摘要:O tema da ética em pesquisas com crianças tem estado em evidência no âmbito acadêmico.No contexto brasileiro, alguns fatores ajudam a explicar essa, relativamente recente, visibilidade: o reconhecimento dos direitos de participação às crianças, a emergência dos estudos sociais da infância e os intensos debates em torno da revisão das normas sobre ética em pesquisas com seres humanos.Artigos que relatam pesquisas com crianças citam cada vez mais normas éticas.É possível afirmar, com isso, que as pesquisas estão mais eticamente orientadas? Argumentamos aqui que tal afirmação não é simples, e trazemos para essa discussão os resultados da análise de 258 artigos e de 59 teses/dissertações que relatam pesquisas com crianças nas áreas de antropologia, educação, psicologia e sociologia.Apoiamo-nos principalmente nos estudos sociais da infância e nas abordagens de Bauman e Ricoeur acerca da ética.Observa-se que muitos textos mencionam – em parágrafo específico ou nota de rodapé – apenas a aprovação pelo comitê de ética, o sigilo e/ou o consentimento dos responsáveis.Estar “quites” com as normas talvez desobrigue pesquisadores de lidar com dúvidas e dilemas, tão próprios da postura ética.O pesquisador, além disso, se mantém protegido por ter feito aquilo que, segundo a lei, precisava ser feito.O texto comenta diferenças a esse respeito encontradas entre áreas de conhecimento, temas de pesquisas e entre pesquisas realizadas em instituições e contextos mais amplos, como o espaço público e as cidades.No que diz respeito ao aproveitamento dos espaços públicos e territórios urbanos para fazer emergir a criança co-autora da pesquisa temos produzido novas visibilidades e invisibilidades.Entre essas, pesquisas com crianças têm apagado suas interdependências e aspectos fundamentais de suas teias de convivência.