The dialectical criticism in the Brazilian way: approaches between Roberto Schwarz and Theodor Adorno/A critica dialetica a brasileira: aproximacoes entre Roberto Schwarz e Theodor Adorno.
Crocco, Fabio Luiz Tezini ; Fogal, Alex Alves ; Araujo, Barbara del Rio 等
Introducao ao metodo critico de Adorno e Schwarz
Roberto Schwarz, em entrevista intitulada Sobre Adorno (2012), discute, a partir do intelectual alemao, a importancia e a atualidade da critica literaria como reflexao da forma artistica mediada pela realidade social e historica. Questionado sobre a atualidade no pensamento de Adorno, Schwarz elenca tres elementos principais. No primeiro deles, apresentado de modo indireto, afirma que o teorico alemao buscou refletir sobre a crise de sua atualidade, alem de discutir a 'perda de atualidade' no 'centro da critica estetica' (Schwarz, 2012) praticada no inicio do seculo XX. O segundo elemento aborda a capacidade de Adorno promover a critica dialetica e, portando, mediada, do fascismo, do stalinismo, da industria cultural, do capitalismo tardio etc., enquanto processos de uma intensa fetichizacao vivenciada naquele momento e que, na opiniao de Schwarz, 'resistiu ao tempo' (Schwarz, 2012). E, por fim, o que foi elencado como mais atual em Adorno foi "[...] sua atitude de critico, inteiramente aberto, atentissimo, e sobretudo movido pela ambicao mais alta possivel" (Schwarz, 2012, p. 45). Assim, a partir de uma analise retrospectiva da obra e do esforco intelectual de Schwarz, nota-se que esse ultimo fator, considerado por ele proprio o mais atual, foi tambem sua ambicao e meta.
Diante da enunciada excepcionalidade critica de Adorno, evidencia-se uma caracteristica fundamental presente no percurso teorico de Schwarz, a saber, a critica dialetica aplicada a analise da
[...] linguagem artistica, bem como a necessidade de interpreta-la em linguagem comum, numa operacao ao mesmo tempo espontanea, decifradora e reflexiva (Schwarz, 2012, p. 46).
Alem disso, a postura adorniana presente em Schwarz o impele, na periferia do capitalismo, a
[...] procurar saber do que as formas falam, reagindo a elas como expressoes da sociedade contemporanea no que esta tem de mais problematico e crucial [...] (Schwarz, 2012, p. 46),
e, por fim, assim como o alemao, interpretar a forma literaria "[...] como a historiografia inconsciente de nosso tempo" (Schwarz, 2012, p. 46).
Em sua filiacao ao pensamento materialista e dialetico, Schwarz esteve continuamente em dialogo, direta ou indiretamente, com a teoria de Adorno, na tradicao marxista alema, e com seu mestre uspiano Antonio Candido, na critica literaria brasileira. Este, nas palavras de Schwarz, desenvolveu uma ideia de forma paralela e independente a de Adorno, que o antecedeu temporalmente (Schwarcz & Botelho, 2008). O mestre brasileiro, que tanto influenciou Schwarz, consagrou-se pela originalidade em desenvolver uma "[...] nocao materialista da forma literaria [...]" (Schwarz, 2012, p. 48), em que procura articular a forma literaria a apreensao historica. A forma artistica e o metodo critico elaborado por Candido para desvela-la foram resumidamente expostos por Schwarz em sua entrevista:
A forma--que nao e evidente e que cabe a critica identificar e estudar--seria um principio ordenador individual, que tanto regula um universo imaginario como um aspecto da realidade exterior. Em proporcoes variaveis, ela combina a fabricacao artistica e a intuicao de ritmos sociais preexistentes. De outro angulo, tratava-se de explicar como configuracoes externas, pertencentes a vida extraartistica, podiam passar para dentro de obras de fantasia, onde se tornavam forcas de estruturacao e mostravam algo de si que nao estivera a vista. Tratava-se tambem de explicar como a critica podia refazer esse percurso por sua vez e chegar a um ambito atraves do outro, com ganho de conhecimento em relacao a ambos. O vaivem exige uma descricao estruturada dos dois campos, tanto da obra como da realidade social (Schwarz, 2012, p. 48).
Schwarz prossegue na linha critica de seu professor, consagrando-se como seu herdeiro teorico mais ilustre. Em seu ensaismo, dotado de reflexao sobre a forma artistica e a realidade social, a dialetica se faz presente nao apenas na mediacao da forma e do conteudo, a fim de esclarecer a peculiaridade da experiencia brasileira, mas tambem da forma artistica em uma nacao periferica em relacao a experiencia cultural europeia (especificamente, a tradicao alema). Assim, a analise estetica e social do Brasil nao e vista nem como pura linearidade a partir do centro, nem independente de suas formas e de seus ambiciosos metodos universais. Nesse sentido, Schwarz aponta que
[...] o que ha entre as formas sociais da periferia e do centro e uma relacao de discrepancia e de complementaridade, capaz de evoluir, mas que nao e contingente nem tende a se dissolver em igualdade (Schwarz, 2012, p. 49).
Diante das mediacoes entre centro e periferia, igualdade e diferenca, distancia e proximidade, a perspectiva intelectual e critica de Schwarz foi construida tambem de forma dialetica. Em suas palavras:
Assim, quando me impregnei do sentimento livre e heuristico da forma cultivado por Adorno, foi sobre a base de um esforco de conhecimento em curso no Brasil, deliberadamente coletivo, bastante afastado das premissas dele, esforco que procurei prolongar (Schwarz, 2012, p. 50).
Diante desse esforco e movimento intelectual, Schwarz desenvolve uma critica inserida no realismo, a partir da qual procura analisar as obras esteticas, a fim de compreender seus meandros formais e de fazer descobertas sobre a sociedade. Nesse sentido, dentre as caracteristicas que delimitam sua proximidade e reverencia a Adorno, esta o anseio do critico alemao em promover uma analise interna e fechada da obra de arte com finalidade estetica e extraestetica. Ou seja, a partir da forma inerente a obra, refletir sobre cultura e sociedade, ou ainda, articular a analise estilistica com a reflexao historico-social (Schwarcz & Botelho, 2008).
De maneira especifica, Adorno procura realizar uma critica estetica imanente e, consequentemente, analisar a estrutura interior das obras artisticas nas profundas articulacoes entre tecnica e contradicoes sociais, a fim de desvelar caracteristicas do 'espirito objetivo' do momento historico (1). Metodologicamente dialetica, a critica imanente adorniana procura respeitar a autonomia da obra de arte em sua distancia essencial e irredutivel a realidade empirica e, tambem, considerar sua caracteristica sociohistorica. Embora Adorno aponte, ao analisar a primeira metade do seculo XX, que a autonomia da arte tenha sido abalada
[...] a medida que a sociedade se tornava menos humana [...], ele tambem afirma que, apesar desse fato social e historico, [...] sem duvida, a sua autonomia permanece irrevogavel (Adorno, 1993, p. 10).
Ao propor a critica imanente e a importancia da distancia da arte em relacao a realidade imediata, demonstrada pela defesa da autonomia da arte, vale ressaltar que Roberto Schwarz pactua com Adorno na analise da regressao estetica caracterizada pelo Realismo Socialista (Schwarcz & Botelho, 2008), caracterizado, por sua vez, especialmente, pela teoria do reflexo. Esse tema foi polemizado pelas discussoes sobre o metodo realista da estetica literaria e motivo, apontado por Nicolas Tertulian (2010), da 'reconciliacao impossivel' entre as perspectivas de Adorno e Lukacs (2). O impedimento dessa reconciliacao e sublinhado pela "distancia do mundo empirico" e pela "negacao determinada do real imediato", defendidas por Adorno e que, segundo sua teoria estetica, sao elementos "sine qua non da criacao artistica" e a partir dos quais "ele se ve habilitado a recusar com tanto vigor a 'teoria do reflexo'" (Tertulian, 2010, p. 105). Ao discutir essa polemica, Nicolas Tertulian analisa como a dialetica da relacao sujeito-objeto aparece na critica estetica de Adorno e, assim, se distancia da proposicao do reflexo:
Ele faz questao de frisar que o sujeito que se objetiva na obra de arte nao e o demiurgo, o ser em si, soberano e auto-suficiente do qual falava a teoria classica da arte. A subjetividade que se exprime na obra de arte lhe aparece como uma cristalizacao final de experiencias sociais multiplas, que se decantam nos movimentos mais intimos da obra e se sedimentam de maneira duravel em sua forma ou sua tecnica. [...] mergulhando na interioridade da obra, na qual vislumbra respeitar rigorosamente a autonomia monadologica, [...], a critica visa a "decifrar" como o sujeito lirico ou o sujeitocompositor absorve e figura naquilo que parece ser o movimento autarquico da obra, as contradicoes sociais da epoca (Tertulian, 2010, p.105-106).
Logo, a critica de Adorno foi motivada essencialmente pela interpretacao de que, na teoria do reflexo, ha uma vinculacao muito direta e sem as devidas mediacoes entre arte e realidade objetiva (3). Na perspectiva do alemao, essa postura comprometeria a dialetica da forma artistica, pois o reflexo nao levaria em conta, com as devidas proporcoes, a distancia e as mediacoes nem sempre claras e lineares existentes entre o sujeito criador e o objeto criado esteticamente. Assim, ao promover sua critica feroz e radical, Adorno "[...] nao hesitou ao falar em 'materialismo vulgar obstinado' que caracterizaria a [...] arte como 'reflexo da realidade objetiva'" (Tertulian, 2010, p. 104-105).
Se, por um lado, Adorno empenhou-se em questionar o que considerava ser um vinculo direto e imediato entre forma e conteudo, entre arte e realidade empirica, por outro, a radicalidade de sua critica foi empregada para protestar contra o puro formalismo. Nessa perspectiva estetico-teorica, a arte e basicamente representada pela soma e associacao dos elementos formais que a compoem, estando, assim, distante dos conteudos da realidade, dos elementos da objetividade. A mediacao formaconteudo e rompida diante da supervalorizacao da primeira, que, em evidencia, passa a caracterizar a essencia unica da arte. Aqui ha a perda da dialetica e a valorizacao da 'arte pela arte', da cultura separada das contradicoes da objetividade. A cultura e suas expressoes artisticas passam a dialogar consigo mesmas e a pairar desconectadas da materialidade. Nesse sentido, em sua critica enderecada aos formalistas russos com a finalidade de buscar as devidas mediacoes de cultura e sociedade, Adorno afirma que
[...] enquanto o espirito critico permanecer em si mesmo em uma contemplacao auto-suficiente, nao sera capaz de enfrentar a reificacao absoluta [...] (2001, p. 26).
A critica aos diferentes 'formalismos' tambem foi realizada por Schwarz ao considerar insuficiente a arte representar a si propria sem referencias objetivas. O autor brasileiro postula o formalismo como um
[...] termo confuso, que pensa designar pejorativamente a superestimacao teorica do papel da forma, quando talvez se trate, pelo contrario, de uma subestimacao. Com efeito, os formalistas costumam 'confinar' a forma, enxergar nela um traco distintivo e privativo, o privilegio da arte, aquilo que no campo extra-artistico nao existe, razao por que a celebram como uma estrutura sem referencia [...]. A comparacao mais relevante contudo se faz com o estruturalismo de inspiracao linguistica. Salvo engano, ao adotar o ideal de cientificidade e o tipo de estrutura elaborado por essa disciplina, a critica literaria incorpora um modelo indiferente a aspectos decisivos de seu objeto (Schwarz, 1999, p. 31, grifo do autor).
Apesar de se voltar para o problema em um contexto periferico, as consideracoes de Schwarz aproximam-se das prerrogativas da dialetica adorniana e afastam-se de uma relacao imediata entre forma e conteudo, assim como questionam o isolamento da forma em relacao a objetividade. Portanto, conforme Schwarz, [...] nao custa lembrar que, embora feito de palavras, este ultimo [o objeto artistico] nao funciona como uma lingua, pois e um artefato singular, obra de um individuo em face de uma situacao artistica, social etc. (1999, p. 31).
Assim, devido a centralidade do tema, passemos agora a analise da concepcao dialetica promovida pelos dois autores.
Desenvolvimento: a dialetica radical e negativa
Conforme vimos acima, a concepcao de forma estetica que da lastro ao raciocinio dos dois autores nao se presta a formulacoes faceis e, muito menos, definitivas. Isso se da porque, em suas reflexoes, o movimento dialetico e empregado em sua voltagem maxima, estimulando a coexistencia plena de contrarios. Nesse sentido, deixa de ser apenas um conceito nominal e se apresenta como exercicio da astucia do pensamento, cujo objetivo principal e superar algumas das dicotomias centrais do mundo moderno, por exemplo, entre pensamento e ser, ou entre sujeito que conceitua e objeto a ser conceituado. A meta e atingir a totalidade sem perder a riqueza dos matizes. Logo de inicio, percebe-se que estamos distantes de qualquer determinismo ou reducionismo, ao contrario do que professam as mais comuns--e equivocadas interpretacoes sobre a critica dialetico-materialista. Consequentemente, torna-se importante buscar entender e especificar o que esta em jogo quando se fala em dialetica nas obras de Theodor Adorno e Roberto Schwarz, pois, segundo nossa compreensao, isso e de grande valia para elucidar os pontos de aproximacao entre eles e suas posicoes no cenario do pensamento marxista sobre estetica.
Na perspectiva dos dois autores, o exercicio da dialetica e inseparavel do compromisso com a critica radical e a negatividade, uma vez que a coalescencia dos contrarios torna-se mais produtiva do que a ideia de sintese. Esse modo de compreensao tera grandes implicacoes no modo como o filosofo alemao e o critico brasileiro pensam a nocao de forma estetica.
No caso de Adorno, por exemplo, a dialetica negativa e uma maneira de desviar o pensamento do sujeito da trajetoria de sua logica, no sentido de fraturar uma certa natureza projetiva da relacao do Eu com o objeto. Isso implica dizer que, no estudo das composicoes artisticas, deve-se colocar em questao a atuacao de um Eu absoluto, capaz de realizar sinteses egoticas e organizar a propria experiencia. De acordo com essa linha de interpretacao, nao e o artista que funciona como elemento de mediacao entre os elementos historicos sociais e a configuracao formal da obra. A mediacao deve ocorrer na propria forma, capaz de assimilar, em sua dinamica, aquilo que ate entao lhe era externo. Devido a isso, quando a forma artistica atinge realizacao plena--nos casos das grandes obras--, deixa de ser apenas forma pura, pois em seu interior funcionam tambem dispositivos historicos, assim como o seu conteudo nao se restringe mais a fatos sociais ou pano de fundo historico, pois passa a funcionar como dispositivo artistico. Segundo a concepcao adorniana, tudo deve se dar sem imediatismo, baseando-se no principio da nao identidade. Partindo de alguns pressupostos de Hegel (4), o pensador alemao nos aponta as bases para a constituicao de uma dialetica livre do momento positivo da sintese:
[...] a disciplina da coisa triunfa no momento em que as intencoes do sujeito se desfazem no objeto. A decomposicao estatica do conhecimento em sujeito e objeto, tao propria a logica da ciencia hoje tacitamente aceita; aquela teoria residual da verdade, segundo a qual e objetivo o que permanece apos a eliminacao dos assim chamados fatores subjetivos, e exposta em sua vacuidade pela critica hegeliana. Por isso o golpe e tao fatal, pois ele nao opoe a ela nenhuma unidade irracional de sujeito e objeto, mas preserva os momentos distintos do subjetivo e do objetivo, que sempre foram diferenciados um do outro, e compreende-os novamente como mediados um pelo outro (Adorno, 2013, p. 78).
Nota-se que a dialetica esta longe se ser um mero arremedo teorico irrefletido, e sim se constitui como instancia de critica permanente, onde as diferencas sao mantidas sem que se perca de vista a totalidade e a objetividade do raciocinio. E exatamente esse o principio que rege a formulacao critica do pensador sobre a arte, conforme se observa na principal obra que dedica ao tema, a Teoria Estetica:
As obras sao vivas enquanto falam de uma maneira que e recusada aos objetos naturais e aos sujeitos que as produzem. Falam em virtude da comunicacao nelas de todo o particular. Entram assim em contraste com a dispersao do simples ente. Mas precisamente enquanto artefactos, produtos do trabalho social, comunicam igualmente com a empiria, que renegam e da qual tiram seu conteudo. A arte nega as determinacoes categorialmente impressas na empiria e, no entanto, encerra na sua propria substancia um ente empirico. Embora se oponha a empiria atraves do momento da forma--e a mediacao da forma e do conteudo nao deve conceber-se sem a sua distincao--importa, porem, em certa medida e geralmente, buscar a mediacao no fato da forma estetica ser conteudo sedimentado (Adorno, 1993, p. 15).
Conforme se ve, a dialetica proposta por Adorno busca prolongar o quanto for possivel o momento da Aufhebung, ou superacao. De acordo com essa proposta, o conceito de mimese deixa de ser entendido como instante de pura acomodacao ou imitacao e se torna um dispositivo de mediacao por meio dos extremos, a internalizacao das relacoes de oposicao.
De modo bastante especifico e independente, e o que faz Roberto Schwarz em sua trajetoria critica no Brasil. Assim como no caso do filosofo alemao, a dialetica, para Schwarz, nao pode ser concebida simplesmente como a tentativa de assentar opostos em uma logica sintetica. Um primeiro modo de visualizar isso, em termos mais gerais, e pensar o esforco do critico brasileiro em adaptar conceitos e esquemas interpretativos proprios do pensamento marxista europeu ao contexto de uma modernidade periferica, como a de nosso pais. Ou, em suas palavras, enfrentar com "[...] espirito livre as dificuldades que a experiencia brasileira opunha aos esquemas marxistas" (Schwarz, 2012, p. 283). Tratase de focalizar um pouco menos o 'Realismo', tal como formado no plano europeu, como forma geral, e se dedicar ao 'realismo', especifico, "[...] tingido por nossa realidade" (Waizbort, 2007, p. 56). E por meio dessa logica interpretativa que Schwarz identifica em A Mao e a Luva, de Machado de Assis, um 'realismo cinico' que avanca na reflexao sobre a realidade, mas ainda se encontra ideologicamente atrelado ao paternalismo (Schwarz, 2000a, p. 108-109). Assim, enquanto o realismo de um escritor como Honore de Balzac (1971) se encontra em consonancia com os rumos do mundo burgues, calcado na impessoalidade e na esfera do dinheiro autonomo, no romance de Machado, o movimento e de recuo, pois o nucleo dramatico de seus romances ainda se encontra estagnado nas relacoes de dependencia pessoal. Pode-se dizer que o realismo do escritor fluminense nao se configura por meio dos mesmos principios que o do romancista frances, entretanto ambos possuem teor de verdade. Em suma, Schwarz nos mostra que tudo aquilo que realca e caracteriza o realismo de Balzac
[...] esta presente, em negativo, em Machado de Assis. Um movimento em sentido inverso foi o que possibilitou a Machado figurar a sociedade como contradicao (Waizbort, 2007, p. 59).
Pode-se ver que a nocao de negatividade e a forca motriz do raciocinio, pois e a partir dela que Roberto Schwarz nos aponta que nao e porque sintetiza as linhas gerais do Realismo europeu que a forma romanesca machadiana e realista. Contraditoriamente, e porque consegue escapar a elas. Se a estrutura das sociedades nao e correspondente, isso tera implicacoes na forma estetica, que nao e um simples jogo de discurso.
Percebe-se que o raciocinio de Schwarz assume um claro compromisso com uma dialetica dos deslocamentos, cujo objetivo e se expor a multiplicidade e ao nao identico. Em um dos raros momentos em que fala da tarefa da critica dialetica de modo mais amplo--normalmente suas investidas estao direcionadas a um objeto especifico, bem dentro daquilo que reconhecemos como o perfil de um critico (5)--, o intelectual brasileiro nos ensina o seguinte:
Que a literatura faca parte da sociedade ou que se conheca a literatura atraves da sociedade e a sociedade atraves da literatura, sao teses capitais do seculo XIX, sem as quais, alias, a importancia especificamente moderna da literatura fica incompreensivel. Elas estao na origem de visoes geniais e dos piores calhamacos. Em seguida se tornaram o lugar-comum que sustenta a historiografia literaria convencional. Dentro desse quadro, o traco que distingue a critica dialetica, e que a torna especial, e que ela desbanaliza e tensiona essa inerencia reciproca dos polos sem suprimi-la. O que for obvio, para ela nao vale a pena. Se nao for preciso adivinhar, pesquisar, construir, recusar aparencias, consubstanciar intuicoes dificeis, a critica nao e critica (Schwarz, 2012, p. 287).
'Tensionar' e 'desbanalizar' sem suprimir. Eis aquilo que Schwarz coloca como estrategia para evitar o obvio e o lugar-comum. De acordo com esse ponto de vista, dialetica e reconciliacao nao sao sinonimos. Entretanto, evitar a sintese nada tem a ver com o desvario interpretativo dominante nos tempos de hoje; na verdade, consiste em buscar elementos de mediacao capazes de explicar a configuracao do real, que e complexa e fugidia. Assim, conforme aponta Adorno em sua Dialetica Negativa, o objetivo e libertar a dialetica de sua natureza afirmativa--reforcada pela metafisica platonica--sem perder nada em 'determinacao' (Adorno, 2009). Em outras palavras, a relacao entre dois elementos que nao sao identicos pode muito bem sofrer a mesma determinacao, como e o caso da forma estetica. A forma de um romance nao e sociedade e historia, e nem se pode afirmar o contrario. Nao obstante, ambas estao determinadas pela dinamica do mundo capitalista.
Consideracoes finais da critica literaria dialetica na periferia do capitalismo
A critica de Roberto Schwarz, pautada no potencial materialista, revela um modo particular de compreender a cultura nacional. Buscando pensar os problemas do Brasil e a composicao literaria pela chave dialetica, conseguiu, em seus textos, mostrar como muitas vezes a forma estetica e contraditoria e, por isso, reveladora, ja que, na ambiguidade, acaba por apontar para elementos nao previstos pelo artista, mas que sao historicamente situados, demonstrando que a invencao nao e totalmente arbitraria (Schwarz, 1999).
Para comprovar esse raciocinio, basta visitar a analise desenvolvida por ele sobre a poesia Oswaldiana, a qual manifesta uma forma poetica de ver o Brasil para alem do ponto de vista do autor: diante do programa modernista e do contexto de modernizacao, Oswald de Andrade (1974) propoe a atualizacao da literatura nacional. A despeito da sua consciencia critica, o poeta assinala o horizonte ditado pela universalidade, abrindo caminho para a generalizacao, procedimento proprio a fabricacao industrial e a luta de classes. De modo irreverente, as vanguardas sao colocadas e a situacao brasileira e representada sob a egide da libertacao, do espirito progressista e antropofagico. Schwarz, na sua potencialidade de analise, mostra, contudo, que, no esvanecimento dessa bruma esoterica, existe a reproducao de uma dinamica tipica da sociedade brasileira, que se manifesta na forma estetica para alem das vontades autorais. Nesse aspecto, retomando a maxima adorniana, ele afirma: a ideologia nao mente pela aspiracao que expressa, mas pela afirmacao que tenha realizado (Schwarz, 1987).
Utilizando o poema oswaldiano 'Pobre animalia' (1974), o critico revela que o modernismo brasileiro saiu incolume e seu triunfo tem a ver com a dinamica historica nacional de conciliacao da modernizacao com o atraso. Essa perspectiva e trabalhada de modo diverso em outros artigos, mas o ensaio sobre Oswald, embora pouco frisado, marca incisivamente como a forma poetica pode ser critica: nele, Schwarz mostra a juncao do Brasil-colonia e do Brasil-burgues a expressar relacoes que soam como libertarias e igualitarias, embora os papeis sociais sejam sempre bem definidos, ratificando o sentido da colonizacao no processo de insercao do pais ao progresso tecnologico e industrial. Trata-se de uma alegoria do atraso nacional, transpassada pelo vezo do otimismo e da euforia, de uma linguagem obtida atraves do mais surpreendente e heterodoxo meio formal; liberdade, antitradicionalismo e irreverencia, que operam junto as vanguardas esteticas e captam o presente a despeito do programa do autor.
O jogo das imagens e a preocupacao experimentalista podem ser vistas a luz materialista, como propoe o critico, na medida em que a diferenca aparece: Pobre animalia apresenta a coexistencia entre, de um lado, o bonde, o motorneiro e os trilhos; de outro, o cavalo, a carroca e o carroceiro. A vitoria e do bonde, que seguira seu caminho, contando, para isso, com a postura ambigua do motorneiro, que toma para si a pressa dos advogados, ainda que pertencesse a classe do carroceiro. O uso do imperfeito do subjuntivo na sua fala mostra a origem ambivalente, assim como o verbo sem sujeito que oculta a classe popular, revelando, contudo, a servico de quem ela se colocava. A materialidade salta aos olhos na dinamica hierarquica que o poema estetiza: enquanto o carroceiro julga e castiga o pobre animalia, apoiado nos advogados, o motorneiro tem um vezo de classe e desconta no carroceiro e esse, por sua vez, no animal. Schwarz vai alem e mostra que esses advogados agem assim, endossados hierarquicamente por relacoes de favor, atestando que, embora inserida no mundo do progresso burgues, arrastam vezos personalistas e de cordialidade, advindos do ancien regimen.
Os desvios minimos do poema, como o subjuntivo utilizado pelo motorneiro, o trabalho sem sujeito reconhecido, o termo advogado no plural contrastando com trilho no singular, esbocam uma consciencia forte e imprevista de ressentimento e luta de uma sociedade contraditoria, alegoria do pais burgues e nao burgues. Schwarz conseguiu ver, nas coordenadas incongruentes do estilo, a consciencia historica, elucidando questoes formais e tambem reais. O passado da carroca nao e dissipado ou rompido, mas depurado e rearranjado dentro de uma perspectiva inventiva ao presente. A irreverencia da circunstancia presta reverencia a um panorama antigo, que funciona de modo a acomodar os setores da sociedade.
O humor traduzido sob a pecha do sarcasmo e da ironia foi tambem desvendado por Schwarz na narrativa machadiana. Alias, o critico conseguiu associar a dinamica irreverente e voluvel do narrador a representacao do favor e privilegio das relacoes classistas. Em Memorias Postumas de Bras Cubas, a negatividade dessa dinamica e sublimada em troca da jocosidade do narrador, cujo desabuso parece galhofaria, mas esta intimamente atrelado a mobilidade que pertence a sua classe social. Bras Cubas narra suas memorias de modo voluvel e esse seu estilo transpoe as relacoes sociais na medida em que impoe seus interesses sobre os fatos, adotando posicoes insustentaveis que, entretanto, e de aceitacao comum. Nesse aspecto, revela-se, pela ousadia da forma literaria, a dominacao remanescente a despeito de toda mudanca progressista, instaurada em um sentimento de normalidade. O tom de abuso deliberado, a invasao e manipulacao do curso narrativo, e a retorica revelam um sujeito que assinala os proprios meritos, desmerecendo os outros, alem de rir do seu carater desfrutavel, comportando-se como quem da a ultima palavra e conduz todo o processo, cuja base e o conservadorismo e a manutencao dos aspectos arcaicos das relacoes:
[...] a volubilidade e uma feicao geral a que nada escapa, sem prejuizo de ser uma tolice bem marcada, de efeito localista e atrasado. Ora ela funciona como substrato e verdade da conduta humana, contemporanea inclusive, que so nao reconhecem os insanos, ora como exemplo de conduta ilusoria, um tanto primitiva, julgada sobre fundo de norma burguesa e utilizada como elemento de cor local e satira. Esta incerteza de base, longe de ser um defeito, e um resultado artistico de primeira forca, que da a objetividade da forma a uma ambivalencia ideologica inerente ao Brasil de seu tempo (Schwarz, 2000b, p.45-46).
Dotadas de senso historico, as criticas desenvolvidas por Schwarz identificam o estilo e a forma estetica nacional, percebendo nelas potencialidade para compreender os moldes historicos locais. As duas situacoes estao presentes de modo complexo: observacao do dado local e insercao na dinamica universal, advinda da Europa. Nesse aspecto, entende-se a literatura brasileira como autonoma, mas que compartilha da situacao periferica ao capitalismo, tendo como matriz formal a Europa, mas que decalca e sedimenta seu conteudo em vista do contexto desviante. Nao ha aqui elogio ao atraso, ao contrario, evidencia-se como cultura nacional que compartilha da experiencia moderna de modo complexo e negativo. O entusiasmo e a jocosidade na poesia de Oswald ou na prosa machadiana dizem muito das nossas tendencias rurais atrozes, nosso provincianismo, que, dando a tudo um ar de piada, oferece uma chave da interpretacao critica para entender o comportamento das hierarquias do cafe, fruto da cominacao cosmopolita com o conservadorismo das relacoes coloniais, a disposicao agricola com o progresso.
De fato, a forma estetica mostra que estamos inseridos no panorama pelo desajuste, pela excecao a regra; nesse sentido, o problema tem feicao local, mas nao somente, pois sustenta um desajuste de ordem maior a envolver as realidades economicas conformadas pelo capital. Nesse contexto, a forma estetica, inscrita nesse complexo de relacoes que traduzem a ordem de um capitalismo globalizado, representa a pressao que o colapso de uma modernizacao atrasada exerce na burguesia local. A interpretacao da obra literaria se realiza na leitura do texto sobre fundo real e no estudo da realidade sobre fundo literario, no plano das formas mais que dos conteudos: ler uma na outra, a literatura e a realidade ate encontrar o termo de mediacao (Schwarz, 1987).
Schwarz busca dialeticamente chegar a estrutura de estruturas, a forma de formas, isto e, a incorporacao de uma forma de vida real que foi acionada no campo da imaginacao e da arte. Desse modo, a estetica depende da objetividade e da historicidade das formas sociais e, dentro da tradicao alema, ao contrario das tendencias formalistas e posestruturalistas, a forma nao e somente linguagem ou um constructo sem realidade propria: conteudos do romance nao sao conteudos reais e ve-los esteticamente e ve-los no contexto da forma, a qual, por sua vez, retoma (elabora ou decalca) uma forma social, que se compreende em termos de movimento da sociedade global (Schwarz, 1987).
Se o assunto das conexoes entre arte e sociedade e algo obvio, a determinacao das suas estruturas nao e; pensando nisso, o critico tenta determinar o lugar da realidade dentro da ficcao e o lugar da ficcao dentro da realidade. A posicao dialetica e dificil, pois a separacao dessas esferas nao e so ideologia, mas estrutura, que traveste um processo real e especifico. E inegavel que, no estudo sobre a importacao do modelo romanesco e sua adaptacao ao Brasil, Schwarz demonstra a contribuicao dialetica adorniana em seu pensamento, ao afirmar que o momento social da obra faz parte de sua estetica. Alem disso, busca a mediacao entre as relacoes entre arte e sociedade, compreendendo a especialidade da composicao, de fundo e de forma, do fenomeno literario na periferia do capitalismo, que se da de modo complexo e negativo. Para ele, as formas culturais estao inscritas nessa troca entre o capitalismo global e as respostas locais aos discursos de globalizacao. Na linha de raciocinio do ensaista,
[...] o mundo do arbitrio (que e o nosso), desqualificado pelo confronto com a norma burguesa e europeia, e testemunha viva da relatividade desta (Schwarz, 1981, p. 50, grifo nosso).
Pode-se dizer que a discussao sobre forma em Adorno, que seria o conteudo social sedimentado, ganha mais dinamismo, direcionamento e atualizacao com o trabalho de Roberto Schwarz, na medida em que ele percebe a transfiguracao da forma para uma moldagem peculiar, filtrando o modelo dialetico adorniano para as novas circunstancias. Ele herda, mas nao furta; assim, o que ocorre com a forma estetica na sua adaptacao local ocorre tambem com a forma critica, que se reinventa para dar conta do nacional, percebendo com mais agudeza as contradicoes do mundo moderno, limites e falhas do sistema (Waizbort, 2007). Schwarz prestou diversas reverencias a tradicao critica marxista, sobretudo, a Adorno. Os ensaios deixam explicitos que o pensamento dialetico alemao foi ruminado com lentidao, configurando um logo percurso que estabelece um dialogo franco ate mesmo com a sua geracao, na figura de Antonio Candido. Entretanto, como aqui se tentou mostrar, ele cria a propria forma de compreender a forma artistica, que e particular.
Percebendo a dependencia especifica como produto critico, avaliamos o pensamento de Schwarz em comparacao ao de Adorno, garantindo e constatando a sua autonomia especifica. Assim como as formas culturais foram por ele desveladas na sua comunicacao entre o de dentro e o de fora, mostramos que ha uma forma diferenciada de o critico uspiano encarar o objeto, tornando-o inteligivel e legitimo. Roberto se firmou no panorama nacional ao deixar as tensoes da sociedade saltarem nos textos que produziu; colocou e expos o movimento do objeto e esse objeto, por sua vez, revelou a propria exposicao.
Doi: 10.4025/actascilangcult.v38i3.31154
Referencias
Adorno, T. W. (1993). Teoria estetica. (Artur Morao, trad.). Lisboa, PT: Edicoes 70.
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(1) Adorno, em seu ensaio Critica Cultural e Sociedade, escrito em 1949, ja apresentava seu procedimento imanente como elemento essencial de sua critica dialetica. Em suas palavras, "[...] para a critica imanente uma formacao bemsucedida nao e, porem, aquela que reconcilia as contradicoes objetivas no engodo da harmonia, mas sim a que exprime negativamente a ideia de harmonia, ao imprimir na sua estrutura mais intima, de maneira pura e firme, as contradicoes" (Adorno, 2001, p. 23).
(2) Talvez seja possivel dizer que a concepcao de mimesis presente na obra de Adorno seja um pouco diversa daquela que se observa nos estudos de Lukacs sobre estetica. A nocao lukacsiana de representacao mimetica talvez esteja mais proxima de "[...] um neoclassicismo arraigado na estetica realista do seculo XIX" (Frederico, 2004). Apesar de Lukacs ter reconsiderado alguns aspectos de sua reflexao nas obras do fim de sua vida, essa e a concepcao que mais marcou seus estudos sobre arte, o que, muitas vezes, dificultou a adocao de uma perspectiva lukacsiana ao se estudar obras cujos principios de composicao seguem outro padrao de representacao da realidade, como e o caso das producoes vanguardistas e de parte da tradicao artistica latino-americana, herdeira direta de um tipo de figuracao mais opaco e alegorico (Frederico, 2004). Ja nas reflexoes de Adorno, mimesis esta distante da ideia renascentista de imitatio, pois valoriza mais o teor de transfiguracao do que o de reproducao.
(3) Sobre a necessidade atenta da realizacao das mediacoes entre forma e conteudo, Roberto Schwarz afirma que "[...] as formas que encontramos nas obras sao a repeticao ou a transformacao, 'com resultado variavel', de formas pre-existentes, artisticas ou extra-artisticas. [...] o forte dessa nocao esta no "compacto heterogeneo de relacoes historico-sociais que a forma sempre articula", e que faz da historicidade, a ser decifrada pela critica, a substancia mesma das obras" (Schwarz, 1999, p. 31, grifo nosso).
(4) A relacao de Adorno com a dialetica hegeilana e tao complexa que renderia um estudo a parte daquele que este artigo propoe. Ele reconhece que Hegel, o idealista absoluto, foi um grande realista, um homem com rigoroso olhar historico. A categoria hegeliana de totalidade, por exemplo, pode ser colocada em sintonia com aquela que se observa no melhor da tradicao marxista, visto que somente existe como a "[...] quintessencia dos momentos parciais, que sempre apontam para alem de si mesmos e se produzem uns a partir dos outros" (Adorno, 2013, p. 75). Contudo, Adorno sabe tambem que a filosofia de Hegel permaneceu presa ao idealismo, pois apesar das criticas que dirige a Kant, defende a prioridade do Espirito enquanto tal, mesmo quando o sujeito, em cada nivel, se determina exatamente como objeto. "Como Fichte, ele procurou ultrapassar Kant sem sair do idealismo por meio da dissolucao, em uma posicao do sujeito infinito" (Adorno, 2013, p. 82).
(5) E interessante ressaltar como apreender conceitos e nocoes teoricas especificas em Roberto Schwarz se torna um trabalho minucioso. Seus estudos, apesar da densidade, nao se prestam a enfileirar conceitos ou citacoes, pois todas as leituras e ferramentas de que faz uso estao sedimentadas na propria reflexao que e construida. A montagem de seus ensaios se assemelha muito a perspectiva de Adorno em seu texto "O ensaio como forma" (Adorno, 2003, p. 15-46).
Received on February 28, 2016.
Accepted on April 29, 2016.
Fabio Luiz Tezini Crocco (1) *, Alex Alves Fogal (1) e Barbara del Rio Araujo (2)
(1) Centro Federal de Educacao Tecnologica de Minas Gerais, Unidade de Nepomuceno, Av. Monsenhor Luiz de Gonzaga, 103, 37250-000, Centro, Nepomuceno, Minas Gerais, Brasil. (2) Centro Federal de Educacao Tecnologica de Minas Gerais, Unidade de Contagem, Contagem, Minas Gerais, Brasil. * Autorpara correspondencia. E-mail: fabiocrocco@nepomuceno.cefetmg.br