摘要:Embora Flusser mencione Heidegger diversas vezes, ele raramente cita suas fontes com precisão. Com exceção de Língua e Realidade, ao fim do qual o autor oferece uma compilação das obras que considera essenciais para o argumento desenvolvido no livro, entre as quais se encontram três livros de Heidegger: Ser e Tempo, Nietzsche e Caminhos da Floresta. Esse vínculo é importante porque as considerações sobre a arte tecidas em L’art: Le Beau et le Joli estão fundadas na estrutura ontológica de Língua e Realidade, no qual a arte aparece como Poesia, isto é, como a camada criadora da língua. A compreensão flusseriana da arte como capacidade de criação de língua a partir do que ainda não foi articulado pode ser remetida à reivindicação nietzschiana de pensar a arte através do poder criador do artista, que é explicitada por Heidegger em Nietzsche. Além disso, em L’art: Le Beau et Le Joli, Flusser expõe os conceitos de “belo” e “agradável” de uma forma completamente singular, que pode, todavia, ser vista sob a luz do par conceitual “conservação e elevação”, utilizado por Heidegger, principalmente no texto A sentença nietzschiana “Deus está morto”, para pensar a valoração e a transvaloração dos valores no pensamento de Nietzsche. Não se pode afirmar em que medida a leitura dos textos heideggerianos sobre Nietzsche por parte de Flusser influenciou sua reflexão sobre a arte. Contudo, o objetivo deste artigo não é apenas traçar mais uma linha de dependência histórica entre o pensamento de um filósofo com seus precursores. Trata-se, antes, de buscar um ângulo no qual os célebres, porém obscuros, conceitos de arte, criação, belo, agradável, modelo e valor se entrelaçam nos pensamentos de Heidegger e Flusser. O que importa nessa conjuntura não é a autoria ou a origem das idéias, mas a trama filosófica que surge ao se tecer as considerações de Flusser sobre a urdidura do pensamento heideggeriano, e talvez nietzschiano.