Buyer-seller relationship management in structured contracts environments: a case study in a multinational firm/Gestao do relacionamento comprador-fornecedor em ambientes com contratos estruturados: o caso de uma grande multinacional/Gestionde relacionamiento comprador-proveedor enambientes con contratos estructurados: el caso de una gran multinacional.
de Oliveira, Felipe Pagiola ; Filho, Helio Zanquetto
1. INTRODUCAO
A gestao das relacoes interorganizacionais vem passando, ao longo das ultimas decadas, por mudancas significativas. Powell (1990) chama a
atencao para o surgimento de arranjos hibridos, que resultam em
alternativas aos padroes convencionais, como as joint ventures, as
associacoes, as aliancas, dentre outros tipos de parcerias. Nesse
cenario, as interacoes que se desenvolvem redundam em relacionamentos
cujo objetivo principal e a obtencao dos recursos necessarios a
sobrevivencia nos ambientes de atuacao das organizacoes (GULATI;
GARGIULO, 1999; LAMBERT; EMMELHAINZ; GARDNER, 1996; GALASKIEWICZ, 1979);
alem disso, permitem as organizacoes reduzir riscos e incertezas do
ambiente, devidos em grande parte aos recursos de que necessitam e sobre
os quais nao detem controle ou de cuja disponibilidade nao possuem
previsibilidade.
Passam a surgir entao aspectos da gestao dos relacionamentos
interorganizacionais que envolvem acordos informais e levam em conta a
reputacao das partes e a confianca nos comportamentos e acoes que se
desenvolverao ao longo dos relacionamentos. A reputacao e a confianca
sao baseadas em aspectos subjetivos e podem gerar resultados beneficos,
porem representam um maior risco de danos em razao de comportamentos
oportunistas, visto que existe uma vulnerabilidade na relacao: cada uma
das partes nao possui nenhum tipo de instrumento de protecao contra a
ruptura dos acordos (GREEN, 2003).
Dessa maneira, surge o termo contrato relacional utilizado. Na
presente pesquisa, o termo sera utilizado segundo o entendimento de
Baker, Gibbons e Murphy (2002) de que se trata de acordos informais e
clausulas e codigos nao escritos que afetam diretamente a vida dos
individuos em um relacionamento, bem como auxiliam na solucao de
dificuldades oriundas dos contratos formais.
De outra forma, a fim de gerenciar esses relacionamentos, tambem e
possivel utilizar instrumentos formais no estabelecimento dos acordos,
bem como antecipar possiveis situacoes futuras no decorrer da vigencia
do relacionamento e prever tratamento para cada uma dessas situacoes,
mesmo considerando que os contratos sao incompletos por natureza e nao
conseguirao antecipar todas as situacoes possiveis (HART; MOORE, 1990;
TIROLE, 2007).
Assim, o termo contrato estruturado, como utilizado por Harrison,
Lee e Neale (2003), referese aos contratos firmados entre organizacoes e
seus fornecedores que especificam precos e quantidades ou atraves dos
quais os precos e quantidades tem sua variacao limitada. Nesta pesquisa,
o contrato estruturado, alem de especificar contratos conforme a
definicao acima, e diferenciado dos contratos formais, como encontrado
na literatura, pois, alem de definido a priori, tambem pode ser definido
a posteriori, incorporando clausulas definidas com base no andamento do
relacionamento contratual por meio de outros instrumentos, como atas,
adendos e outros.
De forma complementar, considerando-se as transacoes de recursos
efetuadas entre duas ou mais organizacoes, surgem os relacionamentos
interorganizacionais (VAN DE VEN, 1976), cuja existencia em um mesmo
ambiente cria o alicerce para o aparecimento de redes de cooperacao
interorganizacionais.
Diante do exposto, o problema de pesquisa foi direcionado para
verificar se nos relacionamentos interorganizacionais as questoes
relacionais sao tratadas por meio dos contratos estruturados ou de
maneira informal, por meio de acordos e entendimentos nao formais,
denominados contratos relacionais. Entao, o objetivo do presente artigo
e analisar o relacionamento entre contratante e contratados em ambientes
onde a gestao dos relacionamentos e realizada por meio de contratos
estruturados, para verificar se ha utilizacao de um contrato especifico
para as questoes relacionais (contrato relacional) ou mesmo se os
contratos estruturados ja existentes abrangem essas questoes.
O estudo dos relacionamentos interorganizacionais se justifica pela
importancia das interacoes que se estabelecem entre empresas para a
obtencao de recursos, de vantagens essenciais ao desempenho das cadeias
de suprimentos, e de resultados que decorrem das acoes e comportamentos
que as partes desenvolvem durante o relacionamento.
Dessa forma, este artigo busca contribuir para uma melhor
compreensao da gestao dos relacionamentos interorganizacionais por meio
da analise da dinamica desses relacionamentos em um ambiente onde as
trocas entre as organizacoes sao mediadas por contratos estruturados,
que configuram a relacao contratante e contratada.
Sua importancia e atestada pela oportunidade de verificar se, de
fato, o contrato e um instrumento utilizado apenas com o intuito de
estabelecer criterios para formatar as transacoes de recursos entre as
partes, estipulando salvaguardas e garantias, ou se pode ou e utilizado
tambem para a gestao dos relacionamentos interorganizacionais, com
vistas em enquadrar os comportamentos e demais aspectos relacionais que
se estabelecerao entre as partes.
2. REVISAO BIBLIOGRAFICA
Nesta secao sao apresentadas a teoria da dependencia de recursos,
com foco nos fatores externos a relacao; a teoria institucional, com
foco nos aspectos micro e voltada para as transacoes; e a governanca
relacional, que enfoca o mecanismo da relacao interorganizacional. Para
complementar o entendimento do contexto, apresentam-se os principais
aspectos relacionados aos contratos incompletos.
2.1. Teoria da dependencia de recursos
Na teoria da dependencia de recursos, as organizacoes sao tratadas
como sistemas abertos que necessitam manter o equilibrio dos recursos e
contribuicoes ao ambiente, considerado o conjunto de todas as
organizacoes.
Nela sao estudados os relacionamentos de interdependencia entre
organizacoes para a obtencao de recursos e garantia de sua sobrevivencia
nesse ambiente. Auster (1994) considera tres aspectos da sociologia
politica que contribuem para a perspectiva da dependencia de recursos:
(1) o foco das organizacoes e a maximizacao de seu poder; (2) para
garantirem sua sobrevivencia as organizacoes dependem de recursos do
ambiente; e (3) o ambiente e caracterizado pela incerteza. A
convergencia desses fatores transforma o mercado em um ambiente de alta
competitividade, marcado por lutas, conflitos, barganhas, e tem como
resultado perdedores e ganhadores.
Segundo Pfeffer e Salancik (1978), a sobrevivencia de uma
organizacao em dado ambiente esta relacionada com a efetividade no
gerenciamento das demandas, principalmente dos grupos detentores dos
recursos de que a organizacao depende. A simples dependencia de recursos
oriundos de outras organizacoes nao configura uma problematica para as
organizacoes, mas sim a disponibilidade desses recursos para atendimento
das organizacoes nesse ambiente.
Um relacionamento interorganizacional ocorre quando duas ou mais
organizacoes efetuam transacoes de recursos entre elas (VAN DE VEN,
1976). E uma forma de cooperacao interorganizacional voluntaria que
envolve confianca mutua, riscos e ganhos compartilhados, intercambio de
recursos e desenvolvimento conjunto, e que resulta em fortalecimento do
comprometimento entre as partes (GULATI; GARGIULO, 1999) e alcance de
resultados melhores do que os obtidos com uma atuacao individual
(LAMBERT et al., 1996).
Organizacoes se conectam aos ambientes por meio de associacoes,
federacoes, relacionamentos cliente- fornecedor, competicao, e contam
com um aparato legal e social que define e controla a natureza e os
limites desses relacionamentos. E fato que organizacoes se envolvem em
coalisoes quando ha alguma vantagem a ser obtida dessa associacao, e que
tendem a rompe-las quando nao ha mais vantagens visiveis na relacao
(PFEFFER; SALANCIK, 1978).
Conforme Aldrich e Pfeffer (1976), o modelo da dependencia de
recursos deriva da consideracao de que as organizacoes nao sao capazes
de produzir internamente todos os recursos e funcoes necessarias a sua
manutencao, razao pela qual se envolvem em transacoes e relacionamentos
com elementos do ambiente que possam suprir suas demandas de recursos e
servicos.
Nesse contexto, a teoria da dependencia de recursos pressupoe que
pressoes como a competicao, a regulacao e as forcas sociais farao as
organizacoes procurarem vinculos ambientais. Quanto maior a dependencia
de uma organizacao em relacao ao seu ambiente, mais ela tende a adquirir
acesso adicional aos recursos de que necessita ou controle sobre eles
(BOYD, 1990).
A importancia de um dado insumo ou produto para uma organizacao e a
extensao do controle exercido por algumas organizacoes (PFEFFER;
SALANCIK, 1978) definem a dependencia.
2.2. Teoria Institucional
Instituicoes sao padroes supraorganizacionais de atividade humana
pelos quais individuos e organizacoes produzem e reproduzem sua
subsistencia material e organizam tempo e espaco. Sao tambem sistemas
simbolicos, formas de realidade organizada que permitem transformar de
forma significativa a experiencia de tempo e espaco (FRIEDLAND; ALFORD,
1991).
As visoes de Dimaggio e Powell (1983), nos principios da teoria
institucional, ressaltam a limitacao das organizacoes em determinar seus
comportamentos e acoes, e ja concebiam a existencia de pressoes oriundas
do ambiente ou de outras organizacoes que as transformavam, num processo
que passou a ser chamado de "institucionalizacao".
Essa visao reforca a ideia de que organizacoes estao constantemente
submetidas a pressoes exercidas pelo ambiente, que consequentemente
formatam suas estruturas, comportamentos, acoes e, principalmente, a
forma como interagem com outras organizacoes e com o ambiente.
A partir da decada de 1970, a teoria organizacional sofreu um
impulso decorrente do que se denominou de "novo
institucionalismo", que foca a explicacao dos principios da acao
social (DIMAGGIO; POWELL, 1983; MEYER; ROWAN, 1977; ZUCKER, 1977). Ainda
assim, conservou-se a tradicao de ver os elementos do ambiente como
causadores da acao.
Conforme Tolbert e Zucker (1999), foi a partir do artigo de Meyer e
Rowan (1977) que proliferaram as analises sob uma perspectiva
institucional. Organizacoes formais sao frequentemente vistas como
sistemas de atividades coordenadas e controladas, e surgem quando atuam
dentro de redes complexas de relacoes tecnicas e transacoes. No entanto,
na sociedade moderna, estruturas organizacionais formais surgem em
contextos altamente institucionalizados. Produtos, servicos, tecnicas,
politicas e programas institucionalizados servem de mitos poderosos, que
muitas organizacoes adotam como cerimonias (MEYER; ROWAN, 1977).
Para alguns autores, como Dimaggio e Powell (1983), March e Olsen
(1984) e Scott (1995), esse momento marcou a retomada da teoria
institucional pelas ciencias sociais, principalmente a Ciencia Politica,
a Economia e a Sociologia, com foco nas instituicoes como elementos
determinantes para a compreensao da realidade social.
Powell e Dimaggio (1991) caracterizam o novo institucionalismo na
teoria das organizacoes e na Sociologia pela rejeicao dos modelos de
ator racional, pelo foco em instituicoes como variaveis independentes,
pela mudanca direcionada a explicacoes cognitivas e culturais e pelo
interesse em propriedades de unidades supraindividuais de analise, sem
possibilidade de reducao desta a agregados ou a resultados diretos de
atributos ou razoes individuais. Como afirmam esses autores, na mesma
obra, "arranjos institucionalizados sao reproduzidos porque os
individuos frequentemente nao conseguem conceber alternativas
apropriadas (ou porque eles consideram como irrealistas as alternativas
que conseguem imaginar)".
Pode-se observar que os autores apontam uma diferenciacao entre a
teoria institucional e a teoria da dependencia de recursos: na teoria
institucional, as organizacoes se envolvem em arranjos
institucionalizados por incapacidade de agir por conta propria ou por
uma passividade comportamental, enquanto na teoria da dependencia de
recursos, uma organizacao, por mais dependente que seja do ambiente,
desenvolve relacionamentos "aparentemente conscientes".
Dimaggio e Powell (1983) salientam a homogeneidade de formas e
praticas organizacionais por meio do conceito de campos organizacionais,
constituido por organizacoes que, em conjunto, estabelecem uma
reconhecida area da vida institucional produzindo servicos e produtos
similares. Quando organizacoes de mesmo ramo de negocios estao
estruturadas em um campo concreto, passam a sofrer a acao de forcas que
as conduzem a uma maior similaridade entre elas. Quanto maior a forca
exercida por determinado campo organizacional, maior similaridade e
identificada entre seus integrantes.
Segundo Orru, Biggart e Hamilton (1991), ambientes tecnicos moldam
as organizacoes por meio do isomorfismo competitivo, buscando competir
por recursos. Ja ambientes institucionalizados moldam as organizacoes
por meio da pressao social e tem como resultado o isomorfismo
institucional. Organizacoes em um ambiente institucional comum comecam a
parecer umas com as outras a partir do momento em que passam a responder
as mesmas pressoes regulatorias e normativas, ou copiam estruturas
adotadas por organizacoes bem-sucedidas em condicoes de incerteza.
As organizacoes competem nao somente por recursos e clientes, mas
tambem por poder politico e legitimacao institucional, por adequacao
social, assim como por adequacao economica. O conceito de isomorfismo
institucional constitui uma ferramenta util para compreender a politica
e o cerimonial que permeiam parte consideravel da vida organizacional
moderna (DIMAGGIO; POWELL, 1983).
O isomorfismo e um conjunto de restricoes que forcam uma unidade de
uma populacao a se parecer com outras unidades que se colocam em um
mesmo conjunto de condicoes ambientais. Tal abordagem sugere que as
caracteristicas organizacionais sao modificadas para um aumento de
compatibilidade com as caracteristicas ambientais; o numero de
organizacoes em uma populacao depende da capacidade ambiental projetada,
e a diversidade das formas organizacionais e isomorfica a diversidade
ambiental (ROSSETO; ROSSETO, 2005).
Segundo Dimaggio e Powell (1983), existem tres mecanismos por meio
dos quais ocorrem mudancas isomorficas institucionais: o isomorfismo
coercitivo (1), derivado de influencias politicas e da busca por
legitimidade; o isomorfismo mimetico (2), resultante de respostas
padronizadas as incertezas do ambiente; e (3) o isomorfismo normativo,
associado a profissionalizacao. No entanto, essa e uma tipologia e nem sempre esses mecanismos sao empiricamente distintos, pois podem ocorrer
simultaneamente. O que importa ressaltar e que cada mecanismo gera
resultados distintos, mesmo quando os mecanismos se misturam.
2.3. Governanca Relacional
Um elo bastante estudado dentre os relacionamentos
interorganizacionais que se estabelecem nas cadeias de producao e o que
envolve a interacao entre as partes visando o fornecimento de insumos
para a producao de bens ou servicos.
A integracao entre as organizacoes e seus fornecedores, tambem
conhecida como integracao vertical, propicia as organizacoes melhor
controle e habilidade para monitorar o desempenho e comportamento dos
demais atores que compoem sua cadeia de suprimentos. Essa integracao
pode ser vista como instrumento de substituicao da confianca pela
governanca, visto que, havendo controle das atividades por meio da
integracao, nao ha necessidade da crenca na confianca para coordenar as
atividades (SMITKA, 1991).
Por meio da gestao dos relacionamentos com fornecedores, as
organizacoes buscam uma aproximacao entre as duas partes que propicie
maior comprometimento nas interacoes, para o desenvolvimento mutuo de
atividades e tecnologias que atendam as necessidades de ambas. Segundo
Ganesan (1994), esse comprometimento envolve uma visao de futuro e a
necessidade e a vontade das partes de estabelecer um relacionamento de
longo prazo. A habilidade das relacoes interorganizacionais em uma
cadeia produtiva de se adaptar as incertezas oriundas dos
relacionamentos a jusante depende do estabelecimento de mecanismos de
governanca a montante que podem mitigar potenciais problemas de
incompatibilidade de objetivos ou acoes oportunistas (WATHNE; HEIDE,
2000).
Organizacoes inseridas em redes interorganizacionais apresentam, em
sua maioria, grande dependencia de relacoes interorganizacionais e se
deparam com o desafio de encontrar uma forma eficiente de coordenar
esses relacionamentos, visto ser consideravel o numero de relacoes que
acabam em consequencia de comportamentos oportunistas, dificuldade de
coordenar as partes e nao alcance das expectativas iniciais (LAAKSONEN;
KULMALA, 2006).
O risco a que as organizacoes se expoem ao se envolverem em
relacoes com outras organizacoes, caracterizado pela vulnerabilidade as
acoes e comportamentos oportunistas, conduz a busca por instrumentos que
oferecam protecao e criem salvaguardas contra acoes danosas, bem como
municiem a relacao de garantias de cumprimento dos acordos realizados.
Brown e Potoski (2005) consideram que contratos envolvendo alto
investimento em ativos podem gerar condicoes monopolisticas, favorecendo
acoes oportunistas por parte da organizacao contratada em razao da
vantagem competitiva obtida pela posse dos ativos especificos, que pode
criar barreiras a entrada de novos competidores potenciais.
Ainda que se considere que parceiros em alianca nao seguem o
contrato ao pe da letra, a presenca desse instrumento fornece varias
diretrizes normativas a relacao. Um contrato legal pode estabelecer a
forma com que varias situacoes futuras serao tratadas, reduzindo
incertezas quanto aos comportamentos e recursos por meio da definicao de
regras formais e procedimentos para manter o relacionamento (LEE;
CAVUSGIL, 2006).
Outro entendimento e que contratos funcionam como promessa entre as
partes de agir e se comportar de determinada forma no futuro (POPPO;
ZENGER, 2002). Assim, a funcao do contrato e definir regras,
responsabilidades e procedimentos, a fim de estabelecer controle e
monitoracao da relacao, bem como estipular punicoes para o nao
cumprimento das clausulas acordadas.
Ghauri (1983) parte do principio de que a parte que desenvolve um
contrato unilateralmente e a mais forte em um relacionamento
interorganizacional, para deduzir que os contratos sao utilizados para
controlar os individuos da outra organizacao envolvida. Outro aspecto
pertinente ao se elencarem os elementos motivadores do desenvolvimento
de contratos para reger relacionamentos e relacionado a governanca, que
municia as partes de instrumentos que permitirao aferir o desempenho de
cada organizacao para o alcance dos objetivos e metas preestabelecidas.
A governanca baseada em contratos utiliza instrumentos formais,
acordos legalmente legitimados ou contratos para administrar as
parcerias interorganizacionais, visando reduzir os riscos, facilitar a
transferencia de conhecimentos e melhorar o desempenho (LEE; CAVUSGIL,
2006). Entretanto, ha tambem uma corrente entre os estudiosos que
defende a possibilidade da contratacao sem utilizacao de contratos
formais ou legais. Alguns desses estudiosos utilizam como referencial
para essa teoria a economia japonesa, reconhecendo-a como caracterizada
em sua maioria pelo nao emprego de contratos para estabelecer relacoes
de controle (SMITKA, 1994; HALEY, 1991). Neste caso, a governanca em
questao seria a governanca relacional, nao definida a priori, mas sim
desenvolvida entre as partes ao longo do relacionamento, com base nas
situacoes vivenciadas com o avanco do relacionamento
interorganizacional.
Poppo e Zenger (2002) sugerem a ocorrencia de ambos, sob o
argumento de que os contratos facilitam a governanca relacional por meio
do estabelecimento da forma pela qual as partes vao se relacionar e
efetuar as transacoes, e a governanca relacional promove o refinamento,
customizacao e adequacao dos contratos complexos, havendo dessa forma
uma complementaridade mutua.
Ring e Van de Ven (1994) acreditam que um dos aspectos que
contribuem para a governanca relacional e a visao compartilhada entre as
partes, que promove a coerencia entre as expectativas e opinioes de
ambas sobre as metas organizacionais, bem como estimula o comportamento
cooperativo por meio de interacoes transparentes.
2.3.1. Contratos Incompletos
Sera feito aqui um pequeno apendice a respeito da incompletude dos
contratos e de como isso resulta na utilizacao de outros meios e formas
de gestao alternativos ao contrato. O contrato, como instrumento formal
utilizado para mediar relacoes de troca de bens e servicos entre
organizacoes, visa cobrir as possiveis situacoes que venham a ocorrer ao
longo do relacionamento, prevendo para cada situacao formas de
soluciona-la.
Entretanto, uma linha de pensamento pela qual diversos estudiosos
tem enveredado entende que, por maior que seja o esforco das partes em
prever todas as possiveis ocorrencias ao longo de um relacionamento
interorganizacional, e impossivel antecipar todas as possibilidades;
dessa forma, consideram os contratos como incompletos, impossibilitados
de atender a toda sorte de situacoes que venham a ocorrer no futuro.
Hart e Moore (1990) consideram que muitas contingencias nao sao
passiveis de previsao e que esbocar um contrato que viesse a cobrir
todas as contingencias possiveis seria proibitivamente caro; em razao
disso muitas contingencias nao sao definidas por contrato, e em algumas
situacoes as partes envolvidas necessitam realizar acordos ou negociar
formas de proceder.
Dessa forma, a tarefa dificil ao se preparar um contrato e
antecipar apropriadamente e tratar as contingencias que podem surgir
durante um relacionamento de troca. Assim, uma vez que o custo de
especificar as acoes precisas de cada parte em cada situacao possivel e
por vezes proibitivo, as partes sao levadas a firmar entre elas um
contrato incompleto.
Roxenhall e Ghauri (2004) consideram que os contratos sao
utilizados, primeiramente, quando sua utilidade como instrumento de
gestao do relacionamento e maior do que o custo de sua elaboracao.
Conforme Tirole (2007), contratos sao considerados incompletos quando
requerem negociacoes ex post. De acordo com essa perspectiva, alguns
custos de transacao ex ante sao evitados, uma vez que e possivel
aguardar o andamento das interacoes que se darao no contrato e uma
renegociacao. Por outro lado, serao necessarios alguns custos de
ajustamento dessas questoes nao previstas, bem como ha interesse das
partes em saber em que aspectos estarao vulneraveis nessas negociacoes.
Ha, dessa forma, uma concordancia entre os autores quanto a
impossibilidade de construir um instrumento contratual que de conta de
todas as situacoes possiveis em um relacionamento interorganizacional.
3. METODOLOGIA
A metodologia foi dividida em duas fases, em razao do foco de
analise diferenciado aplicado em cada momento, conforme detalhamento a
seguir.
3.1. Fase 1
Para estruturar a pesquisa, houve a necessidade de identificar
organizacoes que empregassem instrumentos formais, como contratos
estruturados, no estabelecimento e conducao de relacionamentos
interorganizacionais, de preferencia entre organizacoes dentro de
cadeias de suprimentos. Outro aspecto considerado foi a possibilidade de
obter acesso aos responsaveis pela gestao, medicao e acompanhamento do
contrato, de ambas as partes envolvidas nos relacionamentos, visando a
aplicacao de questionarios ou entrevistas estruturadas. Esta fase
caracterizou-se principalmente pela analise dos instrumentos contratuais
e dos demais documentos relacionados aos contratos da organizacao
selecionada.
Desse modo, optou-se por realizar a pesquisa nos relacionamentos
contratuais interorganizacionais de uma empresa multinacional de grande
porte, caracterizada pelo grande volume de bens e servicos que adquire,
pela especificidade da tecnologia associada a esses itens e pelo uso
exclusivo de instrumentos contratuais estruturados na relacao com
fornecedores. Esses contratos estruturados deveriam constituir um corpo
responsavel por sua execucao, pelas medicoes referentes a execucao, bem
como pelo contato direto entre as organizacoes durante a execucao dos
servicos. Intencionalmente, buscavam-se contratos estruturados que
definissem exclusivamente os bens e servicos contratados, sem contudo
expressarem a intencao de atender aos objetivos do que se denomina
contratos relacionais.
A selecao da organizacao a ser pesquisada levou em consideracao
alguns fatores, como: ser uma grande multinacional, ter forte presenca
no mercado mundial de seu setor; ter uma presenca forte no mercado
nacional; ser reconhecida como uma grande compradora de bens e servicos;
caracterizar-se por ter uma grande rede de relacionamentos com
fornecedores; e utilizar contratos formais para estabelecer esses
relacionamentos com seus fornecedores, atendendo assim ao objetivo da
pesquisa. Dessa forma, realizou-se uma pesquisa exploratoria em 94
relacionamentos com contratos estruturados vigentes, para identificar
algumas caracteristicas comuns entre os relacionamentos contratuais,
utilizando-se como referencia o conceito dos mecanismos isomorficos da
teoria neoinstitucional.
A literatura pesquisada ressalta muitos elementos que influenciam
na gestao dos relacionamentos interorganizacionais. Assim, foram
escolhidos seis elementos (denominados variaveis) que influenciam no
contexto da gestao do relacionamento, de forma a possibilitar a
realizacao de escolha direcionada e proposital dos contratos a serem
estudados, para que houvesse algum tipo de controle sobre as
caracteristicas destes durante a pesquisa. Dessa forma, o que se
procurou foi uma consistencia metodologica para as escolhas realizadas.
A escolha de cada caracteristica deu-se pelos seguintes argumentos: (1)
prazo contratual: considerar a relevancia da temporalidade; (2) valor contratual: ressaltar a relevancia dos custos contratuais; (3) grau de
tecnologia: identificar o grau de tecnologia dos contratos (cabe
destacar que os contratos possuem niveis de tecnologia muito
diferenciados, o que, por pressuposto, diferencia os custos, dai a
escolha desta caracteristica); (4) continuidade do servico: verificar se
o contrato e consecutivamente renovado (demanda continua) ou se atende a
uma demanda pontual; (5) presenca de mao de obra direta ou indireta:
identificar o papel da mao de obra nos contratos; e (6) tipo de
contrato: verificar se o objeto do contrato e servico, locacao ou misto,
de locacao com servico.
Por meio da consolidacao dos dados obtidos foi possivel desenvolver
relacoes entre as variaveis qualitativas, para a analise das
possibilidades de estabelecimento de mecanismos isomorficos entre os
relacionamentos contratuais interorganizacionais. Essa fase
constituiu-se entao em um meio para a selecao das relacoes
interorganizacionais a serem investigadas. Assim, com a analise
quantitativa dos 94 contratos foi possivel estabelecer pressupostos de
pesquisa, apresentados a seguir, a fim de direcionar a segunda fase da
pesquisa--o aprofundamento das relacoes interorganizacionais
selecionadas. Ressalta-se que foi publicado um trabalho em congresso
cientifico nacional com esses resultados, entretanto os autores
consideram que estes nao sao relevantes para o aprofundamento do
entendimento deste artigo; sendo assim, e para manter o carater sigiloso
da autoria, preferem nao cita-lo aqui. A fim de manter em sigilo o nome das organizacoes, estas foram denominados "contratante" e
"contratada".
Pressuposto 1--Em situacoes nas quais o mesmo contratado possui
diferentes contratos dentro de uma mesma cadeia de suprimentos, a
semelhanca ou nao dos objetos e caracteristicas dos contratos remete a
necessidade de tratar os contatos isoladamente, por meio de
relacionamentos exclusivos.
Para esta investigacao, foram selecionadas duas organizacoes
contratadas que possuem dois ou mais contratos estruturados com a
contratante, dentre os 94 relacionamentos contratuais analisados.
Foram selecionados dois contratos de cada organizacao contratada
com objetos semelhantes: contratos de curto prazo para prestacao de
servico continuado, com baixa tecnologia aplicada e utilizacao indireta
de mao de obra. Esta investigacao busca obter, por meio dos relatos,
algumas evidencias da existencia de diferencas relacionais entre os
contratos, ou de um unico relacionamento interorganizacional vinculando
os dois contratos.
Pressuposto 2--O valor dos contratos, que e funcao do grau de
tecnologia empregado, e seu tempo de vigencia influenciam o
estabelecimento de mecanismos isomorficos nos ambientes
institucionalizados.
Para a analise dessa questao, foram selecionadas organizacoes que
possuissem contrato com as seguintes caracteristicas: alto valor e longo
prazo de vigencia para a prestacao de servico continuado, com aplicacao
direta de alta tecnologia e utilizacao indireta de mao de obra. A opcao
por essa analise deu-se em razao da possibilidade de existencia de
inversao na relacao de dependencia, como ocorre na maior parte dos
contratos analisados, uma vez que ha uma maior dependencia da parte
contratante em relacao a parte contratada. A existencia desse tipo de
situacao permite aferir se essa inversao de dependencia bloqueia a acao
dos mecanismos isomorficos nesse ambiente com forte influencia da parte
contratante, ou mesmo se esta passa a sofrer a acao de mecanismos
isomorficos do ambiente institucionalizado pela parte contratada.
Pressuposto 3--O efeito da repetibilidade, com renovacao
consecutiva dos contratos, provoca a acao de mecanismos isomorficos de
maneira semelhante ao que ocorre em relacionamentos contratuais com
longo prazo de vigencia.
Nesta investigacao, a organizacao entrevistada apresenta as
seguintes caracteristicas: alto valor e curto prazo de vigencia para
prestacao de servico continuado, baixa tecnologia aplicada e utilizacao
indireta de mao de obra. A escolha por essa organizacao deu-se em razao
de sua participacao em contratos consecutivos de mesmo objeto, que
caracterizam uma prestacao de servicos continuados de longo prazo pela
soma dos prazos contratuais. A analise buscou identificar se nesta
situacao de consecutividade de contratos os mecanismos isomorficos se
comportam da mesma maneira como em contratos de longo prazo ou se
funcionam como relacionamentos estanques, mesmo nao havendo uma
desmobilizacao da estrutura fisica e da mao de obra que opera no
contrato.
3.2. Fase 2
Nesta fase da pesquisa foi elaborado um roteiro de entrevistas que
seria aplicado aos fiscais e gerentes dos relacionamentos contratuais
previamente selecionados e que atendiam as caracteristicas estabelecidas
nos tres pressupostos da pesquisa. Uma vez elaborado o roteiro, partiuse
para sua aplicacao por meio de encontros pessoais agendados previamente
com os atores selecionados. Em alguns casos, apos diversas tentativas de
agendamento de um encontro pessoal para aplicacao do roteiro e em razao
do tempo restrito para a conclusao da presente pesquisa, optou-se pela
aplicacao do roteiro de entrevistas por meio de teleconferencia,
utilizando-se equipamento proprio para realizar os contatos, que foram
gravados em meio eletronico.
Nesta etapa, que se estendeu de marco a maio de 2009, aplicou-se o
roteiro de entrevistas abertas a 11 responsaveis pelos relacionamentos
contratuais selecionados, da organizacao contratante e das contratadas,
a fim de obter, dessa forma, uma visao bilateral, ou seja, da propria
organizacao e da organizacao com a qual ha o relacionamento contratual,
das questoes levantadas na pesquisa. A escolha pela entrevista aberta
deveu-se ao fato de que nao foram encontrados na literatura pesquisada
muitos trabalhos empiricos sobre situacoes de contratos estruturados,
razao pela qual considerou-se que haveria a possibilidade de aumentar a
riqueza de detalhes nas entrevistas.
3.3. Tratamento dos Dados
Para tratar os dados obtidos, selecionou-se a analise de conteudo,
uma tecnica de analise das comunicacoes que emprega procedimentos
sistematicos e objetivos de descricao do conteudo das mensagens visando
estabelecer indicadores que possibilitem a inferencia de conhecimentos
relativos as condicoes de producao dessas mensagens.
Bardin (1988) subdivide a analise de conteudo em tres fases
cronologicas: a pre-analise; a exploracao do material e o tratamento dos
resultados; e a inferencia e a interpretacao.
Nesta pesquisa, a etapa de pre-analise, fase em que e selecionado e
preparado o material a ser analisado, representou a transcricao do
conteudo do roteiro de entrevistas aplicado aos responsaveis pelos
relacionamentos pesquisados.
Apos a organizacao dos dados para tornar seu conteudo acessivel a
analise, foi realizada a escolha das categorias de analise. Segundo
Bardin (1988), a categorizacao e a classificacao de elementos que
compoem um conjunto, com a qual se obtem uma representacao simplificada
dos dados brutos de uma entrevista ou questionario. Primeiramente, o
conteudo e desmembrado, em um processo de diferenciacao, e
posteriormente e reorganizado conforme categorias preestabelecidas, de
forma a permitir inferencias a partir do material reconstruido.
Dessa forma, foram estabelecidas tres categorias, a fim de criar
uma ligacao entre as teorias utilizadas (teoria institucional,
dependencia de recursos e contratos relacionais) para embasar a presente
pesquisa e o roteiro de pesquisa a ser aplicado na etapa da pesquisa
empirica. Essas categorias propiciaram a classificacao dos dados obtidos
com a aplicacao dos roteiros de entrevistas sob a perspectiva de cada
teoria, possibilitando a analise dos dados. Assim, os dados coletados da
aplicacao do roteiro de entrevistas foram classificados nas categorias
selecionadas e agrupados de maneira que as respostas, apos a realizacao
da analise do conteudo das entrevistas, permitissem a realizacao de
inferencias sobre as questoes inerentes aos relacionamentos contratuais
interorganizacionais. A seguir sao apresentadas as tres categorias de
analise e os objetivos estabelecidos para seu uso:
a) Governanca Relacional (GR): Analisar de que forma as questoes
relacionais sao tratadas nos contratos firmados entre a contratante e
suas contratadas, identificando a existencia de contratos relacionais ou
acordos informais para tratar do assunto.
b) Teoria Institucional (TI): Identificar a maneira pela qual os
mecanismos isomorficos se comportam nos relacionamentos contratuais,
considerando-se a variacao de aspectos relacionados a quantidade de
relacionamentos, prazo de vigencia do contrato e padrao de tecnologia
empregado, entre outros; avaliar se as situacoes estudadas envolvem
legitimacao das organizacoes em seus ambientes de atuacao.
c) Dependencia de Recursos (DR): Compreender de que forma se
comporta a assimetria de todos os recursos dentro dos relacionamentos
contratuais sob a influencia de aspectos como prazo, consecutividade de
contratos de mesmo objeto com uma mesma empresa, especificidade
tecnologica, multiplicidade de contratos simultaneos, e de que forma
isso afeta o poder nas relacoes.
4. ANALISE DA PESQUISA EMPIRICA
4.1. Dependencia de Recursos
Observou-se que nao houve consenso nos relatos obtidos, seja quanto
a percepcao da relacao de dependencia que se estabelece entre as
organizacoes, seja quanto aos fatores que causam a assimetria nos
relacionamentos com essa caracteristica.
Nos relacionamentos pesquisados em que os servicos envolvem menos
tecnologia, observa-se a visao de que a organizacao contratada possui
uma maior dependencia em relacao a contratante. O motivo dessa
dependencia pode ser desde o proprio instrumento contratual, que preve
clausulas que favorecem a parte contratante nas negociacoes, com multas
e punicoes a outra parte, ate o fato de a diretriz da organizacao
contratada ser voltada a maxima do "cliente em primeiro
lugar". Assim, a contratada e levada a assumir uma postura de
aceitacao e conformismo as exigencias da parte contratante, que as vezes
revelam posturas autoritarias e excedem as clausulas contratuais.
Conforme preceituado por Ring e Van de Ven (1994), a questao de que
o excesso de salvaguardas nas clausulas do contrato favorece a
contratante pode conduzir a um relacionamento com o qual a parte
contratada nao se dispoe a cooperar muito, por interpretar esse excesso
como falta de confianca.
Nos relacionamentos cujos servicos prestados empregaram uma maior
tecnologia e, consequentemente, em que ha maior investimento de ambas as
partes, o que se observa e que existe, na visao da contratante, uma
inclinacao para o equilibrio, enquanto por parte da contratada ha a
percepcao de que o instrumento contratual mune a contratante de poderes
para estabelecer e punir a contratada, tornando-a "refem" do
relacionamento.
Mesmo havendo essa assimetria nas percepcoes, o que ocorre em geral
e uma dependencia mutua, pois, em razao dos investimentos realizados
para viabilizar esses contratos de alta tecnologia, dos valores
envolvidos e do longo prazo de vigencia, nao ha interesse das partes em
permitir que uma situacao de conflito resulte em ruptura contratual, que
acarretaria prejuizos comuns enormes.
Essa situacao corrobora Pfeffer e Salancik (1978), que entendem
dependencia como a importancia de um dado insumo ou produto para
determinada organizacao, e concordam que ha indisposicao das partes em
permitir que conflitos cheguem ao ponto de romper o contrato--em razao
dos altos investimentos realizados e dos prejuizos que um rompimento
causaria as partes --, o que resulta em uma situacao de equilibrio.
4.2. Teoria Institucional
Duas dimensoes foram consideradas nas analises: a visao dos campos
organizacionais e a dos mecanismos isomorficos.
Quanto a visao dos campos organizacionais, foi possivel observar
que o ambiente em que esses relacionamentos acontecem pode ser
caracterizado como um campo organizacional, seguindo-se a conceituacao
de White et al. (2004), na qual campos sao tambem redes de interacoes
que emergem como ambientes estruturados e em estruturacao para
participantes organizacionais ou individuais.
Isso pode ser verificado pela semelhanca das praticas adotadas nos
diversos relacionamentos, o que pode ser resultado de um contrato-padrao
aplicado aos mais diversos relacionamentos, que de certa maneira
moldaria a estrutura das contratadas, tornando-as semelhantes em alguns
aspectos.
Na analise de relacionamentos com dois ou mais contratos de mesma
natureza ou com contratos consecutivos com a mesma organizacao
contratada, observou-se que prevalece a perspectiva de tratamento unico
desses relacionamentos, mesmo em contratos com gerentes e fiscais
diferentes. Essa observacao corrobora as pesquisas realizadas por
Rosseto e Rosseto (2005) relativas ao isomorfismo interorganizacional.
4.3. Governanca Relacional
Observou-se que inexiste a figura de um contrato relacional para
tratar as questoes inerentes a governanca corporativa e aos
comportamentos da contratante e da contratada ao longo da vigencia do
relacionamento. A unica figura contratual existente e o contrato
estruturado, e e ele que regulamenta e normatiza as atividades das
organizacoes nas interacoes que se estabelecem nesses relacionamentos
interorganizacionais.
Entretanto, ele nao e abrangente a ponto de tratar das questoes
relacionais. Alem disso, pelas limitacoes da propria natureza do
instrumento contratual, como a incapacidade de prever todas as situacoes
futuras, os responsaveis pela gestao desses relacionamentos sao
obrigados a firmar acordos durante a vigencia dos relacionamentos, para
estabelecer todas as questoes essenciais a boa execucao dos servicos
contratados e que nao sao tratadas nos contratos previamente firmados.
Assim, sao utilizados instrumentos, como atas das reunioes, nos
quais sao definidas novas demandas, que passam a estabelecer novas
rotinas e a vigorar como anexo ao instrumento contratual. Mesmo nao
sendo juridicamente validos para futuras questoes legais, sao aceitos
pelas partes como formalizacao de acordos informais.
Esse tratamento dado ao que nao esta previsto no contrato esta de
acordo com Hart e Moore (1990), para quem muitas das contingencias
surgidas ao longo da vigencia de um contrato nao podem ser previstas e,
mesmo que pudessem ser, um contrato que as contemplasse teria um custo
proibitivamente caro.
5. CONCLUSAO
No que diz respeito a dependencia de recursos, foi observada uma
maior dependencia da contratada em relacao a contratante nos contratos
que nao envolvem tecnologia; essa relacao tende a se inverter, no
entanto, quanto maior for a tecnologia. Ainda assim, verificou-se que,
na pratica, as partes visualizam a dependencia como mutua, nao havendo
disposicao de uso de poder para obter vantagens. No presente estudo,
observou-se que nos contratos com maior simetria de dependencia nos
relacionamentos existe maior flexibilidade para adaptacao a partir de
elementos nao contratuais do que naqueles com maior assimetria. Assim, a
pratica dos gestores tem sido mais rigorosa na aplicacao das ressalvas e
salvaguardas contratuais nos casos de maior assimetria nos
relacionamentos.
Quanto a governanca relacional, observou-se que a maioria dos
contratos estruturados utilizados na gestao dos relacionamentos
interorganizacionais nao abriga aspectos inerentes a governanca, ficando
a cargo dos gestores ajustarem essas questoes ao longo da vigencia do
contrato por meio de acordos informais ou de documentos formalizados
anexados ao contrato. A formalizacao desses acordos por meio de registro em atas denota falta de confianca da contratante, que opta por nao se
tornar vulneravel a qualquer atitude oportunista da contratada em face
do acordo realizado. Esse fato merece a atencao dos profissionais,
especialmente naqueles casos em que o contexto e composto de documentos
formais contratuais. Dessa forma, os gestores dos contratos estudados
consideram que a nao formalizacao dos elementos relacionais informais
pode criar problemas, em razao do uso de oportunismo por parte dos
contratados. Ou seja, para os profissionais da area de gerenciamento de
relacionamento, essa formalizacao reduz o risco de rompimento do
contrato e de descontinuidade dos servicos, uma vez que passa a ser
entendida como elemento contratual formal.
A similaridade entre contratos firmados com a mesma organizacao,
que denota um so relacionamento, remete a questao dos mecanismos
isomorficos, na categoria teoria institucional, pois se verificou que
contratos com as mesmas organizacoes, sujeitos as mesmas condicoes,
pressoes e com gestao similar, sao vistos pelas partes como um unico
relacionamento.
Por fim, e importante destacar as limitacoes da presente pesquisa,
das quais se citam as tres principais. A primeira refere-se ao escopo do
trabalho, uma vez que a pesquisa considerou apenas uma organizacao como
"contratante", razao pela qual se deve ter o cuidado de nao
generalizar os resultados. Ou seja, considerandose as caracteristicas da
presente pesquisa, nao ha a possibilidade de generalizacao por meio de
tecnicas quantitativas. Entretanto, outros pesquisadores podem replicar
em organizacoes com a mesma caracteristica da contratante pesquisas com
metodo semelhante ao utilizado, a fim de ampliar a possibilidade de
verificacao dos resultados e posterior generalizacao, principalmente em
uma analise teorica pelo metodo indutivo. O segundo fator refere-se a
escolha dos contratados. Por mais criteriosos e racionais que tenham
sido os criterios de escolha das contratadas e dos sujeitos
entrevistados, esteve presente o julgamento por parte dos autores da
presente pesquisa na definicao das organizacoes que seriam investigadas.
Cabe ressaltar que a estrategia de pesquisa utilizada sempre enfrentara
esse tipo de situacao, mas a tentativa de definir criterios claros e
objetivos procurou minimizar essas interferencias. O terceiro fator
limitador refere-se ao horizonte de tempo de coleta dos dados, uma vez
que nao foi possivel realizar um estudo longitudinal dos
relacionamentos.
Considerando-se a caracteristica dinamica dos relacionamentos
interorganizacionais, seria ideal que a pesquisa tivesse um horizonte de
tempo mais amplo para sua realizacao, de forma a permitir a analise
longitudinal citada.
Os autores consideram pertinente, como continuidade desta pesquisa,
realizar: a) a mesma pesquisa com as mesmas organizacoes em pelo menos
mais dois momentos futuros, a fim de empreender uma pesquisa
longitudinal; b) uma pesquisa com metodologia semelhante em uma
contratante com caracteristicas semelhantes, a fim de comparar os
resultados encontrados; e c) uma pesquisa em organizacoes publicas que
tenham por caracteristica estabelecer relacionamentos com contratos
estruturados, a fim de comparar a gestao de relacionamentos em
organizacoes privadas, de economia mista e publicas, de forma a criar
mecanismos gerenciais que respeitem suas idiossincrasias.
DOI: 10.5700/rege446
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Felipe Pagiola de Oliveira
Mestre em Administracao pela Universidade Federal do Espirito Santo (UFES)--Vitoria-ES, Brasil Analista de logistica e infraestrutura de
abastecimento no setor de Energia E-mail: felipepagiola@hotmail.com
Helio Zanquetto Filho
Professor do Departamento de Administracao e do Programa de
Pos-Graduacao em Administracao da Universidade Federal do Espirito Santo
(PPGAdm./UFES)--Vitoria-ES, Brasil Doutor em Engenharia de Producao pela
PUC-Rio E-mail: zanquetto@gmail.com
Recebido em: 13/10/2010
Aprovado em: 19/7/2011