摘要:José e Francisco apareceram primeiro numa listagem preparada pela legação britânica no Rio de Janeiro das 52 pessoas que seguiriam dali para Trinidad, no Caribe, a bordo do navio Despatch, fretado pelos oficiais da legação no fim de 1846 para levar africanos emancipados e seus filhos para o lugar onde pudessem, como insistiam os ingleses, “desfrutar da plena liberdade”. Mais tarde, em outra documentação também pertencente ao Ministério das Relações Exteriores britânico (Foreign Office), as circunstâncias em que os dois africanos se tornaram protegidos do governo de Sua Majestade Britânica ficaram mais claras: eles eram marinheiros a bordo do Dois de Fevereiro, navio que fazia a rota Rio de Janeiro- Benguela, quando este foi apreendido, em 1841, pelo cruzador da marinha britânica Fawn durante a campanha de repressão ao tráfico de escravos na costa brasileira. Escravos de Antônio Gonçalves da Luz, eles foram reclamados por caminhos diplomáticos, e essa longa negociação gerou registros que hoje nos permitem discutir suas trajetórias de vida, aparentemente incomuns, mas próprias da era da abolição. Os dois homens, que depois viriam a ser identificados como José Majojo e Francisco Moçambique, foram embarcados como escravos na costa oriental da África. Do Índico atravessaram o Atlântico e desembarcaram no Rio de Janeiro, onde foram vendidos. Sabemos que foram engajados como marinheiros, o que os levou para várias partes do Atlântico, inclusive Benguela. Entretanto, depois de caírem na malha abolicionista britânica, acabaram no Caribe; Francisco com passagem pelo Cabo da Boa Esperança