A caracterização dos domicílios nos levantamentos censitários, que inclui as condições de habitação, saneamento básico, entre outros aspectos, juntamente com o perfil socioeconômico dos moradores, é de grande importância em análises sobre condições de saúde. No Brasil, acumulam-se evidências de que os povos indígenas apresentam desigualdades importantes em relação a outros segmentos da sociedade, com taxas de morbimortalidade em geral mais pronunciadas. Com base nos microdados do Censo Demográfico 2000, este trabalho analisa as frequências de domicílios cujos responsáveis se autoclassificaram "indígenas" e que residiam em domicílio coletivo ou improvisado na área rural dos municípios brasileiros. Para essas duas possibilidades de classificação, não são investigadas as características dos domicílios. Na análise para os grupos de cor/raça, os "indígenas" foram os que tiveram as maiores proporções de domicílios coletivos, mais frequentes no Centro-Oeste, especificamente em Mato Grosso. As frequências de domicílios "improvisados indígenas" também foram superiores aos de não-indígenas, incluindo "brancos", "pretos" e "pardos". Ao contrário dos coletivos, domicílios improvisados "indígenas" ocorreram em diferentes regiões do Brasil, com destaque para municípios na macrorregião Sul e em Mato Grosso do Sul. Para os municípios localizados fora da Amazônia Legal, onde em geral as Terras Indígenas apresentam pequenas dimensões, houve 1,5 mais domicílios "indígenas" classificados como improvisados do que na Amazônia Legal. Argumenta-se que, em parte, as mais elevadas frequências de domicílios coletivos "indígenas" devam-se a problemas de classificação por parte do Censo, já que as sociedades indígenas apresentam morfologias sociais e familiares próprias. As análises indicam a necessidade de aprimorar a forma de captação dos dados sobre as características domiciliares dos "indígenas" no âmbito dos levantamentos conduzidos pelo IBGE. Somente com a geração de informações considerando a diversidade étnica existente no Brasil será possível diminuir a "invisibilidade demográfica e epidemiológica" dos povos indígenas e, consequentemente, enfrentar as desigualdades em saúde.
The characterization of households during censuses, including dwelling conditions, basic sanitation, among other aspects, along with the socioeconomic profile of dwellers, is extremely important to analyze health status. In Brazil, there has been accumulated evidence that indigenous populations, in general, are subject to major inequalities with more pronounced morbidity and mortality, in comparison to other segments of society. Based on the micro data of the 2000 Demographic Census, the present study analyzed the frequency of households whose heads classified them as "indigenous" and that the household was collective or improvised, in the rural area of Brazilian municipalities. The characteristics of households were not studied for neither of the classification possibilities. In the analysis by color/race groups, "indigenous" peoples had the higher proportion of collective households, more frequent in the Center-West, more specifically in Mato Grosso. The frequency of "improvised indigenous" households was also higher than for non-indigenous, including "white", "black" and "brown" individuals. Different from collective households, improvised "indigenous" households were seen in different regions of Brazil, especially in municipalities of the macro region south and in Mato Grosso do Sul. For municipalities located outside the Legal Amazon regions, where in general Native Lands are of small size, there were 1.5 more "indigenous" households classified as improvised than in the Legal Amazon. An argument is that the higher frequency of collective "indigenous" households are partly due to Census classification problems, given indigenous societies have their own social and family morphologies. The analyses indicate the need to improve the attainment of data on the characteristics of "indigenous" households in surveys conducted by the IBGE. Decreasing the "demographic and epidemiological invisibility" of indigenous populations and, consequently, facing the inequalities in health, will only be possible by generating information that takes into account the ethnical diversity of Brazil.