期刊名称：E-topia : Revista Electrónica de Estudos sobre a Utopia
电子版ISSN：1645-958X
出版年度：2008
期号：09
出版社：Universidade do Porto
摘要：Toda a busca autêntica de sentido nasce de uma experiência e começa a consolidar-se pelo desejo. E se esse sentido configurar uma realidade, um mundo a formar-se longinquamente, ele só sobreviverá, por certo, pelo amor, pela paixão, que se constituem como a substância do sonho. De resto, como pensar utopicamente sem o calor da generosidade? Foi assim que Donas Boto analisou e viveu os principais acontecimentos europeus do seu tempo, e foi, sobretudo, deste modo que idealizou uma Europa a formar-se politicamente como entidade supranacional. Com efeito, o nosso autor (1810, Ervedosa do Douro - 1890, Estremoz) teve, como nenhum outro português de então, o mais completo conhecimento experimental e intelectual da Europa. Foi exilado liberal em 1829, quando era já um brilhante aluno de Direito em Coimbra; conseguiu formar-se em Medicina por Lovaina; começou a compor no exílio a sua maior e mais significativa obra poética; e só regressou a Portugal no final da década de 40. Porque amava a sua “flor do Mundo” (Boto 1854: 336) – a Europa, a ponto de esta palavra ocorrer mil e uma vezes tanto na sua poesia como na sua abundante prosa de análise e de reflexão políticas –, ocupou o tempo livre a conhecer os grandes clássicos e os autores românticos europeus, sobretudo os das áreas da Poesia e da Filosofia Política. Salientemos que o ideário político e social de Donas Boto integrava não apenas aquilo que no seu entender constituía o melhor dos principais pensadores políticos e utópicos, desde Platão a Kant, como também todos os textos da ética cristã, nomeadamente as exortações de Cristo relacionadas com o amor ao próximo e com as bem-aventuranças. De resto, como se depreenderá, a radicalidade da proposta evangélica teve um claro correlato ético-político no pensamento europeísta de Donas Boto. Era de tal ordem a sua paixão pelas questões da Europa que, depois de acabar Direito em Coimbra, e vivendo retirado na sua aldeia altoduriense, acompanhava vivamente pela imprensa os maiores incidentes da vida social e política dos países hegemónicos do continente europeu. Conservava bem vivos na sua memória afectiva de exilado acontecimentos como a revolução monárquica de 1830 em França, o processo de independência da Bélgica e da Grécia, os motins dos operários em Paris e Lyon (1832) e, principalmente, a breve revolução de 1848 que “foi como um sonho que sonhou a Europa” (idem: 310).
