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文章基本信息

  • 标题:Language of the elderly in Southeastern Brazil: the prosodic level/A linguagem dos idosos da regiao sudeste do Brasil: o nivel prosodico.
  • 作者:dos Santos, Karoline Pimentel ; Santana, Ana Paula
  • 期刊名称:Acta Scientiarum. Language and Culture (UEM)
  • 印刷版ISSN:1983-4675
  • 出版年度:2016
  • 期号:October
  • 出版社:Universidade Estadual de Maringa
  • 摘要:Introducao

    Segundo a Organizacao Mundial da Saude [OMS] (2001), o Brasil, em 2025, sera o sexto pais do mundo com o maior numero de idosos. Em 2050, havera uma media de 15 milhoes de idosos, dos quais 13,5 milhoes apresentarao idade superior a 80 anos.

    Embora tenhamos politicas publicas especificas voltadas para esse grupo etario, como a Politica Nacional do Idoso, o Estatuto do Idoso (Lei no. 10.741, 2003) e a Politica Nacional de Saude da Pessoa Idosa (Portaria no. 2.528, 2006; Lei no. 8.842, 2010), o Brasil ainda se encontra em um processo de adaptacao para esta nova realidade. Ha, assim, a necessidade de pesquisas voltadas para a compreensao do processo de envelhecimento e sua construcao social.

    Neste texto, partimos de uma compreensao do envelhecimento como uma construcao social (Hareven, 1999). Dessa forma, a caracterizacao da velhice apresenta-se de modo difuso, ja que seu conceito e variavel segundo cada cultura, podendo ser representada tanto positiva quanto negativamente.

    O envelhecimento pode ser definido conforme a perspectiva cronologica (por idade) ou psicologica (estado de espirito) (Ramos, 2003). No mundo ocidental, ha uma tendencia a considerar o envelhecimento a partir da perspectiva cronologica. Paira, contudo, certa imprecisao metodologica nos trabalhos referentes ao envelhecimento, em relacao a delimitacao dessa faixa etaria, prejudicando a comparacao entre seus resultados (Verhaegen & Poncelet, 2013). E possivel verificar, por exemplo, que alguns trabalhos incluem sujeitos a partir dos 50 anos na categoria idosos, outros incluem sujeitos a partir dos 60 anos (Camarano, 2002). De todo modo, em geral, idosos com idade inferior a 79 anos sao chamadas de 'idosos jovens' enquanto que idosos com idade superior a 79 anos sao chamados de 'idosos velhos'. Importa observar, no entanto, que ambos os fatores, cronologico e psicologico, parecem nao se distinguir por uma postura metodologica mais ou menos objetiva, mas, antes, caracterizam-se dentro do ambito sociocultural, por exemplo: podemos considerar uma pessoa idosa com 39 anos em Serra Leoa, cuja expectativa de vida da populacao e em torno dos 40 anos? Ou ainda, ser avo aos 45 anos e vivenciar um papel social de idoso, mas essa pessoa seria idosa?

Language of the elderly in Southeastern Brazil: the prosodic level/A linguagem dos idosos da regiao sudeste do Brasil: o nivel prosodico.


dos Santos, Karoline Pimentel ; Santana, Ana Paula


Language of the elderly in Southeastern Brazil: the prosodic level/A linguagem dos idosos da regiao sudeste do Brasil: o nivel prosodico.

Introducao

Segundo a Organizacao Mundial da Saude [OMS] (2001), o Brasil, em 2025, sera o sexto pais do mundo com o maior numero de idosos. Em 2050, havera uma media de 15 milhoes de idosos, dos quais 13,5 milhoes apresentarao idade superior a 80 anos.

Embora tenhamos politicas publicas especificas voltadas para esse grupo etario, como a Politica Nacional do Idoso, o Estatuto do Idoso (Lei no. 10.741, 2003) e a Politica Nacional de Saude da Pessoa Idosa (Portaria no. 2.528, 2006; Lei no. 8.842, 2010), o Brasil ainda se encontra em um processo de adaptacao para esta nova realidade. Ha, assim, a necessidade de pesquisas voltadas para a compreensao do processo de envelhecimento e sua construcao social.

Neste texto, partimos de uma compreensao do envelhecimento como uma construcao social (Hareven, 1999). Dessa forma, a caracterizacao da velhice apresenta-se de modo difuso, ja que seu conceito e variavel segundo cada cultura, podendo ser representada tanto positiva quanto negativamente.

O envelhecimento pode ser definido conforme a perspectiva cronologica (por idade) ou psicologica (estado de espirito) (Ramos, 2003). No mundo ocidental, ha uma tendencia a considerar o envelhecimento a partir da perspectiva cronologica. Paira, contudo, certa imprecisao metodologica nos trabalhos referentes ao envelhecimento, em relacao a delimitacao dessa faixa etaria, prejudicando a comparacao entre seus resultados (Verhaegen & Poncelet, 2013). E possivel verificar, por exemplo, que alguns trabalhos incluem sujeitos a partir dos 50 anos na categoria idosos, outros incluem sujeitos a partir dos 60 anos (Camarano, 2002). De todo modo, em geral, idosos com idade inferior a 79 anos sao chamadas de 'idosos jovens' enquanto que idosos com idade superior a 79 anos sao chamados de 'idosos velhos'. Importa observar, no entanto, que ambos os fatores, cronologico e psicologico, parecem nao se distinguir por uma postura metodologica mais ou menos objetiva, mas, antes, caracterizam-se dentro do ambito sociocultural, por exemplo: podemos considerar uma pessoa idosa com 39 anos em Serra Leoa, cuja expectativa de vida da populacao e em torno dos 40 anos? Ou ainda, ser avo aos 45 anos e vivenciar um papel social de idoso, mas essa pessoa seria idosa?

A literatura mais organicista aponta deficits fisiologicos (Fabron, Sebastiao, & Onofri, 2013) que ocorrem nesse periodo da vida. Encontramos tambem, na area de neurologia, descricoes pormenorizadas sobre o cerebro do idoso:

Em sujeitos idosos sadios, a neuroimagem estrutural com TC e RM mostra reducao do volume total do cerebro, com dilatacao dos sulcos e sistema ventricular, especialmente dos ventriculos laterais e III ventriculo (Damasceno, 1999, p. 82).

Ressalta-se, no entanto, que um cerebro com menor volume nao significa um cerebro com menor capacidade de funcionamento, pois a relacao entre cerebro e cognicao nao pode ser analisada a despeito das condicoes de vida em sociedade (Morato, 2002).

Especificamente na area da linguagem, concordamos com Monteiro e Gamburgo (2007), que alem de serem escassas as investigacoes existentes, os estudos ja realizados nao refletem as reais habilidades comunicativas dos idosos. Isto porque a grande maioria desses estudos ou compara o desempenho linguistico de sujeitos idosos ao de sujeitos nao idosos, ou compara com o desempenho de sujeitos nao idosos ao de pessoas acometidas por demencias senis ou lesoes neurologicas em idade idosa.

Neste caminho, Thornton e Light (2006) descrevem uma serie de dificuldades linguisticas presentes na linguagem dos idosos: dificuldade de reconhecimento de palavra; pior desempenho de interpretacao de sentencas nao predicativas; dificuldade de manutencao da informacao, processamento sintatico afetado pela dificuldade na memoria de trabalho; fenomeno de ponta-da-lingua; dificuldade de identificar figuras de baixa frequencia; expressao pior que a compreensao; diferencas entre o processamento semantico e o fonologico, dificuldades com inferencias e pressupostos e disfluencia. Os autores ainda ressaltam que ha uma lacuna na producao de trabalhos sobre a linguagem dos idosos e sobre as mudancas que tanto os aspectos estruturais quanto discursivos vao sofrendo ao longo da vida de um individuo ou de uma faixa etaria.

Ha poucos trabalhos que se dedicam a descrever e a explicar as mudancas na fala dos idosos. Ressaltase que essas mudancas ocorrem, principalmente, quando o papel social do idoso se altera. Com a perda do status social em um determinado momento da vida, caracteristicas da linguagem passam a ser consideradas como 'sintomas' de uma patologia: "[...] nao fala mais coisa com coisa, fulano repete sempre a mesma coisa, coisa de velho, fulano so fala do passado etc." (Novaes-Pinto, 2008, p. 14).

Sobre esse aspecto, Marcuschi (1991) chama a atencao para a chamada 'conversa de velhos', descrita como sendo uma conversa comprida, sem fio, arrastada, pausada, o que so revela uma atitude preconceituosa com relacao a linguagem do idoso. Preti (1991) ja afirma que caracteristicas como pausas, repeticoes, abandono de segmentos, desorganizacao sintatica, sobreposicoes de vozes, disfluencia, assaltos e entregas de turno, dentre outras, fazem parte de um quadro absolutamente normal, dentro do qual a linguagem dos idosos apresenta marcas especificas que podem ser vislumbradas nos campos prosodico, sintatico, lexico e, sobretudo, discursivo ou conversacional. A instabilidade seria um fenomeno absolutamente normal na linguagem oral, nos falantes de qualquer faixa etaria. O autor chama a atencao para as alteracoes qualitativas na fluencia dos falantes idosos, que tendem a preferir repeticoes a parafrases diante da necessidade de enfase ou falhas de memoria, comuns ao processo sincronico de elaboracao e producao de enunciado.

Ve-se aqui a carencia de trabalhos mais especificos sobre o tema. E interessante, portanto, analisarmos a prosodia no processo de envelhecimento. A prosodia (1) destaca-se como um dos elementos caracterizadores da fala do idoso, mais especificamente no que se refere aos aspectos suprassegmentais, como o tempo, que compoe a dinamica da fala e indica a velocidade da sua producao.

De acordo com Gomes et al. (2013), a diminuicao da velocidade de desempenho e uma das caracteristicas proprias do processo de envelhecimento, sendo que, no que se refere a fala, a deterioracao da qualidade da producao vocal tende a ser socialmente estereotipada, repercutindo de maneira negativa na atividade comunicativa do sujeito idoso.

Menezes e Vicente (2007) afirmam que a velocidade de fala torna-se vulneravel ao envelhecimento na medida em que passa a ser o resultado de uma reducao da capacidade pulmonar dos sujeitos idosos. A capacidade pulmonar, segundo as autoras, pode ser reduzida em ate 40% da fase adulta a idosa, especificamente dos 20 aos 80 anos. Como a respiracao e um dos componentes que contribuem para a oralidade, segundo as autoras, a diminuicao da capacidade pulmonar acaba por influenciar diretamente na producao da fala.

Em um estudo sobre o desenvolvimento da fluencia verbal, Martins e Andrade (2008) constataram que a velocidade de fala pode revelar tanto estados patologicos quanto sinais de degeneracao normais. Segundo as autoras, a velocidade de fala mantem-se progressiva ate a adolescencia, estabilizando-se na fase adulta e regredindo na idade idosa. Assim, a partir dos 60 anos, a velocidade tende a diminuir progressivamente, de maneira que, a partir dos 80 anos, a velocidade de fala de idosos iguala-se a de criancas e de adolescentes (2), denunciando de forma mais clara o processo de degeneracao linguistica.

Segundo Andrade e Martins (2010), os idosos normais, com mais de 80 anos, apresentam mais pausas e hesitacoes que adultos e, portanto, uma menor produtividade articulatoria. As autoras acreditam que a possivel instabilidade motora, caracteristica da idade idosa, como se refere a literatura da area, possa ser responsavel pela reducao da velocidade de fala desses sujeitos. Ja Mefferd e Corder (2014) interpretam a reducao da velocidade de fala entre idosos como uma estrategia de compensacao para o decrescimo do controle articulatorio, cujo trato para execucao da fala e bastante preciso.

Para Bollela (2006), a velocidade de fala pode assumir uma funcao estrategica dialogica, pragmatica e fonetica. Na situacao de interacao verbal, o aumento da velocidade indica enfase no conteudo e garantia de manutencao do turno. Do ponto de vista pragmatico, a desaceleracao salienta a importancia do que se diz e a aceleracao, ao contrario, como observa Cagliari (1992), anuncia o momento futuro em que o enunciador enfatizara a informacao que considera importante. Do ponto de vista fonetico, a aceleracao indica o inicio do enunciado, ao passo que a desaceleracao marca o fim do enunciado. No entanto, vale mencionar, acredita-se aqui que 'fonetico' nao seja o termo mais apropriado neste caso, pois marcar inicio e fim de conversacao parece ser mais uma estrategia do tipo discursivo necessaria na interacao verbal, assim como as outras marcas de descontinuidades da fluencia verbal, alem dos gestos e das expressoes faciais. Considera-se, assim, que os aspectos discursivos e pragmaticos fazem parte diretamente da significacao, ja que contribuem, a partir das condicoes de producao do enunciado, para a construcao do sentido.

Do ponto de vista da interlocucao, Lessa e Costa (2013) afirmam que o reconhecimento de sentencas na senescencia e impactado pela velocidade de fala. Segundo os autores, idosos normais apresentam melhor desempenho em relacao a interpretacao da fala do outro, quando a producao de sentencas e lentificada. Os autores observam ainda que a qualidade sonora do ambiente durante a producao verbal tambem contribui para este resultado, de maneira que sentencas lentificadas em ambientes silenciosos sao mais bem compreendidas do que sentencas pronunciadas em velocidade regular de fala.

De modo geral, a maioria dos trabalhos apresentados anteriormente apresenta uma visao mais organica das questoes prosodicas relacionadas a linguagem do idoso, que esta sempre em deterioracao: diminuicao da capacidade pulmonar, diminuicao da velocidade de fala, instabilidade motora, dentre outros. Ao que parece, nao se consideram os aspectos socioculturais quando a fala e analisada. Afinal, sera que a fala de idosos apresenta-se como um bloco homogeneo? Sera que a velocidade de fala se modificaria entre falantes que compoem grupos linguisticos diferentes? Alem das questoes organicas ja apontadas na literatura, haveria algum vinculo entre os aspectos socioculturais e a velocidade de fala em idosos?

Para discutirmos essa questao, tomaremos como posto de observacao uma analise sociolinguistica de variacao prosodica nos idosos. Assim, este estudo tem como objetivo analisar a velocidade de fala entre falantes idosos da regiao Sudeste do Brasil.

Metodologia

Foram analisados discursos semiespontaneos de 32 sujeitos, 16 idosos, de 50 a 65 anos, e 16 jovens (3), de 18 a 30 anos, extraidos do banco de dados do ALIB (Atlas Linguistico do Brasil) (4). Os sujeitos da pesquisa foram divididos em sexo (M e F), escolaridade (ensino fundamental e ensino superior) e capital (Sao Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Vitoria). Os participantes selecionados sao nascidos e residentes nas capitais da regiao Sudeste,--nativos e filhos de nativos, de maneira a garantir a representacao da identidade linguistica local. Nenhum participante apresentou queixa de dano neurologico ou aparentou dano articulatorio no momento da coleta de dados.

Os discursos analisados foram selecionados do questionario tematico do ALIB, 'temas para discursos semidirigidos', 'relato pessoal', nas tipologias narrativa ('Me conta um acontecimento marcante da sua vida (casamento, namoro ...)'; 'Me conta um caso que aconteceu com um amigo ou parente seu, o que voce ouviu falar e que te chamou a atencao')--e descritiva ('Qual e/era a rotina do seu trabalho?'). Um turno completo sem interrupcoes e sem interferencia direta do interlocutor foi selecionado dentre esses tres discursos semidirigidos, de maneira que inicios e fins do turno, que apresentam velocidade distinta do desenvolvimento tematico discursivo, fossem considerados entre todos os participantes.

Para a analise da velocidade de fala dos sujeitos, foi utilizado o programa Transcriber--disponivel gratuitamente na internet--que permite a transcricao, analise acustica e medicao temporal do traco selecionado. A transcricao foi duplamente conferida de maneira a garantir a lealdade do material transcrito. Considerou-se a producao de palavras--numero de palavras do discurso por milissegundos. Descontinuidades de fala, como hesitacao e pausa, nao foram desconsiderados, palavras truncadas e marcadores conversacionais foram considerados palavras (5).

Resultados e discussao

O resultado das analises de fala demonstrou haver variacao de velocidade entre os idosos, segundo as variaveis estudadas. A analise por 'capital', conforme mostra a Figura 1, indicou que, dentre os sujeitos idosos da regiao Sudeste, os idosos provenientes de Belo Horizonte sao os que apresentaram uma maior velocidade de fala (com media de 401.873 ms [palavra.sub.-1]) seguidos por paulistanos (441.154 ms [palavra.sub.-1) e capixabas (466.510 ms [palavra.sub.-1). Idosos do Rio de Janeiro apresentaram desempenho mais lento da regiao Sudeste, fazendo uso de, em media, 158.433 ms a mais que mineiros para a producao de uma palavra. Vejamos abaixo com mais detalhes essa questao.

O tamanho dos turnos diferiu entre os participantes, em conformidade com o encontrado na literatura sociointeracional, que se assume que cada falante, sob a perspectiva da fluencia oral, apresenta um perfil linguistico, constituido na e/ou por meio da sua historia social (Fillmore, 1979). Segundo Day (1979), a velocidade de fala e a extensao do enunciado refletem um perfil constituido socioculturalmente.

Para Day (1979), por exemplo, a resposta a uma mesma pergunta ("[...] quantas pessoas trabalham para voce?") pode variar radicalmente entre os falantes: um locutor de Jockey tende a apresentar um enunciado longo e explicativo, ao passo que um nativo de Maine (nordeste dos EUA) tende a ter uma resposta consideravelmente mais curta.

Schwab e Avanzi (2015) completam, afirmando que o estilo ou jeito da fala, alem das variaveis tradicionais como regionalidade, idade e sexo, tambem pode contribuir para a caracterizacao de uma taxa de articulacao na fala. Assim, no presente estudo, falantes da mesma regiao apresentaram extensoes de enunciados diferentes, como mostra o exemplo a seguir, sem que isto, no entanto, tenha interferido no resultado, calculado pelo numero de segundos por producao de palavras.

Em relacao a escolaridade, foi possivel verificar, conforme mostra a Figura 2, que idosos mais escolarizados apresentaram menor velocidade de fala que idosos menos escolarizados. A diferenca entre as medias de producao foi de 56.144 ms por producao de palavra entre os idosos. A variavel 'sexo', por sua vez, foi a que apresentou menor diferenca de desempenho entre os sujeitos. Idosos do sexo masculino exibiram maior velocidade de fala que idosos do sexo feminino, conforme mostra a Figura 3.

A analise prosodica dos 16 falantes idosos permitiu delinear um perfil de velocidade de fala de idosos na regiao Sudeste, com uma media de desempenho de 467.461 ms por producao de palavra.

Conclusao

O envelhecer nao pode ser discutido como se fosse um processo homogeneo, isoladamente organico, e independente dos aspectos sociais e culturais, como os tracos de fala local, a competencia discursiva, o nivel de escolaridade e as questoes relativas a enunciacao como um todo. Nesse sentido, a linguagem, que se da no e pelo meio social, reflete as identidades e as caracteristicas linguisticas especificas dos sujeitos dessa faixa etaria.

Assim, vemos que a fala do idoso tambem apresenta heterogeneidade com relacao a velocidade de fala, demostrando variacao de desempenho em relacao a esse aspecto prosodico. Dessa maneira, acredita-se que fatores socioculturais possam contribuir para a regulacao da velocidade de fala desses sujeitos. Esta hipotese e reforcada pela comparacao da velocidade da fala entre idosos mais e menos escolarizados, ja que os idosos com escolaridade superior apresentaram uma significativa reducao na velocidade da fala em comparacao com os idosos de baixa escolaridade. De acordo com os achados na literatura sobre o efeito da escolaridade na expansao da reserva cognitiva, o sujeito idoso mais escolarizado, seja em contexto patologico, seja em contexto de degeneracao normal, mantem suas caracteristicas linguisticas mais preservadas do que os sujeitos menos escolarizados (Manly et al., 1999; Ceci, Rosenblum & Debruyn, 1999; Siedlecki et al., 2009; Stern, 2002). Nesse sentido, considerando os resultados deste estudo, seria um contrassenso assumir que os efeitos de degeneracao, isoladamente, explicassem o diferente desempenho entre os idosos mais e menos escolarizados desta pesquisa, principalmente se se atentar para a diferenca entre os anos de escolaridade--ensino fundamental (4 anos) e superior (12 anos). Estes resultados sugerem que a reducao da velocidade de fala no envelhecimento deve ser observada com cautela, visto que ela pode ser tambem efeito de uma estrategia discursiva. Assim, pode-se hipotetizar que a alteracao temporal nao seja (tao somente) o resultado de uma degeneracao neurocognitiva ou motora, mas antes possa ser tambem a expressao relacional entre as faces do locutor (idoso) e do interlocutor (jovem ou idoso) no processo enunciativo de negociacao de sentidos, perpassada pelos aspectos socioculturais.

Por fim, conclui-se, com esta pesquisa, que a questao prosodica, especificamente relacionada a velocidade, nao se mostra definida nos idosos, sofrendo variacoes socioculturais. Logo, os fatores sociais tem intrinseca relacao com os organicos. Vese tambem que, embora este ainda seja um tema com poucas producoes cientificas, o seu estudo pode contribuir para o entendimento da linguagem no envelhecimento, para alem de uma questao apenas organica. Ressaltamos ainda a importancia da continuidade da pesquisa em outras regioes do pais, assim como entre paises, para que se possa entender melhor a relacao entre envelhecimento organico e aspectos socioculturais.

Doi: 10.4025/actascilangcult.v38i4.27687

Referencias

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Received on May 6, 2015.

Accepted on July 27, 2015.

Karoline Pimentel dos Santos e Ana Paula Santana *

Centro de Ciencias da Saude, Universidade Federal de Santa Catarina, Campus Reitor Joao David Ferrreira Lima, 88040-970, Florianopolis, Santa Catarina, Brasil. * Autor para correspondencia. E-mail: anaposantana@hotmail.com

(1) De acordo com Bollela (2006), o termo prosodia era utilizado pelos gregos em referencia a tracos de fala nao representados ortograficamente--aos poucos, no entanto, alguns deles foram introduzidos por meio de sinais, como o acento, por exemplo. Apesar da possibilidade da representacao ortografica de alguns desses tracos, a autora observa que atualmente o termo refere-se a todos os fenomenos fonicos suprassegmentais, como velocidade, duracao, tom, altura, intensidade e ritmo, ou seja, acima da representacao segmental dos fonemas.

(2) Segundos as autoras, e na idade infantil e adolescente que se da a maturacao do sistema neurolinguistico para a fluencia, ao passo que, na idade adulta, a fluencia (e as rupturas que a constituem) comecam a se estabilizar.

(3) Apesar de o objetivo primordial deste artigo ser a comparacao da velocidade de fala entre idosos, decidiu-se por analisar a velocidade de sujeitos jovens do mesmo perfil, apenas para verificar se os achados na literatura se confirmam nesta pesquisa.

(4) Para maiores informacoes, acessar o site do projeto em: http://twiki.ufba.br/twiki/bin/view/Alib/WebHome

(5) Parte-se do pressuposto de que as descontinuidades de fala sao constituintes da fluencia verbal (Koch & Silva, 2002), de maneira que desconsiderar essas marcas de planejamento on-line significaria comparar a linguagem oral com a linguagem escrita, cuja natureza e outra (Marcuschi, 1997). Assim, optou-se por considerar essas marcas na analise do discurso da velocidade de fala.
Figura 1. Desempenho por idade e capital.

SP   441.154
RJ   560.306
VT   466.510
BH   401.873

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Note: Table made from bar graph.

Figura 2. Desempenho por escolaridade.

Ensino Fundamental   434.636 (ms [palavra.sup.-1])
Ensino Superior      490.780 (ms [palavra.sup.-1])

Fonte: Elaborada pelas autoras.

Note: Table made from bar graph.

Figura 3. Desempenho por sexo.

Femmino     470.787 (ms [palavra.sup.-1])
Masculino   454.628 (ms [palavra.sup.-1])

Fonte: Elaborada pelas autoras.
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