摘要:Referindo-se à festa de coroação de reis negros, realizada hoje em dia, Marina de Mello e Souza escreveu: “Mesmo que os seus significados básicos permaneçam os mesmos para os que a vivem anualmente, o espaço que ocupava na sociedade como um todo se restringiu bastante, e para os que a olham de fora, ela se tornou manifestação folclórica, tradição admirada por alguns, mas percebida como deslocada no tempo.” Há algo de comovente em alguma coisa tornar-se paulatinamente incompreensível, virar folclore e sucumbir ao tempo. Talvez por isso existam os historiadores. Veja-se o caso de Marina, que começou a entreter este livro ainda na época em que escrevia a dissertação de Mestrado, quando se inquietava por, em Parati, haverem desaparecido as congadas e os jongos. Se não é possível, nem desejável, suspender o fluxo do tempo, serve de consolo o fato de que é possível resgatar o passado da incompreensão e da morte absoluta, configurada pelo pleno esquecimento. Ao menos enquanto a tabacaria continuar defronte da janela de Fernando Pessoa e existir a língua portuguesa e este planeta errante.