An analytical investigation of the bullwhip effect in the food supply chain/Uma analise investigativa do efeito chicote na cadeia de suprimentos da industria alimenticia/Un analisis investigativo del efecto chicote en la cadena de suministros de la industria alimenticia.
Moori, Roberto Giro ; Perera, Luiz Carlos Jacob ; Mangini, Eduardo Roque 等
1. INTRODUCAO
Com a liberacao seletiva de alguns mercados, que os transformou de
supridores em orientados pela demanda, emergiu a gestao da cadeia de
suprimentos, pautada pela crenca de que as empresas independentes, para
serem competitivas, deveriam estar integradas estrategicamente a sua
cadeia de suprimentos, de forma a criar valor para o consumidor final
(HANDFIELD; NICHOLS JR., 1999). Nessa reconfiguracao, o consumidor final
tornou-se o foco ou o ponto inicial das estrategias corporativas. A
atitude de considera-lo como o elo mais importante da cadeia de
suprimentos repousa na ideia de que ele e o unico que tem o poder real
da cadeia, por ser quem irriga todo o sistema produtivo com um fluxo
monetario, distribuido entre os diferentes membros participantes da
cadeia de suprimentos (ZYLBERSZTAJN, 2000; SLACK; CHAMBERS; JOHNSTON,
2002). Entretanto, para o sucesso da gestao da cadeia de suprimentos e
necessario que competencias tecnicas e operacionais, distribuidas nas
varias empresas que compoem a cadeia, sejam integradas, a fim de que se
fomente a competitividade coletiva, em detrimento da individual (BARNEY;
HESTERLEY, 2004).
A competitividade coletiva nao e uma tarefa de facil obtencao, uma
vez que as empresas de uma cadeia de suprimentos podem fazer parte de
outra cadeia, com diferentes objetivos e tipos de negocios. Constata-se
um exemplo disso na cadeia produtiva da carne bovina: os pecuaristas
alegam que os frigorificos pagam uma diferenca muito pequena pelos
animais rastreados e que os lucros da exportacao nao chegam as fazendas;
os frigorificos alegam que os precos internacionais oscilam de acordo
com o mercado (SALVADOR; MADUENO, 2008).
Nesse ambiente dinamico, a volatilidade da demanda e as distorcoes
da informacao tornam-se variaveis importantes para a gestao da cadeia de
suprimentos. A captura ou a percepcao do comportamento dessas variaveis,
decorrentes desse ambiente dinamico e incerto, e o que se define como
efeito chicote (DORNIER et al., 2000). A metafora utilizada vem do fato
de que, em uma cadeia com varios membros, na qual cada um age
independentemente do outro e compartilha apenas o minimo de informacoes,
e muito provavel que alteracoes, mesmo pequenas, na demanda do
consumidor final resultem em uma demanda ampliada e crescente para
empresas situadas a montante da cadeia de suprimentos (CHRISTOPHER,
1999; SLACK et al., 2002; PIRES, 2004). A causa desse fenomeno de onda
gigantesco, ou chicotada, esta no fato de que estoques independentes, em
cada fase da cadeia, agem como reservas ou dispositivos de seguranca que
distorcem e ampliam as quantidades solicitadas para atender a demanda,
ocultando dos fornecedores a verdadeira demanda.
Assim, tomando-se como premissa que a gestao da cadeia de
suprimentos representa uma fronteira do conhecimento administrativo
direcionado para a vantagem competitiva, e que o efeito chicote pode
afeta-la (LEE; PADMANABHANWHANG, 1997a, 1997b; WARBURTON, 2004), a
questao basica abordada por este estudo e a seguinte: quais sao as
variaveis relevantes relacionadas ao efeito chicote na cadeia de
suprimentos da industria de alimentos? O objetivo e identifica-las e
verificar como sao gerenciadas pelos diversos membros envolvidos, na
tentativa de minimizar seus efeitos ao longo da cadeia.
Deve-se salientar que a principal motivacao deste trabalho foi o
intuito de apresentar alternativas para a analise do efeito chicote, em
lugar dos usuais modelos matematicos teoricos e de simulacao. Chamar a
atencao de que existem outras maneiras de estudar o efeito chicote--eis
o que se espera ser a contribuicao deste trabalho.
O estudo foi organizado da seguinte forma. Primeiramente, fez-se
uma revisao das varias correntes academicas sobre a gestao da cadeia de
suprimentos e do efeito chicote. Especificam-se, em seguida, os
procedimentos metodologicos da pesquisa. A analise dos dados e os
resultados obtidos sao entao apresentados. As consideracoes finais e
sugestoes, destacando os resultados relevantes e oportunidades para
pesquisas futuras, encerram o artigo.
2. REFERENCIAL TEORICO
2.1. Gestao da Cadeia de Suprimentos
A gestao da cadeia de suprimentos (SCM) e definida pelo Global
Supply Chain Forum (GSCF) como a integracao dos processos de negocios
desde o usuario final ate os fornecedores originais (primarios) de
produtos, servicos e informacoes que se apresentam como um valor para os
clientes e stakeholders (PIRES, 2004). Nessa integracao podem formar-se
redes complexas, integradas por muitas empresas e entidades. Segundo
Lamming et al. (2000), corroborados por Pires (2004), o termo cadeia
(chain) e uma metafora imperfeita para tratar de questoes consideradas
no contexto da SCM, visto que elas raramente revelam um comportamento
linear. Sugerem esses autores que o uso da expressao rede de suprimentos
(supply network) seria mais apropriado, mas reconhecem que o termo
supply chain se tornou de fato muito popular.
A complexidade do uso do conceito de SCM tambem pode ser constatada
em Ford et al. (2003). Estes autores apoiam a ideia de que nao e
possivel estabelecer com clareza a distincao entre fornecedores,
fabricantes, distribuidores (ou atacadista) e consumidores, uma vez que
o produto de uma cadeia pode se entrelacar a outras cadeias diferentes,
ora como materia-prima em uma cadeia, ora como produto acabado em outra.
Exemplo: uma materia-prima pode ser usada em varias empresas, gerando
diferentes produtos acabados, que por sua vez podem servir como
componente da propria empresa que forneceu a materia-prima.
Para simplificar essa dificuldade, Gaither e Frazier (2001) sugerem
considerar somente a parte da cadeia de suprimentos que interessa a
organizacao. Desse modo, para a maioria das empresas, a administracao da
cadeia de suprimentos deveria referir-se a todas as funcoes
administrativas que diretamente se relacionam, a montante, com o fluxo
de materiais e informacoes dos fornecedores e, a jusante, com os
clientes, incluindo os departamentos de compras, armazenagem, inspecao,
producao, manuseio de materiais, expedicao e distribuicao. Essa relacao
foi denominada por Harland (1996) como dyadic.
De qualquer forma, existe uma unanimidade conceitual entre os
autores: o objetivo da gestao da cadeia de suprimentos e conectar o
mercado, a rede de distribuicao, o processo de fabricacao e a atividade
de aquisicao, de tal modo que os clientes sejam contemplados com niveis
cada vez mais altos de servicos, e que ainda assim os custos se
mantenham baixos. Por outro lado, os servicos exigidos pelos clientes
nao sao estaticos. Ha necessidade de colocar os servicos prestados em
sincronia com as expectativas e exigencias dos clientes. E preciso, alem
disso, considerar que os agentes atuantes na empresa--stakeholders
mantem uma relacao intensa de cooperacao e conflito (NALEBUFF;
BRANDENBURGER, 1996). Nesse ambiente, as atividades de negocios
tornam-se altamente instaveis. As empresas tem de cooperar, pois disso
pode depender seu sucesso individual. Ha tambem conflitos, porque elas
disputam margens de lucro, distribuidas pelo consumidor final as
empresas da cadeia de suprimentos (ZYLBERSZTAJN, 2000; SLACK et al.,
2002).
Conhecer os fatores-chave que influenciam o comportamento dos
clientes, identificar a quais fatores atribuem eles maior relevancia, e,
a partir dai, desenvolver processos de gerenciamento para que os
objetivos dos servicos ao cliente sejam atingidos, sao metas de
importancia fundamental. Na realidade, trata-se de uma nova postura
empresarial, em que as organizacoes sao direcionadas para trabalhar com
o foco no cliente. Nesse sentido, uma cadeia de suprimentos integrada
por meio de informacoes eficazes representa um papel importante na
reducao de custos e na melhoria dos niveis de servicos aos clientes
(como a rapidez e a flexibilidade das entregas) (CHRISTOPHER, 1999).
Entretanto, existe uma grande dificuldade em concatenar a diminuicao de
custos com a manutencao do nivel de atendimento ou do nivel de
qualidade. A dificuldade aumenta quando se deixa de considerar apenas um
elo e se passa a observar toda a cadeia.
Outro obstaculo observado em cadeias de suprimento diz respeito a
incerteza gerada pela falta de previsao correta da demanda. Tem havido
grande empenho, nas empresas integradas em cadeias, para eliminar tanto as falhas de previsao existentes relativas ao fornecimento e a demanda,
quanto a flutuacao entre estoques e pedidos. Entretanto, a acuracidade
de previsoes nao e suficiente para a solucao desses problemas, pois a
incerteza tambem decorre de atraso nas entregas, problemas de
fabricacao, tempo de transporte e outros fatores especificos que
impactam a cadeia de suprimentos, podendo culminar com a propagacao
desses erros a montante da empresa em foco, num fenomeno conhecido como
efeito chicote (SIMCHI-LEVI; KAMINSKY; SIMCHI-LEVI 2003).
2.2. Efeito Chicote e Medidas de Desempenho
O efeito chicote, tambem conhecido como efeito Forrester, esta
relacionado com o fenomeno de amplificacao e variabilidade do intervalo
entre a demanda real e a demanda prevista, que se propaga a montante da
cadeia de suprimentos. Mendonca e Andrade (2005), por meio de modelos
matematicos, simularam e analisaram o efeito chicote em cenarios
caracterizados pela falta de exatidao da informacao e pela inexistencia
de transparencia ao longo da cadeia de suprimentos. A falta de
concatenacao do plano de producao com dados reais a respeito da demanda
pode gerar excesso de estoque e a consequente perda de receita, alem de
fazer colapsar o servico prestado ao cliente e provocar custos
adicionais e desnecessarios.
Lee et al. (1997a) e Simchi-Levi et al. (2003) atualizaram as
ideias de Forrester (1958), relacionando o efeito chicote com o
comportamento racional dos agentes participantes da infraestrutura de
uma cadeia de suprimentos. Afirmam eles, ademais, que as empresas que
desejem o controle do efeito chicote devem concentrar-se na modificacao
da infraestrutura da cadeia, dos processos relacionados e do
comportamento dos tomadores de decisao.
Para Lee et al. (1997b), o efeito chicote tem quatro causas
basicas:
a) Atualizacao da demanda. Essa causa ressalta a necessidade, para
os membros da cadeia, de compartilhar informacoes, a fim de evitar a
inducao de erros na demanda real. O uso de sistemas EDI (Electronic Data
Interchange) pode facilitar e agilizar a transmissao de informacoes ao
longo da cadeia;
b) Jogo do racionamento. Ocorre quando a demanda excede a oferta, e
os produtores racionam a oferta de seus produtos aos clientes,
liberando-lhes apenas uma quantidade proporcional a quantidade
demandada;
c) Processamento de ordens. Refere-se as politicas de
dimensionamento das ordens de pedido de compras ou de producao em cada
elo da cadeia, em especial na formacao de estoque do tipo lote
economico;
d) Variacao de precos. As flutuacoes de precos de origem
macroeconomica e politica, bem como as promocoes de vendas, acabam
provocando uma variacao de precos ao longo da cadeia de suprimentos,
conforme mostraram Machline, Barbieri e Alvares (2005) em estudo sobre
cadeia siderurgica.
Baljko (1999) corrobora os achados de Lee et al. (1997b), sugerindo
que e possivel mitigar o efeito chicote na cadeia por meio do
compartilhamento de conhecimento ou informacoes com fornecedores e
consumidores, para melhorar a estimativa da demanda. Recomenda, ainda, o
trabalho conjunto dos membros da cadeia, para determinar a possivel
causa do efeito por meio das parcerias estrategicas, alem da utilizacao
de tecnologia de informacao que permita aumentar a velocidade de
comunicacao, reduzir o tempo de resposta (lead time) e, assim, deslocar
o ponto de penetracao do pedido para uma area tao distante quanto
possivel a montante da empresa em foco. Em outras palavras, deixar de
conduzir as atividades produtivas com base em previsoes e orienta-las
pela demanda (CHRISTOPHER, 1999).
Uma questao pratica levantada por Fransoo e Wouters (2000) e a
complexidade da mensuracao do efeito chicote. A esse respeito, eles
sugerem que: 1) em cada camada ou elo, a base de desagregacao das
informacoes deve ser a mesma; 2) as medidas devem ser feitas em cada
camada separadamente, a fim de que os eventuais beneficios de solucoes
parciais possam ser comparados com os beneficios das solucoes mais
amplas; 3) as medidas precisam ser filtradas, de modo que possam ser
separadas as diversas causas do efeito global.
Acrescenta ainda Taylor (2000) que, quando se estudam as
amplificacoes da demanda em uma cadeia de suprimentos, devem-se separar
os fatores que disparam (causas radicais) e os fatores que simplesmente
amplificam a variacao e amplitude da demanda. Sugere, ademais, para
evitar o efeito chicote, os seguintes procedimentos: a) suavizar a
demanda; b) desenvolver sistemas com flexibilidade de resposta; c)
definir claramente o papel dos estoques; d) reduzir o numero de pessoas
que influenciam a demanda. Por conta disso, segundo Dornier et al.
(2000), um elemento critico para uma integracao bem-sucedida e
desenvolver sistemas de medicao de desempenho que reflitam essas
mudancas e permitam a avaliacao de seu progresso e impacto na
competitividade empresarial.
Pesquisadores como Harland (1996) e Chopra e Meindl (2003) tem
relacionado desempenhos da cadeia de suprimento com dinamismo industrial
e logistico. Tempo de atraso no atendimento ao pedido, provisao de
estoque de seguranca, problemas de seguranca na comunicacao e falhas de
previsao sao exemplos de medidas do efeito chicote. Neely, Gregory e
Platts (1995) salientam que as medidas de desempenho sao processos que
tem por objetivo quantificar acoes, buscando a satisfacao dos clientes
da forma mais eficaz, em comparacao com as organizacoes concorrentes.
Destaca, ademais, a ocorrencia sequencial e permanente de medidas
de desempenho (metricas apropriadas), medicao do desempenho (processo
adequado de medicao) e sistemas de medicao de desempenho (relacionando
as metricas e processos com as tomadas de decisoes e respostas
adequadas). Dessa forma, a eficiencia dos niveis redunda na eficacia do
sistema. Neely et al. (1995) e Slack et al. (2002) a firmam que o
conceito e mais bem compreendido quando se utiliza o conceito de
prioridades competitivas. Para tanto, sugerem prioridades competitivas
escalonadas em cinco categorias: qualidade, velocidade, confiabilidade,
flexibilidade e custo.
Outras medidas de desempenho podem ser utilizadas, como as
sugeridas pelo ECR (Efficient Consumer Response), que e um programa de
melhoria da qualidade dos servicos prestados aos consumidores, ou as
provenientes do CPFR (Collaborative planning, Forecasting and
Replenishment), que e um conjunto de procedimentos para estabelecer
padroes que melhorem o fluxo de informacoes entre os parceiros de
negocios (VICS, 2002).
Em relacao a cadeia de suprimentos, Beamon e Chen (2001) e
Christopher (1999) preconizam medidas de desempenho integradas,
consistentes e condizentes com as funcoes da empresa em foco, em
harmonia com as demais empresas integrantes da cadeia. Todavia, observam
os autores, o problema principal reside na diversidade das metricas e
medidas de desempenho eficazes para alcancar a plenitude da gestao.
3. METODOLOGIA DA PESQUISA
3.1. Pressupostos, Abordagem Teorica, Unidades e Niveis de Analise
A pesquisa que fundamenta este artigo e de natureza exploratoria e
descritiva. Com base no objetivo do trabalho, assumiu-se como
pressuposto basico que as variaveis relacionadas ao efeito chicote sao
gerenciadas pelas empresas integrantes da cadeia de suprimentos de
produtos alimenticios. Para tanto, considerou-se como unidade de analise
o fenomeno efeito chicote, representado por suas variaveis relevantes, e
como niveis de analise as empresas integrantes da cadeia de suprimentos
da industria de alimentos.
Foram aplicados a cada variavel do efeito chicote (ou unidade de
analise) testes estatisticos nao parametricos, nos tres elos da cadeia
(ou niveis de analise): consumidores dos supermercados, atacadistas e
fabricantes. Assim, em nivel de significancia estatistica ([alpha] [less
than or equal to] < 0,05), estabeleceu-se a seguinte hipotese:
[H.sub.0]: Nao ha diferencas no gerenciamento das variaveis do
efeito chicote nos niveis de analise.
[H.sub.1]: Ha diferencas no gerenciamento das variaveis do efeito
chicote nos niveis de analise.
Numa visao especifica de cada variavel, e sob a hipotese da
nulidade (H0), constata-se que, de um lado, se a probabilidade for
superior a [alpha] = 0,05, a decisao sera aceitar H0 e rejeitar H1, e
concluir que, para uma mesma assertiva ou variavel, a administracao dos
elos da cadeia dispensa o tratamento diferenciado ou o conteudo
gerencial que, de acordo com a variavel formulada, nao evidencia o
efeito chicote. De outro, se a probabilidade for inferior a [alpha] =
0,05, a decisao sera rejeitar [H.sub.0] em favor de [H.sub.1] e concluir
que, para uma mesma assertiva ou variavel, a administracao dos elos da
cadeia dispensa o tratamento diferenciado ou o conteudo gerencial que,
de acordo com a variavel formulada, evidencia o efeito chicote.
Para nao haver perda de informacao, o teste foi aplicado nos
seguintes niveis de analise: consumidores de supermercados, atacadistas
e fabricantes, dois a dois e em conjunto. O modelo ilustrativo da cadeia
de suprimentos e mostrado na Figura 1.
[FIGURE 1 OMITTED]
A abordagem teorica adotada foi a de gestao de cadeias de
suprimentos, tendo as empresas supermercadistas, representadas por seus
consumidores, como ponto focal da analise. A montante foram consideradas
as empresas atacadistas e os fabricantes de produtos alimenticios. A
jusante, os consumidores e os supermercados, conjuntamente, tomados como
inicializadores do fenomeno efeito chicote.
Os consumidores de supermercados, atacadistas e fabricantes foram
representados pelas letras S, A e F, respectivamente.
3.2. Construcao do Instrumento de Coleta de Dados, Sujeitos da
Pesquisa, Validacao e Tratamento dos Dados
Para a coleta de dados utilizou-se um questionario estruturado,
cujos passos sao descritos a seguir. A construcao do instrumento de
coleta foi precedida por uma pesquisa exploratoria realizada no segundo
semestre de 2006 com oito gestores dos supermercados ou empresas em
foco, 50% dos quais eram proprietarios e, os demais, gerentes
funcionais. O objetivo da pesquisa foi explorar as variaveis relevantes
do efeito chicote e conhecer, com maior profundidade, como o setor
varejista as percebia e as gerenciava.
A coleta de dados efetuou-se por meio de entrevistas em
profundidade, que, tratadas pela analise de conteudo, revelaram que das
25 variaveis relacionadas ao efeito chicote, extraidas de referencias
como Lee et al. (1997a, 1997b), Fransoo e Wouters (2000) e Warburton
(2004), 19 foram reconhecidas e validadas como de pratica
administrativa. Assim, com base no resultado dessa etapa exploratoria,
desenvolveu-se a primeira versao do questionario.
Esse questionario foi submetido a avaliacao de dois academicos
especializados em logistica e cadeias de suprimentos. Em seguida,
realizou-se um pre-teste em uma empresa atacadista e fabricante de
alimentos. Apos sucessivas melhorias advindas das sugestoes de
academicos e profissionais de empresa, elaborou-se o questionario final,
constituido por questoes fechadas e estruturado em dois blocos.
O primeiro bloco buscou levantar dados socioeconomicos dos
respondentes e das empresas; o segundo bloco referiu-se ao grau de
Discordancia/Concordancia que o gestor atribuia a cada assertiva
apresentada. Para tanto, construiu-se um bloco composto de questoes
fechadas, constituido de 19 assertivas. Na construcao desse bloco
adotou-se uma escala ordinal do tipo Likert, com 6 categorias de
respostas do tipo (1) Discordo Totalmente / (6) Concordo Totalmente. As
assertivas ou variaveis do efeito chicote foram classificadas segundo as
causas influenciadoras do referido efeito: Demanda, Compartilhamento de
Informacao, Processamento de Ordens e Variacao de Preco, tal como estao
apresentadas na Tabela 1.
Definido o questionario, escolheram-se uma amostra de empresas
supermercadistas e atacadistas e uma de fabricantes de alimentos. As
empresas foram escolhidas por conveniencia, por meio de consulta ao
anuario da Associacao Brasileira da Industria de Alimentos (ABIA, 2006)
e ao site da Associacao Brasileira de Atacadistas e Distribuidores
(ABAD, 2006). Os questionarios foram encaminhados a gestores que
ocupavam, quando menos, o cargo de gerencia.
No caso dos supermercados, achou-se conveniente entrevistar os
consumidores finais. Assim, os questionarios foram aplicados aos
consumidores (ou clientes) dos supermercados que se encontravam nas suas
dependencias ou adjacencias. Para a coleta de dados junto aos
consumidores de supermercados, utilizou-se um questionario desenvolvido
para os distribuidores e fabricantes de alimentos, de conteudo identico,
porem adaptado, visto que algumas assertivas concernentes as empresas
(atacadistas e fabricantes) nao se adequavam aos consumidores de
supermercados.
Para o tratamento dos dados, utilizaram-se: a) a estatistica
descritiva para tratar dados socioeconomicos, como perfil das empresas,
dos respondentes, frequencia de respostas relativas as variaveis do
efeito chicote e media aritmetica do grau de Discordancia/Concordancia
dos tres elos; b) teste nao parametrico, o de Kruskal-Wallis, para
verificar o efeito chicote entre os niveis de analise (ou elos da
cadeia). O teste de Kruskal-Wallis envolveu coleta de dados junto aos
consumidores de supermercados, atacadistas e fornecedores. De acordo com
Siegel e Castellan Jr. (2006), a prova de Kruskal-Wallis e util para
decidir se 'k' amostras independentes (cada uma das quais deve
ser de no minimo seis respondentes) provem de populacoes diferentes. A
tecnica de Kruskal-Wallis comprova, nesse caso, a hipotese de nulidade:
k amostras provem da mesma populacao ou de populacoes identicas com
relacao as medias (SIEGEL; CASTELLAN JR., 2006).
4. ANALISE DOS DADOS E RESULTADOS
4.1. Analise Descritiva dos Elos da Cadeia
a) Consumidores de Supermercados. A entrevista com os consumidores
foi realizada no segundo semestre de 2006, em empresas supermercadistas
dos municipios de Cotia, Ibiuna, Piedade e Sao Roque, todas localizadas
na regiao sudoeste do Estado de Sao Paulo. Obteve-se uma amostra de 136
consumidores com as seguintes caracteristicas: a) 43% dos respondentes
tinham ate 25 anos de idade; 35%, entre 26 e 40 anos; 22%, mais de 40
anos de idade; b) 67% eram do sexo feminino e 33% do sexo masculino; 54%
dos respondentes tinham curso superior; 31% tinham completado o ensino
medio e 15% apenas o ensino fundamental.
Quanto ao comportamento de compras, o estudo revelou que: a) 37,7%
dos respondentes nao compravam mais do que necessitavam; b) 50,0% dos
respondentes tinham conhecimento do tipo e quantidade de produtos que
havia na sua despensa; c) 31,4% dos respondentes faziam compras em
quantidade e intervalos de tempo iguais; d) 42,4% dos respondentes
consideravam a quantidade de produtos adquiridos no supermercado
proporcional a renda familiar; e) 40,6% dos respondentes consideravam as
promocoes como uma boa oportunidade para abastecer a despensa e, por
consequencia, tinham preferencia por supermercados que promoviam
promocoes; f) 50,0% dos respondentes nao hesitavam, na falta de um
produto, em troca-lo por outro produto similar ou mesmo em procurar
outro supermercado.
Em resumo: a amostra revelou que os consumidores nao sao fieis aos
supermercados nem aos produtos. Alem disso, utilizam-se das promocoes
para otimizar seus rendimentos. Portanto, o comportamento aleatorio do
consumidor e a pratica de promocoes, como fator de incremento de
demanda, afetam a cadeia de suprimentos a montante da empresa em foco,
ocasionando um aumento da oferta ou agravando a situacao de esgotamento
dos estoques. Fica desse modo evidente o fenomeno efeito chicote.
b) Empresas Atacadistas. A entrevista realizou-se no segundo
semestre de 2006; obteve-se uma amostra de 13 empresas atacadistas,
localizadas nos municipios de Campinas, Mogi das Cruzes, Sorocaba e
regiao metropolitana do municipio de Sao Paulo. Os perfis dos
respondentes e das empresas revelaram que: a) 85% dos respondentes
ocupavam o cargo gerencial e 15% faziam parte da diretoria; b) 46%
possuiam ate 50 empregados, e o restante ate 500 empregados; c) 76% das
empresas atacadistas da amostra faziam dos generos alimenticios seu
principal produto de comercializacao, concentrando-se o restante das
empresas na comercializacao de farinaceos, graos e produtos diet e
light.
Com base nos dados coletados, o estudo revelou que o aumento da
demanda provocava um aumento consideravel de pedidos. Quando diminuia a
demanda, nao necessariamente ocorria diminuicao do numero de pedidos.
A maioria das empresas utilizava intervalos de tempo-padrao para a
colocacao de pedidos; mesmo assim, realizava reposicao continua de
produtos, o que denota a preocupacao com o atendimento das empresas
clientes e sugere, ainda, a formacao de estoques de seguranca como
medida preventiva.
Importante ressaltar que, no tocante as variacoes de preco, as
empresas atacadistas acreditavam que isso ocorria tanto em razao das
promocoes e dos modismos quanto, em menor grau, da concorrencia e da
inflacao.
Os fatos relatados pelas empresas atacadistas mostraram-se
alinhados com elementos geradores e amplificadores do efeito chicote;
mesmo assim, esse fenomeno nao tem afetado o desempenho da gestao da
cadeia de suprimentos. A relacao com as empresas clientes apresentou
carater positivo: os atacadistas demonstravam confiabilidade na entrega,
na velocidade de atendimento e na colocacao de pedidos, alem de
flexibilidade na quantidade solicitada.
Em resumo: os dados relativos a estoque nao eram compartilhados com
os fornecedores, e tampouco existia integracao eletronica para a
manutencao dos estoques. A dificuldade advinda da geracao de informacoes
pouco confiaveis e a demora no transito da informacao entre os membros
da cadeia de suprimentos acabavam favorecendo a formacao de estoques e
acarretando a formacao do efeito chicote.
c) Fabricantes de Alimentos. A entrevista, levada a efeito no
segundo semestre de 2006, obteve uma amostra de 10 empresas fabricantes
de alimentos. Os perfis dos respondentes e das empresas mostraram que:
a) 60% dos respondentes tinham cargos em nivel de diretoria e 40% em
nivel gerencial; b) 70% tinham curso superior, e 30% haviam completado o
nivel medio de escolaridade; c) empresas com ate 50 funcionarios
representavam 50% da amostra; empresas com um montante entre 50 e 500
funcionarios correspondiam a 30% da amostra; as 20% restantes possuiam
mais de 500 funcionarios; d) 40% das empresas localizavam-se na Grande
Sao Paulo, 30% em Sorocaba e nos demais Estados (Santa Catarina e Rio
Grande do Sul).
A analise dos dados coletados revelou a pratica do acumulo de
produtos para entrega, uma tentativa de provocar a reducao de custos
logisticos, em especial os relacionados aos transportes. A decisao de
liberar apenas uma porcentagem da quantidade solicitada, quando a
demanda excedia a oferta, e a utilizacao de tempo-padrao para a entrega
de pedidos influenciavam o comportamento do cliente, pois geravam
incerteza de atendimento e denotavam falta de flexibilidade tanto na
logistica quanto no aspecto operacional das empresas fabricantes. O
conjunto potencializava e amplificava o efeito chicote ao longo da
cadeia produtiva.
Os fabricantes alegaram que variacoes de precos nao apresentavam
relacao direta com inflacao, concorrencia ou promocoes, e tampouco eram
devidas a sazonalidade ou obsolescencia, ao contrario do que fora
relatado por empresas supermercadistas e atacadistas. Tambem negaram a
concentracao intencional do periodo de entregas. Considerando as
restricoes mencionadas anteriormente, os fabricantes evidenciaram
preocupacao em manter conceitos de pontualidade e confiabilidade junto
aos clientes.
Em resumo: segundo os fabricantes de alimentos, os clientes
alteravam seus pedidos de acordo com a variacao da demanda (positiva ou
negativa), fato que exigia flexibilidade tanto do sistema logistico
quanto do operacional, para o atendimento das solicitacoes. Esse fato
ainda gerava formacao de estoques, tanto de materias-primas quanto de
produtos acabados. A falta de acuracidade da previsao de demanda e a
aleatoriedade da quantidade solicitada eram geradoras de incertezas, as
quais, por sua vez, eram amplificadas pela falta de compartilhamento de
informacoes a respeito do estoque das empresas clientes.
4.2. Analise das Variaveis do Efeito Chicote e Respectivos Elos
Para corroborar as analises descritivas efetuadas, bem como para
aprofundar o entendimento do comportamento das variaveis do efeito
chicote, foram realizados testes estatisticos nao parametricos. Para
tanto, as variaveis foram organizadas por categorias ou constructos do
fenomeno, e aplicou-se o teste de Kruskal-Wallis entre Supermercados e
Atacadistas, Atacadistas e Fabricantes, Supermercados e Fabricantes e,
por fim, Supermercados, Atacadistas e Fabricantes, conjuntamente.
Alem disso, para auxiliar a analise das variaveis do efeito
chicote, considerou-se como media geral do grau de
Discordancia/Concordancia a cadeia total de suprimentos, isto e, a
cadeia constituida por Supermercados, Atacadistas e Fabricantes. As
significancias estatisticas foram destacadas em negrito, conforme e
mostrado na Tabela 2.
Os pontos principais observaveis na Tabela 2 sao:
a) As variaveis de numeros 1, 2 e 3, que tratam de emissao de
pedidos em funcao da demanda, rejeitam [H.sub.0] parcialmente em niveis
de significancia iguais a ([alpha] [less than or equal to] < 0, 05).
A alternancia do nivel de concordancia nas variaveis 1 e 3 mostra os
atacadistas como o elo mais fraco do sistema, uma vez que estes ficam a
disposicao dos pedidos oriundos dos supermercados e das entregas dos
fabricantes, razao pela qual se excedem nos pedidos. A variavel 2 ainda
mostra os supermercados como capazes de equilibrar seus pedidos,
possivelmente por meio de promocoes, revelando-os como potenciais
geradores do efeito chicote.
b) A variavel 4 nao rejeita H0. O baixo nivel de concordancia,
igual a 2,48, mostra que as empresas procuram ter um comportamento
racional de maximizacao de resultados individuais, fato que pode
favorecer o efeito chicote. O equilibrio dos estoques, representado pela
variavel de numero 5, que rejeita H0 parcialmente, mostra que o
conhecimento e a previsao da demanda tem sido uma preocupacao salutar
dos elos da cadeia estudados e constituem um dos instrumentos utilizados
para controlar o efeito chicote. O elevado grau de concordancia, igual a
5,00, corrobora os esforcos conjuntos para mitigar o efeito chicote.
c) As variaveis 6, 7 e 8 tratam do gerenciamento de informacoes e
nao rejeitam H0. O baixo nivel de concordancia das variaveis 6 e 7, com
valores iguais a 1,94 e 2,39, respectivamente, mostra que tanto os dados
sobre estoques quanto a integracao eletronica nao sao compartilhados com
os parceiros, seja a montante, seja a jusante. Essa integracao seria
possivelmente a ferramenta mais poderosa para integrar interesses mutuos
e reduzir o efeito chicote ao longo da cadeia de suprimentos. A variavel
de numero 8, que aceita [H.sub.0], apresenta media de concordancia igual
a 3,29, evidenciando que o sistema de informacao das empresas da cadeia
de suprimentos nao tem a confiabilidade desejada, podendo induzir a
decisoes equivocadas em periodos de turbulencia.
d) As variaveis 9 e 10 rejeitam H0 parcialmente. O gerenciamento do
sistema de informacao entre os elos da cadeia possibilita a reducao
drastica das necessidades de estoques, conforme se verifica pela
aceitacao (H0) das variaveis 6, 7 e 8. Todavia, isso nao ocorre, como se
observa pelas diferencas de gerenciamento, nas variaveis relacionadas ao
compartilhamento de informacao, representadas pelas variaveis 9 e 10.
Constata-se, ademais, o reconhecimento da importancia do
compartilhamento de informacao pelas empresas da cadeia de suprimentos,
conforme se ve no alto nivel de concordancia das variaveis 9 e 10,
representado pelas medias iguais a 4,19 e 4,45, respectivamente. Dessa
forma, continua latente o efeito chicote, em razao da falta de um
sistema adequado de informacao.
e) A variavel 11 nao rejeita [H.sub.0]. Nao obstante, a variavel de
numero 12 indica a existencia do efeito chicote em nivel de
significancia ([alpha] [less than or equal to] 0,05). Isso ocorre porque
a reposicao continua de produtos nao e uma regra de conduta comum aos
tres elos. Os supermercados repoem suas prateleiras de forma continua;
os fabricantes entregam seus produtos em lotes padronizados, e os
atacadistas tentam equilibrar as exigencias/necessidades de seus
parceiros. O intervalo-padrao de pedido, representado pela variavel de
numero 11, torna-se praticamente o unico instrumento para minimizar o
efeito chicote. A variavel de numero 12 constitui a principal fonte
geradora do efeito chicote.
f) As variaveis 13 e 14 nao rejeitam H0, e a variavel de numero 15
rejeita H0 parcialmente. Todas as variaveis referem-se ainda a
concentracao/acumulacao de pedidos e complementam a variavel 11,
discutida anteriormente. O baixo nivel de concordancia, representado
pelas medias iguais a 2,55, 1,87 e 2,29, respectivamente, mostra que as
empresas possuem procedimentos diferenciados para a colocacao de seus
pedidos, que gostariam de colocar os pedidos de forma continua e que
pedidos concentrados sao uma aspiracao dos fabricantes a montante. Todo
esse diferencial de procedimentos e aspiracoes fortalece o potencial do
efeito chicote.
g) As variaveis 16, 17, 18 e 19 rejeitam H0 parcialmente ao nivel
de significancia de 5%. Todas as variaveis relacionam-se ao efeito
preco. Os niveis de concordancia mostram que a inflacao, a concorrencia
e os efeitos sazonais ou de rapida obsolescencia sao tratados de forma
individualizada pelas empresas, gerando potencial para o desenvolvimento
do efeito chicote. Acrescente-se ainda que a respeito das promocoes,
identificadas com o numero 18, os gestores de supermercados e
atacadistas manifestam opinioes concordantes. Todavia, os Fabricantes
mostram-se relutantes quanto a essa pratica. Segundo Christopher (1997),
as promocoes pressionam os fabricantes a satisfazer as necessidades de
variedades requeridas pelos consumidores num espaco de tempo cada vez
menor, e muitas empresas nao compreendem quais sao os verdadeiros custos
de tais iniciativas.
Um resumo da incidencia das variaveis no efeito chicote e mostrado
na Tabela 3.
Assim, de acordo com a Tabela 3, ficam evidentes:
1) As variaveis causadoras do efeito chicote:
a) Preco: as de numeros 16, 17, 18 e 19;
b) Demanda: as de numeros 1, 2, 3 e 5.
2) As variaveis amplificadoras do efeito chicote:
a) Compartilhamento da informacao: as de numeros 9 e 10;
b) Processamento de ordens: as de numeros 12 e 15.
De maneira geral, 63% [(12/19) x 100] das variaveis analisadas
estao relacionadas ao efeito chicote na cadeia de suprimentos da
industria alimenticia. Todavia, de um lado, a variacao de preco
constituiu o principal fator causador do efeito chicote, com 100% do
total das variaveis de seu grupo; de outro lado, individualmente, a
variavel reposicao continua de produtos foi a mais relevante como
amplificadora do efeito chicote: no teste estatistico a que foi
submetida, verificou-se a rejeicao de [H.sub.0] em todos os elos da
cadeia.
5. CONCLUSOES E SUGESTOES PARA PROSSEGUIMENTO DA PESQUISA
As variaveis relevantes do efeito chicote, no contexto da gestao da
cadeia de suprimentos, podem ser estudadas sob diversas perspectivas.
Usualmente, o efeito chicote e estudado com base em modelos matematicos
teoricos e simulacoes (FORRESTER, 1958; MENDONCA; ANDRADE, 2005). Nao
obstante, as condicoes iniciais utilizadas para a formulacao do modelo,
como demanda, ambientes sociais e ambientais, sao dinamicas,
dificultando a generalizacao dos resultados evidenciados pela simulacao
do modelo pouco consistente. Em face disso, o estudo empirico por meio
de pesquisa de campo pode propiciar uma analise com maior profundidade e
realidade, uma vez que as variaveis consideradas relevantes detectam de
forma mais precisa a dinamicidade dos ambientes organizacionais e
sociais do momento.
Assim, utilizando uma pesquisa de campo em que se combinaram
metodos qualitativos e quantitativos, o estudo possibilitou evidenciar o
efeito chicote nos elos constituidos por empresas supermercadistas,
atacadistas e fabricantes de alimentos.
Alguns resultados devem ser destacados. Mediante a divisao do
efeito chicote em dois fatores, um causador e outro amplificador,
constatou-se que a variacao de preco e a reposicao continua constituiram
as principais variaveis, respectivamente. A variacao de preco esta
fortemente relacionada aos consumidores finais que procuram produtos de
baixo preco e promocoes efetuadas pelos supermercados. Quanto a variavel
reposicao continua, de carater endogeno, verificouse que ela esta
fortemente relacionada as politicas de dimensionamento das ordens de
pedidos de compra.
Com o estabelecimento de politicas de dimensionamento dos pedidos
de compra, as empresas tem objetivado reduzir drasticamente os estoques
em seus armazens. Todavia, essa reducao esta decisivamente condicionada
a eficiencia do sistema logistico utilizado. O compartilhamento de
informacao por meio da EDI (Electronic Data Interchange) tem facilitado
a manutencao do equilibrio dos estoques. Saliente-se, alias, que o
desequilibrio dos estoques tem maior importancia para as empresas
situadas a montante da empresa em foco (supermercados). As empresas
situadas a montante, como os fabricantes de alimentos, nao tem uma
percepcao clara do consumidor final. Por faltar-lhes essa visao de
mercado, os fabricantes planejam a producao orientados por previsoes e
nao pela demanda, afetando a gestao da cadeia de suprimentos por meio da
manufatura e entregas urgentes de produtos.
Por conta dos resultados obtidos, pode-se concluir nao existirem
evidencias de que as variaveis relacionadas ao efeito chicote sejam
gerenciadas pelas empresas da cadeia de suprimentos da industria
alimenticia, apesar de se ter verificado que 37% [100%--63%] das
variaveis estao sincronizadas nos tres elos estudados. Esse fato pode
ser corroborado pelas politicas de dimensionamento das ordens de pedido
de compra e pela pratica da competicao com base em precos, levada a
efeito pelos supermercados.
5.1. Delimitacao e Limitacao do Estudo
O metodo escolhido para este estudo apresentou as seguintes
delimitacoes: a) a coleta de dados foi concentrada nas empresas
integrantes da cadeia de suprimentos de alimentos, incluindo fabricantes
de bebidas, localizadas em regioes dispersas do sul do Brasil; b) a
pesquisa teve concepcao transversal, o que impossibilita a realizacao de
estudos comparativos por meio de series historicas.
Quanto as limitacoes da pesquisa, deve-se assinalar que: a) o
estudo utilizou-se de uma amostra escolhida por conveniencia, razao pela
qual os resultados nao podem ser generalizados; b) as dimensoes dos
grupos de empresas, constituidas por supermercados, atacadistas e
fabricantes, nao foram emparelhadas. Por conta disso, na aplicacao do
teste nao parametrico, o grupo de amostras de empresas foi considerado o
de menor tamanho. A falta de emparelhamento das empresas nos seus
respectivos elos se deveu ao fato de que, a medida que se desloca a
montante da empresa em foco, a coleta de dados encontra um numero de
empresas cada vez menor; c) o estudo considerou que as variaveis
relacionadas ao efeito chicote tinham pesos ou influencias iguais. Como
a coleta de dados se realizou em varias regioes do pais, as respostas as
variaveis do efeito chicote podem ter sido influenciadas por fatores
como os relacionados ao ambiente socioeconomico, experiencia do gestor,
porte da empresa e diferentes estagios de modernizacao das empresas.
5.2. Recomendacoes de estudo
Para o prosseguimento da pesquisa, sugerem-se os seguintes
procedimentos: a) ampliar a amostra para uma area de maior abrangencia e
representatividade; b) desenvolver trabalhos semelhantes em outros
segmentos produtivos; c) comparar resultados obtidos dos diferentes
segmentos, ampliando, assim, a fronteira desse campo de conhecimento.
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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Doutor em Engenharia de Producao pela Escola Politecnica da USP Professor do Programa de Pos-Graduacao Stricto Sensu em Administracao da
Universidade Presbiteriana Mackenzie--Sao Paulo-SP, Brasil
E-mail: rgmoori@mackenzie.br
Luiz Carlos Jacob Perera
Mestre em Administracao pela Universidade Presbiteriana Mackenzie Professor da Pos-Graduacao Lato Sensu em Administracao da Universidade
Presbiteriana Mackenzie--Sao Paulo-SP, Brasil
E-mail: jperera@terra.com.br
Eduardo Roque Mangini
Doutor em Administracao pela FEA--USP Professor do Programa de
Pos-Graduacao em Ciencias Contabeis, Mestrado Profissional em
Controladoria da Universidade Presbiteriana Mackenzie--Sao Paulo-SP,
Brasil
E-mail:eduardokmangini@uol.com.br
Recebido em: 19/10/2009
Aprovado em: 1/012/2009
Tabela 1: Assertivas do Efeito Chicote
ASSERTIVAS DO EFEITO CHICOTE
1 Na minha empresa, quando ocorre aumento da
demanda, normalmente costumamos exceder na
colocacao de pedidos.
Demanda 2 Na minha empresa, quando ocorre a diminuicao
da demanda, normalmente cancelamos as
quantidades antes solicitadas.
3 Na minha empresa, normalmente a solicitacao
de pedidos e maior que a demanda.
4 Na minha empresa, tanto nos periodos de
aumento como de diminuicao da demanda, temos
um comportamento aleatorio.
5 Na minha empresa, o conhecimento da real
demanda tem-se mostrado um bom caminho para o
equilibrio dos estoques.
Compartilhamento 6 Na minha empresa, o banco de dados de
Informacoes estoques e compartilhado com os fornecedores.
7 Na minha empresa, o uso de ferramenta de
integracao eletronica com os fornecedores tem
contribuido para um melhor gerenciamento dos
estoques.
8 Na minha empresa, as informacoes, em periodos
de turbulencia, sao pouco confiaveis; por
isso ficamos ora com excesso de produtos, ora
com falta deles.
9 Na minha empresa, as faltas ou falhas de
comunicacao tem contribuido para o
desequilibrio dos estoques.
10 Na minha empresa, as defasagens de tempo
entre o recebimento e a tramitacao de
informacoes sao causas de desequilibrio de
estoques.
Processamento 11 Na minha empresa, normalmente utilizamos
Ordens intervalos de tempo-padrao para a colocacao
de pedidos.
12 Na minha empresa, normalmente utilizamos a
reposicao continua de produtos.
13 Na minha empresa, os pedidos de produtos
similares sao acumulados para reduzir os
custos de transportes.
14 Na minha empresa, os pedidos de compras sao
concentrados em determinados periodos,
normalmente no final do mes.
15 Na minha empresa, somente apos acumular
demandas e que sao colocados os pedidos de
compras.
Variacao Precos 16 Na minha empresa, as variacoes de precos sao
normalmente ocasionadas pela inflacao.
17 Na minha empresa, as variacoes de precos sao
normalmente ocasionadas pela concorrencia.
18 Na minha empresa, as variacoes de precos sao
normalmente ocasionadas pelas promocoes.
19 Na minha empresa, os precos sao normalmente
influenciados pela moda, sazonalidade ou
rapida obsolescencia.
VARIAVEIS
Excesso de pedidos
Demanda Cancelamento de pedidos
Solicitacao maior que a demanda
Demanda aleatoria
Equilibrio de estoques
Compartilhamento Dados de estoques
Informacoes
Ferramenta de integracao
Estoques nao confiaveis
Falhas de comunicacao
Defasagens de tempo
Processamento Intervalos de tempos-padrao
Ordens
Reposicao continua
Reduzir custos de transportes
Concentracao de pedidos
Acumulo de demanda
Variacao Precos Inflacao
Concorrencia
Promocoes
Sazonalidade
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 2: Testes nao parametricos de Kruskal-Wallis
VARIAVEIS DO
EFEITO CHICOTE
Demanda 1 Excesso de pedidos
2 Cancelamento de pedidos
3 Solicitacao maior que a demanda
4 Demanda aleatoria
5 Equilibrio de estoques
Compartilhamento 6 Dados de estoques
informacoes 7 Ferramenta de integracao
8 Estoques nao confiaveis
9 Falhas de comunicacao
10 Defasagens de tempo
Processamento 11 Intervalos de tempo-padrao
Ordens 12 Reposicao continua
13 Reduzir custos de transportes
14 Concentracao de pedidos
15 Acumulo de demanda
16 Inflacao
Variacao 17 Concorrencia
Precos 18 Promocoes
19 Sazonalidade
VARIAVEIS DO Nivel de Significancia ([alpha] [less Media
EFEITO CHICOTE than or equal to] 0,05) S, A, F
S e A* A e F* S e F S, A, F
Demanda 0,008 0,010 0,924 0,008 3,84
0,132 0,106 0,015 0,032 2,65
0,038 0,011 0,180 0,017 2,94
0,762 0,070 0,155 0,154 2,48
0,396 0,032 0,404 0,115 5,00
Compartilhamento 0,125 0,523 0,285 0,287 1,94
informacoes 0,636 0,365 0,283 0,481 2,39
0,740 0,726 0,437 0,772 3,29
0,001 0,004 0,853 0,002 4,19
0,002 0,005 0,279 0,002 4,45
Processamento 0,186 0,666 0,510 0,462 4,97
Ordens 0,032 0,016 0,006 0,003 4,48
0,113 0,484 0,064 0,133 2,55
0,781 0,679 0,958 0,911 1,87
0,028 0,676 0,310 0,152 2,29
0,030 0,533 0,010 0,006 2,42
Variacao 0,017 0,595 0,010 0,018 3,32
Precos 0,849 0,004 0,017 0,009 3,90
0,033 0,057 0,279 0,052 3,94
(*) Legendas: (S) Supermercados; (A) Atacadistas; (F) Fabricantes
Fonte: Dados da pesquisa.
Tabela 3: Resumo das variaveis do efeito chicote
Variaveis do Variaveis no
efeito chicote
CAUSADORAS Variacao 16, 17, 18 e 19
de preco
(incluindo
promocoes)
Demanda 1, 2, 3, 4 e 5
AMPLIFICADORAS Compartilhamento 6, 7, 8, 9 e 10
de
informacoes
Processamento 11, 12, 13, 14 e 15
de
Ordens
Total 19
Variaveis do Efeito Chicote
efeito chicote
Sim Nao
CAUSADORAS 16, 17, 18 e
19
1, 2, 3 e 5 4
AMPLIFICADORAS 9 e 10 6, 7 e 8
12 e 15 11, 13 e
14
12 7
Fonte: Dados da
pesquisa.