摘要:Escrito na década de 1960, o conto “A enxada”, do escritor goiano Bernardo Élis, revela traços do regionalismo brasileiro, pois, por exemplo, o narrador apresenta, muitas vezes, vocabulário e sintaxe próximos ou idênticos aos dos personagens campestres, o que mostra certo aspecto humanizador desse conto, no qual é narrada a saga do protagonista Supriano na busca por uma enxada. Também conhecido como Piano, esse matuto sai desenfreadamente à procura dessa ferramenta para plantação de arroz na roça do personagem Coronel Elpídio Chaveiro. Tal matuto persiste insistentemente nessa procura, de maneira que suas forças física e mental definham-se ao longo do conto, já que a busca pela enxada torna-se para ele um grande fardo e enfado. Neste artigo, procuramos problematizar a relação entre as condições de produção de (sobre)vivência de Supriano e o seu modo modalizado e eufemístico de dizer. Temos como objetivo analisar esse modo de dizer, o qual parece apontar para uma resistência pacífica do protagonista à maneira de ser de uma sociedade coronelesca e desumana. Hipotetizamos que essa resistência produziria como efeito o sacrifício de si, o qual desembocaria no definhamento físico e mental desse matuto. Para a efetivação do nosso texto, pautamo-nos na teoria discursiva de Foucault (1995), sobretudo no que diz respeito às noções de poder, violência, luta e resistência.