摘要:Tendo como ponto de partida os estudos sobre a circulação transnacional da literatura, pretende-se, neste artigo, desenvolver uma reflexão sobre a literatura brasileira no exterior. Mais precisamente, toma-se como foco o contexto francês, problematizando-se alguns obstáculos à circulação da literatura brasileira. O artigo baseia-se em entrevistas realizadas no âmbito de uma pesquisa de pós-doutorado, bem como em depoimentos de atores do mercado editorial, elegendo duas questões centrais como possíveis obstáculos. A primeira diz respeito aos estereótipos relacionados ao Brasil, e a segunda refere-se ao reconhecimento da literatura brasileira no espaço nacional como condição para sua legitimação no exterior. Como já observado em estudos recentes, a maior parte das obras brasileiras atualmente traduzidas são ficções de autores contemporâneos em plena atividade, alguns dos quais recém-ingressos no sistema literário nacional. O processo que resulta na seleção do autor e da obra a ser traduzida supõe uma cadeia de atores, um dos principais, no caso da literatura brasileira, sendo o agente literário, além do editor (tanto no Brasil quanto no exterior), do tradutor, das instituições oficiais (a exemplo da Fundação Biblioteca Nacional por meio de seus editais de apoio às traduções), entre outros. No que diz respeito aos processos de legitimação, uma vez traduzidas, essas obras encontram dificuldade em atravessar a barreira da invisibilidade e conquistar um reconhecimento internacional. Afinal, não basta ser traduzido; é preciso ser vendido, lido, comentado, enfim, “reescrito” (Lefevere). Os dois obstáculos explorados neste artigo esclarecem alguns aspectos desse processo, ainda que não esgotem a questão.