Organizational cooperation networks to promote export/Redes interorganizacionais de cooperacao para a internacionalizacao/Redes de cooperacion entre organizaciones para la internacionalizacion.
Garcia, Sheila Farias Alves ; Lima, Gustavo Barbieri ; de Carvalho, Dirceu Tornavoi 等
1. INTRODUCAO
Para Candido (2001), uma das principais caracteristicas do atual
ambiente de negocios e a necessidade das organizacoes de atuar de forma
conjunta e associada, compartilhando todos os tipos de recursos a partir
da definicao de estrategias especificas. O antigo modelo organizacional
baseado na integracao vertical e na burocracia "weberiana",
com relacoes entre os niveis, pessoas e grupos baseadas na autocracia,
na busca de economias de escala e sem maiores preocupacoes com as
variaveis do seu meio ambiente, nao atende as necessidades de
flexibilidade e inovacao, requeridas pelos atuais modelos de gestao.
Uma das principais caracteristicas da nova economia e a transicao
da eficiencia individual para a eficiencia coletiva. A competitividade,
cada vez mais, relaciona-se ao desempenho de redes interorganizacionais
e nao de empresas isoladas. Ao mesmo tempo, a formacao dessas redes tem
forte componente local, associado ao movimento de internacionalizacao
das operacoes das grandes corporacoes transnacionais (FLEURY; FLEURY,
2003).
As trocas de tecnologia, cultura, informacao e mensagem na forma de
uma unificacao universal no capitalismo pos-moderno compoem o conceito
de globalizacao. Analisando-se esse fenomeno dinamico, pode-se observar
que as capacidades tambem dinamicas dos sistemas locais com ambientes
inovadores sao projetadas naturalmente para o exterior (BENKO, 1999).
Esse processo promove o acirramento da concorrencia, que ja nao mais
respeita fronteiras e se intensifica a cada dia, representando diversas
ameacas e oportunidades que devem ser consideradas em decisoes sobre
entrada em mercados internacionais (VEIGA; MARKWALD, 1998; VEIGA, 1999).
Varios sao os modos de internacionalizacao que uma empresa pode
adotar: exportacao indireta, exportacao direta, consorcio de exportacao,
subsidiaria propria no exterior, joint venture, licenciamento,
investimento direto, franchising, os quais sao tratados por diversos
autores (ANDERSON; GATINGNON, 1986; ANDERSON; COUGHLAN, 1987; KOTABE;
HELSEN, 2000; KOTLER, 2000). Em comparacao as demais modalidades, as
pequenas e medias empresas tem-se utilizado mais dos tres primeiros
modos, em razao, principalmente, do menor grau de comprometimento,
investimento e riscos envolvidos (NOONAN, 1999; JEANNET; HENESSEY, 2001;
PALIWODA; THOMAS, 2001; BENKO, 1999).
Uma das formas de organizacao coletiva de pequenas empresas e o
consorcio de exportacao, que possibilita a reuniao de empresas por
segmentos produtivos e/ou segmentos complementares com o objetivo de
exportar seus produtos para diferentes mercados, mantendo sua propria
individualidade no mercado domestico, concorrendo com grandes
fornecedores e beneficiando-se de sua eficiencia operacional e de baixos
custos de producao. Constitui uma alternativa para suprir as limitacoes
apresentadas pelas exportacoes indireta e direta feitas individualmente
(PALIWODA; THOMAS, 2001).
Os estudos efetuados em diversos paises sobre marketing cooperativo
para exportacao mostram a formacao de consorcios como um conceito
promissor no engajamento de pequenas e medias empresas na exportacao.
Para o Brasil, que tem no comercio exterior uma importante alavanca da
economia, a formacao de consorcios para exportacao e vital (TOMELIN,
2000).
O presente artigo propoe-se a analisar o consorcio como forma de
viabilizacao de acoes conjuntas entre empresas com vistas na
internacionalizacao. Para isso, foram formulados os seguintes objetivos
especificos:
1. organizar o conhecimento sobre consorcios de exportacao;
2. analisar as condicoes necessarias para a formacao de um
consorcio;
3. identificar os beneficios esperados quando da decisao de
participar de um consorcio;
4. conhecer as dificuldades enfrentadas no processo de formacao e
operacao de um consorcio;
5. analisar as acoes desenvolvidas durante o processo de
internacionalizacao, identificando as mais apropriadas para serem
realizadas de modo conjunto com outras empresas.
2. REFERENCIAL TEORICO
2.1. Internacionalizacao
A internacionalizacao de empresas tem como pano de fundo a
globalizacao, que e um fenomeno caracterizado pela reducao das
fronteiras e aumento da interdependencia entre as economias dos paises.
E muito comum a afirmacao de que o processo de globalizacao e um
fenomeno diretamente ligado ao progresso da tecnologia da informacao e
comunicacao, assim como o fluxo global do capital financeiro. No
entanto, seu significado e muito mais complexo e dinamico, permitindo
que se examine o tema sob diferentes perspectivas, como a economica, a
politica, a legal e a cultural (SUEN, 1997).
A literatura da area relaciona a globalizacao com a aceleracao das
trocas de bens, servicos, contratos e informacoes, das viagens e dos
intercambios culturais. Embora o processo de troca entre os povos seja
algo muito antigo, detecta-se um aumento na velocidade com que essas
trocas estao sendo feitas hoje. Essa velocidade seria assim a principal
caracteristica do processo de globalizacao.
A analise da globalizacao sob o enfoque economico permite afirmar
que, para sobreviver neste cenario, e vital para um pais relacionar-se
comercialmente com outros paises. Assim como, para uma empresa ser
competitiva, e necessario que uma parcela de seus negocios ocorra no
mercado internacional (MARTINELLI; VENTURA; MACHADO, 2004).
O conceito de internacionalizacao de empresa pode ser descrito como
a participacao da empresa no mercado internacional. A Fundacao Dom Cabral (2002:5) propoe uma definicao mais precisa:
"internacionalizacao e o processo de obtencao de parte ou
totalidade do faturamento a partir de operacoes internacionais, seja por
meio de exportacao, licenciamento, aliancas estrategicas, aquisicao de
empresas em outros paises ou construcao de subsidiarias proprias".
Segundo Lemaire, Petit e Desgardins (1997), dentre os fatores
desencadeadores da insercao de empresas no mercado internacional
destacam-se o inevitavel processo de abertura internacional e a
tendencia a globalizacao das economias e mercados, que se firmaram ao
longo das ultimas decadas, num cenario em que as trocas de bens,
servicos e capitais tornaram-se mais complexas.
Para internacionalizarem-se, as empresas precisam adotar
estrategias competitivas adequadas a esse processo, como uma atitude
competitiva, concentracao geografica, mecanismos de gestao, coordenacao
de atividades, desenvolvimento interno de competencias dinamicas,
absorcao e integracao de conhecimento, relacao com outras empresas
(concorrentes, clientes, fornecedores) e capacidade de adaptacao e
articulacao das diferentes condicoes locais--especificidades culturais,
economicas, regulamentares e linguisticas dos paises ou regioes
(CALDEIRA, 2002).
Muitos trabalhos tem sido desenvolvidos, nos ultimos quarenta anos,
com o objetivo de explicar o processo de internacionalizacao (REZENDE,
2002). Entre eles, merece destaque o de Johanson e Wiedersheim-Paul
(apud JOHANSON; VAHLNE, 1977), que ve a internacionalizacao como um
processo de aprendizagem em que a empresa investe recursos de modo
gradual e adquire conhecimentos sobre o mercado internacional de modo
evolutivo. Por meio de estudo realizado com empresas suecas, os autores
desenvolveram um modelo para internacionalizacao de empresas baseado em
quatro etapas. Esse modelo apresenta graus crescentes de
comprometimento, risco, controle e lucro em cada etapa, e pressupoe uma
entrada gradual e sequencial em mercados internacionais. As etapas do
modelo conhecido como "Uppsala", cidade da Suecia que da nome a universidade onde trabalham os autores, sao: (1) atividades de
exportacao inconstantes; (2) exportacao por meio de representantes
independentes (agentes); (3) estabelecimento de uma ou mais filiais de
vendas e (4) estabelecimento de instalacoes de producao no exterior.
Um outro pressuposto do modelo Uppsala consiste na afirmacao de que
a distancia psiquica entre paises e um fator de decisao para a
internacionalizacao. Johanson e Wiedersheim-Paul (apud JOHANSON; VAHLNE,
1977) definem distancia psiquica como as diferencas percebidas entre
valores, praticas gerenciais e educacao de dois paises. Ainda, segundo
eles, existem evidencias de que a empresa comeca seu processo de
internacionalizacao em paises considerados culturalmente proximos, a fim
de diminuir o grau de incerteza do processo.
A partir desses resultados, Johanson e Vahlne (1990) apresentaram
elementos adicionais ao modelo de Uppsala, articulando tres
pressupostos: (1) a falta de conhecimento e o maior obstaculo em
processos de internacionalizacao; (2) o conhecimento necessario a
internacionalizacao e principalmente adquirido das experiencias atuais
da empresa em determinado mercado-alvo e (3) a empresa internacionaliza
suas operacoes investindo recursos de modo gradual.
Baseados nesses pressupostos, Johanson e Vahlne (1990)
identificaram dois elementos presentes no processo de
internacionalizacao: conhecimento e comprometimento. O primeiro
refere-se ao conhecimento do mercado-alvo e o segundo ao montante de
recursos investidos em determinado mercado internacional e ao grau de
especificidade desses recursos. Alem desses elementos ou estados, o
modelo apresenta dois aspectos transitorios que lhes sao relacionados:
as decisoes de investimento e as operacoes atuais. Existe uma relacao
direta entre estados e aspectos transitorios: enquanto as decisoes de
investimento definem o comprometimento da empresa em determinado
mercado, as operacoes atuais constituem a principal fonte de
conhecimento da empresa sobre esse mercado. Mas o modelo tambem sugere
uma interacao dinamica entre estados e aspectos transitorios: quanto maior o investimento em determinado mercado internacional, maior o grau
de conhecimento sobre esse mercado, maior o seu grau de aptidao para
efetuar novos investimentos, e assim sucessivamente. Os aspectos
transitorios possuem duplo papel no processo de internacionalizacao:
resultam de conhecimento e comprometimento efetuados no passado e
determinam os niveis de conhecimento e comprometimento futuros.
Varios outros autores tem confirmado o pressuposto de que a
insercao de empresas em mercados internacionais se da de modo gradual e
sequencial (CAMINO; CARZOLA, 1998; CALOF, 1995; CHANG, 1995 apud
REZENDE, 2002). No entanto, outras pesquisas tem sugerido que a
internacionalizacao de empresas pode ocorrer de maneira descontinua
(BENITO; WELCH, 1997 apud REZENDE, 2002).
Alguns autores, com base na alteracao do cenario, justificam a
inadequacao do modelo de Uppsala para representar a realidade atual.
Afirmam que um modelo formulado no final da decada de 1970, epoca em que
o ambiente de negocios era menos interligado internacionalmente, nao
pode mais explicar a realidade, na qual a consolidacao da globalizacao e
o aumento da interdependencia no mercado internacional se consolidaram
(HEDLUND; KVERNELAND, 1993 apud REZENDE, 2002).
Dentre as criticas ao modelo de Uppsala, surgem propostas
alternativas baseadas na teoria de redes industriais, que sugerem
analisar processos de internacionalizacao como resultantes de
relacionamentos intra e interorganizacionais (BARTLETT; BIRKINSHAW,
1996; GHOSHAL, 1986; FORSGREN, 1989; RICHARDSON, 1972 apud REZENDE,
2002). E a uniao desses dois campos do conhecimento--internacionalizacao
e redes de empresas--o alvo principal deste trabalho.
2.2. Redes de empresas
Uma rede estrategica refere-se ao conjunto de relacionamentos de
uma empresa com outras organizacoes--sejam elas fornecedores, clientes,
concorrentes ou outras entidades--, incluindo relacionamentos que
atravessam industrias e paises e sao compostos de lacos
interorganizacionais duradouros, de significancia estrategica para as
empresas envolvidas neles (GULATI; NOHRIA; ZAHEER, 2000).
Conforme Balestrin e Vargas (2004), a reconhecida importancia das
redes interorganizacionais tem demandado crescente interesse das
pesquisas sobre esse fenomeno nas mais variadas areas do conhecimento,
como a Economia, a Sociologia, a Ciencia Politica e a Administracao. A
ideia subjacente dos estudos e de que a configuracao em rede promove
ambiente favoravel ao compartilhamento de informacoes, de conhecimentos,
de habilidades e de recursos essenciais para os processos de inovacao. A
configuracao em rede consiste, entao, em uma forma eficaz de as empresas
alcancarem competitividade nos mercados por meio de complexo ordenamento
de relacionamentos, em que as firmas estabelecem inter-relacoes.
Para Porter (1998), o termo redes nao e utilizado apenas na teoria
organizacional, mas tambem em uma ampla gama de outras ciencias, tais
como na pesquisa operacional, na teoria da comunicacao e na teoria dos
pequenos grupos. Adotar-se-a neste trabalho a definicao de redes como
metodo organizacional de atividades economicas realizadas por meio de
cooperacao interfirmas.
Segundo o Servico Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas
(SEBRAE, 2004), as redes de empresas constituem uma forma organizacional
passivel de ser identificada em diversos tipos de aglomeracoes
produtivas e inovadoras. As redes nascem da consolidacao sistematica
entre firmas e assumem diversas formas, destacando-se a aquisicao de
partes de capital, aliancas estrategicas, terceirizacao de funcoes de
empresa, entre outras.
O sistema de cooperacao entre empresas pode ser descrito como
composto geralmente de pequenas empresas independentes, organizadas
juridicamente ou nao, pertencentes ao mesmo setor industrial ou
especialistas em uma fase particular do processo, usualmente em uma
regiao proxima, e promotoras de relacionamentos de competicao e
cooperacao (PYKE, 1992).
De acordo com Tomelin (2000), as pequenas empresas reunidas de
forma associativa em redes de negocios tem melhores oportunidades e
maior potencial de sucesso. A disponibilidade das informacoes, a reducao
de custos e o conhecimento de novos mercados por meio da exportacao sao
algumas dessas oportunidades. A pequena empresa que atua de forma
individualizada nao e mais um modelo empresarial do futuro. Ela deve
unir-se em redes de negocios para garantir a sua competitividade
(CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001).
[FIGURE 1 OMITTED]
Na revisao da literatura encontra-se uma variada tipologia de
redes, proposta por diversos autores. Casarotto Filho e Pires (2001)
propoem dois tipos de redes: a rede topdown e a rede flexivel. Conforme
explicitado na Figura 1, na rede topdown a pequena empresa pode
tornar-se fornecedora de uma empresa-mae ou, principalmente,
subfornecedora. E uma rede na qual o fornecedor e altamente dependente
das estrategias da empresamae e tem pouca ou nenhuma flexibilidade ou
poder de influencia nos destinos da rede. Tambem chamada de modelo
japones, consiste na uniao de todas as empresas em torno de uma
lideranca, sincronizacao, negacao das divergencias, impedimento de
conflitos. Exemplos dessa rede sao a industria automobilistica e o
sistema de integracao das agroindustrias (CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001).
O segundo tipo mostra uma rede flexivel de pequenas e medias
empresas (Figura 2). As empresas unem-se por meio de um consorcio com
objetivos amplos ou mais restritos de cooperacao. Os consorcios
italianos, por exemplo, podem abranger: a fabricacao do produto,
valorizacao do produto, valorizacao da marca, desenvolvimento de
produtos, comercializacao, exportacoes, padroes de qualidade, obtencao
de credito, capacitacao (CASAROTTO FILHO; PIRES, 2001).
[FIGURE 2 OMITTED]
A tipologia desenvolvida por Grandori e Soda (1995) classifica as
redes com base nos seguintes criterios: a) tipos de mecanismo de
coordenacao utilizados; b) grau de centralizacao da rede e c) grau de
formalizacao. Usando tais dimensoes, os autores identificam tres tipos
basicos de redes:
a) redes sociais (Social Network)--tem por caracteristica
fundamental a informalidade nas relacoes interempresariais, isto e,
prescindem de qualquer tipo de acordo ou contrato formal. Estao
direcionadas para o intercambio da chamada mercadoria social (prestigio,
status, mobilidade profissional e outros);
b) redes burocraticas--sao caracterizadas pela existencia de um
contrato formal, que se destina a regular nao somente as especificacoes
de fornecimento (de produtos e servicos), como tambem a propria
organizacao da rede e as condicoes de relacionamento entre os membros.
c) redes proprietarias--caracterizam-se pela formalizacao de
acordos relativos ao direito de propriedade entre os acionistas de
empresas, como a joint venture.
Para Santos et al. (1994 apud AMATO NETO, 2000), ha basicamente
dois tipos de redes de cooperacao interempresariais:
a) redes verticais de cooperacao--sao normalmente encontradas nos
casos em que as relacoes de cooperacao ocorrem entre uma empresa e os
componentes dos diferentes elos ao longo de uma cadeia produtiva. As
empresas, neste caso, cooperam com seus parceiros comerciais:
produtores, fornecedores, distribuidores e prestadores de servicos. Esse
e o caso tipico das relacoes de fornecimento no complexo
automobilistico. A cooperacao vertical entre empresas ocorre com maior
frequencia nos casos em que o produto final e composto de um grande
numero de pecas e/ou partes componentes e passa por varios estagios
durante o processo de producao. Nesse caso, as empresas/organizacoes
envolvidas podem estar situadas em diferentes estagios de evolucao
tecnologica;
b) redes horizontais de cooperacao--sao aquelas nas quais as
relacoes de cooperacao se dao entre empresas que produzem e oferecem
produtos similares, pertencentes a um mesmo setor ou setores
complementares. Quando se trata de concorrentes diretos, que disputam
acirradamente o mesmo mercado, esse processo merece cuidados especiais.
Menores conflitos existem nas redes que a empresa pode construir com
outras empresas de setores complementares. As redes horizontais de
cooperacao sao implantadas, na maioria das vezes, quando as empresas,
isoladamente, apresentam dificuldades em adquirir e partilhar recursos
escassos de producao, em atender interna ou externamente o mercado em
que atuam e em promover seus produtos de forma conjunta no exterior. E o
caso dos consorcios de exportacao, tratado adiante no texto.
Encontra-se na literatura (BALESTRIN; VARGAS, 2004; CANDIDO, 2001;
CASTELLS, 1999; SEBRAE, 2004; AMATO NETO, 2000; PERROW, 1992) a
descricao de uma serie de vantagens proporcionadas as pequenas e medias
empresas quando da formacao de redes interorganizacionais de cooperacao.
No Quadro 1 apresenta-se uma sintese dessas vantagens.
2.3. Consorcios de exportacao
O consorcio de exportacao e a uniao de esforcos de pequenas e
medias industrias de um mesmo setor produtivo ou de setores
complementares para vender seus produtos no mercado internacional
(NOONAN, 1999; PALIWODA e THOMAS, 2001). Dessa maneira as empresas
consorciadas podem manter sua propria individualidade no mercado
domestico e otimizar sua producao e venda de produtos no exterior
(MINERVINI, 1997; FRANCA, 1999).
A Agencia de Promocao de Exportacao (APEX-Brasil, 2004) define o
Consorcio de Exportacao como o agrupamento de empresas com interesses
comuns, reunidas em uma entidade estabelecida juridicamente. Essa
entidade e constituida sob a forma de uma associacao sem fins
lucrativos, na qual as empresas produtoras tem maneiras de trabalho
conjugado e em cooperacao com vistas nos objetivos comuns de melhoria da
oferta exportavel e de promocao das exportacoes.
Segundo Franca (1999), o consorcio constitui uma importante
ferramenta que, alem de facilitar a insercao de pequenas e medias
empresas no comercio internacional, propicia o aumento de suas
exportacoes. Por meio dele, praticamente todas as dificuldades
encontradas pelas empresas quando ha uma atuacao isolada na exportacao
podem ser transpostas. A otimizacao de esforcos de producao e
comercializacao, a resposta as demandas de grande porte, a escala de
producao, o aumento da competitividade e da especializacao das pequenas
e medias empresas sao algumas possibilidades proporcionadas pelo
consorcio de exportacao.
Conforme Casarotto Filho e Pires (2001), o consorcio de exportacao
estimula o aprimoramento permanente de diversas funcoes estrategicas da
empresa, tais como qualidade, tecnologia e logistica. Os consorcios de
exportacao podem ser o instrumento adequado para a promocao de aliancas
entre empresas de pequeno e de medio porte, desenvolvendo uma verdadeira
rede de relacionamento entre essas e outras instituicoes envolvidas com
o comercio internacional.
Tomelin (2000) observa que um dos principios que regem os
consorcios de exportacao e o de prestacao de servicos comuns a seus
associados, incluindo uma maior capacitacao gerencial de seus quadros
diretivos, da producao e do nivel tecnologico, o que permite que cada um
dos associados esteja no mesmo nivel dos demais, evitando-se assim
custos de transacao maiores. Ao mesmo tempo, os consorcios sao uma forma
sustentavel de aumentar as exportacoes brasileiras, uma vez que melhoram
a capacidade exportadora das empresas de pequeno porte, incrementam o
numero de novos atores no processo exportador e criam condicoes de
mudanca de cultura na elaboracao do planejamento estrategico deles.
Maciel e Lima (2002) definem as caracteristicas dos consorcios de
exportacao:
* Sao formados por um grupo de no minimo tres empresas, que desejam
desenvolver conjuntamente acoes ou politicas de exportacao;
* Normalmente sao empresas industriais. Ha pouca participacao de
empresas comerciais;
* Os produtos das empresas que se reunem em consorcios costumam ter
um mesmo canal de distribuicao. Isso significa que os interlocutores
comerciais--distribuidores, representantes, agentes ou simples
revendedores--sao os mesmos, assim como sao comuns eventos promocionais
como feiras, missoes e visitas de que possam participar;
* Adotam um compromisso economico ou comercial entre eles,
definindo direitos e deveres de cada um em relacao ao consorcio e entre
eles;
* Os produtos que as empresas trazem para serem exportados pelo
consorcio devem ser do mesmo segmento produtivo e/ou complementares;
* Deve haver uma reparticao do poder entre os participantes do
consorcio, e nenhuma empresa tem poder de decisao sobre as demais;
* Normalmente sao formados por micro, pequenas ou medias empresas.
Segundo Lima, Neves e Oliveira (2002), entre as principais
vantagens dos consorcios de exportacao destacam-se: a reducao dos custos
gerais de exportacao (pois estes sao divididos entre as empresas
consorciadas); a diminuicao do risco de exportar individualmente; o
aumento da competitividade de pequenas e medias empresas no seu mercado
interno--produto tipo exportacao; o aumento do poder de barganha com
clientes, fornecedores, bancos; o aumento do interesse de importadores;
a melhoraria da eficiencia operacional (otimizacao de recursos); o
atendimento de demandas de grande porte, o que nao seria possivel por
uma unica empresa; a inovacao de rotulo e embalagem; a especializacao
das empresas consorciadas; o acumulo de conhecimentos nas areas de
Comercio Exterior e Marketing; a possibilidade de, futuramente, os
membros do consorcio, ja experientes e estruturados, lancaremse
individualmente no mercado internacional; o efeito "motivador"
sobre os participantes; a facilitacao de aquisicao de equipamentos
modernos e de nova tecnologia; a possibilidade de exportar com marca
propria do consorcio; a participacao em feiras e missoes internacionais
de forma conjunta.
Lima, Neves e Oliveira (2002) apresentam tambem uma sintese das
principais barreiras a formacao de consorcios: individualismo e a
preocupacao de que outro consorciado obtenha mais vantagens durante as
atividades; os integrantes de um consorcio devem estar cientes de que a
naoexistencia de segredos industriais entre os mesmos e favoravel ao bom
desempenho de um consorcio e a preservacao das parcerias estabelecidas;
falta de profissionalismo e de conhecimentos tecnicos pelo gerente do
consorcio sobre os produtos comercializados; inexistencia de precos
competitivos (mau planejamento das exportacoes); investimentos
realizados sem planejamento previo; visualizar a exportacao como
estrategia de curto prazo (resultados imediatos); considerar o consorcio
como uma valvula de escape de crises; discrepancia em demasia no avanco
tecnologico das empresas integrantes; inexistir confiabilidade e
trabalho em conjunto; selecionar erroneamente os mercados e parceiros no
exterior; prevalecer a vontade de uma ou poucas empresas, e nao a
democracia; a rivalidade e a concorrencia devem ficar restritas ao
mercado interno.
Para Minervini (1997), Franca (1999), Oliveira (1999) e Lima
(2000), dentre as razoes que motivam a constituicao de consorcios de
exportacao destacam-se: dependencia de poucos provedores; escassez de
pessoal qualificado nas tecnicas de exportacao; falta de informacao
sobre os mercados; falta de capital para investir no melhoramento da
qualidade, dos processos produtivos, da promocao de ingresso nos
mercados, da capacidade de producao; falta de poder contratual com os
fornecedores, com os clientes, com os bancos e com as entidades
governamentais; falta de volume para causar interesse nos grandes
importadores; falta de uma marca propria.
Algumas estrategias devem ser seguidas para o sucesso do consorcio
em sua atuacao no mercado internacional, entre elas a criacao de uma
cultura internacional, o controle e a coordenacao na implementacao de
suas estrategias, a motivacao das empresas e do representante oficial, e
a criacao de um sistema de cooperacao (CHURRUCA, 1995 apud TOMELIN,
2000).
Os consorcios de exportacao podem ser classificados em relacao a
sua finalidade: (1) promocionais (dirigem seu foco de atencao para a
promocao comercial dos produtos, ficando a comercializacao sob a
responsabilidade individual das consorciadas) e (2) vendas ou
operacionais (realizam as exportacoes por meio de uma empresa comercial
exportadora).
Consorcios tambem podem ser classificados de acordo com o ramo das
empresas-membros: (1) monossetorial (agrega empresas de um mesmo setor
produtor de mercadorias ou derivados da mesma materia-prima); (2)
plurissetorial ou multissetorial (inclui empresas fabricantes de
produtos de diferentes segmentos da cadeia produtiva, que podem ser
complementares ou heterogeneos, destinados ou nao a um mesmo cliente) e
(3) consorcios de area ou pais (reunem empresas que destinam seus
produtos a uma unica area ou pais) (MACIEL; LIMA, 2002).
Apesar de nao existir na legislacao brasileira a figura juridica
dos consorcios, para que recebam o apoio da Agencia de Promocao de
Exportacoes (APEX-Brasil) e de outras entidades e preciso que se
organizem de forma bem estruturada e formal. A Agencia solicita que a
constituicao do consorcio de exportacao seja feita na forma de uma
associacao sem fins lucrativos, com normas proprias dispostas em um
estatuto e em um regimento interno. Esses instrumentos servirao para
organizar o consorcio e dispor sobre regras de atuacao, adesao, numero
de empresas participantes, responsabilidades, entre outros tantos itens
importantes no dia a dia de qualquer tipo de sociedade (LIMA, 2000).
As diferentes citacoes conduzem a compreensao de que o consorcio de
exportacao, assim como outras formas de associacao de empresas (grupos
setoriais, redes de empresa, etc.), representa uma alternativa de
entrada no mercado internacional por meio de acoes conjuntas entre os
associados, formando-se assim uma rede de cooperacao. Esse fato leva a
reflexao sobre quais acoes sao mais propicias a realizacao conjunta e
quais sao realizadas preferencialmente de maneira individualizada no
processo de internacionalizacao.
Dentre as acoes de internacionalizacao com potencial de serem
realizadas de modo conjunto, na opiniao de empresarios e especialistas
dos setores de cana-de-acucar, cafe, citrus e carne, destacam-se as
relacionadas: (1) a pesquisa de marketing internacional; (2) ao
planejamento das acoes de marketing; (2) as comunicacoes internacionais;
(3) as relacoes publicas internacionais e (4) ao controle de resultados
(avaliacao de desempenho setorial). Em todas essas areas, o planejamento
em conjunto por diferentes empresas foi considerado positivo pelos
respondentes, que enxergaram oportunidades de divisao de custos e de
integracao de acoes, com ganhos de sinergia. Ja as acoes relacionadas a
precificacao e a administracao de produtos requerem atuacoes
individualizadas das empresas, em razao de seu carater estrategico
(CASTRO; NEVES, 2002).
A revisao da literatura proporcionou o quadro conceitual em que um
consorcio de exportacao e caracterizado como uma rede flexivel de
cooperacao de empresas, burocratica (ha um contrato formal) e,
normalmente, horizontal. No estudo de caso relatado a seguir, que foca
um consorcio de exportacao no setor medicoodontologico, buscou-se
verificar como os elementos conceituais se materializam em uma
iniciativa concreta, explorando-se nuancas ou fenomenos que poderiam
contribuir para o conhecimento dos processos de internacionalizacao e
cooperacao empresarial.
3. METODOS DE PESQUISA
O metodo de pesquisa empregado foi o estudo de caso. Segundo Yin
(2001), o estudo de caso constitui a melhor estrategia de pesquisa
quando se colocam questoes do tipo "como" e "por
que", quando o pesquisador tem pouco controle sobre os eventos e
quando o foco sao fenomenos contemporaneos inseridos em algum contexto
da vida real. O metodo de estudo de caso e usualmente enquadrado como
pesquisa qualitativa, de carater exploratorio.
O objetivo do estudo empirico foi, por um lado, verificar como os
elementos conceituais das redes de cooperacao de empresas (flexivel,
burocratica e horizontal) se materializaram em um consorcio de
exportacao no setor medico-odontologico, e, por outro, descrever
elementos relevantes dos processos de internacionalizacao e cooperacao
empresarial ali presentes.
De acordo com Yin (2001), os componentes de um projeto de pesquisa
especialmente importantes para o estudo de caso sao as questoes do
estudo, as proposicoes e as unidades de analise. Para este estudo foram
formuladas as seguintes questoes:
* Q1: Como os empresarios conceituam o seu consorcio de exportacao?
* Q2: Quais as condicoes necessarias para a formacao de um
consorcio?
* Q3: Por que os empresarios decidem participar de um consorcio?
Quais os beneficios esperados?
* Q4: Quais as principais dificuldades enfrentadas no processo de
formacao e operacao do consorcio?
* Q5: As acoes desenvolvidas durante o processo de
internacionalizacao sao apropriadas a sua realizacao de modo conjunto?
Em resposta as questoes de pesquisa foram formuladas as seguintes
proposicoes:
* P1: O conceito de consorcio, na visao dos empresarios, e formado
a partir dos modelos apresentados pelo governo para capacitar os
consorcios a receber apoio financeiro para a promocao de exportacoes.
* P2: O modelo monossetorial e sugerido na formacao de um
consorcio.
* P3: O principal beneficio esperado pelas empresas que decidem
associar-se e o recebimento de apoio publico (incentivos
governamentais).
* P4: A principal dificuldade enfrentada na formacao de consorcios
diz respeito aos aspectos comportamentais necessarios ao trabalho
conjunto e a dificuldade de operacionalizacao desses aspectos.
* P5: Nem todas as acoes desenvolvidas no processo de
internacionalizacao sao passiveis de realizacao conjunta.
A unidade de analise foi o consorcio de exportacao Brazilian Health
Products (BHP), formado por empresas do setor medicoodontologico de
Ribeirao Preto-SP em parceria com a APEX-Brasil para promover as
exportacoes das empresas consorciadas e inseridas no mercado
internacional.
Os dados foram coletados por meio de entrevistas em profundidade,
com o objetivo de sondar em detalhes o pensamento dos entrevistados
(MALHOTRA, 2001). Foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas, com
uso de roteiro previo, com empresarios do setor medicoodontologico de
Ribeirao Preto participantes do consorcio. As entrevistas foram
realizadas no periodo de 24 de setembro a 1 de outubro de 2004. Duraram
em media 95 minutos e foram gravadas e transcritas com a autorizacao dos
entrevistados.
4. RESULTADOS OBTIDOS
Na apresentacao dos resultados, optou-se por organizar os achados,
obtidos a partir das questoes de pesquisa, de acordo com as proposicoes
derivadas do uso do referencial teorico-conceitual.
A primeira proposicao nao foi confirmada. O estudo revelou que nem
todos os empresarios condicionam o consorcio ao recebimento de apoio
publico.
A seguir, apresenta-se uma sintese da visao dos entrevistados sobre
o conceito de consorcios de exportacao:
* E um agrupamento de empresas de um mesmo setor, de uma mesma
localizacao geografica, que estabelece um planejamento estrategico para
a conquista de novos mercados, no contexto internacional, por meio da
promocao comercial ou da venda do produto.
* Usam a forma do grupo para conseguir um efeito de sinergia,
gerando maior poder de negociacao.
* Sao projetos com contrato assinado. Podem ou nao receber apoio
publico (destinacao de verba para estimular a formacao de consorcios,
como o caso do BHP).
A segunda proposicao foi confirmada, pois na visao dos
entrevistados e necessario um certo volume de empresas, de um mesmo
setor, interessadas em associar-se, alem de a regiao ser propicia
(universidades, centros de pesquisa, escolas). Alem disso, e necessario
que essas empresas apresentem uma certa homogeneidade nos estagios de
desenvolvimento, para nao haver muita dissonancia nos objetivos e metas
(deve-se ter certeza de que as empresas envolvidas querem exportar; cada
empresa deve ter a conviccao de que o negocio depende da exportacao).
A terceira proposicao nao foi confirmada, pois os entrevistados
descreveram varios aspectos que justificam a formacao de consorcios,
nenhum deles relacionado ao recebimento de incentivos governamentais. A
maior parte dos beneficios descritos relaciona-se com: (1) aspectos
comportamentais ligados a solidariedade e ao associativismo, a uma
postura colaborativa e a um espirito cooperativo, ou (2) efeitos
sinergicos (dar notoriedade, respeito e forca politica as empresas
consorciadas e aumentar o poder de negociacao em acoes conjuntas).
As conclusoes sobre as principais barreiras a formacao de
consorcios estao em sintonia com o estudo de Lima, Neves e Oliveira
(2002). A maior parte dessas barreiras esta ligada aos aspectos
comportamentais necessarios ao trabalho conjunto e a dificuldade de
operacionalizacao desses aspectos, o que confirma a proposicao quatro.
Dentre as dificuldades coletadas nos depoimentos, destacamse:
* o medo de dividir projetos com a concorrencia;
* a inseguranca em relacao ao cumprimento dos compromissos
assumidos (aumento do volume de trabalho; compromissos de grande
responsabilidade);
* o medo de que a conduta incorreta de uma empresa possa prejudicar
o grupo todo;
* contornar problemas de vaidade e desconfianca entre as
consorciadas.
A quinta proposicao foi confirmada. O estudo revelou que nem todas
as acoes desenvolvidas no processo de internacionalizacao sao passiveis
de realizacao conjunta. Os entrevistados afirmaram que, mesmo
participando do consorcio, preferem continuar desenvolvendo algumas
acoes de modo isolado. Foi solicitado aos entrevistados que
identificassem, dentre as acoes de internacionalizacao, aquelas em que
haveria ganhos de sinergia (custos, poder de negociacao, etc.) se fossem
realizadas conjuntamente, diferentemente daquelas em que seria melhor
empreender acoes individuais. Na opiniao dos entrevistados, destacam-se
como conjuntas as acoes:
* ligadas a pesquisa de mercado internacional. Apresentarao ganhos
se forem realizadas em conjunto (rateio dos custos; maior amplitude da
pesquisa em relacao ao investimento realizado, etc.). A unica ressalva
levantada foram as pesquisas mais focadas (empresa/produto), que devem
ser feitas individualmente;
* para adaptacoes de produto, embalagem e registro de marca. As
demais acoes ligadas ao produto devem ser individualizadas, pois se
referem a questoes de ordem estrategica;
* de comunicacao. Apresentam ganhos de sinergia quando realizadas
em conjunto, destacando-se a participacao em feiras internacionais, em
que o trabalho conjunto proporciona maior visibilidade e gera maior
respeito aos cooperados, em razao das dimensoes do estande. Dentre as
excecoes destacam-se as campanhas publicitarias de marca propria da
empresa, que devem ser individuais para fins de diferenciacao (em
conjunto devem ser feitas apenas as campanhas institucionais);
* de relacoes publicas (exceto as viagens tecnicas, que devem ser
individuais);
* para levantar aspectos que influenciam o preco no pais-alvo. As
demais decisoes de preco sao estrategicas e individualizadas;
* para controle de resultados do consorcio. Todos concordam que o
pos-venda exige acoes individuais;
* para a busca de informacoes ligadas a distribuicao internacional.
Quanto ao transporte fisico, alguns consideram apropriado o trabalho
conjunto; outros consideram inviavel sintonizar prazos, destinos, etc. O
mesmo ocorre em relacao a documentacao: alguns consideram que haveria
ganhos na acao conjunta e outros a consideram inviavel ja que cada
empresa demandaria uma acao diferente. A abertura de novos mercados e a
montagem de escritorios internacionais tambem dividiram a opiniao dos
entrevistados, pelo fato de haver concorrentes entre as empresas
associadas. Os que acham que a associacao poderia envolver concorrentes
consideram essas acoes individuais. Os que acham que seria melhor montar
uma associacao que nao permitisse a participacao de concorrentes
consideram todas as acoes de distribuicao como apropriadas ao trabalho
conjunto;
* ligadas aos processos de certificacao e atendimento de normas
tecnicas e regulamentos internacionais. A busca de informacoes e
coletiva, mas o processo de adaptacao e individual.
Alguns entrevistados consideram o consorcio a principal alternativa
para acoes conjuntas de empresas com vistas na internacionalizacao, uma
vez que apresenta maior controle, poder de barganha e decisao, alem de
exigir profissionalismo, organizacao e seriedade no cumprimento dos
compromissos firmados. Nas alternativas que envolvem a terceirizacao das
exportacoes a empresa pode perder o rumo do negocio, pois geralmente nao
ha um planejamento estrategico e a negociacao e o poder de decisao ficam
na mao de terceiros.
5. CONSIDERACOES FINAIS, LIMITACOES DO ESTUDO E SUGESTOES PARA
TRABALHOS FUTUROS
O artigo analisou o consorcio de exportacao como forma de
viabilizacao da internacionalizacao da pequena empresa, neste caso, o
setor medicoodontologico de Ribeirao Preto. A luz da teoria, o consorcio
pesquisado pode ser classificado como promocional (promocao comercial de
produtos) e monossetorial (agrega empresas do mesmo setor). Dentre as
acoes de internacionalizacao desenvolvidas pelas empresas estudadas,
destacamse como mais propicias a uma realizacao conjunta: a pesquisa de
mercado, bem como a busca de outras informacoes gerais e comuns a todas
as empresas (procedimentos para a certificacao de produtos e atendimento
de normas tecnicas e regulamentos internacionais, adaptacoes necessarias
aos produtos, adaptacoes na embalagem), registro de marca, promocao
comercial e campanhas institucionais. Esses resultados caminham na mesma
direcao do estudo realizado por Castro e Neves (2002) no setor de
agronegocios de Ribeirao Preto (cana-de-acucar, cafe, citrus e carne),
que apontou as acoes relacionadas a pesquisa, as comunicacoes, ao
controle de resultados (setorial) e ao replanejamento como as mais
adequadas ao trabalho conjunto.
Os entrevistados mostraram-se favoraveis a trabalhar conjuntamente
com outras empresas. Estao conscientes de que, para enfrentar os grandes
players, os pequenos devem se unir. Falaram, porem, de receios atuais ou
passados de cooperar com a concorrencia. Nota-se que apenas acreditar
que isso e importante nao basta para gerar o comportamento
associativista, pois e necessario promover uma mudanca cultural nas
empresas brasileiras.
Este e o principal saldo positivo dos consorcios de exportacao:
ensinar as empresas a cooperar entre si. O trabalho em equipe, a
cooperacao e a solidariedade sao pre-requisitos para a formacao de
consorcios de exportacao. Isso implica uma mudanca cultural, pois muitos
empresarios nao estao acostumados a trabalhar em conjunto com outras
empresas. E necessario estimular o relacionamento entre os diversos
atores do setor e promover uma atitude mais solidaria e profissional nas
empresas. A literatura da area nao destaca essas questoes.
No caso do consorcio BHP, essa mudanca foi obtida por meio do
conhecimento, da total transparencia das informacoes e da forma de
gestao, que gerou uma confianca mutua entre os consorciados e a
estrutura do consorcio, bem como entre os membros. Percebeu-se uma
grande sintonia entre os participantes do consorcio BHP. Todos tem muito
claro quais sao a missao do consorcio e os seus principios de
funcionamento, e concordam com o saldo positivo que ele ira deixar.
Destacam tambem a solidariedade, a organizacao do setor, o
associativismo, o amadurecimento e a profissionalizacao das empresas e
dos empresarios participantes como grandes beneficios deixados pelo BHP.
Por se tratar de um estudo qualitativo, de carater exploratorio, os
resultados deste trabalho nao podem ser generalizados a toda a
populacao. Diante dessa limitacao, parece pertinente propor que as
informacoes aqui reunidas sejam testadas em uma amostra representativa.
Uma sugestao seria a analise comparativa de varios consorcios para
verificar o sucesso das metas estabelecidas, as razoes do sucesso ou das
falhas apresentadas, as limitacoes presentes e a maneira pela qual as
empresas consorciadas as superaram, com foco especial no conhecimento
das acoes desenvolvidas para o gerenciamento dos aspectos
comportamentais do trabalho conjunto.
Os aspectos comportamentais ligados a cooperacao devem ser
trabalhados por quem pretende participar de consorcios ou outras
associacoes de empresas, pois podem funcionar como barreiras a formacao
e operacionalizacao destes. Essa conclusao constitui a principal
contribuicao deste trabalho. A literatura cita a criacao de um sistema
de cooperacao entre as estrategias a serem seguidas para o sucesso do
consorcio em sua atuacao no mercado internacional (CHURRUCA, 1995 apud
TOMELIN, 2000). No entanto, faltam estudos que priorizem essa questao
com o proposito de propor uma metodologia para desenvolver sistemas de
cooperacao.
Recebido em: 22/6/2009
Aprovado em: 9/10/2009
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Sheila Farias Alves Garcia
Doutora em Administracao pela Faculdade de Economia, Administracao
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Mestre em Administracao pela Universidade Mackenzie--Sao Paulo Membro
dos Grupos de Pesquisa ISSS (Grupo de Sistemas) e Markintec, ambos na
FEARP-USP-Ribeirao Preto-SP, Brasil
E-mail: sfgarcia_2@yahoo.com.br
Gustavo Barbieri Lima
Mestre em Administracao pela FEARP-USP Pos-Graduado em
Marketing--MBA-Fundace--FEARP-USP Pesquisador membro do Grupo de
Pesquisa Markintec--Estrategias de Marketing e Negocios Internacionais
da FEARP-USP-Ribeirao Preto-SP, Brasil
E-mail: gblima@hipno.com.br
Dirceu Tornavoi de carvalho
Professor Livre-Docente de Marketing na FEARP-USP Mestre e Doutor
em Administracao pela FEA--Universidade de SaoPaulo Coordenador e
Pesquisador do Markintec--Estrategias de Marketing e Negocios
Internacionais. Coordenador do Curso MBA Marketing--FUNDACE-FEARP
USP-Ribeirao Preto-SP, Brasil
E-mail: tornavoi@usp.br
Quadro 1: Beneficios da formacao de redes de empresas de pequeno
porte
* maiores trocas de informacoes e conhecimento entre as empresas;
* participacao e vendas de produtos em feiras;
* lobbying;
* melhorias nos processos empresariais;
* participacao em palestras e em cursos de formacao;
* barganha de preco junto aos fornecedores;
* marketing conjunto;
* acesso a novos representantes;
* maiores garantias no fornecimento de credito aos clientes;
* maior facilidade de comercializacao de insumos entre as empresas;
* ganhos de economia de escala;
* ganhos de economia de escopo;
* especializacao;
* inovacao de produtos e processos;
* reducao de custos gerais;
* maior dispersao de poder entre as varias empresas da regiao;
* flexibilizacao da hierarquia, decorrente do menor numero de
niveis verticais existentes nas pequenas empresas;
* mudanca na distribuicao da riqueza e nos padroes de consumo;
* o progresso resultante das redes de pequenas empresas e mais
equilibrado do que aquele produzido por grandes empresas, que
acabam investindo fora da regiao;
* incentivo ao desenvolvimento de uma estrutura de apoio do governo
regional, por meio do oferecimento de amplos servicos sociais que
apoiem a formacao de redes;
* melhoria da produtividade;
* poupanca de recursos;
* acesso a novos mercados;
* novas tecnologias;
* mao de obra e fornecedores;
* aumento do poder de barganha em compras e na comercializacao;
* troca de experiencias;
* maior acesso a informacao;
* melhoria da reputacao do setor na regiao;
* maior acesso a instituicoes e programas governamentais.
Fonte: Autores, a partir de Balestrin e Vargas (2004), Candido
(2001), Castells (1999), Sebrae (2004), Amato Neto (2000) e Perrow
(1992).