The organizational structure of work found in a cooperative of women/ "Tu me ensina a fazer renda", eu te ensino a trabalhar: a organizacao do trabalho de uma cooperativa popular/"Tu me ensenas a hacer encaje, yo te enseno a trabajar": la organizacion del trabajo de una cooperativa popular.
da Rocha-Pinto, Sandra Regina ; Irigaray, Helio Arthur Reis ; da Silva, Rafael Caldas Ferreira 等
1. INTRODUCAO
O Brasil, assim como os demais paises do denominado Terceiro Mundo,
apresentou intenso processo de urbanizacao, especialmente na segunda
metade do seculo XX. Em 1940, a populacao urbana era de 26,3% do total
de habitantes; na virada do seculo XXI, essa cifra era de 81,2% (IBGE,
2010). Em numeros absolutos: em 1940, a populacao que residia nas
cidades era de 18,8 milhoes de habitantes; em 2000, ela era de
aproximadamente 138 milhoes. Essa nova realidade tem implicado a
necessidade de politicas publicas de assentamento residencial dessa populacao, bem como de atendimento de suas necessidades de agua,
energia, transporte, saude, abastecimento, educacao e trabalho. Todavia,
na pratica, vivencia-se uma verdadeira tragedia urbana brasileira:
enchentes, desmoronamentos, poluicao dos recursos hidricos, poluicao do
ar, impermeabilizacao da superficie do solo, desmatamento,
congestionamento habitacional, retorno de epidemias, violencia,
desemprego (ALVES, 2003).
O aumento desse ultimo indicador reflete a precarizacao do mercado de trabalho no Brasil (PICCININI, 2004), caracterizada pela reducao dos
empregos formais e aumento dos empregos informais (DEDECCA, 1994).
Entretanto, entender o conceito de empregabilidade como capacidade da
forca de trabalho de se manter empregada ou encontrar novo emprego
quando demitida sugere que a mao de obra esta desempregada em razao de
sua inadequacao a um mercado cada vez mais exigente (LEITE, 1993). Uma
das alternativas desses individuos e se estruturarem em cooperativas
populares. Esse e o caso das moradoras da Rocinha, a maior favela do Rio de Janeiro, as quais, sem acesso a economia formal e necessitando
sobreviver, comecaram a trabalhar com o reciclo de lixo industrial e a
venda de trabalhos manuais. O trabalho realizado em pequenas oficinas
cresceu ao longo de vinte e cinco anos e, nesse caminho, foi
estabelecida uma cooperativa de artesas chamada COOPA-ROCA.
A COOPA-ROCA tem servido de escoadouro de produtos, alternativa ao
desemprego e oportunidade de qualificacao para os migrantes, exilados do
modelo economico que concentrou toda a atividade economica no sudeste do
pais (VARELLA, 2002), e para aqueles que nao sao capacitados
tecnicamente para o mercado de trabalho formal (PICCININI, 2004). A
partir desse pano de fundo, o objetivo principal deste trabalho foi
responder a seguinte questao: quais sao as dimensoes relevantes na
organizacao do trabalho da COOPA-ROCA? Dessa forma, pretendeu-se
aprofundar a discussao sobre cooperativismo popular, conforme sugerido
por Cancado (2005).
Este artigo esta estruturado em cinco secoes, incluindo esta
introducao. Na proxima, serao apresentadas as bases teoricas,
notadamente as discussoes sobre cooperativismo, capital social,
configuracoes organizacionais e gestao de desempenho; em seguida,
descrever-se-a o percurso metodologico percorrido, para que, na secao
subsequente, sejam apresentados os resultados da pesquisa. Finalmente,
as consideracoes finais e o referencial bibliografico utilizado serao
expostos.
2. APORTE TEORICO
2.1. Sobre o cooperativismo no Brasil
O cooperativismo originou-se na Europa, durante os movimentos
sociais que surgiram a fim de atenuar as questoes sociais decorrentes da
Revolucao Industrial. Em seus pressupostos basicos, encontravam-se: a
solidariedade, a equidade, o trabalho em grupo e a liberdade (BERNARDO-ROCHA, 1999). O marco do movimento cooperativista no Brasil,
por sua vez, pode ser situado em 1847, com a fundacao da Colonia Tereza
Cristina, organizada em bases cooperativas nos sertoes do Parana pelo
medico frances Jean Maurice Faivre (adepto das ideias de Fourier) e um
grupo de europeus. Observam-se, tambem, outras experiencias a mesma
epoca em Santa Catarina. Contudo, foi apenas em 1891 que surgiu a
primeira cooperativa, em Limeira-SP: a Cooperativa dos Empregados da
Companhia Telefonica. A partir dai, o cooperativismo se desenvolveu por
intermedio de varios ramos de atuacao: cooperativismo agropecuario,
cooperativismo de eletrificacao rural, credito rural, cooperativismo de
consumo, cooperativismo de credito urbano, cooperativismo habitacional,
de trabalho, de saude, entre outros (SCHMIDT; PERIUS, 2003).
No Brasil, as cooperativas de trabalho surgiram a partir de 1932,
sob a influencia das cooperativas operarias de producao europeias. A
partir de meados da decada de 60 o perfil dessas organizacoes mudou,
quando profissionais liberais passaram a organizar suas proprias
cooperativas. Nessa evolucao, tirou-se da figura dos cooperados o
estigma de mao de obra semiqualificada: administradores, contadores,
advogados, dentre outras categorias profissionais, comecaram a se reunir
em cooperativas, a fim de solucionar os principais problemas do mercado
de trabalho (PINHO, 1982). Na visao de Culti (2002), esse tipo de
cooperativa e, ate hoje, uma realidade acessivel a trabalhadores
qualificados ou nao que, mediante a associacao, desejam encontrar uma
forma de trabalho tanto para gerar renda e fonte de subsistencia quanto
para se emancipar do sistema de salarios.
2.2. Principios e gestao cooperativistas
As cooperativas de trabalho sao entidades coletivas, sem fins
lucrativos, portadoras dos seguintes principios em suas praticas
organizacionais: participacao, gestao democratica e estrutura
horizontal. Essas organizacoes surgem pela vontade das pessoas de se
associar em torno de alternativas no mercado de trabalho. Cada
participante e um cooperado e, nessa condicao, tem direito de expressar
a sua opiniao a respeito de questoes referentes aos interesses
organizacionais nos ambientes coletivos. Nessa perspectiva, cada
cooperado manifesta-se nas assembleias por meio de seu voto (JUNQUEIRA;
TREZ, 2004).
O direito ao voto independe do capital investido na aquisicao de
cotas, do conhecimento tecnico e do nivel de escolaridade. Os cooperados
sao trabalhadores associados e regidos pelos principios do
cooperativismo. Sob a egide desses principios, sao responsaveis pela
gestao da cooperativa; respondem, assim, pelas decisoes garantidoras
tanto de sua operacao quanto de sua continuidade. Portanto, a
sobrevivencia dessa organizacao dependera de decisoes sobre o tipo de
servicos prestados por seus associados, os precos desses servicos, o
cumprimento das exigencias legais, assim como da comunicacao interna e
externa entre seus integrantes (JUNQUEIRA; TREZ, 2004).
Essas consideracoes ilustram uma das questoes centrais nos
processos de criacao, sobrevivencia e desenvolvimento das cooperativas
de trabalho: a efetiva participacao e corresponsabilidade dos seus
membros. Isso implica nao apenas atender as necessidades do mercado de
trabalho, mas tambem construir uma organizacao apoiada na autogestao, no
compromisso social, na solidariedade e nos principios democraticos
(JUNQUEIRA; TREZ, 2004). Ademais, sabe-se que na historia da formacao do
Cooperativismo destacam-se os objetivos peculiares de trabalhadores
expressos na liberdade socioeconomica. Por meio dessa condicao os
trabalhadores desempenham um triplo papel: cooperadousuario-empresario.
A interacao dessas tres qualidades visa alcancar resultados comuns
(SANTOS; VASCONCELOS, 2002).
No que se refere a prestacao de contas, Santos e Vasconcelos
(2002:4) ensinam que essa pratica pode ser vista como "um relato
sintetico, apresentado num determinado periodo de uma gestao, com a
finalidade de descrever a situacao da organizacao por meio da aplicacao
dos recursos que lhe foram conferidos". O art. 44 da lei que define
a politica nacional do cooperativismo delibera sobre a prestacao de
contas dos orgaos de administracao, a mensuracao economica e a
mensuracao financeira constantes nas seguintes informacoes contabeis:
Balanco; Demonstrativo das Sobras apuradas ou das Perdas; Destinacao das
Sobras apuradas ou rateio das Perdas. A legislacao preve uma apreciacao
e aprovacao dos orgaos de fiscalizacao e controle da cooperativa,
segundo os arts. 44 e 92 da Lei no 5.764/71 (SANTOS; VASCONCELOS, 2002).
Por conta disso, alguns procedimentos devem ser seguidos: a) anualmente,
nos primeiros meses apos o termino do exercicio social, em assembleia
geral ordinaria, os orgaos de administracao, munidos do parecer do
conselho fiscal, precisam prestar esclarecimentos e abordar a situacao
ou a posicao da cooperativa por meio do relatorio de desempenho da
gestao e de demonstracoes contabeis, compreendendo o balanco patrimonial e a demonstracao de sobras apuradas ou perdas; b) alem da obrigacao
anual de remessa de documentos de relatorios do exercicio social, copias
de atas, balancos e parecer do conselho fiscal, as cooperativas devem
prestar esclarecimentos adicionais aos orgaos de fiscalizacao e controle
do sistema cooperativista (Organizacao das Cooperativas dos
Estados--OCEs e Organizacao das Cooperativas Brasileiras--OCB) (SANTOS;
VASCONCELOS, 2002). Essas informacoes "deverao permitir um grau de
entendimento satisfatorio para todos os usuarios, dado que se prestam a
relatar com clareza o resultado do desenvolvimento das atividades
programadas, tracando um 'diagnostico' do cenario e de seus
objetivos" (SANTOS; VASCONCELOS, 2002:45).
2.3. Capital Social: uma possivel definicao
Ao longo do seculo XX, o termo "capital social" foi
utilizado em pesquisas sobre vida urbana (JACOBS, 1961) e educacao
(COLEMAN, 1999), na elaboracao da teoria social (BOURDIEU, 1986) e, mais
recentemente, pelo Banco Mundial, como indicador de desenvolvimento
economico e reducao da pobreza (SANTOS, 2003). Neste estudo,
empregar-se-a o conceito proposto por James Coleman (1999), que define
capital social como "uma variedade de diferentes [sic] entidades,
com dois elementos em comum: todas consistem em algum aspecto da
estrutura social, e facilitam certas acoes dos atores--atores tanto
individuais como corporativos--dentro da estrutura". Acredita-se
que essa definicao abarca, alem das associacoes horizontais consideradas
por Putnam (1993), as associacoes verticais e a relacao entre essas
associacoes, e nao apenas as relacoes entre seus membros (SANTOS,
2003:13; WORLD BANK, 1998). A rigor, nao se pode discutir capital social
negligenciando os ambientes politico e social nos quais a estrutura
social e os facilitadores do desenvolvimento de normas estao inseridos.
Nesse sentido, concorda-se com a visao de North (1990) e de Olson
(1999), apresentada por Santos (2003), segundo a qual as instituicoes,
sejam elas formais ou informais, cumprem um papel determinante na
formacao do capital social, ou seja, respondem estrategicamente a
pressoes institucionais exogenas.
O capital social se manifesta estrutural e cognitivamente (SANTOS,
2003:15). O capital social estrutural diz respeito as instituicoes,
normas (regras formais: legislacao, regulamentos das organizacoes, etc.)
e meios pelos quais o capital social se manifesta. O numero de
associacoes (verticais ou horizontais) existentes em uma comunidade, a
tecnologia disponivel, as leis e o conjunto de politicas publicas que
promovem ou facilitam a interacao entre as pessoas e a acao coletiva
(ex.: orcamento participativo, conselhos municipais, etc.) sao exemplos
da forma estrutural de capital social. A forma cognitiva de capital
social diz respeito a conceitos mais abstratos e subjetivos, como
confianca, reciprocidade, solidariedade, atitudes, valores e crencas.
Assim, apreender o capital social sob a otica do institucionalismo e
reconhecer a existencia e importancia das normas sociais que regem uma
comunidade, ainda que seu foco seja o ambiente no qual tais normas sao
estimuladas ou suprimidas e as instituicoes que tambem contribuem para
isso.
2.4. Configuracoes organizacionais: tradicional e horizontal
E oportuno destacar o fato de que, a medida que as empresas crescem
e se tornam mais complexas, os fatores idade e dimensao tornam-se
relevantes as configuracoes organizacionais. A esse respeito, Mintzberg
(2003) formulou cinco parametros delineadores da estrutura
organizacional: a) quanto maior a idade da organizacao, mais formalizado
sera o seu comportamento; b) a estrutura reflete a epoca da criacao do
ramo industrial; c) quanto maior a organizacao, mais elaborada e a
estrutura?quer dizer, suas tarefas sao mais especializadas, suas
unidades mais diferenciadas e seus componentes administrativos mais
desenvolvidos; d) quanto maior a organizacao, maior o tamanho medio de
suas unidades; e) quanto maior a organizacao, mais formalizado sera seu
comportamento. Na linha do tempo, o excesso de formalizacao de
atividades faz com que a organizacao, em nome da racionalizacao
funcional, se exponha a subotimizacao de seus recursos. Esse fenomeno
ocorre porque cada funcao/unidade organizacional empenha-se em atender
apenas aos seus objetivos (RUMMLER; BRACHE, 1994). Tal proposicao nao
quer dizer que a visao vertical da empresa, representada pelo
organograma, seja um mal em si. A divisao funcional/departamentalizacao
das atividades tem a finalidade de desenvolver a especializacao do
trabalho da forma mais aprofundada possivel: e um meio de tentar
garantir que os melhores especialistas, as melhores praticas e os
melhores recursos materiais e tecnologicos estejam disponiveis em um
determinado momento para uma dada atividade. Em outras palavras, nao ha
nenhum problema em promover a especializacao (RUMMLER; BRACHE, 1994). O
problema surge quando essa especializacao se transforma em sinonimo de
fragmentacao. Esse fato resulta em um paradoxo: embora a especializacao
seja importante, ha de estar acompanhada de uma forte integracao. Nessa
medida, especializacao e integracao nao sao duas palavras incompativeis;
ou seja, pode-se dizer que a visao vertical, tradicional, das
organizacoes precisa se somar uma visao horizontal, atenta aos processos
multifuncionais. Mediante a integracao dessas duas visoes--horizontal e
vertical--uma determinada organizacao podera viabilizar uma visao
sistemica de seus negocios (RUMMLER; BRACHE, 1994).
A visao horizontal, sistemica, de uma organizacao representa uma
perspectiva diferente daquela representada pelo organograma tradicional.
Esse quadro geral de um negocio inclui mais tres ingredientes que faltam
ao organograma: o cliente, o produto e o fluxo de trabalho. Alem disso,
mostra os relacionamentos internos entre cliente e fornecedor, por meio
dos quais sao produzidos produtos e servicos (RUMMLER; BRACHE, 1994).
Nessa perspectiva, as oportunidades de melhoria no desempenho se
colocam nas interfaces funcionais, naqueles pontos em que o
"bastao" e passado de um departamento para outro. Assim, o
gerenciamento dessas interfaces evita que o esforco desenvolvido em cada
parte seja consumido nos espacos em branco, nos vazios decorrentes da
falta de integracao. Cabe, portanto, o desenvolvimento de uma visao
horizontal, ou seja, de uma visao de processos (RUMMLER; BRACHE, 1994).
A estrutura horizontal--apoiada na visao de processos--tem como premissa
basica o fato de que as organizacoes comportam-se como sistemas
adaptaveis. Por meio dessa perspectiva e possivel descrever qualquer
tipo de organizacao como um sistema de processamento conversor de
diversas entradas de recursos em saidas de produtos e servicos,
fornecidos para sistemas receptores/mercados. Os mercados mudam, assim
como os servicos e produtos; porem, os componentes do sistema permanecem
os mesmos. Nesse ponto de vista encontra-se subjacente a ideia de que um
sistema em operacao precisa ser capaz de se adaptar ao seu ambiente,
especialmente ao seu sistema receptor, ou deixa de existir.
2.5. Gestao sistemica do desempenho
A visao sistemica de uma organizacao incorpora a nocao de busca
constante de equilibrio com o ambiente externo, ao mesmo tempo em que se
mantem a integracao e o equilibrio interno. Para tanto, e necessario que
a organizacao estabeleca um efetivo gerenciamento dos elos externos--com
seus diferentes parceiros, incluindo-se aqui o cliente externo e interno
(RUMMLER; BRACHE, 1994). Ao mesmo tempo em que a visao sistemica resulta
em uma nova perspectiva para se tratar o desempenho organizacional,
revela-se uma ferramenta util no diagnostico e na avaliacao da
compatibilidade do desenho organizacional com a estrategia: o modelo da
cadeia de valor. Concebido por Porter (1985), esse instrumento e um
conveniente olhar para a parte interna da estrategia (ver Figura 1). O
conjunto de atividades das organizacoes, inclusive aquelas de natureza
mais simples, compoe uma rede de processos interconectados. Nessa
perspectiva, um processo pode ser considerado como uma "cadeia de
agregacao de valores" (MARANHAO; MACIEIRA, 2004). Alem disso,
conforme ensinam Hagel III e Singer (1999), a maioria das organizacoes
possui tres tipos de negocio--ou processos-chave--distintos:
relacionamento com clientes, inovacao de produto e gerenciamento de
infraestrutura. Alem de possuirem caracteristicas e prioridades
distintas, esses processos se distinguem, tambem, quanto ao perfil de
seus funcionarios, as metas e a cultura.
As indicacoes de Hagel III e Singer (1999) sao uteis para a
reflexao sobre a realidade de uma determinada organizacao. Colocar em
pratica um efetivo gerenciamento de processos, no entanto, conforme
apontado por Hammer (2002) e Hammer e Stanton (1999), implica mais do
que identificar e mapear os processos: e necessario o gerenciamento de
variaveis criticas no ambito organizacional. A complexidade da gestao
reside no fato de que essas variaveis se encontram tanto nas dimensoes
formais quanto nas informais de uma organizacao.
[FIGURA 1 OMITTED]
3. A PESQUISA E A METODOLOGIA
Nesta secao apresentam-se uma breve retrospectiva da COOPA-ROCA e
os procedimentos metodologicos adotados a fim de atender ao objetivo
final da pesquisa, que era responder a questao: quais sao as dimensoes
relevantes tanto na estruturacao do trabalho quanto no desempenho da
COOPA-ROCA?
3.1. COOPA-ROCA: uma breve retrospectiva
A COOPA-ROCA, Cooperativa de Trabalho Artesanal e de Costura da
Rocinha Ltda., tem por missao gerar condicoes para que suas cooperadas,
mulheres moradoras da Rocinha, trabalhem em suas residencias e assim
ampliem o orcamento familiar sem se afastar do cuidado de seus filhos e
das atividades domesticas. Alem de possibilitar o trabalho em casa e a
geracao de rendimentos, estimula a qualificacao profissional, a
consciencia no campo da saude, o fortalecimento da autoestima e o
aprendizado coletivo intrinseco a pratica da cooperativa. Essas
caracteristicas sao distintivas da experiencia da COOPA-ROCA na
comunidade local (COOPA-ROCA, 2005).
Criada no inicio dos anos 80, a COOPA-ROCA surgiu como
desdobramento de uma experiencia com reciclagem para as criancas da
comunidade em 1981. Os trabalhos artesanais produzidos com retalhos de
tecidos foram os propulsores da ideia de organizar o primeiro grupo de
mulheres e, assim, em seguida, criar a cooperativa. A decisao por esse
tipo de organizacao deuse por dois motivos: a) a necessidade de
legitimar o negocio perante os pares de negocios incipientes, fato que
reafirma a nocao de isomorfismo coercitivo de DiMaggio e Powell (1991);
b) o fato de as mulheres artesas se identificarem com a expressao
'cooperar".
Nos primeiros anos, a COOPA-ROCA focou suas atividades na
organizacao e qualificacao do grupo de mulheres. Para tanto, gerou uma
pequena estrutura de producao voltada para o desenvolvimento de produtos
artesanais para decoracao, resgatando tecnicas tradicionais brasileiras
como o "fuxico", o crochet, o "nozinho" e o
patchwork (COOPA-ROCA, 2005).
Com um enfoque profissional, que valoriza a producao artesanal e a
qualificacao constante das cooperadas, a COOPA-ROCA tem por visao
ampliar o impacto social de sua experiencia na comunidade da Rocinha,
tornando-se uma referencia nacional no processo de insercao social das
comunidades de baixa renda via geracao de trabalho e de rendimentos.
Nessa perspectiva, a cooperativa ambiciona ser alvo de mimetismos por
parte de organizacoes semelhantes (DIMAGGIO; POWELL, 1991; MEYER; ROWAN,
1977). Atualmente, a cooperativa reune aproximadamente 90 artesas e
importantes parcerias no mercado de design de vestuario e acessorios
(COOPAROCA, 2005).
Os desfiles da COOPA-ROCA aproximaram a experiencia da cooperativa
do setor da moda, um segmento dinamico com capacidade de demandar
grandes volumes de producao. As parcerias geradas a partir dos eventos,
especialmente das edicoes da REtalhar(1), tem possibilitado a
cooperativa a geracao de recursos viabilizadores do pagamento dos
salarios das quatro funcionarias--gerente de producao, controle de
qualidade, administracao e servicos gerais--e dos custos fixos mensais.
A cooperativa tambem desenvolve projetos especiais com designers e
artistas plasticos, ate mesmo do exterior. A maioria desses
profissionais iniciou a relacao com a COOPA-ROCA nas diferentes edicoes
da exposicao REtalhar (COOPA-ROCA, 2005).
A COOPA-ROCA vem participando, ao longo dos anos, de inumeros
eventos, por intermedio dos quais amplia e fortalece sua rede de
articulacao--organizacoes governamentais e nao-governamentais--, alem
das parcerias comerciais, que promovem a sustentabilidade da
cooperativa. No momento atual, a COOPA-ROCA vislumbra alguns desafios
para profissionalizar a relacao da cooperativa com o mercado e, dessa
forma, fortalecer a sua missao e tambem ampliar o impacto social da
COOPA-ROCA na comunidade da Rocinha. Nessa medida, gradativamente a
cooperativa busca: qualificar os setores de producao e administracao,
expandir os parceiros comerciais e, consequentemente, aumentar a escala
de producao e o numero de artesas (COOPA-ROCA, 2005).
3.2. Procedimentos metodologicos
Na persecucao do objetivo final--desvelar quais seriam as dimensoes
relevantes tanto na estruturacao do trabalho quanto no desempenho da
COOPA-ROCA--, quatro objetivos intermediarios foram atingidos.
Inicialmente, foi necessario explicitar os objetivos da COOPA-ROCA, como
ponto de partida para justificar sua arquitetura organizacional. Dessa
forma, buscou-se investigar se o primado da finalidade, o principio que
encerra a nocao de que a forma segue a funcao (NADLER; GERSTEIN; SHAW,
1994:7), estava sendo atendido naquela instituicao. Ademais, teve-se em
mente que o alinhamento/direcionamento estrategico de uma organizacao
deve respeitar sua missao, visao e valores corporativos, pois, nessa
perspectiva, duas dimensoes interagem: a estrutura formal e a informal.
Posteriormente, julgou-se importante estudar a forma pela qual o
trabalho era estruturado, ou seja, compreender os mecanismos que
fundamentavam o desenho da estrutura organizacional: especializacao do
trabalho, departamentalizacao, cadeia de comando, amplitude de controle,
centralizacao/descentralizacao e formalizacao (ROBBINS, 2002:402).
O terceiro objetivo intermediario foi identificar a influencia do
ambiente geral nas atividades/missao da COOPA-ROCA. Acreditava-se que
entender a natureza das relacoes com os diversos agentes do ambiente de
negocios ajudaria na compreensao da intensidade e da profundidade dos
impactos desses agentes externos sobre o negocio. Afinal, sabe-se que os
tipos de pressao podem variar em um gradiente de influencia que vai
desde aqueles de natureza estrategica ate os de instancia operacional ou
imediata (MARANHAO; MACIEIRA, 2004; TACHIZAWA; SCAICO, 1997).
Finalmente, houve a necessidade de identificar os processos
essenciais da cooperativa, a fim de compor uma visao sistemica dela.
Essa etapa justificou-se uma vez que as organizacoes, quando crescem e
se tornam mais complexas, incorrem no risco de suas decisoes gerenciais
serem tomadas apenas a partir da perspectiva vertical. Esse
comportamento organizacional e reflexo, em parte, do processo de
formalizacao das atividades (MINTZBERG, 2003), retratado no organograma.
Por conta disso, os objetivos sao estabelecidos independentemente para
cada funcao/unidade organizacional, perdendo-se de vista que cada funcao
existe para contribuir para o todo organizacional e nao como um objetivo
em si mesma.
Acrescenta-se ainda que este estudo encontra-se delimitado no tempo
e no espaco. Por ser um estudo de caso, esta limitado exclusivamente a
uma cooperativa, localizada em uma comunidade especifica, em um dado
espaco de tempo: entre novembro de 2005 e maio de 2006. Nao obstante,
sua relevancia jaz no fato de que uma melhor compreensao da
COOPA-ROCA--de sua estrutura organizacional, seus processos e suas
relacoes com o ambiente de negocios--podera resultar em sugestoes que
contribuam para a melhoria do desempenho tanto da instituicao em estudo
quanto de outras cooperativas.
No que se refere aos fins, esta pesquisa caracterizou-se como
descritiva, metodologica e aplicada (VERGARA, 1997). Descritiva por
relatar o funcionamento da COOPA-ROCA a partir do mapeamento conceitual
derivado do estado da arte; metodologica e aplicada porque tanto
sugestoes quanto parametros para o sistema de gestao da cooperativa
foram apresentados/construidos/ implementados durante e ao fim do
trabalho de pesquisa.
No que tange aos meios, cinco classificacoes se aplicam de forma
complementar: de campo, bibliografica, documental, telematizada e estudo
de caso. De campo, pois foram realizadas entrevistas com as principais
representantes da cooperativa; bibliografica e telematizada, por partir
de conhecimento obtido em fontes como livros, sites institucionais e
periodicos especializados; documental, porque foram analisados
documentos da instituicao estudada; estudo de caso, pois o objeto de
estudo foi tratado em profundidade.
O estudo de caso e caracterizado pela imersao profunda e exaustiva
em um ou poucos objetos, a fim de produzir um amplo e detalhado
conhecimento. Yin (1994), ao observar o preceito da hierarquizacao de
pesquisas, ensina que enquanto os estudos de caso sao adequados as
pesquisas exploratorias, os surveys sao apropriados as pesquisas
descritivas e, por sua vez, os experimentos sao indicados para os
estudos explicativos. Todavia, o estudo de caso adequar-se-ia aos tres
casos: exploratorio, descritivo e explicativo. Quanto as vantagens e
desvantagens das estrategias de pesquisa, dependeriam de tres condicoes:
o tipo de pergunta da pesquisa, o controle que o investigador tem sobre
os eventos e, ainda, se o foco se direciona para fenomenos
contemporaneos ou historicos (YIN, 1994).
No que se refere a pergunta da pesquisa, aquelas do tipo como e por
que sinalizariam a conveniencia do estudo de caso; as do tipo qual,
poderiam indicar survey, experimento ou estudo de caso (YIN, 1994). A
utilizacao de estudos de caso em organizacoes recebe, tambem, o apoio de
outros autores, uma vez que permite tanto o estudo generic--em que os
varios aspectos tem peso similar--quanto o estudo com enfase em
determinada area ou situacao. Nessa perspectiva, nao se caracteriza como
uma tecnica de obtencao de dados em si mesmo, mas como um enfoque
metodologico que incorpora, entre outros, um conjunto de medidas de
obtencao de dados (BERG, 1998).
Ainda no que se refere a coleta de dados, registra-se que, tendo em
mente as consideracoes de Goldenberg (2000) e de Rubin e Rubin (1995),
buscou-se identificar quais seriam as pessoas-chave na instituicao em
foco, a fim de obter os depoimentos mais relevantes sobre o tema em
estudo. Procurou-se tambem atender as orientacoes de Eisenhardt (1989):
a pergunta da pesquisa deve ser orientadora dos criterios de selecao.
Dessa forma, foram entrevistadas: a coordenadora executiva, a presidente
da cooperativa, a gerente de producao, a responsavel pelo controle de
qualidade, a assistente administrativa e treze artesas. Julga-se, assim,
ter-se atendido aos criterios de selecao sugeridos por Rubin e Rubin
(1995). Segundo esses autores, os sujeitos selecionados devem: a)
conhecer a arena cultural ou a situacao/experiencia a ser estudada; b)
ter vontade de falar e; c) ter diferentes perspectivas.
Em atencao as prescricoes de Goldenberg (2000), optou-se por um
roteiro compativel com a entrevista focada/semiestruturada. Para tanto,
tomou-se por base a revisao da literatura e os objetivos da pesquisa. A
esse respeito, concordou-se com Santos (2000): o levantamento do estado
da arte constituiuse na orientacao basica para a formulacao de perguntas
por apontar as principais questoes associadas ao fenomeno.
O conteudo gravado de cada uma das entrevistas realizadas na
pesquisa de campo foi transcrito para o formato textual. Em seguida, os
dados foram organizados de forma compativel com os estudos de casos e
com a proposicao de Creswell (1998) e, a exemplo do que ocorreu com
Santos (2000), Silva (2001) e Rocha-Pinto (2004), o emprego do software
Atlas.Ti eliminou grande parte do trabalho manual, permitindo a
organizacao e a associacao de dados, que facilitaram e incentivaram a
reflexao sobre o fenomeno (ROCHA-PINTO, 2004). No processo de analise,
utilizou-se a triangulacao dos instrumentos de coleta: analise
documental, entrevistas semiestruturadas e observacao direta.
Acrescenta-se ainda que, no processo de construcao da reflexao e da
pesquisa--a partir do roteiro inicial--, questoes de outra natureza
surgiram, obedecendo a logica interna da cooperativa e a natureza da
funcao/cargo da pessoa entrevistada. Alem disso, registra-se que os
parametros estabelecidos para o sistema de gestao da cooperativa foram
validados tanto com a coordenadora executiva quanto com a area
administrativa da COOPAROCA.
Julga-se pertinente ainda salientar que as sucessivas idas ao
campo--treze visitas--foram as vezes dificultadas em razao de embates
entre a policia estadual e o trafico. Alem disso, o acesso as
instalacoes fisicas da COOPAROCA era mediado tacitamente com a
comunidade por meio da escolta das cooperadas aos pesquisadores.
4. ANALISE E DISCUSSAO DOS RESULTADOS
Nesta secao apresentam-se as categorias mais relevantes geradas
tanto nas entrevistas quanto na analise de conteudo empreendida. Tais
categorias representam dimensoes relevantes da estrutura formal e
informal da COOPA-ROCA. Algumas delas sao primordiais para o sistema de
gestao da cooperativa. Vistas como fatores criticos de sucesso,
representam entraves ou condicoes facilitadoras para o sistema de gestao
da cooperativa. Esse sistema estara baseado, tambem, na identificacao
dos elos importantes entre as categorias da cadeia de valor (PORTER,
1985) da instituicao objeto de estudo.
4.1. Tomada de decisao
A participacao no processo de gestao representa uma das
caracteristicas distintivas das cooperativas em relacao a outras
organizacoes envolvidas com o trabalho humano (JUNQUEIRA; TREZ, 2004).
Contudo, o processo de mediacao com os parceiros de
Negocios--fornecedores de servico/trabalho e de recursos financeiros e
tecnologicos a cooperative--se da de forma centralizada, a cargo da
coordenadora executiva da COOPA-ROCA. A despeito de o conceito de
autogestao nao se materializar conforme ensinado por Junqueira e Trez
(2004), as artesas-cooperadas endossam tal pratica. Nas palavras de uma
entrevistada, '"ela' (a coordenadora) sabe como falar com
'eles"' (os clientes). De origem humilde, as artesas se
sentem intimidadas/constrangidas e preferem que o contato com os
clientes se faca por meio da coordenadora. Esta, por seu turno,
considera tal atitude preocupante, por constituir um entrave tanto a
autogestao quanto a sustentabilidade da COOPA-ROCA a longo prazo.
Apesar de a relacao com os clientes/fornecedores de servicos da
COOPA-ROCA encontrar-se centralizada, a decisao final sobre a aceitacao
de um trabalho cabe a cada artesa, de forma individual. Em outras
palavras, quando uma artesa julga que o preco unitario de uma peca nao
compensa o trabalho a ser desenvolvido, ela tende a optar por outros
tipos de servico, como, por exemplo, fazer uma faxina. Nessa medida,
pode-se afirmar que ela--a artesa--nao tem consciencia de que, ao
recusar um trabalho, pode, eventualmente, causar dano a imagem da
cooperativa e, em decorrencia, ao trabalho de outras cooperadas,
prejudicando, em certa medida, a formacao do capital social da
Cooperativa, conforme preconizado por Coleman (1999). Contudo, e
paradoxalmente, o espirito de cooperativismo surge na determinacao do
preco/custo da peca. A formacao do processo se da da seguinte forma: a
construcao do prototipo a ser aprovado pelo cliente fica a cargo da
artesa-mestra: e ela quem decide e indica o tipo de material a ser
usado--se este nao for definido pelo cliente--e julga o valor do
trabalho a partir de sua propria experiencia. Ou seja, ela transfere
para as outras artesas o preco que ela considera justo pelo seu proprio
trabalho.
4.2. Identidade cooperativista
O processo de conscientizacao do "ser" cooperada enquanto
uma identidade--precisa ser mediado por um agente externo a cooperativa:
uma consultora foi contratada para esse fim. Nessa medida, pode-se
afirmar que o senso cooperativista e/esta sendo instilado ao inves de
existir naturalmente entre as cooperadas artesas. A perspectiva de um
objetivo comum encontra-se restrita a possibilidade de obter mais
trabalho. Dessa forma, a racionalidade instrumental opera em detrimento
de uma racionalidade mais substantiva, suposta em arranjos de trabalho
de ordem distinta das organizacoes com fins lucrativos.
Uma vez que, por definicao, os cooperados sao responsaveis pela
gestao da organizacao, e suposto que definam os objetivos e reconhecam
as oportunidades, a fim de que o planejamento do trabalho dos associados
se faca de acordo com suas competencias e habilidades (JUNQUEIRA; TREZ,
2004). Ha que concordar com esses pesquisadores, que asseveram:
Essas consideracoes indicam que uma das questoes centrais nos
processos de criacao, sobrevivencia e desenvolvimento das
cooperativas de trabalho e a efetiva participacao e
co-responsabilidade dos seus membros, nao apenas em attender as
necessidades do mercado de trabalho, mas de construir uma
organizacao apoiada na autogestao, no compromisso social, na
solidariedade e nos principios democraticos (JUNQUEIRA; TREZ,
2004:2).
Para que as dimensoes civicas de participacao e de compromisso
sejam incorporadas nas praticas das cooperativas, e necessario que a
organizacao defina normas claras de conduta, a fim de regular as
relacoes interpessoais norteadas pelas praticas da confianca e do
compromisso, mediadoras da construcao solidaria de uma sociedade justa e
equanime. A presenca dessas caracteristicas em uma cooperativa,
inerentes que sao aos seus principios formadores, permitira a acumulacao
de um capital que nao e de cada um, mas da coletividade. Esse capital e
o que se denomina de capital social, que surge da "intensidade da
interacao entre seus membros para sua sobrevivencia e eficacia"
(JUNQUEIRA; TREZ, 2004:3).
No caso da cooperativa em analise, alem da preocupacao com a
sobrevivencia financeira ha uma preocupacao comum com a integridade
fisica, pois, no depoimento de uma integrante, a COOPA-ROCA encontra-se
instalada no "ovo da serpente'". Acredita-se, contudo,
que o impacto da pressao do trafico sobre as atividades da cooperativa
sera minimizado com a construcao de outro edificio em uma area
considerada mais comercial. Acoes nesse sentido estao sendo
empreendidas: a cooperativa ja possui o terreno e esta empenhada em
conseguir recursos para a construcao da nova sede social.
4.3. Formacao de capital social
Confirmando constatacoes de Junqueira e Trez (2004), verificou-se
um baixo grau de comparecimento as reunioes, nas quais sao tratados
assuntos inerentes as atividades da cooperativa; as presencas mais
constantes e fieis reduzem-se ao quadro antigo das cooperadas: cerca de
oito artesas. Contudo, registra-se um expressivo comparecimento nas
atividades de socializacao/congregacao das cooperadas. A tais atividades
e permitido o acesso de familiares e parceiros das cooperadas. Nessa
medida, observa-se um comportamento grupal distinto daquele observado
por Junqueira e Trez (2004). Esses autores constataram a impossibilidade
de construir relacoes perenes/facilitadoras de acumulo de capital social
entre cooperados por eles pesquisados. As descobertas de Junqueira e
Trez (2004) indicam que, na maior parte das cooperativas por eles
analisadas, os principios do cooperativismo referentes a participacao, a
democracia, ao desenvolvimento de lacos interpessoais nao eram
valorizados. Esses principios, na opiniao dos estudiosos, sao os
facilitadores da construcao da cidadania e do capital social.
Uma possivel explicacao para essa diferenca reside no fato de que a
COOPA-ROCA encontra-se fisicamente instalada no local de residencia das
cooperadas: a Rocinha. Alem disso, em diversas situacoes as
artesascooperadas necessitam trabalhar em grupo, em torno de uma unica
peca--uma colcha ou um banner, por exemplo--, a fim de entregar a
producao de forma mais eficiente e eficaz. Nessa medida, o espaco fisico
da Cooperativa se constitui, alem de em sua propria residencia, em um
local de trabalho para as artesas. Em contrapartida, nas situacoes
encontradas por Junqueira e Trez (2004), "a maioria dos cooperados
encontra-se voltada para o trabalho individual, a fim de garantir sua
sobrevivencia pessoal, sem preocupar-se em construir relacoes internas e
externas capazes de aumentar a eficacia e a qualidade ao trabalho
cooperativo".
Diante das evidencias que a pesquisa de campo trouxe, pode-se
inferir que, no caso da COOPA-ROCA, a formacao de capital social
conforme preconizada por Coleman (1999) encontra-se parcialmente
facilitada. Afinal, o capital social deve ser entendido como um recurso
para as pessoas e, dessa forma, produto das mudancas das relacoes
interpessoais facilitadoras de determinadas acoes (COLEMAN, 1999). Alem
disso, conforme pontualiza COLEMAN (1999), o capital social, para
existir, deve nao so depender da acao individual para a producao de um
bem coletivo, mas tambem ser sustentado por dois pilares: a confianca e
a reciprocidade. Para o caso em analise, e possivel apontar indicios do
fator reciprocidade na mediacao de encontros sociais das artesas e seus
familiares, assim como nos processos de construcao coletiva de uma
determinada peca.
4.4. Gestao do desempenho
Os relatorios contabeis atendem a sua principal responsabilidade
como sistema de informacoes quando apresentam instrumentos de controle e
prestacao de contas aos seus usuarios de forma especifica e continua (SANTOS; VASCONCELOS, 2002). Contudo, uma vez que os indicadores de
desempenho financeiro sao estrategicamente mantidos obscuros--a fim de
proteger a Cooperativa e suas cooperadas de atos de agressao, roubos ou
assaltos--, o sentido de propriedade patrimonial nao se encontra
materializado. Dessa forma, a contabilidade da cooperativa tem apenas
efeito fiscal. Em decorrencia, pode-se afirmar que a COOPA-ROCA em
desvio das descobertas de Paula e Ichikawa (2002) carece de um sistema
efetivo de gestao. Alem disso, nao existem indicadores sistematizados de
desempenho seja por artesa, seja por tipo de funcao/habilidade. Diante
disso, apresenta-se a seguir a analise sobre a divisao do trabalho na
cooperativa, para que em seguida seja exposta a cadeia de valor e os
elos entre as categorias criticas da cooperativa. Ressalva-se que esses
fatores foram determinantes para a criacao/desenvolvimento de um sistema
de gestao para a COOPA-ROCA.
4.5. A divisao do trabalho
No que se refere a parte operacional, observa-se que, apos uma
encomenda, o desenvolvimento dos prototipos fica a cargo de uma
artesa-mestra. Depois de obtida a aprovacao, pelo cliente, tanto do
modelo quanto do preco estabelecido, cabe a gerente de producao convocar
as artesas segundo o tipo de habilidade envolvida na peca projetada. Com
base no prototipo, e realizada uma oficina na qual, sob a
supervisao/orientacao da artesamestra, as demais artesas produzem um
modelo que sera a base para a producao a ser realizada em casa. O
criterio de convocacao tambem leva em consideracao a quantidade de pecas
a ser entregue. Dessa forma, privilegiam-se as artesas que tem por
costume atender/respeitar os prazos combinados. O atendimento ao prazo
de entrega da producao e vital porque condiciona o pagamento da
totalidade da encomenda realizada.
Nessa medida, foi sugerido a gerente de producao que produza um
mapa de acompanhamento que sinalize para todas as artesas o impacto dos
dias de atraso sobre a efetivacao do pagamento. Acredita-se que tal
medida ajude, tambem, na construcao do sentido de cooperativismo que
tanto a presidente da cooperative--que acumula o cargo de gestora de
recursos humanos--quanto a coordenadora executiva se empenham em
construir. As atividades administrativas segundo a natureza do
cargo/funcao encontram-se sumarizadas no Quadro 1.
4.6. O "funcionograma" da COOPA-ROCA
O conjunto das atividades desenvolvidas pela COOPA-ROCA encontra-se
resumido e aglutinado, segundo a taxonomia adotada por Porter (1985), na
cadeia de valor exposta na Figura 2. Esclarece-se que esse conjunto de
atividades foi mapeado juntamente com a area administrativa e a gerencia
de producao.
[FIGURA 2 OMITTED]
A analise da cadeia de valor da COOPA-ROCA evidenciou algumas
relacoes importantes entre as categorias. Os elos considerados mais
criticos, destacados na Figura 2, encontram-se comentados no Quadro 2,
segundo a natureza do envolvimento funcional e o tipo de relevancia.
A relevancia exposta no Quadro 2 sintetiza os fatores-chave tanto
para a elaboracao do sistema de desempenho da cooperativa quanto para o
desenvolvimento das competencias necessarias ao bom desempenho funcional
e organizacional.
5. A TITULO DE CONCLUSAO
A partir da observacao de que ha uma lacuna no conhecimento
cientifico sobre o processo de estruturacao das cooperativas
populares--um tipo de arranjo de economia solidaria no Brasil--,
realizou-se uma pesquisa de campo em uma cooperativa de artesas da
comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro. Originalmente reunidas em
pequenas oficinas, as artesas comecaram a trabalhar com o reciclo de
lixo industrial e a venda de trabalhos manuais. Esse trabalho cresceu ao
longo de vinte e cinco anos e, no caminho, organizou-se em torno de uma
cooperativa chamada COOPA-ROCA. A partir desse pano de fundo, o objetivo
principal da pesquisa foi responder a seguinte questao: quais sao as
dimensoes relevantes tanto na estruturacao do trabalho quanto no
desempenho da COOPA-ROCA? O estudo de caso empreendido revelou que:
existe uma forte centralizacao na mediacao da cooperativa com os seus
principais parceiros de negocio; o espirito cooperativista nao se
encontra consagrado; as artesas desconhecem o desempenho financeiro da
cooperativa; nao se consubstancia o sentido de propriedade; com excecao
das reunioes que discutem o preco de cada unidade produzida, as artesas
nao se interessam pelas reunioes de carater estrategico, contudo
valorizam as atividades de cunho social.
Faz-se tambem necessario ressaltar o fato de que o presente estudo
norteou o sistema de gestao a ser adotado, uma vez que revelou os
principais elos na cadeia de valor da cooperativa. Ao final da pesquisa,
concluiu-se que a cooperativa encontra-se em um segundo ponto de
inflexao: aposta-se que a transferencia da cooperativa para outro ponto
da favela, considerado mais seguro, resultara na flexibilizacao da
relacao com os fornecedores de servico, hoje centralizada na figura da
coordenadora executiva; ou seja, a estrategia pretendida e possibilitar
a ida dos clientes ao local de producao das pecas e, mediante o contato
direto das cooperadas-artesas com seus fornecedores de renda, facilitar,
expandir e concretizar a relacao que atualmente e praticamente
inexistente.
Entender as razoes pelas quais acontece o esvaziamento nas reunioes
de cooperadas, a exemplo de outras cooperativas, assim como revelar qual
e o sentido do trabalho em cooperativa na percepcao das artesas,
torna-se imperativo e deve ser objeto de outras pesquisas. Dessa forma,
contribuir-se-a para a compreensao tanto da nocao de Economia Social no
Brasil quanto das variaveis estruturantes do conceito de Capital Social.
Acredita-se que este estudo contribuiu, em parte, para responder as
perguntas formuladas por Silva Junior (2007): como, em determinadas
situacoes, um grupo de individuos, uma comunidade e ate mesmo uma nacao
superam os obstaculos socioeconomicos e culturais na producao de bens
materiais e imateriais? Por que outros grupos, comunidades e nacoes nao
obtem o mesmo resultado em situacoes que, em principio, seriam
semelhantes? Ademais, ha que concordar com esse autor a respeito do fato
de que, se cada vez mais o conceito de capital social e considerado como
um dos mecanismos viabilizadores da superacao do atraso e da pobreza, e
preciso aprofundar o debate teorico e empirico em torno do tema.
Concorda-se tambem com Mazzei e Crubellate (2007:1), para quem, a
par de qualquer questionamento a respeito de sua forma de gestao, e
necessario ressaltar a importancia dos empreendimentos economicos
solidarios na busca por alternativas aos problemas do desemprego e da
exclusao social. Esses empreendimentos, de que a COOPA-ROCA e um
exemplo, tem apresentado grandes avancos no que diz respeito ao alcance
de sucesso de projetos, ainda que estes estejam restritos a um plano de
desenvolvimento local ou ate microlocal.
Recebido em: 12/8/2009
Aprovado em: 22/7/2010
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(1) Concurso de projetos de arte, mobiliario, decoracao e moda,
promovido pela COOPA-ROCA e aberto a estudantes de escolas de moda,
arquitetura, artes e design do Rio de Janeiro e Sao Paulo.
Sandra Regina da Rocha-Pinto, Helio Arthur Reis Irigaray e Rafael
Caldas Ferreira da Silva
Sandra Regina da Rocha-Pinto
Mestre em Administracao de Empresas pela PUC-Rio. Doutora em
Ciencias Humanas--Educacao pela PUC-Rio. Professora Assistente do
Departamento de Administracao da Pontificia Universidade Catolica do Rio
de Janeiro--Rio de Janeiro--RJ, Brasil E-mail: sanpin@iag.puc-rio.br
Helio Arthur Reis Irigaray
Mestre em Administracao de Empresas pela PUC-Rio. Doutor em
Administracao de Empresas pela FGV-EAESP. Lider do tema Diversidade e
Trabalho, da area Gestao de Pessoas e Relacoes de Trabalho da ANPAD Professor da FGV-EBAPE--Rio de Janeiro--RJ, Brasil E-mail:
helio.irigaray@fgv.br
Rafael Caldas Ferreira da Silva
Bacharel em Administracao pela PUC-Rio--Rio de Janeiro--RJ, Brasil
E-mail: faelcaldas@gmail.com
Quadro 1: Definicao das responsabilidades
Cargo / funcao Atividades
Coordenadora Contato com os clientes; busca por recursos;
executiva direcionamento estrategico; estruturacao da
cooperativa.
Presidente Responsabilidade fiscal; gerente de recursos
humanos; artesa.
Gerente de producao Alocacao de artesas e materiais; aprovacao de
prototipos; liberacao da producao; contato
com clientes.
Gerente de recursos Integracao; conscientizacao do sentido do
humanos cooperativismo; socializacao; recrutamento de
artesas.
Controle de Controle, embalagem e despacho da producao;
qualidade compra de materiais para producao; contato
com fornecedores de materiais; supervisao da
oficina de treinamento.
Assistente Pagamento de obrigacoes fiscais,
administrativo fornecedores, artesas e equipe
administrativa; despacho de exportacao;
compra de material de escritorio; contato com
transportadores; acompanhamento do pagamento
dos clientes.
Artesa-mestra Desenvolvimento de prototipo; treinamento de
artesas.
Fonte: Elaborado pelos autores.
Quadro 2: Relacoes criticas
Tipo Envolvimento funcional Relevancia
Desenvolvimento de Artesa-mestra; Diz respeito a
prototipos x gerente de producao; aprovacao do
estabelecimento de coordenadora prototipo nas
precos executiva; cliente. dimensoes custo,
material e
habilidade
empregada.
Desenvolvimento de Artesa-mestra; Permeia a
prototipos x oficina gerente de producao; transmissao do
de artesanato x artesa. conhecimento tacito
producao sobre o prototipo
construido; producao
propriamente dita.
Desenvolvimento de Gerente de producao; Envolve habilidades
prototipos x artesa. diferenciadas assim
recrutamento de como o grau de
artesas x producao ocupacao de cada
artesa.
Desenvolvimento de Coordenadora Determina a
prototipos x executiva; gerente encomenda de novas
gerenciamento de de producao. pecas.
clientes especiais
Desenvolvimento de Coordenadora Envolve a
parcerias x executiva. sobrevivencia e a
gerenciamento de sustentabilidade da
clientes especiais cooperativa a medio
e longo prazo.
Contratacao de Assistente Demanda agilidade:
servicos de administrativo; a) por uma questao
transporte--caminhao controle de de seguranca, os
x transporte de qualidade. caminhoes nao podem
artefato para ter tempo de espera;
exportacao b) em funcao das
ruelas estreitas, as
pecas volumosas
necessitam ser
montadas fora da
cooperativa.
Fonte: Elaborado pelos autores.