摘要:No final da década de 1950, Merleau-Ponty desloca seu foco de investigação da fenomenologia à
ontologia. Tal transição envolve a articulação de seus estudos prévios acerca da percepção e da
corporeidade com os desdobramentos filosóficos dos postulados da física e da biologia da primeira metade
do século. A partir de uma reformulação do conceito de natureza, fomentada não só pelas ciências
supracitadas como pela metafísica de Whitehead, Merleau-Ponty propõe a admissão da natureza como
um fluxo de expressividade temporal autoprodutora de sentido, incorporando ao âmago do ser a
temporalidade e a negatividade antes exclusivas ao para-si. A carne de Merleau-Ponty, como veremos,
está em harmonia com a noção de processo de Whitehead, apontando assim um certo hilozoísmo pré-
socrático na ontologia de ambos. Dito isso, o objetivo do artigo consiste em examinar a ontologia indireta
de Merleau-Ponty, indicando sua convergência com a filosofia de Whitehead para, finalmente,
introduzirmos uma crítica incipiente a partir da obra de Francisco Varela. Defende-se aqui que o conceito
de autopoiesis pode indicar uma alternativa à noção merleau-pontiana de natureza.