摘要:Em 1566 saiu dos prelos aldinos de Veneza uma edição dos Catulli Carmina com um texto
fixado e anotado pelo português Aquiles Estaço, um humanista que, após algumas andanças, se
fixou em Roma, junto da Cúria pontifícia, vindo a falecer aí em 1581. Estaço pertence ao tempo
em que os «studia humanitatis», polarizados em torno da centralidade da imitação dos clássicos,
estavam já consolidados nessa segunda metade do séc. XVI graças a factores que iam da difusão,
mais do que institucionalizada, do livro impresso, até à filologia, à doutrina e à prática pedagógi-
cas, o que se reflectia no modo de conceber a «res litteraria»
1, a gramática2, a retórica, a poesia, a
história, aspectos que tornaram possíveis as condições para um «renascimento» da crítica literária3
e, consequentemente, para as múltiplas reflexões em torno de problemas difíceis como o da imi-
tação poética, da relação entre a ideia e a imagem, ou seja, a questão da expressividade criada
por meio das duas linguagens então consideradas fundamentais: a poesia, ou expressão verbal, e
a pintura, ou expressão icónica. A polémica, que levou séculos a superar, entre a poiesis e a pic-
tura, em boa parte resultante de uma maneira de interpretar a Poética de Aristóteles condicionada
pela leitura que se fazia do primeiro hemistíquio do v. 361 da Ars poetica de Horácio «ut pictura
poiesis», constituiu o campo de reflexão teórica mais importante até à emergência do Romantismo4.