco; criterios e valores de comportamento, bem como a melhoria de
qualidade e de relevancia social dos servicos e bens da organizacao,
como objetivos a serem alcancados a partir do esforco consistente e
engajado dos atores organizacionais, ocupantes ou nao de funcoes
gerenciais. Necessidade de reciclar as praticas e relacoes de poder e
substituir o autoritarismopaternalismo burocratico por um regime
administrativo pautado em valores e mecanismos que garantam o respeito
mutuo nas relacoes de trabalho e nas relacoes dos agentes
organizacionais com o ambiente externo. (MATOS, 1988:1).
A mudanca organizacional e um assunto desafiador, seja por sua
profundidade e complexidade, seja pela variedade de enfoques existentes.
As correntes ora dominantes tornam-se ultrapassadas dado o fluxo
constante de inovacao e renovacao e, ainda, as rupturas que ocorrem no
meio do desenvolvimento das ideias. Dessa forma, e considerando as
caracteristicas do ambiente em que as organizacoes se inserem e toda sua
dinamica, ocorre o surgimento de novas abordagens organizacionais e o
abandono do paradigma mecanicista das mudancas puramente estruturais.
No entanto, deve-se considerar o fato de que o ambiente, por si so,
nao provoca mudancas dentro da organizacao; sao as pessoas que criam
novos rumos e cursos estrategicos. Nesse sentido, a mudanca
organizacional deve ser entendida e trabalhada nao somente sob a otica
de estrategias, processos ou tecnologias, mas como uma mudanca de
relacoes: do individuo com a organizacao, dele com seus pares, da
organizacao com a sociedade, do individuo com a sociedade e dele consigo
mesmo.
Para que haja esse entrosamento entre as partes, exigem-se do setor
publico transparencia e seriedade nos servicos prestados. Para Barrett
(2002), sao os cidadaos os primeiros a conhecer se os recursos publicos
estao sendo utilizados de modo apropriado e o que esta sendo alcancado
com eles. Entende-se, dessa forma, que e de fundamental importancia
maior participacao dos cidadaos no processo de formulacao e implantacao
de uma reforma administrativa, para uma atuacao conjunta com seus
representantes.
Os desafios para um bom relacionamento entre governo e sociedade
civil devem ser superados por ambas as partes. De acordo com Resende e
Teodosio (2008), o governo necessita aprender a gerenciar,
compartilhando o poder, e as organizacoes da sociedade civil, de seu
lado, devem cada vez mais superar diferencas, avancar em suas praticas
de gestao e, tambem, no proprio controle social sobre suas atividades,
de modo a atuar no espaco publico local e alcancar os resultados
esperados de sua atuacao.
Em muitos locais ja vem sendo consolidados os novos mecanismos de
participacao, que, conforme Schommer (2003), compreendem os conselhos
municipais e estaduais, o orcamento participativo e a incorporacao e
revalorizacao de organizacoes tradicionais, como associacoes de bairro,
clubes de maes, grupos de jovens e da terceira idade, conselhos de pais
nas escolas e outros.
Nesse sentido, reforca-se a ideia introduzida pelo novo servico
publico de unificar os esforcos dos cidadaos, dos grupos de individuos e
do governo para o oferecimento de um servico publico que atenda todos os
seus usuarios com a qualidade que todos merecem e a que tem direito.
6. CONSIDERACOES FINAIS
A trajetoria modernizante da administracao publica brasileira
representa a tentativa de substituicao da administracao patrimonial pela
burocratica, e revela, na perspectiva do Estado, uma dificil
compatibilizacao e uma relacao de disfuncionalidade reciproca entre
politica e administracao, entre burocracia e democracia. Essa trajetoria
indica que o etos patrimonialista e uma forca social dinamica
constitutiva desse processo (MARTINS, 2007).
As reformas administrativas no Estado brasileiro apresentam-se como
tentativas de evolucao, mas, apesar de o discurso propagar rupturas
drasticas, na pratica elas nao se confirmam. De fato, uma revolucao
demandaria algo completamente novo, que rompesse em definitivo com toda
a heranca positiva ou negativa, o que nao seria exequivel. Nesse
sentido, considerando a historia dos processos de reformas e
modernizacoes promovidas na esfera da administracao publica brasileira,
e possivel afirmar que o que se verifica e a tentativa de eliminar
praticas cujas aplicacoes estao esgotadas.
Contudo, apesar de se verificar periodicamente, ao longo dos
ultimos 80 anos, a tentativa de introducao de novas praticas, visando a
melhoria da performance das instituicoes publicas, e perceptivel que
ainda nao foi possivel, sequer, eliminar de fato alguns tracos, como o
patrimonialismo. Essa heranca, herdada da Velha Republica, tem
consequencias prejudiciais internamente a administracao publica e
compromete a qualidade e a quantidade dos servicos ofertados a
populacao.
Verifica-se, entretanto, que os movimentos de reforma implantados a
partir do Governo Getulio Vargas contribuiram para a evolucao da
administracao publica, apesar das disfuncoes apresentadas paralelamente.
Talvez a grande falha esteja, exatamente, no fato de que os proponentes
das novas propostas, ao se fascinarem pelo novo, ao se renderem a
necessidade do discurso inflamado contra os antecessores, ignorem a
realidade e promovam as reformas apenas no plano do
"palanque", no plano tatico, chegando, as vezes, ao nivel
estrategico, mas sem criar as condicoes para sua operacionalizacao.
Alias, e preciso chamar a atencao para o fato de que, nesses planos
mirabolantes, percebe-se sempre a importancia atribuida aos gestores e,
eventualmente, a importancia da inclusao da sociedade civil nos
movimentos de mudanca; aos servidores publicos que nao ascenderam a
condicao de gestores, e que sao obviamente a maioria, e atribuido o
papel de resistentes a mudanca. A administracao publica e realizada por
um contingente de cidadaos que, a exemplo daquela maioria a quem seus
servicos se destinam, em geral tambem nao tem direito a voz, sendo
excluidos da construcao e implantacao dos processos de mudanca.
Na percepcao dos autores deste ensaio, os caminhos para a
transformacao da administracao publica nao se iniciam pela transformacao
dos elementos que compoem o subsistema dos lideres, representado pelo
paternalismo. Essa transformacao deve ser iniciada pelos individuos que
compoem o subsistema dos liderados, cujo sistema dominante nao lhes
permite sair da condicao de "expectador" ou os estimula a
continuar adotando a postura de "evitar o conflito". Ao
transferirem as responsabilidades para cima ou deixarem de exercer sua
cidadania, os individuos desse subsistema contribuem para a manutencao
da concentracao de poder na mao de poucos, ao mesmo tempo em que
alimentam as praticas personalistas.
Nesse sentido, compreende-se que as contribuicoes (nao as
disfuncoes!) do modelo burocratico idealizado por Weber, que deram vida,
de fato, as organizacoes, particularmente a meritocracia, aliadas as
contribuicoes do modelo gerencial, especialmente no que se refere a
retirar o foco do processo, levando-o para os resultados propriamente
ditos, constituem avancos fundamentais para a administracao publica.
Somando-se a essas contribuicoes a inclusao da sociedade civil no
processo de cogestao do servico publico, introduzida pela filosofia do
Novo Servico Publico, parece-nos possivel fechar um circulo para que,
finalmente, o governo possa ser realmente "do povo, pelo povo e
para o povo", como disse Abraham Lincoln, ainda no seculo XIX, ao
definir o significado de um governo democratico.
No que diz respeito as novas tendencias da administracao publica
brasileira, ainda em processo de construcao, sugere-se a elaboracao de
pesquisas sobre a consolidacao ou nao das novas abordagens na gestao
publica.
7. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
ABRUCIO, F. L. Os avancos e os dilemas do modelo pos-burocratico: a
reforma da administracao publica a luz da experiencia internacional
recente. In: BRESSER-PEREIRA, L. C.; SPINK, P. Reforma do Estado e
administracao publica gerencial. 6. ed. Sao Paulo: FGV, 2005.
--. O impacto do modelo gerencial na administracao publica: um
breve estudo sobre a esperiencia internacional recente. Cadernos ENAP,
Brasilia, n. 10, 1997.
--. Trajetoria recente da gestao publica brasileira: um balanco
critico e a renovacao da agenda de reformas. Revista de Administracao
Publica, Edicao Especial Comemorativa, p. 6787, 2007.
ALFORD, J. Why do Public-sector clients coproduce? Toward a
contingency theory. Administration & Society, v. 34, n. 1, p. 32-56,
Mar. 2002. <http://dx.doi.org/10.1177/0095399702034001004>.
ANDION, C. Por uma nova interpretacao das mudancas de paradigmas na
administracao publica. Cadernos EBAPE.BR, Rio de Janeiro, v. 10, n. 1,
mar. 2012.
BARRET, P. Achieving better practice corporate governance in the
public sector. Australia, 2002. Disponivel em:
<http://www.anao.gov.au/uploads/documents/Achieving_Better_Practice_Corporate_Governance_in_the_Public_Sector1.pdf>. Acesso em: 12 fev.
2010.
BARROS, Betania T. de; PRATES, Marco A. S. O estilo brasileiro de
administrar. Sao Paulo: Atlas, 1996.
BOUCKAERT, G.; HALLIGAN, J. Managing Performance: International
Comparisons. London: Routledge, 2008.
BRESSER-PEREIRA, L. C. Construindo o Estado republicano: democracia
e reforma da gestao publica. Rio de Janeiro: FGV, 2009.
--. Da administracao publica burocratica a gerencial. In:
BRESSER-PEREIRA, L. C.; SPINK, P. K. (Orgs.). Reforma do Estado e
Administracao Publica Gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. p.
75-121.
--. Reforma do Estado para a cidadania. A reforma gerencial
brasileira na perspectiva internacional. Brasilia: ENAP; Sao Paulo:
Editora 34, 1998a.
--. Reforma gerencial da Administracao Publica no Brasil. Revista
do Servico Publico, v. 49, n. 1, p. 5-42, 1998b.
BRUDNEY, J.; ENGLAND, R. Toward a definition of the coproduction
concept. Public Administration Review, v. 43, n.1, p. 59-65, 2003.
<http://dx.doi.org/10.2307/975300>.
CALDAS, M. P. Santo de casa nao faz milagre: condicionantes
nacionais e implicacoes organizacionais da fixacao brasileira pela
figura do "estrangeiro". In: MOTTA, F. C. P.;
CALDAS, M. P. (Orgs.). Cultura organizacional e cultura brasileira.
1. ed. Sao Paulo: Atlas, 2007.
CARVALHO, M. C.; FELGUEIRAS, D. Orcamento participativo no ABC.
Revista Polis, n. 34, 2000.
COOPER, T. L.; KATHI, P. C. Neighborhood councils and city
agencies: a model of collaborative coproduction. National Civic Review,
v. 94, n. 1, p. 43-53, Spring 2005.
<http://dx.doi.org/10.1002/ncr.82>.
COSTA, F. L. Historia das reformas administrativas no Brasil:
narrativas, teorizacoes e representacoes. Revista do Servico Publico,
Brasilia, v. 59, n. 3, p. 271-288, 2008.
DENHARDT, R. Public Administration Theory: The State of the
discipline. Compilado por Naomi Lynn e Aaron Wildavsky. Chatham: Chatham
House Publishers Inc., 1990.
DENHARDT, J. V.; DENHARDT, R. B. The New Public Service. Serving,
not steering. New York: M. E. Sharpe, 2003.
DINIZ, E. Globalizacao, Reforma do Estado e Teoria Democratica
Contemporanea. Sao Paulo em Perspectiva, v. 15, n. 4, p. 13-22, 2001.
<http://dx.doi.org/10.1590/S0102-88392001000400003>.
FLEURY, M. T. L. O desvendar a cultura de uma organizacao: uma
discussao metodologica. In: FLEURY, M. T. L.; FISCHER, R. M. Cultura e
poder nas organizacoes. Sao Paulo: Atlas, 1990.
FLYN, N.; STREHL, F. Public Sector Management in Europe. New York:
Prentice-Hall, 1996.
GLADE, W. A complementaridade entre a reestruturacao economica e a
reconstrucao do Estado na America Latina. In: BRESSERPEREIRA, L. C.;
SPINK, P. K. (Orgs). Reforma do Estado e Administracao Publica
Gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV, 2006. p. 123-140.
GOMES, J. F. Os modelos (dimensoes) de administracao publica e a
realidade da gestao publica brasileira: do patrimonialismo a
possibilidade de uma gestao democratica. In: REUNIAO ANUAL DA SBPC, 58.,
2006, Florianopolis, SC. Anais ... Florianopolis, SC: SBPC, 2006.
GOODSELL, C.T. The concept of public space and its democratic
manifestations. American Review of Public Administration, v. 33, n. 4,
p. 361-383, 2003. <http://dx.doi.org/10.1177/0275074003254469>.
GREY, C. Towards a critique of managerialism: the contribution of
Simone Weil. Journal of Management Studies, v. 33, n. 5, p.
591-612,1996. <http://dx.doi.org/10.1111/j.1467-6486.1996.tb00810.x>.
HOLANDA, N. A crise gerencial do Estado brasileiro. In: VELLOSO, J.
P. R. (Org.). Brasil: a superacao da crise. Sao Paulo: Nobel, 1993.
KETTL, D. F. A revolucao global: reforma da administracao do setor
publico. In: BRESSERPEREIRA, L. C.; SPINK, P. K. (Orgs). Reforma do
Estado e Administracao Publica Gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV,
2006. p. 75-121.
LUSTOSA DA COSTA, F.; CAVALCANTI, B. S. Mudanca organizacional no
setor publico. Revista de Administracao Publica, v. 25, n. 1, p. 82-106,
1991.
MACHIAVELLI, N. di B. dei. O principe. Porto Alegre: L&PM,
2006.
MARE. Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado. Brasilia:
Presidencia da Republica; Imprensa Oficial, 1995.
MARSHALL, M. J. Citizen participation and the neighborhood context:
a new look at the coproduction of local public goods. Political Research
Quarterly, v. 57, n. 2, p. 231-244, June 2004.
MARTINS, H. F. A etica do patrimonialismo e a modernizacao da
administracao publica brasileira. In: MOTTA, F. C. P.; CALDAS, M. P.
(Orgs.). Cultura organizacional e cultura brasileira. 1. ed. Sao Paulo:
Atlas, 2007.
MATIAS-PEREIRA, J. Curso de Administracao Publica: foco nas
instituicoes e acoes governamentais. 2. ed. Sao Paulo: Atlas, 2009.
MATOS, R. de A. Para que modernizar a organizacao publica? Revista
de Administracao Publica, v. 22, n. 3, p. 22-26, 1988.
MEDEIROS, A. C. de; VASCONCELLOS, J. G. M. Gestao das organizacoes
no Brasil: em busca de um paradigma. In: MEDEIROS, A. C. de; BRASIL, H.
V.; VASCONCELLOS, J. G. M. Cultura organizacional: em busca de um
modelo. Vitoria: [s. n.], 1992.
MEIRELLES, H. L. Direito Administrativo Brasileiro. Sao Paulo:
Malheiros, 2000.
NASCIMENTO, A. de L. Cultura organizacional. Monografia
(Especializacao em Qualidade e Produtividade)--Universidade Federal do
Espirito Santo, Vitoria, 1999.
NOGUEIRA, M. A. Um Estado para a sociedade civil. Sao Paulo:
Cortez, 2005.
NUNBERG, B. Gerencia de Recursos Humanos no Setor Publico: licoes
da reforma em paises desenvolvidos. Cadernos ENAP, Brasilia, n. 14.
1998.
OSBORN, D.; GAEBLER, E. Reinventing Government. Reading Mass:
Addisson-Wesley, 1992.
OSBORNE, S. P. Voluntary Organisations and Innovation in Public
Services. London: Routledge, 1998.
PAES DE PAULA, A. P. Administracao publica brasileira: entre o
gerencialismo e a gestao social. Revista de Administracao de Empresas,
v. 45, n. 1, p. 36-49, 2005b.
--. Por uma nova gestao publica. Rio de Janeiro: FGV, 2005a.
PEREIRA, J. M. Administracao Publica no Brasil: Politicas de
revalorizacao das carreiras tipicas de Estado como fator de atracao de
novos talentos para o servico publico federal. Revista Observatorio de
la Economia Latinoamericana, Universidade de Malaga, v.12, n. 1, p.
1-29, 2004. Disponivel em: <www .eumed.net/cursecon/ecolat/br/j mp
carreiras.doc>. Acesso em: 15 jun. 2010.
POLLITT, C. Managerialism and Public Service. 2. ed. Cambridge:
Bail Blackwell, 1993.
PRZEWORSKI, A. Sobre o desenho do Estado: uma perspectiva agent x
principal. In: BRESSER-PEREIRA, L. C.; SPINK, P. K. (Orgs). Reforma do
Estado e Administracao Publica Gerencial. 7. ed. Rio de Janeiro: FGV,
2006. p. 39-73.
RAMOS, A. G. Administracao e Contexto Brasileiro. Rio de Janeiro:
Editora Fundacao Getulio Vargas, 1983.
RAMOS, A. G. A Nova Ciencia das Organizacoes: uma
reconceitualizacao da riqueza das nacoes. Rio de Janeiro: Editora
Fundacao Getulio Vargas, 1989.
RESENDE, G. A.; TEODOSIO; A. S. Descentralizacao e democratizacao
de politicas sociais: venturas e desventuras da sociedade civil
organizada no Brasil. In: ENCONTRO DA ASSOCIACAO NACIONAL DE
POSGRADUACAO E PESQUISA EM ADMINISTRACAO, 32., 2008, Rio de Janeiro.
Anais ... Rio de Janeiro: ANPAD, 2008.
REZENDE, F. da C. O dilema do Controle e a falha sequencial nas
reformas gerenciais. Revista do Servico Publico, v. 53, n. 3, p. 53-77,
2002.
--. Por que falham as reformas administrativas. Rio de Janeiro:
FGV, 2004.
SALM, J. F.; MENEGASSO, ME. Os Modelos de Administracao Publica
como Estrategias Complementares para a Coproducao do Bem Publico.
Revista de Ciencias da Administracao, v. 11, n. 25, p. 68-96, 2009a.
--. Os pressupostos para a implementacao do novo servico publico e
o capital social. In: COLOQUIO INTERNACIONAL SOBRE PODER LOCAL:
DESENVOLVIMENTO E GESTAO SOCIAL DE TERRITORIOS, 11., 2009, Salvador.
Anais... Salvador, BA: [s. n.], 2009b.
SCHOMMER, P. C. Gestao Publica no Brasil: noticias do teatro de
operacoes. Revista de Administracao de Empresas, Sao Paulo, v. 43, n. 4,
out./dez. 2003.
SCHWARTZMAN, S. A abertura politica e a dignificacao da funcao
publica. O Estado e a Administracao Publica. Brasilia: FUNCEP, 1987.
SPINK, P. K. Discurso e ideologia gerencial: reflexoes a partir da
experiencia brasileira. In: MOTTA, F. C. P.; CALDAS, M. P. (Orgs).
Cultura organizacional e cultura brasileira. 1. ed. Sao Paulo: Atlas,
2007.
TORRES, M. D. de F. Estado, democracia e administracao publica no
Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
VIEIRA, R. E. Administracao publica democratica no estado de
direito: o novo servico publico no cenario brasileiro. Revista Direitos
Fundamentais & Democracia. v. 4, n. 4, jul./dez. 2008.
WHITAKER, G. P. Coproduction: citizen participation in service
delivery. Public Administration Review, v. 40, n. 3, p. 240-246,
May/June 1980. <http://dx.doi.org/10.2307/975377>.
DOI: 10.5700/rege487
Recebido em: 15/8/2011
Aprovado em: 21/11/2012
Ronan Pereira Capobiango
Professor do Departamento de Ciencias Contabeis e Juridicas da
Universidade
Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri--Teofilo Otoni-MG,
Brasil
Mestre em Administracao pelo Programa de Pos-Graduacao em
Administracao da Universidade Federal de Vicosa
Graduado em Ciencias Contabeis pela Universidade Federal de Vicosa
E-mail: ronan.capobiango@ufvjm.edu.br
Aparecida de Lourdes do Nascimento
Professora da Faculdade Cenecista de Vila Velha--Vila Velha-ES,
Brasil
Mestre em Administracao pelo Programa de Pos-Graduacao em
Administracao da
Universidade Federal de Vicosa. Especialista em Qualidade e
Produtividade pela
Universidade Federal do Espirito Santo. Graduada em Ciencias
Contabeis pela
Faculdade de Ciencias Contabeis e Administrativa de Cachoeiro de
Itapemirim
E-mail: aparecida@incaper.es.gov.br
Edson Arlindo Silva
Professor do Departamento de Administracao e Contabilidade,
vinculado
ao Centro de Ciencias Humanas, Letras e Artes da Universidade
Federal de Vicosa--Vicosa-MG, Brasil
Doutor em Administracao. Atua como
professor-pesquisador e orientador junto ao Programa de
Pos-Graduacao em Administracao
E-mail: edsonsilva@ufv.br
Walmer Faroni
Professor do Departamento de Administracao e Ciencias Contabeis da
Universidade Federal de Vicosa--Vicosa-MG, Brasil
Doutor em Administracao pela Universidade de Valencia-Espanha
Graduado em Administracao pela Universidade Federal de Vicosa
E-mail: w.faroni@ufv.br
Quadro 1--Modelo para interpretacao da cultura brasileira
Subsistemas Tracos A sociedade brasileira ...
culturais
dos lideres personalismo valoriza mais o grupo de
"pertenca" do que o individuo
paternalismo apresenta um egocentrismo
dependente, com a construcao de
um capital social baseado nas
relacoes de poder
concentracao baseia-se na
de poder hierarquia/subordinacao
institucional
formalismo apresenta uma discrepancia entre
a conduta concreta e as normas
prescritas
impunidade tem alto grau de tolerancia
quando acontece algo com
alguem do grupo
espectador tem baixa iniciativa, pouca
dos liderados capacidade de realizacao e
transfere a responsabilidade
para as liderancas
flexibilidade convive com a hierarquia em um
ambiente de igualdade de fato
evitar conflito usa solucoes indiretas
pessoal (terceiros) entre polos
divergentes
lealdade as tem na atracao pessoal seu mais
pessoas forte elemento de coesao social,
sem esquecer da atracao pelo
prestigio do grupo
personalismo valoriza mais o grupo de
"pertenca" do que o
individualismo
Fonte: BARROS; PRATES, 1996.
Quadro 2--Correntes que formam a Nova Administracao Publica
Correntes Neoinstitucionalismo Gerencialismo
Principais Ostrom (1986), Pollitt (1993),
autores Williamson (1985), Osborn e Gaebler (1992),
Kaufman(1998) Ferlie et al. (1999),
Kettl (2003)
Teorias Teoria da Agencia Gerencialismo
Teoria das Neogerencialismo
Escolhas Publicas
Institucionalismo da
Escolha Racional
Institucionalismo da
Economia Politica
Foco Entender as leis que Ampliacao do desempenho
estruturam a acao dos dos gestores publicos a
atores politicos, de partir de sua
modo a construir teorias profissionalizacao.
sobre a administracao
publica e a politica,
tendo como referencia
a economia neoclassica.
Correntes Boa Governanca
Principais Kooiman (1993),
autores March e Olsen (1989)
Teorias Governanca Corporativa
Teoria dos Custos de Transacao
Foco Promocao de um estilo otimo de
acao publica e novos arranjos
institucionais na fronteira
entre esfera publica e privada.
Fonte: ANDION, 2012:8-9.
Quadro 3--Limites e pontos positivos da Administracao
publica gerencial e societal
LIMITES
Administracao --Centralizacao do processo decisorio,
Publica Gerencial nao estimulando a elaboracao de instituicoes
politicas mais abertas a participacao social
--Enfase nas dimensoes estruturais em detrimento
das dimensoes sociais e politicas da gestao
--Implementacao de modelo de reforma e gestao
publica inspirado nas recomendacoes e no design
sugeridos pelo movimento internacional de
reforma de Estado
--Inexistencia de uma nova proposta para
organizacao do aparelho do Estado
Administracao --Inexistencia de alternativas mais sistematicas
Publica Societal de gestao coerentes com seu projeto politico
--Falta de uma estrategia que articule as
dimensoes economico-financeira, institucional-
administrativa e sociopolitica da gestao publica
PONTOS POSITIVOS
Administracao --Clareza em relacao a organizacao do aparelho
Publica Gerencial do Estado e dos metodos de gestao
--A existencia de metodos gerencialistas que vem
melhorando a eficiencia do setor publico,
especialmente no campo economico-financeiro
Administracao --Busca elaborar um projeto de desenvolvimento
Publica Societal que atenda aos interesses nacionais
--Construcao de instituicoes politicas e
politicas publicas mais abertas a participacao
social e voltadas para as necessidades dos
cidadaos
Fonte: PAES DE PAULA, 2005b:46.