The importance of the human being in the context of institutionalization and validation of the sustainable paradigm/A relevancia do ser humano no contexto de institucionalizacao e legitimacao do paradigma da sustentabilidade/La relevancia del ser humano en el contexto de la institucionalizacion y legitimacion del paradigma de la sustentabilidad.
Munck, Luciano ; de Souza, Rafael Borim
1. INTRODUCAO
Organizacoes, instituicoes e diferentes redes de relacionamento
humanas sao reflexos da realidade socialmente construida. Esta
representa um modelo de compreensao de mundo compartilhado pelos
diferentes atores sociais inseridos nas mais diversas sociedades. A
relacao entre esses personagens e o meio ambiente se intensifica
gradativamente pelo reconhecimento de uma influencia reciproca, do qual
emerge um questionamento institucional sobre atuacoes empresariais que
podem prejudicar a continuidade dos recursos naturais ainda existentes.
Como resposta a essas discussoes, ascende um paradigma pautado em
valores de sustentabilidade social e ambiental, interessado em prover as
geracoes presentes em suas necessidades por meio do uso consciente e
responsavel dos recursos oferecidos pela natureza, de maneira que, no
futuro, as sociedades existentes tambem possam ter sua sobrevivencia
assegurada neste mesmo territorio.
A institucionalizacao dessa concepcao sustentavel ainda esta em
desenvolvimento, visto que nao ha um orgao, um tratado ou uma
representacao global com poder de regulacao comprovado e capaz de
promover o desenvolvimento economico por vias responsaveis. Como fator
auxiliar a institucionalizacao deste paradigma apresenta-se o capital
social, pois ele influi na qualidade das politicas governamentais,
economicas e sociais.
Ainda que responsavel pela grande disseminacao da sustentabilidade,
o capital social, com suas redes de relacionamento, promocao de
engajamento civico e identificacao das qualidades institucionais
nacionais e internacionais, e insuficiente. A legitimacao de um
paradigma sustentavel apenas acontecera quando os seres humanos,
representados como agentes sociais, economicos e organizacionais,
validarem todo esse cenario.
O homem passa a reconhecer a sua importancia na dinamica dos
processos sociais, e deixa de ceder a qualquer fonte de pressao, ao
exigir, como reciprocidade do meio, fatores como continuidade social,
seguranca, melhores condicoes de saude, maior qualificacao educacional
e, por conseguinte, o devido reconhecimento de representatividade junto as organizacoes.
E essa discussao que se desenvolve no presente artigo, cujo
objetivo e evidenciar a relevancia do ser humano no contexto de
institucionalizacao e legitimacao do paradigma da sustentabilidade. Para
um aprofundamento do tema, o texto divide-se em seis secoes: introducao;
metodologia; o contexto de ascensao de um paradigma pautado em valores
de sustentabilidade social e ambiental; o capital social e a
institucionalizacao do paradigma sustentavel; sustentabilidade
socioambiental e a institucionalizacao de suas praticas: o papel do ser
humano; e as consideracoes finais.
2. METODOLOGIA
A abordagem do problema deu-se de maneira qualitativa, por ser esta
uma forma adequada de entender a natureza de um fenomeno social. O
objetivo do estudo foi analisado do ponto de vista exploratorio, uma vez
que se busca conhecer as caracteristicas de um fenomeno, para procurar,
em um momento posterior, explicacoes de suas causas e consequencias. Em
relacao as estrategias de pesquisas abordadas, o estudo classifica-se
como bibliografico, uma vez que pretende conhecer, analisar e explicar
contribuicoes ao tema abordado. Foi realizado um levantamento
teorico-metodologico de temas que suportam a problematica apresentada
pelo presente artigo (RICHARDSON, 2008; MARTINS; THEOPHILO, 2007).
3. O CONTEXTO DE ASCENSAO DE UM PARADIGMA PAUTADO EM VALORES DE
SUSTENTABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL
Em um momento de questionamento das estruturas mundiais, as
relacoes de poder estao ameacadas e, nelas, as elites dominantes veem
diminuir seu espaco privilegiado na tomada de decisoes. Logo, uma
aceitacao social mediante as extremas mais-valias adquiridas por tais
sujeitos sociais faz-se necessaria, para que, assim, um consenso
comunitario nao destitua o poder ate entao imperante.
A acao de tais agentes sociais, no entanto, tem consequencias
ambientais nem sempre responsaveis. A analise da problematica ambiental
se da por uma diversidade de abordagens, as quais se mostram distintas
em alguns pontos e convergentes em outros. Nesse sentido, para uma
melhor compreensao do tema, sera adotada a via interpretativa das
Ciencias Sociais.
Segundo Zioni (2005:39), "para discutir a relacao entre as
ciencias sociais e o meio ambiente, e fundamental uma reflexao sobre o
cenario em que essas questoes emergiram: a modernidade". De acordo
com o discurso da autora, o ambiente sofreu uma serie de alteracoes, em
seculos passados, promotoras de uma sociedade fadada aos dizeres
capitalistas. Alguns exemplos sao as reformas religiosa e social, bem
como as revolucoes industriais.
A modernidade trouxe gradativamente uma exigencia de sociabilidade
do homem com o meio e vice-versa. Os mecanismos de producao
desenvolvidos, se analisados de maneira isolada, pouco emancipam a
sociedade atual das comunidades antigas; se forem analisados juntamente
com os acontecimentos ambientais, porem, constatar-se-a a emergencia de
novas representacoes concebidas por ineditas relacoes de poder.
Por meio das ocorrencias historicas, acontecimentos sociais e
desenvolvimentos economicos vislumbra-se, na modernidade, a construcao
de um novo significado para a vida social. Ainda que por formas
hegemonicas de conhecimento, a elucidacao sobre o movimentar do mundo se
da pela alianca das vertentes sociais e naturais, que envolve em uma
dialetica reciproca o conhecimento cientifico e a razao.
Fica nitido que o cenario constituido ao longo do tempo se ampara em uma sequencia de movimentacoes economicas caracterizadas como o
proprio desenvolvimento. Este, para Coimbra (2002:51):
[...] e um progresso continuo e progressivo, gerado na
comunidade e por ela assumido, que leva as populacoes a
um crescimento global e harmonizado de todos os setores da
sociedade, atraves do aproveitamento dos seus diferentes
valores e potencialidades, em modo a produzir e distribuir os
bens e servicos necessarios a satisfacao das necessidades
individuais e coletivas do ser humano por meio de um
aprimoramento tecnico e cultural, e com menor impacto
ambiental possivel.
E pertinente comentar, porem, que ao longo da historicidade
economica nao foram promovidas acoes de desenvolvimento que
beneficiassem todas as sociedades e o meio ambiente. Surgiram inumeras
tentativas de explicar algumas atitudes governamentais e ate mesmo
organizacionais. Todas elas, a sua maneira, contribuiram com algo novo a
academia. E concedido um destaque a teoria do desenvolvimento, por seu
aprofundamento sociopolitico.
Montibeller-Filho (2007:57) considera as teorias do desenvolvimento
como "o conjunto de formulacoes que visa compreender e modificar a
realidade pelo exame dos mecanismos segundo os quais os fenomenos
sociais inter-relacionam-se, dos elementos principais que respondem pela
evolucao da economia e das tendencias seculares".
Representantes e auxiliares fundamentais do desenvolvimento sao as
instituicoes. O desenvolvimento economico ocorre em ambientes
institucionais, por meio de atividades produtivas, negociacoes virtuais,
redes de relacionamento, cadeias de suprimento, alem de uma serie de
estruturas que sao tanto mais possiveis quanto maior for a tecnologia
empregada. Percebe-se a inerencia da atividade inovadora em todos os
processos envolvidos.
A instituicao se apresenta como protetora da propriedade privada ao
incentivar investimentos que priorizem decisoes democraticas capazes de
disponibilizar socialmente os beneficios oriundos de tais negociacoes.
Montibeller-Filho (2007) defende que a qualificacao institucional e
condicao necessaria para um desenvolvimento adequado, mas insuficiente
para sanar os problemas sociais e ambientais em toda sua amplitude.
Existem muitos fatores implicitos em possiveis solucoes de inumeras
patologias sociais e ambientais ocasionadas pelos mecanismos de
desenvolvimento economico. Em razao da concepcao capitalista da
economia, a sociedade e o meio ambiente estao imersos em uma rede
entrelacada de custos estatais, industriais, economicos, sociais e
ambientais. Todavia, a importancia destes ultimos, na grande maioria dos
estudos, e relegada a oscilacao descontinua da engenharia economica.
A insuficiencia estatal e a ineficiencia do setor privado impedem
que as questoes ambientais e sociais sejam plenamente respondidas.
Entretanto, nao e correta a critica unilateral ao sistema, bem como e
insatisfatoria a plena aceitacao deste. Observa-se a necessidade de
reinstitucionalizar modelos, normas, valores e mitos que ja nao atendam
a sociedade em seus anseios por melhor qualidade de vida.
Tem-se observado um alto nivel de inovacao e desempenho
tecnologico; entretanto, os indices de desenvolvimento humano e de
qualidade de vida nao acompanham o fator economico. Montibeller-Filho
(2007) admite que a economia, quando em crescimento, gera degradacao,
poluicao e esgotamento de bens ambientais, e, quando em retracao,
despreza as questoes ambientais por implicarem custos adicionais.
De acordo com Brunacci e Philip Jr. (2005), a era de conquistar o
desenvolvimento economico sem qualquer restricao e as custas de
prejuizos ambientais ja se encerrou, mas persiste em algumas culturas
organizacionais. Para esses autores, e preciso compreender a
insuficiencia dos fatores naturais, dos quais depende a sobrevivencia
social do planeta. Ainda mais importante e reconhecer que, apos a
geracao presente, outras virao e tambem habitarao este mesmo territorio.
Diaz (2002) discorre sobre a urgencia de romper com a filosofia do
crescimento ilimitado, uma vez que o desenvolvimento nao sustentavel
apresentara limites e esgotamento em breve, caso as tendencias sociais e
economicas nao sejam transformadas em prol do bemestar da populacao
mundial.
Exige-se uma nova interpretacao do funcionamento economico e social
no mundo. Ainda que algumas acoes voluntarias sejam empreendidas por
empresas e governantes, elas sao insatisfatorias, uma vez que, conforme
Montibeller-Filho (2007), a capacidade economica das nacoes e
organizacoes de apresentar um comportamento menos agressivo para com a
natureza somente se mostra quando ha pressao de externalidades com poder
de regulacao comprovado.
Entretanto, sociedade, meio ambiente e economia ja se entrelacam,
ainda que teoricamente, sob uma serie de denominacoes, tais como
economia ambiental, economia ecologica, economia humana, cada uma
representando uma abordagem explicativa do problema. O que mais
interessa e a dimensao economica estar associada a questao ambiental,
por esta ser fundamental na formulacao de diretrizes de atuacao do
governo, das empresas e dos cidadaos e para a propria compreensao dos
fatos e das relacoes sociais, culturais e politicas (CALDERONI, 2004).
Emerge, entao, um novo paradigma, o da sustentabilidade, entendido
como aquele que: [... ] expressa hoje o desejo de quase todas as
sociedades, em qualquer parte do mundo, por uma situacao em que o
economico, o social e o ambiental sejam tomados de maneira equanime.
Entao, nao basta apenas haver crescimento economico, avanco tecnologico
e as instituicoes; e, sim, pensar na revolucao tecnologica e no
arcabouco institucional objetivando o bem-estar social com a amplitude a
este inerente. (MONTIBELLER-FILHO, 2007:59).
Torna-se imprescindivel a ocorrencia de um crescimento economico
pautado em caracteristicas da sustentabilidade; logo, o vocabulo
"sustentavel", nas palavras de Brunacci e Philip Jr.
(2005:274), ao qualificarem o tipo de desenvolvimento que se deseja,
"deve ser aplicado a realidade ambiental do presente".
De acordo com esse aparato interpretativo, mudancas institucionais
sao necessarias, uma vez que as instituicoes precisam ser eficientes no
atendimento pleno dos anseios originados em diferentes tempos. Tais
transformacoes confirmam a insustentabilidade do antigo paradigma
desenvolvimentista. Por essa evolucao da importancia da associacao entre
a questao ambiental e a economia, vislumbra-se que as decisoes politicas
e economicas estao sendo alinhadas a preceitos sustentaveis.
Os interesses economicos nao podem diferir dos ecologicos, uma vez
que o bom desempenho da economia e uma consequencia da exploracao dos
recursos naturais. No entanto, a essencia da sustentabilidade precisa
ser compreendida, para evitar acoes nao condizentes com valores eticos,
ambientais e representativos de uma responsabilidade social corporativa.
Principios e atitudes organizacionais que resultem em acoes
socialmente responsaveis sao compreendidos como comportamentos
promotores de um desenvolvimento sustentavel. Por meio de politicas
consistentes de responsabilidade social, as empresas tomam para si
preocupacoes referentes aos stakeholders e as comunidades atingidas por
suas atividades operacionais. Clapp (2005) argumenta que, mediante uma
conscientizacao socialmente responsavel, os empresarios atuam com bom
senso nos negocios, situacao que os encoraja a agir de forma sustentavel
para com a sociedade e o meio ambiente.
Em razao de tantos discursos existentes, ha "a possibilidade
de um entendimento pragmatico e imediatista que conduz ao risco de se
implantar um programa de sustentabilidade do desenvolvimento como sutil
desdobramento de uma politica moldada por um sistema capitalista ainda
conservador e predatorio" (BRUNACCI; PHILIP JR., 2005:268).
Sistemas politicos, instituicoes, tratados ou acordos
internacionais que vislumbrem problematicas ambientais e sociais pela
abordagem sustentavel devem ser capazes de transpor as barreiras fisicas
para uma maior eficacia na resolucao de calamidades. Torna-se cada vez
mais necessaria uma resposta institucional que implique, em seu agir,
uma racionalidade que contemple a responsabilidade social e economica
como fenomeno de interesse, aliado a continuidade desenvolvimentista do
capitalismo.
Essa resposta tem de partir de uma otica capaz de abranger as
diferencas entre as nacoes, organizacoes e sociedades, e as suas
especificidades, de maneira que sua intervencao em favor da humanidade e
do meio ambiente seja aceita como verdade e, consequentemente, como um
apoio ao desenvolvimento sustentavel. Os vieses ambientais nao sao de
responsabilidade exclusiva das nacoes, das empresas e da humanidade, mas
de todos os que habitam e agem intensivamente no planeta Terra.
Como afirmaram MacNeill, Winsemius e Yakushiji (1992:16): "o
mundo avancou agora da interdependencia economica para a
interdependencia ecologica--e ate, para alem desta, para um
entrelacamento entre ambas".
Portanto, de acordo com Zioni (2005), para a solucao dos problemas
e desequilibrios evidenciados propoe-se um novo paradigma de
sustentabilidade, que parta da critica do conhecimento existente e
evolua do monoculturalismo ao multiculturalismo, de forma que o dominio
global da ciencia moderna nao possa silenciar os outros saberes e,
assim, emancipe-se um conhecimento que consiga discernir a objetividade
da neutralidade.
Com base nesse contexto, discorre-se, a seguir, sobre o capital
social como fenomeno auxiliar a institucionalizacao e legitimacao do
paradigma sustentavel, o qual alcancara sua validacao social pela
participacao ativa e consensual dos seres humanos imersos nas diferentes
sociedades, organizacoes e instituicoes.
4. O CAPITAL SOCIAL E A INSTITUCIONALIZACAO DO PARADIGMA
SUSTENTAVEL
Conforme a World Comission on Environment and Development (WCED), o
desenvolvimento sustentavel consiste em nao comprometer a sobrevivencia
de geracoes futuras por meio da exploracao responsavel de recursos
naturais no presente (BRUNDTLAND, 1987). Essa concepcao agrega em si
consideracoes sobre os objetivos economicos e sociais da humanidade, a
serem tratados por uma abordagem de longo prazo, ao considerar questoes
ambientais em suas premissas.
Asadi et al. (2008) enumeram quatro fatores determinantes do
desenvolvimento sustentavel, a saber: o capital natural, o capital
fisico e produzido, o capital humano e o capital social. A
sustentabilidade, ou a capacidade de futuras geracoes suprirem suas
necessidades, e assegurada quando a disponibilidade de recursos naturais
e eficientemente utilizada pelos processos produtivos atuais.
Esses recursos sao explorados dentro de um contexto social cujos
valores e regras, transmitidos pelas instituicoes existentes, determinam
a sua distribuicao as sociedades presentes com consequencias para as
futuras. Por essa razao, ressalta-se a importancia ambiental do capital
social como fenomeno auxiliador da legitimacao do paradigma sustentavel.
Inumeros autores (COLEMAN, 1988; PUTNAM, 1993; KNACK; KEEFER, 1997;
TEMPLE; JOHNSON, 1998; WOOLCOCK, 1998) associam esse tema a efetividade
das cadeias de relacionamento humanas promoventes de consensos e coesoes
sociais, representadas pela legitimacao de valores provenientes de
inumeras fontes de pressoes organizacionais e sociais.
Coleman (1990) observa o capital social como um fenomeno que
possibilita a obtencao de recursos de financiamento e manutencao do
meio, advindos das organizacoes sociais com fins lucrativos, situacao
que impede as empresas de realizar feitos economicos comunais por
facilitar processos de inovacao a custos menores.
Ja Putnam (1993) associa esse tema aos fatores de confiabilidade
economica e social, normas e redes sociais, os quais se associam para
promover o desenvolvimento das organizacoes sociais. O capital social,
assim, esta diretamente vinculado a capacidade de promover eficiencia
social por meio da interacao dos mecanismos institucionais.
Nesse contexto, Grootaert e Van Bastelaer (2002) admitem que esse
fenomeno e definido pela conexao entre instituicoes, relacoes sociais,
atitudes empreendedoras e valores que regem a comunicacao entre os
diversos atores comunitarios, que, em conjunto, potencializam o
desenvolvimento economico e social de uma nacao.
Woolcock (1998) propoe a analise do capital social sob quatro
aspectos: a extensao das associacoes horizontais; a natureza dos
mecanismos de desenvolvimento social dentro das comunidades; a natureza
da relacao entre sociedade civil e Estado; e a qualidade institucional
das instituicoes governamentais.
O capital social, aliado a qualidade institucional, pode propiciar
um melhor desenvolvimento economico. Segundo Turner (2000), as
instituicoes abrangem o ambiente composto de atores sociais tomadores de
decisoes e representantes de suas acoes individuais e coletivas. Os
seres humanos organizam-se e coordenamse via mecanismos de
institucionalizacao, no intuito de que as atividades organizacionais e
economicas sejam aprimoradas.
Dollar e Kraay (2003) constataram em seus estudos que as nacoes
constituidas de instituicoes mais qualificadas estabelecem maiores
niveis de comercializacao e tendem a crescer rapidamente. E funcao
critica das instituicoes, conforme DiMaggio e Powell (1983), reduzir
consistentemente as incertezas oferecidas pelo meio ambiente mediante a
legitimacao de normas sociais racionais que validem acoes
empreendedoras, tradutoras de um desenvolvimento economico sustentavel.
Rodrick (2000) considera a qualidade institucional como responsavel
por significantes resultados para a integracao social; todavia, segundo
esse autor, sua contribuicao para o desenvolvimento economico e
indireta, por depender das alocacoes de capitais praticadas pela
engenharia economica do sistema.
Tal consideracao e validada por Campos e Nugent (1998), que
consideram as consequencias do desenvolvimento economico e social
geradas pelas instituicoes como indiretas ao credenciarem como fator
efetivo para este quadro a constituicao formativa do capital humano
social.
Enquanto Stewart (1998) define o capital humano como um ativo de
propriedade compartilhada no ambiente organizacional, Glaeser, Laibson e
Sacerdote (2002) esclarecem que o capital humano social constitui um
ativo social presente em individuos com uma personalidade social provida
de regras e qualidades sociais, interessados em promover ganhos sociais
coletivos.
Pretty e Ward (2001) identificaram que as sociedades mais
desenvolvidas, em razao da consequente representatividade do capital
social, apresentam melhores indices de desenvolvimento humano, uma vez
que os grupos locais nelas inseridos formulam regras e sancoes regionais
interessadas na utilizacao responsavel dos recursos naturais existentes.
Uma comunidade assim estruturada torna-se institucionalmente capaz de
propor acoes cooperativas para a solucao de patologias sociais e
ambientais.
Um aspecto inerente ao capital social e sua relacao intensiva com
as redes sociais. Estas sao constituidas de membros defensores de
praticas organizacionais sustentaveis. Por meio desses personagens
alcanca-se o engajamento civil da sociedade. Putnam (1993) defende que a
legitimacao de normas civicas afeta o desempenho governamental e,
consequentemente, a qualidade das politicas economicas. Knack e Keefer
(1997) reforcam a afirmativa ao considerarem que as normas civicas
propiciam um melhor desempenho economico.
Para tanto, a confiabilidade e a cooperacao entre os atores sociais
e as instituicoes que validam a existencia das respectivas sociedades
sao fundamentais, pois somente assim, conforme Granovetter (1985),
alcancarse-a um desenvolvimento sustentavel harmonico. Essa interacao
pacifica e imprescindivel, pois, enquanto governos, sociedade e
organizacoes sem fins lucrativos disputam seus papeis em relacao ao meio
ambiente, entidades mistas tem surgido no intuito de alinhar elementos
lucrativos a uma melhor eficiencia no uso de recursos naturais, tendo em
vista uma perspectiva nao lucrativa de criacao de valores sociais
(AUSTIN; STEVENSON; WEI-SKILLERN, 2006).
Baum e Oliver (1991), ao discorrerem sobre organizacoes que optaram
por se relacionar com seus respectivos e diversos ambientes
institucionais, afirmam que estas sao responsaveis por um
desenvolvimento empresarial caracterizado por um envolvimento com
diferentes comunidades e stakeholders influentes. Esse modelo de gestao
participativo potencializa socialmente o fornecimento de recursos
sustentaveis, alem de permitir que a organizacao angarie sua legitimacao
critica e endossamento social.
A presenca desses personagens no contexto da discussao e
importante. Haveman e Rao (1997) afirmam que organizacoes e instituicoes
precisam envolver atores sociais influentes nos seus processos de
negociacoes, a fim de que a permanencia delas no mercado seja assegurada
por regras normativas institucionalizadas e legitimadas pela sociedade.
Se os stakeholders participarem de um consenso sobre a criacao social de
um modelo economico sustentavel, isso se tornara critico para as firmas
atuais e futuras, uma vez que a sociedade passara a compreender que
influencia e e influenciada pelas operacoes industriais (TOWNSEND; HARD,
2008).
O capital social, com seus fatores de confiabilidade, normas
reguladoras de reciprocidade e redes de engajamento civico, tem
ressaltado o carater essencial do desenvolvimento sustentavel. Como
resultado, Asadi et al. (2008) consideram que a sustentabilidade social
tem adquirido novo significado nas comunidades, uma vez que estas
vislumbram a necessidade de atencoes previas em razao de possiveis
consequencias negativas de praticas promotoras do desenvolvimento
economico. O paradigma sustentavel necessita, alem da conservacao do
meio ambiente, de um engajamento comunitario para legitimar suas
propostas institucionais.
Todavia, a mensurabilidade dos indices de confiabilidade
organizacionais e governamentais, a relacao entre os diversos atores
sociais, e as redes comunitarias sao apenas consequencias do capital
social, e nao as causas. Este tem de ser qualificado como um recurso
intangivel da sociedade, conquistado pela credibilidade, integridade e
reputacao institucionais. O capital social e a ferramenta conectora dos
elementos economicos que tornam possiveis atividades produtivas,
distributivas e de consumo. Os elementos fundamentais do capital social
sao o comprometimento social e a responsabilidade social corporativa, os
quais, em conjunto, respaldam a confianca e a disposicao institucionais
em construir redes sociais facilitadoras de maiores participacoes
comunitarias (CHENG; MITTELHAMMER, 2008).
Assim, o capital social expressa em vias formais os focos juridico,
democratico e governamental de comunidades locais, regionais, nacionais
e internacionais, por meio de mecanismos institucionais responsaveis por
reiterar a disseminacao de valores e expectativas sociais.
Consequentemente, de acordo com Asadi et al. (2008), a destruicao
parcial ou completa de redes sociais, com suas respectivas normas,
provocaria a alienacao dos seres humanos de suas necessidades simples e
complexas, bem como a perda significativa de valores culturais, alem da
assuncao de uma identidade incapaz de discernir as necessidades
inerentes a realidade da sociedade constituida de tais individuos. O
capital social, por conseguinte, e componente central do desenvolvimento
sustentavel.
Grootaert e van Bastelaer (2002) admoestam que o capital social
gera profundo impacto em diferentes areas da convivencia humana, tanto
urbanas quanto rurais: afeta a provisao de servicos, transforma a
prospeccao de cenarios de desenvolvimento industriais e agricolas,
influencia a expansao de empresas privadas, incrementa o gerenciamento
de recursos comuns, ajuda na qualificacao educacional e contribui na
reformulacao de acoes estatais insuficientes para praticas de
compensacoes sociais.
Em todo esse contexto esta a figura humana, representada pelos
diferentes atores sociais inseridos nas redes de relacionamento
socioeconomicas. Por eles, o paradigma da sustentabilidade, ainda que em
parte institucionalizado pelo capital social, alcanca sua plena
legitimidade. O proximo topico discorrera sobre o papel do ser humano na
sustentabilidade socioambiental e na institucionalizacao de suas
respectivas praticas, com o auxilio das contribuicoes oriundas da teoria
neoinstitucional.
5. SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL E A INSTITUCIONALIZACAO DE SUAS
PRATICAS: O PAPEL DO SER HUMANO
A teoria neoinstitucional, de acordo com FernandezAlles e
Valle-Cabrera (2006), tem parte de suas origens na Sociologia e
baseia-se no principio de que as organizacoes alcancam recompensa social
por caracteristicas que as legitimam na angariacao de recursos, de
maneira que sobrevivam em alicerces estruturados por pressoes
institucionais coercitivas, normativas e mimeticas. Logo, os valores
contextuais, cerimoniais e simbolicos precisam ser transferidos as
estrategias e praticas organizacionais, algumas vezes reconhecidas por
seu carater isomorfico.
Trata-se de uma teoria oriunda de algumas alteracoes conceituais
propostas, especificamente, pela discussao de cinco paradoxos
principais, por meio dos quais propoe-se um arcabouco de conhecimentos
interessado em discutir fenomenos como mudancas, vantagens competitivas
e inovacoes organizacionais. No quadro abaixo esses paradoxos sao
abordados com maior profundidade.
Compreende-se a institucionalizacao de um paradigma pautado em
premissas de sustentabilidade social e ambiental pela contribuicao de
cada paradoxo supramencionado. Por meio das discussoes sobre esses
paradoxos a teoria neoinstitucional possibilita que as organizacoes
sejam analisadas em um ambiente que ultrapasse seus limites fisicos.
Com a argumentacao do quinto paradoxo intensificase essa relacao
explicativa estabelecida. Uma vez que movimentos organizacionais
interessados em promover efetivos comportamentos socialmente
responsaveis integram acoes em prol de um desenvolvimento sustentavel,
considera-se que essa teorizacao alia proposicoes que evidenciarao a
relevancia do ser humano no contexto de institucionalizacao e
legitimacao do paradigma da sustentabilidade.
A institucionalizacao de uma gestao socialmente responsavel somente
acontecera se for inteiramente validada pelos stakeholders envolvidos em
todos os passos e aplicabilidades dos projetos a serem apresentados a
sociedade e implementados. Vislumbrase, entao, a emergencia do homem,
proprietario de seu capital humano social, como uma das figuras de maior
importancia para a legitimacao desta nova metodologia de atuacao
empresarial.
A sociedade esta imersa em modelos de compreensao interessados em
explicar os ritos, mitos, valores e normas que movem os padroes de
comportamento humano e, consequentemente, as instituicoes responsaveis
pela regencia do sistema vigente. Todavia, o advento de inovacoes
tecnologicas, economicas e sociais, em uma realidade explicada pela
ascensao de um paradigma sustentavel, insere o ser humano em um novo
patamar de atuacao dentro das organizacoes.
Essa concepcao sofre algumas deturpacoes se observada em
organizacoes ainda amparadas por paradigmas valorizadores dos modelos
fordista e taylorista (PEAUCELLE, 2000). Nota-se, segundo Ng e Tseng
(2008), que nestes casos impera a visao do "homem economico"
organizacional, guiado por um contexto neoclassico e interessado em
maximizar suas riquezas e recompensas pela utilizacao extrema dos
recursos naturais disponiveis.
Esse sujeito, valorizador dos beneficios pessoais, adere as normas
legais para aumentar a utilidade dos processos sociais nos quais esta
inserido. Percebe-se a inexistencia de interesse por um compromisso
coletivo, bem como a ausencia de uma preocupacao com as prerrogativas e
consequencias sociais relacionadas a manutencao do meio ambiente.
Szanto (1998) observa que a fundamentacao e a operacionalizacao do
meio ambiente ocorrem por si sos, uma vez que nele os sistemas
funcionais surgem, estabelecem-se e evoluem. O autor afirma que o meio
ambiente sera tanto mais evolucionario quanto maior o ciclo evolutivo de
seus sistemas funcionais, os quais, por meio dessa movimentacao,
conferem ao meio maior diversidade de fatores.
A sociedade e tanto uma consequencia do paradigma sustentavel
quanto representante da era da informacao. A explosao do conhecimento
cientifico e tecnico, a rapida difusao e o poder crescente da tecnologia
da informacao, a participacao cada vez maior do conhecimento no valor agregado da empresa e a ascensao do trabalhador do conhecimento
apresentam-se como fatores que trabalham em conjunto, a fim de propor
novos modelos organizacionais e ineditos metodos gerenciais (STEWART,
1998).
O meio renova-se atraves de contradicoes inusitadas, compondo-se de
uma serie de fatores de risco, aos quais todos os individuos estao
propensos. Constata-se assim, de acordo com Szanto (1998), que os atores
sociais estao cientes das proeminentes mudancas promotoras de
desenvolvimento, compreensao esta intimamente relacionada a uma gama de
riscos e patologias sociais.
Emerge entao o conceito de "homem social organizacional",
definido por Ng e Tseng (2008) como um ator interessado em cumprir as
normas legais por meio de uma interdependencia comunitaria, explicada
nao completamente pela fundamentacao racional, mas principalmente pelo
engajamento em promover uma maior participacao social.
Todavia, a concepcao desse sujeito no ambiente organizacional e
algo que instiga os mais diversos gestores. Toda empresa desenvolve uma
cultura, apreendida como representacao maior do entendimento da
organizacao sobre ela mesma, seus colaboradores e a sociedade como um
todo. Essa cultura representa, assim, por vias formais, a essencia
empresarial para o meio, e, por vias informais, o conteudo pragmatico de
um ser juridico para aqueles que se relacionam com a empresa. Portanto,
muitas sao as maneiras de analisar uma cultura organizacional, porem e
necessario admitir que consequentes a ela existem seres humanos e
processos em andamento.
A complexidade da questao se acentua quando se verifica a eminencia
do paradigma de criacao na sociedade. Este representa uma ameaca a
estabilidade e a integridade estrutural de toda uma hierarquia social,
pois a evolucao social, neste caso, pode sinalizar que um sistema
funcional esta em processo de progressao (autoperfeicao) ou rumo a um
retrocesso (desintegracao) (SZANTO, 1998).
Ha uma dificuldade, por parte das empresas, em reter talentos que
contribuam para o alcance de uma melhor realidade organizacional
relacionada a melhores quesitos sociais. De acordo com Stewart
(1998:78), o trabalho rotineiro, que exige pouca habilidade, mesmo
quando feito manualmente nao gera capital humano para a organizacao.
Este cresce de duas formas: "quando a empresa utiliza mais o que as
pessoas sabem e quando um numero maior de pessoas sabe mais coisas uteis
para a organizacao".
O ambiente organizacional, por conseguinte, nao pode promover
quaisquer impedimentos psicologicos aos diversos stakeholders. Bouyer
(2004) caracteriza esses constrangimentos e restricoes como as maiores
fontes de sofrimento no trabalho. Essa pratica se torna tao restritiva
ao trabalhador, que este se ve na situacao conflituosa de ter de
escolher entre os objetivos de atender bem o cliente, cumprir as normas
da empresa ou defender sua propria identidade, esta representativa de um
sujeito singular com caracteristicas particulares.
Szanto (1998) ressalta que, em termos socioorganizacionais, a falha
em reconhecer o trabalho intelectual de um individuo interfere nos
processos de autorrealizacao deste, o que promove alteracoes em seus
niveis motivacionais e o direciona para um caminho negativo, situacao
que provoca um quadro conflituoso entre individuo, sociedade e
organizacao.
As organizacoes, no intuito de responder institucionalmente ao
paradigma sustentavel, por meio da responsabilidade social, por exemplo,
precisam tornar-se competentes, cada vez mais, em contratar e reter
talentos que retratem a definicao de um trabalhador intelectual, o qual
representa fundamentalmente a evolucao do "homem economico"
para o "homem social organizacional". Isso porque, enquanto o
homem economico tem como proposito prever o seu comportamento e observar
as escolhas interativas, o homem social anseia identificar quem ele e e
como ele interage com outras pessoas na sociedade, alem de contemplar e
investigar os antecedentes desses comportamentos (NG; TSENG, 2008).
Constata-se a lapidacao do relacionamento entre homem, sociedade e
organizacao, situacao impossivel de ser explicada pela abordagem
positivista e muito menos pela otica que rejeita qualquer explicacao.
Essa compreensao do agir organizacional apenas se da pela terceira via
de Weber (apud MAGGI, 2006:18), para o qual:
[...] as ciencias historicas e sociais sao caracterizadas por
uma orientacao em direcao da singularidade, elas devem
antes de mais nada compreender o sentido dos eventos
humanos, mas essa compreensao nao e mais um ato de
intuicao imediato, uma simples participacao empatica; ela
exige uma validacao racional e intersubjetiva, a reconstrucao
dos elementos do agir em seu contexto de significacao.
Por toda a complexidade apresentada, e valido afirmar que as
organizacoes interessadas em seus respectivos desenvolvimentos
economicos precisam de colaboradores dotados de uma expertise
potencialmente capaz de conferir a elas a legitimacao social de seus
ganhos e lucros. Assim, a cristalizacao de um paradigma pautado em
valores sustentaveis acontece por inumeras vias, dentre elas o modelo de
gestao socialmente responsavel adotado pelas empresas contemporaneas,
fator admitido como um dos componentes principais do capital social.
Nesse contexto, encontra-se na escola neoinstitucional a
fundamentacao teorica que vislumbra em seu arcabouco a validacao de um
paradigma sustentavel, as institucionalizacoes organizacionais, o anseio
por um status social empresarial, o capital social e a relevancia da
figura humana em todos estes procedimentos. Esta, portanto, assume uma
perspectiva dinamica para explicar as diversidades das mudancas
adaptativas, uma vez que rompe com a previa analise deterministica.
Sua visao estrategica tambem e ressaltada, pois seu carater social
propicia a criacao de vantagens competitivas, evidenciadas pela
legitimidade e reducao dos custos de transacoes. Tal cenario gera duas
vias de interpretacao institucional: a social (focada no capital social
e na gestao simbolica) e a estrategica (focada na heterogeneidade e nas
imperfeicoes do mercado). Nessa contextualizacao, a escassez de recursos
e a propria legitimidade se revelam como fontes de inovacao
(FERNANDEZALLES; VALLE-CABRERA, 2006).
Assim, as vantagens competitivas sao alcancadas nao apenas por meio
de diferenciacoes, heterogeneidade e mudancas, mas tambem pela
contribuicao do capital social e pela tolerancia para com as pressoes
institucionais, as quais, em conjunto, legitimam os agentes e processos
e permitem os devidos suprimentos de recursos e incremento de posicoes
competitivas.
Legitimidade e eficiencia, portanto, nao podem ser interpretadas
como fatores contraditorios em uma pratica gerencial. Elas devem
trabalhar em prol de equalizar os interesses dos atores, para sanar os
conflitos em potencial, com base na compreensao da essencia do paradigma
sustentavel de satisfazer as necessidades das comunidades atuais sem
comprometer a existencia das futuras.
6. CONSIDERACOES FINAIS
O artigo objetivou evidenciar a relevancia do ser humano no
contexto de institucionalizacao e legitimacao do paradigma da
sustentabilidade. Para um melhor esclarecimento do tema, foram abordadas
discussoes sobre a ascensao do paradigma sustentavel, o capital social
como auxiliador na institucionalizacao dessa concepcao ambiental e
social, e o papel do ser humano na legitimacao desses valores nos
procedimentos organizacionais, institucionais e sociais.
E possivel afirmar que esse paradigma sustentavel advem de uma
modificacao estrutural da sociedade, ocorrida pela exigencia de
transformacoes institucionais em toda a hierarquia social existente. As
instituicoes passam a responsabilizar-se pelo atendimento pleno das
questoes sociais e ambientais, para que as geracoes presentes e futuras
tenham sua sobrevivencia assegurada pela manutencao responsavel dos
recursos naturais existentes.
O capital social estabelece-se como auxiliador nos processos de
institucionalizacao desse paradigma, uma vez que a alianca entre ele e
as qualidades institucionais concebe um conjunto de componentes
essenciais para um modelo de desenvolvimento economico sustentavel.
Entretanto, a legitimacao dessa nova maneira de compreender a realidade
ocorre somente pela validacao consensual comunitaria dos novos valores
defendidos.
O ser humano passa a ser observado como figura central de aceitacao
do paradigma sustentavel, pois apenas pela inter-relacao dos atores
inseridos em redes sociais de relacionamento imersas em ambientes
sociais, institucionais e organizacionais tal sistema de entendimento do
mundo alcancara sua plena cristalizacao.
E imprescindivel a constatacao da relevancia humana no
questionamento sobre praticas economicas nao sustentaveis, deficiencias
educacionais nao supridas pelo sistema, calamidades nos setores de saude
publica e, ainda, o nao reconhecimento de sua importancia para as
atividades organizacionais.
Logo, o ser humano, como personagem ciente de seus deveres civicos
e ordenado por uma responsabilidade social e etica, passa a nao aceitar
o ambiente real e inicia um movimento legitimador de um paradigma
respaldado em fatores sociais e ambientais que venha a garantir a
continuidade existencial do homem em termos fisiologicos, sociais e
intelectuais.
O paradigma sustentavel, em parte institucionalizado pelo capital
social, alcanca sua fundamental legitimacao por meio de atores sociais
identificados como os "homens sociais organizacionais", que
priorizam o bemestar coletivo e valorizam a boa relacao comunitaria para
o desenvolvimento responsavel dos ambientes sociais, organizacionais e
institucionais.
Recebido em: 27/6/2009
Aprovado em:12/8/2009
7. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS ASADI, A.; AKBARI, M.; FAMI, H. S.;
IRAVANI, H.; ROSTAMI, F.; SADATI, A. Poverty alleviation and sustainable
development: the role of social capital. Journal of Social Sciences, v.
4, n. 3, p. 202-215, 2008.
AUSTIN, J.; STEVENSON, H.; WEI-SKILLERN, J. Social entrepreneurship and commercial entrepreneurship: same, different, or both?
Entrepreneurship Theory and Practice, v. 30, n. 1, p. 1-22, 2006.
BAUM, J. A. C.; OLIVER, C. Institutional linkages and
organizational mortality. Administrative Science Quarterly, v. 26, n. 2,
p. 187-218, 1991.
BOUYER, G. C. A categoria impedimento como objeto de investigacao:
uma aproximacao pelo reverso do trabalho. In: ENCONTRO NACIONAL DE
ENGENHARIA DE PRODUCAO, 24., 2004, Florianopolis. Anais...
Florianopolis, 2004. p. 24.
BRUNACCI, A.; PHILIP JR., A. Dimensao humana do desenvolvimento
sustentavel. In: PHILIP JR., A.; PELICIONI, M. C. F. Educacao ambiental
e sustentabilidade. Barueri: Manole, 2005. p. 257-283.
BRUNDTLAND, G. H. Our common future. World Commission on
Environment and Development. 1th ed. Oxford, UK: Oxford University
Press, 1987.
CALDERONI, S. Economia ambiental. In: PHILIP JR., A.; ROMERO, M.
A.; BRUNA, G. C. Curso de gestao ambiental. Barueri: Manole, 2004. p.
571-617.
CAMPOS, N.; NUGENT, J. B. Institutions and growth: can human
capital be a link? CEPAL Review, v. 64, p. 7-27, 1998.
CHENG, M. Y.; MITTELHAMMER, R. Globalization and economic
development: impact of social capital and institutional building. The
American Journal of Economics and Sociology, v. 67, n. 5, p. 859-888,
2008.
CLAPP, J. Global environmental governance for corporate
responsibility and accountability. Global Environmental Politics, v. 5,
n. 3, p. 23-34, 2005. COIMBRA, J. A. O outro lado do meio ambiente.
Campinas: Millenium, 2002.
COLEMAN, J. S. The foundation of social theory. Cambridge: Harvard
University Press, 1990.
--. Social capital in the creation of human capital. American
Journal of Sociology, v. 94, p. 95120, 1988.
DIAZ, A. P. A educacao ambiental como projeto. 2. ed. Trad. de F.
Murad. Porto Alegre: Artmed, 2002.
DiMAGGIO, P. J.; POWELL, W. W. The iron cage revisited:
institutional isomorphism and collective reationality in organizational
fields. American Sociological Review, v. 48, n. 2, p. 147-160, 1983.
DOLLAR, D.; KRAAY, A. Institutions, trade and growth. Journal of
Monetary Economics, v. 50, p. 133162, 2003.
FERNANDEZ-ALLES, M. L.; VALLE-CABRERA, R. Reconciling institutional
theory with organizational theories. How neoinstitutionalism resolves
five paradoxes. Journal of Organizational Change Management, v. 19, n.
4, p.503-517, 2006.
GLAESER, E. L.; LAIBSON, D.; SACERDOTE, B. The economic approach to
social capital. Economic Journal, v. 112, p. 437-458, 2002.
GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem
of embeddedness. American Journal of Sociology, v. 91, p. 481-510, 1985.
GROOTAERT, C.; VAN BASTELAER, T. The role of social capital in
development: an empirical assessment. 1th ed. New York: Cambridge
University Press, 2002.
HAVEMAN, H. A.; RAO, H. Structuring a theory of moral sentiments:
institutional and organizational coevolution in the early thrift industry. The American Journal of Sociology, v. 102, n. 6, p. 1606-1651,
1997.
KNACK, S.; KEEFER, P. Does social capital have na economic payoff:
a cross-country investigation. Quarterly Journal of Economics, v. 112,
p. 12511289, 1997.
MACNEILL, J.; WINSEMIUS P.; YAKUSHIJI T. Para alem da
interdependencia. Trad. de A. Cabral. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
MAGGI, B. Do agir organizacional: um ponto de vista sobre o
trabalho, o bem-estar, a aprendizagem. Sao Paulo: Edgard Blucher, 2006.
MARTINS, G. A.; THEOPHILO, C. R. Metodologia da investigacao
cientifica para ciencias sociais aplicadas. Sao Paulo: Atlas, 2007.
MONTIBELLER-FILHO, G. Empresas, desenvolvimento e ambiente:
diagnostico e diretrizes de sustentabilidade. Barueri: Manole, 2007.
NG, I. C. L.; TSENG, L. The evolution of homo economicus. American
Journal of Economics & Sociology, v. 67, n. 2, 2008.
PEAUCELLE, J. From Taylorism to post-Taylorism. Journal of Change
Management, v. 13, n. 5, p. 452-467, 2000.
PRETTY, J. N.; WARD, H. Social capital and the environment. World
Development, v. 29, n. 2, p. 209-227, 2001.
PUTNAM, R. Making democracy work: civic traditions in modern Italy.
Princeton, NJ: Princeton University Press, 1993.
RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: metodos e tecnicas. 3. ed. Sao
Paulo: Atlas, 2008.
RODRICK, D. Institutions for high-quality growth: what they are and
how to acquire them. National Bureau of Economics Research Working
Paper, n. 7540, 2000.
STEWART, T. A. Capital intelectual. Rio de Janeiro: Elsevier, 1998.
SZANTO, B. Socio-technical functioning and anthropogenic crises.
Systems Research and Behavioral Science, v. 15, n. 4, 1998.
TEMPLE, J.; JOHNSON, P. A. Social capability and economic growth.
Quarterly Journal of Economics, v. 113, p. 965-990, 1998.
TOWNSEND, D.; HARD, T. A. Perceived institutional ambiguity and the
choice of organizational form in social entrepreneurial ventures.
Entrepreneurship Theory and Practice, v. 32, n. 4, p. 685-700, 2008.
TURNER, J. H. The formation of social capital. In: DASGUPTA, P.;
SERALGELDIN, I. Social capital: a multifaceted perspective. Washington,
DC: World Bank, 2000.
WOOLCOCK, M. Social capital and economic development: toward a
theoretical synthesis and policy framework. Theory and Society, v. 27,
p. 151-208, 1998.
ZIONI, F. Ciencias Sociais e Meio Ambiente. In: PHILIP JR., A.;
PELICIONI, M. C. F. Educacao ambiental e sustentabilidade. Barueri:
Manole, 2005. p. 39-58.
Luciano Munck
Graduacao em Administracao de Empresas pela Universidade Federal de
Vicosa Mestrado em Engenharia de Producao pela Universidade Federal de
Santa Catarina Doutorado em Administracao pela Universidade de Sao Paulo
Professor da Universidade Estadual de Londrina (UEL) e da Pontificia
Universidade Catolica do Parana
E-mail: munck@uel.br
Rafael Borim de Souza
Graduacao em Administracao e Especializacao em Controladoria e
Financas pela Pontificia Universidade Catolica do Parana. M.B.A. em
Gestao Empresarial pela Fundacao Getulio Vargas. Mestrando em
Administracao na Universidade Estadual de Londrina E-mail:
rafaborim@yahoo.com
Quadro 1: Os cinco paradoxos da teoria neoinstitucional
Paradoxo Explicacao do Paradoxo
1. Conformidade A diferenciacao suporta vantagem competitiva,
x mas a conformidade as pressoes sociais gera
Diferenciacao legitimacao, recursos e vantagem competitiva.
A diferenciacao possibilita um espaco maior
de alavancagem sobre a concorrencia;
entretanto, quando a inovacao e copiada pelo
mercado, cai-se em um mimetismo. A
conformidade reduz consideravelmente o
diferencial inovador, mas garante em maior
nivel o status legitimador, o que redunda em
facilidades na aquisicao de recursos e melhor
relacionamento com os stakeholders,
caracteristicas traduzidas em vantagens
competitivas.
2. Isomorfismo As vantagens competitivas sao suportadas pela
x heterogeneidade dos recursos, mas, mediante o
Heterogeneidade isomorfismo institucional, adquire-se mais
acessibilidade aos mesmos recursos, elevado
grau de legitimacao e vantagens competitivas.
Assume-se o isomorfismo pela otica
neoinstitucional como um conjunto de
processos oriundo de inter-relacionamentos
dos contextos organizacionais com os
institucionais. Logo, a emancipacao de uma
vantagem competitiva e explicada em duas vias
pela institucionalizacao: isomorfismo e
homogeneidade; estes sao avessos a
heterogeneidade predominante na visao baseada
em recursos. O isomorfismo admite que o
suprimento de recursos se da de forma
equivalente (igualitaria), logo, a competicao
e a diferenciacao sao reduzidas, enquanto a
visao baseada em recursos apenas aceita a
variacao nos recursos. Embora exista tal
contradicao, ressalta-se que a teoria
institucional viabiliza a explicacao da
homogeneidade, isomorfismo e heterogeneidade,
fatores diretamente relacionados ao fator de
mais-valia organizacional.
3. Legitimacao A constante busca de maiores qualificacoes em
x eficiencia permite que alguns dos interesses
Eficiencia dos stakeholders nao sejam direcionados para
a reducao de legitimacao; a legitimacao,
porem, prescinde de eficiencia nos
procedimentos de difusao, e esta, por sua
vez, necessita de legitimacoes resultantes do
sucesso do relacionamento entre os diversos
stakeholders. A contextualizacao de pressoes
tecnicas e institucionais permite as empresas
procurarem por mais eficiencia e, tambem,
legitimacao, por assim promoverem a
identificacao e satisfacao das necessidades
de tais colaboradores. e imprescindivel
elucidar a importancia da responsabilidade
social corporativa, que deve ser gerenciada e
exercitada pelas empresas.
4. Mudanca O gerenciamento da mudanca e representativo
x fundamental da teoria neoinstitucional. O
Inercia velho institucionalismo nao vislumbrava a
possibilidade de mudancas adaptativas, uma
vez que enaltecia a inercia e persistencias,
e negligenciava a atuacao gerencial ao
assumir uma passividade organizacional
ressaltada pelo determinismo do contexto
institucional. Admoesta-se, entao, que o
ambiente institucional e fator limitante do
agir organizacional, porque exige
conformidade e aceitacao, caracteristicas que
enclausuram a organizacao em um isomorfismo
institucional, o qual retraira suas
habilidades mercadologicas. Ja o
neoinstitucionalismo preocupa-se com a
constante interacao entre instituicoes e
organizacoes, ou seja, com os processos de
adaptacao, por meio dos quais as pressoes
institucionais alternam-se continuamente.
Pela otica da nova teoria, a mudanca
institucional e um reflexo de acoes
organizacionais e dinamicas no contexto do
tempo.
5. Instituicoes A preocupacao crescente em conferir validacao
x ao status social empresarial bem como a busca
Organizacoes por satisfazer exigencias socioeconomicas
caracterizam a imprescindibilidade de
analises institucionais nos diversos tipos de
organizacao. Tal conjecturacao cede espaco a
afirmativa de que a teoria neoinstitucional
possui um carater extremamente contributivo,
em face do desafio de analisar, com a devida
enfase, os comportamentos dos atores
considerados como classicos. Emerge entao o
conceito de gerenciamento simbolico, inerente
aos preceitos de responsabilidade social,
confianca, desempenho e etica. Logo, quanto
mais a linha do tempo de desenvolve, maior a
conscientizacao organizacional sobre a
importancia de reter o apoio social de suas
principais fontes de recursos vitais.
Fonte: Adaptado de FERNaNDEZ-ALLES e VALLE-CABRERA, 2006.