Literature, memory and identity in 'Infancia', by Graciliano Ramos/Literatura, memoria e identidade em 'Infancia', de Graciliano Ramos.
Kupssinsku, Catia Silene ; Saraiva, Juracy Assmann
Literature, memory and identity in 'Infancia', by Graciliano Ramos/Literatura, memoria e identidade em 'Infancia', de Graciliano Ramos.
Introducao
A literatura e terreno fertil para estudos interdisciplinares, ja
que ela conjuga um conjunto de saberes. Essa afirmativa se sustenta,
pois, para a tecitura da trama ficcional, o autor se vale de aspectos
historicos, sociais, culturais da epoca e do local nos quais a intriga
se deslinda. Assim, por serem representacao do real, os textos
literarios se consolidam como testemunho social e oportunizam ao leitor,
por meio da apreensao dos enunciados, um olhar sobre os individuos e sua
atuacao no ambito da sociedade. Todavia, a verossimilhanca das tramas
ficcionais se sustenta pela memoria que, na literatura, interliga
passado, presente e futuro carater tridimensional do tempo, descrito por
Santo Agostinho--que se conjugam na motivacao do ato criador, na
producao da obra e na leitura.
A memoria esta diretamente ligada a questoes identitarias, e estas,
ao se articularem com a literatura, estabelecem um espaco fecundo para a
aprendizagem, pois os leitores de uma obra ficcional tem o
distanciamento necessario do problema narrado na trama literaria, para
apreende-lo, criticamente, ainda que, para isso, devam aderir
sensorialmente, ao universo do 'como se'.
A literatura, portanto, por meio de seu carater ficcional, oferece
ao leitor um lugar entre a imaginacao literaria e a realidade do mundo,
o que lhe possibilita o reconhecimento de questoes sociais e do lugar do
proprio homem na sociedade. Dessa forma, ao mesmo tempo em que registram
sua cultura por meio de tramas ficcionais, ou se deixam cativar por
elas, os individuos sofrem sua interferencia na concepcao e
transformacao de suas identidades.
E a conexao entre literatura memoria e identidade que guia este
estudo, o qual toma como corpus a obra literaria 'Infancia',
publicada por Graciliano Ramos, no ano de 1954. A obra tem cunho
memorialistico por se tratar de uma autobiografia, na qual Graciliano
relata etapas vivenciadas em sua infancia, o relacionamento com pessoas
de seu circulo familiar e social e os espacos em que viveu, questoes
pertinentes para a concepcao da identidade desse sujeito do ato de
enunciacao.
O marco teorico, que fundamenta a analise indutiva da obra, e
amparado em constructos de Fernando Catroga (2001), Michael Pollak
(1992), Aristoteles (2005), Paul Ricoeur (1994), Kathryn Woodward
(2012), Antonio Candido (2004), autores que abordam temas pertinentes a
literatura, a memoria e a identidade.
Literatura, memoria, identidade
A producao e a fruicao literaria sao resultantes da necessidade
humana de vivenciar a ficcao e a fantasia. As obras ficcionais, ao mesmo
tempo em que proporcionam prazer por meio da leitura, contribuem para a
formacao da personalidade do individuo, ja que servem de instrumento de
"[...] reconhecimento do mundo e do ser" (Candido, 2004, p.
85). E por meio da possibilidade da apreensao do que esta nas
entrelinhas do enunciado, que o leitor se compraz, e este prazer se
transforma em aprendizagem (Aristoteles, 2005).
Portanto, a literatura tem a capacidade de confirmar a humanidade
do homem e em seu coracao tocar, pois ela fala sobre ele, ao mesmo tempo
em que nele interfere como individuo social. Para sustentar essa
argumentacao, e pertinente enfocar, previamente, questoes acerca da
memoria e da identidade e da literatura como representacao do real.
A constituicao da memoria e amparada na relacao do individuo a
acontecimentos, a pessoas (ou personagens) e a lugares (Pollak, 1992).
Os acontecimentos podem distinguir-se entre os "[...] vividos
pessoalmente" (Pollak, 1992, p. 201) ou "[...] vividos por
tabela" (Pollak, 1992, p. 201). Os acontecimentos experimentados
por tabela sao aqueles que nao sao vivenciados pessoalmente pelo
individuo, mas que ganham tal relevo que e dificil distinguir o
imaginario da realidade em que se fundamentam. A mesma regra se aplica
em relacao as pessoas ou personagens: algumas sao conhecidas
pessoalmente, fazem parte do cotidiano ou de etapas da vida de um
individuo, e outras pessoas ou personagens sao conhecidas por tabela, ou
seja, de forma indireta, mas sao percebidas com familiaridade por quem a
elas se reporta. Os lugares se relacionam a lembrancas pessoais, sem que
tenham necessariamente apoio no tempo cronologico, e podem ser
transferencias ou projecoes relacionados a diferentes eventos (Pollak,
1992).
A partir desse pressuposto, e possivel afirmar que a memoria--ainda
que pareca algo individual e intimo--e um fenomeno coletivo e social, o
qual e sub metido constantemente a flutuacoes, transformacoes e mudancas
(Pollak, 1992). Seu carater coletivo, inclusive na referencia a memorias
individuais, se da tambem pelo fato de que "[...] ninguem se
recorda exclusivamente de si mesmo" (Catroga, 2001, p. 45); alem
disso, a importancia da fidelidade, inerente a recordacao, instiga o
testemunho do outro. A presenca do outro, para constituir recordacoes,
institui-se de forma ativa, visto que algumas lembrancas pessoais sao
resultantes do relato alheio (Catroga, 2001).
A memoria, portanto, e um fenomeno que intercala lembranca e
esquecimento sendo, dessa forma, construida de maneira seletiva--em um
processo tanto consciente quanto inconsciente--o que faz dela uma
"[...] representacao afetiva" (Catroga, 2001, p. 46), uma
"[...] re-presentificacao" (Catroga, 2001, p. 46) feita no
presente, pautada no passado e que remete ao futuro (Catroga, 2001).
A experiencia vivida ou reconstituida pelo testemunho de alguem, as
marcas coletivas e a seletividade fazem com que a memoria tenha um
estreito vinculo com a sensacao de identidade do sujeito, sob a
perspectiva da constituicao da imagem de si para si e para os outros
(Catroga, 2001). Assim, as concepcoes identitarias sao elaboradas,
dentre outros fatores, por meio da memoria, a partir de construcao de
imagens pelas quais os individuos querem ser representados aos outros e
a si mesmos (Pollak, 1992). Por essa razao, as concepcoes identitarias
sao formadas e transformadas em momentos particulares no tempo e se
configuram como limites imaginarios cambiantes, os quais sao concebidos
a partir do confronto com o outro, com o diferente (Woodward, 2012).
As representacoes identitarias, em obras ficcionais, constroem-se
por meio da mimese e sao instituidas pelas acoes e pelos objetos que
compoem a trama, os quais correspondem aos caracteres, ou personagens
(1). A mimese (2) consiste na imitacao da acao humana (Aristoteles,
2005), sendo possivel reconhecer, nos implicitos do enunciado, tracos
identitarios das personagens, por meio da apreensao dos signos que se
vinculam as suas acoes.
E tambem por meio da mimese que a intriga e colocada em uma
sucessao temporal, agregando passado, presente e futuro (Ricoeur, 1994).
Esse posicionamento tem por base a 'Poetica' de Aristoteles, a
que se integra a reflexao de Santo Agostinho sobre o tempo, que resulta
no conceito da triplice mimese, pela qual o tempo humano ganha forma na
narrativa. Sendo assim, a narrativa une o tempo prefigurado, que e o
tempo da producao do autor, a um tempo configurado, que e o tempo
constituido no texto, e a um tempo refigurado, que e o tempo do leitor.
A eles correspondem, respectivamente, a mimese 1, a mimese 2 e a mimese
3 (Ricoeur, 1994).
A mimese 1, representa o momento da producao da obra pelo autor, no
qual o artista compreende como ocorrem as acoes humanas e quais os
significados que estas acoes tem. A pre-compreensao do autor se constroi
em tres elementos que passam a ser representados na narrativa: a acao em
geral e seus tracos estruturais, a mediacao simbolica e os caracteres
temporais. A acao e os tracos estruturais correspondem ao modo como a
narrativa e concebida, quais as circunstancias tempo-espaciais, quem sao
as personagens, quais os motivos que levam os agentes a agir, como as
personagens interagem umas com as outras. Esta fase, portanto, se refere
ao processo de criacao da narrativa que inclui a reflexao sobre o efeito
a ser causado no leitor, que considera o modo como os simbolos vao
interferir na relacao entre a trama e o leitor. A mediacao simbolica
funciona eficazmente em um texto literario quando o autor e os leitores
compartilham de uma mesma cultura, ja que os simbolismos se ancoram em
codigos culturais, que fornecem as regras para sua interpretacao
(Ricoeur, 1994).
A mimese 2 e o produto da mimese 1, ou seja, e a propria producao
poetica que media a reflexao do leitor sobre o mundo e o texto, processo
que se da na mimese 3 (Ricoeur, 1994). Esse e o tempo do leitor, pois
quando uma narrativa e lida, o proprio tempo e lido as avessas.
E por meio do ato de narrar que o homem consegue apreender seu
passado e projetar seu futuro a partir do tempo presente, fazendo com
que a narrativa permita a compreensao da circunstancia temporal de sua
propria vida. O homem rememora para recuperar o passado e prefigura o
seu futuro ao figurar o presente. Portanto, o presente leva o individuo
ao passado pela rememoracao, assim como o leva ao futuro por meio da
esperanca (Ricoeur, 1994).
Os apontamentos ate aqui referidos mostram a conjugacao entre
literatura, memoria e identidade, a qual, na pratica, e percebida na
obra literaria 'Infancia', que serve de corpus para este
estudo.
Um olhar sobre 'Infancia'
A obra literaria 'Infancia', de Graciliano Ramos, foi
publicada originalmente no ano de 1954, pela editora Olympio e consiste
na autobiografia do autor, o qual relata, em 39 capitulos distribuidos
em 316 paginas, a representacao de aspectos de sua vida, dos dois aos
doze anos de idade.
A crianca e o protagonista da obra, que tem como caracteristica
marcante seu carater memorialistico, de que decorre a convergencia entre
os limites da realidade e da ficcao. Esta composicao dual nao e assumida
explicitamente na narrativa, mas pode ser apreendida pelo leitor nas
entrelinhas dos enunciados, pois, em alguns trechos, e possivel entender
que nem mesmo o narrador sabe se sua recordacao condiz com a verdade,
como se percebe na seguinte passagem:
Desse antigo verao que me alterou a vida restam ligeiros tracos
apenas. E nem deles posso afirmar que efetivamente me recorde. O habito
me leva a imaginar ambientes, criar fatos a que atribuo realidade
(Ramos, 1980, p. 26).
A citacao, alem de apontar para o vies ficcional pelo qual a obra
tambem e constituida, corrobora o pensamento de Catroga (2001), que
afirma que a memoria e um fenomeno onde se intercalam lembranca e
esquecimento. A incerteza acerca das lembrancas do narrador e reafirmada
em varios momentos do texto, de forma intensificada em seu inicio,
possivelmente porque esse se situa em um periodo precoce da infancia,
dificilmente alcancado pela memoria.
O recorte temporal, em que iniciam as revelacoes, indica que essas
tambem se originam do testemunho de outras pessoas, porque, mesmo que
afirme que suas "[...] mais antigas recordacoes [...] datam desse
tempo" (Ramos, 1980, p. 12), Graciliano busca na memoria da mae a
referencia da propria idade, conforme mostra o trecho: "Que idade
teria eu? Pelas contas de minha mae, andava em dois ou tres anos"
(Ramos, 1980, p. 9-10).
A busca de referencias no testemunho do outro, tanto para a
constituicao como para a fidelizacao da memoria, e apontada por Catroga
(2001), e e constatada ja no primeiro paragrafo:
A primeira coisa que guardei na memoria foi um vaso de louca
vidrada [...]. Ignoro onde o vi, quando o vi e se uma parte do caso
remoto nao desaguasse noutro posterior, julga-lo-ia sonho. Talvez nem me
recorde bem do vaso: e possivel que a imagem [...] tenha ficado por eu
ter comunicado a outras pessoas que a confirmaram (Ramos, 1980, p. 9).
Por meio desses trechos tambem e possivel destacar o carater
coletivo da memoria--afirmado por Pollack (1992), mesmo na referencia a
memorias individuais--pois, na narrativa, Graciliano evidencia a busca
da fidelidade--inerente a recordacao--por meio da convergencia de suas
lembrancas com a de individuos e coisas que povoaram sua infancia:
[...] reuni pedacos de pessoas e de coisas, pedacos de mim mesmo
que boiavam no passado confuso, articulei tudo, criei o meu pequeno
mundo incongruente. As vezes as pecas se descolavam--e surgiam estranhas
mudancas. Os objetos se tornavam irreconheciveis, e a humanidade, feita
de individuos que me atormentavam e individuos que nao me atormentavam,
perdia as caracteristicas (Ramos, 1980, p. 20-21).
Alem de expressar a importancia dada as pessoas que intermediam, de
forma ativa, o resgate da memoria do narrador, bem como a concepcao de
sua identidade, o trecho relata as constantes flutuacoes, transformacoes
e mudancas, submetidas a memoria, questao evidenciada por Pollak (1992).
O destaque oferecido as pessoas e proporcional as referencias
feitas aos lugares em que acontecimentos importantes sao vividos. Desta
forma, o narrador se apropria, de forma integralizadora, de lugares,
pessoas e acontecimentos, apontados por Pollak (1992) como os tres
elementos que se associam a constituicao da memoria.
Os lugares descritos revelam que a trama acontece no nordeste
brasileiro, entre Alagoas e Pernambuco, onde mudancas de enderecos sao
vivenciadas pelo menino e sua familia. Ao abordar essa serie de
mudancas, o narrador revela que "[...] apareceram varios lugares
imprecisos e entre eles nao havia continuidade. Pontos nebulosos, ilhas
esbocando-se no universo vazio" (Ramos, 1980, p. 12), o que faz
referencia a propria imprecisao da memoria, mediante a qual a narrativa
e concebida.
Alguns locais sao mencionados vagamente, como uma cidadezinha em
Alagoas, onde o menino vive com a familia antes de irem para o sertao de
Pernambuco, ou como um acude lamacento, junto ao qual encontram pouso em
viagens. Outros lugares sao descritos com mais consistencia, como a
fazenda, situada no sertao de Pernambuco, onde o protagonista inicia a
narrativa de suas experiencias; a vila para a qual o menino e a familia
se mudam ao sairem da fazenda; a cidade de Vicosa, em Alagoas, na qual
ele perde alguns habitos antigos e adquire novos; a escola, onde
aprende, dentre outras coisas, a gostar de ler.
As pessoas ou personagens, que compoem a trama, revelam-se como
individuos importantes para a formacao da identidade do narrador e sao
indissociaveis dos acontecimentos que, de forma seletiva, a memoria de
Graciliano elege.
Dentre tantas personagens, e possivel destacar a mae, "[...]
uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza [...], boca ma, olhos maus que
em momento de colera se inflamavam com o brilho da loucura" (Ramos,
1980, p. 16); o pai, assim como a mae, uma criatura calejada pela vida
agreste, descrito como um "[...] reprodutor mesquinho" (Ramos,
1980, p. 156) que "[...] sujeitava-se a moral comum" (Ramos,
1980, p. 156); a primeira professora, Dona Maria, a quem sao conferidas
as caracteristicas mais afaveis: "Aquela brandura, a voz mansa, a
concertar-me as barbaridades, a mao curta, a virar a folha, apontar a
linha, o vestido claro e limpo, tudo me seduzia" (Ramos, 1980, p.
119); outros professores, como D. Maria do O, um outro professor, D.
Agnelina e o Professor Rijo, que sao mencionados com pouco afeto na
narrativa; o moleque Jose, filho de Quiteria, com quem o menino passa
por uma experiencia que marca sua alma; Jose Baia, amigo de infancia,
"[...] rapagao aprumado e forte, de olhos claros, risonho"
(Ramos, 1980, p. 12); e Mario Venancio, "[...] colaborador de
jornais, autor de livros" (Ramos, 1980, p. 237), que incentiva
Graciliano a dar o primeiro passo na carreira profissional.
Os acontecimentos narrados, muitas vezes remetem a dureza dos pais,
o que caracteriza a relacao familiar, conforme o narrador descreve com
precisao no trecho abaixo:
Revejo pedaco deles, rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem
labios, maos grossas e calosas, finas e leves, transparentes [...]. Dois
seres que me impuseram obediencia e respeito. Habituei-me a essas maos,
cheguei ate a gostar delas. Nunca as finas me trataram bem, mas as vezes
molhavam-se em lagrimas --e meus receios esmoreciam. As grossas, muito
rudes, abrandavam em certo momento (Ramos, 1980, p. 14-15).
A referencia as maos dos pais e nao a propria figura deles revela a
frieza da relacao estabelecida entre a familia--pais, irmaos naturais e
irmaos legitimos--cuja impessoalidade era suavizada pela convivencia
eventual com os avos.
Na narrativa, sao raras as mencoes de alguma acao das maos que
tentavam externar afeto, entretanto, sao das surras os episodios mais
convictos. Uma delas, de tao severa e humilhante, merece ate um capitulo
especifico, que e intitulado 'Um cinturao'. O episodio
acontece quando o menino tinha "[...] quatro ou cinco anos"
(Ramos, 1980, p. 16), em um momento em que o pai acorda de mau humor a
procura de um cinto e ordena ao menino que lhe devolva o acessorio. O
menino,
"[...] debil e ignorante, incapaz de defesa e conversa"
(Ramos, 1980, p. 16), encolhe-se em um canto e e acoitado com um
chicote, sem que alguem o ajude. Dessa forma, ele reforca seu sentimento
de abandono, de solidao, de injustica e, em si, ve um covarde.
A experiencia causa tamanho impacto que deixa marcas na vida
adulta, pois o autor relata que nao pode ouvir alguem falar alto, pois:
O coracao bate-me forte, desanima como se fosse parar, a voz
emperra, a vista escurece, uma colera doida agita coisas adormecidas ca
dentro. A horrivel sensacao de que me furam os timpanos com pontas de
ferro (Ramos, 1980, p. 33).
Mesmo com os sofrimentos vivenciados pelas surras, o narrador conta
que, em outra circunstancia de sua vida, ainda menino, toma o papel de
algoz, o que lhe permite experimentar a ideia de superioridade, que lhe
marca "[...] a carne e o espirito" (Ramos, 1980, p. 85). O
fato acontece na fazenda, com o "[...] moleque Jose, filho macho da
preta Quiteria" (Ramos, 1980, p. 83), moleque que "[...] ria
constantemente" (Ramos, 1980, p. 83), era "[...] suave e
persuasivo, tentando harmonizar-se com todas as criaturas" (Ramos,
1980, p. 83). Uma noite, na fazenda, ao presenciar o pai acoitando o
moleque com chicote--por uma razao qualquer teve a tentacao de auxiliar
o pai na surra:
Retirei uma acha curta do feixe molhado, encostei-a de manso a cada
uma das solas que se moviam por cima da minha cabeca. Na verdade, apenas
toquei a pele do negrinho. Nao me arriscaria a magoa-lo: queria apenas
convencer-me de que poderia fazer alguem padecer. O meu ato era a
simples exteriorizacao de um sentimento perverso, que a fraqueza
limitava. Se a experiencia nao tivesse gorado, e possivel que o instinto
ruim me tornasse um homem forte. Malogrou-se--e tomei rumo diferente
(Ramos, 1980, p. 87-88).
Ao narrar a experiencia com o "negrinho" (Ramos, 1980,
p.87), o protagonista revela, nas entrelinhas do enunciado, questoes
pertinentes a concepcoes identitarias, para as quais a interacao com o
outro tem papel fundamental. Ao tomar o pai como parametro, o menino
tenta criar uma imagem para ele mesmo--que nao e validada--a que projeta
o desejo de aceitacao do pai, sublinhado a conviccao, segundo a qual
questoes identitarias se relacionam com a percepcao de inclusao e
exclusao. Entretanto, o problema mais relevante do episodio refere-se as
cicatrizes sociais oriundas do periodo da escravatura, que se revelam na
brutalidade e no aviltamento do ser humano em acoes realizadas durante o
periodo em que a cronologia da obra se ampara.
A severidade do pai, expressa nas surras aplicadas ao menino,
tambem e percebida no convivio diario entre ambos e se expoe no modo
impositivo com que o pai tenta ensinar o filho a ler: "Meu pai nao
tinha vocacao para o ensino mas quis meter-me o alfabeto na cabeca.
Resisti, ele teimou--e o resultado foi um desastre [...]. Uma vez por
dia o grito severo me chamava a licao" (Ramos, 1980, p. 106-107).
O inicio da alfabetizacao e um dos acontecimentos da infancia do
narrador que merece uma rememoracao especifica, constituindo o capitulo
intitulado 'Leitura'. O narrador relata seu interesse tardio
pelo ato de ler, que acontece ao ver um folheto "[...] de papel
ordinario [...] com linhas mal impressas, falhadas, antipaticas"
(Ramos, 1980, p. 104). Ao perceber a curiosidade do filho sobre as
letras do folheto, o pai instiga-o, afirmando que "[...] as pessoas
familiarizadas com elas tem uma arma terrivel" (Ramos, 1980, p.
104). Dessa forma, e apresentada ao menino a questao da diferenca--que e
apontada por Woodward (2012) como norteadora das identidades--a qual
tambem e estabelecida na narrativa por meio da distincao entre o grupo
que domina a pratica da leitura e o que nao e capaz de exerce-la.
O 'saber ler', relacionado a participacao em grupos com
tracos distintivos, reafirma os vinculos de identidade e estreita-se
mediante a argumentacao do pai, conforme mostra o trecho a seguir:
Ai meu pai me perguntou se eu nao desejava inteirarme daquelas
maravilhas, tornar-me um sujeito sabido como o padre Joao Inacio e o
advogado Pedro Americo. Respondi que nao. Padre Joao Inacio me fazia
medo e o advogado Pedro Americo, notavel na opiniao do juri, residia
longe da vila e nao me interessava. Meu pai insistiu em considerar esses
dois homens como padroes (Ramos, 1980, p. 104-105).
A imposicao do pai--registrada nas referencias identitarias que o
menino deveria seguir--evidenciase nas primeiras licoes ministradas, que
sao percebidas como "[...] escravidao imposta ardilosamente"
(Ramos, 1980, p. 105), de que resulta o desgosto pela leitura.
O desafeto do menino pela leitura e pela escrita e tanto, que o
narrador refere como maldades os textos que, na infancia, serviram como
base para alfabetizacao: "Jogaram-me maldades grandes e pequenas,
impressas e manuscritas. Um inferno!" (Ramos, 1980, p. 107); e como
"[...] terrivel dever, o pior de todos [...]" (Ramos, 1980, p.
174) a tarefa de "[...] rabiscar algumas linhas" (Ramos, 1980,
p. 174).
E na escola que, inicialmente, esse desgosto abranda, por meio da
serenidade da primeira professora, D. Maria. Com ela, o menino aprende,
alem dos primeiros passos na leitura, a receber respeito, atencao,
afeto. Em consequencia, o sentimento que deveria ser direcionado a
figura materna floresce, no coracao do menino, para a professora, como e
possivel perceber na citacao:
Nessa paz misericordiosa os meus desgostos ordinarios se
entorpeceram, uma estranha confianca me atirava a santa de cabelos
brancos, aliviava-me o coracao. Narrei-lhe tolices. D. Maria escutou-me.
Assim amparado, elevei-me (Ramos, 1980, p. 124).
Portanto, a primeira professora tem expressao positiva para a
concepcao identitaria do narrador e e por meio dela que Graciliano e
introduzido no caminho pelo qual redigiria sua trajetoria como escritor.
As descricoes acerca de outros professores com quem o menino
conviveu sao depreciativas e nao trazem qualquer boa recordacao: D.
Maria do O e apresentada como um 'diabo', uma "[...]
mulata fosca, robusta em demasia [...]" (Ramos, 1980, p. 175),
vigorosa--"[...] vigor que se manifestava em repeloes, em
berros" (Ramos, 1980, p. 175) e ate em agressoes fisicas aos
alunos. "O outro professor" (Ramos, 1980, p. 189) desmerece,
ate mesmo a lembranca do nome, pois, para o menino, ele "[...] nao
tinha lugar definido na especie humana: era um tipo mesquinho, de voz
fina, modos ambiguos e passava o dia alisando o pixaim com uma escova de
cabelos duros. Era feio, quase negro--e a feiura e o pretume o
afligiam" (Ramos, 1980, p. 189).
A experiencia vivida com esses dois professores faz com que a
crianca se desencante novamente pela leitura, recue na aprendizagem e
menospreze a escola:
O lugar de estudos era isso. Os alunos se imobilizavam nos bancos:
cinco horas de suplicio, uma crucificacao. Certo dia vi moscas na cara
de um, roendo o canto do olho, entrando no olho. E o olho sem se mexer,
como se o menino estivesse morto. Nao ha prisao pior que uma escola
primaria do interior. A imobilidade e a insensibilidade me aterraram.
Abandonei os cadernos [...], nao deixei que as moscas me comessem.
Assim, aos nove anos, ainda nao sabia ler (Ramos, 1980, p. 200).
As descricoes de D. Agnelina e do Professor Rijo, mesmo que nao se
comparem com as da primeira professora, mostram que eles deixam no
menino uma boa semente que, mais tarde, germinaria. D. Agnelina,
professora que possuia "[...] raro talento para narrar
historias" (Ramos, 1980, p. 206), transmitiu-lhe "afeicao as
mentiras impressas" (Ramos, 1980, p. 206)--referencia ao carater
ficcional de obras literarias que nao sao 'verdades', mas sim
a representacao dela, ja que obras ficcionais se valem da realidade e
imitam a acao humana, por meio da mimese (Aristoteles, 2005). E essa
mesma professora que indica o Professor Rijo, homem que "[...] nao
podia comparar-se aos viventes comuns" (Ramos, 1980, p. 207), com
quem o menino esclarece a duvida sobre a pronuncia do nome do escritor
britanico Samuel Smiles.
As referencias acerca da leitura e da literatura sao frequentes no
decorrer da narrativa e expressas pela mencao a nomes de escritores e
por meio da alusao a varios tipos de publicacoes. Dentre os escritores
citados, e possivel apontar Joaquim Manoel de Macedo, Julio Verne,
Ponson du Terrail, Luiz Vaz de Camoes, entre outros. Os livros sao
objeto de destaque na narrativa e permeiam a imaginacao do menino, mesmo
quando ele ainda nao havia tido contato com publicacoes.
A valorizacao da literatura e reforcada pela mencao a obras
literarias--como e exemplo 'O Guarani', de Jose de Alencar--e
de outros impressos tambem citados na trama, como "[...] os livros
existentes na fazenda" (Ramos, 1980, p. 137), os "[...]
catalogos da Garnier e da Francisco Alves" (Ramos, 1980, p. 240) e
"[...] uns folhetos de capa amarela, publicacao de salesianos"
(Ramos, 1980, p. 17), os quais compunham o "[...] fornecimento
mensal da literatura religiosa" (Ramos, 1980, p. 17).
Alem das referencias a literatura, o 'ato de ler' e
salientado em varios pontos da narrativa, conforme mostra o trecho no
qual o menino lembra de ter visto "Diversos meninos em bancos sem
encosto, seguravam folhas de papel e esgoelavam-se: -Um 'b'
com um 'a--b,a:ba'; um 'b' com um 'e--b,e:
be'" (Ramos, 1980, p. 10, grifo do autor); e nas repetidas
referencias acerca das leituras feitas pela mae, D. Maria, que vao desde
"[...] um longo romance de quatro volumes lido com apuro"
(Ramos, 1980, p. 17), ate os folhetos religiosos, relatados
anteriormente. Segundo o narrador, sua
[...] mae lia devagar, numa toada inexpressiva, fazendo pausas
absurdas, engolindo virgulas e pontos, desfazendo esdruxulas, alongando
e encurtando as palavras. Nao compreendia bem o sentido delas. E com tal
prosodia e tal pontuacao, os textos mais simples se obscureciam (Ramos,
1980, p. 69).
A mencao aos impressos religiosos, alem de destacarem o habito da
leitura, revelam os preceitos, dentro dos quais o menino e educado. A
religiosidade e evidenciada em varios trechos da obra, por meio da
descricao a "[...] santos pendurados nas paredes do quarto"
(Ramos, 1980, p. 210); da recordacao de "[...] mulheres ajoelhadas
em um oratorio" (Ramos, 1980, p. 22); de habitos particulares
oriundos da fe, como e possivel perceber no seguinte trecho: "Ao
passar diante da igreja tirei o
chapeu e rezei um padre-nosso e uma ave-maria. Tinha-me habituado a
esse exercicio" (Ramos, 1980, p. 213); do relato acerca da
'ambicao' do narrador em dedicar-se "[...] inteiramente
ao servico de Deus e entrar no seminario" (Ramos, 1980, p. 194); e
da recordacao dos padres Joao Inacio e Loureiro--de quem o narrador fora
ajudante--e do Padre Pimentel, descrito como uma santa criatura, que,
segundo o narrador, "[...] insinuou-me alguns conhecimentos, os
primeiros que aceitei com prazer" (Ramos, 1980, p. 196).
Entretanto, a fe em Deus, estimulada pela familia catolica,
sucumbe, conforme refere o trecho a seguir: "Tinha devocao e isso a
perdera. Evidentemente a mao de Deus era ingrata e feroz" (Ramos,
1980, p. 95).
A perda da fe ocorre apos presenciar, por convite do amigo Jose
Baia, os estragos causados por um incendio que devorara uma das cabanas,
fato que causa profundo desconforto no menino: "Condenava-me e
condenava ao moleque. Se nao me houvesse rendido a tentacao, aquela
imundice nao existiria, pelo menos nao existiria no meu espirito"
(Ramos, 1980, p. 92).
Alem de alterar a percepcao acerca da imagem de Deus, a experiencia
propicia ao menino o entendimento do ato de narrar para apreender o
passado e reelabora-lo. Depois do arrependimento em aceitar o convite
feito pelo amigo Jose Baia, o autor relata:
Cheguei em casa precisando confessar-me, livrar-me da recordacao
medonha. Narrei o que vira e que ouvira [...]. Arrepiava-me, repetia a
descricao [...]. A lembranca infeliz me atormentava: necessario que
soubessem disso e me censurassem (Ramos, 1980, p. 93).
Outros acontecimentos narrados sao a doenca nos olhos, que deixa o
menino na escuridao e o leva a reconhecer o valor das palavras; a
primeira bebedeira, que o fez desafiar a posicao opressora da mae; a
primeira paixao referenciada a Laura, aos onze anos; a primeira
experiencia sexual, que traz desgosto; a amizade com Mario Venancio, a
partir da qual e incentivada a fundacao de um periodico, o jornal
Dilucio--folha impressa em Maceio, que produzia duzentos exemplares de
tiragem quinzenal --do qual Graciliano, juntamente com o primo, torna-se
diretor.
A obra literaria 'Infancia', portanto, relata fatos da
vida de Graciliano Ramos, que fazem parte de experiencias e etapas da
vida de todos os individuos, distinguindo-se devido as particularidades
inerentes a fatores socioculturais do periodo e do local onde os eventos
narrados acontecem.
A circunstancia em que Graciliano Ramos produziu a obra--tempo que
Ricouer (1994) denomina mimese 2--e um periodo futuro ao da historia
contada--denominado mimese 1--e no espaco entre esses dois tempos, o
autor alcanca o distanciamento dos anos vividos para compreender como
ocorreram as acoes que vivenciou e quais os significados que essas
acoes, reconstruidas pela narrativa, tem a partir de sua simbologia.
Sendo assim, em um tempo presente--o qual Ricouer (1994) denomina
mimese 3-os leitores podem ler as historias que compuseram a vida de
Graciliano e que interferiram na concepcao da identidade literaria de um
dos mais expressivos romancistas brasileiros do seculo XX.
Da mesma forma, a trama permite que o leitor desperte, em seu
coracao, a rememoracao de seu proprio processo de alfabetizacao; de sua
primeira professora e de outras que vieram; de livros lidos em cada
periodo especifico de sua vida, alguns por obrigacao escolar, outros
pelo proprio gosto do jogo proposto pela trama literaria; do convivio em
familia; da primeira paixao e dos amores que a sucederam; dos sabores e
dissabores da vida; dos relacionamentos com os outros que
proporcionaram, por meio da alteridade, a concepcao e a transformacao de
sua identidade.
Sendo assim, e possivel afirmar que, por meio da narrativa da obra
literaria 'Infancia', Graciliano Ramos oferece seu passado
como objeto de reflexao, no sentido de rememorar, compreender e
(re)elaborar percepcoes acerca de sua formacao identitaria.
Consideracoes finais
Foram apresentados, neste artigo, argumentos que revelam a
articulacao indissociavel entre literatura, memoria e identidade. E
possivel entender que uma se vale da outra para existir. A literatura se
vale da memoria para a constituicao de tramas ficcionais no sentido de
buscar nela a fonte que embasa a representacao da realidade; a memoria
se vale de obras literarias para sua perpetuacao; e a identidade se vale
das duas, pois as narrativas oferecem a possibilidade de reorganizar
experiencias, de reavalia-las e, dessa forma, levar o leitor a
compreender melhor a si mesmo e aos outros, encontrando uma nova maneira
de ser e de ver o mundo.
Em obras autobiograficas--como e o caso de 'Infancia'--o
passado e tomado como objeto de reflexao, ja que a narrativa se deslinda
por meio das lembrancas oriundas da memoria, as quais abarcam, de forma
integralizada, nao so acontecimentos expressivos, mas tambem lugares em
que esses eventos aconteceram, e pessoas que atuaram com o autor nesses
cenarios. Dessa forma, evidencia-se a coletividade da memoria, mesmo
quando se trata de algo individual, visto que ninguem lembra somente de
si mesmo.
Mesmo que 'Infancia' se defina como obra memorialistica,
sua narrativa tem o esquecimento como carateristica marcante. Ele e
evidenciado em varios trechos da narrativa, fato que corrobora os
apontamentos feitos no marco teorico deste artigo, os quais indicam que
a memoria e constituida por lembranca e por esquecimento.
A selecao dos acontecimentos, dos lugares e das pessoas que compoem
a narrativa, feita de forma consciente e inconsciente, indicam que, por
meio do ato de narrar, o autor escolhe a forma como quer ser visto pelos
outros.
Sendo assim, no tempo presente da escrita, o narrador relata partes
do passado, que sera lido em um tempo futuro e interpretado conforme a
visao de mundo de quem le e que, dessa forma, ecoa perpetuamente. Os
eventos passados traduzem, porem, caracteristicas que marcam a
trajetoria literaria de Graciliano Ramos.
A riqueza de detalhes, oferecida em cada um dos 39 contos que
compoem a obra, leva a conclusao de que cada um e fonte digna de um
artigo especifico. Por meio deles, o autor faz uma critica acerca da
secura que permeia nao so o sertao onde vive, mas tambem os
relacionamentos humanos, fato explicitado na ausencia de afeto e de
complacencia, com os quais o menino passa sua infancia.
Ao oferecer ao leitor a rememoracao com que compartilha sua
infancia sofrida, a trama de Graciliano desperta o sentimento de
compaixao, voltado para a figura do escritor e para a de outras
personagens. Ao aderir a trama ficcional, o leitor aguca a capacidade de
trazer ao coracao a propria infancia e rememora-la, bem como entender
como se formou a identidade de um dos maiores nomes do ciclo do romance
brasileiro do seculo XX.
Doi: 10.4025/actascilangcult.v40i2.41030
Referencias
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Longino. A poetica classica. Sao Paulo, SP: Cultrix. Candido, A. (2004).
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169-191). Rio de Janeiro, RJ: Duas Cidades.
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Fronteiras do milenio (p. 43-69). Porto Alegre, RS: Ed. Universidade
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Ramos, G. (1980). Infancia. Rio de Janeiro, RJ: Record. Ricoeur, P.
(1994). Tempo e narrativa. Campinas, SP: Papirus.
Woodward, K. (2012). Identidade e diferenca: uma introducao teorica
e conceitual. In T. T. Silva (Ed.), Identidade e diferenca: a
perspectiva dos estudos culturais (p. 7-72). Petropolis, RJ: Vozes.
Received on December 18, 2017.
Accepted on July 26, 2018.
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Catia Silene Kupssinsku e Juracy Assmann Saraiva
Programa de Pos-Graduacao em Processos e Manifestacoes Culturais,
Universidade Feevale, ERS-239, 2755, 93525-075, Novo Hamburgo, Rio
Grande do Sul, Brasil. * Autor para correspondencia. E-mail:
catiask@terra.com.br
(1) Os caracteres das obras ficcionais podem ser classificados como
"[...] melhores", representados pelos virtuosos, nas tragedias
e nas epopeias; "[...] piores", que sao representados nas
comedias e "[...] homens iguais a nos" (Aristoteles, 2005, p.
38).
(2) O conceito de mimese remete ao poder de criacao artistica a
partir de um dado pre-existente (Ricouer, 1994). A criacao artistica
pode se diferenciar pelos meios, conceito que agrega como poesia todas
as manifestacoes, usando-se como exemplo a literatura, que e expressa
por linguagem verbal; pelos modos, que consistem no processo de narrar;
e pelos objetos, que correspondem aos caracteres, ou personagens
(Aristoteles, 2005).
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