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文章基本信息

  • 标题:Institutionalization of social representations: a proposed theoretical integration/A institucionalizacao de representacoes sociais: uma proposta de integracao teorica/La institucionalizacion de representaciones sociales: una propuesta de integracion teorica.
  • 作者:Guerra, Gilberto Claricio Martinez ; Ichikawa, Elisa Yoshie
  • 期刊名称:Revista de Gestao USP
  • 印刷版ISSN:1809-2276
  • 出版年度:2011
  • 期号:July
  • 语种:Spanish
  • 出版社:Faculdade de Economia, Administracao e Contabilidade - FEA-USP
  • 摘要:A teoria tem importancia central para todas as ciencias, e as Ciencias Sociais e os estudos organizacionais nao fogem a essa regra. Segundo May (2004), ela e util para a interpretacao dos dados empiricos; possibilita uma orientacao geral sobre questoes politicas, historicas, economicas e sociais; fornece uma base para a reflexao critica sobre a pesquisa e os sistemas sociais em geral; permite estabelecer ligacoes com campos especificos de interesse; e ajuda a localizar as descobertas no ambito de uma teoria geral do funcionamento da sociedade. As descobertas sobre o mundo social sao desprovidas de significado ate que sejam situadas em um quadro teorico.

Institutionalization of social representations: a proposed theoretical integration/A institucionalizacao de representacoes sociais: uma proposta de integracao teorica/La institucionalizacion de representaciones sociales: una propuesta de integracion teorica.


Guerra, Gilberto Claricio Martinez ; Ichikawa, Elisa Yoshie


1. INTRODUCAO

A teoria tem importancia central para todas as ciencias, e as Ciencias Sociais e os estudos organizacionais nao fogem a essa regra. Segundo May (2004), ela e util para a interpretacao dos dados empiricos; possibilita uma orientacao geral sobre questoes politicas, historicas, economicas e sociais; fornece uma base para a reflexao critica sobre a pesquisa e os sistemas sociais em geral; permite estabelecer ligacoes com campos especificos de interesse; e ajuda a localizar as descobertas no ambito de uma teoria geral do funcionamento da sociedade. As descobertas sobre o mundo social sao desprovidas de significado ate que sejam situadas em um quadro teorico.

Diante desse contexto, o presente estudo faz uma discussao sobre duas teorias que vem ganhando espaco nos estudos organizacionais, a Teoria das Representacoes Sociais e a Teoria Institucional, assim como propoe u ma reflexao sobre a utilizacao de ambas as teorias nas analises de fenomenos organizacionais diversos.

Na Teoria das Representacoes Sociais, Moscovici (1978) menciona que a realidade exterior e remodelada ou reproduzida na forma de representacoes sociais, que sao marcadas pelo contexto de valores, nocoes e regras que lhes sao solidarias. Moscovici (2004) defende que uma importante distincao a ser feita e entre o universo consensual e o universo reificado. No universo consensual, a sociedade e uma criacao visivel, continua, permeada de sentido e finalidade, e o ser humano e a medida de todas as coisas. Ja no universo reificado, a sociedade e transformada em um sistema de identidades solidas, basicas, invariaveis, que nao distinguem a individualidade, ignorando a si mesma e suas criacoes.

No universo consensual, as pessoas sao vistas como iguais, livres e podendo falar por seu grupo. Todas agem como um amador responsavel (sem ser especialista no assunto) ou um observador curioso ao expressar suas opinioes sobre politica, sociologia, astronomia, etc. Ja no universo reificado, as pessoas possuem diferentes papeis e classes, e os membros sao desiguais. Deve-se adquirir competencia para conseguir fazer parte do grupo desejado (MOSCOVICI, 2004).

O contraste mencionado provoca um impacto psicologico e divide a realidade em duas: por um lado, ha o universo reificado dos conceitos; por outro, o universo consensual das representacoes sociais. O primeiro, por ocultar valores e vantagens, encoraja a precisao intelectual e a evidencia empirica. Ja as representacoes restauram a consciencia coletiva e lhe dao forma, tornando o conhecimento acessivel a qualquer um (MOSCOVICI, 2004).

Em outras palavras, a Teoria das Representacoes Sociais ajuda a compreender como se da o processo de transformacao de conceitos do universo reificado (ciencia) para o universo consensual (senso comum) e a forma como integrantes desses universos compreendem esses conceitos. Assim, no universo reificado se constroi um mundo de "verdades" de uma sociedade, e intermediarios, como a midia e outros processos de comunicacao, transmitem essas construcoes para os membros da sociedade, que por sua vez interpretam e utilizam esses conhecimentos em suas praticas cotidianas, muitas vezes transformando-os.

Para compreender melhor essa construcao do conhecimento do senso comum, a juncao da Teoria das Representacoes Sociais com a Teoria Institucional pode dar bons frutos. De acordo com Meyer e Rowan (1977), a institucionalizacao envolve os procedimentos pelos quais os processos sociais, obrigacoes ou realidades vem a assumir uma condicao de regra no pensamento social e na acao. Para Berger e Luckmann (1996), o estudo da institucionalizacao e necessario para entender a emergencia, a manutencao e a transmissao de uma ordem social cuja origem que vai alem das causas estabelecidas pelas constantes biologicas.

De acordo com DiMaggio e Powell (2005), o denominado novo institucionalismo apresenta uma perspectiva cognitiva e cultural para a explicacao dos fundamentos da acao social. Selznick (1996) menciona que a interacao entre cultura e organizacao e mediada por uma mente socialmente construida, ou seja, por padroes de percepcao e avaliacao, indo assim contra a perspectiva racionalista do homem, segundo a qual este realiza suas escolhas de modo totalmente consciente. Mesmo quando ocorre a coercao, ainda ha a interpretacao cognitiva e sua estabilizacao no plano normativo.

Para Vieira e Carvalho (2003), a abordagem institucional diferencia-se de teorias de carater racionalista por entender que o ambiente institucional (politica, economia, cultura, etc.) molda as crencas, os valores e as acoes do individuo. Como as instituicoes sao resultado da construcao humana, pode-se mencionar que o processo institucional e estruturado e estruturante simultaneamente, nao sendo necessariamente racional e objetivo, mas sim fruto de interpretacoes e da intersubjetividade. Quando essas interpretacoes servem a um objetivo especifico, passando a ter utilidade e sendo amplamente compartilhadas, adquirem-se carater racional.

Em outras palavras, a Teoria Institucional ajuda a compreender como os processos sociais, obrigacoes, realidades ou representacoes sociais assumem uma condicao de regra no pensamento social e na acao para os membros de uma determinada organizacao.

Dessa forma, o objetivo do presente estudo e propor a utilizacao conjunta da Teoria das Representacoes Sociais e da Teoria Institucional como uma opcao para a analise de fenomenos organizacionais que vise identificar o entendimento que os membros de uma organizacao possuem de um determinado objeto/sujeito, assim como a formacao desse entendimento. Para atingir o objetivo estabelecido, realiza-se a seguir um debate teorico acerca de ambas as teorias.

2. A TEORIA DAS REPRESENTACOES SOCIAIS

Para Jodelet (2001:8), a representacao social e "uma forma de conhecimento socialmente elaborada e compartilhada, que tem um objetivo pratico e concorre para a construcao de uma realidade comum a um conjunto social". As representacoes sao criadas para informar o homem sobre o mundo a sua volta, construir o conhecimento sobre como se comportar, dominalo fisica e intelectualmente, identificar e resolver os problemas que se apresentam. Minayo (1996:159) menciona que esse "termo se refere a categorias de pensamento atraves das quais determinada sociedade elabora e expressa sua realidade".

De acordo com Moscovici (1978:26), "a representacao social e uma modalidade de conhecimento particular que tem por funcao a elaboracao de comportamentos e a comunicacao entre individuos". Ela produz e determina os comportamentos, definindo a natureza dos estimulos e o significado das respostas a esses estimulos, exercendo uma funcao construtiva da realidade e sendo o sinal e a reproducao de um objeto socialmente valorizado.

Nota-se que as representacoes sociais orientam e organizam as condutas e as comunicacoes sociais, intervindo em processos variados como: difusao e assimilacao do conhecimento, desenvolvimento individual e coletivo, definicao das identidades pessoais e sociais, expressao de grupos e transformacoes sociais. Observadas como fenomenos cognitivos, as implicacoes afetivas e normativas, a interiorizacao de experiencias, as praticas, os modelos de conduta e pensamento transmitidos pela comunicacao social (JODELET, 2001) sao analisados.

Jovchelovitch (2000) acrescenta que as representacoes sociais envolvem a cognicao (conhecer o mundo de certo modo), os afetos (desejo e/ou paixao de saber ou nao saber sobre o objeto) e a acao (praticas sociais). "Do ponto de vista dinamico, as representacoes sociais se apresentam como uma 'rede' de ideias, metaforas e imagens, mais ou menos interligadas livremente e, por isso, mais moveis e fluidas que teorias" (MOSCOVICI, 2004:210).

Moscovici (1978) menciona que a representacao social e sempre representacao de algum objeto e de algum sujeito. A representacao e uma construcao e uma expressao do sujeito, pois este, ao manifestar as caracteristicas do objeto, acaba por produzir uma relacao de simbolizacao (substituindo-o) e de interpretacao (conferindo-lhe significacoes).

Todo o estudo da representacao e realizado em razao de esta ser uma forma de conhecimento. Minayo (1996) acrescenta que as representacoes sociais, enquanto senso comum, ideia, imagem, concepcao e visao de mundo que os sujeitos tem, sao importantes fontes de pesquisa para as Ciencias Sociais, mesmo nao sendo necessariamente conscientes.

[...] representacoes sociais sao sempre complexas e necessariamente inscritas dentro de um referencial de um pensamento preexistente; sempre dependentes, por conseguinte, de sistemas de crencas ancorados em valores, tradicoes e imagens do mundo e da existencia. Elas sao, sobretudo, o objeto de um permanente trabalho social, no e atraves do discurso, de tal modo que um novo fenomeno pode sempre ser reincorporado dentro de modelos explicativos e justificativos que sao familiares e, consequentemente, aceitaveis (MOSCOVICI, 2004:216).

Em razao dessa complexidade apontada por Moscovici (2004), Raudsepp (2005) menciona que a Teoria das Representacoes Sociais possibilita diversos tipos de estudos, como sobre o surgimento de uma representacao social, a dinamica das relacoes entre diferentes representacoes sociais, a apropriacao de uma representacao social por um individuo ou pelo coletivo para seu processo de socializacao, o determinismo e o voluntarismo do individuo dentro de uma representacao social, entre outros. O autor defende que para estudar esses temas sao necessarias "aliancas teoricas" com varias outras abordagens socioculturais, o que vai ao encontro da proposta do presente artigo.

Moscovici (1978) menciona que na representacao social existe uma troca na qual as experiencias e as teorias se modificam qualitativamente em seu alcance e conteudo, o que acontece pelos meios de comunicacao (jornais, televisao, radios, conversacoes, rituais, etc.) ou pelas organizacoes sociais que comunicam (igreja, partido politico, etc.).

Os elementos que formam as representacoes advem de uma cultura comum e da linguagem (OLIVEIRA; SILVEIRA, 2007). Neste processo de comunicacao, as informacoes sao alteradas, pois elas se diferenciam, traduzem, interpretam e combinam da mesma forma que os grupos inventam ou interpretam os objetos sociais ou as representacoes de outros grupos. Assim, as palavras podem mudar de sentido, gramatica, regras, e os conteudos adotam outras formas (MOSCOVICI, 1978).

Moscovici (1978, 2004) afirma que uma representacao social constroi-se a partir de dois processos fundamentais: a objetivacao e a amarracao. Ao se objetivar, absorve-se um excesso de significacoes, que sao materializadas, e transplanta-se, para o nivel da observacao, o que era apenas inferencia ou simbolos (MOSCOVICI, 1978). A objetivacao torna real um esquema conceptual, dando a imagem uma referencia material, originando uma flexibilidade cognitiva; alem disso, reabsorve o excesso de significacoes, materializando-as. Nesse processo, a observacao dos homens torna-se testemunho dos sentidos e o universo desconhecido torna-se familiar a todos. O autor chama esse processo de "coisificacao" transformacao de ideias em coisas fora da mentalidade do individuo--, proscrita na logica da ciencia e em partes do senso comum. Berger e Luckmann (1996) enfatizam a importancia da significacao--producao humana de sinais--durante a objetivacao, pois ela cria indices acessiveis de significados subjetivos do aqui e agora. As mais comuns sao as significacoes linguisticas.

De acordo com Moscovici (1978:173), a "amarracao designa a firme insercao de uma ciencia na hierarquia de valores e entre as operacoes realizadas pela sociedade". Por meio desse processo, a sociedade converte o objeto social em um instrumento acessivel e transforma a ciencia num quadro de referencia em rede de significacoes. "A objetivacao transfere a ciencia para o dominio do ser e a amarracao a delimita ao dominio do fazer, a fim de contornar o interdito de comunicacao" (MOSCOVICI, 1978:174).

Ja Jovchelovitch (2000:81) chama de objetificacao e ancoragem as formas especificas de mediacao social das representacoes sociais, "que elevam para um nivel 'material' a producao simbolica de uma comunidade", concretizando as representacoes sociais. Objetivar e transformar o familiar em nao familiar, ancorando assim o desconhecido em uma realidade ja institucionalizada, deslocando ou alterando os significados estabelecidos que as sociedades tentam perpetuar.

A regularidade do pensamento tambem pode ser atingida por meio da institucionalizacao das representacoes sociais, quando estas se tornam legitimas e bem aceitas pela sociedade. Quando institucionalizada, a representacao social segue ao longo do tempo ate ser substituida ou modificada por uma quebra de paradigma, geralmente resultante da ancoragem de novos significados.

3. O PROCESSO DE INSTITUCIONALIZACAO

Tolbert e Zucker (2007) mencionam que a institucionalizacao muitas vezes e tratada como um estado qualitativo: as praticas organizacionais ou sao institucionalizadas ou nao o sao. Negligenciam-se dessa forma questoes relevantes sobre variacoes dos niveis de institucionalizacao e sobre como essas variacoes podem afetar o grau de similaridade entre conjuntos e organizacoes.

A continuidade de transmissao dos processos incrementa a institucionalizacao, e quanto maior o conhecimento sobre a historicidade do processo, maior e essa continuidade. Esse conhecimento cria um universo de senso comum compartilhado pelos individuos (ZUCKER, 1991).

Para Selznick (1996:2) "a teoria institucional investiga a emergencia de formas, processos, estrategias, perspectivas distintas e competencias a medida que estes emergem de padroes de interacao e adaptacao da organizacao". Powell e Colyvas (2008) acrescentam que a analise institucional necessita de maior atencao nos processos cotidianos do que em eventos ocasionais, e que atencao tambem deve ser dada aos membros menos poderosos da organizacao, e nao apenas a lideres e campeoes.

De acordo com DiMaggio e Powell (2005), as organizacoes estao mais homogeneas e menos orientadas para a concorrencia e a necessidade de eficiencia. Selznick (1996) menciona que muitas vezes o mimetismo ocorre como uma resposta a situacoes incertas em momentos de ansiedade, e que frequentemente o principal objetivo e sobreviver, e nao resolver o problema por definitivo.

Essa homogeneidade surge com a repeticao e transferencia do conhecimento sobre a realizacao de determinadas acoes para outras pessoas ou organizacoes, fazendo assim com que essas acoes se tornem verdadeiros habitos:

Toda atividade humana esta sujeita ao habito. Qualquer acao frequentemente repetida torna-se moldada em um padrao, que pode em seguida ser reproduzido com economia de esforco e que, ipso facto, e apreendido pelo executante como tal padrao. O habito implica alem disso que a acao em questao pode ser novamente executada no futuro da mesma maneira e com o mesmo esforco economico (BERGER; LUCKMANN, 1996:77).

De acordo com Berger e Luckmann (1996), as condutas institucionalizadas envolvem certo numero de papeis que participam do controle da institucionalizacao. Esses papeis representam a ordem institucional que se realiza em dois niveis: a execucao do papel representa a si mesma e o papel representa uma completa necessidade institucional de conduta. Suas origens encontram-se nos mesmos processos de formacao dos habitos e da objetivacao, e toda conduta institucionalizada envolve certo numero de papeis que participam do carater controlador da institucionalizacao, representando a ordem institucional. Conforme o papel que o individuo realiza na sociedade, ele constroi "um apendice socialmente definido de conhecimentos". As instituicoes tambem sao representadas por estruturas sociais, expressas por objetivacoes linguisticas, objetos fisicos, naturais e artificiais. Essas representacoes tem de ser continuamente vivificadas para nao morrerem (BERGER; LUCKMANN, 1996:109).

Para Berger e Luckmann (1996), quanto maior for o compartilhamento das estruturas importantes de uma sociedade, mais ampla sera a esfera da institucionalizacao. Quando menor, a esfera da institucionalizacao sera estreita e possivelmente fragmentada. Ja para Scott (2001), a pressao para a institucionalizacao varia de acordo com o tamanho da organizacao, pois pode haver uma autoridade supervisora em sua jurisdicao que a leve a institucionalizar mais rapidamente certas praticas. Alem disso, dependendo da regulamentacao do ramo de atividade, das diferencas de tempo e de espaco entre as organizacoes, da forca das crencas cognitivas e dos controles normativos, e da quantidade ou qualidade das ligacoes com outros atores de outros ambientes, a pressao para a institucionalizacao tambem pode variar.

A Figura 1 a seguir demonstra o processo de institucionalizacao, que se inicia com uma inovacao, passa pela habitualizacao e objetivacao e termina com a sedimentacao:

A necessidade de inovacao pode ser derivada a mudancas tecnologicas, legais ou por forca do mercado, fazendo com que o sistema vigente entre em crise. A habitualizacao e o estabelecimento de padroes de comportamento para a resolucao dos problemas em questao. Criam-se novas estruturas independentes. Esses padroes de atuacao podem ser utilizados por outras empresas (se houver alguma forma de comunicacao entre elas), iniciando-se assim um isomorfismo mimetico (TOLBERT; ZUCKER, 2007).

[FIGURE 1 OMITTED]

Com a objetivacao, as acoes comecam a ter significados compartilhados pela sociedade. Quanto maior a disseminacao da estrutura, mais ela e vista como uma escolha otima, em razao do menor grau de incerteza. Os grupos de interesses sao os defensores da estrutura e executam duas importantes tarefas: divulgam a existencia de fracasso e insatisfacao de determinadas organizacoes e fazem um diagnostico, fornecendo uma solucao ou tratamento para o problema dessa determinada organizacao. As evidencias podem ser colhidas de uma variedade de fontes (noticiarios, observacoes diretas, etc.). Pode-se mencionar que a objetivacao da estrutura e, em parte, resultado do monitoramento que a organizacao faz de seus competidores e dos esforcos para aumentar a competitividade. Essa teorizacao da legitimidade normativa e cognitiva a estrutura, que se intensifica com exemplos de sucesso, deixando de ser uma simples imitacao (TOLBERT; ZUCKER, 2007).

A transmissao das tipificacoes aos novos membros ocorre na terceira fase: a sedimentacao. Os atores envolvidos, por nao terem conhecimento da origem das tipificacoes, tratam-nas como dados sociais e isso faz com que elas se perpetuem pela historia, sobrevivendo por varias geracoes (TOLBERT; ZUCKER, 2007). Dessa forma, o processo termina com a formacao de uma nova instituicao, que so se extinguira caso grupos tomadores de decisao forem afetados negativamente, ou pela falta continua de resultados decorrentes de sua adocao. Atingindo-se esse grau de institucionalizacao total, a propensao dos atores para realizar avaliacoes independentes significativas da estrutura declinara significativamente.

Para Tolbert e Zucker (2007:203), o conjunto de processos sequenciais apresentado sugere uma variacao nos niveis de institucionalizacao, implicando que "alguns padroes de comportamento social estao mais sujeitos do que outros a avaliacao critica, modificacao e mesmo eliminacao". Os niveis de institucionalizacao podem variar em relacao ao seu grau de profundidade no sistema social.

Para Jepperson (1991), uma possivel medida do grau de institucionalizacao de um objeto pode ser a vulnerabilidade deste a intervencoes sociais, que e menor a medida que o objeto esta mais enraizado na estrutura organizacional e mais tido como nao passivel de questionamento. O autor ainda destaca que mesmo elementos ilegitimos da sociedade, como corrupcao politica e crime organizado, podem ser institucionalizados.

Observa-se tambem que o processo de institucionalizacao e reversivel por varias razoes historicas, como os processos de privatizacao. Entretanto, as instituicoes tendem a perdurar, a menos que se tornem problematicas. Quanto maior o nivel de institucionalizacao e quanto mais abstrata ela for, mais dificil para a instituicao se desinstitucionalizar. Para Berger e Luckmann (1996), as pessoas fazem as coisas nao porque estas dao resultados, mas porque sao certas, mesmo que sob a percepcao de um observador externo tais atos nao sejam mais uteis a sociedade.

Lawrence, Winn e Jennings (2001 apud FREITAS; GUIMARAES, 2005) expoem o padrao dos eventos do processo de institucionalizacao, onde podem ser observadas as fases: (1) fase inicial de inovacao envolvendo poucos atores; (2) fase de rapida difusao; (3) fase de saturacao e legitimacao completa; e (4) fase de desinstitucionalizacao, como mostra a Figura 2 a seguir:

Como pode ser observado na Figura 2, e necessario tempo (geralmente anos) para que a mudanca de fase ocorra, e com o tempo de mudanca de fase cresce o porcentual de adocao da estrutura. O marco "zero" da institucionalizacao pode ser considerado a inovacao, enquanto a legitimacao e o nivel maximo a que pode chegar. Com o tempo e a necessidade de outras inovacoes, a estrutura tende a se desinstitucionalizar, diminuindo assim o porcentual de sua adocao.

[FIGURE 2 OMITTED]

A legitimacao produz novos significados que integram os significados ja existentes nos processos institucionais, principalmente nos casos em que a origem real das sedimentacoes perdeu importancia, e explica a ordem institucional, dando validade cognitiva aos significados objetivados, dando dignidade normativa aos imperativos praticos e implicando valores e conhecimento. Sua funcao e tornar objetivamente acessiveis e subjetivamente plausiveis as objetivacoes que foram institucionalizadas (BERGER; LUCKMANN, 1996).

Aqueles que detem o poder podem trabalhar com uma consideravel resistencia a institucionalizacao de uma mudanca social, pois quando eles possuem os recursos e a mudanca vem a alterar a ordem vigente, esses atores nao participarao da nova ordem e farao o possivel para essas mudancas nao ocorrerem. Ao se considerar o aspecto interpretativo, observa-se que, juntamente com a dominacao, a legitimidade constitui o poder, uma vez que esse poder precisa de uma sustentacao social cognitivo-normativa que o explique. Essa legitimidade sera depois utilizada pelos atores para se manterem no poder (MACHADODA-SILVA; FONSECA; CRUBELLATE, 2005; BECKERT, 1999). Para se ter ideia do alcance desse poder, e importante lembrar que todos os sistemas sociais, assim como as organizacoes, estao em um ambiente institucional que delimita sua realidade (SCOTT, 1987).

4. PRINCIPAIS SEMELHANCAS ENTRE A TEORIA DAS REPRESENTACOES SOCIAIS E A TEORIA INSTITUCIONAL

Primeiramente, ha que registrar que nos primordios da Teoria Institucional e da Teoria das Representacoes Sociais ambas eram tratadas como deterministas. No caso da Teoria das Representacoes Sociais, isso ocorreu em razao da grande influencia dos trabalhos de Durkheim (2003) sobre representacoes coletivas. Para esse autor, os modos de pensar, agir e sentir exteriores ao individuo exercem uma forte coercao sobre ele.

Os tipos de coercao existentes nas representacoes, de acordo com Durkheim (2003), sao as leis, a consciencia publica, as convencoes sociais, o idioma, entre outros; e as orientacoes e organizacoes citadas por Jodelet (2001), como difusao e assimilacao do conhecimento, desenvolvimento individual e coletivo, definicao das identidades pessoais e sociais, expressao de grupos e transformacoes sociais, tambem podem ser encontradas no trabalho de DiMaggio e Powell (2005) que trata do isomorfismo coercitivo, normativo e mimetico. Observa-se tambem que as entidades institucionalizadas e legitimadas sao as responsaveis pela criacao de coercoes que influenciam tanto as representacoes sociais como as demais instituicoes por meio do isomorfismo coercitivo e normativo (VIEIRA; LOPES; CARVALHO, 1999; FARR, 2002).

De fato, pode-se perceber uma perspectiva social durkheimiana na Teoria Institucional, na qual a cristalizacao de padroes sociais (instituicoes) transfere os significados da estrutura social para os agentes. Com o passar do tempo, comecou a ser aceita uma perspectiva weberiana, segundo a qual o agente interpreta sua realidade, dando assim um aspecto cognitivo ao processo de institucionalizacao e negando a transferencia direta mencionada na perspectiva anterior.

A partir desse ponto, ambas as teorias comecaram a mudar, caminhando para a percepcao de uma realidade social construida, em que o ser humano nao apenas e influenciado pelo meio social, mas tambem o influencia, em uma recursividade ciclica. Com essa perspectiva, tanto a Teoria das Representacoes Sociais como a Teoria Institucional passaram a enfatizar o aspecto cognitivo.

Sendo assim, a cognicao dos atores (conhecer o mundo de certo modo) tornou-se um aspecto de grande importancia na Teoria das Representacoes Sociais (JOVCHELOVITCH, 2000); tambem e considerada um importante pilar da instituicao e um mecanismo isomorfico que necessita de interpretacoes subjetivas das acoes, somadas as representacoes que os individuos fazem de seus ambientes configuradores de suas acoes (SCOTT, 2001; DIMAGGIO; POWELL, 2005). O institucionalismo da a devida importancia ao cognitivo, pois nele e necessario um minimo de interpretacao, mesmo nos mecanismos coercitivos e normativos de isomorfismo, que nao possuem essa caracteristica como a principal; alem disso, tem seu foco primario nas crencas culturais (DIMAGGIO; POWELL, 2005). As representacoes sociais, por sua vez, dependem do sistema de crencas ancoradas em valores, tradicoes e imagens do mundo, enfatizando o cognitivo (MOSCOVICI, 2004).

O isomorfismo, por sua vez, e a forma pela qual a institucionalizacao se difunde, podendo ser transmitida, entre outros meios, pelo sistema simbolico que inclui cultura, representacoes, modelos, valores, etc. (SCOTT, 2001). Selznick (1996) menciona que a enfase cognitiva relembra que as interacoes culturais e organizacionais sao mediadas por mentes socialmente construidas, possibilitam um olhar mais proximo pela organizacao e ajudam a identificar formas especificas de agir e pensar dos sujeitos, aspectos estes importantes para ambas as teorias.

Muitas das instituicoes e das representacoes sociais fazem parte das sociedades desde geracoes passadas, ou seja, sao anteriores aos homens que vivem nos dias de hoje, e, depois de criadas, muitas vezes adquirem vida propria, se propagam, dao origem a novas representacoes sociais e instituicoes; as mais antigas por sua vez, podem desaparecer. Quanto menor e a consciencia da influencia das instituicoes e das representacoes sociais, maior e o impacto delas na sociedade (BERGER; LUCKMANN, 1996; MOSCOVICI, 2004).

O entendimento de ambas as teorias deve ser realizado no nivel supraindividual, considerando os individuos apenas como membros de grupos sociais, pois essas teorias nao podem, de forma alguma, ser consideradas como um agregado de mentes, atributos ou motivos individuais. Sao, sim, reflexos de processos sociais que tomam lugar entre os membros de uma unidade social, indo em direcao a explicacoes cognitivas e culturais (RAUDSEPP, 2005; DIMAGGIO; POWELL, 1991).

Nas sociedades modernas, os elementos da estrutura formal racionalizada refletem o entendimento da realidade social (MEYER; ROWAN, 1977), ou seja, podem ser reflexos das representacoes sociais dos atores. Em contrapartida, a Teoria Institucional pode investigar a emergencia de representacoes sociais, da mesma forma que, segundo Selznick (1996), ela investiga a emergencia de formas, processos e estrategias.

Para Castro e Batel (2008), a situacao exposta acima torna as representacoes sociais um fenomeno com tres dimensoes interdependentes: individual, contextual-relacional e institucional-cultural. Essa tridimensionalidade se torna muito clara quando se considera a difusao que as instituicoes dao as novas normas na sociedade, algo que seria impossivel sem a presenca dos aspectos psicologicos, cognitivos e relacionais dos individuos e a interdependencia das tres dimensoes citadas pelos autores. Nao e possivel pensar em representacoes sociais que existam apenas na cabeca das pessoas (cognicao), ou apenas em seus relacionamentos, ou entao apenas nas praticas institucionais, normas e leis das sociedades; tambem nao e possivel pensar em sua existencia a partir da uniao de apenas duas das dimensoes mencionadas.

Jodelet (2001) defende que um dos postulados fundamentais na Teoria das Representacoes Sociais e o da inter-relacao entre as formas de organizacao e de comunicacoes sociais e as modalidades do pensamento social. Segundo Jodelet (2001), Durkheim defendia a existencia do "isomorfismo" entre representacoes e instituicoes, no qual as categorias, que classificam os objetos, sao solidarias as formas do agrupamento social e a organizacao da sociedade pelas relacoes entre as classes.

[FIGURE 3 OMITTED]

Dessa forma, para entender ambas as teorias e importante considerar tres fatores discutidos por Berger e Luckmann (1996): a sociedade como produto humano, a sociedade como realidade objetiva e o homem como produto social. A objetividade do mundo social faz com que o homem se situe fora dele e, dessa forma, pode fazer com que ele se esqueca de que e possivel refaze-lo; no caso de papeis, pode fazer com que as pessoas neguem a responsabilidade por suas acoes, pelo fato de suas acoes serem apreendidas como uma fatalidade inevitavel. A Figura 3 a seguir ilustra esse processo:

Pode-se notar que as pessoas influenciam a sociedade, tornando-a sua criacao, e que, em contrapartida, a sociedade influencia as pessoas, tornando-as um produto social e dando origem, assim, a um processo recursivo e nao determinista.

4.1 O processo de institucionalizacao das representacoes sociais

Para Scott (2001), Durkheim considerava os sistemas simbolicos--as crencas, o conhecimento (neste incluidas as representacoes) e a autoridade moral --como instituicoes sociais, pois esses sistemas existem nao apenas como crencas internalizadas, mas tambem como quadros externos. Ou seja, embora produtos da interacao humana, sao experimentados pelos individuos como algo objetivo. O ambiente funciona como uma fonte de significados para os membros das organizacoes, influenciando de forma ativa essas instituicoes sociais.

Segundo Berger e Luckmann (1996), da mesma forma como ocorre na legitimacao das instituicoes, ha varios niveis de legitimacao do universo simbolico. A principal diferenca entre esta e aquela e que o universo simbolico ja e por si mesmo um fenomeno teorico e se conserva como tal em todas as situacoes, nao descendo ao nivel pre-teorico, como ocorre com as instituicoes. Para se defender contra ameacas externas, o universo simbolico pode se modificar pelos mecanismos conceituais construidos.

[FIGURE 4 OMITTED]

Esses mecanismos acarretam sempre a sistematizacao de legitimacoes cognoscitivas e normativas que estao ingenuamente presentes na sociedade, mas que se solidificam no universo simbolico. Alguns dos tipos mais importantes de mecanismos conceituais sao: a mitologia, a teologia, a filosofia e a ciencia. E importante mencionar que, na atual sociedade pluralista, compartilha-se um universo nucleo que e indubitavel (aceito socialmente), e diversos universos parciais coexistem em um estado de mutua acomodacao (BERGER;

LUCKMANN, 1996).

A fim de ilustrar o processo de institucionalizacao das representacoes sociais, foi desenvolvida a Figura 4, mostrada a seguir:

Como e observado na Figura 4, e a partir das mudancas nas palavras, sentimentos e condutas de uma sociedade que se iniciam as mudancas no senso comum. Ou seja, para Minayo (2002:108), "as representacoes sociais se manifestam em palavras, sentimentos e condutas e se institucionalizam, portanto, podem e devem ser analisadas a partir da compreensao das estruturas e dos comportamentos sociais". O senso comum e a forma do conhecimento e da interacao social; embora possua limitacoes referentes a experiencia existencial do sujeito, tambem possui graus de claridade e nitidez em relacao a realidade. Origina-se das contradicoes do cotidiano das classes sociais "e sua expressao marca o entendimento delas com seus pares, seus contrarios e com as instituicoes" (MINAYO, 1996:173).

Brito et al. (2002) acrescentam que as representacoes sociais se manifestam em sentimentos, palavras e condutas que ja estao institucionalizados, e que isso permite que a visao de mundo de diferentes grupos sociais seja acessada por meio dessas representacoes, demonstrando o conformismo, contradicoes e conflitos presentes nas percepcoes desses sujeitos. Por sua vez, os padroes culturais serao superados e novos valores serao institucionalizados se houver um reordenamento do universo simbolico, um rearranjo das relacoes de poder e a aprendizagem de novos pressupostos orientadores da acao organizacional, rumo a conquista da legitimidade social.

Assim, como foi visto anteriormente na Figura 1, de Tolbert e Zucker (2007), as mudancas podem ser iniciadas por fatores tecnologicos, leis ou forcas do mercado. Castro e Batel (2008) tambem mencionam que processos psicossociais ocorrem quando a sociedade altera leis ou normas que demandam das instituicoes, da sociedade e dos individuos a transformacao de ideias e a realizacao de novas praticas. Entretanto, tais mudancas nao ocorrem rapidamente, pois ha grande dificuldade em transformar normas prescritivas (o que deveria ser) em normas descritivas (o que realmente acontece), como e observado na Figura 4.

Depois da inovacao, e necessario que haja uma aprendizagem dos novos pressupostos orientadores e que, com isso, seja possivel realizar a teorizacao. De acordo com Berger e Luckmann (1996), para entender a integracao de uma ordem institucional e necessario compreender o conhecimento que seus membros tem dela. O universo simbolico, que e construido por meio de objetivacoes sociais, e concebido como a matriz de todos os significados socialmente objetivados e subjetivamente reais, que englobam toda a sociedade historica:

Enquanto o universo simbolico legitima a ordem institucional no mais alto nivel de generalidade, a teorizacao relativa ao universo simbolico pode ser considerada, por assim dizer, uma legitimacao de segundo grau. Todas as legitimacoes, das mais simples legitimacoes pre-teoricas de significados institucionalizados distintos ate o estabelecimento cosmico de universos simbolicos, podem, por sua vez, ser consideradas como mecanismos de manutencao do universo. Estes mecanismos, conforme e facil ver, exigem desde o inicio uma grande complicacao conceitual (BERGER; LUCKMANN, 1996:143).

Para Weick (1995), os individuos criam significados por meio de modelos mentais ou representacoes simplificadas, e essas representacoes permitem aos individuos perceber o contexto alem das sensacoes imediatas, modificando sua percepcao da realidade. Isso, por sua vez, segundo Patriotta (2003 apud TAKAHASHI; FISCHER, 2007), pode ser acompanhado de uma alteracao de valores e de crencas compartilhadas, associada a aprendizagem de circuito duplo, caracterizando uma mudanca cultural e/ou uma mudanca no estado do conhecimento, com a ocorrencia de um ciclo de criacao, utilizacao e principalmente de institucionalizacao do conhecimento.

Conforme Friedland e Alford (1991), individuos podem alterar ou reinterpretar simbolos e praticas, e no momento em que essas interpretacoes servem a um objetivo especifico, adquirindo utilidade e passando a ser amplamente compartilhadas, adquirem carater racional (VIEIRA; CARVALHO, 2003). Jovchelovitch (2000) acrescenta que, ao se objetivar o novo conhecimento, ancora-se o desconhecido em uma realidade ja institucionalizada, alterando assim os significados que as sociedades lutam para perpetuar.

De acordo com Patriotta (2003 apud TAKAHASHI; FISCHER, 2007), e necessario dar maior atencao a institucionalizacao das formas de conhecimento, que e o processo pelo qual os componentes significativos do conhecimento e da acao humana sao registrados em estruturas de significacao estaveis. Child e Heavens (2001 apud TAKAHASHI; FISCHER, 2007) defendem que, alem das praticas organizacionais, as praticas das aprendizagens tambem sao concebidas a partir do que e possivel, legitimo e legal institucionalmente, e sao sustentadas por regras e convencoes aprovadas socialmente.

Para chegar ao ultimo nivel do processo e ter o conhecimento institucionalizado, segundo Takahashi e Fischer (2007), com base em Child e Heavens, e necessario que o conhecimento tenha sido legitimado, alcancado determinado grau de aceitacao social, reconhecido como eficaz e necessario, assim como registrado e formalizado. A interacao social e a construcao das atividades realizam a apropriacao, e o proprio ambiente do trabalho funciona como o laboratorio para a institucionalizacao do conhecimento.

As instituicoes tornam as representacoes sociais menos variaveis e mais estaveis. E, alem de induzirem a regularidade e a homogeneidade por meio da cognicao, ainda iniciam e editam as representacoes sociais. Para Scott (2001), o conhecimento social, uma vez institucionalizado, existe como um fato, como parte da realidade objetiva, e pode ser transmitido diretamente aos membros e organizacoes de uma sociedade. Friedland e Alford (1991) reforcam essa afirmacao ao proporem que e por meio do cotidiano e dos comportamentos rituais mais institucionalizados que os individuos reproduzem a ordem simbolica da instituicao e os relacionamentos sociais que conectam este mundo a uma ordem transracional.

Importa destacar que, da mesma forma como acontece com as instituicoes, as representacoes sociais podem sofrer um processo de desinstitucionalizacao a medida que forem ocorrendo inovacoes que tornem as representacoes anteriores obsoletas, que surjam pequenas mudancas na concepcao da realidade pelos atores, inserindo alteracoes nas representacoes sociais de uma determinada sociedade ou de mecanismos conceituais construidos para defender o universo simbolico vigente de ameacas externas.

5. CONSIDERACOES FINAIS

O objetivo do presente estudo foi propor a utilizacao conjunta da Teoria das Representacoes Sociais e da Teoria Institucional como uma opcao para analises organizacionais que visem interpretar o entendimento que membros das organizacoes possuem de determinados fenomenos, assim como compreender como se da o processo de construcao desses fenomenos.

Assim, ha que destacar o carater descritivo da integracao teorica sugerida, pois se pretendeu, com este estudo, demonstrar que fenomenos organizacionais podem ser mais bem entendidos a partir da compreensao de como certas "verdades" nascem e por quais processos passam ate se sedimentarem (ou nao). Alem disso, a alianca entre as duas teorias ajuda tambem a compreender quais sao os atores e os papeis desempenhados por eles nesse processo de construcao e institucionalizacao das representacoes sociais.

Como apresentado neste estudo, ambas as teorias tiveram que se renovar ao longo do tempo e adquiriram um carater multidisciplinar, fazendo com que muitas areas da ciencia acabassem se interessando por elas: Sociologia, Historia, Administracao. Alem disso, ambas parecem estar caminhando em direcao de se tornarem teorias gerais dos fenomenos sociais, no sentido de esclarecerem por que certos fenomenos (ou representacoes) se tornam institucionalizados e acabam dando sentido as acoes da sociedade.

Com a pesquisa bibliografica realizada para a feitura deste artigo, pode-se observar que a Teoria Institucional ajuda a compreender como determinadas representacoes sao construidas ao longo do tempo e que atores foram determinantes nesse processo de institucionalizacao. Da mesma forma, a Teoria das Representacoes Sociais e adequada para o estudo de como se da a construcao social da realidade e, alem disso, nao trabalha apenas com o cognitivo, mas tambem com aspectos emocionais e afetivos, considerando o entendimento no nivel do senso comum.

Sendo assim, ambas as teorias podem se complementar, considerando-se os aspectos cognitivos, emocionais e as relacoes de poder e interesses envolvidos no processo de institucionalizacao dos fenomenos sociais. Ambas tiveram origens semelhantes (baseadas em Durkheim), partem dos mesmos principios ontologicos e epistemologicos, sofreram alteracoes similares, de modo que hoje podem se tornar proficuas em trabalhos que buscam entender a constituicao de processos e estruturas organizacionais.

Ou seja, enquanto a Teoria das Representacoes Sociais ajuda a compreender como se da o processo de transformacao de "verdades" em o universo consensual (senso comum), a Teoria Institucional ajuda a compreender como os processos sociais, obrigacoes, realidades ou representacoes sociais assumiram uma condicao de regra no pensamento social e na acao. A alianca teorica proposta tem o poder, entao, de descrever a realidade do objeto de estudo desde sua origem em trabalhos de carater longitudinal.

Dessa forma, seguindo a sugestao de Raudsepp (2005) de que os fenomenos tem uma explicacao mais rica a partir de aliancas teoricas, o presente ensaio propos essa possibilidade. Como visto na argumentacao apresentada, essa alianca pode enriquecer a compreensao sobre como os individuos se colocam e interpretam seu contexto, assim como auxiliar no entendimento de como os participantes organizacionais mantem ou tentam mudar as forcas que guiam suas praticas diarias.

6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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(*) Os autores agradecem a Capes (Coordenacao de Aperfeicoamento de Pessoal de Nivel Superior) e a Fundacao Araucaria de Apoio ao Desenvolvimento Cientifico e Tecnologico do Parana pelo suporte dado a realizacao do presente estudo.

(*) The authors thank CAPES (Coordination for the Improvement of Higher Education) and the Araucaria Foundation for the Support of Scientific and Technological Development of Parana for the support given to carry out this study.

(*) Los autores agradecen a Capes (Coordinacion de Perfeccionamiento de Personal de Nivel Superior) y a la Fundacion Araucaria de Apoyo al Desarrollo Cientifico y Tecnologico de Parana por el soporte dado a la realizacion del presente estudio.

doi: 10.5700/rege 430

Gilberto Claricio Martinez Guerra

Mestre em Administracao pelo PPA/UEM-UEL--Programa Consorciado entre a Universidade Estadual de Maringa e a Universidade Estadual de Londrina--Londrina-PR, Brasil

Elisa Yoshie Ichikawa

Professora do Departamento de Administracao da Universidade Estadual de Maringa. Mestre em Administracao e Doutora em Engenharia de Producao pela Universidade Federal de Santa Catarina--Florianopolis-SC, Brasil

Recebido em: 31/10/2009

Aprovado em: 18/8/2010
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