摘要:Este artigo tem o objetivo de construir uma reflexão fenomenológica acerca da corporeidade no envelhecimento por meio do diálogo das perspectivas de Beauvoir e Merleau-Ponty, partindo das obras A velhice (Beauvoir) e Fenomenologia da percepção (Merleau-Ponty). Recorreu-se, também, à novela de Beauvoir, Mal-entendido em Moscou, que ilustra as experiências de envelhecimento dos protagonistas. Beauvoir demonstra que o corpo é coadjuvante no desvelar da velhice, pois se torna objeto para o outro, delator de nosso envelhecimento. Essa perspectiva é permeada pela concepção sartreana de irrealizável, dada a impossibilidade de síntese do para-si e do em-si que constitui a existência. Contudo a filósofa ultrapassa essa perspectiva quando apresenta a experiência ambígua da senescência como um dos limites à liberdade. Beauvoir e Merleau-Ponty têm em comum a compreensão de que o corpo é condição para ser. Em diálogo com a filosofia de Merleau-Ponty, nota-se que, embora Beauvoir concorde com a reflexão sobre o corpo vivido como potência (je peux), sua perspectiva articula a ambiguidade do que um corpo pode e o que não pode. Assim, acedemos à conclusão sobre as restrições vividas, dadas não apenas pelo aspecto material do corpo que envelhece, mas especialmente pelas opressões sociais. Argumenta-se que Beauvoir abre uma dimensão ética ao pensar a velhice, adensando o problema do outro e de si, e da nossa relação com o estranho que há em nós mesmos. Nesse sentido, a obra de Beauvoir nos leva a indagar se estamos preparados para envelhecer e vivenciar nossa velhice, já que sempre a mantemos a distância, como uma estranha que desaba sobre nós.