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文章基本信息

  • 标题:Literature, memory and identity in 'Infancia', by Graciliano Ramos/Literatura, memoria e identidade em 'Infancia', de Graciliano Ramos.
  • 作者:Kupssinsku, Catia Silene ; Saraiva, Juracy Assmann
  • 期刊名称:Acta Scientiarum. Language and Culture (UEM)
  • 印刷版ISSN:1983-4675
  • 出版年度:2018
  • 期号:July
  • 出版社:Universidade Estadual de Maringa
  • 摘要:Introducao

    A literatura e terreno fertil para estudos interdisciplinares, ja que ela conjuga um conjunto de saberes. Essa afirmativa se sustenta, pois, para a tecitura da trama ficcional, o autor se vale de aspectos historicos, sociais, culturais da epoca e do local nos quais a intriga se deslinda. Assim, por serem representacao do real, os textos literarios se consolidam como testemunho social e oportunizam ao leitor, por meio da apreensao dos enunciados, um olhar sobre os individuos e sua atuacao no ambito da sociedade. Todavia, a verossimilhanca das tramas ficcionais se sustenta pela memoria que, na literatura, interliga passado, presente e futuro carater tridimensional do tempo, descrito por Santo Agostinho--que se conjugam na motivacao do ato criador, na producao da obra e na leitura.

    A memoria esta diretamente ligada a questoes identitarias, e estas, ao se articularem com a literatura, estabelecem um espaco fecundo para a aprendizagem, pois os leitores de uma obra ficcional tem o distanciamento necessario do problema narrado na trama literaria, para apreende-lo, criticamente, ainda que, para isso, devam aderir sensorialmente, ao universo do 'como se'.

    A literatura, portanto, por meio de seu carater ficcional, oferece ao leitor um lugar entre a imaginacao literaria e a realidade do mundo, o que lhe possibilita o reconhecimento de questoes sociais e do lugar do proprio homem na sociedade. Dessa forma, ao mesmo tempo em que registram sua cultura por meio de tramas ficcionais, ou se deixam cativar por elas, os individuos sofrem sua interferencia na concepcao e transformacao de suas identidades.

Literature, memory and identity in 'Infancia', by Graciliano Ramos/Literatura, memoria e identidade em 'Infancia', de Graciliano Ramos.


Kupssinsku, Catia Silene ; Saraiva, Juracy Assmann


Literature, memory and identity in 'Infancia', by Graciliano Ramos/Literatura, memoria e identidade em 'Infancia', de Graciliano Ramos.

Introducao

A literatura e terreno fertil para estudos interdisciplinares, ja que ela conjuga um conjunto de saberes. Essa afirmativa se sustenta, pois, para a tecitura da trama ficcional, o autor se vale de aspectos historicos, sociais, culturais da epoca e do local nos quais a intriga se deslinda. Assim, por serem representacao do real, os textos literarios se consolidam como testemunho social e oportunizam ao leitor, por meio da apreensao dos enunciados, um olhar sobre os individuos e sua atuacao no ambito da sociedade. Todavia, a verossimilhanca das tramas ficcionais se sustenta pela memoria que, na literatura, interliga passado, presente e futuro carater tridimensional do tempo, descrito por Santo Agostinho--que se conjugam na motivacao do ato criador, na producao da obra e na leitura.

A memoria esta diretamente ligada a questoes identitarias, e estas, ao se articularem com a literatura, estabelecem um espaco fecundo para a aprendizagem, pois os leitores de uma obra ficcional tem o distanciamento necessario do problema narrado na trama literaria, para apreende-lo, criticamente, ainda que, para isso, devam aderir sensorialmente, ao universo do 'como se'.

A literatura, portanto, por meio de seu carater ficcional, oferece ao leitor um lugar entre a imaginacao literaria e a realidade do mundo, o que lhe possibilita o reconhecimento de questoes sociais e do lugar do proprio homem na sociedade. Dessa forma, ao mesmo tempo em que registram sua cultura por meio de tramas ficcionais, ou se deixam cativar por elas, os individuos sofrem sua interferencia na concepcao e transformacao de suas identidades.

E a conexao entre literatura memoria e identidade que guia este estudo, o qual toma como corpus a obra literaria 'Infancia', publicada por Graciliano Ramos, no ano de 1954. A obra tem cunho memorialistico por se tratar de uma autobiografia, na qual Graciliano relata etapas vivenciadas em sua infancia, o relacionamento com pessoas de seu circulo familiar e social e os espacos em que viveu, questoes pertinentes para a concepcao da identidade desse sujeito do ato de enunciacao.

O marco teorico, que fundamenta a analise indutiva da obra, e amparado em constructos de Fernando Catroga (2001), Michael Pollak (1992), Aristoteles (2005), Paul Ricoeur (1994), Kathryn Woodward (2012), Antonio Candido (2004), autores que abordam temas pertinentes a literatura, a memoria e a identidade.

Literatura, memoria, identidade

A producao e a fruicao literaria sao resultantes da necessidade humana de vivenciar a ficcao e a fantasia. As obras ficcionais, ao mesmo tempo em que proporcionam prazer por meio da leitura, contribuem para a formacao da personalidade do individuo, ja que servem de instrumento de "[...] reconhecimento do mundo e do ser" (Candido, 2004, p. 85). E por meio da possibilidade da apreensao do que esta nas entrelinhas do enunciado, que o leitor se compraz, e este prazer se transforma em aprendizagem (Aristoteles, 2005).

Portanto, a literatura tem a capacidade de confirmar a humanidade do homem e em seu coracao tocar, pois ela fala sobre ele, ao mesmo tempo em que nele interfere como individuo social. Para sustentar essa argumentacao, e pertinente enfocar, previamente, questoes acerca da memoria e da identidade e da literatura como representacao do real.

A constituicao da memoria e amparada na relacao do individuo a acontecimentos, a pessoas (ou personagens) e a lugares (Pollak, 1992). Os acontecimentos podem distinguir-se entre os "[...] vividos pessoalmente" (Pollak, 1992, p. 201) ou "[...] vividos por tabela" (Pollak, 1992, p. 201). Os acontecimentos experimentados por tabela sao aqueles que nao sao vivenciados pessoalmente pelo individuo, mas que ganham tal relevo que e dificil distinguir o imaginario da realidade em que se fundamentam. A mesma regra se aplica em relacao as pessoas ou personagens: algumas sao conhecidas pessoalmente, fazem parte do cotidiano ou de etapas da vida de um individuo, e outras pessoas ou personagens sao conhecidas por tabela, ou seja, de forma indireta, mas sao percebidas com familiaridade por quem a elas se reporta. Os lugares se relacionam a lembrancas pessoais, sem que tenham necessariamente apoio no tempo cronologico, e podem ser transferencias ou projecoes relacionados a diferentes eventos (Pollak, 1992).

A partir desse pressuposto, e possivel afirmar que a memoria--ainda que pareca algo individual e intimo--e um fenomeno coletivo e social, o qual e sub metido constantemente a flutuacoes, transformacoes e mudancas (Pollak, 1992). Seu carater coletivo, inclusive na referencia a memorias individuais, se da tambem pelo fato de que "[...] ninguem se recorda exclusivamente de si mesmo" (Catroga, 2001, p. 45); alem disso, a importancia da fidelidade, inerente a recordacao, instiga o testemunho do outro. A presenca do outro, para constituir recordacoes, institui-se de forma ativa, visto que algumas lembrancas pessoais sao resultantes do relato alheio (Catroga, 2001).

A memoria, portanto, e um fenomeno que intercala lembranca e esquecimento sendo, dessa forma, construida de maneira seletiva--em um processo tanto consciente quanto inconsciente--o que faz dela uma "[...] representacao afetiva" (Catroga, 2001, p. 46), uma "[...] re-presentificacao" (Catroga, 2001, p. 46) feita no presente, pautada no passado e que remete ao futuro (Catroga, 2001).

A experiencia vivida ou reconstituida pelo testemunho de alguem, as marcas coletivas e a seletividade fazem com que a memoria tenha um estreito vinculo com a sensacao de identidade do sujeito, sob a perspectiva da constituicao da imagem de si para si e para os outros (Catroga, 2001). Assim, as concepcoes identitarias sao elaboradas, dentre outros fatores, por meio da memoria, a partir de construcao de imagens pelas quais os individuos querem ser representados aos outros e a si mesmos (Pollak, 1992). Por essa razao, as concepcoes identitarias sao formadas e transformadas em momentos particulares no tempo e se configuram como limites imaginarios cambiantes, os quais sao concebidos a partir do confronto com o outro, com o diferente (Woodward, 2012).

As representacoes identitarias, em obras ficcionais, constroem-se por meio da mimese e sao instituidas pelas acoes e pelos objetos que compoem a trama, os quais correspondem aos caracteres, ou personagens (1). A mimese (2) consiste na imitacao da acao humana (Aristoteles, 2005), sendo possivel reconhecer, nos implicitos do enunciado, tracos identitarios das personagens, por meio da apreensao dos signos que se vinculam as suas acoes.

E tambem por meio da mimese que a intriga e colocada em uma sucessao temporal, agregando passado, presente e futuro (Ricoeur, 1994). Esse posicionamento tem por base a 'Poetica' de Aristoteles, a que se integra a reflexao de Santo Agostinho sobre o tempo, que resulta no conceito da triplice mimese, pela qual o tempo humano ganha forma na narrativa. Sendo assim, a narrativa une o tempo prefigurado, que e o tempo da producao do autor, a um tempo configurado, que e o tempo constituido no texto, e a um tempo refigurado, que e o tempo do leitor. A eles correspondem, respectivamente, a mimese 1, a mimese 2 e a mimese 3 (Ricoeur, 1994).

A mimese 1, representa o momento da producao da obra pelo autor, no qual o artista compreende como ocorrem as acoes humanas e quais os significados que estas acoes tem. A pre-compreensao do autor se constroi em tres elementos que passam a ser representados na narrativa: a acao em geral e seus tracos estruturais, a mediacao simbolica e os caracteres temporais. A acao e os tracos estruturais correspondem ao modo como a narrativa e concebida, quais as circunstancias tempo-espaciais, quem sao as personagens, quais os motivos que levam os agentes a agir, como as personagens interagem umas com as outras. Esta fase, portanto, se refere ao processo de criacao da narrativa que inclui a reflexao sobre o efeito a ser causado no leitor, que considera o modo como os simbolos vao interferir na relacao entre a trama e o leitor. A mediacao simbolica funciona eficazmente em um texto literario quando o autor e os leitores compartilham de uma mesma cultura, ja que os simbolismos se ancoram em codigos culturais, que fornecem as regras para sua interpretacao (Ricoeur, 1994).

A mimese 2 e o produto da mimese 1, ou seja, e a propria producao poetica que media a reflexao do leitor sobre o mundo e o texto, processo que se da na mimese 3 (Ricoeur, 1994). Esse e o tempo do leitor, pois quando uma narrativa e lida, o proprio tempo e lido as avessas.

E por meio do ato de narrar que o homem consegue apreender seu passado e projetar seu futuro a partir do tempo presente, fazendo com que a narrativa permita a compreensao da circunstancia temporal de sua propria vida. O homem rememora para recuperar o passado e prefigura o seu futuro ao figurar o presente. Portanto, o presente leva o individuo ao passado pela rememoracao, assim como o leva ao futuro por meio da esperanca (Ricoeur, 1994).

Os apontamentos ate aqui referidos mostram a conjugacao entre literatura, memoria e identidade, a qual, na pratica, e percebida na obra literaria 'Infancia', que serve de corpus para este estudo.

Um olhar sobre 'Infancia'

A obra literaria 'Infancia', de Graciliano Ramos, foi publicada originalmente no ano de 1954, pela editora Olympio e consiste na autobiografia do autor, o qual relata, em 39 capitulos distribuidos em 316 paginas, a representacao de aspectos de sua vida, dos dois aos doze anos de idade.

A crianca e o protagonista da obra, que tem como caracteristica marcante seu carater memorialistico, de que decorre a convergencia entre os limites da realidade e da ficcao. Esta composicao dual nao e assumida explicitamente na narrativa, mas pode ser apreendida pelo leitor nas entrelinhas dos enunciados, pois, em alguns trechos, e possivel entender que nem mesmo o narrador sabe se sua recordacao condiz com a verdade, como se percebe na seguinte passagem:

Desse antigo verao que me alterou a vida restam ligeiros tracos apenas. E nem deles posso afirmar que efetivamente me recorde. O habito me leva a imaginar ambientes, criar fatos a que atribuo realidade (Ramos, 1980, p. 26).

A citacao, alem de apontar para o vies ficcional pelo qual a obra tambem e constituida, corrobora o pensamento de Catroga (2001), que afirma que a memoria e um fenomeno onde se intercalam lembranca e esquecimento. A incerteza acerca das lembrancas do narrador e reafirmada em varios momentos do texto, de forma intensificada em seu inicio, possivelmente porque esse se situa em um periodo precoce da infancia, dificilmente alcancado pela memoria.

O recorte temporal, em que iniciam as revelacoes, indica que essas tambem se originam do testemunho de outras pessoas, porque, mesmo que afirme que suas "[...] mais antigas recordacoes [...] datam desse tempo" (Ramos, 1980, p. 12), Graciliano busca na memoria da mae a referencia da propria idade, conforme mostra o trecho: "Que idade teria eu? Pelas contas de minha mae, andava em dois ou tres anos" (Ramos, 1980, p. 9-10).

A busca de referencias no testemunho do outro, tanto para a constituicao como para a fidelizacao da memoria, e apontada por Catroga (2001), e e constatada ja no primeiro paragrafo:

A primeira coisa que guardei na memoria foi um vaso de louca vidrada [...]. Ignoro onde o vi, quando o vi e se uma parte do caso remoto nao desaguasse noutro posterior, julga-lo-ia sonho. Talvez nem me recorde bem do vaso: e possivel que a imagem [...] tenha ficado por eu ter comunicado a outras pessoas que a confirmaram (Ramos, 1980, p. 9).

Por meio desses trechos tambem e possivel destacar o carater coletivo da memoria--afirmado por Pollack (1992), mesmo na referencia a memorias individuais--pois, na narrativa, Graciliano evidencia a busca da fidelidade--inerente a recordacao--por meio da convergencia de suas lembrancas com a de individuos e coisas que povoaram sua infancia:

[...] reuni pedacos de pessoas e de coisas, pedacos de mim mesmo que boiavam no passado confuso, articulei tudo, criei o meu pequeno mundo incongruente. As vezes as pecas se descolavam--e surgiam estranhas mudancas. Os objetos se tornavam irreconheciveis, e a humanidade, feita de individuos que me atormentavam e individuos que nao me atormentavam, perdia as caracteristicas (Ramos, 1980, p. 20-21).

Alem de expressar a importancia dada as pessoas que intermediam, de forma ativa, o resgate da memoria do narrador, bem como a concepcao de sua identidade, o trecho relata as constantes flutuacoes, transformacoes e mudancas, submetidas a memoria, questao evidenciada por Pollak (1992).

O destaque oferecido as pessoas e proporcional as referencias feitas aos lugares em que acontecimentos importantes sao vividos. Desta forma, o narrador se apropria, de forma integralizadora, de lugares, pessoas e acontecimentos, apontados por Pollak (1992) como os tres elementos que se associam a constituicao da memoria.

Os lugares descritos revelam que a trama acontece no nordeste brasileiro, entre Alagoas e Pernambuco, onde mudancas de enderecos sao vivenciadas pelo menino e sua familia. Ao abordar essa serie de mudancas, o narrador revela que "[...] apareceram varios lugares imprecisos e entre eles nao havia continuidade. Pontos nebulosos, ilhas esbocando-se no universo vazio" (Ramos, 1980, p. 12), o que faz referencia a propria imprecisao da memoria, mediante a qual a narrativa e concebida.

Alguns locais sao mencionados vagamente, como uma cidadezinha em Alagoas, onde o menino vive com a familia antes de irem para o sertao de Pernambuco, ou como um acude lamacento, junto ao qual encontram pouso em viagens. Outros lugares sao descritos com mais consistencia, como a fazenda, situada no sertao de Pernambuco, onde o protagonista inicia a narrativa de suas experiencias; a vila para a qual o menino e a familia se mudam ao sairem da fazenda; a cidade de Vicosa, em Alagoas, na qual ele perde alguns habitos antigos e adquire novos; a escola, onde aprende, dentre outras coisas, a gostar de ler.

As pessoas ou personagens, que compoem a trama, revelam-se como individuos importantes para a formacao da identidade do narrador e sao indissociaveis dos acontecimentos que, de forma seletiva, a memoria de Graciliano elege.

Dentre tantas personagens, e possivel destacar a mae, "[...] uma senhora enfezada, agressiva, ranzinza [...], boca ma, olhos maus que em momento de colera se inflamavam com o brilho da loucura" (Ramos, 1980, p. 16); o pai, assim como a mae, uma criatura calejada pela vida agreste, descrito como um "[...] reprodutor mesquinho" (Ramos, 1980, p. 156) que "[...] sujeitava-se a moral comum" (Ramos, 1980, p. 156); a primeira professora, Dona Maria, a quem sao conferidas as caracteristicas mais afaveis: "Aquela brandura, a voz mansa, a concertar-me as barbaridades, a mao curta, a virar a folha, apontar a linha, o vestido claro e limpo, tudo me seduzia" (Ramos, 1980, p. 119); outros professores, como D. Maria do O, um outro professor, D. Agnelina e o Professor Rijo, que sao mencionados com pouco afeto na narrativa; o moleque Jose, filho de Quiteria, com quem o menino passa por uma experiencia que marca sua alma; Jose Baia, amigo de infancia, "[...] rapagao aprumado e forte, de olhos claros, risonho" (Ramos, 1980, p. 12); e Mario Venancio, "[...] colaborador de jornais, autor de livros" (Ramos, 1980, p. 237), que incentiva Graciliano a dar o primeiro passo na carreira profissional.

Os acontecimentos narrados, muitas vezes remetem a dureza dos pais, o que caracteriza a relacao familiar, conforme o narrador descreve com precisao no trecho abaixo:

Revejo pedaco deles, rugas, olhos raivosos, bocas irritadas e sem labios, maos grossas e calosas, finas e leves, transparentes [...]. Dois seres que me impuseram obediencia e respeito. Habituei-me a essas maos, cheguei ate a gostar delas. Nunca as finas me trataram bem, mas as vezes molhavam-se em lagrimas --e meus receios esmoreciam. As grossas, muito rudes, abrandavam em certo momento (Ramos, 1980, p. 14-15).

A referencia as maos dos pais e nao a propria figura deles revela a frieza da relacao estabelecida entre a familia--pais, irmaos naturais e irmaos legitimos--cuja impessoalidade era suavizada pela convivencia eventual com os avos.

Na narrativa, sao raras as mencoes de alguma acao das maos que tentavam externar afeto, entretanto, sao das surras os episodios mais convictos. Uma delas, de tao severa e humilhante, merece ate um capitulo especifico, que e intitulado 'Um cinturao'. O episodio acontece quando o menino tinha "[...] quatro ou cinco anos" (Ramos, 1980, p. 16), em um momento em que o pai acorda de mau humor a procura de um cinto e ordena ao menino que lhe devolva o acessorio. O menino,

"[...] debil e ignorante, incapaz de defesa e conversa" (Ramos, 1980, p. 16), encolhe-se em um canto e e acoitado com um chicote, sem que alguem o ajude. Dessa forma, ele reforca seu sentimento de abandono, de solidao, de injustica e, em si, ve um covarde.

A experiencia causa tamanho impacto que deixa marcas na vida adulta, pois o autor relata que nao pode ouvir alguem falar alto, pois:

O coracao bate-me forte, desanima como se fosse parar, a voz emperra, a vista escurece, uma colera doida agita coisas adormecidas ca dentro. A horrivel sensacao de que me furam os timpanos com pontas de ferro (Ramos, 1980, p. 33).

Mesmo com os sofrimentos vivenciados pelas surras, o narrador conta que, em outra circunstancia de sua vida, ainda menino, toma o papel de algoz, o que lhe permite experimentar a ideia de superioridade, que lhe marca "[...] a carne e o espirito" (Ramos, 1980, p. 85). O fato acontece na fazenda, com o "[...] moleque Jose, filho macho da preta Quiteria" (Ramos, 1980, p. 83), moleque que "[...] ria constantemente" (Ramos, 1980, p. 83), era "[...] suave e persuasivo, tentando harmonizar-se com todas as criaturas" (Ramos, 1980, p. 83). Uma noite, na fazenda, ao presenciar o pai acoitando o moleque com chicote--por uma razao qualquer teve a tentacao de auxiliar o pai na surra:

Retirei uma acha curta do feixe molhado, encostei-a de manso a cada uma das solas que se moviam por cima da minha cabeca. Na verdade, apenas toquei a pele do negrinho. Nao me arriscaria a magoa-lo: queria apenas convencer-me de que poderia fazer alguem padecer. O meu ato era a simples exteriorizacao de um sentimento perverso, que a fraqueza limitava. Se a experiencia nao tivesse gorado, e possivel que o instinto ruim me tornasse um homem forte. Malogrou-se--e tomei rumo diferente (Ramos, 1980, p. 87-88).

Ao narrar a experiencia com o "negrinho" (Ramos, 1980, p.87), o protagonista revela, nas entrelinhas do enunciado, questoes pertinentes a concepcoes identitarias, para as quais a interacao com o outro tem papel fundamental. Ao tomar o pai como parametro, o menino tenta criar uma imagem para ele mesmo--que nao e validada--a que projeta o desejo de aceitacao do pai, sublinhado a conviccao, segundo a qual questoes identitarias se relacionam com a percepcao de inclusao e exclusao. Entretanto, o problema mais relevante do episodio refere-se as cicatrizes sociais oriundas do periodo da escravatura, que se revelam na brutalidade e no aviltamento do ser humano em acoes realizadas durante o periodo em que a cronologia da obra se ampara.

A severidade do pai, expressa nas surras aplicadas ao menino, tambem e percebida no convivio diario entre ambos e se expoe no modo impositivo com que o pai tenta ensinar o filho a ler: "Meu pai nao tinha vocacao para o ensino mas quis meter-me o alfabeto na cabeca. Resisti, ele teimou--e o resultado foi um desastre [...]. Uma vez por dia o grito severo me chamava a licao" (Ramos, 1980, p. 106-107).

O inicio da alfabetizacao e um dos acontecimentos da infancia do narrador que merece uma rememoracao especifica, constituindo o capitulo intitulado 'Leitura'. O narrador relata seu interesse tardio pelo ato de ler, que acontece ao ver um folheto "[...] de papel ordinario [...] com linhas mal impressas, falhadas, antipaticas" (Ramos, 1980, p. 104). Ao perceber a curiosidade do filho sobre as letras do folheto, o pai instiga-o, afirmando que "[...] as pessoas familiarizadas com elas tem uma arma terrivel" (Ramos, 1980, p. 104). Dessa forma, e apresentada ao menino a questao da diferenca--que e apontada por Woodward (2012) como norteadora das identidades--a qual tambem e estabelecida na narrativa por meio da distincao entre o grupo que domina a pratica da leitura e o que nao e capaz de exerce-la.

O 'saber ler', relacionado a participacao em grupos com tracos distintivos, reafirma os vinculos de identidade e estreita-se mediante a argumentacao do pai, conforme mostra o trecho a seguir:

Ai meu pai me perguntou se eu nao desejava inteirarme daquelas maravilhas, tornar-me um sujeito sabido como o padre Joao Inacio e o advogado Pedro Americo. Respondi que nao. Padre Joao Inacio me fazia medo e o advogado Pedro Americo, notavel na opiniao do juri, residia longe da vila e nao me interessava. Meu pai insistiu em considerar esses dois homens como padroes (Ramos, 1980, p. 104-105).

A imposicao do pai--registrada nas referencias identitarias que o menino deveria seguir--evidenciase nas primeiras licoes ministradas, que sao percebidas como "[...] escravidao imposta ardilosamente" (Ramos, 1980, p. 105), de que resulta o desgosto pela leitura.

O desafeto do menino pela leitura e pela escrita e tanto, que o narrador refere como maldades os textos que, na infancia, serviram como base para alfabetizacao: "Jogaram-me maldades grandes e pequenas, impressas e manuscritas. Um inferno!" (Ramos, 1980, p. 107); e como "[...] terrivel dever, o pior de todos [...]" (Ramos, 1980, p. 174) a tarefa de "[...] rabiscar algumas linhas" (Ramos, 1980, p. 174).

E na escola que, inicialmente, esse desgosto abranda, por meio da serenidade da primeira professora, D. Maria. Com ela, o menino aprende, alem dos primeiros passos na leitura, a receber respeito, atencao, afeto. Em consequencia, o sentimento que deveria ser direcionado a figura materna floresce, no coracao do menino, para a professora, como e possivel perceber na citacao:

Nessa paz misericordiosa os meus desgostos ordinarios se entorpeceram, uma estranha confianca me atirava a santa de cabelos brancos, aliviava-me o coracao. Narrei-lhe tolices. D. Maria escutou-me. Assim amparado, elevei-me (Ramos, 1980, p. 124).

Portanto, a primeira professora tem expressao positiva para a concepcao identitaria do narrador e e por meio dela que Graciliano e introduzido no caminho pelo qual redigiria sua trajetoria como escritor.

As descricoes acerca de outros professores com quem o menino conviveu sao depreciativas e nao trazem qualquer boa recordacao: D. Maria do O e apresentada como um 'diabo', uma "[...] mulata fosca, robusta em demasia [...]" (Ramos, 1980, p. 175), vigorosa--"[...] vigor que se manifestava em repeloes, em berros" (Ramos, 1980, p. 175) e ate em agressoes fisicas aos alunos. "O outro professor" (Ramos, 1980, p. 189) desmerece, ate mesmo a lembranca do nome, pois, para o menino, ele "[...] nao tinha lugar definido na especie humana: era um tipo mesquinho, de voz fina, modos ambiguos e passava o dia alisando o pixaim com uma escova de cabelos duros. Era feio, quase negro--e a feiura e o pretume o afligiam" (Ramos, 1980, p. 189).

A experiencia vivida com esses dois professores faz com que a crianca se desencante novamente pela leitura, recue na aprendizagem e menospreze a escola:

O lugar de estudos era isso. Os alunos se imobilizavam nos bancos: cinco horas de suplicio, uma crucificacao. Certo dia vi moscas na cara de um, roendo o canto do olho, entrando no olho. E o olho sem se mexer, como se o menino estivesse morto. Nao ha prisao pior que uma escola primaria do interior. A imobilidade e a insensibilidade me aterraram. Abandonei os cadernos [...], nao deixei que as moscas me comessem. Assim, aos nove anos, ainda nao sabia ler (Ramos, 1980, p. 200).

As descricoes de D. Agnelina e do Professor Rijo, mesmo que nao se comparem com as da primeira professora, mostram que eles deixam no menino uma boa semente que, mais tarde, germinaria. D. Agnelina, professora que possuia "[...] raro talento para narrar historias" (Ramos, 1980, p. 206), transmitiu-lhe "afeicao as mentiras impressas" (Ramos, 1980, p. 206)--referencia ao carater ficcional de obras literarias que nao sao 'verdades', mas sim a representacao dela, ja que obras ficcionais se valem da realidade e imitam a acao humana, por meio da mimese (Aristoteles, 2005). E essa mesma professora que indica o Professor Rijo, homem que "[...] nao podia comparar-se aos viventes comuns" (Ramos, 1980, p. 207), com quem o menino esclarece a duvida sobre a pronuncia do nome do escritor britanico Samuel Smiles.

As referencias acerca da leitura e da literatura sao frequentes no decorrer da narrativa e expressas pela mencao a nomes de escritores e por meio da alusao a varios tipos de publicacoes. Dentre os escritores citados, e possivel apontar Joaquim Manoel de Macedo, Julio Verne, Ponson du Terrail, Luiz Vaz de Camoes, entre outros. Os livros sao objeto de destaque na narrativa e permeiam a imaginacao do menino, mesmo quando ele ainda nao havia tido contato com publicacoes.

A valorizacao da literatura e reforcada pela mencao a obras literarias--como e exemplo 'O Guarani', de Jose de Alencar--e de outros impressos tambem citados na trama, como "[...] os livros existentes na fazenda" (Ramos, 1980, p. 137), os "[...] catalogos da Garnier e da Francisco Alves" (Ramos, 1980, p. 240) e "[...] uns folhetos de capa amarela, publicacao de salesianos" (Ramos, 1980, p. 17), os quais compunham o "[...] fornecimento mensal da literatura religiosa" (Ramos, 1980, p. 17).

Alem das referencias a literatura, o 'ato de ler' e salientado em varios pontos da narrativa, conforme mostra o trecho no qual o menino lembra de ter visto "Diversos meninos em bancos sem encosto, seguravam folhas de papel e esgoelavam-se: -Um 'b' com um 'a--b,a:ba'; um 'b' com um 'e--b,e: be'" (Ramos, 1980, p. 10, grifo do autor); e nas repetidas referencias acerca das leituras feitas pela mae, D. Maria, que vao desde "[...] um longo romance de quatro volumes lido com apuro" (Ramos, 1980, p. 17), ate os folhetos religiosos, relatados anteriormente. Segundo o narrador, sua

[...] mae lia devagar, numa toada inexpressiva, fazendo pausas absurdas, engolindo virgulas e pontos, desfazendo esdruxulas, alongando e encurtando as palavras. Nao compreendia bem o sentido delas. E com tal prosodia e tal pontuacao, os textos mais simples se obscureciam (Ramos, 1980, p. 69).

A mencao aos impressos religiosos, alem de destacarem o habito da leitura, revelam os preceitos, dentro dos quais o menino e educado. A religiosidade e evidenciada em varios trechos da obra, por meio da descricao a "[...] santos pendurados nas paredes do quarto" (Ramos, 1980, p. 210); da recordacao de "[...] mulheres ajoelhadas em um oratorio" (Ramos, 1980, p. 22); de habitos particulares oriundos da fe, como e possivel perceber no seguinte trecho: "Ao passar diante da igreja tirei o

chapeu e rezei um padre-nosso e uma ave-maria. Tinha-me habituado a esse exercicio" (Ramos, 1980, p. 213); do relato acerca da 'ambicao' do narrador em dedicar-se "[...] inteiramente ao servico de Deus e entrar no seminario" (Ramos, 1980, p. 194); e da recordacao dos padres Joao Inacio e Loureiro--de quem o narrador fora ajudante--e do Padre Pimentel, descrito como uma santa criatura, que, segundo o narrador, "[...] insinuou-me alguns conhecimentos, os primeiros que aceitei com prazer" (Ramos, 1980, p. 196).

Entretanto, a fe em Deus, estimulada pela familia catolica, sucumbe, conforme refere o trecho a seguir: "Tinha devocao e isso a perdera. Evidentemente a mao de Deus era ingrata e feroz" (Ramos, 1980, p. 95).

A perda da fe ocorre apos presenciar, por convite do amigo Jose Baia, os estragos causados por um incendio que devorara uma das cabanas, fato que causa profundo desconforto no menino: "Condenava-me e condenava ao moleque. Se nao me houvesse rendido a tentacao, aquela imundice nao existiria, pelo menos nao existiria no meu espirito" (Ramos, 1980, p. 92).

Alem de alterar a percepcao acerca da imagem de Deus, a experiencia propicia ao menino o entendimento do ato de narrar para apreender o passado e reelabora-lo. Depois do arrependimento em aceitar o convite feito pelo amigo Jose Baia, o autor relata:

Cheguei em casa precisando confessar-me, livrar-me da recordacao medonha. Narrei o que vira e que ouvira [...]. Arrepiava-me, repetia a descricao [...]. A lembranca infeliz me atormentava: necessario que soubessem disso e me censurassem (Ramos, 1980, p. 93).

Outros acontecimentos narrados sao a doenca nos olhos, que deixa o menino na escuridao e o leva a reconhecer o valor das palavras; a primeira bebedeira, que o fez desafiar a posicao opressora da mae; a primeira paixao referenciada a Laura, aos onze anos; a primeira experiencia sexual, que traz desgosto; a amizade com Mario Venancio, a partir da qual e incentivada a fundacao de um periodico, o jornal Dilucio--folha impressa em Maceio, que produzia duzentos exemplares de tiragem quinzenal --do qual Graciliano, juntamente com o primo, torna-se diretor.

A obra literaria 'Infancia', portanto, relata fatos da vida de Graciliano Ramos, que fazem parte de experiencias e etapas da vida de todos os individuos, distinguindo-se devido as particularidades inerentes a fatores socioculturais do periodo e do local onde os eventos narrados acontecem.

A circunstancia em que Graciliano Ramos produziu a obra--tempo que Ricouer (1994) denomina mimese 2--e um periodo futuro ao da historia contada--denominado mimese 1--e no espaco entre esses dois tempos, o autor alcanca o distanciamento dos anos vividos para compreender como ocorreram as acoes que vivenciou e quais os significados que essas acoes, reconstruidas pela narrativa, tem a partir de sua simbologia.

Sendo assim, em um tempo presente--o qual Ricouer (1994) denomina mimese 3-os leitores podem ler as historias que compuseram a vida de Graciliano e que interferiram na concepcao da identidade literaria de um dos mais expressivos romancistas brasileiros do seculo XX.

Da mesma forma, a trama permite que o leitor desperte, em seu coracao, a rememoracao de seu proprio processo de alfabetizacao; de sua primeira professora e de outras que vieram; de livros lidos em cada periodo especifico de sua vida, alguns por obrigacao escolar, outros pelo proprio gosto do jogo proposto pela trama literaria; do convivio em familia; da primeira paixao e dos amores que a sucederam; dos sabores e dissabores da vida; dos relacionamentos com os outros que proporcionaram, por meio da alteridade, a concepcao e a transformacao de sua identidade.

Sendo assim, e possivel afirmar que, por meio da narrativa da obra literaria 'Infancia', Graciliano Ramos oferece seu passado como objeto de reflexao, no sentido de rememorar, compreender e (re)elaborar percepcoes acerca de sua formacao identitaria.

Consideracoes finais

Foram apresentados, neste artigo, argumentos que revelam a articulacao indissociavel entre literatura, memoria e identidade. E possivel entender que uma se vale da outra para existir. A literatura se vale da memoria para a constituicao de tramas ficcionais no sentido de buscar nela a fonte que embasa a representacao da realidade; a memoria se vale de obras literarias para sua perpetuacao; e a identidade se vale das duas, pois as narrativas oferecem a possibilidade de reorganizar experiencias, de reavalia-las e, dessa forma, levar o leitor a compreender melhor a si mesmo e aos outros, encontrando uma nova maneira de ser e de ver o mundo.

Em obras autobiograficas--como e o caso de 'Infancia'--o passado e tomado como objeto de reflexao, ja que a narrativa se deslinda por meio das lembrancas oriundas da memoria, as quais abarcam, de forma integralizada, nao so acontecimentos expressivos, mas tambem lugares em que esses eventos aconteceram, e pessoas que atuaram com o autor nesses cenarios. Dessa forma, evidencia-se a coletividade da memoria, mesmo quando se trata de algo individual, visto que ninguem lembra somente de si mesmo.

Mesmo que 'Infancia' se defina como obra memorialistica, sua narrativa tem o esquecimento como carateristica marcante. Ele e evidenciado em varios trechos da narrativa, fato que corrobora os apontamentos feitos no marco teorico deste artigo, os quais indicam que a memoria e constituida por lembranca e por esquecimento.

A selecao dos acontecimentos, dos lugares e das pessoas que compoem a narrativa, feita de forma consciente e inconsciente, indicam que, por meio do ato de narrar, o autor escolhe a forma como quer ser visto pelos outros.

Sendo assim, no tempo presente da escrita, o narrador relata partes do passado, que sera lido em um tempo futuro e interpretado conforme a visao de mundo de quem le e que, dessa forma, ecoa perpetuamente. Os eventos passados traduzem, porem, caracteristicas que marcam a trajetoria literaria de Graciliano Ramos.

A riqueza de detalhes, oferecida em cada um dos 39 contos que compoem a obra, leva a conclusao de que cada um e fonte digna de um artigo especifico. Por meio deles, o autor faz uma critica acerca da secura que permeia nao so o sertao onde vive, mas tambem os relacionamentos humanos, fato explicitado na ausencia de afeto e de complacencia, com os quais o menino passa sua infancia.

Ao oferecer ao leitor a rememoracao com que compartilha sua infancia sofrida, a trama de Graciliano desperta o sentimento de compaixao, voltado para a figura do escritor e para a de outras personagens. Ao aderir a trama ficcional, o leitor aguca a capacidade de trazer ao coracao a propria infancia e rememora-la, bem como entender como se formou a identidade de um dos maiores nomes do ciclo do romance brasileiro do seculo XX.

Doi: 10.4025/actascilangcult.v40i2.41030

Referencias

Aristoteles. (2005). Poetica. In Aristoteles, Horacio & Longino. A poetica classica. Sao Paulo, SP: Cultrix. Candido, A. (2004). A literatura e a formacao do homem. In Varios escritos (4a ed., p. 169-191). Rio de Janeiro, RJ: Duas Cidades.

Catroga, F. (2001). Memoria e historia. In S. Pesavento (Ed.), Fronteiras do milenio (p. 43-69). Porto Alegre, RS: Ed. Universidade UFRGS.

Pollak, M. (1992). Memoria e identidade social. Rio de Janeiro, RJ: Estudos Historicos.

Ramos, G. (1980). Infancia. Rio de Janeiro, RJ: Record. Ricoeur, P. (1994). Tempo e narrativa. Campinas, SP: Papirus.

Woodward, K. (2012). Identidade e diferenca: uma introducao teorica e conceitual. In T. T. Silva (Ed.), Identidade e diferenca: a perspectiva dos estudos culturais (p. 7-72). Petropolis, RJ: Vozes.

Received on December 18, 2017.

Accepted on July 26, 2018.

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Catia Silene Kupssinsku e Juracy Assmann Saraiva

Programa de Pos-Graduacao em Processos e Manifestacoes Culturais, Universidade Feevale, ERS-239, 2755, 93525-075, Novo Hamburgo, Rio Grande do Sul, Brasil. * Autor para correspondencia. E-mail: catiask@terra.com.br

(1) Os caracteres das obras ficcionais podem ser classificados como "[...] melhores", representados pelos virtuosos, nas tragedias e nas epopeias; "[...] piores", que sao representados nas comedias e "[...] homens iguais a nos" (Aristoteles, 2005, p. 38).

(2) O conceito de mimese remete ao poder de criacao artistica a partir de um dado pre-existente (Ricouer, 1994). A criacao artistica pode se diferenciar pelos meios, conceito que agrega como poesia todas as manifestacoes, usando-se como exemplo a literatura, que e expressa por linguagem verbal; pelos modos, que consistem no processo de narrar; e pelos objetos, que correspondem aos caracteres, ou personagens (Aristoteles, 2005).
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