摘要:De fato, o termo confabulação tem se prestado a muitos entendimentos, seja no contexto das práticas linguísticas cotidianas, seja no da pesquisa clínica. Neste, a confabulação tem sido associada às síndromes mnésicas e demenciais, subsidiando a partir da segunda metade do século XX estudos sobre memória autobiográfica, falsificação de memória e julgamento da realidade. Nesse contexto, a memória humana – falível, inconsistente, imperfeita – envolve de forma constitutiva um pathos por excelência: o esquecimento e seus tantos derivados e formas de expressão, como as fabricações de memórias, próprias e alheias. Para o desenvolvimento da reflexão sobre a memória a partir das relações entre ficção e realidade, pretendemos focalizar o que no terreno dos estudos neuropsicológicos/neuropatológicos se convencionou chamar de confabulação – a fabricação ou invenção de falsas memória s sem intenção de iludir - tomada ora como uma espécie de “mentira honesta” (posto que sua produção seria involuntária ou inconsciente em indivíduos com alterações neurológicas ou psíquicas), ora como reação humana às injunções ético-discursivas decorrentes da falibilidade constitutiva da memória, ora como resultado da possibilidade de reformatação (artificial) de lembranças e esquecimentos.