出版社:Faculdade de Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
摘要:Gostaríamos, neste artigo, de indicar certas modificações
ou explicitações trazidas há uma dezena de anos
à teoria da polifonia tal como ela é exposta em Ducrot
(1984, cap. 8). Na primeira parte, tratar-se-á, antes de
tudo, de explicitações. Mostraremos como tornamos
precisa uma distinção presente desde o início da teoria,
a distinção entre as atitudes do locutor frente aos
enunciadores e o modo como o locutor (ou o sujeito
falante) assimila os enunciadores a determinada personagem
de discurso. É claro, é somente no enunciado,
como ocorrência particular da frase, que o locutor põe
em cena enunciadores, assimila-os, e toma posição em
relação a eles. Nessa medida, uma descrição propriamente
lingüística não pode dizer quais são as assimilações
e atitudes manifestadas em um enunciado. Mas
nós mantemos a concepção instrucional da significação
segundo a qual a frase coloca exigências, limites e
restrições para construir as assimilações e atitudes
manifestadas em um enunciado. A segunda e a terceira
partes mostrarão as modificações a serem trazidas à
análise polifônica da negação se colocada no quadro
atual da teoria da argumentação na língua, isto é, na
teoria dos blocos semânticos (TBS), introduzida em
Carel (1992). A segunda parte dirá respeito aos enunciados
ditos “pressuposicionais”: eles serão tratados de
um modo completamente novo, principalmente quanto
ao efeito da negação sobre eles – o que conduzirá a voltar
à negação “metalingüística”, e a dar-lhe uma descrição
homogênea à da negação “ordinária”, já que ela aparecia
um pouco até agora como um caso monstruoso.
A terceira, e última parte, mostrará as complicações
(esperamos que sejam enriquecimentos) que as noções
de base da TBS – por exemplo, a distinção entre
“argumentação interna” e “argumentação externa” e, por
outro lado, entre “aspecto expresso” e “encadeamento
evocado” – introduzem na descrição da negação comum.
lingüística, retirando-a de certas formulações enfraquecidas
que podem desfigurá-la. Sabe-se que, segundo essa
teoria, o locutor tem dois tipos de relação com os
enunciadores que ele põe em cena em seu enunciado, e
que são as origens dos pontos de vista expressos.1 De
um lado, ele os assimila a seres determinados, ou mais
freqüentemente indeterminados e caracterizados só de
modo geral. A assimilação é feita, por exemplo, com um
ser determinado quando se diz “eu me sinto cansado”:
dá-se a si mesmo como origem do ponto de vista segundo
o qual se está cansado. É ainda o caso, mas talvez menos
nitidamente, quando se diz “segundo meu médico, estou
cansado”. Parece também aí que o julgamento de
cansaço é atribuído a alguém preciso, embora o essencial
seja menos a identidade do médico do que sua função.2
A assimilação é completamente indeterminada, em
compensação, em enunciados como “as pessoas que
pensam sabem que p”, “segundo certos filósofos, e não
os menores, é preciso admitir que “p”. O enunciador de
p é então assimilado às pessoas que pensam, ou a certos
filósofos eminentes (que não se quer identificar). A
mesma coisa em “segundo os bons estudantes, a prova
era fácil” e em “parece que fará bom tempo amanhã”.
Quais são os “bons estudantes”, quais são as pessoas cuja
opinião autoriza o locutor a dizer “parece”? O sentido
do enunciado não contém nenhuma resposta a essas
perguntas.