Neste texto, busco pensar na atuação consciente do Estado ao produzir categorias sociais que sexualizam a raça e racializam o gênero nas políticas públicas para a promoção das culturas populares. Perscrutando os usos e os discursos em torno das categorias Miss Mulata e Miss Morena Cheirosa nas festas juninas de Belém, argumento que essas categorias falam acerca das interferências dos órgãos estatais e seus gestores culturais na produção de identidades étnico-raciais amazônicas. Além de atentar para os conteúdos textuais explícitos nos regulamentos dos concursos juninos, observo especialmente os seus silêncios quanto a questões referentes à raça, etnicidade e sexualidade. Tais silêncios não representam ausência de prescrições normativas, mas significam que a regulação dos corpos, sujeitos e performances permanece oculta nas entrelinhas dos discursos dos gestores culturais que fomentam ações voltadas para as culturas populares.