出版社:Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
摘要:De uma maneira geral, associa-se ética a um comportamento ou ação, a um
modo de se relacionar com o outro. Em tradução, diz respeito às relações que se
estabelecem entre o tradutor, o texto a ser traduzido, as línguas envolvidas e, para
muitos, o leitor. Essas relações não são lineares e estão sempre sujeitas a constante
tensão, com forças atuando em diferentes direções. Conforme o tradutor siga mais para
uma ou para outra dessas direções, atenda mais a um ou outro fator, produzirá diferentes
efeitos, construirá diferentes percepções do outro e, até, de si próprio. Diversos teóricos
da tradução têm proposto, ao longo da história, preceitos éticos que visam a regular
essas relações que se constroem na transformação que acontece ao se fazer uma
tradução. Entre as várias propostas teóricas que indicam um modo de conduzir a prática,
uma das mais conhecidas é a de Berman. Em L’épreuve de l’étranger (1984), o autor
define a “boa tradução”, a tradução ética: é a que não é etnocêntrica, a que não apaga a
língua e a cultura estrangeiras. A boa tradução é a “tradução da letra”, que abre “no
plano da escrita uma certa relação com o Outro” e fecunda “o Próprio pela mediação do
estrangeiro”; “é ser abertura, diálogo, mestiçagem, descentralização. Ou a tradução é
posta em contato, ou não é nada” (1984: 16).
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A “tradução ruim” é a tradução
etnocêntrica, que, “geralmente com o pretexto da transmissibilidade, opera uma negação
sistemática do estrangeirismo da obra estrangeira” (p. 17). Essas concepções de Berman
(1984: 62) são vistas como uma reação contra a tradição francesa das belles infidèles,
totalmente adequadas às normas da cultura francesa, que, em lugar de se “abrirem ao
influxo das línguas estrangeiras”, adaptam-se ao “modo de comunicação das esferas
intelectuais e políticas europeias”, sem estabelecer diálogo com o estrangeiro. A posição
de Berman (1984) aponta para a não aceitação de qualquer adaptação, de qualquer
adequação para o público, pois a boa tradução não seria apropriadora nem redutora. O
estrangeiro não deve ser reduzido ao próprio, ao familiar, ao doméstico.