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文章基本信息

  • 标题:An analytical investigation of the bullwhip effect in the food supply chain/Uma analise investigativa do efeito chicote na cadeia de suprimentos da industria alimenticia/Un analisis investigativo del efecto chicote en la cadena de suministros de la industria alimenticia.
  • 作者:Moori, Roberto Giro ; Perera, Luiz Carlos Jacob ; Mangini, Eduardo Roque
  • 期刊名称:Revista de Gestao USP
  • 印刷版ISSN:1809-2276
  • 出版年度:2011
  • 期号:July
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade - FEA-USP
  • 关键词:Food supply;Supermarkets;Wholesale industry;Wholesale trade

An analytical investigation of the bullwhip effect in the food supply chain/Uma analise investigativa do efeito chicote na cadeia de suprimentos da industria alimenticia/Un analisis investigativo del efecto chicote en la cadena de suministros de la industria alimenticia.


Moori, Roberto Giro ; Perera, Luiz Carlos Jacob ; Mangini, Eduardo Roque 等


1. INTRODUCAO

Com a liberacao seletiva de alguns mercados, que os transformou de supridores em orientados pela demanda, emergiu a gestao da cadeia de suprimentos, pautada pela crenca de que as empresas independentes, para serem competitivas, deveriam estar integradas estrategicamente a sua cadeia de suprimentos, de forma a criar valor para o consumidor final (HANDFIELD; NICHOLS JR., 1999). Nessa reconfiguracao, o consumidor final tornou-se o foco ou o ponto inicial das estrategias corporativas. A atitude de considera-lo como o elo mais importante da cadeia de suprimentos repousa na ideia de que ele e o unico que tem o poder real da cadeia, por ser quem irriga todo o sistema produtivo com um fluxo monetario, distribuido entre os diferentes membros participantes da cadeia de suprimentos (ZYLBERSZTAJN, 2000; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON, 2002). Entretanto, para o sucesso da gestao da cadeia de suprimentos e necessario que competencias tecnicas e operacionais, distribuidas nas varias empresas que compoem a cadeia, sejam integradas, a fim de que se fomente a competitividade coletiva, em detrimento da individual (BARNEY; HESTERLEY, 2004).

A competitividade coletiva nao e uma tarefa de facil obtencao, uma vez que as empresas de uma cadeia de suprimentos podem fazer parte de outra cadeia, com diferentes objetivos e tipos de negocios. Constata-se um exemplo disso na cadeia produtiva da carne bovina: os pecuaristas alegam que os frigorificos pagam uma diferenca muito pequena pelos animais rastreados e que os lucros da exportacao nao chegam as fazendas; os frigorificos alegam que os precos internacionais oscilam de acordo com o mercado (SALVADOR; MADUENO, 2008).

Nesse ambiente dinamico, a volatilidade da demanda e as distorcoes da informacao tornam-se variaveis importantes para a gestao da cadeia de suprimentos. A captura ou a percepcao do comportamento dessas variaveis, decorrentes desse ambiente dinamico e incerto, e o que se define como efeito chicote (DORNIER et al., 2000). A metafora utilizada vem do fato de que, em uma cadeia com varios membros, na qual cada um age independentemente do outro e compartilha apenas o minimo de informacoes, e muito provavel que alteracoes, mesmo pequenas, na demanda do consumidor final resultem em uma demanda ampliada e crescente para empresas situadas a montante da cadeia de suprimentos (CHRISTOPHER, 1999; SLACK et al., 2002; PIRES, 2004). A causa desse fenomeno de onda gigantesco, ou chicotada, esta no fato de que estoques independentes, em cada fase da cadeia, agem como reservas ou dispositivos de seguranca que distorcem e ampliam as quantidades solicitadas para atender a demanda, ocultando dos fornecedores a verdadeira demanda.

Assim, tomando-se como premissa que a gestao da cadeia de suprimentos representa uma fronteira do conhecimento administrativo direcionado para a vantagem competitiva, e que o efeito chicote pode afeta-la (LEE; PADMANABHANWHANG, 1997a, 1997b; WARBURTON, 2004), a questao basica abordada por este estudo e a seguinte: quais sao as variaveis relevantes relacionadas ao efeito chicote na cadeia de suprimentos da industria de alimentos? O objetivo e identifica-las e verificar como sao gerenciadas pelos diversos membros envolvidos, na tentativa de minimizar seus efeitos ao longo da cadeia.

Deve-se salientar que a principal motivacao deste trabalho foi o intuito de apresentar alternativas para a analise do efeito chicote, em lugar dos usuais modelos matematicos teoricos e de simulacao. Chamar a atencao de que existem outras maneiras de estudar o efeito chicote--eis o que se espera ser a contribuicao deste trabalho.

O estudo foi organizado da seguinte forma. Primeiramente, fez-se uma revisao das varias correntes academicas sobre a gestao da cadeia de suprimentos e do efeito chicote. Especificam-se, em seguida, os procedimentos metodologicos da pesquisa. A analise dos dados e os resultados obtidos sao entao apresentados. As consideracoes finais e sugestoes, destacando os resultados relevantes e oportunidades para pesquisas futuras, encerram o artigo.

2. REFERENCIAL TEORICO

2.1. Gestao da Cadeia de Suprimentos

A gestao da cadeia de suprimentos (SCM) e definida pelo Global Supply Chain Forum (GSCF) como a integracao dos processos de negocios desde o usuario final ate os fornecedores originais (primarios) de produtos, servicos e informacoes que se apresentam como um valor para os clientes e stakeholders (PIRES, 2004). Nessa integracao podem formar-se redes complexas, integradas por muitas empresas e entidades. Segundo Lamming et al. (2000), corroborados por Pires (2004), o termo cadeia (chain) e uma metafora imperfeita para tratar de questoes consideradas no contexto da SCM, visto que elas raramente revelam um comportamento linear. Sugerem esses autores que o uso da expressao rede de suprimentos (supply network) seria mais apropriado, mas reconhecem que o termo supply chain se tornou de fato muito popular.

A complexidade do uso do conceito de SCM tambem pode ser constatada em Ford et al. (2003). Estes autores apoiam a ideia de que nao e possivel estabelecer com clareza a distincao entre fornecedores, fabricantes, distribuidores (ou atacadista) e consumidores, uma vez que o produto de uma cadeia pode se entrelacar a outras cadeias diferentes, ora como materia-prima em uma cadeia, ora como produto acabado em outra. Exemplo: uma materia-prima pode ser usada em varias empresas, gerando diferentes produtos acabados, que por sua vez podem servir como componente da propria empresa que forneceu a materia-prima.

Para simplificar essa dificuldade, Gaither e Frazier (2001) sugerem considerar somente a parte da cadeia de suprimentos que interessa a organizacao. Desse modo, para a maioria das empresas, a administracao da cadeia de suprimentos deveria referir-se a todas as funcoes administrativas que diretamente se relacionam, a montante, com o fluxo de materiais e informacoes dos fornecedores e, a jusante, com os clientes, incluindo os departamentos de compras, armazenagem, inspecao, producao, manuseio de materiais, expedicao e distribuicao. Essa relacao foi denominada por Harland (1996) como dyadic.

De qualquer forma, existe uma unanimidade conceitual entre os autores: o objetivo da gestao da cadeia de suprimentos e conectar o mercado, a rede de distribuicao, o processo de fabricacao e a atividade de aquisicao, de tal modo que os clientes sejam contemplados com niveis cada vez mais altos de servicos, e que ainda assim os custos se mantenham baixos. Por outro lado, os servicos exigidos pelos clientes nao sao estaticos. Ha necessidade de colocar os servicos prestados em sincronia com as expectativas e exigencias dos clientes. E preciso, alem disso, considerar que os agentes atuantes na empresa--stakeholders mantem uma relacao intensa de cooperacao e conflito (NALEBUFF; BRANDENBURGER, 1996). Nesse ambiente, as atividades de negocios tornam-se altamente instaveis. As empresas tem de cooperar, pois disso pode depender seu sucesso individual. Ha tambem conflitos, porque elas disputam margens de lucro, distribuidas pelo consumidor final as empresas da cadeia de suprimentos (ZYLBERSZTAJN, 2000; SLACK et al., 2002).

Conhecer os fatores-chave que influenciam o comportamento dos clientes, identificar a quais fatores atribuem eles maior relevancia, e, a partir dai, desenvolver processos de gerenciamento para que os objetivos dos servicos ao cliente sejam atingidos, sao metas de importancia fundamental. Na realidade, trata-se de uma nova postura empresarial, em que as organizacoes sao direcionadas para trabalhar com o foco no cliente. Nesse sentido, uma cadeia de suprimentos integrada por meio de informacoes eficazes representa um papel importante na reducao de custos e na melhoria dos niveis de servicos aos clientes (como a rapidez e a flexibilidade das entregas) (CHRISTOPHER, 1999). Entretanto, existe uma grande dificuldade em concatenar a diminuicao de custos com a manutencao do nivel de atendimento ou do nivel de qualidade. A dificuldade aumenta quando se deixa de considerar apenas um elo e se passa a observar toda a cadeia.

Outro obstaculo observado em cadeias de suprimento diz respeito a incerteza gerada pela falta de previsao correta da demanda. Tem havido grande empenho, nas empresas integradas em cadeias, para eliminar tanto as falhas de previsao existentes relativas ao fornecimento e a demanda, quanto a flutuacao entre estoques e pedidos. Entretanto, a acuracidade de previsoes nao e suficiente para a solucao desses problemas, pois a incerteza tambem decorre de atraso nas entregas, problemas de fabricacao, tempo de transporte e outros fatores especificos que impactam a cadeia de suprimentos, podendo culminar com a propagacao desses erros a montante da empresa em foco, num fenomeno conhecido como efeito chicote (SIMCHI-LEVI; KAMINSKY; SIMCHI-LEVI 2003).

2.2. Efeito Chicote e Medidas de Desempenho

O efeito chicote, tambem conhecido como efeito Forrester, esta relacionado com o fenomeno de amplificacao e variabilidade do intervalo entre a demanda real e a demanda prevista, que se propaga a montante da cadeia de suprimentos. Mendonca e Andrade (2005), por meio de modelos matematicos, simularam e analisaram o efeito chicote em cenarios caracterizados pela falta de exatidao da informacao e pela inexistencia de transparencia ao longo da cadeia de suprimentos. A falta de concatenacao do plano de producao com dados reais a respeito da demanda pode gerar excesso de estoque e a consequente perda de receita, alem de fazer colapsar o servico prestado ao cliente e provocar custos adicionais e desnecessarios.

Lee et al. (1997a) e Simchi-Levi et al. (2003) atualizaram as ideias de Forrester (1958), relacionando o efeito chicote com o comportamento racional dos agentes participantes da infraestrutura de uma cadeia de suprimentos. Afirmam eles, ademais, que as empresas que desejem o controle do efeito chicote devem concentrar-se na modificacao da infraestrutura da cadeia, dos processos relacionados e do comportamento dos tomadores de decisao.

Para Lee et al. (1997b), o efeito chicote tem quatro causas basicas:

a) Atualizacao da demanda. Essa causa ressalta a necessidade, para os membros da cadeia, de compartilhar informacoes, a fim de evitar a inducao de erros na demanda real. O uso de sistemas EDI (Electronic Data Interchange) pode facilitar e agilizar a transmissao de informacoes ao longo da cadeia;

b) Jogo do racionamento. Ocorre quando a demanda excede a oferta, e os produtores racionam a oferta de seus produtos aos clientes, liberando-lhes apenas uma quantidade proporcional a quantidade demandada;

c) Processamento de ordens. Refere-se as politicas de dimensionamento das ordens de pedido de compras ou de producao em cada elo da cadeia, em especial na formacao de estoque do tipo lote economico;

d) Variacao de precos. As flutuacoes de precos de origem macroeconomica e politica, bem como as promocoes de vendas, acabam provocando uma variacao de precos ao longo da cadeia de suprimentos, conforme mostraram Machline, Barbieri e Alvares (2005) em estudo sobre cadeia siderurgica.

Baljko (1999) corrobora os achados de Lee et al. (1997b), sugerindo que e possivel mitigar o efeito chicote na cadeia por meio do compartilhamento de conhecimento ou informacoes com fornecedores e consumidores, para melhorar a estimativa da demanda. Recomenda, ainda, o trabalho conjunto dos membros da cadeia, para determinar a possivel causa do efeito por meio das parcerias estrategicas, alem da utilizacao de tecnologia de informacao que permita aumentar a velocidade de comunicacao, reduzir o tempo de resposta (lead time) e, assim, deslocar o ponto de penetracao do pedido para uma area tao distante quanto possivel a montante da empresa em foco. Em outras palavras, deixar de conduzir as atividades produtivas com base em previsoes e orienta-las pela demanda (CHRISTOPHER, 1999).

Uma questao pratica levantada por Fransoo e Wouters (2000) e a complexidade da mensuracao do efeito chicote. A esse respeito, eles sugerem que: 1) em cada camada ou elo, a base de desagregacao das informacoes deve ser a mesma; 2) as medidas devem ser feitas em cada camada separadamente, a fim de que os eventuais beneficios de solucoes parciais possam ser comparados com os beneficios das solucoes mais amplas; 3) as medidas precisam ser filtradas, de modo que possam ser separadas as diversas causas do efeito global.

Acrescenta ainda Taylor (2000) que, quando se estudam as amplificacoes da demanda em uma cadeia de suprimentos, devem-se separar os fatores que disparam (causas radicais) e os fatores que simplesmente amplificam a variacao e amplitude da demanda. Sugere, ademais, para evitar o efeito chicote, os seguintes procedimentos: a) suavizar a demanda; b) desenvolver sistemas com flexibilidade de resposta; c) definir claramente o papel dos estoques; d) reduzir o numero de pessoas que influenciam a demanda. Por conta disso, segundo Dornier et al. (2000), um elemento critico para uma integracao bem-sucedida e desenvolver sistemas de medicao de desempenho que reflitam essas mudancas e permitam a avaliacao de seu progresso e impacto na competitividade empresarial.

Pesquisadores como Harland (1996) e Chopra e Meindl (2003) tem relacionado desempenhos da cadeia de suprimento com dinamismo industrial e logistico. Tempo de atraso no atendimento ao pedido, provisao de estoque de seguranca, problemas de seguranca na comunicacao e falhas de previsao sao exemplos de medidas do efeito chicote. Neely, Gregory e Platts (1995) salientam que as medidas de desempenho sao processos que tem por objetivo quantificar acoes, buscando a satisfacao dos clientes da forma mais eficaz, em comparacao com as organizacoes concorrentes.

Destaca, ademais, a ocorrencia sequencial e permanente de medidas de desempenho (metricas apropriadas), medicao do desempenho (processo adequado de medicao) e sistemas de medicao de desempenho (relacionando as metricas e processos com as tomadas de decisoes e respostas adequadas). Dessa forma, a eficiencia dos niveis redunda na eficacia do sistema. Neely et al. (1995) e Slack et al. (2002) a firmam que o conceito e mais bem compreendido quando se utiliza o conceito de prioridades competitivas. Para tanto, sugerem prioridades competitivas escalonadas em cinco categorias: qualidade, velocidade, confiabilidade, flexibilidade e custo.

Outras medidas de desempenho podem ser utilizadas, como as sugeridas pelo ECR (Efficient Consumer Response), que e um programa de melhoria da qualidade dos servicos prestados aos consumidores, ou as provenientes do CPFR (Collaborative planning, Forecasting and Replenishment), que e um conjunto de procedimentos para estabelecer padroes que melhorem o fluxo de informacoes entre os parceiros de negocios (VICS, 2002).

Em relacao a cadeia de suprimentos, Beamon e Chen (2001) e Christopher (1999) preconizam medidas de desempenho integradas, consistentes e condizentes com as funcoes da empresa em foco, em harmonia com as demais empresas integrantes da cadeia. Todavia, observam os autores, o problema principal reside na diversidade das metricas e medidas de desempenho eficazes para alcancar a plenitude da gestao.

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

3.1. Pressupostos, Abordagem Teorica, Unidades e Niveis de Analise

A pesquisa que fundamenta este artigo e de natureza exploratoria e descritiva. Com base no objetivo do trabalho, assumiu-se como pressuposto basico que as variaveis relacionadas ao efeito chicote sao gerenciadas pelas empresas integrantes da cadeia de suprimentos de produtos alimenticios. Para tanto, considerou-se como unidade de analise o fenomeno efeito chicote, representado por suas variaveis relevantes, e como niveis de analise as empresas integrantes da cadeia de suprimentos da industria de alimentos.

Foram aplicados a cada variavel do efeito chicote (ou unidade de analise) testes estatisticos nao parametricos, nos tres elos da cadeia (ou niveis de analise): consumidores dos supermercados, atacadistas e fabricantes. Assim, em nivel de significancia estatistica ([alpha] [less than or equal to] < 0,05), estabeleceu-se a seguinte hipotese:

[H.sub.0]: Nao ha diferencas no gerenciamento das variaveis do efeito chicote nos niveis de analise.

[H.sub.1]: Ha diferencas no gerenciamento das variaveis do efeito chicote nos niveis de analise.

Numa visao especifica de cada variavel, e sob a hipotese da nulidade (H0), constata-se que, de um lado, se a probabilidade for superior a [alpha] = 0,05, a decisao sera aceitar H0 e rejeitar H1, e concluir que, para uma mesma assertiva ou variavel, a administracao dos elos da cadeia dispensa o tratamento diferenciado ou o conteudo gerencial que, de acordo com a variavel formulada, nao evidencia o efeito chicote. De outro, se a probabilidade for inferior a [alpha] = 0,05, a decisao sera rejeitar [H.sub.0] em favor de [H.sub.1] e concluir que, para uma mesma assertiva ou variavel, a administracao dos elos da cadeia dispensa o tratamento diferenciado ou o conteudo gerencial que, de acordo com a variavel formulada, evidencia o efeito chicote.

Para nao haver perda de informacao, o teste foi aplicado nos seguintes niveis de analise: consumidores de supermercados, atacadistas e fabricantes, dois a dois e em conjunto. O modelo ilustrativo da cadeia de suprimentos e mostrado na Figura 1.

[FIGURE 1 OMITTED]

A abordagem teorica adotada foi a de gestao de cadeias de suprimentos, tendo as empresas supermercadistas, representadas por seus consumidores, como ponto focal da analise. A montante foram consideradas as empresas atacadistas e os fabricantes de produtos alimenticios. A jusante, os consumidores e os supermercados, conjuntamente, tomados como inicializadores do fenomeno efeito chicote.

Os consumidores de supermercados, atacadistas e fabricantes foram representados pelas letras S, A e F, respectivamente.

3.2. Construcao do Instrumento de Coleta de Dados, Sujeitos da Pesquisa, Validacao e Tratamento dos Dados

Para a coleta de dados utilizou-se um questionario estruturado, cujos passos sao descritos a seguir. A construcao do instrumento de coleta foi precedida por uma pesquisa exploratoria realizada no segundo semestre de 2006 com oito gestores dos supermercados ou empresas em foco, 50% dos quais eram proprietarios e, os demais, gerentes funcionais. O objetivo da pesquisa foi explorar as variaveis relevantes do efeito chicote e conhecer, com maior profundidade, como o setor varejista as percebia e as gerenciava.

A coleta de dados efetuou-se por meio de entrevistas em profundidade, que, tratadas pela analise de conteudo, revelaram que das 25 variaveis relacionadas ao efeito chicote, extraidas de referencias como Lee et al. (1997a, 1997b), Fransoo e Wouters (2000) e Warburton (2004), 19 foram reconhecidas e validadas como de pratica administrativa. Assim, com base no resultado dessa etapa exploratoria, desenvolveu-se a primeira versao do questionario.

Esse questionario foi submetido a avaliacao de dois academicos especializados em logistica e cadeias de suprimentos. Em seguida, realizou-se um pre-teste em uma empresa atacadista e fabricante de alimentos. Apos sucessivas melhorias advindas das sugestoes de academicos e profissionais de empresa, elaborou-se o questionario final, constituido por questoes fechadas e estruturado em dois blocos.

O primeiro bloco buscou levantar dados socioeconomicos dos respondentes e das empresas; o segundo bloco referiu-se ao grau de Discordancia/Concordancia que o gestor atribuia a cada assertiva apresentada. Para tanto, construiu-se um bloco composto de questoes fechadas, constituido de 19 assertivas. Na construcao desse bloco adotou-se uma escala ordinal do tipo Likert, com 6 categorias de respostas do tipo (1) Discordo Totalmente / (6) Concordo Totalmente. As assertivas ou variaveis do efeito chicote foram classificadas segundo as causas influenciadoras do referido efeito: Demanda, Compartilhamento de Informacao, Processamento de Ordens e Variacao de Preco, tal como estao apresentadas na Tabela 1.

Definido o questionario, escolheram-se uma amostra de empresas supermercadistas e atacadistas e uma de fabricantes de alimentos. As empresas foram escolhidas por conveniencia, por meio de consulta ao anuario da Associacao Brasileira da Industria de Alimentos (ABIA, 2006) e ao site da Associacao Brasileira de Atacadistas e Distribuidores (ABAD, 2006). Os questionarios foram encaminhados a gestores que ocupavam, quando menos, o cargo de gerencia.

No caso dos supermercados, achou-se conveniente entrevistar os consumidores finais. Assim, os questionarios foram aplicados aos consumidores (ou clientes) dos supermercados que se encontravam nas suas dependencias ou adjacencias. Para a coleta de dados junto aos consumidores de supermercados, utilizou-se um questionario desenvolvido para os distribuidores e fabricantes de alimentos, de conteudo identico, porem adaptado, visto que algumas assertivas concernentes as empresas (atacadistas e fabricantes) nao se adequavam aos consumidores de supermercados.

Para o tratamento dos dados, utilizaram-se: a) a estatistica descritiva para tratar dados socioeconomicos, como perfil das empresas, dos respondentes, frequencia de respostas relativas as variaveis do efeito chicote e media aritmetica do grau de Discordancia/Concordancia dos tres elos; b) teste nao parametrico, o de Kruskal-Wallis, para verificar o efeito chicote entre os niveis de analise (ou elos da cadeia). O teste de Kruskal-Wallis envolveu coleta de dados junto aos consumidores de supermercados, atacadistas e fornecedores. De acordo com Siegel e Castellan Jr. (2006), a prova de Kruskal-Wallis e util para decidir se 'k' amostras independentes (cada uma das quais deve ser de no minimo seis respondentes) provem de populacoes diferentes. A tecnica de Kruskal-Wallis comprova, nesse caso, a hipotese de nulidade: k amostras provem da mesma populacao ou de populacoes identicas com relacao as medias (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006).

4. ANALISE DOS DADOS E RESULTADOS

4.1. Analise Descritiva dos Elos da Cadeia

a) Consumidores de Supermercados. A entrevista com os consumidores foi realizada no segundo semestre de 2006, em empresas supermercadistas dos municipios de Cotia, Ibiuna, Piedade e Sao Roque, todas localizadas na regiao sudoeste do Estado de Sao Paulo. Obteve-se uma amostra de 136 consumidores com as seguintes caracteristicas: a) 43% dos respondentes tinham ate 25 anos de idade; 35%, entre 26 e 40 anos; 22%, mais de 40 anos de idade; b) 67% eram do sexo feminino e 33% do sexo masculino; 54% dos respondentes tinham curso superior; 31% tinham completado o ensino medio e 15% apenas o ensino fundamental.

Quanto ao comportamento de compras, o estudo revelou que: a) 37,7% dos respondentes nao compravam mais do que necessitavam; b) 50,0% dos respondentes tinham conhecimento do tipo e quantidade de produtos que havia na sua despensa; c) 31,4% dos respondentes faziam compras em quantidade e intervalos de tempo iguais; d) 42,4% dos respondentes consideravam a quantidade de produtos adquiridos no supermercado proporcional a renda familiar; e) 40,6% dos respondentes consideravam as promocoes como uma boa oportunidade para abastecer a despensa e, por consequencia, tinham preferencia por supermercados que promoviam promocoes; f) 50,0% dos respondentes nao hesitavam, na falta de um produto, em troca-lo por outro produto similar ou mesmo em procurar outro supermercado.

Em resumo: a amostra revelou que os consumidores nao sao fieis aos supermercados nem aos produtos. Alem disso, utilizam-se das promocoes para otimizar seus rendimentos. Portanto, o comportamento aleatorio do consumidor e a pratica de promocoes, como fator de incremento de demanda, afetam a cadeia de suprimentos a montante da empresa em foco, ocasionando um aumento da oferta ou agravando a situacao de esgotamento dos estoques. Fica desse modo evidente o fenomeno efeito chicote.

b) Empresas Atacadistas. A entrevista realizou-se no segundo semestre de 2006; obteve-se uma amostra de 13 empresas atacadistas, localizadas nos municipios de Campinas, Mogi das Cruzes, Sorocaba e regiao metropolitana do municipio de Sao Paulo. Os perfis dos respondentes e das empresas revelaram que: a) 85% dos respondentes ocupavam o cargo gerencial e 15% faziam parte da diretoria; b) 46% possuiam ate 50 empregados, e o restante ate 500 empregados; c) 76% das empresas atacadistas da amostra faziam dos generos alimenticios seu principal produto de comercializacao, concentrando-se o restante das empresas na comercializacao de farinaceos, graos e produtos diet e light.

Com base nos dados coletados, o estudo revelou que o aumento da demanda provocava um aumento consideravel de pedidos. Quando diminuia a demanda, nao necessariamente ocorria diminuicao do numero de pedidos.

A maioria das empresas utilizava intervalos de tempo-padrao para a colocacao de pedidos; mesmo assim, realizava reposicao continua de produtos, o que denota a preocupacao com o atendimento das empresas clientes e sugere, ainda, a formacao de estoques de seguranca como medida preventiva.

Importante ressaltar que, no tocante as variacoes de preco, as empresas atacadistas acreditavam que isso ocorria tanto em razao das promocoes e dos modismos quanto, em menor grau, da concorrencia e da inflacao.

Os fatos relatados pelas empresas atacadistas mostraram-se alinhados com elementos geradores e amplificadores do efeito chicote; mesmo assim, esse fenomeno nao tem afetado o desempenho da gestao da cadeia de suprimentos. A relacao com as empresas clientes apresentou carater positivo: os atacadistas demonstravam confiabilidade na entrega, na velocidade de atendimento e na colocacao de pedidos, alem de flexibilidade na quantidade solicitada.

Em resumo: os dados relativos a estoque nao eram compartilhados com os fornecedores, e tampouco existia integracao eletronica para a manutencao dos estoques. A dificuldade advinda da geracao de informacoes pouco confiaveis e a demora no transito da informacao entre os membros da cadeia de suprimentos acabavam favorecendo a formacao de estoques e acarretando a formacao do efeito chicote.

c) Fabricantes de Alimentos. A entrevista, levada a efeito no segundo semestre de 2006, obteve uma amostra de 10 empresas fabricantes de alimentos. Os perfis dos respondentes e das empresas mostraram que: a) 60% dos respondentes tinham cargos em nivel de diretoria e 40% em nivel gerencial; b) 70% tinham curso superior, e 30% haviam completado o nivel medio de escolaridade; c) empresas com ate 50 funcionarios representavam 50% da amostra; empresas com um montante entre 50 e 500 funcionarios correspondiam a 30% da amostra; as 20% restantes possuiam mais de 500 funcionarios; d) 40% das empresas localizavam-se na Grande Sao Paulo, 30% em Sorocaba e nos demais Estados (Santa Catarina e Rio Grande do Sul).

A analise dos dados coletados revelou a pratica do acumulo de produtos para entrega, uma tentativa de provocar a reducao de custos logisticos, em especial os relacionados aos transportes. A decisao de liberar apenas uma porcentagem da quantidade solicitada, quando a demanda excedia a oferta, e a utilizacao de tempo-padrao para a entrega de pedidos influenciavam o comportamento do cliente, pois geravam incerteza de atendimento e denotavam falta de flexibilidade tanto na logistica quanto no aspecto operacional das empresas fabricantes. O conjunto potencializava e amplificava o efeito chicote ao longo da cadeia produtiva.

Os fabricantes alegaram que variacoes de precos nao apresentavam relacao direta com inflacao, concorrencia ou promocoes, e tampouco eram devidas a sazonalidade ou obsolescencia, ao contrario do que fora relatado por empresas supermercadistas e atacadistas. Tambem negaram a concentracao intencional do periodo de entregas. Considerando as restricoes mencionadas anteriormente, os fabricantes evidenciaram preocupacao em manter conceitos de pontualidade e confiabilidade junto aos clientes.

Em resumo: segundo os fabricantes de alimentos, os clientes alteravam seus pedidos de acordo com a variacao da demanda (positiva ou negativa), fato que exigia flexibilidade tanto do sistema logistico quanto do operacional, para o atendimento das solicitacoes. Esse fato ainda gerava formacao de estoques, tanto de materias-primas quanto de produtos acabados. A falta de acuracidade da previsao de demanda e a aleatoriedade da quantidade solicitada eram geradoras de incertezas, as quais, por sua vez, eram amplificadas pela falta de compartilhamento de informacoes a respeito do estoque das empresas clientes.

4.2. Analise das Variaveis do Efeito Chicote e Respectivos Elos

Para corroborar as analises descritivas efetuadas, bem como para aprofundar o entendimento do comportamento das variaveis do efeito chicote, foram realizados testes estatisticos nao parametricos. Para tanto, as variaveis foram organizadas por categorias ou constructos do fenomeno, e aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis entre Supermercados e Atacadistas, Atacadistas e Fabricantes, Supermercados e Fabricantes e, por fim, Supermercados, Atacadistas e Fabricantes, conjuntamente.

Alem disso, para auxiliar a analise das variaveis do efeito chicote, considerou-se como media geral do grau de Discordancia/Concordancia a cadeia total de suprimentos, isto e, a cadeia constituida por Supermercados, Atacadistas e Fabricantes. As significancias estatisticas foram destacadas em negrito, conforme e mostrado na Tabela 2.

Os pontos principais observaveis na Tabela 2 sao:

a) As variaveis de numeros 1, 2 e 3, que tratam de emissao de pedidos em funcao da demanda, rejeitam [H.sub.0] parcialmente em niveis de significancia iguais a ([alpha] [less than or equal to] < 0, 05). A alternancia do nivel de concordancia nas variaveis 1 e 3 mostra os atacadistas como o elo mais fraco do sistema, uma vez que estes ficam a disposicao dos pedidos oriundos dos supermercados e das entregas dos fabricantes, razao pela qual se excedem nos pedidos. A variavel 2 ainda mostra os supermercados como capazes de equilibrar seus pedidos, possivelmente por meio de promocoes, revelando-os como potenciais geradores do efeito chicote.

b) A variavel 4 nao rejeita H0. O baixo nivel de concordancia, igual a 2,48, mostra que as empresas procuram ter um comportamento racional de maximizacao de resultados individuais, fato que pode favorecer o efeito chicote. O equilibrio dos estoques, representado pela variavel de numero 5, que rejeita H0 parcialmente, mostra que o conhecimento e a previsao da demanda tem sido uma preocupacao salutar dos elos da cadeia estudados e constituem um dos instrumentos utilizados para controlar o efeito chicote. O elevado grau de concordancia, igual a 5,00, corrobora os esforcos conjuntos para mitigar o efeito chicote.

c) As variaveis 6, 7 e 8 tratam do gerenciamento de informacoes e nao rejeitam H0. O baixo nivel de concordancia das variaveis 6 e 7, com valores iguais a 1,94 e 2,39, respectivamente, mostra que tanto os dados sobre estoques quanto a integracao eletronica nao sao compartilhados com os parceiros, seja a montante, seja a jusante. Essa integracao seria possivelmente a ferramenta mais poderosa para integrar interesses mutuos e reduzir o efeito chicote ao longo da cadeia de suprimentos. A variavel de numero 8, que aceita [H.sub.0], apresenta media de concordancia igual a 3,29, evidenciando que o sistema de informacao das empresas da cadeia de suprimentos nao tem a confiabilidade desejada, podendo induzir a decisoes equivocadas em periodos de turbulencia.

d) As variaveis 9 e 10 rejeitam H0 parcialmente. O gerenciamento do sistema de informacao entre os elos da cadeia possibilita a reducao drastica das necessidades de estoques, conforme se verifica pela aceitacao (H0) das variaveis 6, 7 e 8. Todavia, isso nao ocorre, como se observa pelas diferencas de gerenciamento, nas variaveis relacionadas ao compartilhamento de informacao, representadas pelas variaveis 9 e 10. Constata-se, ademais, o reconhecimento da importancia do compartilhamento de informacao pelas empresas da cadeia de suprimentos, conforme se ve no alto nivel de concordancia das variaveis 9 e 10, representado pelas medias iguais a 4,19 e 4,45, respectivamente. Dessa forma, continua latente o efeito chicote, em razao da falta de um sistema adequado de informacao.

e) A variavel 11 nao rejeita [H.sub.0]. Nao obstante, a variavel de numero 12 indica a existencia do efeito chicote em nivel de significancia ([alpha] [less than or equal to] 0,05). Isso ocorre porque a reposicao continua de produtos nao e uma regra de conduta comum aos tres elos. Os supermercados repoem suas prateleiras de forma continua; os fabricantes entregam seus produtos em lotes padronizados, e os atacadistas tentam equilibrar as exigencias/necessidades de seus parceiros. O intervalo-padrao de pedido, representado pela variavel de numero 11, torna-se praticamente o unico instrumento para minimizar o efeito chicote. A variavel de numero 12 constitui a principal fonte geradora do efeito chicote.

f) As variaveis 13 e 14 nao rejeitam H0, e a variavel de numero 15 rejeita H0 parcialmente. Todas as variaveis referem-se ainda a concentracao/acumulacao de pedidos e complementam a variavel 11, discutida anteriormente. O baixo nivel de concordancia, representado pelas medias iguais a 2,55, 1,87 e 2,29, respectivamente, mostra que as empresas possuem procedimentos diferenciados para a colocacao de seus pedidos, que gostariam de colocar os pedidos de forma continua e que pedidos concentrados sao uma aspiracao dos fabricantes a montante. Todo esse diferencial de procedimentos e aspiracoes fortalece o potencial do efeito chicote.

g) As variaveis 16, 17, 18 e 19 rejeitam H0 parcialmente ao nivel de significancia de 5%. Todas as variaveis relacionam-se ao efeito preco. Os niveis de concordancia mostram que a inflacao, a concorrencia e os efeitos sazonais ou de rapida obsolescencia sao tratados de forma individualizada pelas empresas, gerando potencial para o desenvolvimento do efeito chicote. Acrescente-se ainda que a respeito das promocoes, identificadas com o numero 18, os gestores de supermercados e atacadistas manifestam opinioes concordantes. Todavia, os Fabricantes mostram-se relutantes quanto a essa pratica. Segundo Christopher (1997), as promocoes pressionam os fabricantes a satisfazer as necessidades de variedades requeridas pelos consumidores num espaco de tempo cada vez menor, e muitas empresas nao compreendem quais sao os verdadeiros custos de tais iniciativas.

Um resumo da incidencia das variaveis no efeito chicote e mostrado na Tabela 3.

Assim, de acordo com a Tabela 3, ficam evidentes:

1) As variaveis causadoras do efeito chicote:

a) Preco: as de numeros 16, 17, 18 e 19;

b) Demanda: as de numeros 1, 2, 3 e 5.

2) As variaveis amplificadoras do efeito chicote:

a) Compartilhamento da informacao: as de numeros 9 e 10;

b) Processamento de ordens: as de numeros 12 e 15.

De maneira geral, 63% [(12/19) x 100] das variaveis analisadas estao relacionadas ao efeito chicote na cadeia de suprimentos da industria alimenticia. Todavia, de um lado, a variacao de preco constituiu o principal fator causador do efeito chicote, com 100% do total das variaveis de seu grupo; de outro lado, individualmente, a variavel reposicao continua de produtos foi a mais relevante como amplificadora do efeito chicote: no teste estatistico a que foi submetida, verificou-se a rejeicao de [H.sub.0] em todos os elos da cadeia.

5. CONCLUSOES E SUGESTOES PARA PROSSEGUIMENTO DA PESQUISA

As variaveis relevantes do efeito chicote, no contexto da gestao da cadeia de suprimentos, podem ser estudadas sob diversas perspectivas. Usualmente, o efeito chicote e estudado com base em modelos matematicos teoricos e simulacoes (FORRESTER, 1958; MENDONCA; ANDRADE, 2005). Nao obstante, as condicoes iniciais utilizadas para a formulacao do modelo, como demanda, ambientes sociais e ambientais, sao dinamicas, dificultando a generalizacao dos resultados evidenciados pela simulacao do modelo pouco consistente. Em face disso, o estudo empirico por meio de pesquisa de campo pode propiciar uma analise com maior profundidade e realidade, uma vez que as variaveis consideradas relevantes detectam de forma mais precisa a dinamicidade dos ambientes organizacionais e sociais do momento.

Assim, utilizando uma pesquisa de campo em que se combinaram metodos qualitativos e quantitativos, o estudo possibilitou evidenciar o efeito chicote nos elos constituidos por empresas supermercadistas, atacadistas e fabricantes de alimentos.

Alguns resultados devem ser destacados. Mediante a divisao do efeito chicote em dois fatores, um causador e outro amplificador, constatou-se que a variacao de preco e a reposicao continua constituiram as principais variaveis, respectivamente. A variacao de preco esta fortemente relacionada aos consumidores finais que procuram produtos de baixo preco e promocoes efetuadas pelos supermercados. Quanto a variavel reposicao continua, de carater endogeno, verificouse que ela esta fortemente relacionada as politicas de dimensionamento das ordens de pedidos de compra.

Com o estabelecimento de politicas de dimensionamento dos pedidos de compra, as empresas tem objetivado reduzir drasticamente os estoques em seus armazens. Todavia, essa reducao esta decisivamente condicionada a eficiencia do sistema logistico utilizado. O compartilhamento de informacao por meio da EDI (Electronic Data Interchange) tem facilitado a manutencao do equilibrio dos estoques. Saliente-se, alias, que o desequilibrio dos estoques tem maior importancia para as empresas situadas a montante da empresa em foco (supermercados). As empresas situadas a montante, como os fabricantes de alimentos, nao tem uma percepcao clara do consumidor final. Por faltar-lhes essa visao de mercado, os fabricantes planejam a producao orientados por previsoes e nao pela demanda, afetando a gestao da cadeia de suprimentos por meio da manufatura e entregas urgentes de produtos.

Por conta dos resultados obtidos, pode-se concluir nao existirem evidencias de que as variaveis relacionadas ao efeito chicote sejam gerenciadas pelas empresas da cadeia de suprimentos da industria alimenticia, apesar de se ter verificado que 37% [100%--63%] das variaveis estao sincronizadas nos tres elos estudados. Esse fato pode ser corroborado pelas politicas de dimensionamento das ordens de pedido de compra e pela pratica da competicao com base em precos, levada a efeito pelos supermercados.

5.1. Delimitacao e Limitacao do Estudo

O metodo escolhido para este estudo apresentou as seguintes delimitacoes: a) a coleta de dados foi concentrada nas empresas integrantes da cadeia de suprimentos de alimentos, incluindo fabricantes de bebidas, localizadas em regioes dispersas do sul do Brasil; b) a pesquisa teve concepcao transversal, o que impossibilita a realizacao de estudos comparativos por meio de series historicas.

Quanto as limitacoes da pesquisa, deve-se assinalar que: a) o estudo utilizou-se de uma amostra escolhida por conveniencia, razao pela qual os resultados nao podem ser generalizados; b) as dimensoes dos grupos de empresas, constituidas por supermercados, atacadistas e fabricantes, nao foram emparelhadas. Por conta disso, na aplicacao do teste nao parametrico, o grupo de amostras de empresas foi considerado o de menor tamanho. A falta de emparelhamento das empresas nos seus respectivos elos se deveu ao fato de que, a medida que se desloca a montante da empresa em foco, a coleta de dados encontra um numero de empresas cada vez menor; c) o estudo considerou que as variaveis relacionadas ao efeito chicote tinham pesos ou influencias iguais. Como a coleta de dados se realizou em varias regioes do pais, as respostas as variaveis do efeito chicote podem ter sido influenciadas por fatores como os relacionados ao ambiente socioeconomico, experiencia do gestor, porte da empresa e diferentes estagios de modernizacao das empresas.

5.2. Recomendacoes de estudo

Para o prosseguimento da pesquisa, sugerem-se os seguintes procedimentos: a) ampliar a amostra para uma area de maior abrangencia e representatividade; b) desenvolver trabalhos semelhantes em outros segmentos produtivos; c) comparar resultados obtidos dos diferentes segmentos, ampliando, assim, a fronteira desse campo de conhecimento.

6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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DOI: 10.5700/rege 436

Roberto Giro Moori

Doutor em Engenharia de Producao pela Escola Politecnica da USP Professor do Programa de Pos-Graduacao Stricto Sensu em Administracao da Universidade Presbiteriana Mackenzie--Sao Paulo-SP, Brasil

E-mail: rgmoori@mackenzie.br

Luiz Carlos Jacob Perera

Mestre em Administracao pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor da Pos-Graduacao Lato Sensu em Administracao da Universidade Presbiteriana Mackenzie--Sao Paulo-SP, Brasil

E-mail: jperera@terra.com.br

Eduardo Roque Mangini

Doutor em Administracao pela FEA--USP Professor do Programa de Pos-Graduacao em Ciencias Contabeis, Mestrado Profissional em Controladoria da Universidade Presbiteriana Mackenzie--Sao Paulo-SP, Brasil

E-mail:eduardokmangini@uol.com.br

Recebido em: 19/10/2009

Aprovado em: 1/012/2009
Tabela 1: Assertivas do Efeito Chicote

 ASSERTIVAS DO EFEITO CHICOTE

 1 Na minha empresa, quando ocorre aumento da
 demanda, normalmente costumamos exceder na
 colocacao de pedidos.

Demanda 2 Na minha empresa, quando ocorre a diminuicao
 da demanda, normalmente cancelamos as
 quantidades antes solicitadas.

 3 Na minha empresa, normalmente a solicitacao
 de pedidos e maior que a demanda.

 4 Na minha empresa, tanto nos periodos de
 aumento como de diminuicao da demanda, temos
 um comportamento aleatorio.

 5 Na minha empresa, o conhecimento da real
 demanda tem-se mostrado um bom caminho para o
 equilibrio dos estoques.

Compartilhamento 6 Na minha empresa, o banco de dados de
Informacoes estoques e compartilhado com os fornecedores.

 7 Na minha empresa, o uso de ferramenta de
 integracao eletronica com os fornecedores tem
 contribuido para um melhor gerenciamento dos
 estoques.

 8 Na minha empresa, as informacoes, em periodos
 de turbulencia, sao pouco confiaveis; por
 isso ficamos ora com excesso de produtos, ora
 com falta deles.

 9 Na minha empresa, as faltas ou falhas de
 comunicacao tem contribuido para o
 desequilibrio dos estoques.

 10 Na minha empresa, as defasagens de tempo
 entre o recebimento e a tramitacao de
 informacoes sao causas de desequilibrio de
 estoques.

Processamento 11 Na minha empresa, normalmente utilizamos
Ordens intervalos de tempo-padrao para a colocacao
 de pedidos.

 12 Na minha empresa, normalmente utilizamos a
 reposicao continua de produtos.

 13 Na minha empresa, os pedidos de produtos
 similares sao acumulados para reduzir os
 custos de transportes.

 14 Na minha empresa, os pedidos de compras sao
 concentrados em determinados periodos,
 normalmente no final do mes.

 15 Na minha empresa, somente apos acumular
 demandas e que sao colocados os pedidos de
 compras.

Variacao Precos 16 Na minha empresa, as variacoes de precos sao
 normalmente ocasionadas pela inflacao.

 17 Na minha empresa, as variacoes de precos sao
 normalmente ocasionadas pela concorrencia.

 18 Na minha empresa, as variacoes de precos sao
 normalmente ocasionadas pelas promocoes.

 19 Na minha empresa, os precos sao normalmente
 influenciados pela moda, sazonalidade ou
 rapida obsolescencia.

 VARIAVEIS

 Excesso de pedidos

Demanda Cancelamento de pedidos

 Solicitacao maior que a demanda

 Demanda aleatoria

 Equilibrio de estoques

Compartilhamento Dados de estoques
Informacoes
 Ferramenta de integracao

 Estoques nao confiaveis

 Falhas de comunicacao

 Defasagens de tempo

Processamento Intervalos de tempos-padrao
Ordens

 Reposicao continua

 Reduzir custos de transportes

 Concentracao de pedidos

 Acumulo de demanda

Variacao Precos Inflacao

 Concorrencia

 Promocoes

 Sazonalidade

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 2: Testes nao parametricos de Kruskal-Wallis

VARIAVEIS DO
EFEITO CHICOTE

Demanda 1 Excesso de pedidos
 2 Cancelamento de pedidos
 3 Solicitacao maior que a demanda
 4 Demanda aleatoria
 5 Equilibrio de estoques
Compartilhamento 6 Dados de estoques
informacoes 7 Ferramenta de integracao
 8 Estoques nao confiaveis
 9 Falhas de comunicacao
 10 Defasagens de tempo
Processamento 11 Intervalos de tempo-padrao
Ordens 12 Reposicao continua
 13 Reduzir custos de transportes
 14 Concentracao de pedidos
 15 Acumulo de demanda
 16 Inflacao
Variacao 17 Concorrencia
Precos 18 Promocoes
 19 Sazonalidade

VARIAVEIS DO Nivel de Significancia ([alpha] [less Media
EFEITO CHICOTE than or equal to] 0,05) S, A, F

 S e A* A e F* S e F S, A, F

Demanda 0,008 0,010 0,924 0,008 3,84
 0,132 0,106 0,015 0,032 2,65
 0,038 0,011 0,180 0,017 2,94
 0,762 0,070 0,155 0,154 2,48
 0,396 0,032 0,404 0,115 5,00
Compartilhamento 0,125 0,523 0,285 0,287 1,94
informacoes 0,636 0,365 0,283 0,481 2,39
 0,740 0,726 0,437 0,772 3,29
 0,001 0,004 0,853 0,002 4,19
 0,002 0,005 0,279 0,002 4,45
Processamento 0,186 0,666 0,510 0,462 4,97
Ordens 0,032 0,016 0,006 0,003 4,48
 0,113 0,484 0,064 0,133 2,55
 0,781 0,679 0,958 0,911 1,87
 0,028 0,676 0,310 0,152 2,29
 0,030 0,533 0,010 0,006 2,42
Variacao 0,017 0,595 0,010 0,018 3,32
Precos 0,849 0,004 0,017 0,009 3,90
 0,033 0,057 0,279 0,052 3,94

(*) Legendas: (S) Supermercados; (A) Atacadistas; (F) Fabricantes

Fonte: Dados da pesquisa.

Tabela 3: Resumo das variaveis do efeito chicote

Variaveis do Variaveis no
efeito chicote

CAUSADORAS Variacao 16, 17, 18 e 19
 de preco
 (incluindo
 promocoes)

 Demanda 1, 2, 3, 4 e 5

AMPLIFICADORAS Compartilhamento 6, 7, 8, 9 e 10
 de
 informacoes

 Processamento 11, 12, 13, 14 e 15
 de
 Ordens

 Total 19

Variaveis do Efeito Chicote
efeito chicote
 Sim Nao

CAUSADORAS 16, 17, 18 e

 19

 1, 2, 3 e 5 4

AMPLIFICADORAS 9 e 10 6, 7 e 8

 12 e 15 11, 13 e

 14

 12 7

Fonte: Dados da
pesquisa.


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