Acolher alunos categorizados como apresentando necessidades educativas especiais (NEE) contribuiu para o aumento da multiculturalidade nas escolas. Os documentos de política educativa, nacionais (ME, 2008) e internacionais (UNESCO, 1994), salientam a necessidade de proporcionar uma educação inclusiva, colocando desafios aos professores. Contudo, persistem barreiras com que se deparam os Surdos e outros estudantes categorizados como apresentando NEE (Freire, 2006).
Focamo-nos nas adaptações realizadas nas práticas docentes para que dois estudantes Surdos aprendessem matemática com os colegas ouvintes. Assumimos uma abordagem interpretativa (Denzin & Lincoln, 1998) e um design de estudo de caso intrínseco (Stake, 1995). Os dois estudantes são Surdos profundos e severos, pré‑linguais, oralistas, frequentando, com uma idade próxima da esperada, o 12.º ano de escolaridade, considerando-se dois casos de sucesso escolar (Borges, 2009). Foram, também, participantes os colegas de turma e as professoras de matemática e educação especial. Os instrumentos de recolha de dados são a observação (registada em diário de bordo da investigadora e áudio gravada), entrevistas, conversas informais, protocolos dos alunos e recolha documental. O tratamento e análise de dados baseou-se numa análise de conteúdo de índole narrativa (Clandinin & Connelly, 1998), sucessiva e aprofundada, emergindo categorias indutivas (César, 2009).
Os resultados focam-se nos padrões interactivos observados em aula, que facilitaram a comunicação e aprendizagem da matemática dos dois estudantes Surdos e uma maior inclusão nos processos de ensino e aprendizagem da turma e grupo de pares. Diversos exemplos iluminam os seus contributos no acesso destes dois alunos aos artefactos culturais da matemática e sucesso escolar.