International distribution channels in dental equipment industry: exclusive distributors versus nonexclusive distributors/Canais de distribuicao internacionais na industria de equipamentos odontologicos: distribuidores exclusivos versus nao exclusivos/Canales de distribucion internacionales en la industria de equipamientos odontologicos: distribuidores exclusivos versus no exclusivos.
Lima, Gustavo Barbieri ; de Carvalho, Dirceu Tornavoi ; Marangoni, Suzana Marcia 等
1. INTRODUCAO
As questoes de transporte e de distribuicao fisica sao extremamente
importantes em marketing global, por causa das distancias geograficas
envolvidas na fabricacao descentralizada de produtos e no atendimento a
clientes em diferentes partes do mundo. Hoje, muitas empresas estao
reconfigurando suas cadeias de suprimento e distribuicao para cortar
custos e melhorar sua eficiencia (KEEGAN, 2005:317).
Marketing e essencialmente uma atividade corporativa criativa, que
envolve o planejamento e a execucao da concepcao, determinacao do preco,
promocao e distribuicao de ideias, produtos e servicos em uma troca que
nao apenas satisfaz as necessidades atuais dos consumidores, mas tambem
antecipa e cria suas necessidades futuras com determinado lucro. O
marketing, muito mais amplo que a venda, envolve a orientacao de toda a
empresa para a satisfacao do consumidor em um ambiente competitivo
(KOTABE; HELSEN, 2000).
A maioria dos fabricantes nao vende produtos diretamente aos
consumidores finais. Entre eles, ha varios intermediarios realizando
diversas funcoes, os quais constituem canais de marketing (tambem
chamados canais comerciais ou de distribuicao). Alguns desses
intermediarios, como atacadistas e varejistas, compram os produtos,
adquirem direitos sobre eles e os revendem--sao os chamados
comerciantes. Outros, denominados corretores, agentes ou representantes
de vendas, buscam clientes e podem negociar em nome do fabricante, sem,
no entanto, possuirem direito sobre os produtos. A denominacao generica
de distribuidores e adotada para as empresas intermediarias no mercado
internacional. Nesse caso, os distribuidores podem assumir funcoes de
comerciantes (clientes da empresa exportadora) ou de agentes. Para que
transacoes comerciais sejam completadas, tanto em ambito nacional quanto
internacional, funcoes importantes sao realizadas por outras empresas,
como transportadoras, armazens independentes, bancos e agencias de
publicidade. Sao os chamados facilitadores (KOTLER, 2000).
Ainda segundo Kotler (2000), as decisoes referentes aos canais de
marketing estao entre as mais essenciais com que os gerentes tem de
lidar.
Os canais escolhidos afetam todas as outras decisoes de marketing.
O preco estabelecido pela empresa depende de esta se utilizar ou nao das
grandes redes de varejo ou lojas especializadas. A forca de vendas da
empresa e as decisoes de divulgacao dependem do treinamento e da
motivacao dos revendedores. Alem disso, as decisoes de canal da empresa
envolvem compromissos contratuais relativamente de longo prazo com
outras empresas.
As decisoes de canal sao dificeis de gerenciar globalmente, por
causa da variacao nas estruturas de distribuicao autonoma de pais para
pais. Nao obstante isso, certos padroes de mudanca, associados com o
desenvolvimento do mercado, oferecem ao profissional de marketing global
astuto a oportunidade de criar inovacoes de canal e obter vantagem
competitiva (KEEGAN, 2005).
De acordo com Keegan (2005), as caracteristicas dos clientes, dos
produtos, dos intermediarios e do ambiente de negocios impactam no
projeto e na estrategia de canal. Os canais de consumo podem ser
diretos, via correios, de porta em porta, pela internet, por lojas
diretas de fabrica/fabricantes, ou podem envolver um ou mais niveis de
revendedores. Uma combinacao de forca de vendas entre fabricante,
agente/corretores e atacadistas pode tambem ser usada. Os canais para
produtos industriais sao menos variados--utilizam-se da forca de vendas
do fabricante, de atacadistas e de revendedores ou agentes.
Quando o modelo de negocios demanda servicos, produtos
complementares e assistencia tecnica, como e o caso dos produtos
odontologicos, a interacao entre produtores e distribuidores
internacionais torna-se ainda mais complexa, exigindo grande cooperacao
entre as partes para que a estrategia de entrada em novos mercados tenha
maiores chances de sucesso.
2. OBJETIVOS DO ESTUDO
O objetivo central deste estudo e analisar, de forma comparativa,
as estrategias de canais internacionais utilizadas por uma empresa
brasileira (ALFA) e uma estrangeira (BETA) do mesmo setor de
atividade--equipamentos odontologicos--, discutindo elementos da relacao
entre as empresas produtoras e seus intermediarios no que diz respeito a
exclusividade ou nao destes em representar a marca daquelas.
Os objetivos especificos sao: a) investigar os fatores de poder
presentes em uma relacao de exclusividade entre exportador e seus
intermediarios; b) analisar as opcoes de que dispoe um fabricante no
contexto das limitacoes estrategicas proprias e produtos de tecnologia
com alto impacto no trabalho dos clientes em paises estrangeiros.
3. REFERENCIAL TEORICO
3.1. Canais de Distribuicao
Durante os ultimos 20 anos, mudancas significativas e graduais tem
ocorrido na estrategia de suprimento global. A maioria das mudancas esta
na maneira como os executivos comerciais avaliam o escopo do suprimento
global para suas empresas e exploram as varias oportunidades resultantes
como fonte de vantagem competitiva. Peter Drucker, famoso guru da
administracao e historiador de empresas, disse uma vez que o suprimento
e a logistica permaneceriam "o continente mais obscuro das
empresas"--a area menos explorada do negocio, para a obtencao de
vantagem competitiva. Como e natural, muitas empresas que tem um escopo
limitado de suprimento global estao em desvantagem em relacao aquelas
que o exploram em sua extensao mais plena, em um mercado globalmente
competitivo. (KOTABE; HELSEN, 2000:273).
A Associacao Americana de Marketing define canais de distribuicao
como "[...] uma rede organizada de empresas e instituicoes que, em
combinacao, executam todas as atividades necessarias para ligar
produtores e usuarios a fim de realizar a tarefa de marketing."
Distribuicao e o fluxo fisico de bens pelos canais; e, como e sugerido
pela definicao, os canais sao constituidos de um grupo coordenado de
individuos ou empresas que realizam funcoes que acrescentam utilidade a
um produto ou servico (KEEGAN; GREEN, 1999).
Os canais de marketing ou de distribuicao sao conjuntos de
organizacoes interdependentes envolvidas no processo de disponibilizacao
de um produto ou servico para uso ou consumo (COUGHLAN et al., 2002).
Segundo Pelton, Strutton e Lumpkin (1997:11), canal de distribuicao
e "um conjunto de relacionamentos de troca que criam valor ao
consumidor na aquisicao, consumo e disposicao de produtos e
servicos".
Os canais de distribuicao constituem formas de estruturar,
desenvolver e preservar os relacionamentos entre seus participantes, na
busca de obtencao de vantagens competitivas sustentaveis pelas empresas,
tanto de forma isolada quanto coletivamente. A importancia e dada ao
planejamento, a organizacao e ao controle das aliancas firmadas entre as
organizacoes e suas relacoes internas (STERN; EL-ANSARY; COUGHLAN,
1996).
De acordo com Kotler (2000), um sistema de distribuicao e um
recurso externo muito importante que demanda anos para ser construido e
nao e facilmente modificado. E tao essencial quanto os recursos
internos, como fabricacao, pesquisa, engenharia e vendas. Esse sistema
representa um compromisso corporativo significativo com diversas
empresas independentes, cujo negocio e a execucao de funcoes de
marketing com os mercados especificos por elas atendidos. Isso
representa tambem um compromisso com um conjunto de politicas e praticas
que constituem a trama sobre a qual sao tecidos os relacionamentos de
longo prazo.
Para Stern, El-Ansary e Coughlan (1996), os intermediarios
facilitam o fluxo de mercadorias e servicos. Esse procedimento e
necessario para diminuir a distancia entre a variedade de mercadorias e
servicos oferecida pelo fabricante e a variedade necessaria para atender
a demanda do consumidor. Essa distancia resulta do fato de os
fabricantes normalmente produzirem uma grande quantidade de uma
variedade limitada de mercadorias, enquanto os consumidores normalmente
desejam uma quantidade limitada de uma grande variedade de mercadorias.
Os canais de distribuicao sao sistemas que ligam os fabricantes aos
consumidores. Embora os canais para produtos de consumo e os canais para
produtos industriais sejam similares, ha tambem algumas diferencas
claras. Os canais de consumo sao projetados para por a producao nas maos
das pessoas para seu proprio uso; os canais industriais entregam os
produtos a fabricantes ou a organizacoes que os utilizam no processo de
producao ou em operacoes do dia a dia (KEEGAN, 2005).
Para Jeannet e Hennessey (2001), dentro da estrutura do marketing
mix ou composto de marketing, o profissional de marketing internacional
toma decisoes relacionadas aos canais de distribuicao sobre cada uma das
seguintes variaveis:
1. Densidade de distribuicao. Densidade se refere ao nivel de
exposicao ou cobertura desejada para um produto, particularmente ao
numero de canais de venda necessarios para prover cobertura adequada
para todo o mercado;
2. Extensao do canal. O conceito de extensao do canal envolve o
numero de intermediarios envolvidos na entrega de determinado produto ao
mercado;
3. Cooperacao no canal e lideranca. A area de cooperacao negocia
com a estrutura do canal escolhida pelos membros, visando alcancar
estrategias unificadas;
4. Logistica de distribuicao. Logistica envolve o fluxo fisico de
produtos assim que se movem atraves do canal.
3.2. A Importancia e as Funcoes dos Canais e dos Intermediarios na
Distribuicao
No desempenho de sua funcao de disponibilizar produtos e servicos
para uso ou consumo e satisfazer os usuarios finais no mercado--sejam
eles consumidores ou compradores de empresas--, grande parte das
estruturas de canais utilizam intermediarios que desempenham algum papel
na distribuicao de produtos e servicos (COUGHLAN et al., 2002).
Dessa forma, Stern, El-Ansary e Coughlan (1996) e Coughlan et al.
(2002) destacam a importancia da existencia dos canais relacionando
atividades especificas ligadas a funcao de distribuicao e atendimento
das necessidades dos usuarios finais e separando tal funcao em fatores
segundo a demanda e a oferta. Por parte da oferta, destacam-se fatores
como (a) a facilitacao da busca, por meio da qual os intermediarios
ajudam a reduzir as incertezas no processo de distribuicao (incertezas
de necessidade, mercado e transacao) (PELTON; STRUTTON; LUMPKIN, 1997),
e (b) o ajuste de discrepancias de sortimento. Por parte da demanda,
destacam-se (c) a criacao de rotina de transacoes; (d) a reducao no
numero de contatos e (e) a facilitacao na transmissao e troca de
informacoes. Em resumo, Coughlan et al. (2002) destacam que os
intermediarios participam do esforco de canal, pois agregam valor e
ajudam a reduzir os custos de distribuicao e de prestacao de servicos ao
cliente. Isso garante ao distribuidor elementos de poder em sua relacao
com o fabricante.
Um canal de marketing transfere as mercadorias dos fabricantes para
os consumidores e pode prestar servicos como instalacao, treinamento,
atualizacao e assistencia tecnica. Ele preenche as lacunas de tempo,
local e posse que separam as mercadorias e os servicos daqueles que
precisam dessas mercadorias ou servicos ou os desejam. Os membros do
canal de marketing ou distribuicao realizam varias funcoes-chave, dentre
as quais, de acordo com KOTLER (2000):
a) Reunir informacoes sobre os clientes potenciais e regulares,
concorrentes e outros participantes e forcas do ambiente de marketing;
b) Desenvolver e disseminar mensagens persuasivas para estimular a
compra;
c) Entrar em acordo sobre preco e outras condicoes para que a venda
possa se realizar, i.e., a transferencia de propriedade do produto;
d) Formalizar os pedidos junto aos fabricantes;
e) Levantar os recursos para financiar estoques em diferentes
niveis no canal de marketing;
f) Assumir riscos com relacao a operacao do canal, dentre os quais
aqueles advindos da obsolescencia, de enchentes, incendio, sazonalidade,
crescimento da competicao, problemas economicos, recalls dos produtos e
baixa aceitacao destes, etc.;
g) Fornecer condicoes para a armazenagem e a movimentacao de
produtos fisicos;
h) Fornecer condicoes para o pagamento das faturas dos compradores
por meio de bancos e outras instituicoes financeiras;
i) Supervisionar a transferencia real de propriedade de uma
organizacao ou pessoa para outra organizacao ou pessoa;
j) Manter a comunicacao adequada entre os agentes,
transmitindo-lhes as percepcoes e informacoes sobre os produtos e
servicos, principalmente a informacao que parte dos consumidores finais,
de fundamental importancia para todos os agentes.
Alem disso, quando o produto demanda assistencia tecnica no cliente
final, o canal internacional deve prestar tais servicos em seu proprio
nome ou em nome do fabricante.
Os objetivos do canal variam de acordo com as especificidades do
produto e com as habilidades e fraquezas dos varios tipos possiveis de
intermediarios (KOTLER; ARMSTRONG, 1995). Stern, El-Ansary e Coughlan
(1996) afirmam que um projeto de canais de distribuicao nao pode ser
desenvolvido se nao se souber qual a estrategia de produto/mercado
adotada pela organizacao; so se pode desenhar o sistema de distribuicao
adequado se houver a ideia clara do produto e do publicoalvo em questao.
3.3. Poder e Conflito nos Canais de Distribuicao
Nos canais de distribuicao, o poder representa a capacidade que o
membro de canal (A) tem de conseguir que outro membro de canal (B) faca
qualquer coisa que de outro modo nao faria. Assim, o poder e o potencial
para influenciar (COUGHLAN et al, 2002).
Sao diversas as fontes de poder presentes no relacionamento
interfirmas (FRENCH JR.; RAVEN, 1959; PELTRON; STRUTTON; LUMPKIN, 1997;
ROSENBLOOM, 1999; COUGHLAN et al., 2002):
* Recompensa--A fonte tem possibilidade de distribuir recompensa a
um agente;
* Coercao--A fonte tem possibilidade de punir o agente;
* Experiencia--A fonte tem acesso a conhecimento e habilidades
desejados pelo agente;
* Referente--O agente valoriza a identificacao com a fonte;
* Legitimo--O agente acredita (ou existe lei que legitima) que a
fonte tem direito natural de influencia-lo.
Ao formularem a teoria das bases do poder, os autores acima citados
adotam a perspectiva de um fabricante (denominado fonte) para discutir
como este pode influenciar o comportamento de um distribuidor (ou
agente). Entretanto, essa perspectiva pode se inverter quando o
distribuidor tem mais poder de mercado do que o fabricante. Isso e comum
em grandes redes de supermercados, que, por terem controle sobre um
grande volume de vendas e ampla area de exposicao de produtos, impoem
condicoes para fabricantes, em especial para aqueles cujas marcas nao
tem forca ou reconhecimento necessario para despertar desejo nos
consumidores finais.
Uma caracteristica importante das relacoes de poder entre membros
de canal e a criacao de dependencia entre eles, que serve de medida
relativa de poder no canal. A dependencia tende a aumentar quando os
resultados do relacionamento sao comparativamente maiores ou melhores do
que os de outros relacionamentos alternativos, e o reconhecimento mutuo
de interdependencia acaba ocorrendo quando o parceiro acredita que o
termino de uma relacao ja estabelecida sera dificil e custoso para ele e
para seu cliente ou fornecedor (FONTENOT; WILSON, 1997 apud LOPES;
SILVA; CONEJERO, 2010).
Essas questoes podem levar a conflitos de canal, que ocorrem quando
partes independentes em niveis diferentes do mesmo canal tentam bloquear
umas as outras, de forma direta, pessoal e centrada no comportamento do
oponente (ROSENBLOOM, 1999; COUGHLAN et al, 2002).
Quanto aos estagios do conflito, geralmente se iniciam em um nivel
tao basico que as partes envolvidas nem se dao conta de sua existencia;
com o tempo, no entanto, podem se desenvolver de um estagio latente para
um conflito percebido, um conflito sentido e ate um conflito manifesto
(PONDY, 1967 apud BERMAN, 1996; MARTINELLI; ALMEIDA, 1998; COUGHLAN et
al, 2002 apud CONSOLI; NEVES, 2005).
Assim, a importancia de manter niveis de conflito que sustentem a
satisfacao dos membros de canal e ressaltada por Hunt e Nevin (1974 apud
RUEKERT; CHURCHILL, 1986 apud CONSOLI; NEVES, 2005), pois a satisfacao
de um membro de canal conduzira a (1) maior moral no canal; (2) melhor
cooperacao; (3) reducao de quebras de relacionamento; (4) reducao de
acoes judiciais individuais ou de classe; e (5) reducao de esforcos para
procurar protecao legal.
Segundo Mentzer, Min e Zacharia (2000) apud Lopes, Silva e Conejero
(2010), quanto maior a interdependencia entre as empresas, mais fortes
os motivos que dao forma a uma parceria estrategica de longo prazo entre
elas. Entretanto, caso uma das partes esteja em posicao de poder
relativo ou de dependencia relativa, o aumento da assimetria dessa
dependencia gerara maior conflito, maior desconfianca e menor
compromisso. A dependencia dentro do relacionamento de canal nao e um
acontecimento negativo, desde que o relacionamento seja baseado em
cooperacao e confianca.
3.4. Exclusividade na distribuicao
Os produtores veem vantagens em ter distribuidores exclusivos ou
que operem com o menor numero possivel de produtos de concorrentes, para
prestar um servico especializado, promover a marca do fabricante e
estabelecer um posicionamento claro em mercados internacionais
importantes. O distribuidor, por sua vez, deseja o maximo possivel de
produtos, para que possa atender as demandas e especificidades de
diversos clientes ou consumidores. Essa e fonte comum de conflito nas
relacoes entre exportadores e distribuidores internacionais.
Os contratos podem exigir exclusividade (os distribuidores podem
levar apenas produtos da empresa aquele mercado), carregamento de toda a
linha de produtos da empresa (linha completa) e outros. Existem
vantagens e desvantagens na exigencia da exclusividade. O argumento no
sentido da vantagem de ter linhas concorrentes e o de que ha maior
estimulo, eficiencia e fidelizacao do cliente final pelo distribuidor,
que levam a ganhos tambem para o fabricante, o qual cede para que o
distribuidor represente marcas concorrentes (NEVES, 1999).
Castro (2008) relaciona a obtencao de vantagem da parceria de canal
com a obtencao de mais dependencia de um parceiro em relacao a outro e a
consequente conquista de maior influencia daquele que oferece a vantagem
da parceria. De fato, quando um fabricante oferece a vantagem da
parceria para um distribuidor, isso significa que o ultimo ira
considerar mais seriamente solicitacoes ou demandas do primeiro. Isso
ocorrera, sobretudo, se o distribuidor perceber que sua empresa esta
recebendo mais vantagem do que entregando a esse parceiro. Por isso,
obter uma posicao de maior ou pelo menos de igual "vantagem da
parceria" permite ganhar mais poder de influencia sobre outros.
Por serem organizacoes independentes, os distribuidores
internacionais tendem a apresentar comportamentos orientados para metas
individuais, particularmente interessados em desenvolver uma identidade
separada dos seus fornecedores internacionais. Assim, as questoes de
conflito e poder sao inerentes a esses sistemas de distribuicao (CASTRO,
2008).
3.5. Estrategia de canal para entrada em mercados estrangeiros
Uma empresa que expande sua atuacao para alem das fronteiras
nacionais, muitas vezes encontra-se em posicao de entrar em um mercado
pela primeira vez. Para tanto, a empresa tem de usar canais
estabelecidos ou construir seus proprios canais. Obstaculos de canais
sao frequentes quando uma empresa entra em um mercado competitivo em que
as relacoes de marcas e suprimentos estao firmemente estabelecidas.
Geralmente, ha pouco incentivo imediato para um agente de canal
independente aceitar um novo produto quando nomes estabelecidos sao
aceitos no mercado e estao satisfazendo a demanda atual. A empresa que
procura entrar nesse mercado tem que proporcionar algum incentivo aos
agentes do canal ou estabelecer seu proprio sistema de distribuicao
direta (PALIWODA; THOMAS, 2001; KEEGAN, 2005).
Ainda segundo Keegan (2005), uma empresa pode decidir proporcionar
incentivos especiais a agentes independentes de canal; contudo, esse
caminho pode ser extremamente dispendioso. A empresa pode oferecer
pagamentos diretos bonus em dinheiro ou premios de competicao ligados ao
desempenho das vendas. Em mercados competitivos com precos
suficientemente altos, os incentivos podem tomar a forma de garantia de
margens brutas.
Estabelecer a distribuicao direta em um mercado novo tambem pode
ser dispendioso. Os representantes de vendas e os gerentes de vendas tem
de ser recrutados e treinados. A organizacao de vendas perdera muito,
inevitavelmente, em seu primeiro estagio de operacao em um novo mercado,
porque nao tera volume suficiente para cobrir seus custos gerais. O
custo de uma forca de vendas direta e um impedimento ao estabelecimento
da distribuicao direta em um mercado novo. Nao obstante isso, muitas
vezes e o metodo mais eficaz. Na verdade, em muitos casos, a
distribuicao direta e a unica maneira viavel de uma empresa se
estabelecer em um novo mercado. Usando uma forca de vendas, o fabricante
pode assegurar vendas agressivas e atencao para seus produtos.
Um investimento suficiente de recursos na atividade de vendas,
secundado por programas apropriados de comunicacao (incluindo
propaganda), pode, com o tempo, permitir a um fabricante ter produtos e
precos competitivos e obter uma participacao de mercado razoavel. Quando
os objetivos de participacao de mercado sao atingidos, o fabricante pode
pensar em passar de vendas diretas para intermediarios independentes.
Essa mudanca se transforma em uma possibilidade quando a participacao de
mercado e o reconhecimento do mercado tornam a marca do fabricante
atraente para os intermediarios independentes (KEEGAN, 2005).
Conforme Keegan e Green (1999), decisoes sobre canais sao
importantes por causa do numero e da natureza das relacoes que devem ser
administradas. Essas decisoes normalmente envolvem compromissos e
obrigacoes legais de longo prazo com outras empresas e individuos.
Muitas vezes e extremamente dispendioso encerrar ou alterar esses
compromissos. Mesmo nos casos em que nao ha obrigacoes legais, os
compromissos podem contar com a garantia da boa-fe e de sentimentos de
obrigacao, que sao igualmente dificeis de administrar. Do ponto de vista
dos profissionais de marketing estabelecidos em um unico pais, a
disponibilidade de canais em diferentes partes do mundo e uma fonte
valiosa de informacoes e ideias sobre novas abordagens possiveis para
todos os elementos do marketing mix internacional.
4. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
A presente pesquisa caracteriza-se como qualitativa, de natureza
exploratoria. Pesquisa qualitativa e uma metodologia de pesquisa nao
estruturada, exploratoria, baseada em pequenas amostras, que proporciona
insights e compreensao do contexto do problema. Seu objetivo e alcancar
uma compreensao qualitativa das razoes e motivacoes subjacentes ao
objeto de pesquisa, e a analise dos dados em seu ambito e nao
estatistica (MALHOTRA, 2001). Mattar (1996) afirma que a pesquisa
exploratoria visa prover o pesquisador de maior conhecimento sobre o
tema ou problema de pesquisa em perspectiva. Este tipo de pesquisa e
particularmente util quando se tem uma nocao muito vaga do problema de
pesquisa. A pesquisa exploratoria podera ajudar o pesquisador a saber
quais das varias opcoes se aplicam ao problema de pesquisa.
Tendo-se discutido os objetivos do artigo com base na literatura,
concebeu-se um estudo empirico para explorar particularidades nos
modelos de relacao entre fabricantes e distribuidores internacionais.
O presente estudo utilizou-se do metodo de estudo multicaso
(BONOMA, 1985; CAMPOMAR, 1991; YIN, 2001) para analisar duas empresas da
industria de equipamentos odontologicos, denominadas, para efeito de
analise, de empresas ALFA (nacional) e BETA (estrangeira), e comparar
suas relacoes com distribuidores internacionais. Essas analises se
baseiam em entrevistas em profundidade com a Gerente de Produtos e o
Diretor Comercial da empresa ALFA (MALHOTRA, 2001). Os estudos de caso
das empresas BETA e GAMA estao pautados na analise dos websites
institucionais, assim como em pesquisas na Internet, na experiencia dos
autores com o setor medicohospitalar-odontologico, na participacao em
feiras, etc. Com relacao a empresa GAMA, tratase de um distribuidor das
empresas ALFA e BETA na Russia.
O protocolo de estudo de casos trabalhou com o conceito de diade,
envolvendo a identificacao dos parceiros internacionais de cada
fabricante e proporcionando a analise tanto de como o fabricante e
retratado pelo distribuidor quanto de como ele proprio se posiciona. Um
protocolo para o estudo de caso e mais do que um instrumento. O
protocolo contem o instrumento, mas tambem os procedimentos e as regras
gerais que deveriam ser seguidas ao se utilizar o instrumento. E
desejavel possuir um protocolo para o estudo de caso em qualquer
circunstancia, mas ele e essencial se se estiver utilizando um projeto
de casos multiplos. O protocolo e uma das taticas principais para
aumentar a confiabilidade da pesquisa de estudo de caso, e destina-se a
orientar o pesquisador a conduzir o estudo de caso (YIN, 2001).
5. ANALISE E RESULTADOS
5.1. A empresa ALFA (Nacional)
5.1.1. Historico e Caracterizacao
Fundada no Estado de Sao Paulo na decada de 40, a empresa ALFA
iniciou sua historia baseada no pioneirismo e na pesquisa de novos
conceitos de trabalho para a odontologia.
A empresa ALFA, com seis decadas de atividades no mercado,
construiu uma reputacao de seriedade e qualidade voltada para o
desenvolvimento da odontologia. Desde seu inicio, a empresa investe na
formacao de equipes e em pesquisa e desenvolvimento de produtos que
atendam as necessidades de cirurgioes dentistas e pacientes. Atualmente,
possui mais de 80 mil consultorios dentarios em operacao no territorio
nacional, e sua linha de 116 diferentes equipamentos fabricados
ultrapassa fronteiras e esta presente nos cinco continentes (Website da
empresa, 2009).
No Brasil, a empresa possui 17 distribuidores e 23 representantes
em todos os Estados, dos quais tres sao filiais (Rio de Janeiro-RJ,
Campinas-SP e Salvador-BA).
Alguns dos produtos fabricados e exportados pela ALFA sao:
consultorios odontologicos, aparelhos de diagnostico por imagem (Raio
X), esterilizacao, fotopolimerizadores, amalgamadores, profis, succao de
alta potencia, compressores, mochos, produtos de consumo e pecas de mao
(Website da empresa, 2009). Dos produtos fabricados pela empresa, apenas
alguns nao sao exportados.
5.1.2. A atuacao da empresa ALFA no mercado externo
A empresa ALFA exporta ha mais de 40 anos, mas poucas empresas no
Brasil tem a necessidade de buscar o mercado externo. A industria tem
mais de 60 anos de existencia e o mercado nacional sempre foi suficiente
para absorver sua producao, de acordo com o Diretor Comercial da
empresa. No inicio das exportacoes nao se "vendiam" os
produtos, os clientes e que os "compravam" (nao havia um
esforco fenomenal nesse sentido). Nao havia uma estrutura especializada
para o comercio exterior, destinada exclusivamente as vendas
internacionais.
Com o acirramento da competicao no mercado interno (Brasil), dentre
outros fatores, a empresa comecou a buscar novos mercados, estruturando
a area de exportacao (contratando Gerente, Assistentes). Ate entao, a
ALFA nao se havia estruturado para ser uma empresa internacional.
Atualmente, a empresa realiza suas vendas internacionais para 84 paises.
Entretanto, os paises em que a empresa esta mais concentrada sao:
Bolivia, Chile, Polonia, Espanha, Paraguai e India.
Os produtos da empresa sempre foram desenvolvidos para o mercado
nacional, sem as devidas adaptacoes para o mercado de fora da America
Latina. Atualmente, a empresa esta desenvolvendo um projeto que envolve
a importacao de equipamentos odontologicos de concorrentes
internacionais para que o departamento de engenharia da empresa possa
analisa-los (Benchmarking). Deve-se destacar que a empresa sempre
realizou o Benchmarking, mas nao focava as necessidades dos clientes do
mercado externo ao determinar as caracteristicas dos novos produtos.
Pela primeira vez a empresa esta realizando um estudo minucioso,
com uso de pesquisas de mercado, para analisar as necessidades dos
consumidores internacionais (de fora da America Latina). Com isso,
pretende mudar a tradicao de fazer pouca ou nenhuma adaptacao de produto
para os varios segmentos do mercado internacional. Isso constitui um
sinal de que a empresa esta preocupada com o grau de controle e
efetividade de suas operacoes internacionais.
Ao contrario do que ocorre no Brasil, os distribuidores
internacionais da ALFA nao sao exclusivos. A empresa escolheu esse
modelo de distribuicao por ser uma maneira rapida de inserir seus
produtos no mercado externo, ja que a parceria com fortes distribuidores
locais auxilia no reconhecimento da marca "ALFA" em cada
regiao.
A principal acao promocional internacional da empresa ALFA e a
participacao em feiras. No calendario da empresa ha sete feiras
internacionais: IDS (Alemanha), maior feira do setor odontologico
mundial, e outras tambem importantes, como a FDI, a AMIC, que cobre a
America, a Expodental de Madrid e Milao e outras duas nos Emirados
Arabes Unidos e na India. A empresa arca com a maior parte dos custos e
leva consigo o representante regional. Trata-se de utilizar o poder de
recompensa, pois a empresa esta gerando negocios para seu representante,
ao mesmo tempo em que procura criar poder de referencia estimulando o
agente a valorizar a fonte e a identificar-se com ela, no caso, a
empresa ALFA.
Muitos distribuidores participam de varias outras feiras regionais
de menor porte nos mercados em que atuam, levando e demonstrando
produtos da empresa ALFA e tambem equipamentos de outros fabricantes.
Trata-se, nesse caso, de um investimento do distribuidor sem apoio
financeiro da industria ALFA. Assim, os distribuidores apresentam outros
produtos pelo fato de nao serem exclusivos, ao contrario do que acontece
no Brasil.
5.1.3. A divisao de funcoes de distribuicao no mercado externo para
a empresa ALFA
No contexto dos canais de distribuicao para o mercado externo,
praticamente 100% das exportacoes sao para distribuidores independentes.
A natureza do produto da ALFA exige que os distribuidores prestem
assistencia tecnica e servico pos-venda aos clientes.
As funcoes dos distribuidores internacionais assemelham-se as dos
distribuidores domesticos, exceto pelo fato de os ultimos serem
exclusivos da marca, enquanto os primeiros nao. Os demais participantes
do canal internacional da empresa e suas respectivas funcoes estao
sumarizadas no Quadro 1.
Os dirigentes da empresa ALFA sao bastante favoraveis a
internacionalizacao da empresa e a busca por novos mercados. Ha, porem,
certa insatisfacao em faze-lo por meio da estrategia atual, com
distribuidores independentes, especialmente em razao da dificuldade de
monitorar a forma pela qual estes "usam e posicionam" a marca
da empresa. Ha certa preocupacao com esse aspecto, pois os
distribuidores/revendedores geralmente trabalham tambem com diversas
marcas de outras empresas/paises.
A empresa acredita que o ideal a ser realizado seria uma analise
aprofundada de cada mercado (pais-alvo) e a elaboracao de um
planejamento de marketing internacional para o posicionamento da marca
em cada pais. Todavia, com a atual estrutura da empresa, nao e possivel
que esse objetivo seja alcancado nos 84 paises para os quais exporta.
Uma alternativa e restringir o numero de paises atendidos e servi-los
com maior rigor e atencao (produtos mais adequados, precos especificos,
distribuicao/praca e promocao direcionadas aos clientes-alvo
internacionais), adaptando os produtos as necessidades dos clientes.
5.2. A Empresa BETA (Estrangeira)
5.2.1. Breve Caracterizacao
A empresa BETA (estrangeira) teve uma fase de crescimento de suas
atividades nos anos 60, quando iniciou o processo de criacao das
empresas associadas em todo o mundo, para aumentar as vendas e abrir os
mercados internacionais.
Para atender o mercado sul-americano, constituiu, na decada de 60,
a filial BETA brasileira, sua primeira fabrica fora da Europa. Desde sua
fundacao, a empresa BETA e conhecida por seu poder de inovacao tambem na
area de instrumentos. Vale ressaltar que quando a empresa estrangeira
BETA chegou ao Brasil em 1960, a empresa ALFA ja existia ha 14 anos. O
tamanho do mercado brasileiro, alem dos incentivos a implantacao de
industrias no pais (que trouxeram outras empresas ao pais,
destacadamente as de automovel e energia) e da qualidade da pesquisa e
ensino odontologico nacionais, fez com que a filial brasileira surgisse
como a primeira a receber uma planta industrial fora do pais de origem.
Uma estrategia de entrada, por meio de investimento estrangeiro direto
(FDE), completamente diferente daquela usada pela ALFA em seus
primordios: vender para quem quisesse comprar pelo mundo afora.
5.2.2. Os Distribuidores da empresa BETA no Brasil
A empresa BETA nao revela detalhes, mas afirma possuir apenas
distribuidores exclusivos. Um deles e a empresa GAMA (caracterizada na
sequencia), empresa que pode ser tipica do setor no Brasil, razao pela
qual e analisada no presente estudo como diade da relacao.
A visao declarada da GAMA e
[...] oferecer produtos medicos, hospitalares e
odontologicos com a mais alta qualidade,
produtos esses que vao de materiais de consumo
a equipamentos, com o compromisso de serem
fabricados pelas melhores marcas, seguindo os
mais rigorosos testes de qualidade, garantindo
assim um produto com alta durabilidade e
eficiencia comprovada.
Observa-se que a empresa GAMA se posiciona como o fornecedor
confiavel do dentista, trazendo para si a responsabilidade de garantir
produtos de qualidade.
Como varejista de produtos com tecnologia e valor agregado, a GAMA
tambem procura se diferenciar pela qualidade da prestacao de servicos,
trabalhando com agilidade na entrega de seus pedidos, alem de dispor de
uma equipe de vendedores treinada e experiente, que atua realizando
trabalhos tecnicos, divulgando seus produtos e garantindo seguranca e
suporte adequado as necessidades de cada cliente.
Observa-se que a BETA (estrangeira) e a unica empresa de
equipamento base--a cadeira do cliente e as ferramentas que formam a
estacao de trabalho do dentista. Mas e apenas uma dentre as dezenas de
marcas de outros equipamentos e materiais de consumo demandados por um
consultorio odontologico. Essa e a logica da distribuicao exclusiva de
uma categoria, mas o revendedor independente dispoe de varias categorias
para atender seu cliente, e o contrato de exclusividade de uma marca em
uma categoria nao implica que em outras categorias isso tambem seja
necessario (ou desejavel). Assim, o revendedor reduz sua dependencia de
um unico fornecedor e oferece atendimento completo ao seu cliente. A
base do poder na relacao com fornecedores esta na legitimidade da
relacao com os clientes finais, alvo de ambas as empresas.
5.3. A empresa GAMA (Distribuidor das empresas ALFA e BETA na
Russia)
O estudo desta empresa teve a finalidade de analisar a atuacao de
um distribuidor internacional com grande insercao em seu mercado-alvo,
no caso um mercado internacional, para ambas as empresas, ALFA e BETA.
A empresa GAMA foi fundada na Russia na decada de 90 e hoje e a
maior fornecedora de equipamentos e materiais medico-odontologicos do
pais. A empresa orgulha-se de ter conquistado, como fornecedores, os
cinco maiores fabricantes europeus, alem de representar mais de 100
fabricantes no campo da medicina e da odontologia em todo o mundo.
A reputacao da GAMA com relacao a variedade de produtos que
satisfazem os requisitos dos clientes locais faz com que a empresa ocupe
uma posicao dominante no mercado russo. Para melhor atender ao amplo
escopo estrategico, a GAMA tornou-se um grupo de empresas especializadas
na area medica e odontologica. Em seu website, a empresa GAMA se diz
representante exclusiva no mercado russo de diversos fabricantes. A
empresa atende a mais de 15.000 clinicas na Russia com equipamentos e
materiais de consumo. Ao se buscarem no site da GAMA as marcas que sao
foco do presente estudo empirico, foram encontradas 32 mencoes aos
produtos ALFA e 11 mencoes aos produtos BETA. Apenas um dos hiperlinks
listados estava ativo, levando para o produto da empresa ALFA.
E interessante observar como o termo exclusividade e utilizado por
essa distribuidora. A GAMA se diz distribuidora exclusiva de uma marca
italiana para o mercado russo. Com isso, possivelmente quer dizer que
nenhum outro distribuidor no pais representa a marca italiana, e nao que
a GAMA nao comercialize outras marcas dentro da mesma categoria, ou
seja, tanto para a marca italiana quanto para a ALFA e para a BETA a
GAMA nao e um distribuidor exclusivo.
Esse exemplo sugere que as bases de poder na relacao entre
fabricantes e a GAMA tem o seguinte perfil: os fabricantes podem
recompensar o agente com margens de lucros atrativas e, eventualmente,
podem punir o agente (retirando fontes de lucro), mas tudo indica que a
coercao e pouco presente. Por sua parte, a GAMA tem poder por sua
experiencia, e assim e fonte de acesso a conhecimentos e habilidades
desejadas pelo agente (o fabricante).
Em um mercado que, em termos historicos, acaba de se abrir para a
competicao internacional, como e o caso da Russia, os clientes finais
nao tem referencia precisa das marcas alternativas e de seus respectivos
custos / beneficios e aportes tecnologicos. Assim, a GAMA, ao conquistar
a confianca dos clientes finais, coloca-se como referencia, e,
novamente, o agente (neste caso, o fabricante) valoriza a identificacao
de sua marca com a fonte (neste caso, a GAMA), transmitindo
credibilidade, numa inversao do que seria de esperar em mercados mais
maduros.
6. CONSIDERACOES FINAIS, LIMITACOES DO ESTUDO E SUGESTOES PARA
PESQUISAS FUTURAS
A presente pesquisa teve, como objetivo central, analisar de forma
comparativa as estrategias de canais internacionais utilizadas por uma
empresa brasileira (ALFA) e uma estrangeira (BETA) do mesmo setor de
atividade equipamentos odontologicos--, discutindo elementos da relacao
entre as empresas produtoras e seus intermediarios no que diz respeito a
exclusividade ou nao destes em representar a marca daquelas. Assim
sendo, apos o que foi explicitado na investigacao empirica, atingiram-se
os objetivos (central e especificos) e constatou-se o que segue.
Operar com distribuidores internacionais independentes e uma forma
de fazer exportacao com amplo escopo geografico e baixo nivel de
investimento. Essa estrategia, utilizada pela ALFA, foi uma forma de
acelerar seu processo de internacionalizacao e testar mercados
desconhecidos. Nao e por acaso que a maior parte das empresas se utiliza
dessa estrategia, com o intuito de repartir custos e riscos com seus
parceiros internacionais e valer-se da experiencia do distribuidor para
promover uma melhor adaptacao ao mercado estrangeiro.
Entretanto, essa estrategia, como agora descobre a ALFA, causa
dependencia em relacao aos distribuidores, que nem sempre se dispoem a
trabalhar a marca com o empenho desejado pelo fabricante. Assim, a
empresa se defronta com o dilema de investir para ter mais controle
sobre as variaveis do mix de marketing e de seus mercados de atuacao.
A ALFA estuda possibilidades de promover uma evolucao natural, nao
traumatica, para outras formas de atuacao em mercados internacionais
selecionados. Uma delas e selecionar distribuidores que aceitem
condicoes contratuais que deem a ALFA maior controle sobre
variaveischave de marketing, em especial aquelas relacionadas com o
posicionamento e a imagem de marca. Serao necessarios varios anos de
investimento para mudar, de forma segura, a estrategia de atuacao em
mercados internacionais por meio de distribuidores nao exclusivos.
Entretanto, essa parece ser a melhor forma de conseguir que a marca da
empresa adquira a mesma relevancia no mercado externo que hoje tem no
Brasil.
A empresa BETA, por outro lado, optou por uma estrategia de
internacionalizacao de muito maior envolvimento e investimento desde o
inicio. Mesmo assim, em mercados novos, como e o caso do russo, a
empresa enfrenta questoes similares as da ALFA e tende a compor seus
canais de forma hibrida, admitindo distribuidores nao exclusivos que lhe
auxiliem a se posicionar em um mercado pouco conhecido.
A natureza dos produtos que foram foco do estudo, ou seja,
tecnologia com alto impacto no trabalho dos clientes, faz com que estes
tendam a estabelecer uma relacao mais proxima com o distribuidor do que
com o fabricante, comprando varios outros itens necessarios a um
consultorio odontologico. Nesse contexto, a questao da exclusividade tem
significados variados, segundo a perspectiva do fabricante ou do
distribuidor.
Em mercados novos, quando os clientes finais tem pouca experiencia
com marcas internacionais, caso da Russia, o distribuidor ganha poder na
diade fabricante-distribuidor por ter a chave do mercado externo.
Um tema relevante para estudos futuros e medir a rentabilidade do
fabricante, em prazos diferentes, com o uso de um tipo de desenho de
canal ou outro, desde o menos exclusivo ate os exclusivos, franqueados e
proprios. Apesar de representarem retornos provavelmente diferentes,
investimentos no distribuidor ou na rede propria fazem parte do negocio,
A pergunta para uma pesquisa futura e: quais sao os retornos desses
investimentos em prazos medio e longo?
DOI: 10.5700/rege495
Recebido em: 8/01/2010
Aprovado em: 15/12/2011
Gustavo Barbieri Lima
Mestre em Administracao pela Faculdade de Economia, Administracao e
Contabilidade da Universidade de Sao Paulo, campus de Ribeirao
Preto Ribeirao
Preto-SP, Brasil
Bacharel em Administracao de Empresas pela Universidade Paulista,
campus de
Ribeirao Preto. Pesquisador do Markintec--Pesquisa e Estrategia de
Marketing na FEARP-Universidade de Sao Paulo. Pesquisador do ININT
Grupo
de Estudos em Inovacao e Internacionalizacao de Empresas na
FEARPUniversidade
de Sao Paulo
E-mail: barbieri.lima@yahoo.com.br
Dirceu Tornavoi de Carvalho
Professor Livre-Docente de Marketing na Faculdade de Economia,
Administracao
e Contabilidade da Universidade de Sao Paulo, campus de Ribeirao
Preto--Ribeirao
Preto-SP, Brasil. Mestre e Doutor em Administracao pela FEA-USP
Pos-graduado em Comercio Eletronico e Marketing pela Vanderbilt
University, EUA
Coordenador e Pesquisador do Markintec--Pesquisa e Estrategia de
Marketing--FEARPUSP.
Coordenador do Curso MBA Marketing--Fundace--FEARP-USP.
E-mail: tornavoi@usp.br
Suzana Marcia Marangoni
Mestre em Administracao de Organizacoes pela FEARP-USP--Ribeirao
Preto-SP, Brasil
Especialista em Marketing e Propaganda pela Unitoledo. Especialista
em Ensino a
Distancia pelo Uniseb Interativo. Graduada em Administracao pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS)
E-mail: suzanamarangoni@yahoo.com.br
Nayara Carvalho Alves Pereira
Bacharel em Administracao de Empresas pela FEARP-USP---Ribeirao
Preto-SP, Brasil
E-mail: nayanacap04@yahoo.com
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Quadro 1--Intermediarios e facilitadores e suas
funcoes na empresa ALFA
Funcoes
Intermediarios Intermediar a distribuicao (venda) de produtos
no exterior medico-odontologicos nos mercados internacionais.
A empresa ALFA exporta seus produtos com marca do
fabricante que sao comercializados no exterior.
Os intermediarios se responsabilizam pela
assistencia tecnica e reposicao de pecas.
Participam de feiras setoriais regionais
especificas e realizam propaganda (divulgacao
da marca) em alguns mercados. Os intermediarios
divulgam a marca em todos os mercados
(comunicacao comercial).
Facilitadores Atualmente, a empresa utiliza a modalidade
Transportadores/ Ex-works, ou seja, entrega os produtos na porta
Armadores da fabrica e, apos a retirada, a responsabilidade
e do importador. Este e responsavel por contratar
o agente de carga (para todo embarque e
necessario um). Ambos sao responsaveis pela
reserva do navio/voo, pelo despacho, pela
liberacao na alfandega e pelo desembaraco das
mercadorias no destino. Com relacao a
documentacao, a ALFA emite a Commercial Invoice
(Fatura Comercial), a Packing List e os
certificados de origem. O AWB (aereo) ou o B/L
(maritimo) (Conhecimentos de embarque) sao
emitidos pela companhia maritima ou aerea,
dependendo da modalidade contratada pelo cliente,
ou seja, os custos de transporte sao de
responsabilidades do distribuidor.
Empresas de A ALFA possui dois centros de distribuicao, um
Estocagem em Dubai (Emirados Arabes Unidos) e outro na
Inglaterra (Londres), em parceria com a Agencia
de Promocao de Exportacao e Investimentos
(APEX-Brasil) e a ABIMO (Associacao Brasileira
da Industria de Artigos Medicos, Odontologicos,
Hospitalares e de Laboratorio).
Recintos Alfandegados: a ALFA paga
um aluguel por este servico.
Seguradoras A empresa, usualmente, exporta seus produtos
nas modalidades Incoterms FOB (Free on Board),
Ex-works (fabrica) e CIF (Cost, Insurance and
Freight). Atualmente, vendem mais FOB e Ex-works,
pois clientes internacionais reclamavam dos
valores embutidos (seguro e frete). Contrata-se
o seguro, porem ele e muito pouco utilizado.
Fonte: Elaborado pelos autores, com base
nas entrevistas semiestruturadas.