Discourse analysis of "women in business" associated to business professional women/Analise do discurso de "mulheres de negocio" associadas a business professional women/Analisis del discurso de "mujeres de negocio" asociadas a la business professional women.
Menezes, Raquel Santos Soares ; de Oliveira, Janete Lara
1. INTRODUCAO
A insercao de profissionais do genero feminino nas mais diversas
areas do mercado de trabalho tem provocado mudancas que se estendem da
esfera pessoal e profissional a propria sociedade. Embora nao se trate
de um fenomeno recente, o "empreendedorismo feminino"
(MACHADO; SILVEIRA; GOUVEA, 2008), termo generico que vem sendo
utilizado para designar a iniciativa de mulheres que abrem um negocio
proprio ou decidem trabalhar de forma autonoma, desponta como mais que
uma alternativa a complementacao da renda familiar. No Brasil, hoje,
estima-se que as mulheres sejam a "chefe da casa" em um terco
dos lares. As projecoes apontam que, em alguns anos, metade das familias
brasileiras tera no trabalho da mulher sua principal fonte de renda
(IBGE, 2010).
Essa nova realidade amplia as possibilidades de investigacao dos
fenomenos influenciados por questoes de genero, ja que o papel ocupado
pela mulher ultrapassa nitidamente o espaco inicial definido para sua
atuacao, restrita a esfera da vida familiar, como esposa e mae. Na base
da separacao dos papeis relativos a vida privada estaria a reproducao
biologica e social, enquanto a vida publica seria o espaco de trabalho e
atividades de producao (BOURDIEU, 2001). A primeira estariam vinculados
a estabilidade, a seguranca, o respeito e o afeto, caracteristicas
associadas ao universo feminino. Ja o espaco publico do trabalho seria o
local da despersonalizacao, da frieza e das incertezas da realidade do
mundo dos negocios, aspectos atribuiveis ao dominio masculino.
A medida que ocupa novos espacos no mercado de trabalho, um novo
sujeito feminino comeca a se formar. Ele emerge nao apenas na percepcao
de si e de seus pares, femininos, mas tambem na de seus opostos,
masculinos. Nesse contexto, nao apenas as relacoes sociais e familiares
se reconfiguram, mas as proprias relacoes de genero. Um interessante
ponto de vista sobre o assunto e apresentado por Louro (2002). A autora
analisou as representacoes sociais de professoras em meados do seculo
XX, questionando a "fabricacao" daquele sujeito na esfera
publica, ja que, ate entao, lugar de mulher era em casa, cuidando do
marido e dos filhos. As representacoes, nesse sentido, tiveram um papel
ativo na construcao da professora e deram um sentido ao que e (era) ser
professora.
Deve-se ressaltar que o trabalho de Louro (2002) analisava a
representacao de professoras em um momento em que a profissao comecava a
ser vista como (tambem) feminina. A problematica desse grupo foi
investigada pela autora sobre um pano de fundo que incluia questoes
como: "Entao, como as mulheres professoras eram
representadas?" "Quem as representava?" "O que se
dizia sobre elas?" "Quem escrevia sobre elas e para elas
poemas, oracoes, discursos cancoes?" "Quem as caricaturava ou
louvava?" (LOURO, 2002:464). Aqui, tambem, parte-se de questoes
como essas para investigar a construcao da mulher de negocios, no
sentido de buscar compreender como tais representacoes produzem as
subjetividades por meio de um processo social.
Assim, busca-se investigar o processo de constituicao de um sujeito
historico contemporaneo--a mulher de negocios. Segundo Scott (1986), o
genero deve ser tomado como categoria de analise historica, uma vez que
possibilita a compreensao dos variados papeis e simbolismos dos generos
nas diferentes sociedades e periodos, bem como os significados
atribuidos a eles.
Na presente analise, o foco da construcao de sentidos sobre o que
venha a ser a mulher de negocios e o discurso das proprias mulheres.
Segundo Louro (2002), os discursos sobre generos carregam sentidos que
explicam como homens e mulheres constituiram (e constituem) suas
subjetividades; para o autor, e tambem em referencia a tais discursos e
no interior deles que elas e eles constroem suas praticas sociais,
assumindo, transformando ou rejeitando as representacoes que lhes sao
propostas.
A abordagem das representacoes sociais possibilita, a partir de
conjuntos de narrativas, a compreensao da logica e da visao de mundo
subjacentes as representacoes femininas no ambito dos negocios. Para a
analise de tais narrativas, propoe-se a tecnica da Analise de Discurso
(AD), como forma de aprofundar a compreensao do "querer dizer"
presente em cada discurso. A AD apresenta-se, assim, como ferramenta
para a compreensao das estrategias discursivas presentes nas narrativas
(FIORIN, 2003) das mulheres que se consideram "de negocio" e
sao desse modo validadas pela associacao da qual fazem parte. Qual a
trajetoria dessas mulheres? O que elas aprendem, ao longo de suas vidas,
que traduz a visao de mundo de uma empreendedora bem-sucedida? O que o
"trabalho autonomo" representa para elas?
Na tentativa de buscar possiveis elucidacoes dessa problematica,
apresenta-se a seguir a analise de seis textos selecionados de uma
coletanea de "casos bem-sucedidos" das associadas BPW de
Londrina-PR, e que foram escolhidos intencionalmente por conterem alguns
aspectos comuns em relacao a trajetoria de sucesso. A analise do
discurso dessas seis mulheres permite identificar, por meio dos
percursos semanticos, aspectos comuns a tais empreendedoras: por
exemplo, o fato de terem enfrentado condicoes familiares adversas e
atribuirem o sucesso de seus negocios, em parte, a qualificacao
profissional, as relacoes amorosas e familiares, bem como a religiao e a
espiritualidade. A familia de origem interfere na condicao de trabalho e
no desenvolvimento das habilidades empreendedoras da mulher, e o sucesso
esta normalmente vinculado a melhoria das condicoes financeiras da
mulher e de seus dependentes.
Como a maioria dos empreendimentos iniciados pelas mulheres
retratadas no livro da BPW acaba dando origem a empresas familiares,
pelo fato de essas empreendedoras empregarem outras pessoas da familia
ou utilizarem recursos de outros parentes, como marido, pais ou irmaos,
a revisao da literatura inicia-se com este topico: Relacoes de Genero em
Organizacoes Familiares. Na sequencia, discutem-se as Representacoes
Sociais e Feminilidades em Estudos Organizacionais. Nos Procedimentos
Metodologicos abordam-se a Tecnica de Analise de Discurso (AD) e o
corpus de pesquisa considerado. Em seguida, apresenta-se a Analise dos
Discursos escolhidos. Encerram o artigo algumas consideracoes e as
referencias bibliograficas.
2. REFERENCIAL TEORICO
2.1. Relacoes de genero em organizacoes familiares
Seja pelo numero de empregos, e consequentemente pelo numero de
familias que dela dependem para sobreviver, seja pela quantidade de
produtos oriundos de empresas familiares de portes diversos--de fundo de
quintal a grandes conglomerados que atendem mercados nacionais e
internacionais --, a empresa familiar ocupa uma posicao economica
relevante no cenario nacional (LETHBRIDGE, 1997).
No caso especifico da mulher que trabalha na empresa familiar,
Arruda (1996) sugere que ter o proprio negocio e trabalhar nele pode
representar uma forma de a familia compartilhar o proprio tempo. Os
filhos, por exemplo, crescem enquanto sao atendidos no proprio recinto
da organizacao, alem de na propria residencia. Dessa forma, a autora ve
nos incentivos e subsidios a criacao de pequenas empresas uma
"ajuda a familia e a permanencia da mulher no lar".
Isso suscita uma nova concepcao do que venha a ser a
"realizacao" da mulher, que teoricamente implicaria a
necessidade de ter que trabalhar "fora de casa". O lado de
fora, a rua, ganha uma feicao mais branda quando aqueles com quem se
trabalha sao os proprios familiares, definindo uma feminilidade que leva
em conta o papel da mulher como membro da familia e da empresa. Nao por
acaso tem aumentado o numero de mulheres chefes de familia, que fazem da
propria renda a principal fonte de recursos financeiros da casa. Para
Arruda (1996), o exito profissional e a satisfacao de desejos proprios
ganhariam, desse modo, contornos de virtudes de autodoacao conducentes a
plenitude humana, que ocorreria quando familia e negocios estao em
harmonia.
Lopes (2008) verificou que nem sempre o desenvolvimento de tais
"virtudes" e do exito profissional manifesta uma relacao
harmonica em empresas familiares. Embora nao fosse o "sucesso"
a dimensao de estudo principal da autora, e sim as relacoes de poder e
vinculacao de familiares em organizacoes desse tipo, ela verificou, por
meio de estudos de caso, que frequentemente as relacoes de poder das
empresas refletem as relacoes que se constituem no seio da familia. O
genero sobressai como uma das mais marcantes entre as dimensoes que
influenciam tais mecanismos de poder, nao raro excluindo as mulheres dos
processos sucessorios ou das decisoes relativas a empresa.
Machado et al. (2008) investigaram as dimensoes relativas ao
sucesso das mulheres donas de seus proprios negocios, que as autoras
denominam de empreendedoras. Nesse estudo, o desejo de independencia
figura como um dos principais motivos que levam mulheres a iniciar seus
proprios negocios. Nos espacos criados para terem controle sobre seus
proprios recursos, as mulheres empreendedoras nitidamente atribuem
significados de sucesso e fracasso aos negocios em funcao de aspectos
financeiros. Assim, a ausencia de endividamento bancario e a capacidade
de pagamento em dia aparecem como aspectos gerenciais significativos de
sucesso do negocio empreendido. Alem dos fatores relacionados a questao
material e economica do negocio, caracteristicas pessoais, como coragem
e ousadia, etica e equilibrio pessoal, sao apresentadas como indicadores
de sucesso, enquanto egoismo e inveja sao interpretados como fracasso.
Para considerar-se bem-sucedida, e preciso contar com a criatividade e a
capacidade de sonhar, o que configura uma trajetoria de mulher
empreendedora marcada pela superacao e por diversas realizacoes
relacionadas ao negocio proprio.
Para Safiotti (2002), as relacoes de genero devem ser
contextualizadas num espectro maior, que inclui o conjunto das relacoes
sociais. Dessa forma, quando se buscam as representacoes de mulheres de
negocio, e necessario entender a visao feminina a partir de seu proprio
ponto de vista, embora influenciado pela otica dominante no mundo dos
negocios, que e masculina.
No livro "Historia das Mulheres no Brasil" (DEL PRIORE,
2002), varios autores analisam a situacao feminina em distintos momentos
da historia do pais, desde a "Eva Tupiniquim", no periodo
pre-colonial, ate a versao contemporanea apresentada pela escritora
Lygia Fagundes Teles, que utiliza a expressao
"mulher-goiabada" para se referir a sua mae e as mulheres com
mentalidade semelhante a dela, que foram socializadas para os cuidados
da familia e da casa - o que faziam muito bem. Entretanto, um novo
espaco se abriu para as mulheres "inteligentes", dispostas a
estudar em faculdades consideradas masculinas, como as de Direito e
Engenharia, por exemplo. Ligados a conquista desse espaco e a formacao
de uma mulher independente, novos problemas comecariam a surgir, como a
falta de pretendentes dispostos a se casar e dividir com tais mulheres o
espaco publico.
Assim, o que se entende hoje como feminino esta imbuido de um
conjunto de significacoes moldadas ao longo do tempo, a medida que se
definiam maneiras normais e certas de viver como mulher. Cada periodo
historico, bem como cada fase da vida da mulher, definiu um sujeito
submetido a regras de comportamento, de acordo com as expectativas
vigentes, determinando a feminilidade mais privilegiada naquele momento.
A celebre frase de Simone de Beauvoir, "ninguem nasce mulher:
torna-se mulher", permeia, portanto, a concepcao do que vem a ser o
feminino segundo a perspectiva historica do genero.
2.2. Representacoes Sociais e Feminilidades em Estudos
Organizacionais
As representacoes sociais podem ser entendidas como conhecimentos
que, construidos e compartilhados por grupos sociais, contribuem na
construcao das realidades de tais grupos (JODELET, 2001). Assim, as
representacoes sociais do feminino atuam como modelos que influenciam e
regram as vivencias das mulheres, compondo repertorios do que se percebe
como adequado ou inadequado em cada contexto. Analisar as representacoes
sociais do feminino construidas em empresas familiares permite pensar
sobre as possibilidades de construcoes sociais que atualmente se
apresentam e balizam comportamentos e modos de vida dessas mulheres.
Nos ultimos anos, tem-se evidenciado que a ocupacao espacial das
mulheres nas empresas e crescente, como apontam Madruga et al. (2001). A
maioria dos estudos sobre a tematica tem tratado o assunto a partir do
ponto de vista funcionalista, predominante na Administracao, que busca
identificar tracos femininos diferenciadores de gestao ou simplesmente
identificadores de sucesso ou de fracasso (MACHADO et al., 2008). Quando
se aborda a espacializacao simbolica dessa conquista, vislumbra-se um
espaco em que o poder se manifesta, com seus mecanismos mais sutis, no
proprio corpo, que e disciplinado e controlado para atender ao
funcionamento da sociedade atual (FOUCAULT, 1987).
Tal reflexao se aproxima da abordagem dos estudos feministas que
Calas e Smircichi (1999) classificam como pos-estruturalista. Segundo
essa concepcao, o corpo e o locus de legitimacao e normalizacao de
discursos e praticas. Nesta linha de argumentacao, e por meio da
linguagem que a mulher pode dizer "quem ela e", ou seja, as
relacoes de poder e conhecimento sao construidas constantemente em
discursos e praticas que definem sua subjetividade.
As nocoes de poder disciplinar e controle do filosofo frances
Michel Foucault (1987) embasam essa concepcao. Segundo Armstrong (2006),
o modo como Foucault trata as relacoes de poder, corpo e sexualidade tem
estimulado um intensivo interesse dos estudos feministas. Tal fato
decorre principalmente da ideia de corpo e sexualidade como constructos
culturais, ao inves de um fenomeno natural, nao incorrendo na
classificacao fisiologica e binaria que distingue "homens e
mulheres".
Entretanto, e inevitavel recorrer inicialmente a essa classificacao
das relacoes de genero, no Brasil. As formas de organizacao da sociedade
brasileira ainda assentam fundamentalmente no patriarcalismo e na
tradicao. A familia e as organizacoes familiares sao, portanto, o espaco
inicial a ser considerado como palco da representacao de mulheres que se
inserem em um universo tradicionalmente masculino.
Parte-se do pressuposto de que as mulheres incorporam determinadas
caracteristicas para atender a representacoes que lhes sao socialmente
impostas. O corpo representa, nessa concepcao, o repositorio visivel de
formas legitimas de agir, vestir, falar. O discurso das mulheres de
negocio, portanto, vai ao encontro do que se considera desejavel e
correto para a constituicao desse sujeito.
Portanto, as nocoes de corporeidade e historicidade, no sentido de
uma relacao que se desenvolve e muda ao longo do tempo, devem conduzir a
analise das relacoes de genero que se pretendem estudar. Caldwell (2007)
atenta para a presenca desses elementos, tambem ressaltados na obra de
Foucault. O corpo nao e simplesmente o lado de fora ou o receptaculo de
um "self ou mente ativista, mas a forma que incorpora quem se e
historico-culturalmente e em relacao ao genero, sendo definido pelos
discursos de poder e conhecimento.
Embora essa abordagem pos-estruturalista possa dar uma importante
contribuicao as pesquisas sobre genero nos estudos organizacionais,
Capelle et al. outros (2006) constataram que ainda sao poucos os
trabalhos no Brasil que a adotam. Os principais expoentes dessa
vertente, no ambito dos estudos feministas, sao os trabalhos que tratam
das representacoes femininas em veiculos de divulgacao organizacional,
que enfocam a construcao de discursos e representacoes em torno do
fenomeno do genero nas organizacoes.
Um desses trabalhos, tambem de autoria de Capelle et al. (2003),
analisa as representacoes femininas em duas revistas especializadas na
midia de negocios. As autoras comparam os conteudos e discursos
associados a mulher na revista como um todo, desde em sua linha
editorial ate em seus principais editores, incluindo o publico a que a
revista se destina e as reportagens e fotografias que a ilustram, em
especial quando o assunto e "mulher".
Pode-se inferir do trabalho das autoras que grande parte do que se
constroi em termos de um estereotipo feminino nas organizacoes pode ser
atribuida a midia de negocios, que, por meio de um discurso repetido e
ilustrado, propaga a representacao social do que vem a ser uma
"mulher de negocios". Nao raras vezes, essa mulher e
apresentada como uma supermulher, que, alem de executiva, lida tambem
com os papeis de esposa, namorada, amante, e ainda tem preocupacoes
economicas e influencia nas decisoes de compra e poupanca da familia,
entre outras figuras do show-business (CAPELLE et al., 2003). Ficou
evidenciado, pelas diferencas encontradas nas duas revistas, que ou a
mulher e uma "supermulher", que cuida dos afazeres da casa, do
trabalho, dos filhos, da aparencia, da relacao amorosa, e ainda tem
tempo para pensar que "se sente realizada" com tais
atribuicoes, ou entao e uma mera coadjuvante dos processos
organizacionais de que participa, contribuindo apenas indiretamente para
a tomada de decisoes do "homem" que esta a sua frente. Se for
uma executiva de sucesso, aparece com pouca maquiagem, cabelos curtos,
vestida de terno, de bracos cruzados, aproximando-se das representacoes
dos demais atores retratados nas revistas, em sua maioria, homens.
Outro trabalho que aborda essa questao sob o ponto de vista da
representacao social e o de Correa et al. (2007), que analisaram jornais
de comunicacao interna de duas empresas, em uma das quais a maior parte
dos funcionarios e do sexo feminino, ao contrario da outra. Os autores
utilizaram a mesma base de analise de Cappelle et al. (2003), destacando
os assuntos de interesse masculino e feminino destinados a promover a
identificacao dos funcionarios com as representacoes sociais de como
homens e mulheres devem comportar-se, pensar e viver socialmente. Correa
et al. (2007) constataram que os meios de comunicacao perpetuam as
relacoes socialmente construidas, pactuando as desigualdades de genero e
poder, "alem de 'fechar os olhos' para a evolucao
cultural e historica entre os universos masculino e feminino" (op.
cit. :209).
Borges, Medeiros e Miranda (2008) descrevem o que seria uma mulher
de negocios bem-sucedida (e tambem malsucedida). Na pesquisa, os autores
realizaram uma analise semiotica da revista Voce S.A., cujo publico-alvo
sao "homens e mulheres em igual proporcao, porque se dirige aos
profissionais, nao importa o sexo". A analise levada a afeito pelos
autores associou textos e imagens presentes nas capas da revista, e
revelou que estas sao selecionadas de forma a significar que a carreira
executiva pertence ao universo masculino. Ao mesmo tempo, sugere-se que,
para as mulheres, ha uma expectativa, embora distante, de que esse
quadro se modifique.
Numericamente, as mulheres ocupam a minoria das capas da revista no
periodo analisado, que foi de dez anos (1998-2008). Apenas dezesseis de
um total de cento e dezesseis edicoes tem mulheres na capa, que se
apresentam sempre bonitas, jovens, maquiadas e com trajes que remetem a
profissao executiva, como tailleurs e terninhos. Outro ponto bastante
interessante da pesquisa, e que revela ambiguidades, e que em algumas
capas a mulher aparece ao lado de homens, e nestas percebe-se a
representacao de um papel negativo do feminino. Da mesma maneira que na
Idade Media a Igreja "pintou" a mulher como bruxa, a revista
"pinta" a mulher como fofoqueira, capaz de promover a cizania
e exercer um poder de seducao perverso no ambiente organizacional. Alem
disso, outras capas da revista, nao contendo imagens de mulheres,
estampam algum texto que se refere a feminilidade, ressaltando a
capacidade masculina de incorporar possiveis habilidades femininas
valorizadas no universo corporativo.
Verifica-se que muitas sao as possibilidades de estudar,
conjuntamente, as relacoes de poder e genero em organizacoes. Todavia,
ainda ha um amplo espaco para novas abordagens do fenomeno, que sobre
ele lancem um olhar critico, indo alem dos modelos funcionalistas
existentes. Na proxima sessao, apresenta-se uma dessas possibilidades,
que, tomando o discurso de mulheres envolvidas em negocios familiares,
evidencia a empresa familiar como um dos locais para a perpetuacao de
tais relacoes.
3. PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS
3.1. A Analise de Discurso como tecnica em Estudos Organizacionais
Antes de descrever a Analise de Discurso, e necessario ressaltar a
nocao de que se trata de um campo complexo, que comporta multiplas
linhas de investigacao na area das ciencias sociais (GODOI, 2005). No
presente, delimita-se a Analise de Discurso como uma derivacao da
metodologia da Escola Francesa, que tem em Pecheux e Maingueneau seus
principais expoentes.
Para Maingueneau (2000:13), a analise do discurso e "a
disciplina que, em vez de proceder a uma analise linguistica do texto em
si ou a uma analise sociologica ou psicologica de seu
'contexto', visa articular sua enunciacao sobre certo lugar
social". Assim, percebe-se que uma das principais vantagens da
utilizacao dessa tecnica e a possibilidade de interpretacao nao apenas
do que e dito, explicitado, mas sobretudo da ideologia que esta por
detras das falas, daquilo que os atores realmente querem dizer e que nao
e necessariamente explicitado. Fiorin (2003) sugere que um mesmo objeto
pode ser trabalhado por dois discursos de maneiras diferentes. Desse
ponto de vista, os discursos estao relacionados a uma ideologia, a uma
determinada forma de enxergar o mundo, que, em geral, diz o modo como os
individuos devem ou nao agir e, portanto, deve ser vista como uma rede
de relacoes na qual o individuo esta inserido.
Os efeitos de sentido dessas estrategias discursivas de persuasao
evidenciam a relacao entre a sintaxe e a semantica discursiva. Isso e
explicado, de acordo com Fiorin (2003), pelo fato de a sintaxe e a
semantica discursiva se interrelacionarem por meio das estrategias de
persuasao discursiva. A sintaxe, como e o campo da manipulacao
consciente, e mais autonoma que a semantica, definida pela formacao
social. Para fins de analise dos discursos, as duas sao separadas, mas e
necessario considerar essa interrelacao para a identificacao dos
discursos e das ideologias por eles manifestadas.
A semantica discursiva, segundo Fiorin (2000), concretiza a mudanca
do estado narrativo, que e abstrato, para um estado mais concreto. Para
tanto, o autor recorre a diferenciacao entre temas e figuras, que por
sua vez definem textos predominantemente tematicos ou figurativos.
Tematizacao e Figurativizacao seriam, portanto, dois niveis de
concretizacao do sentido. A principio, a oposicao entre tema e figura
estaria diretamente ligada a oposicao abstrato/concreto. Entretanto,
concreto e abstrato nao sao dois termos absolutamente polarizados, mas
sim dispostos em um continuum em que se vai, de maneira gradual, do mais
abstrato ao mais concreto.
Segundo Fiorin (2000), um tema e um investimento semantico, de
natureza conceitual. Os temas serviriam de categorias para organizar,
categorizar e ordenar os elementos do mundo natural. A figura, por sua
vez, e todo conteudo de qualquer lingua natural ou de qualquer sistema
de representacao que tenha um componente perceptivel no mundo natural.
Conjuntamente, os temas e figuras permitem contextualizar os
discursos por meio de trajetorias de sentidos desenvolvidas ao longo da
narrativa, que constituem os percursos semanticos (FARIA, 2001). Para
identificar tais percursos, recorre-se ao nivel das figuras e temas, ja
que esses sao o local privilegiado de manifestacao da ideologia. Ao
encadeamento de figuras, que formam uma trama de relacoes lexematicas,
Fiorin (2003) denomina percursos figurativos. O encadeamento de temas,
por sua vez, constituiria os percursos tematicos.
Correa et al. (2007) ressaltam que a Analise do Discurso e
potencialmente util a analise de entrevistas e discursos veiculados na
midia escrita, uma vez que ela permite reconfigurar os discursos (que
sao explicitados de forma descontinua) numa forma linear, passivel de
ser interpretada. Nesse sentido, essa tecnica e de extrema valia a
analise da construcao das representacoes sociais das mulheres de negocio
consideradas. Por meio da AD, reconstroem-se as visoes de mundo dos
atores sociais a partir da visao dos proprios sujeitos que vivenciam os
fatos.
E importante ressaltar que a tecnica proposta por Fiorin (2000) foi
utilizada, na presente analise, como ferramenta de interpretacao das
narrativas, visando a identificacao dos mecanismos pelos quais os
sentidos de "ser mulher de negocios" sao construidos. Contudo,
e necessario ainda levar em conta a relacao desses discursos com outros
textos que consideram o mesmo assunto sob diferentes perspectivas, para
entao chegar a determinacao ideologica que incide sobre a linguagem.
A pesquisa desenvolvida tem carater qualitativo e busca, na
interpretacao de discursos, a construcao de um sujeito historico
contemporaneo, denominado e validado pela associacao da qual faz parte
como "mulher de negocios". A Business Professional Women (BPW)
define-se como uma organizacao nao governamental (ONG), de ambito
mundial, fundada em 1930, na Suica, que visa a defesa dos direitos da
mulher. Conta com filiadas em mais de cem paises e possui status
consultivo em organismos internacionais como ONU, OIT e UNESCO. No
Brasil, a primeira associacao foi fundada em Sao Paulo, em 1980; em 1987
foi fundada a Federacao Nacional, com sede em Brasilia, que conta
atualmente com cerca de mil socias (BPW Brasil, 2008).
Os textos que constituem o corpus da pesquisa pertencem a uma
coletanea de historias de sucesso de associadas da BPW Londrina, no
Estado do Parana. Trata-se, portanto, de dados secundarios, o que nao
prejudica a qualidade da analise, uma vez que foram escritos para
concorrer a um premio e acabaram publicados em livro. O projeto do livro
foi concebido pelo Sebrae nacional, que realiza o "Premio Sebrae
Mulher de Negocios", lancado em outubro de 2004 para valorizar e
estimular o empreendedorismo feminino, em parceria com a BPW Brasil e a
Secretaria Especial de Politicas para as Mulheres.
A diretoria da BPW Londrina, aproveitando a ideia do Sebrae
nacional, criou o premio Mulher Empreendedora Londrina, e as historias
que concorreram deram origem ao livro Mulher BPW Londrina conta sua
historia, lancado em 2007. O livro reforca a ideia de que a associacao
dessa cidade e uma das mais atuantes do Brasil; uma de suas principais
atividades e a realizacao anual da feira "Mulher Mostra
Londrina", que ja teve nove edicoes. Na feira, as associadas tem a
possibilidade de trocar experiencias, atualizar contatos e efetivar
negocios. No livro, vinte e seis mulheres contaram suas trajetorias,
ressaltando os aspectos que acreditam terem sido essenciais para o exito
profissional. Todos os textos tem o mesmo formato: uma pagina com uma
foto de rosto, nome da mulher e titulo da historia no alto da pagina, um
minicurriculo embaixo e, na pagina seguinte, a historia propriamente
dita.
Feita a leitura de todas as historias, foram escolhidas aquelas
que, na opiniao das pesquisadoras, abrangiam a representacao
"tipica" dessas mulheres de negocio. Entretanto, tambem foi
levada em conta a diversidade de origem das narradoras, bem como os
setores e o porte dos negocios. E importante destacar que, assim como a
BPW Mundial, o perfil das associadas e bastante diversificado, incluindo
desde proprietarias de microempresas, em setores como varejo de
acessorios, ate profissionais liberais, como fotografas e corretoras de
imoveis, e grandes agropecuaristas e diretoras de grupos empresariais. O
Quadro 1 apresenta um breve perfil das mulheres cujas historias foram
escolhidas para o presente artigo. Na sessao seguinte, apresenta-se a
Analise do Discurso.
4. ANALISE DO DISCURSO DE MULHERES DE NEGOCIOS ASSOCIADAS A BPW
Como forma de realizar comparacoes e buscar compreender as diversas
feminilidades representadas pelas mulheres que contaram suas historias,
utilizaram-se elementos da tecnica de
Analise de Discurso proposta por Fiorin (2003, 2000). Quatro
criterios linguisticos foram priorizados, em funcao da pertinencia ao
corpus considerado: os aspectos da selecao lexical, os principais
percursos figurativos e tematicos explicitos e implicitos (incluidos
pessoas/personagens, espacos, tempos e temas) e os principais percursos
semanticos estruturados a partir dos temas e figuras.
4.1. Selecao lexical
A escolha do vocabulario para contar a propria historia perpassa,
ainda que inconscientemente, por vocabulos que explicitem e ressaltem
tanto as principais dificuldades enfrentadas quanto as conquistas
possibilitadas pelo proprio negocio.
Ser positiva, o segredo do meu sucesso.
Nasci em Tamarana e vivi la toda minha infancia. Sou filha de
boia-fria. minha mae trabalhou muitos anos na roca para poder criar
cinco filhos. Meu pai nunca trabalhou e perdeu todo dinheiro que tinha
em jogatina e amantes. Ele era uma pessoa muito agressiva e batia muito
na minha mae e eu sempre procurava separar os dois. Assim, desde pequena
fui muito corajosa. (Trecho 1, SAB).
O titulo deixa logo evidente que a narradora e uma pessoa de
sucesso. Para persuadir o leitor de suas conquistas, ela inicia o texto
remetendo ao passado arduo de sua infancia. A selecao lexical do trecho
1 privilegia a superacao das dificuldades da familia em uma pequena
cidade rural, Tamarana, onde a mae trabalhava no campo para sustentar a
familia sozinha, ja que o pai 'nunca trabalhou' e 'ainda
perdeu todo o dinheiro'. Na conclusao do trecho, a autora remete a
sua coragem, como uma caracteristica que sempre a acompanhou, para
enfrentar as dificuldades que a vida lhe oferecia. Alguns desses
elementos coincidem com o trecho 2, que inicia outra historia
considerada:
Intermediadora de felicidade.
Cheguei de Tamarana aos 9 anos de idade--sou pe vermelho pra la de
roxo--para estudar na cidade grande. Um dia minha mae profetizou sobre a
minha vida: "Filha minha nao vai ficar debaixo do sol que fiquei a
vida toda, e nem ter as maos calejadas e grossas de puxar enxadas como
sao as minhas". Na epoca nao entendi muito bem o que ela dizia, mas
de alguma forma via nessas palavras a responsabilidade de corresponder a
expectativa. Como? (Trecho 2, RM).
Mais uma vez, a cidade de origem e Tamarana, e a familia, de
trabalhadores rurais. A personagem-mae reaparece como incentivadora de
um futuro melhor para a filha, isto e, diferente do seu, e longe da
roca, o que esta explicito no texto alias, mais que explicito,
profetizado. Apesar de a cidadezinha fazer parte do passado, a
identidade da narradora ainda guarda esse traco, e a preocupacao de
atender a expectativa da mae esta implicita na pergunta que encerra o
paragrafo. Alem de familiares, outros personagens aparecem como
impulsionadores da superacao, como no trecho 3:
E foi por enfrentar uma revolucao em minha vida, como a de muitas
mulheres que tiveram situacoes parecidas, que fiquei fortalecida para
continuar a evoluir. Encontrei solucoes a partir de um mesmo
ingrediente: "a vontade de vencer"! (Trecho 3, MAJ).
Todos imaginavam que eu poderia ser qualquer coisa na vida menos a
mulher que sou hoje: forte, batalhadora, vencedora. (Trecho 4, RM).
A identificacao com outras mulheres que passaram por situacoes
dificeis aparece como incentivo para a busca constante de superacao.
Verifica-se que lexicos de dificuldades como revolucao, agressividade,
contrapoem-se aos de superacao, sucesso, felicidade e vontade de vencer.
A mulher reveste-se de forca e coragem para vencer as adversidades e
corresponder as expectativas depositadas nela. Nos trechos acima,
observa-se que a selecao lexical privilegiou aspectos da representacao
de uma mulher que enfrenta qualquer tipo de desafio (guerreira,
batalhadora) e acaba, finalmente, vencedora.
4.2. Percursos figurativos
As figuras utilizadas pelas mulheres para contarem suas historias
constituem dois percursos figurativos antagonicos: o sofrimento e a
superacao.
O percurso do sofrimento e mencionado principalmente em relacao ao
tempo passado e esta explicito em diversos trechos analisados. A
constituicao de tais percursos destaca personagens masculinos do
passado, como o pai alcoolatra e violento, mencionado no trecho 1 acima,
e o avo decepcionado com o nascimento da neta do sexo feminino, conforme
trecho a seguir.
Dizem, e eu ouvi isto desde menina, que, quando meu avo abriu o
enorme portao de ferro, ouviu meu choro e sentenciou: e menina. Nao
entrou, e, segundo contam, passou dois dias fora de casa em sinal de
protesto, jogando cartas com os amigos...Muito machista esse meu avo,
que so me conheceu no 3 dia, quando voltou para casa. Essa historia me
marcou profundamente... Talvez pela discriminacao que, apos adulta, pude
entender: era uma "bagagem" que meu avo havia recebido.
(Trecho 5, MACB).
Nota-se, nos dois casos, que o sentimento de rejeicao constitui o
inicio da trama do sofrimento. Entender e aceitar essa rejeicao como
algo "natural", parte da vida, ameniza o sofrimento e permite
seguir adiante. Ao longo das narrativas, o percurso do sofrimento se
associa a outro personagem masculino: o marido. Em dois casos, a morte
do marido e narrada com o emprego de figuras bastante expressivas, que
tentam dar conta do drama que se instalou na vida das mulheres com essa
perda afetiva, como nos trechos 6 e 7.
De repente, vi meus sonhos serem desfeitos, sendo carregados num
caminhao coberto de coroas de flores. A morte precoce do meu marido, aos
52 anos de idade, deixou-me com os filhos de nove, doze e quatorze anos.
(Trecho 6, MAJ).
Quando finalmente tivemos tempo para nos dois, veio a doenca do meu
marido, por longos 8 anos, sendo o ultimo o pior. Apos sua morte, passei
quase um ano "olhando para as paredes". (Trecho 7, MACB).
Ainda sobre o personagem marido, e interessante notar que, entre as
que ainda o tem vivo, pode-se observar um sentimento ambiguo em relacao
a ele. Enquanto as que o perderam por fatalidade expressaram suas perdas
com figuras relacionadas a um sofrimento extremo, uma das narradoras
manifestou a separacao como uma etapa de superacao.
No inicio de 2003 mudamos nosso endereco para nossa propria casa,
com empresa estabelecida, funcionarios e muitos clientes, porem comecei
a me sentir sobrecarregada. Ele trabalhava a noite e dormia de dia, eu
trabalhava de dia e de noite. Comecamos a competir dentro da nossa
propria empresa e precisei optar: ou o casamento ou a empresa. Optei
pela empresa. Separamo-nos e dividimos tudo. (Trecho 8, MCGS)
A sociedade com o marido transformou-se numa competicao que,
desbordando da esfera profissional, invadiu a vida pessoal e tornou
inviavel a convivencia em qualquer dos espacos. Em outro extremo dessa
especie de competicao com o marido, a narradora EBL conta da
complementaridade existente entre ela e o conjuge no trabalho:
Um nao interfere no trabalho do outro. Confiamos nas decisoes que
cada um toma, ele e o Sol e eu sou a Lua. Nos dois nos complementamos.
(Trecho 9, EBL).
Todavia, nessa complementacao parece estar implicito um
distanciamento entre os dois, o que esta evidenciado no emprego dos
opostos Sol/Lua, que nunca se encontram. De toda forma, alem dos dois
trechos de discursos sobre a morte do marido, de um sobre a separacao e
de outro sobre a complementaridade, ha ainda alguns que destacam o
carater essencial do personagem masculino como companheiro e
incentivador dos planos profissionais, adentrando o percurso semantico
da superacao.
Nesse percurso, personagens femininos sao destacados como fonte de
inspiracao e exemplo. No passado, a mae que enfrentou dificuldades e
venceu; no presente, outras mulheres de negocio que superaram as
adversidades da vida para se constituirem em pessoas de sucesso.
Agradeco a Deus pela mae que tenho, que e a mulher mais forte e
guerreira que conheco; nasci num ventre abencoado e cheio de amor e e
isso o que fez a diferenca na minha vida. (Trecho 10, SB).
O trecho acima chama a atencao para outra figura recorrente nos
discursos analisados. Deus, a fe, a espiritualidade tambem sao
utilizados como estrategia persuasiva do percurso da superacao, como
exemplificado tambem pelos trechos 11 e 12 a seguir.
Sou espiritualista e acredito em Deus. Diante das decisoes
dificeis, sempre peco a Deus, em nome de Jesus Cristo, para orientar
minhas escolhas. (Trecho 11, EBL)
Aprendi que Deus age em nosso beneficio mesmo no momento de
desanimo. Para cada pensamento negativo nosso, Deus tem uma resposta
positiva e eu so tenho a agradecer. (Trecho 12, MCGS).
Deus e apresentado como um personagem salvador, sempre pronto a
oferecer uma resposta nos momentos de dificuldades, nos percalcos do dia
a dia das mulheres que se dedicam aos negocios proprios e da familia.
Como complementacao dos percursos aqui identificados, efetua-se a
seguir a analise dos percursos tematicos, pois, segundo Fiorin (2000),
um conjunto de figuras, para que ganhe sentido, precisa ser a
concretizacao de um tema; alem disso, "[...] ler um percurso
figurativo e descobrir o tema que subjaz a ele" (op. cit.:70).
4.3. Percursos tematicos
As figuras analisadas anteriormente, que dao origem aos dois
percursos figurativos de dificuldade e superacao, revelam varios temas
que fazem parte da construcao da historia de sucesso das mulheres de
negocio. O tema do casamento e recorrente, como passagem
"obrigatoria" para a constituicao da mulher. Relacionadas a
ele, encontram-se certas passagens negativas, como morte e separacao, e
outras positivas, como o apoio e parceria do marido na vida pessoal e
nas decisoes relacionadas ao negocio.
Outro tema revelado pelos discursos analisados e o da esperanca. O
pensamento positivo, a vontade de vencer e a religiosidade ou
espiritualidade ancoram a expectativa de que o tempo futuro sera melhor
que o presente, que as dificuldades serao superadas e mudancas para
melhor se instalarao apos os momentos conturbados; ilustra-o claramente
o trecho a seguir:
De uma forma positiva aprendi que nao importa o que aconteca, ou
quao ruim pareca o dia de hoje, a vida continua, e amanha sera melhor. A
medida que caminhamos, temos que nos prometer marchar em frente. Apesar
das frustracoes e dificuldades, nao podemos voltar atras, e dessa forma
tento a cada dia aprender, buscar o melhor, buscar bons relacionamentos
na minha area de atuacao, porque acredito que no meu trabalho, cada
movimento que eu faco, cada palavra que expresso, afetara pessoas [...].
(Trecho 13, MCGS)
Nesse trecho, chama a atencao um percurso tematico associado ao
percurso figurativo de superacao: o da educacao. Diante das imposicoes
da vida, como mortes, dificuldades financeiras, ou simplesmente desejo
de superacao, o investimento em estudos e na aprendizagem constante e
uma das alternativas encontradas pelas mulheres que buscam sua
realizacao. No sentido empregado pelas empreendedoras, sao valorizados
tanto a educacao formal, a busca de titulos e certificados, quanto o
aprendizado informal, possibilitado pelo contato com outras pessoas
ligadas a negocios, a exemplo do trecho anterior (13) e do seguinte:
Dediquei-me a aprender e compreendi que a vontade e um sentimento e
uma atitude que nos impulsiona; com ela, nao ha nada que nao possamos
fazer. Algum tempo depois, passei a entender do assunto e me apaixonei
por negocios. Tal crescimento me levou as novas oportunidades e
participei de feiras, palestras, cursos, reunioes e muitos outros
eventos de grande importancia politica e economica. (Trecho 14, MAJ).
Para o proximo ano pretendo fazer cursos de gestao e controle, para
meu negocio crescer com equilibrio e estabilidade. (Trecho 15, SB).
A analise dos temas e figuras possibilita, no proximo topico,
identificar trajetorias de sentido desenvolvidas no conjunto das
narrativas consideradas, que sao os percursos semanticos das mulheres
que se consideram, e sao validadas pela associacao da qual fazem parte,
como "de negocios".
4.4. Percursos Semanticos
Com a analise dos trechos acima, pode-se identificar um primeiro
percurso semantico: o das condicoes familiares adversas. Empreender, em
alguns casos, e uma alternativa ao trabalho assalariado no campo,
necessaria a complementacao da renda familiar. Iniciativas levadas a
efeito ainda na infancia, como vender produtos de porta em porta,
desenvolveram caracteristicas empreendedoras necessarias ao sucesso na
vida adulta, como demonstram os trechos 16 e 17:
Comecei a trabalhar aos 8 anos, vendendo Avon, e vendia ate
desodorantes no bar para os "bebuns", tudo para ajudar a minha
mae, que muitas vezes chorava e sofria muito ao me ver trabalhando, mas
aquele dinheiro era importante e ajudava. (Trecho 16, SB).
Percebi muito cedo que tinha facilidade de me comunicar [...]
comecei a trabalhar aos 17 anos e percebi que gostava de falar e lidar
com as pessoas. (Trecho 17, RM).
Um segundo percurso semantico e comum a muitas historias narradas:
o da qualificacao profissional. Os estudos, principalmente o curso
superior, aparecem como mais uma etapa obrigatoria na superacao e
melhoria da qualidade de vida propria, do marido e dos filhos, como se
ve nos trechos 18 e 19:
Hoje, aos 39 anos, sou mae de 3 filhos, sendo um adotivo, e tenho a
maior profissao do mundo: vendedora! Sou recem-formada em marketing e
propaganda, curso que escolhi por ser abrangente e que atualizaria e
enriqueceria meus conhecimentos [...] meu filho de 18 anos esta no
segundo ano de marketing e propaganda e ja esta no mercado de trabalho.
(Trecho 18, RM).
Por fim, pode-se identificar o percurso das relacoes interpessoais,
que dao sentido ao reconhecimento da mulher de negocios nao apenas por
si mesma, mas tambem por seus pares, familiares, outras mulheres, homens
e ate pela sociedade em geral, ao se exercitar a cidadania, como
lembrado no trecho 19:
Mas ser mulher de negocios esta alem das atividades comerciais. E
ter um posicionamento como cidada. (Trecho 19, MAJ).
Tal posicionamento e uma resposta, uma retribuicao tipicamente
feminina, aos que fizeram e fazem parte de sua trajetoria. O triunfo da
mulher e validado pela possibilidade de contar sua "mulheres de
negocios" (considerarem-se e serem reconhecidas como tal), mas
tambem as oriundas de familias pobres, que nao tiveram recursos
financeiros e que, com a vontade de crescer e o proprio esforco,
conseguiram conquistar a independencia financeira e ingressar num grupo
do qual fazem parte tanto executivas, empresarias e empreendedoras,
quanto outras profissionais liberais e autonomas, que tem sua
independencia financeira e sao consideradas de sucesso no meio social em
que vivem.
5. CONSIDERACOES FINAIS
A Analise de Discurso realizada anteriormente buscou identificar,
nas narrativas de mulheres de negocios de Londrina-PR, aspectos de suas
trajetorias de vida que as levaram a fazer parte de uma Associacao de
Mulheres de Negocio e, mais do que isso, a serem exemplos de sucesso
dignos de premiacao. Assumiu-se que o fato de estarem associadas a BPW
garante o status almejado, ja que isso coloca em igualdade mulheres
muito diversas em suas trajetorias, desde as fundadoras ou herdeiras de
grandes empresas ate as de historia, revelar o segredo de seu sucesso e
se associar a outras mulheres que provavelmente passaram por situacoes
parecidas ao longo de suas vidas (Trechos 20 e 21):
Hoje eu entendo a profecia de minha mae e compreendo o poder das
palavras para a vida das pessoas. Deus nos da os dons, cabe a nos
descobri-los, aproveita-los e multiplica-los. Confio que e o segredo do
sucesso. Minhas raizes sao meu orgulho. (Trecho 20 RM).
Minha infancia foi muito pobre e ja passamos muita fome, mas tenho
orgulho de tudo que vivi e mais ainda da minha familia. Tenho certeza de
que todas essas dificuldades ajudaram a formar o meu carater e minha
vontade de vencer na vida. Por isso considero minha historia "um
sucesso", pois venci a fome, o preconceito, a violencia, e cresci.
(Trecho 21, SB).
Os trechos acima revelam um tipo de "mulher de negocios"
fora do estereotipo da executiva que frequentou as melhores escolas e
trabalha em grandes empresas, ou da empresaria que tenha dado
continuidade a negocios bem-sucedidos de uma familia abastada. Nao
apenas estas podem ser origens adversas, que, sem condicoes financeiras
proprias, nem da familia, nem do marido, trilharam sua carreira na
direcao de um pequeno empreendimento capaz de lhes garantir uma condicao
social diferente da de sua familia.
O primeiro elemento do discurso considerado foi a selecao lexical.
Nesse plano, os discursos privilegiam a positividade, o desejo e a
vontade como verdadeiras "armas" de que dispoem as guerreiras
mulheres para enfrentar as adversidades da vida. Nos percursos
figurativos, tais sentidos fazem-se novamente presentes, enfatizando
altos e baixos, dificuldades e conquistas, desafios e superacao. Assim,
o antagonismo e o tom predominante da trajetoria, ja que ser mulher de
negocios e de sucesso e viver um drama constante, uma luta incessante
pela conquista do espaco publico, predominantemente masculino. O tema do
casamento reforca esse dilema, sendo o personagem marido ora apresentado
como parceiro, ora como concorrente. Na linha da superacao, o tema da
esperanca prevalece, aparecendo por meio de personagens como a mae
heroina e o Deus que da as respostas e forcas necessarias para seguir
adiante. Em conjunto, o percurso das dificuldades e temas supracitados
configura um sentido mais amplo do que vem a ser a trajetoria da mulher
de negocios, que precisa passar por condicoes familiares adversas antes
de alcancar o exito profissional.
A educacao tambem e apontada como saida para as dificuldades quando
se pretende conseguir o espaco almejado no mundo dos negocios,
configurando, mais do que um tema, um percurso semantico em que a busca
da qualificacao profissional e essencial para legitimar a mulher
vencedora. Nessa linha de argumentacao, nao apenas os certificados e a
educacao formal sao valorizados, mas tambem a aprendizagem informal
alcancada por meio das relacoes interpessoais, como "fazer
parte" de uma associacao como a BPW.
Em relacao a tecnica de analise utilizada, e importante considerar
que a AD permite desvelar o "nao dito", ou seja, aspectos nao
mencionados diretamente, mas que permeiam a interpretacao do assunto,
quando inserido em um contexto social. No caso de mulheres que trabalham
fora de casa, sabe-se que a multiplicidade de papeis assumidos por vezes
dificulta ou prejudica as relacoes com o marido e os filhos, pelo menos
em relacao ao tempo despendido com os mesmos, o que por vezes acarreta
as esposas e maes um sentimento de culpa em relacao a esse aspecto
(TANURE; CARVALHO NETO; ANDRADE, 2007). Entretanto, o complexo de culpa
nao e mencionado na narrativa de nenhuma das mulheres de negocio
consideradas. Pode-se inferir que, no nivel da representacao do
"ideal" de sucesso, a mulher de negocios concilia
perfeitamente os papeis de mae, mulher e profissional.
A abordagem aqui utilizada, embora limitada pelo uso de dados
secundarios, corrobora a percepcao de outros autores, como Correa et al.
(2007), segundo a qual a Analise do Discurso e ferramenta capaz de
revelar aspectos pouco explorados das relacoes de genero nos estudos
organizacionais, sobretudo quando se trata de negocios familiares ou de
pequenos empreendimentos em que a historia do negocio coincide com a
propria vida de seu dono. Se o papel da mae trabalhadora e decisivo para
a formacao de filhos empreendedores, abre-se a oportunidade de que
estudos futuros investiguem as "profecias" de maes
empreendedoras para suas filhas e filhos. Que sorte os pais
empreendedores desejam aos seus filhos: dar continuidade aos negocios?
Ou trilhar uma carreira autonoma, independente da familia?
Por fim, convem enfatizar que a abordagem do genero nas
organizacoes como uma questao historicamente contextualizada, e nao
apenas como um conceito binario que distingue homens e mulheres, abrange
o conjunto das alteracoes que a participacao da mulher no mercado de
trabalho tem provocado. A exemplo das narrativas analisadas, o discurso
da mulher de negocios vai alem de um caminho profissional, sugerindo uma
nova configuracao do papel feminino nas organizacoes e na propria
sociedade, como se pode verificar por meio do emprego dos elementos da
analise de discurso escolhidos para tal--a selecao lexical, percursos
figurativos, tematicos e percurso semantico.
Raquel Santos Soares Menezes Professora Adjunta na Universidade
Federal de Vicosa, Campus de Rio Paranaiba--Minas Gerais-MG, Brasil
Doutora em Administracao pela Universidade Federal de Minas Gerais
Mestre em Administracao pela Universidade Federal de Uberlandia Graduada
em Administracao pela Faculdade de Economia, Administracao e
Contabilidade de Ribeirao Preto, Universidade de Sao Paulo E-mail:
soares.raquels@gmail.com
Janete Lara de Oliveira
Professora do Programa de Pos-graduacao em Administracao da UFMG
Minas
Gerais-MG, Brasil
Doutora em Administracao
E-mail: janetelara@face.ufmg.br
DOI: 10.5700/rege508
Recebido em: 15/12/2011
Aprovado em: 1/4/2013
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Quadro 1--Perfil das Mulheres de Negocios cujas historias
foram analisadas pela AD
Narradora Faixa Etaria Area de Atuacao
M A J Mais de 50 Proprietaria de Empresa
Agropecuaria
E B L Mais de 50 Proprietaria de Centro
de Ensino Superior
R M Entre 30 e 50 Corretora de Imoveis
M A C B Mais de 50 Proprietaria de Varejo
Decoracao
M G Entre 30 e 50 Proprietaria de Empresa
de Locacao de som, luzes
e cenografia
S A B Menos de 30 Proprietaria de
Varejo Bijuterias
Narradora Chegada a Motivo
Londrina
M A J 1945 Mudanca com
os Pais
E B L 1966 Casamento
R M 1977 Mae
M A C B Decada de 50 Mudanca com
os Pais
M G Nasceu na
cidade
S A B Decada de 80 Mudanca com a
Mae
Fonte: Elaborado pelas Autoras a partir do livro Mulher
BPW Londrina conta sua historia (2007).