期刊名称:E-topia : Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia
电子版ISSN:1645-958X
出版年度:2004
期号:01
出版社:Universidade do Porto
摘要:Como modelo semântico, assim como formal, a utopia jamais poderá evitar as marcas do tempo: por um lado, as da realidade contemporânea, onde incide a sua visão crítica, por outro, as do discurso literário que define a sua construção textual. A utopia, lembrar-nos-á Laurent Gervereau, é, primeiramente, textual. É narrada e não vista: “Em parte alguma” (Gervereau 2000: 346). À abordagem da sua problemática no âmbito da narrativa pós-moderna, colocar-se-ão, assim, as questões da referência e da representação. Embora o referente se encontre sempre inscrito nos discursos da cultura, como Linda Hutcheon sublinhou (cf. Hutcheon 1989), não poderemos, contudo, deixar de reconhecer que a ficção pós-moderna se afasta da actividade referencial, a fim de privilegiar a auto-referência que lhe permite afirmar a sua identidade em termos de construção e, desse modo, libertar-se das convenções narrativas. Isto é, da representação da realidade exterior, à qual prefere a evocação dos possíveis, ainda que para depois os anular, bem como da história, das noções estruturantes de lógica e de causalidade, ou ainda de qualquer busca empírica da verdade. Com efeito, a narrativa pós-moderna não pretende considerar os factos, mas os efeitos das suas interpretações que desdobram múltiplas perspectivas da verdade, sempre problematizada enquanto fragmentada. No entanto, de acordo com a sua visão paradoxal, fortemente implicada no que procura contestar, ela reinstala essas noções tradicionais para ulteriormente as subverter. Esta sua dinâmica irá destabilizar o processo de narrativização, tal como é entendido pela abordagem teórica recente, “uma forma nuclear da compreensão humana, da imposição do sentido e da coerência formal ao caos dos acontecimentos” (Hutcheon 1989: 69). Mas ao destabilizá-lo, abre, porém, outras possibilidades de produção de sentido.