O artigo aborda as trajetórias de jovens indígenas da etnia Tikuna, habitantes da região do Alto Solimões, Amazonas, que com a finalidade de alcançar uma escolarização mais avançada, se deslocam temporariamente – sozinhos ou com parte da sua família – às cidades da região, nas quais têm acesso a ofertas de ensino médio e superior. Descrevem-se os traços fundamentais que adquire o fenômeno de deslocamento para a cidade com fins de estudo, as motivações capazes de orientarem os Tikuna nesta escolha, assim como a posição social e as características do segmento que atravessa esta experiência. Mostra-se que estão em jogo diferentes idéias e valores, determinados pela posição social e pela configuração ideológico-religiosa de estudantes e de seus parentes, tais como se civilizar, conhecer o mundo dos brancos, experimentar a cidade, ter acesso a uma melhor educação. A importância deste estudo se justifica pela escassa bibliografia existente no Brasil sobre a educação escolar de indígenas em contextos urbanos e discute com a bibliografia que associa a urbanização dos índios a perda cultural e a desagregação dos grupos de parentesco.